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DIREITO PENAL II - Daniela Portugal - Resumo para 1ª Prova

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DIREITO PENAL II
Aluno: João Felipe Cabral Fagundes Pereira
TEORIA DO DELITO - O crime será composto pelo conjunto de todos esses elementos, onde caso haja a falta de um desses elementos não haverá um crime. 
CONCEITO LEGAL DE CRIME – O conceito legal de crime é que crime é a infração penal punida com pena de reclusão ou de detenção (LICP/Lei de Introdução ao Código Penal). A LICP conceitua a infração penal, que é gênero que biparte (conceito bipartido) em duas espécies: crimes, que são sinônimos de delitos aqui no Brasil, e contravenções penais. Os (i)crimes são punidos com pena de reclusão ou detenção e as (ii) contravenções, que são punidas com pena de prisão simples.
(a)A pena de reclusão vai ser cumprida em um regime inicial fechado, semiaberto ou aberto. (b)A pena de detenção é cumprida num regime semiaberto ou aberto (podendo regredir para regime fechado caso o indivíduo enquanto estiver cumprindo o regime cometa uma falta grave) e (c)a pena de prisão simples é cumprida em um regime semiaberto e aberto.
CONCEITO MATERIAL DE CRIME – Crime é a ofensa a um determinado bem jurídico. 
CONCEITO ANALÍTICO – É o conceito científico de crime e é denominado analítico justamente porque irá decompor o crime em partes, analisando e estudando as partes que compõem o crime. Dentro do conceito analítico existe uma divergência doutrinária, onde para a (i) Teoria Bipartida, crime é igual a fato típico + ilicitude. Já para (ii)Teoria Tripartida, crime é igual a fato típico + ilicitude + culpabilidade, prevalecendo a Teoria Tripartida, já que atualmente, grande maioria dos autores penalistas colocam a culpabilidade como parte integrante do crime. 
OBS: Crimes e contravenções possuem a mesma essência, tendo como diferença apenas a consequência jurídica.
	FATO TÍPICO
	ILICITUDE/ANTIJURIDICIDADE (NÃO ESTAR EM:)
	CULPABILIDADE
	1 – Conduta
	1 – Estado de necessidade
	1 – Imputabilidade
	2 – Resultado
	2 – Legítima defesa
	2 – Potencial consciência da ilicitude
	3 – Nexo de causalidade
	3 – Estrito cumprimento de um dever legal
	3 – Exigibilidade de conduta diversa
	4 – Tipicidade
	4 – Exercício regular de um direito
	
	
	5 – Consentimento do ofendido
	
FATO TÍPICO
CONDUTA – Seguindo a Teoria Finalista de Hans Welzel, conduta é um comportamento humano comissivo ou omissivo, livre e consciente direcionado a um determinado fim. Há a associação de condutas à Pessoas Físicas, mas, atualmente, se discute a prática de crimes por Pessoas Jurídicas. 
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA – Essa discussão vem da lei 9605/98, que é a Lei dos Crimes Ambientais, que trouxe no seu Artigo 3º a responsabilidade penal da PJ, sendo uma inovação pela prática de crimes ambientais, trazendo também o questionamento de se essa lei era ou não constitucional, levando em conta os Artigos 225 e 173, $5º da CF/88. 
(Lei 9605/98) Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
 Em relação ao Artigo 225 (trata do meio ambiente), houve a formação de duas correntes doutrinárias: uma que consagrava a responsabilidade penal da PJ e outra que cria que o artigo dizia que as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão a seus infratores (PJ ou PF) a sanções penais e administrativas, crendo que PF receberiam apenas sanções penais e PJ sofreria apenas sanções administrativas.
 No Artigo 173 (trata da ordem econômica, financeira e de economia popular, normas de eficácia limitada, necessitando ser regulamentadas no plano infraconstitucional), Parágrafo 5º acaba por acirrar o debate, divergindo duas correntes, onde uma das correntes crê que a sanção penal é compatível com a PJ e a outra corrente crê que a sanção penal é incompatível com a PJ, já que só devem aplicar sanções compatíveis com a natureza da Pessoa Jurídica.
