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Autonomia da vontade versus coletividade

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jusbrasil.com.br
10 de Fevereiro de 2017
Autonomia da vontade versus coletividade. Obrigações na
Democracia (humanística)
Qualquer ser humano tem dignidade. É o primeiro princípio que rege
todos os seres humanos. Dotados de razão, cada qual tem o dever de
garantir a dignidade humana de qualquer pessoa, ou seja, o senso de
coletividade.
"Nenhum homem é uma ilha, completamente isolado. Cada homem
é um pedaço do continente, uma parte do todo. Se um torrão for
levado pelo mar, a Europa ficará menor, não importa se for um
promontório, a casa do seu amigo ou a sua própria. A morte de
qualquer homem me diminui, porque sou parte da humanidade."
(John Jones)
Em poucas palavras, Jones sintetiza a percepção do que seja a
dignidade humana.
SER LIBERTÁRIO É SER HUMANIZADOR
John Locke é um poderoso aliado dos libertários. Como qualquer
filósofo, por ser humano, diverge, em alguns pontos, de outros
libertários, e há divergências entre os outros libertários. É a natureza
humana. Divergir, a capacidade natural que impulsionou o ser humano
ao patamar de desenvolvimento, não sendo final, político, moral, ético
e tecnológico
Locke dizia que os direitos fundamentais é um Direito Natural (direito
à vida, à liberdade, à propriedade). Sendo um direito natural, este
direito existe muito antes de qualquer governo, leis e o próprio Estado.
No Estado de Natureza todos os seres humanos são livres, portanto não
existe hierarquia entre os seres humanos. Pelo Direito Natural,
segundo Locke, cada ser humano é dono de si mesmo (autopossessão).
Contudo, pelo Estado de Natureza, o próprio ser humano possui
obrigações consigo e com os seus semelhantes (Locke não faz
diferenças quanto à morfologia, sexualidade, religião, ideologias
políticas, pessoa com necessidades especiais ou não. Afinal, todos os
seres humanos são regidos pelo Estado de Natureza, possuindo, assim,
o Direito Natural. São os direitos fundamentais.
Cada ser humano, pelo Direito Natural, tem o dever de se
autopreservar — Locke não admite qualquer possibilidade de
autodestruição (suicídio). Cada ser humano tem a obrigação de
respeitar uns aos outros, pois todos são regidos pelos direitos
fundamentais. Isso vale dizer que a ninguém, pela Lei Natural, é
permitido violar a dignidade humana de quem quer que seja. E pela
mesma Lei, nenhum ser humano pode se apropriar de propriedade ou
qualquer posse alheia. A liberdade de qualquer ser humano encontra
limite na Lei da Natureza.
Ainda segunda Locke, pelo Direito Natural, cada ser humano pode e
deve defender os seus direitos fundamentais quando violados.
Destarte, Locke não descarta o uso da força (legítima defesa ou estado
de necessidade), e até a guerra, para cada ser humano defender suas
autonomias (Direito Natural). Assim, cada ser humano é um juiz para
defender o Estado de Natureza. Todavia, o filósofo sabia das fraquezas
e dos limites de entendimento, e consequentemente de seus enganos,
quanto ao ser juiz. Os excessos podem ser cometidos ao ser defender o
Estado de Natureza. Locke afirmava que para o ser humano não agir,
unicamente, pelo Estado de Natureza, e não cometer excessos, é
preciso o surgimento do Estado de Consentimento. Ou seja, abdicação
de alguns direitos em favor da manutenção da coletividade.
O SER HUMANO COLETIVO OU INDIVIDUAL? MORAL E
COMPORTAMANTO
Agir pelo direito natural, em sua plenitude, é agir sob selvageria.
Selvageria, pois, em pleno século XXI, nós, seres mortais e imperfeitos,
diante dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, temos o
conhecimento da banalidade do mal. Hanna Arendt demonstrou o
quanto a razão, destituída de valor moral, pode ser animalesca.
