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SEFAZ PE civil lauro Aula 05

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DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) 
 AULA 05 – FATOS JURÍDICOS (2ª Parte): NEGÓCIO JURÍDICO 
 PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
�Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→ FATOS 
JURÍDICOS (2ª Parte). Fatos e Atos Jurídicos. Validade e Defeitos do Negócio 
Jurídicos. 
�Legislação a ser consultada →→→ Código Civil: arts. 104 até 184 (Negócio 
Jurídico); art. 185 (Atos Jurídicos Lícitos). 
Meus Amigos e Alunos 
Antes de começar, um aviso... Esta aula acabou ficando grande... Mas 
vejam, isso não se deveu pela parte teórica. Mas sim, pelos gráficos, resumos e 
principalmente pela grande quantidade de exercícios que coloquei. 
Portanto... Não se assustem com tamanho do material. 
Como esta aula pode ser considerada como continuação da anterior, 
devemos recordar que a expressão fato jurídico é bem ampla; ela refere-se a 
todo acontecimento natural ou humano que a lei atribui efeitos jurídicos. Já 
analisamos o fato jurídico natural (também chamado de fato jurídico em 
sentido estrito), sua classificação, a prescrição e a decadência, etc. Hoje 
vamos nos ater ao FATO JURÍDICO HUMANO, que é o acontecimento que 
depende da vontade humana (há quem diga que o termo “vontade humana” 
seria uma redundância, pois somente o homem teria vontade; no entanto a 
expressão tem sido aceita normalmente pela doutrina), abrangendo tanto os 
atos lícitos como os ilícitos. 
Apesar de grande, a aula de hoje é mais “light” do que a anterior, pois é 
menos teórica e mais dinâmica. Além disso, estaremos diante de muitos 
casos que vivenciamos em nosso dia a dia. Por causa disso, nunca é demais 
Aula 05 
Fatos Jurídicos – 2ª Parte 
Negócio Jurídico 
DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) 
 AULA 05 – FATOS JURÍDICOS (2ª Parte): NEGÓCIO JURÍDICO 
 PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 
2 
lembrar que este é um curso preparatório PARA CONCURSOS. Portanto, não 
devemos nos perder em fatos particulares que podem ocorrer em nossas vidas, 
mas que não trazem nenhuma repercussão para a nossa. O importante agora é 
conhecer cada um dos institutos dos quais falaremos e as suas 
peculiaridades, visando o concurso para o qual estamos nos preparando. 
Inicialmente fornecemos nosso pequeno sumário, possibilitando o aluno 
localizar melhor os temas abordados em aula, indo DIRETO AO PONTO. 
 
Sumário 
 
ATO JURÍDICO (Sentido Estrito) ........................................................ 04 
NEGÓCIO JURÍDICO ........................................................................... 05 
Classificação dos Negócios Jurídicos .............................................. 07 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS ............................................................. 11 
Elementos Essenciais Gerais ........................................................... 13 
Capacidade do Agente ............................................................... 14 
Objeto ....................................................................................... 17 
Consentimento .......................................................................... 18 
Defeitos relativos ao Consentimento .............................................. 20 
Erro ou Ignorância .................................................................... 21 
Dolo .......................................................................................... 26 
Coação ...................................................................................... 30 
Estado de Perigo ....................................................................... 32 
Lesão ........................................................................................ 34 
Fraude contra Credores ............................................................. 37 
Simulação ................................................................................. 42 
Elementos Essenciais Especiais ..................................................... 47 
Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei ...................................... 48 
Elementos Naturais ........................................................................ 50 
Elementos Acidentais ..................................................................... 50 
Condição ................................................................................... 51 
Termo ........................................................................................ 56 
Modo ou Encargo ....................................................................... 59 
Validade do Negócio Jurídico .............................................................. 61 
Ato Inexistente, Nulo e Ato Anulável ......................................... 62 
Conversão do Negócio Nulo ....................................................... 69 
RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ....................................................... 71 
Bibliografia Básica ............................................................................. 80 
EXERCÍCIOS COMENTADOS ................................................................ 81 
DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) 
 AULA 05 – FATOS JURÍDICOS (2ª Parte): NEGÓCIO JURÍDICO 
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Como vimos, o fato jurídico humano (que depende da vontade) pode 
ser subdividido em ato jurídico (em sentido amplo) e ato ilícito. O ato jurídico 
lícito é o praticado em conformidade com a ordem jurídica. Sua consequência é 
a obtenção de um direito. Já a prática do ato ilícito gera o dever de reparar os 
danos. Vamos analisar as particularidades de cada item desta subdivisão: 
1. ATO LÍCITO (também chamado de ato jurídico em sentido amplo ou 
ato jurídico voluntário). Praticado em conformidade com a ordem jurídica. 
Subdivide-se em: 
a) Ato Jurídico em Sentido Estrito (stricto sensu), também chamado de 
ato jurídico meramente lícito ou ato não-negocial: há a participação humana 
(voluntária, consciente e lícita), no entanto os efeitos são os impostos 
pela lei e não pelas partes interessadas. Tem por objetivo a mera 
manifestação de vontade do agente, sem conteúdo negocial, que determina a 
produção de efeitos legalmente previstos. A vontade é importante para a 
realização do ato, mas não quanto à produção dos efeitos desde ato, pois 
eles decorrem da lei, não havendo regulamentação da autonomia privada. O 
ato surge como mero pressuposto de efeito jurídico preordenado pela lei sem 
função e natureza de autorregulamento. Ex.: o reconhecimento de um filho, 
a fixação de domicílio, o perdão, a confissão, etc. 
b) Negócio Jurídico: há a participação humana e os efeitos desta 
participação são ditados pela própria manifestação de vontade; os efeitos 
são os desejados pelas partes (ex.: contrato, testamento, etc.). Há, 
portanto, autonomia privada; autorregulação de interessesparticulares, 
harmonizando vontades que aparentam ser antagônicas e que se subordinam 
às disposições comuns. Ex.: um contrato (de locação, de compra e venda, 
etc.), um testamento, a adoção, etc. 
2. ATO ILÍCITO (também chamado de fato jurídico involuntário). 
praticado em desacordo com a ordem jurídica. Quando a conduta (consciente e 
voluntária) do ser humano transgride um dever jurídico, acarretando 
consequências jurídicas alheias à vontade do agente (efeitos jurídicos 
involuntários, impostos pela lei), como a reparação do dano (que veremos na 
próxima aula, oportunidade em que também analisaremos a responsabilidade 
civil). O ato ilícito, embora seja um fato jurídico (pois causa repercussão no 
direito) não é ato jurídico, pois a característica essencial do ato jurídico é que 
este tem de ser lícito. O ato ilícito, ao invés de direitos, cria deveres 
(indenização, reparação do dano). 
 Observação. Parte da doutrina ainda se refere ao “ato-fato jurídico”, que 
seria uma categoria intermediária entre o ato da natureza e o fato do 
homem. Ocorre nas situações em que a lei encara a ação humana como um 
DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) 
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fato, sem levar em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do 
agente. É a manifestação de vontade em que se despreza a capacidade do 
agente, preocupando-se o direito apenas com a legitimidade dos efeitos 
produzidos. Exemplos clássicos: criança de 10 anos que compra um doce em 
uma padaria, ou um salgado na lanchonete da escola, ou um doente mental que 
pinta um quadro que se torna uma obra de arte. 
Vamos agora analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio 
jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico lícito (ou ato jurídico em 
sentido amplo). 
 