 O STF, ao responder esta pergunta, afirmou que a responsabilidade da Pessoa Jurídica é constitucional. Porém havia outra pergunta a ser respondida: qual era o âmbito de incidência da responsabilidade penal da PJ? Alguns creem que a PJ pode ser responsabilizada por qualquer crime (homicídio, furto, etc), havendo outro posicionamento que diz que a PJ será responsabilizada penalmente apenas por crimes ao meio ambiente, e, por fim, um posicionamento que acredita que tal responsabilidade penal se aplica em crimes do meio ambiente, ordem financeira, econômica e economia popular. 
OBS: Na prática, hoje em dia, é jurisprudencialmente pacífico creditar a responsabilidade penal da PJ para crimes contra o meio ambiente.
O Artigo 3º da Lei 9605/98 responsabilizará a PJ caso tenha sido a decisão do representante ou do órgão colegiado as PJ, adicionalmente a decisão ter sido tomada no proveito/interesse da Pessoa Jurídica.
OBS: Caso apenas a Pessoa Física tenha tirado proveito do crime, apenas a mesma será responsabilizada por suas ações.
-Argumentos Favoráveis para a responsabilização da PJ: Os defensores da responsabilidade da PJ acham que (i) o Direito Penal deve se adaptar a uma nova realidade, já que algumas pessoas usam as PJs como escudo para realizar condutas ilícitas, sendo que o Direito Penal deve adequar.
 Outro argumento é que a (ii) PJ faz parte da Teoria da Realidade, possuindo vontade própria, dissociada da vontade dos indivíduos que a instituem, sendo autônomas, podendo fazer parte de firmação de contratos, onde a autonomia tem como consequência a responsabilidade. (iii) A dificuldade de persecução da Pessoa Física (processo penal labiríntico, como exemplo o jogo de intimações entre funcionário, gerente, diretor e superintendente quando se comete um crime ambiental) também pesa para a responsabilidade penal da PJ que facilitaria a persecução.
OBS: A tendência mundial, tanto em países de common law (EUA e Reino Unido) como os de Civil Law (Alemanha e França) é a adoção da responsabilidade penal da PJ.
-Argumentos desfavoráveis da responsabilização da PJ: (i) A responsabilização penal da PJ é incompatível com o sistema jurídico-penal, onde toda a teoria do delito é pensada para seres humanos, onde os conceitos são incompatíveis com a PJ, pois ao adaptá-los geraria um desnaturamento da Teoria do Delito, como por exemplo, discutir o dolo de uma PJ.
 Outro argumento seria a (ii)violação da responsabilidade penal pessoal e da intranscendência das penas, onde caso o órgão colegiado de uma PJ vença por maioria em desmatar área ambiental protegida, todos os indivíduos, mesmo os que não votaram, sofreriam as consequências da pena com a extinção da PJ.
 (iii) O Direito Penal se tornaria meramente simbólico, pois o êxito ao conseguir a condenação de uma PJ seria a multa, suspensão/encerramento das atividades, sanções e punições já utilizadas pelo Direito Administrativo, não sendo necessário o Direito Penal, ou seja, não é lógico implementar tal responsabilidade penal. A experiência histórica dos outros ramos do direitojá trabalham com a desconsideração da PJ, como por exemplo os ramos jurídicos do Direito Civil, onde a PJ ao se manifestar em forma de fraude, a PJ é desconsiderada para que seja perseguida a Pessoa Física por trás da PJ, onde o Direito Penal estaria na contramão da experiência histórica.
DUPLO CONCURSO/CONCURSO NECESSÁRIO/IMPUTAÇÃO SIMULTÂNEA – Delito cuja ação impõe a participação de mais de uma pessoa. A infração penal só se configura com o número de agentes mencionados no tipo.