Convicção, puramente ideológica, destitui o ser humano de moralidade
em seus próprios atos. Ora, pela lógica ideológica nazista (eugenia, cujo
autor se chama Francis Galton — foi aplicado pela primeira vez nos
EUA, cujas norte­americanas consideradas portadoras do 'sangue
ruim', não poderiam ter filhos; o aborto e as esterilizações eram
forçados pelo Estado norte­americano — suas atitudes eram benéficas
para todos os seres humanos, os meios justificam os fins. Porém, os
nazistas possuíam moral:
A Áustria alemã deve voltar a fazer parte da grande Pátria
germânica, aliás sem se atender a motivos de ordem econômica.
Mesmo que essa união fosse, sob o ponto de vista econômico, inócua
ou até prejudicial, ela deveria realizar­se. Povo sem cujas veias
corre o mesmo sangue devem pertencer ao mesmo Estado. Ao povo
alemão não assistem razões morais para uma política ativa de
colonização, enquanto não conseguir reunir os seus próprios filhos
em uma pátria única. Somente quando as fronteiras do Estado
tiverem abarcado todos os alemães sem que se lhes possa oferecer a
segurança da alimentação, só então surgirá, da necessidade do
próprio povo, o direito, justificado pela moral, da conquista de
terra estrangeira. O arado, nesse momento será a espada, e,
regado com as lágrimas da guerra, o pão de cada dia será
assegurado à posteridade. (HITLER, Mein Kampf/Minha Vida, p.
5)
A burguesia vê, como no teatro e no cinema, no lixo da literatura e
na torpeza da imprensa, dia a dia, o veneno se derramar sobre o
povo, em grandes quantidades, e admira­se ainda do precário
"valor moral", da "indiferença nacional" da massa desse povo,
como se a sujeira da imprensa e do cinema e coisas semelhantes
pudessem fornecer base para o conhecimento das grandezas da
Pátria, abstraindo­se mesmo a educação individual anterior. Pude
então bem compreender a seguinte verdade, em que jamais havia
pensado:
O problema da "nacionalização" de um povo deve começar pela
criação de condições sociais sadias como fundamento de uma
possibilidade de educação do indivíduo. Somente quem, pela
educação e pela escola, aprende a conhecer as grandes alturas,
econômicas e, sobretudo, políticas da própria Pátria, pode adquirir
e adquirirá, certamente, aquele orgulho íntimo de pertencer a um
tal povo. Só se pode lutar pelo que se ama, só se pode amar o que se
respeita e respeitar o que pelo menos se conhece. (HITLER, Mein
Kampf/Minha Vida, p. 33).
A ira aos judeus:
Os judeus da Rússia, das terras habsbúrgicas da Galícia, da
Hungria ou da Morávia, como era o caso dos Freud, não paravam
de chegar a Viena. Os financistas, os mascates, os pequenos lojistas,
os comerciantes atacadistas, os jornalistas, os médicos e os
advogados eram em sua grande maioria judeus. Mas os judeus
emancipados também participavam ativamente da vida cultural e
científica de Viena: editores, donos de galerias, empresários
teatrais e musicais, músicos, escritores, maestros, pintores,
cientistas, filósofos e historiadores — fenômeno que era chamado de
“impacto da invasão judaica” pelos anti­semitas. Sem restrições
civis, ouvia­se um murmúrio, como usem humor, contra os judeus e
alguns pediam sua expulsão do território austríaco. Em 9 de maio
de 1873, ano em que Freud ingressou na universidade, veio a
quebrado mercado de ações, que ficou conhecida como a
Sexta­Feira Negra. Banqueiros, homens de negócios, artesãos e
agricultores faliram do dia para a noite. Os judeus se
tornaram, então, o bode expiatório do colapso financeiro,
intensificando o antissemitismo. Protestos se realizavam na frente
da Bolsa de Ações de Viena, com manifestantes carregando
cartazes com caricaturas de judeus. (PSICANÁLISE PASSO A
PASSO, p. 7)
Qual a diferença entre uma tribo primitiva canibalesca e os nazistas?
