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TALUDES 
ESTABILIDADE DE ENCOSTAS E EROSÃO 
Olavo Francisco dos Santos Júnior 
Prf. UFRN 
olavo@ctufrn.br 
In: GUSMÃO, A. D.; GUSMÃO FILHO, J. de A.; OLIVEIRA, J. T. R., MAIA, G. B. (Org.). 
Geotecnia no nordeste. Recife: Editora Universitária UFPE, 2005. 543 p., p. 181-203. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A ocorrência de movimentos de massas em encostas se constitui em um dos maiores 
problemas ambientais em várias regiões de relevo acidentado em todo o mundo. Tais movimentos 
podem causar uma gama enorme de prejuízos materiais e em situações mais críticas levar a perdas 
de vidas humanas. Na Região Nordeste do Brasil tem sido observado e relatado a cada ano a 
ocorrência de processos de instabilização, principalmente, nos maiores aglomerados urbanos. 
Os principais fatores que condicionam a instabilização de encostas são: o relevo 
(morfologia, altura e inclinação da encosta), o tipo de material que forma a encosta, as estruturas 
geológicas presentes (falhas, fraturas, xistosidade, contatos entre camadas, dentre outros) e o 
regime hidrológico (escoamento superficial, condições de infiltração e fluxo de água subterrâneo). 
Fatores antrópicos contribuem decisivamente para a deflagração de processos de ruptura em 
encostas, dentre os quais podem ser destacados: a retirada da vegetação, a execução de cortes no 
sopé e a inserção de sobrecargas nas partes superior e intermediária das encostas. 
Toda a faixa litorânea do Nordeste apresenta condições para o desenvolvimento de 
movimentos de massas. Verifica-se a presença de uma importante quebra de relevo entre as partes 
mais elevadas da área continental e a planície costeira, o desenvolvimento de solos profundos e um 
regime pluviométrico com concentração de chuvas no período entre fevereiro e julho, quando 
ocorrem precipitações de elevada intensidade. O quadro do meio físico é agravado pela ocupação 
das encostas, notadamente pela população de baixa renda. 
A comunidade geotécnica do Nordeste tem apresentado uma vasta contribuição no sentido 
de compreender os fenômenos envolvidos nos processos de movimentos de massas em encostas, 
identificar áreas susceptíveis à ocorrência de movimentos e propor medidas para recuperação de 
áreas onde já ocorreram instabilizações. A Tabela 4.1 apresenta uma lista de publicações obtida 
através de pesquisa nos anais de congressos a respeito do tema. 
 
 
2. ASPECTOS GEOLÓGICOS DA REGIÃO NORDESTE 
 
Como pode ser visto na Tabela 4. 1 a maior parte dos trabalhos cita a ocorrência de 
movimentos na Formação Barreiras. Esta consiste em uma seqüência de sedimentos terciários que 
abrange todo o litoral nordestino. Normalmente são pouco consolidados e são formados por 
camadas de areias siltosas, areias argilosas e argilas siltosas. Em alguns locais apresenta níveis 
conglomeráticos e camadas com cimentação ferruginosa. Os processos pedogenéticos atuantes 
levam à formação de latossolos e podzólicos. 
De forma secundária em termos de número de citações na lista de referências da Tabela 
4.1, porém associados a significativos problemas de estabilidade de encostas aparecem os solos 
residuais de rochas cristalinas. No Estado de Pernambuco são citados os solos residuais de granito 
(GUSMÃO FILHO et al., 1992 e 1997) e de gnaisse (COUTINHO et al., 1997). Em Salvador estão 
presentes predominantemente os solos residuais de granulito. Nas proximidades do litoral, em 
 
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função das características climáticas vigentes (elevadas temperatura e umidade) o intemperismo 
químico é intenso, de forma que se desenvolvem solos profundos. 
 
Tabela 4.1 – Relatos de trabalhos sobre movimentos de massas em encostas no Nordeste. 
 