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CONDUTA – Existem determinados comportamentos completamente desprovidos de qualquer sombra de voluntariedade, e quando isso acontece, há a possibilidade de exclusão da conduta para fins penais.
-Força Física Irresistível/Coação Física Irresistível: É uma situação em que uma conduta humana que está tirando completamente a voluntariedade de uma outra conduta (quando um indivíduo força a outra fisicamente a matar outrem contra a sua vontade). Isso não se confunde com coação moral irresistível, que é uma causa de exclusão da culpabilidade (quando alguém ameaça a família do indivíduo para que o mesmo mate outrem).
-Ato de Inconsciência: É um ato que é um produto estritamente só do inconsciente humano, havendo como exemplo a hipnose ou a encarnação de um espírito/entidade, estando fora da esfera de consciência/razão.
-Ato Reflexo: O ato reflexo é um impulso orgânico, onde o indivíduo não tem nenhum tipo de domínio sobre ele, tendo como exemplo um epilético que acaba arrancando o dedo de um indivíduo que estava tentando desenrolar sua língua, excluindo qualquer responsabilização de lesão corporal ao indivíduo.
-Força Irresistível da Natureza: É quando uma conduta é absolutamente excluída por uma força da natureza (quando uma tromba de água atinge um indivíduo). Não há qualquer tipo de conduta voluntário, o que existe é a natureza puxando o indivíduo para algo ou alguém.
RESULTADO – O resultado produzido pelo crime será jurídico e/ou naturalístico. Todo crime que se consuma produz, pelo menos, resultado jurídico. Resultado jurídico é o atingimento do bem jurídico, onde o tipo penal deve tutelar algum bem de maior rele ao ordenamento, havendo crime apenas com lesão ou risco concreto de lesão ao bem jurídico (Princípio da Ofensividade)
 Um resultado naturalístico é algo que altera a natureza das coisas, sendo perceptível aos nossos olhos, podendo ser visto, ou seja, é um resultado de natureza material, como o homicídio. Ás vezes, pode acontecer os dois tipos de resultado, ou apenas o resultado jurídico.
CRIMES FORMAIS X MATERIAIS X MERA CONDUTA – Quanto ao resultado os crimes 
-Crimes Materiais: São os crimes que só se consumam quando produzem também o resultado naturalístico. Então, os crimes materiais dependem do resultado naturalístico, sendo o mesmo imprescindível. A maioria dos crimes previstos no CP/40 são crimes materiais.
-Crimes Formais: São crimes que se consumam com a produção do resultado jurídico, ou seja, podem produzir resultado naturalístico, mas não são condicionados pelo mesmo (dispensável, mero exaurimento). 
 A extorsão é um exemplo de crime formal, porém, sempre houve uma dúvida diante do momento de consumação desse crime, onde dividiram a extorsão em: fase da exigência; da obtenção da vantagem econômica (resultado naturalístico); e uma fase intermediária, que é o efetivo constrangimento da vítima (consumação do resultado jurídico). 
OBS: Entre a fase da exigência e a fase intermediária, há a tentativa do crime de extorsão.
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
        Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
STJ - Súmula 96 - O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.	
-Crimes de Mera Conduta: Tradicionalmente, os crimes de mera conduta eram referidos como crimes sem resultado ou que não admitem tentativa. Essa concepção já se tornou ultrapassada, pois hoje em dia é aceito que qualquer crime gera um resultado jurídico e, excepcionalmente, pode ocorrer tentativa. É quando o tipo penal não descreve um tipo penal, mas sim um verbo, que em si representa a consumação do delito. Um exemplo clássico é a violação de domicílio, onde não é necessário destruir, furtar ou causar resultado lesável à propriedade.
 Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
ITER CRIMINILIS – É o itinerário (destino) do crime, valendo apenas para crimes dolosos.