Nenhuma, pois ambos agiam pelos seus valores humanos aceitos e
compreensíveis do que seja violência ou não violência. Para as tribos, o
canibalismo é uma forma de absorver o espírito do guerreiro vencido.
Já para os nazistas, o extermínio dos judeus era a maneira correta de
purificar o mundo, sendo os próprios nazistas como portadores de
qualidade superiores, "missionários" da tarefa de higienizar o mundo.
Seja qual for o tipo de crença, a humanidade atual tem a capacidadede
ratificar que tais comportamentos, das tribos e dos nazistas, são
desumanos. Existindo tal pensamento — razão mais emoção — é
possível saber o que é bom ou mal? Qual ser vivo quer ser subjugado,
maltratado? Nenhum, seja animal humano ou animal não humano.
Quanto à moral correta. Era moralmente correto aos gregos (Grécia
Antiga) escravizarem os povos vencidos. Para os romanos (Roma
Antiga) era moralmente correto jogar os cristãos aos leões. Era
moralmente correto, pela Igreja Católica, a Inquisição, as Cruzadas. No
início do século XIX, era moralmente aceito o marido, em nome de sua
honra, matar sua mulher, em caso de traição. Também era moralmente
aceito a escravidão negra e o comércio transatlântico. Na América
Latina, a Operação Condor era moralmente aceita para evitar o
comunismo. Era moralmente, para Richard Nixon, combater o uso da
maconha, por ser ela uma 'arma' comunista. Para os czares, era
moralmente correto lutar contra os revolucionários (Revolução Russa
de 1917).
Vejam que existe uma moral — não adentrarei em minúcias de
diferenças entre ética e moral, pois falo da essência humana e seu
comportamento — em qualquer coletividade e até individualmente.
Locke fala no contrato social como forma de se evitar que o ser humano
haja puramente pelo Estado de Natureza, o que pode gerar carnificinas,
pois cada qual lutará pelos seus direitos fundamentais. Sigmund Freud
dizia que pela diversidade de personalidades humanas, somente um
pacto social permitiria um mínimo de paz para se viver em
comunidade. Tanto Locke quanto Freud diziam que é através da
comunidade que o ser humano consegue viver sem se destruir,
totalmente.
Logo, as liberdades individuais sempre foram suprimidas ao longo da
vivência humana no orbe. Não há como escapar, pois a
individualização, plena, como o eremita, leva ao próprio perecimento
do ser humano — estando doente, o eremita não terá forças para
providenciar a profilaxia. Nenhum ser humano tem a capacidade de
fazer tudo sozinho, pois não detém todos os conhecimentos necessários
para a sua própria sobrevivência e desenvolvimento da razão.
Quando se invoca o individualismo pleno, a legitimação é falaciosa. Por
exemplo, quando uma pessoa se diz no direito de não ajudar outra
pessoa, ela mesma invoca para si o dever de não exigir que a outra
pessoa não preste qualquer ajuda. Ora, qual ser humano não quer ser
socorrido? Somente quando o próprio instinto de sobrevivência se acha
diluído. E pode? Sim, dependendo do tipo de educação — samurais e
Seppuku — ou sob os efeitos de drogas psicoativas (Segunda Guerra
Mundial. O uso de crystal meth e benzedrina: o super­homem).
Certa vez levantei uma discussão entre os nutricionistas. Viver com
dignidade. O que seria? Por exemplo, há uma discussão de que a
pobreza em si não é certeza de o ser humano agir com violência, ou
violar o contrato social. Metabolismo basal, o mínimo para se garantir
o bom funcionamento do organismo. Admitimos que uma pessoa
tivesse uma ração diária para garantir o metabolismo basal. A pessoa
vive com dignidade. Logo, não se pode dizer que a pessoa viva na
miséria. Entretanto, o simples andar exige mais calorias (energia). Se o
cidadão tem alimentação suficiente para garantir o metabolismo basal,
a sua vida já é indigna: vive como miserável. Quando os judeus eram
escravizados pelos egípcios, a alimentação garantia a sobrevivência,
mas não por muito tempo, já que as condições de trabalho eram
exaustivas, o tempo de descanso diminuto, e a própria alimentação,
provavelmente, não supria às necessidades fisiológicas.