 
 
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A Formação Maria Farinha (Terciário) é descrita por GUSMÃO FILHO et al. (1982) 
como sendo formada por uma alternância de calcários argilosos e argilas calcíferas estratificadas, 
de cores amarela a cinza. A Formação Gramame (Cretáceo) consiste de arenitos, calcários e 
calcarenitos de coloração cinza e amarela. 
A Formação Beberibe, conforme descrito por GUSMÃO FILHO et al. (1982), consiste de 
duas seções Na seção superior predominam aret1Itos compactos, calcíferos, com intercalações 
argilosas de cor cinza. Na seção inferior ocorrem arenitos friáveis com cimento silicoso ou argiloso 
com cores cinza e amarela. 
De acordo com GUSMÃO FILHO et al. (1992) a Formação Cabo consiste de sedimentos 
de origem tectônica (arenitos feldspáticos), podendo ser intercalados por camadas de argilitos. Em 
alguns locais os feldspatos estão bastante intemperizados formando argilas o que influencia a 
toponímia local (Barro Branco). 
O Grupo Ilhas, citado por GUIMARÃES (1992), consiste de várias formações geológicas, 
porém em termos litológicos estão presentes camadas de folhelhos e arenitos. Sobre esses materiais 
se desenvolvem solos residuais pela ação do intemperismo. 
Nos trabalhos a respeito de Rio Grande do Norte são feitas referências aos sedimentos da 
Formação Potengi, sedimentos eólicos de dunas e de origem flúvio marinha. A Formação Potengi 
consiste de sedimentos arenosos com pouca argila, pouco consolidados, de coloração avermelhada, 
(MOREIRA e SOUZA, 1997; SANTOS Jr., et al., 2001) Os sedimentos eólicos de dunas consistem 
de areias finas a médias uniformes, enquanto que os sedimentos flúvio marinhos são formados por 
camadas de areias e argilas intercaladas, formando terraços nas zonas estuarinas. Resultam da 
acumulação de sedimentos provenientes do continente e da dinâmica costeira. 
 
 
3. MECANISMOS DE RUPTURA 
 
3.1. Mecanismo de Ruptura de Taludes em Solos Não Saturados 
 
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Um aspecto importante relativamente à estabilidade de taludes é que a maioria dos solos 
presentes na região encontra-se no estado não saturado.. Por outro lado, verifica-se que a maior 
parte dos processos de instabilizações citados na bibliografia ocorre na estação chuvosa. 
MENEZES e CAMPOS et al. (1992) descreveram o mecanismo de ruptura de taludes nos solos 
residuais de Salvador da forma indicada a seguir: 
· em sua condição natural, o solo apresenta grau de saturação da ordem de 80%, ou menos, de 
forma que no interior do maciço e na face do talude de corte ou encosta ocorrem poro-pressões 
negativas; essas, por sua vez, induzem a presença de coesão aparente, o que em muitos casos se 
constitui em um fator preponderante na estabilidade; 
· quando ocorrem as primeiras chuvas as camadas superficiais do talude ou encosta absorvem água, 
aumentando o grau de saturação; 
· forma-se então a frente de "saturação" (umedecimento) que avança à medida em que ocorrem 
novas chuvas; a profundidade e a velocidade de avanço da frente de umedecimento dependem da 
inclinação da encosta, do tipo e estado em que se encontra o material que forma a encosta e da 
intensidade, duração e freqüência das precipitações pluviométricas; 
· quando o grau de saturação atinge valores da ordem de 100% e a frente de umedecimento 
ultrapassa profundidade da ordem de um metro, estabelece-se um fluxo paralelo e próximo à 
superficie do talude ou encosta; entretanto, o fluxo vertical ainda predomina em decorrência das 
forças gravitacionais e capilares, de maneira que o fluxo paralelo pode ser desprezado; 
· cessadas as precipitações ocorre a redistribuição da água que infiltrou, com o conseqüente 
aumento do teor de umidade médio ao longo da frente de umedecimento; 
· todo esse processo se repete na ocorrência de novas precipitações; o aumento do grau de saturação 
provoca a redução da sucção com conseqüente diminuição da resistência ao cisalhamento, o que 
pode provocar a ruptura. 
Esse mecanismo permite explicar o fato de ocorrerem com maior freqüência rupturas em 
taludes com inclinações menores que outros mais íngremes (MENEZES e CAMPOS, 1992). O fato 
é que os taludes mais íngremes favorecem o escoamento superficial, enquanto que nos outros 
ocorre infiltração.Assim, nos taludes mais íngremes são mantidos os efeitos estabilizantes da 
sucção. 
Conforme MENEZES e CAMPOS (1992) e ELBACHÁ et al. (1992) os movimentos de 
massas em encostas na cidade de Salvador estão correlacionados com a precipitação acumulada em 
quatro dias e não apenas com a chuva verificada no dia do evento. Essa observação confirma a 
necessidade de um dado intervalo de tempo para que ocorra a infiltração e avanço da frente de 
umedecimento. CAMPOS et al. (1994) destacam que os movimentos sujeitos a esse mecanismo 
ocorrem geralmente durante a estação chuvosa, após o período prolongado de chuvas Raramente 
ocorrem instabilizações durante chuvas de elevada intensidade e curta duração, as quais provocam 
transtorno na cidade, pela ocorrência de inundações. 
O mecanismo descrito acima está em conformidade com aqueles observados por ANJOS 
e CARVALHO (1997) nas encostas da Formação Barreiras na cidade de Maceió. Destacam que os 
maiores responsáveis pela ocorrência de processos de instabilização das encostas urbanas de 
Maceió são as precipitações pluviométricas de longa duração e intervenções antrópicas realizadas 
nas encostas. 
 