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO 
 
Como vimos, no ato jurídico em sentido estrito há uma realização de 
vontade do agente, mas as suas consequências são as previstas em lei e 
não as que porventura queiram as partes. Por isso ele é pobre em conteúdo. 
Quem pratica um ato jurídico em sentido estrito obtém apenas o efeito já 
preestabelecido na lei e não os desejados pelas partes interessadas. 
O exemplo clássico é o reconhecimento de um filho. Digamos que 
uma pessoa (“A”) teve um relacionamento amoroso fora do casamento. Desse 
relacionamento nasceu um filho (“B”). “A” quer apenas reconhecer “B” como seu 
filho. Mas ao fazê-lo, independentemente da sua vontade (e também da vontade 
do filho), surgem diversos efeitos legais, obrigatórios, como o direito ao nome, 
poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos sucessórios, etc. Assim, 
reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem da vontade 
da pessoa que fez o reconhecimento, mas sim da lei. Por tal motivo, não se 
pode reconhecer um filho sob condições, a termo ou com encargos. 
Vamos supor que no exemplo dado, o pai reconhece o filho, mas faz 
algumas ressalvas: eu quero reconhecê-lo como meu filho, mas... eu sou 
casado... tenho outros filhos com minha esposa... não gostaria que esta pessoa 
reconhecida fosse meu herdeiro... (Pergunto: isso pode?) Mais... também não 
gostaria que esta pessoa tivesse o meu nome... afinal de contas é um filho 
havido fora do casamento... (Pergunto: isso pode?) E mais... além disso... não 
gostaria de ter que pagar a pensão alimentícia... Mas o resto eu aceito... 
(Pergunto novamente: isso pode? Aliás... o que seria este “resto”?). Resposta a 
todas as indagações: NÃO!!! Lógico que o pai não pode fazer isso. Uma vez 
reconhecido um filho, o pai não pode dizer que não deseja que ele seja seu 
herdeiro, ou que não tenha o seu nome, ou se escuse de pagar a pensão 
alimentícia. Como vimos, a situação “reconhecer um filho”, traz como 
consequências legais e obrigatórias todos aqueles efeitos acima citados. O 
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pai pode desejar ou não aqueles efeitos. Tanto faz... Os efeitos ocorrerão 
independentemente da vontade do agente, pois eles são impostos pela lei. 
Outros exemplos: 01) Quando uma pessoa estabelece residência em 
determinado local, com ânimo de ficar terá como consequência legal a fixação 
de seu domicílio civil, embora não tenha se manifestado nesse sentido. 02) 
Quando uma pessoa notifica outra, obtém o efeito previsto na lei de constituir o 
devedor em mora. Ainda que o notificante não queira este efeito, ele ocorre 
independentemente de sua vontade. 
 Resumindo Ato jurídico em sentido estrito é o que gera consequências 
jurídicas previstas em lei, independentemente da vontade das partes 
interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. A 
doutrina acrescenta que estes atos são unilaterais, ou seja, basta uma única 
manifestação de vontade para que se tornem perfeitos. 
 É interessante acrescentar que a doutrina ainda dá uma “complicada” na 
classificação, subdividindo o ato jurídico em sentido estrito em duas espécies: 
a) Atos materiais (ou reais): simples atuação humana que lhe dá 
existência imediata; não se destinam ao conhecimento de determinada 
pessoa, não há um destinatário. Ex.: fixação e transferência de domicílio, 
ocupação, abandono de coisas, descoberta de tesouro, acessão, etc. 
b) Participações: atos de mera comunicação, sem conteúdo negocial; o 
agente pratica o ato para dar conhecimento a outrem (destinatário 
determinado) de que tem certo propósito ou que ocorreu determinado fato. 
Ex.: notificações, intimações, interpelações, oposições, etc. 
 
NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Negócio jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo. 
É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo agente e 
tutelados pela lei. O agente escolhe os efeitos jurídicos que pretende alcançar. 
Trata-se de toda manifestação de vontade com o propósito de atingir, dentro do 
campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos, ou seja, os 
sujeitos de direito podem autorregular seus interesses, nos limites estabelecidos 
pela lei. É necessário acrescentar que esta manifestação de vontade deve ser 
feita sem haja qualquer vício (que veremos mais adiante). 
O exemplo clássico de negócio jurídico é o contrato. Vamos tomar 
como exemplo o contrato de locação. Nele, uma das partes se compromete a 
fornecer a outra, durante certo lapso tempo, o uso e gozo de uma coisa 
infungível. Por outro lado a outra parte se obriga a remunerar este uso. Trata-se 
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do aluguel. Os efeitos deste negócio devem ser totalmente previstos e 
desejados pelas partes.Qual o valor da locação? Qual o prazo da locação? 
Qual o dia que deve ser efetuado o pagamento? Qual o local em que o 
pagamento vai ser efetuado? O locatário deve pagar o IPTU? E o condomínio do 
prédio? Quais as obrigações de cada parte durante o contrato? Todos estes itens 
(entre outros) são os efeitos do contrato. Todos eles podem ser “negociados” 
entre os contratantes (ao menos em tese). E, como regra, eles devem estar 
previstos e desejados pelas partes interessadas. A mesma situação pode ocorrer 
em todas as espécies de contratos. Por isso que o negócio jurídico é o principal 
instrumento que as pessoas têm para realizar seus interesses. 
 Lembrando O contrato é apenas uma das várias espécies de negócio 
jurídico. Aliás, o contrato é exemplo típico de um negócio jurídico bilateral. 
No entanto, o negócio jurídico também pode ser unilateral. Neste caso o 
exemplo clássico é o testamento. Quais os efeitos de um testamento? – 
Resposta: Tudo aquilo que o testador desejar (desde que não contrarie a lei, a 
moral e os bons costumes)! Embora no testamento se produza os mais diversos 
e variados efeitos, temos apenas a vontade do testador, daí ele ser unilateral 
(diferentemente de um contrato, em que se leva em consideração a vontade de 
ambos os contratantes). 
��� DISTINÇÃO ��� Negócio Jurídico X Ato Jurídico em Sentido Estrito 
Vamos reforçar a idéia: não devemos confundir negócio jurídico com o 
ato jurídico em sentido estrito. Ambos decorrem de uma manifestação de 
vontade. No entanto no ato jurídico em sentido estrito o efeito da manifestação 
da vontade está previsto na lei e não pode ser alterado. Este não é exercício de 
autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo 
particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no 
negócio jurídico, o efeito da manifestação da vontade é o desejado pelas partes; 
o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade privada. O 
negócio leva em consideração o fim procurado pela parte (ou partes) e a esse 
fim a ordem jurídica adapta os efeitos. 
 Resumindo: no ato jurídico em sentido estrito a pessoa pratica uma 
conduta e os efeitos desta conduta são automáticos, independente da vontade 
de quem o pratica; já no negócio jurídico a pessoa pratica uma conduta e os 
efeitos da conduta são os desejados pelas partes. 
No contrato de adesão existe autonomia privada? Alguns autores afirmam 
que o contrato de adesão é mais fruto da “autoridade privada” do que a 
autonomia privada. Ainda que limitada, existe autonomia, mesmo que apenas 
para assinar ou não o contrato (autonomia mínima). 
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DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) 
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CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
A classificação dos negócios jurídicos é muito grande. Levando-se em 
consideração o que tem caído nos concursos públicos e segundo a melhor 
doutrina sobre o tema (embora não haja uma uniformidade), classificamos os 
negócios jurídicos em: 
A) Quanto ao número de manifestações de vontade 
1. Unilaterais: quando a declaração de vontade emana de uma ou mais 
pessoas, mas sempre na mesma direção visando um único objetivo. Ou seja, 
o ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade (uma parte), 
havendo apenas um polo na relação jurídica. Por tal motivo é desnecessária a 
aceitação de terceiros para que o ato seja válido e produza efeitos. Ex.: 
testamento, renúncia, desistência, promessa de recompensa, confissão de 
dívida, instituição de uma fundação, etc. Podem ser subdivididos em: 
a) Receptícios (endereçada): quando a declaração é dirigida a determinada 
pessoa, com a finalidade de se levar ao seu conhecimento a intenção do 
declarante para que possa produzir os efeitos desejados. Ex.: a revogação 
de mandato (ou seja, de uma procuração). Se eu revogo uma procuração, 
devo comunicar isso à pessoa a quem eu outorguei os poderes. Percebam 
que o ato é unilateral (pois a revogação só depende da minha vontade), mas 
eu devo comunicar a minha decisão à outra parte para gerar efeitos jurídicos 
(por isso o ato é chamado de receptício). Outros exemplos: a proposta de 
um contrato, a escolha nas obrigações alternativas. Alguns contratos 
possuem um duplo objeto alternativo: eu posso escolher uma coisa ou 
outra. Feita a escolha devo comunicar à outra parte para surtir efeitos. 
b) Não-receptícios (não endereçada): quando a declaração de vontade 
não é dirigida a uma pessoa determinada, sendo que o conhecimento do fato 
por parte da outra pessoa é irrelevante. Ex.: testamento. Quando eu faço o 
meu testamento, nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar 
ninguém desse fato, nem mesmo os beneficiados. Outros exemplos: 
revogação de testamento e renúncia de herança. Basta que eu renuncie à 
herança de forma expressa; não é necessário que os demais interessados na 
herança sejam comunicados deste fato para que o ato seja válido e 
operante. 
Obs.: ficou claro que pessoa não se confunde com parte? Por esse motivo é 
que podemos ter mais de uma pessoa praticando um ato unilateral; no entanto 
todas elas devem figurar no mesmo polo, integrando a mesma parte na 
relação jurídica. 
DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) 
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2. Bilaterais: quando a declaração de vontade emana de duas 
manifestações de vontade em sentido contrário, mas coincidentes sobre o 
objeto (consentimento mútuo ou acordo de vontades). Neste caso há dois polos 
na relação jurídica. Exemplo clássico: compra e venda. Neste contrato temos 
duas manifestações de vontade que estão em polos opostos (comprador e 
vendedor), mas que firmam consentimento em relação ao objeto da venda. 
Outros exemplos: além dos contratos em geral (locação, seguro, transporte, 
etc.) um bom exemplo é o perdão (“A” pode perdoar “B”; mas este perdão 
somente surtirá efeitos se “B” aceitar o perdão). O negócio jurídico bilateral 
ainda pode ser subdividido em: 
a) simples: quando somente uma das partes aufere vantagens, enquanto a 
outra arca com os ônus (ex.: doação, depósito gratuito, etc.). 
b) sinalagmático: quando há uma reciprocidade de direitos e obrigações 
para as partes (gera obrigações para ambas), estando elas em situação de 
igualdade (ex.: compra e venda, locação, etc.). 
Obs.: mais uma vez percebam que pode haver várias pessoas no polo ativo e 
outras várias no polo passivo e ainda assim teremos apenas duas partes. 
3. Plurilaterais: contratos que envolvem mais de duas partes, onde se 
conjugam vontades paralelas. Ex.: contrato de sociedade com mais de dois 
sócios, consórcios de bens móveis e imóveis, etc. 
B) Quanto às vantagens patrimoniais (vantagem x sacrifício) 
1. Gratuito: uma das partes suporta o sacrifício e a outra aufere 
vantagem; a pessoa assume determinada obrigação sem aguardar qualquer 
espécie de contraprestação. São atos de liberalidade. Ex.: doação simples. 
2. Oneroso: ambos os contratantespossuem ônus e vantagens recíprocas; 
há uma prestação e uma contraprestação. A pessoa somente assume a 
obrigação por esperar em contrapartida a outra obrigação. Ex.: locação (paga-
se o aluguel e usa-se a coisa alheia), compra e venda (paga-se o preço para se 
obter a coisa), etc. Os contratos onerosos se dividem em: 
a) comutativos: as prestações de cada um dependem de um 
acontecimento certo e determinado (ex.: locação). 
b) aleatórios: há uma incerteza em relação às vantagens e sacrifícios das 
prestações; depende de um acontecimento incerto, havendo, portanto, uma 
álea ou risco. Ex.: o contrato de seguro, para a seguradora é aleatório, pois 
o pagamento ou não da indenização depende de um fato específico previsto 
no contrato: o sinistro. 
 
 
DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) 
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 Observações 
01) Alguns autores referem-se aos negócios bifrontes: são aqueles que a 
rigor são gratuitos, mas podem se tornar onerosos de acordo com a vontade das 
partes. Ex.: o contrato de mútuo (empréstimo de coisa fungível) em regra é 
gratuito, mas as partes podem combinar uma remuneração. Outros exemplos: 
depósito e mandato. A conversão só é possível se o contrato é definido na lei 
como gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar o contrato 
oneroso em benéfico. Além disso, nem todos os contratos gratuitos podem ser 
convertidos (ex.: a doação ficaria totalmente desfigurada se isso ocorresse). 
02) A doutrina também se refere aos negócios neutros: quando não 
houver atribuição patrimonial específica no negócio jurídico, não podendo ser 
caracterizado nem como oneroso, nem como gratuito (ex.: instituição de bem 
de família voluntário por meio de escritura pública). 
03) Todo negócio oneroso é bilateral, pois a prestação de uma das partes 
envolve uma contraprestação. Mas nem todo negócio bilateral é oneroso. Ex.: 
doação pura e simples é negócio bilateral (possui duas vontades: doador e 
donatário), porém gratuito. 
C) Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos 
1. Inter vivos: destinados a produzir efeitos durante a vida dos 
interessados. Ex.: locação, compra e venda, mandato, casamento, etc. 
2. Causa mortis: somente produz efeitos (criando o direito) após a morte 
do declarante; o evento morte é pressuposto de sua eficácia. Ex.: testamento, 
codicilo (que é uma disposição de última vontade de pequenas coisas, como um 
anel, roupas, livros), etc. 
 Observações 
01) O contrato de seguro de vida (ao contrário do que parece) é negócio 
jurídico inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um termo. 
02) Os negócios jurídicos causa mortis são sempre típicos e nominados 
(definidos em lei); ou seja as partes não podem realizar negócios atíticos ou 
inominados desta natureza. 
D) Quanto a seus efeitos 
1. Constitutivos: sua eficácia opera-se ex nunc (ou seja, o negócio se 
torna eficaz a partir de sua conclusão ou celebração). Ex.: contrato de compra e 
venda. 
2. Declarativos (ou declaratórios): sua eficácia é ex tunc (ou seja, se 
efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a 
declaração de vontade, retroagindo no tempo). Ex.: divisão de condomínio, 
partilha, reconhecimento de filho, etc. 
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10 
 Obs.: ainda na aula de hoje falarei mais sobre os efeitos ex tunc e ex nunc. 
Estas expressões em latim merecem uma atenção toda especial da nossa parte 
(não só no Direito Civil, mas no Direito como um todo). 
E) Quanto à subordinação 
1. Principais: são aqueles que têm existência própria e não dependem de 
qualquer outro. Ex.: compra e venda, locação, doação, etc. 
2. Acessórios: são aqueles que têm a sua existência subordinada à de um 
contrato principal. Exemplo clássico: fiança. A fiança só existe por causa de um 
contrato principal; ela não tem existência jurídica autônoma (lembrem-se da 
regra: “o acessório segue o principal”). Se eu sou o locador de um imóvel, quero 
que o locatário (inquilino) apresente um fiador, que ficará responsável pelo 
pagamento da dívida, caso o locatário não cumpra com a obrigação. Logo o 
contrato de locação é o principal e a fiança é o contrato acessório, que somente 
existe por causa do principal. Outro exemplo: cláusula penal (que é a multa que 
pode ser pactuado no contrato, caso este não seja cumprido). 
F) Quanto às formalidades 
1. Solenes (formais): a lei exige uma forma especial para se 
aperfeiçoarem; devem obedecer a uma solenidade específica, prevista em lei. A 
doutrina faz uma pequena distinção: 
a) Atos ad solemnitatem: quando a forma é exigida como condição de 
validade do ato; a formalidade é a própria essência ou substância do ato. Ex.: 
escritura pública de compra e venda de imóvel acima de 30 vezes o maior 
salário mínimo vigente (art. 108, CC); testamento público ou cerrado que 
devem ser escritos ou provado, respectivamente, pelo tabelião, etc. 
b) Atos probationem tantum: a lei não determina uma forma para ser 
celebrado o ato, mas determina o modo que o ato deve ser provado em juízo, se 
isso for necessário em um processo; a solenidade é tida apenas como prova do 
ato. Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só 
se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior 
salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo 
único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é 
admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. 
2. Não solenes (forma livre): a lei não exige formalidades para seu 
aperfeiçoamento, podendo ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. 
Ex.: locação, compra e venda de bens móveis, etc. Em regra os contratos têm 
forma livre, salvo exceções expressas na lei. 
 