Agora admitimos que o ser agisse com violência — instinto de
sobrevivência — para obter mais alimentos, portanto o corpo,
filologicamente falando, exige mais calorias, minerais, vitaminas e
proteínas para as necessidades diárias. Seu to é totalmente criminoso?
Atividade e alimentação. Digamos que, agora, uma nutricionista
calcula, de forma habilidosa, o gasto calórico diário. Uma dieta
balanceada — vitaminas, sais minerais, proteínas, lipídios — garante o
bom funcionamento orgânico. Há dignidade na vida desse indivíduo
assistido pela nutricionista. Porém, a nutricionista recebe ordens de
planificar a dieta apenas com os alimentos permitidos pelo Estado, ou
líder da comunidade. O líder tem a liberdade de comer tudo o que
quiser, sem qualquer restrição. Caso o indivíduo que tem sua dieta
controlada pela nutricionista quisesse exigir o direito de comer outros
alimentos, e cometesse um furto ou roubo, este indivíduo estaria
agindo criminosamente?
Por exemplo, o Brasil é uma potência em agronegócio. A maioria do
povo brasileiro é subnutrido, não mais faminto — graças aos
programas sociais a partir da década de 1990. Podemos admitir que
essa desigualdade social garante dignidade humana aos excluídos de
uma alimentação diversificada e nutritiva?
CONDUTA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
Quem tem culpa num estupro, o estuprador ou a cultura? Depende do
contexto sociopolítico, ou melhor, dos períodos históricos.
Contemporaneamente, a relação sexual tem que ser consentida.
“Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)
Pena ­ reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei
nº 12.015, de 2009)
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a
vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena ­ reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009)
§ 2º Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
Pena ­ reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009)”
O sujeito ativo na coação pode ser tanto o homem quanto a mulher. Se
o homem, em qualquer fase da relação sexual, ou mesmo antes de
iniciar, não quiser, a mulher tem que respeitá­lo, ou seja, desistir do
ato. O mesmo vale para o homem que quer iniciar, ou continuar a
praticar ato libidinoso com a mulher. Ela tem o direito de pedir a
cessação do ato. Ambos são detentores de direito, o direito à
preservação de seus templos corporais.
“Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte
a livre manifestação de vontade da vítima: (Redação dada pela Lei
nº 12.015, de 2009)
Pena ­ reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei
nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter
vantagem econômica, aplica­se também multa. (Redação dada pela
Lei nº 12.015, de 2009)”
Isso vale até para os profissionais do sexo [prostituição]. Se o cliente
quiser forçar o profissional, o crime é consumado. Alguns inquirirão:
“Profissionais do sexo possuem templos corporais”?
Se nos basearmos nas religiões de cunho altamente dogmático, não.
Pois a prostituição já é pecado, e pessoa deve ser apedrejada. Se
analisarmos pelo ângulo dos direitos humanos de Jesus Cristo, o corpo
é um templo, e deve ser sempre respeitado e preservado de qualquer
ataque. Pois, “Quem não tem pecado, que lance a primeira pedra!”. É a
máxima filosofia de respeito à vida, de qualquer ser humano, não
importando a sua condição física, religiosa, conduta.
No entanto, o estupro pelo marido era justificado:
"Exercício regular de direito. Marido que fere levemente a esposa,
ao constrangê­la à prática de conjunção sexual normal. Recusa
injusta da mesma, alegando cansaço. Absolvição mantida. (...)"
(ANDREUCCI, 2012, p. 526)
Se o estupro era permitido pela Justiça, que deve apenas aplicar o que
foi convencionado pelos representantes do povo (Poder Legislativo), e
se os maridos exigiam o ato sexual forçado, e já que o exercício regular
de direito é universal, a cultura assim queria e consentiao estupro da
mulher. Conclusivamente, o estuprador, legalizado, é um produto da
cultura. O estupro (era) um consentimento cultural. No entanto, com a
promulgação da CRF de 1988, e direitos iguais entre homens e
mulheres (art. 5º, I), não seria possível admitir que o sexo masculino
tivesse pelos poderes sobre a mulher. A força da norma constitucional
modificou as leis infraconstitucionais, o Código Penal (as normas
contidas nele) e o Código Civil (revogado o CC de 1916, por exemplo).
