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1 GEOMORFOLOGIA CLIMÁTICA PROCESSOS EXÓGENOS: CLIMA e RELEVO UFBA-IGEO-DGq Profª Gisele Mara Hadlich INTRODUÇÃO GEOMORFOLOGIA CLIMÁTICA RELAÇÕES CLIMA - RELEVO Modelador das formas de relevo - agente escultural sobre as estruturas - ATUAL e PRETÉRITO INTRODUÇÃO RELEVO ENDÓGENOS - conjunto litológico-tectônico-estrutural EXÓGENOS HIDROSFERA BIOSFERA ATMOSFERA Dinâmica da atmosfera - fatores climáticos - “comandam” processos de superfície Ambientes ecológicos / vegetação Solos Atuação sobre conjunto litológico-tectônico-estrutural Processos erosivos INTRODUÇÃO • Cada clima impõe processos de meteorização específicos – Química: predomina em condições quentes e úmidas – Física: predomina em condições secas e quentes ou somente frias • Diferentes intensidades e relações entre meteorização química e física • Assim: cada clima cria diferentes formas erosivas que dependem, entre outros fatores: – dos meios de transporte (gelo, água, vento, força de gravidade) – quando não há meios de transporte (como no clima árido): calor – climas úmidos em determinados períodos: intenso transporte por águas pluviais e fluviais – climas sempre úmidos: intensa meteorização química – originam aplainamentos – relevos de formas acumulativas: sedimentações ou depósitos Geomorfologia Escultural Ação direta ⇒ intensidade de elementos do clima quantitativo: temperatura, umidade, precipitação, ventos • Ação do gelo – regiões frias – modifica o modelado das costas, exercendo abrasão na plataforma continental, influi no regime fluvial de outras regiões, etc. • Umidade e ressecamento – controlado pelo regime de precipitação – umidade: ação química da água – esforços mecânicos nas rochas – selamento superficial em solos argilosos – cristalização de sais na superfície das rochas – escoamento superficial e trabalho geomorfológico das correntes • Variações de temperatura – esforços mecânicos nas rochas – maior a temperatura: maior/menor a atuação química com umidade • Variação na intensidade dos ventos – ventos episódicos violentos atuam mais na esculturação do que os constantes e fracos – atuação no modelado de dunas CLIMA x RELEVO Ação indireta ⇒ através da vegetação: entre agentes meteóricos e a terra ... vegetação → processos morfogenéticos→ condições ecológicas → vegetação... • evita splash no solo – muita Ec⇒ menos erosão • reduz irradiação direta e grandes oscilações térmicas do solo • reduz a perda direta de água do solo – umidade • reduz a ação do vento no transporte de partículas • reduz o escoamento superficial • facilita a infiltração • etc... SOLO – RELEVO – CLIMA – VEGETAÇÃO CLIMA x RELEVO 2 DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS Para cada grande zona de vegetação e solos → processos morfogenéticos específicos que modelam famílias de formas, relacionados ao clima → constituição de domínios morfoclimáticos definidos a partir de características climáticas, botânicas, pedológicas, hidrológicas e morfológicas (demonstram as interações do clima, vegetação, rios, solos e relevo) CADA SISTEMA MORFOCLIMÁTICO (SISTEMA COMPLEXO RESULTANTE DE INÚMEROS FATORES QUE INTERAGEM) TEM RELAÇÃO COM UMA ZONA CLIMÁTICA DO GLOBO OU A UMA GRANDE REGIÃO CLIMÁTICA SISTEMAS MORFOCLIMÁTICOS • São sistemas zonais – distribuem-se no globo segundo a latitude “O conceito zonal permite analisar a repartição das ações morfogenéticas no globo. Permite classificar sistemas morfoclimáticos” (Penteado, 1980, p. 112) • A evolução das vertentes e a escavação do talvegue são fenômenos interdependentes que abrangem diversos processos de movimentação sob a ação da gravidade, da erosão, transporte e deposição, os quais se encadeiam num sistema coordenado pelo clima – formação de sistemas morfoclimáticos • Expressam a relação contínua entre relevo – solos – vegetação – relação com conjunto lito-estrutural SISTEMAS MORFOCLIMÁTICOS • Para defini-los: consideram-se variáveis (ex: temperaturas, precipitações,...) que permitem a discriminação dos ambientes onde a dinâmica geomorfológica é substancialmente diferente • A escala de observação dessas mudanças é variável: – Planetária: zona – Nas zonas: domínios – Nos domínios: regiões área expres são do sistem a