 
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G) Quanto às pessoas 
1. Impessoais: independe de quem sejam as partes e de eventual 
qualidade especial destas para a prática do ato. Ex.: contrato uma pessoa para 
pintar um muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; não há uma habilidade 
especial para isso). 
2. Intuitu personae: o ato se realiza em função das qualidades especiais 
de uma pessoa. Ex.: desejo ser operado por cirurgião de minha confiança; 
desejo ser defendido no Tribunal do Júri pelo advogado “X”; quero que o famoso 
pintor “Z” pinte um quadro para mim, etc. 
H) Quanto à causa 
1. Causais: estão vinculadosa uma causa. Ex.: o registro da escritura de 
um imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda 
deste imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será. 
2. Abstratos: estão desvinculados de qualquer outro negócio. Ex.: compro 
uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; se a 
compra e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, 
principalmente se estiver nas mãos de terceiros. 
 Obs.: Como dá para perceber, a mesma espécie de negócio jurídico pode se 
enquadrar em mais de uma categoria de classificação, sem que haja 
incompatibilidade nisso. 
 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais porque 
constituem elementos de existência e validade. Se o negócio possui tais 
elementos ele será válido e produzirá efeitos. Se faltar alguns desses elementos 
o negócio será inválido e não produzirá efeitos. Já outros elementos são 
chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. 
Para alguns autores como Pontes de Miranda, o negócio jurídico é 
dividido em três planos, o que gera um esquema gráfico como uma escada 
com três degraus, denominada, em sua homenagem, de escada ponteana. 
Vejamos. 
Primeiro degrau. Plano da existência. É onde se encontram os seus 
elementos mínimos. Sem eles, o negócio simplesmente não existe. São os 
substantivos (partes ou agentes, objeto, vontade e forma) sem qualquer 
adjetivo. Se faltar um desses elementos o negócio simplesmente não existe. 
Segundo degrau. Plano da validade. Neste plano os substantivos recebem os 
adjetivos. Não basta haver partes... elas devem ser capazes. Não basta haver 
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objeto, ele deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. Não basta 
haver vontade, esta deve ser manifestada de forma livre e consciente e sem que 
prejudique terceiros (isenta de vícios). Não basta haver forma... ela deve ser 
prescrita ou não defesa em lei. Se surgir algum vício acerca da validade, o 
negócio jurídico será nulo (arts. 166 e 167, CC) ou anulável (art. 171, CC). 
Terceiro degrau. Plano da eficácia. São as consequências do negócio 
jurídico, seus efeitos práticos no caso concreto. São elementos acidentais: 
condição, termo e encargo. 
Dúvida doutrinária: O atual Código Civil adotou a tricotomia: existência-
validade-eficácia? Resposta: Não! Nosso Código nada trata sobre o plano da 
existência. Observem que o art. 104, CC já começa a tratar do plano de 
validade. Além disso, como veremos, o Código apenas disciplinou regras sobre a 
nulidade relativa e a absoluta, não se referindo à inexistência do negócio. 
Portanto, segundo a doutrina dominante, o plano da existência ficou 
embutido implicitamente no plano da validade. 
ESCADA PONTEANA 
 
 3º Plano. Eficácia. 
Elementos Acidentais 
• Condição 
• Termo 
• Modo ou Encargo 
 – Podem ou não 
estar no negócio 
 2º Plano. Validade. 
 
 
 
 
1º Plano. Existência. 
 
 
 
 Elementos Essenciais do Negócio Jurídico 
• Partes ou agentes: capazes 
• Objeto: lícito, possível, determinado ou determinável 
• Forma: prescrita ou não defesa em lei 
• Vontade: livre e consciente (sem vícios) 
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Vamos agora apresentar um gráfico geral e panorâmico dos 
elementos constitutivos do negócio jurídico. A seguir vamos analisar cada 
um destes elementos de forma pormenorizada. 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 I. Elementos Essenciais: são os dizem respeito à existência e 
validade do negócio jurídico, dando-lhe a estrutura e a substância. 
A) Gerais (comuns a todos os negócios): 
1. Partes ou agentes: capazes. 
2. Objeto: lícito, possível, determinado ou determinável. 
3. Vontade (consentimento): livre e consciente, sem prejudicar 
terceiros (sem vícios). 
B) Especiais (aplicáveis somente a alguns negócios) 
1. Forma: prescrita ou não defesa em lei. 
II. Elementos Naturais: são os efeitos ou as consequências decorrentes 
do próprio negócio jurídico. 
 III. Elementos Acidentais: são elementos facultativos; podem ou não 
ser estipulados e dizem respeito, não à existência ou validade propriamente dita 
do negócio jurídico, mas sim a sua eficácia. 
1. Condição. 
2. Termo. 
3. Modo ou Encargo. 
 
I. ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS 
 
Como vimos, os elementos essenciais do negócio jurídico estão previstos 
na lei (art. 104, CC). São eles: agente capaz (elemento subjetivo), objeto 
lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo) e forma 
prescrita ou não defesa em lei. 
Apesar de não estar previsto expressamente no art. 104, CC, a doutrina 
ainda acrescenta o consentimento (vontade livre e consciente que corresponda 
efetivamente ao que almeja o agente). Isso porque caso não haja o 
consentimento, o negócio estará viciado, tornando passível de anulação. A 
capacidade, o objeto e a vontade são chamados de elementos gerais, porque 
são elementos comuns a todos os negócios jurídicos. Já a forma é elemento 
especial, pois diz respeito apenas alguns negócios. Nem todos os negócios 
jurídicos exigem uma forma especial. 
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A) CAPACIDADE DO AGENTE 
Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a 
capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos 
negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa 
dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer todos 
os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3° e 4° do Código 
Civil apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Já analisamos 
quem são essas pessoas. Se alguém ficou com dúvida, retorne a aula sobre 
pessoas naturais. É imprescindível o conhecimento dessa matéria para a 
compreensão do que falaremos a seguir. 
No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios 
legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus 
interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes 
(embora já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser 
assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo 
absolutamente incapaz sem representação é nulo. Já o ato realizado pelo 
relativamente incapaz sem assistência é anulável.Ainda hoje veremos a 
distinção entre o ato nulo e o anulável. Lembrando que o vício da incapacidade é 
um instrumento que age a favor do incapaz, para protegê-lo. 
��� Incapacidade ��� 
• Absolutamente incapazes (art. 3°, CC) →→→ Devem ser representados 
→→→ Falta de representação →→→ Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC). 
• Relativamente incapazes (art. 4°, CC) →→→ Devem ser assistidos →→→ Falta 
de assistência →→→ Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC). 
Estabelece o art. 1.634, CC: Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos 
menores: (...) V. representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, 
e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o 
consentimento. 
É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a 
incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela 
outra em benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto 
porque a intenção da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e 
má-fé de terceiros que desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode 
uma pessoa capaz realizar um negócio com um incapaz e ele próprio (o capaz) 
requerer a invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte era 
incapaz. A incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso 
somente pode ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal. Mas, 
como quase tudo, aqui também há uma exceção. Se a obrigação for indivisível 
(ex.: entregar um cavalo), mesmo que as demais partes forem capazes, não 
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será possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a incapacidade 
de um deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que o vício tenha 
sido alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o vício se 
estenderá para toda a obrigação, sendo o negócio anulado. 
Resumindo 
 Pessoa sabia da incapacidade relativa da outra parte →→→ o vício não pode 
ser alegado em benefício próprio. 
 Pessoa não sabia da incapacidade relativa →→→ o vício pode ser alegado: 
• Regra: a anulação não aproveita aos demais cointeressados. 
• Exceção: aproveita aos demais se a obrigação for indivisível. 
Há outro ponto interessante que iremos aprofundar mais a frente. Se o 
menor entre 16 e 18 anos praticar um ato sem assistência, escondendo 
dolosamente a sua condição de relativamente incapaz, não poderá alegar este 
vício para anular o negócio e escapar da obrigação contraída (art. 180, CC). 
���Atenção ��� Não confundir incapacidade com falta de legitimação, que é a 
incapacidade para a prática de um determinado ato. Ex.: uma pessoa maior e 
capaz não está legitimada a vender um bem, ainda que seja de sua propriedade 
exclusiva, a um descendente seu, enquanto não obtiver o consentimento de seu 
cônjuge e dos demais descendentes (art. 496, CC). 
 Recordando A pessoa jurídica deve ser representada por uma 
pessoa física (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, 
nos atos judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessário que haja uma pessoa 
natural para assumir os compromissos e assinar os contratos da pessoa jurídica, 
exprimindo sua vontade e executando os seus objetivos. Em regra essa pessoa 
é a indicada no estatuto ou no contrato social da pessoa jurídica. Na sua 
omissão, a representação será exercida por seus diretores. Trata-se, assim, de 
uma representação imprópria. 
Representação 
Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma 
relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, 
através de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC 
delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo 
próprio interessado (mandato). Assim, são espécies de representantes: 
a) Legais: a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa 
administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores e 
curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados. 
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16 
b) Judiciais: são as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo cargo 
em um determinado processo. Ex.: administrador judicial de uma falência, 
inventariante, etc. 
c) Convencionais: são aqueles que têm um mandato, expresso ou tácito, 
verbal ou escrito do representado. Ex.: procuração outorgada (fornecida) a um 
advogado para patrocinar um processo judicial. Somente nesta espécie de 
representação é possível o substabelecimento. Substabelecer significa 
transferir a outra pessoa os poderes que o mandatário recebeu do mandante. 
Ex.: “A” (representado ou mandante) outorgou poderes para “B” (representante 
ou mandatário) defender seus interesses em um processo trabalhista conta a 
empresa “X”. Como no dia designado para a audiência “B” não irá comparecer, 
pode substabelecer (transferir) os poderes que recebeu para “D”, que é outro 
Advogado. 
O representante deve provar às pessoas com quem tratar (em nome do 
representado) a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de não o 
fazendo, responder pelos atos que excederem à representação. Prevê o art. 
116, CC que a manifestação de vontade pelo representante, ao efetivar um 
negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe foram 
conferidos, produz efeitos jurídicos em relação ao representado. Ou seja, o 
representante pratica o ato; mas é o representado que irá adquirir os direitos ou 
assumir as obrigações decorrentes da representação. 
O art. 117, CC autoriza o chamado “contrato consigo mesmo” (ou 
autocontrato), isto é, uma só pessoa está revestida das duas qualidades 
jurídicas diferentes, de forma simultânea: ora por si, ora representando um 
terceiro. Mas isso somente é possível se houver permissão da lei ou do 
representado, sob pena de anulação. O exemplo clássico ocorre no cumprimento 
do chamado mandato em causa própria, onde o mandatário é também o 
beneficiário. Ex.: A confere mandato para B para vender seu apartamento, com 
autorização para que B venda o imóvel para ele mesmo = B. Neste caso, 
quando for feita a escritura, B intervirá, ora representando A (como 
mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). Notem, que 
mesmo nesta hipótese, B manifesta sua vontade sob dois ângulos diferentes 
(como vendedor, representando A e como comprador, em nome próprio). 
Observem que são duas vontades jurídicas diferentes. 
Já o art. 119, CC prevê que se o representante concluir um negócio e 
houver um conflito de interesses com o representado, sendo que tal fato era ou 
devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negócio também será 
anulável. 
 