-Cogitação: É uma fase estritamente mental, sendo um momento em que o autor apenas pensou em cometer um delito (impossível cogitar cometer um delito culposo). A cogitação por si só nunca será punível. Na Alemanha Totalitarista, havia um tipo penal que era ser contra ao Partido Nazista.
-Atos Preparatórios: Elementos que permitirão viabilizar a consumação do crime (planejar um carro de fuga para roubar um banco, alugar uma casa para que possa praticar o crime de sequestro e manter o refém, comprar um veneno). Em regra, os atos preparatórios não são puníveis, havendo exceções como a compra de arma ilegal, formação de associação criminosa e petrechos para a falsificação de moeda, contanto que o legislador expresse de maneira clara essa exceção.
-Ato Executório: Existe uma dúvida sobre quando começa a execução de um crime. Para a Teoria Objetivo Formal, a execução do crime só começa quando o agente inicia a prática do verbo nuclear do tipo. Atualmente, examina-se a execução pela Perspectiva Material, quando existe a lesão, ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico.
OBS: Desde o primeiro ato executório, até o período em que há a consumação, há a tentativa do crime. 
-Exaurimento: É tudo aquilo que se causa após a consumação do crime. Via de regra, o exaurimento é um pós-factum impunível. Um funcionário público, ao solicitar dinheiro, já consumou o crime de corrupção passiva e, a recepção do dinheiro se caracteriza como um exaurimento, devendo estar expresso na lei para que haja um aumento de pena (quando após receber o dinheiro, anula-se uma multa). A ocultação de um cadáver após a prática do homicídio não é um exaurimento, mas sim o início de outro iter criminilis. 
CRIME CONSUMADO: O crime estará consumado quando o mesmo reunir todos os elementos de sua definição legal. É necessário que esse tipo incriminador possua um tipo objetivo (descritivo ou normativo, análise do que está escrito na norma) e subjetivo (tipos dolosos, culposos, preterdolosos, análise da intenção do agente). 
Art. 14 - Diz-se o crime:
  I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
OBS: Todos os crimes são dolosos, a menos que o legislador disponha ao contrário.
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: (obsceno como tipo objetivo descritivo e tipo subjetivo doloso)
CRIME TENTADO – Verifica-se quando, iniciado a execução, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Não podemos chamar de tentativa um ato meramente preparatório. Só podemos falar em tentativa quando o crime não se consumou, não podemos dizer que um crime é tentado cujo resultado já tenha sido antecipado (crimes formais de consumação antecipada).
 Existem casos onde o indivíduo acaba mudando de ideia por circunstâncias alheias após iniciar o ato executório (só vale para crimes dolosos). A tentativa tem natureza jurídica na causa de diminuição de pena e de norma de extensão da tipicidade, de acordo com o Parágrafo Único do Artigo 14 (Exemplo: Artigo 121 c/c 14, II, Parágrafo Único, CP). É capaz do próprio legislador tipificar a tentativa, não precisando usar a norma de extensão e a consequente diminuição de pena (Artigo 352, CP/40).
Art. 14 - Diz-se o crime:
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontadedo agente.
 Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.
OBS: A Lei de Contravenção Penal, de maneira expressa, descreve que não é punível a tentativa de contravenção.
-Tentativa Vermelha/Cruenta x Tentativa Branca/Incruenta: na tentativa vermelha, existe uma lesão parcial ao bem jurídico (tentativa de matar o indivíduo, porém, apenas causa uma lesão na perna, por exemplo) , enquanto uma tentativa branca é quando o indivíduo consegue causar um perigo concreto de lesão ao bem jurídico, mas não consegue lesionar parcialmente o bem jurídico (quando há a tentativa de homicídio, onde os tiros acabam atingindo a parede).