Vegetação: síntese das influências-relações dos climas e do relevo sobre a biota DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO GLOBO Divisão morfoclimática do globo baseada em – classificação climática – paisagens geobotânicas Cailleux e Tricart (1958): - divisões maiores baseadas em grandes zonas climáticas e biogeográficas - subdivisões baseadas em diferenças climáticas ou biogeográficas combinadas com paleoclimáticas CADA SISTEMA MORFOCLIMÁTICO (SISTEMA COMPLEXO RESULTANTE DE INÚMEROS FATORES QUE INTERAGEM) TEM RELAÇÃO COM UMA ZONA CLIMÁTICA DO GLOBO OU A UMA GRANDE REGIÃO CLIMÁTICA DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO GLOBO Cailleux e Tricart (1958): 4 grandes zonas 1) Zona fria 2) Zona florestal das latitudes médias 3) Zona árida e sub-árida das baixas e médias latitudes 4) Zona florestal intertropical DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO GLOBO 1) Zona fria: grande importância do gelo 1) Domínio glaciar • escoamento superficial se faz na forma sólida 2) Domínio periglaciar • escoamento líquido é sazonal e solo congelado é importante na morfogênese dos interflúvios – precipitações (pouca quantidade) ficam retidas sob a forma de gelo – atividade biológica muito reduzida – pouca lixiviação – solos rasos e com evolução lenta - ausência do solo favorece a desagregação das rochas e a abrasão do relevo – intemperismo mecânico intenso - gelo/degelo e abrasão das rochas pelo lençol de gelo – paisagem: quando não está coberta por neve, apresenta lençóis de fragmentos rochosos sobre as vertentes expostas 3 DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO GLOBO 2) Zona florestal das latitudes médias: importante influência paleoclimática (fases glaciais) – climas temperados 1) Domínio marítimo com inverno ameno 2) Domínio continental de inverno rude 3) Domínio mediterrâneo com verão seco – temperaturas baixas, podendo ocorrer período com neve – atividade biológica reduzida (no inverno) – solo com alguns Dcm – camada de húmus aumenta no inverno: perda de folhas > degradação por microorganismos – lixiviação moderada; incide principalmente sobre Fe e Ca – selamento superficial pelos minerais de argila – paisagem: encostas suaves, convexas no topo e côncava na base DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO GLOBO 3) Zona árida e sub-árida de baixas e médias latitudes 1) segundo o grau de secura: desertos ou regiões semi-áridas 2) segundo temperatura invernal: desertos frios e desertos quentes – EV > PPT [semi-árido ≠ úmido] – tempestades violentas e rápidas – escoamento intenso nas chuvas – solos delgados ou sem solos – lixiviação quase nula – capilaridade e acumulação de sais (crostas, gipso) – intemperismo mecânico prevalece – rios intermitentes BRASIL Formas de relevo características leque aluvial: canal desce em encostas abruptas e perde velocidade na base pedimento: zona de lençol de detritos – leques aluviais coalescentes; superfície de aplainamento que compõe vasto plano suavemente inclinado em direção ao nível de base local – glacis de erosão e glacis de sedimentação [pedimentação forma pediplanície] inselberg: relevo residual dos processos de pediplanação DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO GLOBO 4) Zona florestal intertropical: temperaturas médias e umidade elevadas 1) Domínio das savanas da zona tropical • vegetação pouco densa • pluviosidade menor e concentrada (4-6 meses) • temperaturas elevadas e grande amplitude térmica • lixiviação intensa nos períodos de chuva - couraças ferruginosas revestindo imensas planícies e planaltos de erosão• estação das chuvas: solos rasos das zonas planas ficam encharcados devido à cobertura de material fino • estação seca: solo resseca e o lençol freático se aprofunda • primeiras chuvas: muita erosão (solo seco e sem vegetação) • relevo: inselbergs e pediplanos 2) Domínio das florestas • vegetação exuberante, maior umidade, período pluvioso longo • importante escoamento superficial • intemperismo e lixiviação intensa • decomposição rápida da M.O. • produtos de alteração: argilas e óxidos de ferro • laterização (carapaças lateríticas – Al) e carapaças ferruginosas • solos profundos e bem drenados • áreas graníticas e gnáissicas: meias-laranjas (vertentes convexas) BRASIL Os grandes domínios paisagísticos: -Terras Baixas florestadas da Amazônia -Chapadões recobertos por cerrados e penetrados por florestas galerias -Mares de morros florestados -Depressões interplanálticas semi-Áridas do NE -Planalto das Araucárias -Pradarias mistas do RS DOMÍNIO AMAZÔNICO • extensa planície inundável + tabuleiros com altitudes de até 200 m + terraços com cascalhos e lateritas + morros baixos com formas arredondadas • a base do relevo está assentada sobre uma bacia sedimentar constituída na Era Paleozóica (antes da separação entre América do Sul e África) e da formação da Cordilheira dos Andes - bacia sedimentar antiga foi recoberta por sedimentos recentes (Terciário e Quaternário) • clima dominante: Equatorial, com baixa amplitude térmica - temperaturas anuais: entre 25ºC e 27ºC – pluviosidade anual : superior a 1800mm • solos arenosos, ácidos, pobres em nutrientes minerais, sujeitos à lixiviação • floresta - ciclagem de nutrientes - solos ricos em matéria orgânica • floresta latifoliada equatorial: grande biodiversidade, com três padrões básicos – Matas de Igapó: em áreas de inundação permanente, com solos e águas ácidas; vegetação perenifólia com ramificações baixas e densas, arbustos, cipós e epífitas – Matas de Várzea: em áreas de inundação periódica; vegetação varia de acordo com o período de inundação, e pode apresentar espécies de maior porte – Matas de Terra Firme: em áreas mais elevadas, não atingidas pelas inundações; árvores de grande porte ( 60-65m); floresta compacta, perenifólia e higrófila; dossel contínuo e ambiente úmido e escuro • destruição da biodiversidade (desmatamentos, queimadas), degradação dos solos, alterações no ciclo hidrológico, difusão de pragas e parasitas 4 DOMÍNIO DOS MARES DE MORROS • recoberto pela Mata Atlântica (floresta latifoliada tropical) - originalmente recobria a faixa litorânea do país e interiorizava-se na região Sudeste; hoje: 5% de sua área inicial • relevo planáltico estruturado sobre uma base de rochas magmáticas e metamórficas muito antigas, formadas no Pré Cambriano • clima Tropical Litorâneo Úmido, afetado por chuvas frontais e orográficas, com predomínio de chuvas no verão • base geológica + clima Litorâneo Úmido = “Mares de Morros” • maior biodiversidade que floresta amazônica: grande variação latitudinal e diferentes altitudes, influências de climas passados, diferentes condições de solo e umidade • devastação devido à expansão da agricultura comercial – cafeicultura, ao desmatamento seletivo de madeiras nobres, ao turismo predatório (litoral), urbanização-industrialização no SE DOMÍNIO DA CAATINGA • interior do NE, em região de depressões inter-planálticas (Depressão Sertaneja e do São Francisco) • clima semi-árido: temperaturas anuais elevadas - chuvas escassas (<700 mm/ano) irregularmente distribuídas • parte da região: localizada na bacia do rio São Francisco, com muitos rios intermitentes • solos: argilosos, arenosos ou rasos e pedregosos; pouca M.O. – pouca vegetação • chuvas escassas → preservação dos nutrientes minerais → agricultura com irrigação - cuidar com salinização!!! • vegetação: matas secas e campos – Mata Seca ou Caatinga Arbustiva: decídua e xerófita; rica em espécies frutíferas e outras que permitem a produção de fibras, ceras e óleos vegetais – Campos Secos das chapadas: associações de vegetação rasteira e cactus DOMÍNIO DO CERRADO • bioma das savanas • grande biodiversidade – vegetação com dois estratos: – arbustivo: árvores tortuosas e espaçadas, com tronco de cortiça espessa, folhas grossas e ásperas; aspecto xeromórfico; raízes longas (até 15 m) capazes de retirar água do lençol freático – herbáceo • relevo de planaltos com chapadões sedimentares • clima Tropical Semi-úmido – médias de T elevadas (20º-28ºC) – chuvas concentradas no verão, inverno seco • solos arenosos e ácidos, sobre sedimentos antigos - laterização (carapaças ferruginosas – muito Fe e Al) • hidrografia: região corresponde ao principal divisor de águas do país - nascentes de importantes bacias (Araguaia-Tocantins, São Francisco, Paraná) • vegetação sujeita às queimadas naturais que, quando ocorrem em pequenas extensões, compõem a sua dinâmica, evitando que as