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B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
O direito somente atribui efeitos à vontade humana quando se procura 
alcançar objetivos lícitos. Assim, além da capacidade das partes, para que um 
negócio jurídico se repute válido e perfeito, deverá versar sobre um objeto 
lícito, ou seja, não atenta contra a lei, a moral e os bons costumes. Ex.: na 
locação de um imóvel para fins residenciais, este é o objeto do contrato. Assim, 
eu não posso desvirtuar o que foi pactuado e explorar naquele imóvel (que era 
para fins residenciais) uma atividade ilícita, como por exemplo, a exploração da 
prostituição. Desta forma, se o objeto do contrato foi ilícito, nulo será o negócio 
jurídico. Outro exemplo: compra e venda de objeto roubado. Também neste 
caso haverá a nulidade absoluta do ato. 
Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar 
prestações impossíveis, também será considerado nulo. Esta impossibilidade 
pode ser jurídica (proibida pelo ordenamento jurídico: venda de herança de 
pessoa viva – art. 426, CC) ou física (desrespeito às leis naturais ou físicas: ir à 
lua e voltar em duas horas, etc.). Segundo a doutrina para tornar nulo o negócio 
a impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticável por quem quer que 
seja (atinge a todos sem distinção). Se a impossibilidade for apenas relativa, 
isto é, puder ser realizada por alguém (mesmo que não seja o devedor), não 
haverá obstáculo para o negócio, que continua válido. 
Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, 
determinável, ou seja, possível de determinação no futuro. Em outras 
palavras: o objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem 
existir critérios que permitam sua futura individualização. Assim, admite-se a 
venda de coisa incerta (mas não indeterminada). No entanto ela deve ser 
indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade, ainda que não seja 
mencionada a qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela 
escolha. 
Impossibilidade inicial do objeto 
Um aspecto interessante do atual Código Civil é o seu art. 106: “A 
impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, 
ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinada”. Ou 
seja, quando da celebração do contrato havia um vício relativo em relação ao 
objeto, mas, durante a execução do contrato, este defeito deixou de existir. 
Assim, nosso Código, consagrando o princípio da máxima utilidade, prevê que 
tal vício deixa de existir, estando superado. Reforçando: o defeito deve ser 
relativo, pois se for absoluto o negócio será considerado nulo. 
���ATENÇÃO ��� Objeto ilícito, impossível, ou indeterminado →→→ Negócio 
Jurídico Nulo (art. 166, II CC). 
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C) CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretação do Negócio Jurídico. 
A manifestação de vontade exerce papel imprescindível no negócio 
jurídico, sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade 
seja espontânea, livre de qualquer vício. 
Inicialmente perguntamos: o que interessa mais ao Direito: a intenção 
ou a ação? Resposta: para o Direito o mais importante é a ação, ou seja, a 
vontade declarada, pois a intenção, isoladamente, não tem valor algum. 
Somente após a manifestação de vontade declarada (por escrito, palavras, 
gestos ou sinais) é que a intenção será levada em consideração. Portanto, a 
declaração de vontade é constituída de dois elementos: a) interno: real 
intenção do agente; b) externo: vontade declarada. 
O ideal é que a pessoa declare exatamente aquilo o que desejava. Deve 
haver uma perfeita harmonia entre o que ela queria e o que ela fez. Mas nem 
sempre um contrato traduz a exata vontade das partes. Por isso, algumas vezes 
ele deve ser interpretado, para se chegar a real intenção das partes. 
INTERPRETAR o negócio jurídico é delimitar o alcance da declaração de 
vontade. No entanto as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas de 
forma isolada, mas sim no contexto do contrato, em conjunto com as demais 
cláusulas. 
O consentimento pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando for 
declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita. Será 
considerado tácito se resultar de um comportamento do agente que demonstre, 
implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação, desde que o 
negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. 
O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o 
autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111, 
CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico, como um fato gerador de 
um negócio, se a lei assim o permitir. Caso contrário o silêncio não tem força de 
declaração de vontade. Portanto, no Direito, não é totalmente aceito o brocardo: 
“quem cala consente”. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como na hipótese 
da doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado como aceitação, 
concluindo o contrato. Na prática é o Juiz, diante de um caso concreto, que 
deverá verificar se o silêncio representou ou não a vontade. No dizer de 
Machado de Assis: “O silêncio... é um tumulto”. 
Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se 
atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da 
linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negócios, de uma forma geral, podem 
conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo 
necessária uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se 
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situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequências e 
os efeitos desejados por eles, indagando sua real intenção, do que no sentido 
literal do negócio (que seria o exame gramatical de forma “fria” de um texto do 
contrato). Trata-se da chamada teoria da confiança, que mantém íntima 
relação com o princípio da boa-fé objetiva. 
Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a 
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, CC). Trata-se de 
referência à boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de 
acordo com a lealdade, honestidade, confiança, etc. (a expressão “boa-fé” 
deriva do latim bona fide, que significa boa confiança, ou seja, é a convicção de 
alguém que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prática ou na omissão 
de determinado ato). A boa-fé se presume. De forma contrária, a má-fé precisa 
ser provada. 
O art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negócios jurídicos 
benéficos (também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, 
onde uma das partes se obriga e a outra aufere vantagens, como na doação 
pura e simples) e a renúncia (ato unilateral em que a parte abre mão de um 
direito, faculdade ou vantagem) interpretam-seestritamente. Ou seja, 
segundo a lei tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, 
sem incluir outras questões. Isto é, nem o Juiz poderá dar a estes negócios uma 
interpretação mais ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado pelas 
partes. Um exemplo clássico disso é a fiança nos contratos de locação: sua 
natureza é gratuita, portanto é considerado um negócio jurídico benéfico; por tal 
motivo, se houver alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve ser 
resolvida fazendo-se uma interpretação restritiva, ou seja, em favor daquele 
que prestou a fiança (no caso o fiador), não se ampliando as obrigações do 
mesmo (confiram o art. 819, CC). 
Finalmente, acrescente-se, que há outros dispositivos estabelecendo 
regras sobre a interpretação da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevê 
que quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, 
acolhe-se a interpretação mais favorável ao aderente. Merece destaque 
especial também o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) que 
dispõe que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais 
favorável ao consumidor”. Outros: a intenção das partes pode ser apurada pelo 
modo como vinham executando o contrato até então; na dúvida deve-se 
interpretar o contrato de forma menos onerosa para o devedor; as cláusulas 
contratuais devem ser entendidas como um todo e não interpretadas de forma 
isolada, etc. 
 