-Tentativa Perfeita x Tentativa Imperfeita: Na tentativa perfeita, também chamada de crime falho, o autor executa tudo aquilo que planejou mas, ainda assim, o crime não se consuma (quando uma execução é encomendada, todas etapas são concluídas, porém o homicídio não se concretiza, o indivíduo sobrevive). Já na tentativa imperfeita, o agente não consegue executar todo seu plano de autoria, não conseguindo executar tudo que foi planejado, pois o mesmo será impedido por algo ou por alguém (um alarme da casa toca, e o indivíduo, com medo de ser preso em flagrante, desiste de cometer o crime).
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ 
-Desistência Voluntária: Desistência Voluntária verifica-se quando iniciada a execução, porém, antes da consumação, o agente desiste voluntariamente de prosseguir e abandona a execução. Como consequência, não será punido por tentativa, mas apenas pelos atos até então praticados. Para que possamos falar de desistência voluntária, não houve a consumação e é indispensável a voluntariedade. É feita durante a execução do crime e modifica a tipicidade, pois o indivíduo responde apenas pelos atos praticados até o momento da desistência. A desistência voluntária se dá através de uma “omissão”, deixar de continuar a execução.
-Arrependimento Eficaz: Já o arrependimento eficaz, também previsto no Artigo 15, verifica-se quando após a execução do plano do autor, todavia, antes da consumação, o sujeito ativo se arrepende e adota postura ativa direcionada a “reverter” a situação, impedindo a consumação. Se ele consegue impedir, fala-se em arrependimento eficaz. Como consequência, o agente responde somente pelos atos até então praticados. O arrependimento eficaz se dá através de uma ação (levar o indivíduo ao hospital após atirar nele).
  Desistência voluntária e arrependimento eficaz (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ARREPENDIMENTO POSTERIOR - Previsto no Artigo 16, verifica-se quando após a consumação, o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui a coisa antes do recebimento da denúncia. Só se aplica para crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa. Produzirá como consequência a diminuição de pena (de 1/3 a 2/3).
O furto de um carro de R$40.000,00 por exemplo, passa por um inquérito policial, onde o delegado manda o resultado da investigação para o promotor/MP (oferecimento de denúncia) e, por fim, o juiz vai receber ou rejeitar a denúncia. O arrependimento posterior se dá em qualquer momento antes do recebimento da denúncia.
        Arrependimento posterior (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
PESQUISA: A REPARAÇÃO PARCIAL DO DANO VIABILIZA A DIMINUIÇÃO DA PENA PELO ARREPENDIMENTO POSTERIOR? E SE O RÉU NÃO TIVER CONDIÇÕES FINANCEIRAS DE ARCAR?
	DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
	ARREPENDIMENTO EFICAZ
	ARREPENDIMENTO POSTERIOR
	Artigo 15, CP
	Artigo 15, CP
	Artigo 16, CP
	Voluntariedade
	Voluntariedade
	Voluntariamente
	Durante a execução (abandono)
	Após a execução do plano (arrependimento)
	Repara dano/restitui coisa antes do recebimento da denúncia de crimes sem violência/grave ameaça.
	Não houve consumação
	Não houve consumação
	Após consumação
	Modifica tipicidade (responde só por atos praticados)
	Modifica tipicidade (responde só por atos praticados)
	Diminuição da pena de um a dois terços
NEXO DE CAUSALIDADE – É o vínculo que conecta a conduta ao resultado, demonstrando que este, efetivamente, derivou daquele comportamento que se quer punir (quando um médico engessa errado um dedo quebrado, e seu paciente morre uma semana depois de aneurisma. Houve erro médico, mas não tem nada a ver com o falecimento do indivíduo).
  Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA - Só é causa o evento suficientemente idôneo/determinante á produção do resultado. De tudo que aconteceu antes do resultado, é escolhido um fator gerador da causa do resultado. Esta teoria não é adotada, pois deixa inúmeros fatores de fora (Quando um segurança, bate num indivíduo sob efeito de drogas, que, ao fugir do local, tem um infarto e falece, sendo o infarto o fator gerador da morte).