3.2. Movimentos de Massas em Encostas Urbanas 
As encosta urbanas ocupadas por população de baixa renda parecem apresentar um 
mesmo padrão de ocupação de problemas de estabilidade, independentemente da localidade e da 
unidade geológica presente. Em boa parte de tais encostas as residências são construídas sobre 
patamares de aterros ou decorrentes da execução de cortes. Os aterros normalmente não são 
compactados, o que favorece as instabilizações. No caso de cortes é comum a execução das casas 
funcionando indevidamente como elemento de contenção do corte. Grandes quantidades de lixo e 
entulho de construção são depositadas em terrenos baldios e nas áreas adjacentes às residências que 
estão sobre as encostas, pondo em risco as moradias localizadas em níveis tipográficos mais baixos. 
 
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As condições sanitárias geralmente não são satisfatórias, ocorrendo o lançamento de águas servidas 
na superfície e o destino final dos esgotos se dá através de fossas negras e sumidouros. Essas 
observações favorecem a saturação do solo da encosta e conseqüentemente a perda de resistência 
do solo, o que pode levar à ruptura. 
Aspectos da ocupação antrópica como elementos importantes na deflagração de 
movimentos são citados por CARVALHO e ANJOS (1994), MENEZES (1997), GUSMAO 
FILHO et al. (1997), SANTOS Jr. et al. (1998), LIMA et al. (2002), BANDEIRA et al. (2003) e 
CAMPOS et al. (2003) A Figura 4.1 apresenta alguns aspectos descritos acima na área de Vila 
Nova de Pituaçu com ocupação desordenada em Salvador. 
 
Figura 4.1 - a) Vista de área onde ocorreu ruptura; b) Moradia muito próxima de talude de corte. 
CAMPOS et al. (2003). 
 
As encostas do Alto do Reservatório, Nova Descoberta, na cidade do Recife foram 
estudadas por GUSMÃO FILHO et al. (1997), LIMA e FERREIRA (2001) e LIMA et al. (2002). A 
Figura 4.2 mostra uma foto aérea onde podem ser identificadas três encostas bem definidas, a 
encosta Noroeste NW, voltada para a BR-101, a encosta Leste (E) e a encosta Sul (S), voltada para 
o Córrego do Boleiro. A encosta NW tem morfologia côncava - convexa em planta, a Leste tem 
forma de anfiteatro e na encosta Leste verificou-se o deslizamento do caso do Boleiro, descrito por 
GUSMÃO FILHO et al. (1997). A Figura 4.3 apresenta o perfil transversal à encosta NW. 
 
Figura 4.2 – Foto aérea do Alto do Reservatório. LIMA et al. (2002). 
 
Os resultados das investigações geotécnicas mostraram que o perfil do solo na área é 
constituído por uma camada de argila arenosa de consistência média; camada de areia argilosa 
variando de fofa a compacta e na parte inferior está presente uma areia fina a média argilosa com 
pedregulhos medianamente compacta a compacta. A argila arenosa apresentou nos ensaios de 
cisalhamento direto realizados na umidade que se encontrava no campo valores de coesão e ângulo 
de atrito de 28 kPa e 31°, respectivamente. Nos ensaios inundados a coesão caiu para 10 kPa e o 
ângulo de atrito ficou em 32°. Na areia argilosa os parâmetros de resistência na umidade natural 
são: coesão de 84 kPa e ângulo de atrito igual a 34° Esses valores diminuem, respectivamente, para 
1 kPa e 16° nas amostras inundadas Essa queda de resistência influencia significativamente as 
condições de estabilidade do talude. O trabalho de LIMA et al. (2002) relata que o fator de 
segurança varia de 2,2 no período de verão (estação seca, análise utilizando os parâmetros de 
resistência na condição natural) a próximo de 1,0 no período de inverno (estação chuvosa, análise 
utilizando os parâmetros do solo inundado). 
Esses resultados evidenciam a importância da sucção na estabilidade da encosta As 
observações de GUSMÃO FILHO et al. (1997), LIMA e FERREIRA (2001) e LIMA et al. (2002) 
indicam que a condição de completa saturação pode ocorrer pelo somatório dos efeitos da 
infiltração de água de chuva, águas servidas, presença de fossas e vazamentos da rede de 
abastecimento, como foi o caso do Boleiro. 
 
