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1 A HISTÓRIA DO CONHECIMENTO: uma breve contextualização 1 Prof. Elaine Linhares de Assis Guerra Sabemos que os animais desenvolvem estilos próprios de vida que lhes permitem a reprodução e a sobrevivência. Para isto os animais estabelecem modelos de vida complexos, com sistemas de acasalamento, alojamento, migração, defesa e alimentação. Os homens também desenvolvem estes processos em suas vidas. Para sobreviver, os homens apresentam atividades instintivas (respirar, engatinhar, fome, frio) e outras ações que dependem de um aprendizado (trabalhar, comercializar, etc.). Para um bebê se transformar em homem ele precisa de um aprendizado. Este aprendizado é possível porque o homem é capaz de criar um sistema de símbolos e de comunicação e por meio destes ele dá significado às suas experiências e as transmite aos seus semelhantes. O homem é o único ser capaz de imaginar ações e reações de forma simbólica, diferenciar experiências no tempo e projetar ações para o futuro. Por isto o homem conseguiu desenvolver a CIÊNCIA. Ao pensar, projetar, ordenar, prever, interpretar, o homem travou com o mundo uma relação dotada de significados e assim sendo, um conhecimento. O conhecimento sobre o mundo que foi produzido pelos homens se transformou em CULTURA. Assim, cada grupo, compartilhando experiências comuns, cria formas de sociabilidade. Por isso, cada cultura tem suas particularidades, seus símbolos. Tudo isto é transmitido de uma geração para outra. O estudo da cultura nos mostra que o homem busca formas de resolver seus problemas que são aceitas pelo seu grupo social. Uma vez aceitas, estas formas são transformadas em rituais que são repetidos pelos membros do grupo. Estes rituais são transmitidos e transformados pelos homens para atender suas necessidades. Sabemos que os homens desenvolvem conhecimentos conforme suas necessidades. Exemplos: a) os egípcios conheciam geometria em função da necessidade de prever o transbordamento do Rio Nilo e com uma corda dividida em 13 partes eles criavam formas geométricas e assim faziam suas medições territoriais; b) os povos gregos também buscaram entender o universo e assim surgiu a filosofia, a geometria, a aritmética e a astronomia. 1 Texto produzido para fins didáticos. Uso exclusivo dos alunos de sociologia do Centro Uuniversitário Una. 2 Os gregos trouxeram o amor e a valorização ao conhecimento, ou seja, uma valorização das atividades do espírito. Para os gregos, a filosofia mostrou que o destino era apenas uma construção humana e não obra dos deuses. O racionalismo da filosofia grega abriu precedentes para o conhecimento científico. A Filosofia surgiu na Grécia, no momento em que se abandonou a tradição oral (concepções mitológicas). Porém o que nos restou dos “livros” dos primeiros períodos do pensamento grego são resultado do trabalho dos padres copistas do século VI d.C. Estas cópias trazem todo os tipos de erros: desde de transcrição escrita, como de cristianização dos termos pagãos. O pensamento grego foi mais importante entre os séculos V e IV a.C., em Atenas, exatamente no mesmo período onde a democracia se instalou pela primeira vez e para isto teve que lutar contra as forças da oligarquia e da tirania. São também deste período as contribuições de Sócrates, Platão e Aristóteles. A primeira fase da Filosofia é a Pré-socrática. Compreende o pensamento produzido pelo mestre da primeira escola filosófica, a Escola de Mileto, ou seja, Tales de Mileto (640 / +- 546 a.C.) até o surgimento do pensamento de Sócrates de Atenas (468-399 a.C.). Os filósofos da Escola de Mileto se preocupavam em determinar um princípio - arqué (em grego) para a natureza - phisis. Tales de Mileto sustentava que este princípio era a água. Antes e depois de todas as coisas e em todas as coisas, há água. A idéia reguladora de todas as coisas está nelas mesmas: “Tudo é um”. De maneira geral podemos dizer que os primeiros filósofos se preocupavam em definir o que é matéria, mundo, criação e movimento. Eles se dedicavam a entender a ordem que se encontra em todas as coisas e que rege seus movimentos. Outras escolas filosóficas deste período são também importantes: a) Escola Pitagórica: (Pitágoras de Samos), que utilizava o saber matemático e o misturava com alguns preceitos religiosos; b) Escola Eleata ou de Eléia: (Heráclito, Zenão de Eléia e outros), que também buscavam um princípio único para explicar o movimento; c) Escola Atomista: (Leucipo de Mileto e Demócrito de Abdera) que reduzia todas as coisas e seus movimentos à propriedades intrínsecas dos átomos. A segunda fase da Filosofia é conhecida como Período clássico. Este período inicia- se em 450 a.C. e vai até 322 a.C. (morte de Aristóteles). Foi a época em que viveram grandes pensadores como Sócrates de Atenas, Platão de Atenas e Aristóteles, o grande filósofo grego que lançou as bases lógicas de nossa ciência através de sua Metafísica. Os pensadores do período clássico viveram uma fase tumultuada da vida política grega, onde a 3 democracia alcançou sua maturidade e também seu declínio. A democracia ateniense também incentivou as artes, a poesia, a arquitetura e a escultura. Entre os filósofos dessa fase, encontra-se Platão. Vejamos algumas idéias de Platão: ele entendia que existia uma hierarquia entre a razão e os sentidos, acreditando que a razão atinge com dificuldade o conhecimento por causa da deformação que os sentidos provocam. Por isto, cabe à razão nos livrar dos enganos que os sentidos nos levam a cometer. Para