TEORIA DA REPRESENTAÇÃO – Para esta teoria, funcionarão como causa, os eventos fáticos relevantes para o resultado, entendendo-se como tais aqueles, em face dos quais, manifesta-se previsível a ocorrência do resultado. Deve-se analisar nos casos, um a um, os motivos relevantes para o caso.
TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS – Também chamada de Teoria da Conditio Sine Qua Non (Condição Sem a Qual Não), onde causa é a condição sem a qual não teria ocorrido o resultado tal qual ocorreu. Esta teoria pega o resultado como ponto de referência e alega que tudo que antecede e, de alguma maneira se conecta ao resultado, é considerada causa, independentemente da causa ser relevante ou não. 
 Esta teoria identificada o que é e não é causa através do Juízo Hipotético de Eliminação, desenvolvido por Thyrén (filtra e elimina algumas das causas). Tal teoria e seu juízo sofrem a crítica de que a utilização dessa teoria vai levar a causa a regredir a infinitas possibilidades(regresso ao infinito/ad infinitum), apesar de ter sido adotada pelo Código Penal. O problema do regresso ao infinito é corrigido através da análise entre dolo e culpa, onde, mesmo assim, não são suficientes. Mais modernamente ainda, existe uma nova teoria não existente no Codex, mas utilizada pelos tribunais, que é a Teoria da Imputação Objetiva, associando-a com a Teoria da Equivalência.
CONCAUSAS – quando se tem uma soma de eventos causais/causas relacionado a um mesmo resultado. As concausas se subdividem em: Concausas Absolutamente Independentes e Concausas Relativamentes Independentes, onde o CP trata especificamente apenas das Concausas Relativamente Independentes Supervenientes (Artigo 13, Parágrafo 1º, CP).
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
 § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
-Concausas Absolutamente Independentes: São aquelas que não guardam entre si nenhum vínculo. São analisadas de maneira autônoma. Nestes casos, identificaremos aquela a qual se atribui a consumaçãoe para todas as demais somente será possível imputar tentativa.
(i)Concausa Absolutamente Independente Preexistente é quando um sujeito A atira no indivíduo B com intenção de matar, porém, minutos antes do tiro, B havia tomado um veneno e morre. A perícia constata morte por envenenamento. A responde pelo crime de tentativa de homicídio porque havia uma concausa preexistente para qual se atribui a consumação.
(ii)Concausa Absolutamente Independente Concomitante é quando A e B, coincidentemente, querem matar C (A e B não tem ciência do plano do outro) e ambos atiram exatamente na mesma hora contra C. O tiro de A pegou na cabeça e o tiro de B pegou no pé. B responde por tentativa de homicídio, pois não foi seu tiro que causou a morte.
(iii) Superveniente é quando A quer matar B e envenena a comida de B. Antes do veneno fazer efeito e sem que B soubesse que estava envenenado, ele resolve se suicidar. A responde por tentativa de homicídio.
-Concausas Relativamente Independentes: Assim são chamadas, porque entre elas existe um vínculo que nos permite dizer que o resultado derivou não de uma ou outra isoladamente, mas sim do somatório de ambas. Como consequência, os eventos causais são somados, atribuindo-se a ambos a consumação.
(i)Concausas Relativamente Independentes Preexistentes ocorre quando A sabe que B é hemofílico (impede a coagulação do sangue) e atira na perna de B com intenção de matar e B acaba falecendo. A responde por homicídio doloso consumado.
(ii)Concausas Relativamente Independentes Concomitantes ocorre quando A e B combinam que querem matar C, e ambos atiram contra C, que morre em decorrência da hemorragia. A e B respondem por homicídio doloso consumado.