 
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20 
DEFEITOS 
Defeitos do negócio jurídico são os vícios relativos à formação da vontade 
ou à sua declaração, tornando-o passível de anulação. Pode ser grave (quando 
vicia o ato de forma definitiva) ou leve (quando o ato pode ser remediado pelo 
interessado). 
Podemos dizer que um ato é válido (quanto ao consentimento) “quando 
eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem que 
esta conduta prejudique terceiros”. Ou seja, às vezes eu posso ter feito algo que 
não era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco...); quero 
comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras vezes quero fazer algo e 
faço aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta direitos de terceiros, 
prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio principal, mas 
que foram lesados com a minha conduta. É importante notar que em qualquer 
uma destas duas situações (fiz algo que não queria ou fiz algo que eu queria, 
mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os chamados defeitos 
relativos à vontade. 
Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela 
que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, 
tornando-se anulável (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 anos 
for movida ação de anulação (art. 178, II, CC). São os chamados vícios de 
consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há 
uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada, sendo que o 
prejudicado é um dos contratantes. 
Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando 
normalmente, havendo a correspondência entre a vontade interna e a 
manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que foi 
colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis 
de anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. São os 
chamados vícios sociais (fraude contra credores). A simulação também é 
considerada por parte da doutrina como um vício social, uma vez que objetiva 
iludir terceiros. Porém o atual Código resolveu discipliná-la em outro capítulo, 
referente à invalidade do negócio jurídico (e não no capítulo referente aos 
defeitos do negócio). 
Vamos, mais uma vez, apresentar um gráfico para melhor classificar os 
defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. E vamos ver 
qual a consequência deste ato viciado. Dependendo do vício o ato pode ser nulo, 
anulável ou até mesmo válido. Mais adiante, ainda na aula de hoje, veremos as 
diferenças entre o ato nulo e o anulável, as hipóteses que caracterizam uma e 
outra situação, bem como os efeitos decorrentes destas situações. Esses tópicos 
têm vital importância para efeito de concursos. 
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DEFEITOS 
1) Ausência de Vontade →→→ Negócio inexistente (ou nulo para outra 
corrente doutrinária). 
2) Vícios de Consentimento →→→ A vontade não é expressada de 
maneira absolutamente livre; a vontade declarada não representa a 
real intenção do agente. Prejudicam a própria pessoa que 
exteriorizou a vontade →→→ Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, Lesão e 
Estado de Perigo. 
3) Vícios Sociais →→→ há uma correspondência entre a vontade interna 
do agente e a sua manifestação, no entanto, a vontade manifestada 
não tem a intenção pura e de boa-fé que enuncia; o negócio é 
realizado em desconformidade com a lei, pois a intenção é de 
prejudicar terceiros que não participaram da relação negocial →→→ 
Fraude contra Credores. Quanto à Simulação, devemos tomar cuidado. 
Embora muitos doutrinadores ainda afirmem ser um vício social, o 
atual Código Civil a coloca em outro capítulo (da invalidade do negócio 
jurídico: art. 167, CC), conforme veremos adiante. 
 Observação: em regra, o defeito deve ser alegado no prazo decadencial 
de quatro anos; se o prazo não for respeitado, o defeito não poderá ser mais 
alegado, sendo o ato convalidado por decurso de prazo. 
ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144, CC) 
Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. O aluno que conseguir 
entender o seu alcance não sentirá dificuldade de entender todos os demais 
defeitos. Por isso muita atenção! 
Primeiramente: erro e ignorância são sinônimos? Não!! O Código Civil 
equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; ou seja, o Código não 
distingue um instituto do outro, mas afirma que as suas consequências são 
idênticas no campo do Direito. Assim, embora o Código não faça, a doutrina 
estabelece distinções entre eles (esta diferença já caiu em concursos). 
Erro é a falsa noção que se tem sobre um elemento que influencia a 
formação de vontade do declarante. Pode recair sobre as qualidades de uma 
coisa ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se 
em falso juízo ou engano. Pensei que era uma coisa... mas na realidade é outra. 
Já ignorância é o completo desconhecimento do declarante acerca do 
objeto ou da pessoa. Assim, às vezes usamos a expressão “erro”, mas 
queremos nos referir não só ao erro propriamente dito, como também à 
ignorância. 
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Na verdade o erro é um registro falso da realidade. Observem que no 
erro a pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Mas não é 
qualquer erro (ou ignorância) que torna o negócio anulável. Ele há de ser a 
causa determinante ou principal. Vejamos inicialmente um resumo sobre o 
tema. A seguir aprofundaremos o assunto. O erro (ou a ignorância) pode ser: 
 Essencial ou Substancial → razão determinante para a realização do 
negócio → se a verdade fosse conhecida o negócio não seria realizado → 
Ato Anulável. 
 Acidental ou Secundário → se a verdade fosse conhecida o negócio 
seria realizado, porém de forma menos onerosa → Ato válido. 
A) ERRO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL. Refere-se à natureza do próprio 
ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do negócio de 
forma que se eu soubesse do defeito jamais teria praticado o ato. O art. 138, CC 
estabelece que o erro, para dar ensejo à anulação do negócio jurídico, há de ser 
substancial, ou seja, essencial. 
Divisão doutrinária. Parte da doutrina entende que além da 
essencialidade do erro, deve haver a sua cognoscibilidade (qualidade do que é 
cognoscível; que pode ser conhecido ou percebido pela outra parte), baseado na 
chamada teoria da confiança, que tem tem por base a verificação da 
discrepância entre a vontade real do agente e a sua equivocada manifestação. 
Por isso, torna-se fundamental apreciar se o engano de um negociante poderia 
ter sido percebido pelo outro. A outra corrente doutrinária entende que na 
realidade o erro essencial deve ser escusável e real. Escusável porque ele é 
aceitável, desculpável dentro do que se espera de um homem médio, que atue 
com grau normal de diligência; tem por fundamento uma razão plausível, ou 
seja, qualquer pessoa com atenção ou diligência normal seria capaz de cometê-
lo em face das circunstâncias. Ex.: é aceitável uma pessoa leiga confundir o 
diamante com zircônio. Mas não se admite esta confusão para um joalheiro, que 
tem conhecimento técnico para fazer a distinção (para ele seria um erro 
inescusável e, portanto, sem possibilidade de anular o ato). Real porque deve 
acarretar um prejuízo efetivo para o interessado. 
O Código Civil especificou as modalidades de erro substancial 
(hipóteses de anulação do negócio jurídico) no art. 139, CC. Vejamos: 
1. Erro sobre a natureza do negócio jurídico (error in ipso negotio) →→→ 
o erro recai sobre a modalidade de contrato que foi celebrado. Pensei fazer 
um determinado contrato... mas fiz outro. Ex.: empresto um determinado bem 
para uma pessoa, mas ela entende que houve uma doação. Observem que não 
houve um acordo de vontades: uma das partes pensa que está realizando um 
contrato (empréstimo) e o consentimento do outro se dirige a outro contrato 
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(doação). Outros exemplos: quero vender uma coisa, mas acabo doando; quero 
alugar um apartamento (o aluguel é oneroso), mas acabo fazendo um comodato 
(que é um empréstimo gratuito), etc. Esta situação é muito difícil de ocorrer na 
prática. No entanto pode muito bem cair em concursos... como já caiu. 
2. Erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso corpore) 
→→→ a manifestação de vontade recai sobre objeto diferente do que se tinha em 
mente. Ex.: comprei um lote em um condomínio que pensava ser muito 
valorizado, no entanto trata-se de outro condomínio, que tem o mesmo nome, 
mas está situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. Notem, 
mais uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei sozinho (quando alguém me 
engana trata-se de outro defeito, o dolo, que veremos adiante). O erro, neste 
caso, atingiu a substância do ato; portanto o ato é anulável. No entanto, o art. 
144, CC dispõe que o erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando 
a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para 
executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. Aproveitando o 
exemplo acima: comprei o lote no condomínio errado (erro substancial); no 
entanto o vendedor, entendendo a situação, acaba entregando o lote no 
condomínio onde eu queria inicialmente. Ora, o negócio acabou sendo 
executado conforme minha vontade inicial. Assim, não havendo qualquer 
prejuízo, não se anula o negócio. 
3. Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error in 