Platão, o conhecimento tem que ultrapassar o mundo sensível (das opiniões e sentimentos) e atingir o mundo das idéias (lugar dos modelos intelectuais, da razão). Só assim se alcançaria a episteme, ou seja, a ciência. Assim Platão usou a matemática e a geometria, pois estas descrevem as realidades não-sensíveis. Cabe ressaltar também as idéias de Aristóteles. Ele foi um discípulo de Platão, que procurou explicar o movimento, principalmente sua origem e sua natureza. Aristóteles acreditava que o movimento é resultado das idéias de matéria/forma e de ato/potência. Enquanto toda substância é constituída pela forma, a matéria possui a forma em potência . Assim, por exemplo, a semente quando enterrada tende a se desenvolver e a se transformar em uma árvore, o que a semente é em potência. O movimento é então o “ato de ser em potência”. A terceira fase da filosofia grega é o Período Helenístico. Ela inicia-se com a morte de Aristóteles e vai até o século III d. C. Este período é marcado pela influência do pensamento platônico e aristotélico. Nesta fase discutiu-se muito a noção do dever e do prazer e chegou-se a questionar a possibilidade do conhecer. Por fim, inicia-se a última fase, chamada de Período Grego-romano, que vai do século II até o século VI. É o período onde a cultura grega é assimilada pela cultura romana, prevalecendo assim o dogma cristão. Nessa fase, a filosofia grega é considerada pagã e é proibida. Discute-se então a noção do dever e do prazer. É dever do homem conhecer? Posteriormente, na fase medieval, do século V até o século XV, temos um período de pouca produção intelectual. Após a queda do Império Romano, a religião passou a ser o elemento integrador dos reinos bárbaros. Os chefes bárbaros foram convertidos ao cristianismo e a Igreja Católica passou a ser soberana absoluta da vida espiritual. O pouco da cultura grego- romana que sobreviveu na Idade Média ficou nos mosteiros. Nem servos, nem nobres sabiam ler na Idade Média. Assim aIgreja conseguiu fazer da Filosofia uma serva da Teologia. O primeiro período da filosofia medieval é conhecido como Filosofia Patrística. Ele inicia-se a partir do séc. III e consiste numa exposição racional (na visão dos padres católicos) da doutrina religiosa. Seu representante: Santo Agostinho (354-430), um 4 seguidor de Platão, que procurava a Perfeição atrás da Imperfeição, a verdade absoluta por trás da verdade particular. Nas mãos de Santo Agostinho, Platão foi então “adaptado” aos interesses da Igreja. A segunda fase é a da Filosofia Escolástica, que vai do séc. IX até o Renascimento. Carlos Magno (séc. VIII), preocupou-se com a cultura e assim fundou escolas monacais e catedrais. Ensinava-se gramática, aritmética, retórica, música, geometria e astronomia. No séc. XI surgem as Universidades (Paris, Bolonha e Oxford). No séc. XII aparecem traduções de Arquimedes, Euclides, Aristóteles e Ptolomeu. Porém, o conhecimento permanecia nas mãos da Igreja Católica. São Tomás de Aquino é o principal representante da Escolástica. Nessa fase, São Tomás recuperou o pensamento de Aristóteles (traduzido pelos árabes) e fez adaptações conforme a visão cristã, ou seja: cristianizando o pensamento de Aristóteles, a Teologia conseguiu dominar a Filosofia Porém com o surgimento das cidades e do comércio depois do século IX, houve necessidade de um saber mais prático. A Igreja foi então perdendo terreno para os saberes mundanos. Temos nessa fase o crescimento da alquimia, dos ensinamentos arábicos, da contribuição dos franciscanos que divulgavam o método matemático e outros. Assim a filosofia escolástica entrou em decadência. Mas a Igreja não aceitou seu enfraquecimento e lutou para reconquistar sua força política, espiritual e intelectual. Podemos dizer que do século XIV em diante, a Igreja conseguiu a aceitação cega das afirmações bíblicas, impedindo as inovações. Vigorava o Princípio da Autoridade, o MAGISTER DIXIT, os tribunais do Santo Ofício (Inquisição) , onde a Igreja conseguia um controle rigoroso e o INDEX, através do qual a Igreja proibia a leitura de muitos livros. Usando a imposição, o autoritarismo e o temor a Deus, a Igreja recuperou seu poder, porém o avanço do conhecimento e as novas necessidades dos homens acabaram por corroer a força da Igreja Católica. Na Idade Moderna, em torno do século XVII, o homem buscou métodos de conhecimento que pudessem gerar credibilidade para as verificações feitas em seus estudos. Surgiu uma nova fase do conhecimento, onde o método científico de investigação permitiu um crescimento espantoso do conhecimento. É a fase do racionalismo, do antropocentrismo e do saber laico. É a fase marcada pelo nascimento do conhecimento científico. No campo das ciências sociais, por exemplo, a Sociologia que nasceu no séc. XIX tinha como objetivo descobrir as regularidades que regiam a vida social. Assim a Sociologia é capaz de garantir a intervenção humana nos processos sociais. A sociologia permitiu que as pessoas que atuam na sociedade conheçam as características desta sociedade e assim obtenham sucesso em suas ações. Outro exemplo é a Antropologia, 5 que se dedicou ao estudo dos povos colonizados da África, América e Ásia. A Antropologia desenvolveu um método mais empirista e qualitativo, voltado para o estudo das especificidades das sociedades, principalmente das chamadas sociedades exóticas. Os antropólogos procuraram destacar as diferenças culturais entre as sociedades, desvendando assim a identidade de cada povo e sua cultura.
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