(iii) Concausas Relativamente Independentes Supervenientes ocorre quando A atira em B com a intenção de matar, B é levado ao hospital com vida, que contrai uma infecção hospitalar e morre (A será imputado por homicídio doloso consumado, tal questão também valem para pequenos erros médicos). Outra situação é quando A atira em B com a intenção de matar, B sobrevive e é levado em uma ambulância, só que a ambulância cai num viaduto e todos dentro da ambulância morrem (tentativa de homicídio, exorbita a margem razoável probabilística).
 A doutrina e o CP impõem um critério de solução: nas concausas relativamente independentes supervenientes, observaremos a natureza do evento superveniente. Se ele está dentro de uma margem probabilística razoável, estará mantido o nexo, imputando-se a consumação. De outro lado, se o evento exorbita/transcende completamente essa margem razoável probabilística, significa que o evento superveniente rompeu o nexo e o agente responderá por tentativa.
GARANTIDORES – A omissão do garantidor é mais grave, sendo denominada omissão penalmente relevante. Desta maneira, se o garantidor podia tentar impedir o resultado (ainda que correndo o risco pessoal), mas nada faz, responderá como se ele próprio tivesse ativamente causado o resultado que ele não impediu (quando um policial em serviço presencia um estupro e nada faz, será imputado por estupro omissivo impróprio).
 Para estar diante de um garantidor é necessário estar diante de dois fatores: o poder agir (ainda que com risco pessoal, se valendo pela razoabilidade, não podendo ser feito o impossível) + o dever de agir (quem tem por lei obrigação de cuidado proteção e vigilância, como médicos, policiais, bombeiros, enfermeiros; quem assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, como um segurança particular, babá, escola que leva para um passeio; quem com seu comportamento anterior criou o risco de ocorrência do resultado, o pintor que retira a tela protetora de um edifício e gerou a morte do indivíduo).
-Omissão: Existem dois tipos de omissão: a omissão própria (pura) e a omissão imprópria (comissiva por omissão).
(i) A omissão própria é quando se tem um tipo penal omissivo (não fazer) e uma conduta que é igualmente omissiva (deixar de), havendo um encaixe perfeito (tipicidade perfeita). A omissão de socorro é um exemplo de omissão própria. O sujeito ativo da omissão de socorro é um sujeito ativo que não é garantidor (qualquer um pode ser sujeito ativo). A omissão de socorro só pode ser dolosa.
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
        Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
(ii) A omissão imprópria é quando há um tipo penal comissivo (descreve uma ação) e uma conduta omissiva, sendo, em princípio uma conduta atípica (não há um encaixe perfeito), pois o tipo penal comissivo é o que descreve um fazer. O próprio legislador possibilita classificar a conduta como típica, desde que estejamos diante de um sujeito ativo garantidor (um médico, enfermeiro, policial, mãe em serviço). O sujeito ativo garantidor não responde por omissão de socorro, mas sim por omissão penalmente relevante (Artigo 13, 2º).
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
 § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
       a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
       b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
       c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA – Doutrinariamente, a teoria da imputação objetiva tem sido utilizada para evitar o “regresso ao infinito”, formulada e desenvolvida por Klaus Roxin, que sistematizou (e criou alguns) todos os filtros de imputação que eram trabalhados pela doutrina. É a lógica de se pensar em obstáculos/filtros de imputação. A base de raciocínio da teoria da imputação objetiva é o risco. O que Roxin analisa é que toda sociedade complexa convive com o risco, e esses riscos podem produzir lesões, sendo o grande desafio a diferenciação de um risco permitido ( a possibilidade de praticar Crossfit ou dirigir) de um proibido. 
OBS: O risco é inerente à sociedade complexa, tendo o Estado a função de definir quais riscos serão tolerados e proibidos.
-Filtro de Diminuição do Risco: Não se pune a conduta que, muito embora lesiva, visava a diminuir um risco maior (quando um indivíduo arranca o braço de uma pessoa presa nas ferragens do acidente de um carro contra a sua vontade com o intuito de salvá-la).