Figura 4.3 - Perfil do solo da encosta NW do Alto do Reservatório. LIMA et al. (2002). 
 
3.3. Movimentos em Solos Residuais Condicionados por Estruturas Geológicas 
COUTINHO et al. (1997) descrevem a análise da ruptura de um talude em solo residual 
de rocha gnáissica na Rodovia PE-89. A ruptura ocorreu na primeira estação chuvosa após a 
execução de um corte para a implantação da rodovia. A massa instabilizada apresentou 
comprimento de aproximadamente 170 metros, largura média de 80 metros e um desnível vertical 
em torno de 85 metros. A Figura 4.4 mostra seções no sentido transversal e paralela ao eixo do 
movimento. 
 
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Observa-se que o escorregamento se deu no contato entre o solo residual jovem e a rocha 
gnáissica. 
Uma vasta campanha de investigações realizadas no local por meio de ensaios de 
laboratório e "in situ" levaram os autores a concluir que podem ocorrer fatores de segurança muito 
baixos, da ordem de 1,15 a 1,20 , para o talude durante a estação chuvosa. De acordo com 
COUTINHO et al. (1997) as principais causas da ruptura foram: a escavação do talude para a 
construção da rodovia; a ocorrência de chuvas intensas e de longa duração, o que provocou a 
diminuição da sucção e possivelmente a geração de poro pressões positivas; e a presença de 
descontinuidades com orientação desfavorável em relação à estabilidade da encosta. 
 
Figura 4.4 - Perfis transversal e paralelo ao escorregamento. COUTINHO et al. (1997). 
 
Outros movimentos condicionados por planos de descontinuidade ou estruturas geológicas 
foram relatados por GUIMARÃES (1992). Os movimentos ocorreram no Porto de Aratu em 
taludes de cortes realizados no sistema viário interno. O perfil local consiste de solo residual de 
rochas do Grupo Ilhas (folhelhos e arenitos). A Figura 4.5 ilustra o mecanismo de ruptura dos 
taludes do trecho entre as estacas 7 e 8 do ramal de acesso à administração. O mecanismo inicia-se 
através da infiltração de água nas descontinuidades, o que provoca o surgimento de pressões 
hidrostáticas. Essa pressão provocou o deslocamento da massa e mesmo após a interrupção da 
chuva, ocorreu o umedecimento do solo, provocando a diminuição na sucção e conseqüentemente 
na resistência. Em seguida, ocorreu o deslizamento. 
A Figura 4.6 apresenta o caso de um deslizamento múltiplo provocado pela infiltração de 
água de chuva e com superfície de ruptura condicionada pelo contato entre o solo saprolítico e o 
folhelho não alterado (trecho entre as estacas 33 e 35). Inicialmente formava-se uma fissura no pé 
do talude provocada pela poro pressão nos caminhos preferenciais de percolação, em seguida 
ocorria a ruptura. Outras fissuras se formavam paralelamente acima do pé do talude e nova ruptura 
acontecia. A instabilização se propagavapara montante até comprimentos da ordem de 30 metros. 
 
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Figura 4.5 - Mecanismo de ruptura condicionada por planos de descontinuidades. GUIMARÃES 
(1992). 
 
Figura 4.6 - Rupturas múltiplas progressivas. GUIMARÃES (1992). 
 
3.4. Erosão Pluvial 
A erosão pluvial consiste no destacamento das partículas de solo, seguido de transporte do 
local original e posterior deposição pela ação das águas de chuva. São descritos a seguir três casos 
de processos erosivos na Formação Barreiras, em Pernambuco: erosão no Horto Dois Irmãos, em 
Recife (COUTINHO et al., 1999); recuperação de taludes na Estação Ecológica de Caetés 
(FUCALE et al., 2001) e no Parque Armando de Holanda Cavalcante, no município de Cabo de 
Santo Agostinho (LAFAYETTE et al., 2003). 
No Horto Dois Irmãos o processo erosivo ocorreu em um talude de corte para implantação 
de uma área de lazer denominada Cidade da Criança. Para a concepção do projeto de recuperação 
foram realizados estudos geotécnicos através de ensaios de laboratório e de campo e análises de 
estabilidade com várias configurações propostas para a geometria do talude. A solução adotada 
 
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consistiu na recomposição das áreas erodidas, proteção vegetal e implantação de sistema de 
drenagem adequado. A Figura 4.7 mostra uma visão geral do talude e aspectos da solução adotada. 
 