As mulheres tiveram o seu direito de dizer "não" aos seus maridos. No
melhor linguajar feminista, abre as pernas quando quiser, quando
sentir vontade. Não há dominação do homem ao corpo da mulher.
PRECONCEITO E RACISMO
Preconceito e racismo podem ser produtos da cultura? Se a educação,
seja religiosa ou não, disser que certos indivíduos não têm direitos,
preconceito e racismo são produtos da cultura. Judeus perseguidos por
cristão, cristão jogados aos leões, todo tipo de escravidão ao longo da
jornada humana.
O que é sociedade desunida? Há calorosos e estridentes falatórios de
que os direitos humanos desestruturaram as sociedades. Depende do
que é união e quem é digno de ser reconhecido como parte da
coletividade, com plenos poderes decisórios. Por exemplo, nos EUA,
mesmo após a Guerra da Secessão, os negros não tinham os plenos
direitos civis. Na década de 1960, movimentos feministas e de
afrodescendentes surgiram. Pode­se dizer que as feministas, exigindo
seus direitos civis e políticos, estavam desunindo a sociedade norte­
americana? Martin Luther King Jr. Causou desunião nos EUA?
Assumir ideologia de que sociedade unida é aquela que não permite
que minorias lutem pelos seus direitos fundamentais — e Locke
defenderia com maestria —, ou é desconhecimento da Lei natural ou,
quem estudou filosofia, uma hipocrisia sem limites.
Na Alemanha, grupos neonazistas dizem que a liberdade de expressão
e de pensamento está sendo amordaçada. Ou seja, o ser humano
perdeu sua individualidade para assumir uma personalidade coletiva.
No caso, a personalidade coletiva contemporânea na Europa, diz que o
nazismo é desumanizador. Se admitirmos que os neonazistas estejam
corretos, isto é, sendo oprimidos pela hegemonia coletiva antinazismo,
qualquer ser humano, de qualquer nacionalidade, deve garantir a
liberdade de expressão e de pensamento dos neonazistas; e até
combater a coletividade antinazista. Na esteira desse pensamento, o
Estado Islâmico está sendo fulminado pela ideologia hegemônica dos
direitos humanos. A preeminência dos direitos humanos,
consequentemente, está subjugando, escarnecendo a ideologia do
Estado Islâmico. Prosseguindo no pensamento, alguns católicos e
evangélicos dizem que há uma "ditadura gay" contra a liberdade
religiosa. Ao acolher o pensamento de tais religiosos, não há nada
demais, por exemplo, colocar na fachada da igreja “Se um homem tiver
relacionamento com outro homem, os dois deverão ser mortos por
causa desse ato nojento. Eles serão responsáveis pela sua própria
morte”. (1)
DEMOCRACIA
O Estado Democrático de Direito é um contrato social. Houve um
consentimento (povo e Constitucionalismo originário) para garantir a
dignidade humana (arts. 1º, III, 5º, §§ 1º, 2º e 3º, da CRFB de 1988) e
punir (art. 5º, XLI, da CRFB de 1988) qualquer violação a este direito
natural (dignidade da pessoa humana). Se alguns cidadãos, p. Ex.,
pedem a intervenção militar, como representação ao patriotismo, da
mesma forma cada cidadão deve, por obrigação cívica, assegurar que
cada cidadão tenha sua dignidade humana preservada, defendida —
não importando classe social, morfologia, sexualidade, presidiário ou
não, agente público ou não, pessoa com necessidade especial ou não,
brasileiro nato, naturalizado ou turista. É de se considerar, também,
que, pelo patriotismo, o "pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania" (art. 205, da CRFB de 1988)é
dever do Estado e da família. A existência digna (art. 170) deve visar a
justiça social.