-Filtro de Risco Juridicamente Irrelevante: Não se pune o risco juridicamente irrelevante, isto é, aquele que não seja capaz, efetivamente, de interferir no resultado (quando um marido faz uma macumba para que sua mulher morra, sendo juridicamente irrelevante).
-Filtro de Inexistência de Aumento do Risco: Não se pune uma conduta quando se comprovar que o resultado final era inevitável. Quando há um descumprimento, onde por mais que eu tivesse praticado uma conduta fora do direito, seu resultado ainda se produziria, eu não seria imputado penalmente.
-Filtro de Espera de Proteção da Norma: Não se pune a conduta que se situe fora da esfera de proteção da norma jurídica, tendo como exemplo, quando um policial que comunica à mãe que seu filho, em uma troca de tiros, morreu, gerando o infarto da mãe. A morte da mãe foi por causas naturais, estando fora do tipo penal do homicídio.
CRIME IMPOSSÍVEL (NÃO ESTÁ PRESENTE NA TABELA) – Previsto no Artigo 17, verifica-se quando , a conduta do agente jamais seria capaz, ainda que exaurida, de levar à consumaçãodo delito, seja pela absoluta ineficácia do meio ou pela impropriedade do objeto.
   Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
-Absoluta Ineficácia do Meio: Um meio absolutamente ineficaz, é um meio que independente da intensidade, quantidade ou forma que foi utilizado, jamais levará ao resultado desejado (Quando A quer matar B por envenenamento e A acaba pegando um frasco com água, achando que é veneno e despejando no copo de B, ou seja, a água é um meio completamente inofensivo para esse fim). 
 A eficácia ou ineficácia do meio depende do crime que será cometido, ou seja, uma arma de brinquedo é um meio eficaz para um assalto, mas é um crime impossível para homicídio, pois a execução, ainda que exaurida, jamais levaria ao resultado desejado (morte). 
-Absoluta Impropriedade do Objeto: Objeto impróprio é aquele que não se perfaz no tipo, ou seja, é um objeto que não se encaixa no tipo. Um exemplo é quando A quer matar B e, no momento do assassinato, A vê B com os olhos fechados (já estava morta) e atira inúmeras vezes em seu corpo, havendo um crime impossível, pois só se pode matar ou tentar matar uma pessoa viva (não se mata o que já morreu). 
 Outro exemplo é quando uma grávida compra um remédio abortivo só que a perícia constata que pelas minhas taxas hormonais, a grávida perdeu o feto uma semana antes de ingerir o remédio, ou seja, não há possibilidade de ter havido um aborto, sendo um crime impossível.
OBS: Entretanto, se a ineficácia ou impropriedade forem relativas, a conduta sempre será punível, e haverá a punição por tentativa do crime. 
-Questões Especiais: (i) Delito Putativo/Imaginário é quando um sujeito acha que está praticando um crime mas sua conduta é lícita (quando um maior transa, de forma consentida, com uma menor de 15 anos, não havendo estupro de vulnerável).
(ii) Furto em Supermercado com Sistema de Vigilância por Câmera, onde a equipe do supermercado já sabe quem foi o indivíduo responsável pelo furto e acabam “marcando” o indivíduo. No momento em que o indivíduo entra no mercado ninguém pode prendê-lo, só podendo efetuar a prisão quando o mesmo sair do supermercado com um objeto. A Defensoria Pública tem a tese de que mesmo tendo sido consumado o furto, houve o crime impossível, pois o supermercado tinha todo o controle para pegar o indivíduo mas optou por não pegá-lo.
OBS: A Tese predominante é a do MP, que acredita que houve tentativa de furto, portanto, não é possível alegarmos crime impossível.
EM QUE CONSISTE O FLAGRANTE PREPARADO? TRATA-SE DE CRIME IMPOSSÍVEL? COMO OS TRIBUNAIS TRABALHAM A MATÉRIA NO TRÁFICO DE ENTORPECENTES (SÚMULA 145 DO STF)?

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