Figura 4. 7 - Erosão no Horto Dois Irmãos. COUTINHO et al., (1999). 
 
O processo erosivo instalado na Estação Ecológica de Caetés teve início quando da 
tentativa de execução de uma estrada de acesso onde ia ser implantado um aterro sanitário. A obra 
foi embargada e abandonada sem a devida proteção contra processos erosivos (FUCALE et al., 
2001). A recuperação da área constou de três ações: regularização das superfícies desgastadas, 
plantação de gramíneas nas superfícies regularizadas e construção de canaletas nas cristas e pés dos 
cortes (Figura 4.8). No leito da estrada abandonada foi proposto o uso de pequenas barragens 
vertedouras, transversais ao eixo da estrada. 
A avaliação da erosão no Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcante teve 
como objetivo relacionar as propriedades físicas obtidas em ensaios com a erodibilidade dos solos. 
O problema de erosão na área é relativamente grave, registrando-se a ocorrência de ravinas e 
voçorocas (LAFAYETTE et al., 2003). Foram realizados ensaios de caracterização em amostras 
amolgadas e ensaios Pinhole, desagregação e dispersão. A Figura 4.9 apresenta um perfil do solo e 
o resultado do ensaio Pinhole. 
 
Figura 4.8 - Seção transversal da encosta. FUCALE et al. (2001 ). 
 
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Os resultados dos ensaios de caracterização mostraram a presença de argila de baixa 
plasticidade (CL) e areia argilosa (SC) nos solos superficiais. Na classificação MCT o solo foi 
classificado como pertencente ao grupo NS' (solos de comportamento não laterítico argiloso), o 
qual se caracteriza por ter alta erodibilidade. Verificou-se que o mineral predominante é a caulinita. 
No ensaio Pinhole verificou-se que ocorreu erosão mecânica, porém não houve dispersão. 
A curva vazão x gradiente hidráulico a vazão da curva inicial é maior que a curva de retorno 
indicando que houve um aumento no diâmetro do furo. No ensaio de desagregação amostra se 
desagregou totalmente após a imersão. Em relação à dispersão verificou-se que apesar da 
desagregação o mesmo não apresentou dispersão. 
LAFAYETTE et al. (2003) relacionando os resultados obtidos nos ensaios concluíram que 
a metodologia MCT mostrou-se promissora na avaliação da erodibilidade e que os ensaios de 
desagregação podem ser utilizados como critério inicial para avaliação da erodibilidade, em função 
da sua simplicidade. Os ensaios de dispersão e Pinhole apresentaram resultados compatíveis entre 
si, visto que em ambos o solo analisado foi classificado como não dispersivo. 
 
Figura 4.9 - Estudo da erosão no Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcante - Perfil e 
resultado de ensaio Pinhole. LAFAYETTE et al. (2003). 
 
3.6. Erosão Costeira 
A erosão costeira compreende um somatório de processos que provocam o recuo da linha 
de costa Resulta da ação de ondas e correntes sobre o material que está na costa, podendo ter 
elevado poder de destruição. Os problemas de erosão costeira têm se agravado em função da falta 
de planejamento do uso do solo na zona costeira, do desequilíbrio no balanço sedimentológico 
(redução do volume de sedimento proveniente do continente através dos rios) e pela gradual 
elevação do nível do mar. 
Os mecanismos de recuo na linha de costa no litoral leste do RIO Grande do Norte são 
descritos por SANTOS JR et al. (2001a) SANTOS JR et al. (2001b) e SANTOS JR et al. (2004). 
De forma resumida, esses mecanismos podem ser descritos da seguinte maneira: a região é formada 
por falésias da Formação Barreiras, as quais consistem de taludes com altura variando de 20 a 40 
metros de altura e inclinação próximo da vertical. 
Os materiais que formam a encosta podem ser divididos em dois tipos, um superior 
consistindo de areia argilosa ou siltosa de cor vermelha; outro na base compreendendo areias 
siltosas variegadas. A parte inferior é submetida à ação das ondas nas marés mais altas, o que 
provoca a formação de uma incisão no pé da falésia. O passo seguinte é a queda do material da 
 
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parte superior. A esse mecanismo se soma a ação das chuvas na parte superior que provoca que 
perda de resistência do material e leva rupturas, muito freqüentes nos meses de maio a julho. A 
Figura 4.10 ilustra o mecanismo descrito. 
 
 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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