805 pág.

Pré-visualização | Página 21 de 50
a um valor espec´ıfico bem de- terminado ax1 1, quando h→ 0 (independentemente do modo como h se faz pequeno) ? E´ nesse ponto que se veˆ importaˆncia de podermos falar de algo como o h tender a zero, sem precisar nunca ser zero: pois simplesmente na˜o podemos dividir por h = 0 e precisamos calcular limh→0 ax1,h. Atenc¸a˜o ! pois em geral pode na˜o existir esse limite, como algo bem definido. O exemplo mais simples e´ (que e´ uma func¸a˜o cont´ınua !): y = f(x) = |x| e x = 0. De fato, se h > 0 e tende a zero, obtenho: lim h→0 h>0 |0 + h| − |0| h = lim h→0 h>0 h h = = lim h→0 h>0 1 = 1, 1Claro que em geral ax 1 depende do x1 escolhido CAPI´TULO 8. A TANGENTE AO GRA´FICO, SEGUNDO O CA´LCULO 109 e no entanto: lim h→0 h<0 |0 + h| − |0| h = lim h→0 h<0 −h h = = lim h→0 h<0 −1 = −1, 0,8 0,4 0 1 0,6 0,2 x 10-0,5-1 0,5 Figura: Gra´fico de y = | x |, para x ∈ [−1, 1]. Definic¸a˜o 2.1. Quando ha´ uma posic¸a˜o limite de secantes, ou seja, quando existe a := lim h→0 ax1,h, onde ax1,h := f(x1 + h)− f(x1) h , dizemos que existe a Reta Tangente ao gra´fico de f em (x1, f(x1)). E´ a reta dada por: y = a · x+ b, pondo a := lim h→0 ax1,h e onde b fica determinado pela imposic¸a˜o de que essa reta passe por (x1, f(x1). De f(x1) = a · x1 + b, obtenho o coeficiente linear: b = f(x1)− (lim h→0 ax1,h) · x1. E´ interessante que, embora as secantes na˜o tenham muito a ver com o gra´fico: a tangente ao gra´fico em um de seus ponto da´ informac¸a˜o relevante sobre ele, ela da´ informac¸a˜o do formato do gra´fico naquele ponto. Dentre todas a retas passando por aquele ponto, a tangente ao gra´fico e´ a mais informativa do formato do gra´fico. 3. A reta tangente ao seno em (0, 0) e´ a diagonal Vamos dar uma justificac¸a˜o bem geome´trica para o fato de que no gra´fico do seno existe uma reta tangente bem definida no ponto (0, 0): de fato sua equac¸a˜o e´ a mesma da diagonal y = x. Para isso comec¸amos observando que: 3. A RETA TANGENTE AO SENO EM (0, 0) E´ A DIAGONAL 110 Afirmac¸a˜o 3.1. Valem: sin(θ) < θ e θ < tan(θ), para 0 < θ < pi/4, e tan(θ) < θ e θ < sin(θ), para − pi/4 < θ < 0. Demonstrac¸a˜o. Seja 0 < θ < pi/4. Considere treˆs A´reas envolvidas: • do triaˆngulo 4 com ve´rtices em (0, 0), (1, 0) e em (cos(θ), sin(θ)). Note que a base dele mede 1 e que sua altura e´ o sin(θ). Logo A4(θ) = sin(θ) 2 . • do Setor circular (fatia do disco) de abertura θ do disco de raio 1, s(θ). Sua a´rea2 e´ denotada As(θ). Temos As(2pi) = pi e As(θ) = θ 2 . • do triaˆngulo ∆ com ve´rtices em (0, 0), (1, 0) e no ponto (1, tan(θ)), que e´ um triaˆngulo retaˆngulo em (1, 0) Denote sua a´rea por A∆(θ). A base dele mede 1 e que sua altura e´ tan(θ). Logo A∆(θ) = tan(θ) 2 . θ (1,0)(0,0) tan (1, )θ ( , )θcos θsen Figura: Observe que 4 ⊂ s(θ) ⊂ ∆ Das incluso˜es: 4 ⊂ s(θ) ⊂ ∆ obtemos: A4(θ) < As(θ) < A∆(θ) ou seja para 0 < θ < pi/4: sin(θ) 2 < θ 2 < tan(θ) 2 , que e´ o que queremos (se eliminamos o 1/2). Por outro lado, se −pi/4 < θ < 0 (isto e´, θ e´ aˆngulo no sentido hora´rio), A4(θ) < As(θ) < A∆(θ) 2O Ca´lculo pode provar que a a´rea de um disco de raio r e´ pi · r2, como o faremos nos Cap´ıtulos sobre Integrac¸a˜o. A A´rea de um setor de abertura θ (em radianos) no disco de raio r e´ θ 2pi · pir2 = θ · r 2 . CAPI´TULO 8. A TANGENTE AO GRA´FICO, SEGUNDO O CA´LCULO 111 agora significa (ja´ que para ca´lculo de a´reas tomo os mo´dulos de nu´meros negativos): − sin(θ) 2 < −θ 2 < − tan(θ) 2 , ou seja (multiplicando por −1): tan(θ) 2 < θ 2 < sin(θ) 2 o que queremos (eliminando o 1/2). � Afirmac¸a˜o 3.2. (Um Limite fundamental) lim θ→0 sin(θ) θ = 1 Demonstrac¸a˜o. Para 0 < θ < pi/4, da Afirmac¸a˜o 3.1 temos θ < sin(θ) cos(θ) , e