Quando qualquer brasileiro invoca o patriotismo — "nós somos o
governo" ou "nós somos o Estado"—, assume para si a responsabilidade
de tudo o que acontece. Deve, pelo civismo (art. 5º II, CRFB 1988), agir
com responsabilidade, tornar o Brasil um país igualitário e
humanístico, principalmente quanto à educação e proteção aos
adolescentes e crianças, combater eficientemente, a corrupção, em
todos os segmentos e atitudes sociais (p. Ex., o fraudar do processo de
habilitação de trânsito terrestre). Se há criminalidade, pobreza,
desigualdades sociais, contaminação do meio ambiente, racismo e
preconceito, a culpa é de cada brasileiro, por não agir, positivo e
eficientemente, para materializar os princípios e os objetivos da CRFB
de 1988. É o contrato social, pelo consentimento coletivo, que obriga
cada brasileiro a agir em nome da coletividade.
Concluo este artigo com o libertário Milton Friedman.
Milton Friedman escreveu o livro “Capitalismo e Liberdade”, o autor,
de forma humanística, dá exemplo sobre a autonomia privada sem
limites:
A necessidade do governo nesta área surge porque a liberdade
absoluta é impossível. Por mais atraente que possa o anarquismo
parecer como filosofia, ele não é praticável num mundo de homens
imperfeitos. As liberdades dos homens podem entrar em conflito e
quando isso acontece a liberdade de uns deve ser limitada para
preservar a de outros ­ como está ilustrado por uma frase de um
juiz da Suprema Corte de Justiça: "Minha liberdade de mover meu
punho deve ser limitada pela proximidade de seu queixo". (O
governo como legislador e árbitro, Cap. II)
Milton Friedman tinha em seus pensamentos uma total liberdade
privada? Já foi respondido acima. Permitiria o pleno Livre Mercado
ferindo a dignidade humana? Também não. Há exigência de regras
pré­estabelecidas para o Livre Mercado.
Liberalismo e igualitarismo
O liberal fará, portanto, uma distinção clara entre igualdade de
direitos e igualdade de oportunidades, de um lado, e igualdade
material ou igualdade de rendas, de outro. Pode considerar
conveniente que uma sociedade livre tenda, de fato, para uma
igualdade material cada vez maior. Mas considerará esse fato
como um produto secundário desejável de uma sociedade livre ­
mas não como sua justificativa principal. O liberal acolherá, de
bom grado, medidas que promovam tanto a liberdade quanto à
igualdade como, por exemplo, os meios para eliminar o poder
monopolista e desenvolver as operações do mercado.
Considerará a caridade privada destinada a ajudar os menos
afortunados como um exemplo do uso apropriado da liberdade. E
pode aprovar a ação estatal para mitigar a pobreza como um modo
mais efetivo pelo qual o grosso da população pode realizar um
objetivo comum. Dará sua aprovação, contudo, com certo desgosto,
pois estará substituindo a ação voluntária pela ação compulsória.
Aquele que pensa em termos de igualdade acompanhará o liberal
em todos estes casos. Mas pretenderá ir mais longe. Defenderá o
direito de tirar de alguns para dar a outros, não como um meio
efetivo pelo qual "alguns" poderão alcançar seu objetivo próprio,
mas na base da necessidade da "justiça". Neste ponto, a igualdade
entra imediatamente em conflito com a liberdade, sendo preciso,
pois escolher. Um indivíduo não pode ser igualitário, neste sentido,
e liberal ao mesmo tempo. (Cap. XII)
NOTA:
CORREIO 24 HORAS. Igreja evangélica na Bahia coloca placa na porta
indicando que gays devem morrer; MP apura o caso. Disponível em:
http://www.correio24horas.com.br/blogs/mesalte/igreja­evangelica­
na­bahia­coloca­placa­na­porta­indi...
FIAT LUX!
Disponível em: http://sergiohenriquepereira.jusbrasil.com.br/artigos/427807239/autonomia‐da‐
vontade‐versus‐coletividade‐obrigacoes‐na‐democracia‐humanistica

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