substantia ou in qualitate) →→→ a pessoa adquire o objeto que imaginava; porém 
engana-se quanto as suas qualidades; o motivo determinante do contrato é a 
qualidade essencial de um objeto que depois se constata que não existe. 
Ex.: compro um relógio pensando que ele é de ouro, mas o mesmo é apenas 
“folheado”; compro uma blusa pensando que e de lã animal, mas na verdade é 
sintética (e a pessoa é alérgica e este tipo de tecido); compro um cavalo de 
carga pensando ele era um legítimo “puro-sangue” de corridas, etc. Observem 
que nestes exemplos eu também errei sozinho. 
4. Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se 
refere a declaração de vontade (error in persona) →→→ incide sobre a 
identidade (física ou moral) ou características da pessoa. Geralmente recaem 
nos contratos personalíssimos (intuitu personae). O negócio pode ser anulado, 
desde que a consideração pessoal seja condição essencial para a 
realização do negócio. Exemplo clássico: estou sendo processado por homicídio 
e contratei um Advogado certo de que ele é um famoso criminalista, excelente 
orador e especializado em fazer júri. No entanto constato que ele é um 
Advogado trabalhista. Notem que no caso de um contrato em que a prestação 
pode ser cumprida por qualquer pessoa (ex.: pintar um muro), mesmo que o 
contratante tenha se enganado na designação da pessoa, tal fato não será 
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suficiente para a anulação do negócio. O erro quanto à pessoa também pode ser 
relativo ao: 
a) Casamento (pode ser anulado por “vício essencial sobre pessoa”): 
• erro quanto identidade do outro cônjuge, sobre a sua honra, boa fama, 
etc. (ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso 
procurado, viciado em tóxicos, etc.). 
• ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, transmissível. 
b) Testamento 
• deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descubro, 
posteriormente, que foi Z e não X quem salvou minha vida. Se eu 
soubesse que foi Z quem me salvou, eu não teria doado aquela joia a X. 
Eu queria doar a joia a quem realmente salvou minha vida, ou seja, Z. 
Neste exemplo o defeito é chamado de “erro quanto ao fim colimado ou 
por falsa causa”. O art. 140, CC determina que o falso motivo (ou falsa 
causa) somente vicia a declaração de vontade, quando for 
expressamente declarado como razão determinante da realização do 
negócio. Ou seja, o motivo somente tem relevância jurídica se for 
instituído expressamente no contrato, como razão para celebração 
deste. Outroexemplo: um homem já idoso recebe a notícia de que teve 
um filho quando era mais moço, mas na ocasião a mãe não lhe informou 
do fato. O idoso, tentando ajudar esta pessoa lhe doa uma casa, mas 
estabelece o motivo: somente assim está procedendo porque esta pessoa 
seria seu filho. Desta forma, caso comprovado posteriormente que a 
pessoa não era seu filho, a doação pode ser anulada, pois havia um falso 
motivo que foi expresso como razão determinante do negócio, viciando, 
assim, a vontade. 
 Lembrando “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que 
não a conhece”. Trata-se do Princípio da Obrigatoriedade (art. 3°, LINDB), 
que visa garantir a estabilidade e a eficácia do sistema jurídico, que ficaria 
comprometido se fosse admitida em toda e qualquer hipótese a alegação de 
ignorância de lei em vigor. 
Reforçando: somente o erro substancial, essencial, escusável, real, 
anula o negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade 
fosse conhecida, o ato não seria realizado, importando efetivo prejuízo ao 
interessado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do 
contrato pode ser condenado a ressarcir eventuais prejuízos que causar à outra 
parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu 
consentimento. Somente a parte interessada (a que errou) pode arguir a 
anulação do ato. 
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B) ERRO ACIDENTAL  é aquele concernente às qualidades secundárias ou 
acessórias da pessoa ou do objeto. Ocorrendo esta espécie de erro, o negócio 
jurídico não será anulado. O ato continua válido, produzindo efeitos, porque o 
defeito não incide sobre a declaração de vontade. Ele decorre do não-emprego 
da diligência ordinária que deve ter um “homem médio”. Mesmo sabendo do 
defeito, a pessoa teria realizado aquele negócio. Ex.: comprar um carro de ano 
de fabricação muito diferente é um erro essencial; porém comprar um carro de 
número de série diferente é apenas um erro acidental. Da mesma forma, 
comprar um carro usado com uma cor um pouco diferente (preto ou azul 
escuro) também é acidental, não anulando o negócio. Outros exemplos: compro 
uma casa pensando que tem quatro janelas, mas só tem três; doei um relógio a 
uma pessoa pensando que ela é solteira, mas é casada, etc. 
O chamado erro de cálculo (que é a inexatidão material) também não é 
causa de anulação do negócio, mas de simples retificação da declaração de 
vontade, nos termos do art. 143, CC. Pode incidir sobre o peso, a medida, a 
quantidade, o valor do bem, etc. É uma espécie de erro acidental, não incidindo 
sobre a declaração de vontade e não viciando o consentimento. Ex.: comprei 12 
camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo deveria 
pagar R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. É evidente que 
houve um erro na elaboração aritmética dos dados do negócio, pois as partes 
sabiam do valor do negócio, errando apenas no momento da realização do 
cálculo final. 
 Erro de Fato X Erro de Direito 
O erro de fato é aquele que recai sobre uma circunstância de fato. Pode 
ser essencial ou acidental. Crê-se numa realidade que não é verdadeira. Tudo o 
que falamos acima se refere a ele. Já o erro de direito diz respeito à existência 
de norma jurídica. Consiste na ignorância da lei, no falso conhecimento e 
também na sua interpretação errônea. Como regra ele não admite escusa; não 
admite desculpas. Não pode ser alegado. No entanto admite-se, 
excepcionalmente o erro de direito (e, por consequência, o negócio jurídico 
pode ser anulado), se o ato não implicar em recusa à aplicação da lei e for o 
motivo único ou principal do negócio jurídico (art. 139, III, CC). Isto é, não pode 
o ato recair sobre a norma cogente (ou seja, impositiva, de ordem pública), mas 
tão-somente sobre normas dispositivas (ou seja, sujeitas ao livre acordo das 
partes). Além disso, deve ser grave a ponto de afetar e viciar a manifestação de 
vontade do agente. Geralmente o erro recai sobre uma situação de fato (como 
vimos, um contrato propriamente dito, ou o objeto deste contrato, ou uma 
pessoa, etc.). Este é o erro de fato sobre uma situação concreta. Já o erro de 
direito é aquele que diz respeito à existência (ou não) de uma norma jurídica. 
A pessoa supõe que uma lei não existe ou que ela não esteja mais em vigor. 
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Ex.: firmar um contrato de locação com base em uma lei, pensando que ela 
ainda está vigorando, no entanto já foi revogada; pessoa contrata a importação 
de determinada mercadoria ignorando que existe uma lei proibindo tal 
importação. Como a ignorância foi a causa determinante do ato, pode ser 
alegada para anular o contrato, sem com isso se pretender que a lei seja 
descumprida. Há outro exemplo muito citado pela doutrina e que gera polêmica, 
inclusive no Direito Penal: um argentino vem para o Brasil trazendo frascos de 
lança-perfume para revender; na Argentina este produto não é proibido e a 
pessoa não sabia que era proibido no Brasil; se soubesse, não teria trazido. 
 Erro X Vício Redibitório 
Essa é uma distinção muito importante, pois já vi cair em diversos 
concursos. E pode confundir o candidato. O vício redibitório é o defeito oculto na 
coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o valor. 
No vício redibitório não há qualquer erro no momento da celebração do negócio; 
o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do adquirente), que não 
foi notado, já que era oculto. Já no erro há um engano por parte do adquirente; 
é um vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada pela falsa 
percepção da realidade, não havendo vício no objeto. 
O Código Civil prevê outras duas espécies de erro. Vejamos. 
– Erro acidental in qualitate (art. 142, CC): “O erro de indicação da pessoa 
ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio 
quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou 
pessoa cogitada”. Como diz respeito às qualidades secundárias ou acessórias da 
pessoa (ex: se é casada ou solteira) ou do objeto (ex: comprei o lote 321, mas 
recebi o 213 por erro de digitação), não induz a anulação do negócio. 
– Erro na transmissão de vontade por meios interpostos (art. 141, CC): 
o negócio é anulável quando na transmissão da vontade do declarante verifica-
se falha que a faz chegar ao seu destinatário com conteúdo diverso daquele 
emitido; é o erro por defeito de intermediação que altera a vontade declarada, 
como se tratasse de uma declaração direta. Ex.: uma pessoa utiliza rádio ou 
televisão para transmitir uma declaração de vontade, mas o veículo utilizado, 
devido a interrupção ou deturpação sonora, faz com que a divulgação saia com 
incorreções, acarretando uma desconformidade entre a vontade interna e a sua 
declaração ou manifestação. Somente anula o negócio se a alteração for 
substancial (art. 138, CC), ou seja, prejudicar o real sentido

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