obtenho (multiplicando por cos(θ) θ > 0): cos(θ) < sin(θ) θ . Ainda da Afirmac¸a˜o 3.1, para 0 < θ < pi/4,: sin(θ) < θ e obtenho: sin(θ) θ < 1. Ou seja, cos(θ) < sin(θ) θ < 1, se 0 < θ < pi/4. Uso agora o item 6) do Teorema 1.1, combinado com continuidade do cosseno, ob- tendo: lim θ↘0 sin(θ) θ = lim θ→0 cos(θ) = cos(0) = 1. Por outro lado, quando −pi/4 < θ < 0 ainda temos cos(θ) > 0 e pela Afirmac¸a˜o 3.1 t´ınhamos: sin(θ) cos(θ) < θ, de onde obtenho (multiplicando por cos(θ) θ < 0): sin(θ) θ > cos(θ). De novo da Afirmac¸a˜o 3.1 para −pi 2 < θ < 0: θ < sin(θ) 3. A RETA TANGENTE AO SENO EM (0, 0) E´ A DIAGONAL 112 e obtenho (ja´ que θ < 0): sin(θ) θ < 1. Enta˜o como antes obtenho: lim θ↗0 sin(θ) θ = lim θ→0 cos(θ) = cos(0) = 1, o que e´ suficiente para sabermos que lim θ→0 sin(θ) θ = 1. � 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 x 3210-1-3 -2 Figura: Gra´fico de y = f(x) = sin(θ) θ para 0 6= θ ∈ [−pi, pi] e f(0) = 0. Como consequeˆncia da Afirmac¸a˜o 3.2 e da definic¸a˜o de Reta Tangente ao gra´fico do seno em (0, 0), a tangente ao gra´fico do seno em (0, 0) e´ exatamente a diagonal, pois os coeficientes angulares de secantes por (0, 0) sa˜o: sin(θ)− sin(0) θ − 0 e lim θ→0 sin(θ)− sin(0) θ − 0 = limθ→0 sin(θ) θ = 1. 1,5 0,5 -1,5 1 0 -1 -0,5 x 1,510,50-1 -0,5-1,5 CAPI´TULO 8. A TANGENTE AO GRA´FICO, SEGUNDO O CA´LCULO 113 Figura: A diagonal e´ tangente ao seno em (0, 0) 4. Interpretac¸a˜o F´ısica da reta tangente Uma das fontes do Ca´lculo e´ a F´ısica. Os conceitos de secantes e tangente a um gra´fico teˆm uma interpretac¸a˜o f´ısica natural. Se x e´ pensado como sendo o tempo, podemos pensar em f(x) como a posic¸a˜o de um objeto, determinada em relac¸a˜o a um ponto de origem, do qual nos afastamos para a direita (valores positivos de f) ou para a esquerda (valores negativos de f). Enta˜o f(x2)− f(x1) e´ a distaˆncia percorrida no tempo transcorrido x2 − x1 e f(x2)− f(x1) x2 − x1 e´ o que se costuma chamar a velocidade me´dia. E´ o que no dia-a-dia nos perguntam: voceˆ vai de casa ate´ a faculdade em quanto tempo ? E da´ı se deduz a velocidade me´dia do seu trajeto. Mas tambe´m poderia haver interesse de algue´m nas velocidades marcadas no ve- locimetro do seu carro a cada instante, para saber onde pegou engarrafamento, se teve excesso de velocidade em alguns trechos, etc. O que e´ essa velocidade instantaˆnea no instante x1 ? Ora, e´ o limite: lim h→0 f(x1 + h)− f(x1) h . Ou seja, o coeficiente angular da tangente ao gra´fico da func¸a˜o posic¸a˜o f no instante x1 da´ a velocidades instantaˆnea no momento x1. Isso e´ o que marca o veloc´ımetro do carro. Essa interpretac¸a˜o que estamos dando dos conceitos que vimos ao caso do movi- mento de um objeto, nos motiva a falar da acelerac¸a˜o, um conceito que usamos muito no dia a dia. Falaremos disso na Sec¸a˜o 5 do Cap´ıtulo 9. 5. Exerc´ıcios Exerc´ıcio 5.1. i) Determine os intervalos em que coeficientes angulares das secantes da func¸a˜o f(−∞, 0) ∪ (0,+∞)→ R, f(x) = 1/x sa˜o positivos ou negativos. ii) Diga (ainda de modo bem intuitivo) o que acontece com esses coeficientes angulares de secantes quando o ponto fixado x fica pro´ximo de zero (separadamente se x < 0 ou se x > 0) ou com mo´dulo de x muito grande (x > 0 ou x < 0). Exerc´ıcio 5.2. Calcule as equac¸o˜es y = ax + b das retas tangentes no ponto (1, 1) dos gra´ficos de: i): y = x2 ii): y = x3 iii): y = x4 5. EXERCI´CIOS 114 Exerc´ıcio 5.3. Pedi para o programa Maple plotar y = sin(x) x e y = sin 2(x) x para x ∈ [−3, 3] e ele repondeu: 0,8 0 0,4 -0,4 x 31-3 0 2-2 -1 Mas essas func¸o˜es a princ´ıpio na˜o esta˜o sequer definidas em x = 0 ! Explique com os conceitos de limite e continuidade o que