gramíneas dominem a biodiversidade e tornem as terras impróprias para a fauna local - o fogo promove o rebrotamento de várias espécies e cria hábitat adequado para fauna • região ocupada, desde os anos 70, pelas monoculturas comerciais mecanizadas; desmatamento e utilização da queimada → perda de biodiversidade, destruição de mata ciliar DOMÍNIO DAS ARAUCÁRIAS • localizado nos Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná - no Sul do país: ocorre acima de 600m; na Serra da Mantiqueira: acima de 1200m • estrutura geológica: alterna camadas de arenito e basalto • solos: “terra-roxa” • clima Subtropical de temperaturas moderadas - chuvas bem distribuídas (> 1200mm/ano) - elevadas amplitudes térmicas - • vegetação aciculifoliada e homogênea - predomina Araucária, Podocarpus, com Erva-mate, Canela • devastação - restam pequenos núcleos de floresta original - extração de madeiras, expansão da agricultura familiar, pecuária DOMÍNIO DAS PRADARIAS • coxilhas com pradarias mistas: extremo sul do país (região da Campanha Gaúcha) • colinas baixas e amplas • clima Subtropical mais seco do que o da região da Mata de Araucárias • solos férteis, com M.O. • vegetação herbácea com banhados ao redor de lagunas • região costeira: extensas formações de gramíneas, entremeadas por matas de Araucária, no interior da região. • atualmente 2% da cobertura original - pecuária extensiva de corte, expansão agrícola comercial (trigo, soja) FAIXAS DE TRANSIÇÃO • Encontradas entre os vários domínios morfoclimáticos brasileiros – Zonas dos Cocais – Zona Costeira – Agreste – Meio-Norte – Pradarias – Pantanal – Dunas • em todo o território nacional • importantes áreas ambientais e econômicas 5 FAIXAS DE TRANSIÇÃO Faixas de Transição Nordestinas • Zona dos Cocais – importante fonte de renda - extração dos cocos • Zona Costeira – importante região ambiental: manguezais • Agreste – produção de alimentos (leite, aves, sisal, outras matérias primas para indústria) • Dunas – montantes de areias depositados pela ação dos ventos e de constante remodelação (litoral Ceará) • Meio-norte – entre a caatinga do sertão e a Amazônia (Maranhão e Piauí) – diversidade de vegetação (cerrado e matas de cocais) – pecuária bovina e criação do jegue – extrativismo: carnaúba e óleo de babaçú FAIXAS DE TRANSIÇÃO Faixa de Transição da Região Sul Brasileira - Pradarias – entre Araucária e das Pradarias – campos acima de serras – vegetações do tipo araucárias, de campo, floresta e cerrado Faixa de Transição – Pantanal – grande diversidade de fauna e flora – em regiões serranas e em terras altas – grande reservatório de água - encontra-se em uma depressão entre várias montanhas – duas estações anuais: seca e das cheias dos rios – “cordilheira” – não sofrem alagamentos (pequenas elevações) – salinas – regiões deprimidasque se tornam lagoas rasas e salgadas com as cheias dos rios – barreiros – depósitos de sal após a seca das salinas – caixas – canais que ligam lagoas, existindo somente durante as inundações – vazante – cursos d´água existentes durante a época das chuvas – exploração mineral; pecuária; monoculturas - agrotóxicos CONSIDERAÇÕES • Domínios morfoclimáticos do Brasil: desde o Holoceno • Cada domínio – características específicas ambientais • Ação antrópica: modificação dos Domínios • “Equilíbrio” morfoclimático – a ruptura do “equilíbrio” morfoclimático pode resultar de uma mudança de clima levando a substituição de um sistema morfogenético por um outro – a partir do momento em que se procura analisar o relevo atual, os fatores internos ficam num segundo plano, uma vez que os seus reflexos são sentidos, sobretudo numa escala de tempo geológico – as extensas superfícies horizontalizadas ou aplainadas, contatadas em maior extensividade na região central do Brasil, não estão associadas ao clima subúmido atual, e sim a paleoclimas CONSIDERAÇÕES • Climas diferentes produzem formas de relevo diferentes • Características do modelado refletem condições climáticas sob as quais se desenvolveu o modelado • Há processos independentes do clima – costeiros X ROCHA VER... • AB’SABER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159 p. • buscas na internet
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