Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 1 �Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ CONTRATOS. Teoria Geral dos Contratos. Atos Unilaterais. Subitens →→→→ Contratos. Parte Geral. Teoria Geral dos Contratos. Disposições Gerais. Elementos. Princípios Fundamentais. Formação. Contratos Preliminares. Modalidades ou Espécies (unilaterais ou bilaterais; onerosos ou gratuitos; comutativos e aleatórios). Efeitos particulares: exceção de contrato não cumprido, direito de retenção, revisão (resolução por onerosidade excessiva), arras ou sinal, vício redibitório, evicção. Extinção da Relação Contratual. Distrato. Atos Unilaterais. �Legislação a ser consultada →→→→ Código Civil: Dos Contratos em Geral (arts. 421 até 480): Disposições Gerais (arts. 421 até 471). Extinção do Contrato (arts. 472 até 480). Atos Unilaterais (arts. 854 até 880). Sumário Introdução e conceito ...................................................................... 02 Elementos constitutivos ................................................................... 03 Princípios fundamentais ................................................................... 04 Formação dos contratos ................................................................... 10 Proposta ...................................................................................... 11 Aceitação ..................................................................................... 13 Momento da conclusão ................................................................ 14 Lugar da celebração .................................................................... 15 Contrato preliminar ..................................................................... 15 Classificação geral dos contratos ...................................................... 16 Efeitos jurídicos da obrigatoriedade do contrato .............................. 24 Exceção de contrato não cumprido ................................................ 24 Direito de retenção ........................................................................ 25 Revisão dos Contratos - Resolução por onerosidade excessiva ...... 26 Regra dos contratos gratuitos ....................................................... 28 Aula 08 Dos Contratos em Geral DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 2 Arras ou sinal ................................................................................ 28 Estipulação em favor de terceiro ................................................... 30 Promessa de fato de terceiro ......................................................... 31 Vício redibitório ............................................................................. 32 Evicção .......................................................................................... 37 Contrato com pessoa a declarar ..................................................... 40 Extinção da relação contratual ......................................................... 40 Causas anteriores ou contemporâneas ........................................ 41 Causas supervenientes ................................................................ 42 ATOS UNILATERAIS .......................................................................... 43 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ..................................................... 45 Bibliografia Básica ............................................................................ 48 EXERCÍCIOS COMENTADOS .............................................................. 49 INTRODUÇÃO E CONCEITO Já vimos que o negócio jurídico pode ser unilateral ou bilateral. O negócio jurídico unilateral é o que depende, para a sua formação, de apenas uma vontade (ex: renúncia, testamento, etc.). Já o negócio jurídico bilateral é o que necessita, para a sua formação, de um encontro de vontades. As partes acordam que devem se conduzir de determinado modo, uma em face da outra, combinando seus interesses, constituindo, modificando ou extinguindo obrigações. Portanto, contrato é o acordo de duas ou mais vontades que visa à aquisição, resguardo, transformação, modificação ou extinção de relações jurídicas de natureza patrimonial. É negócio jurídico bilateral ou plurilateral em que as partem perseguem interesses patrimoniais lícitos. Costuma-se dizer que “um contrato faz lei entre as partes”. No entanto as cláusulas contratuais não podem contrariar normas de direito público ou impositivas, sob pena nulidade. A doutrina costuma fornecer um conceito mais completo de contrato, afirmando ser um “vínculo jurídico entre dois ou mais sujeitos de direito correspondido pela vontade, da responsabilidade do ato firmado, resguardado pela segurança jurídica em seu equilíbrio social”. Pelo conceito fornecido, percebemos que para que haja um contrato são necessários dois polos: o ativo e o passivo. Mas, discute-se na doutrina a existência do chamado autocontrato, que é o nome dado ao contrato em que a mesma pessoa age, simultaneamente, revestida nas duas qualidades jurídicas diferentes: ora por si, e ora representando um terceiro. Ex.: no mandato em causa própria “A” confere poderes para “B” para vender seu apartamento, com autorização para que “B” venda o imóvel para ele mesmo (“B”). Neste caso, quando for feita a escritura, “B” intervirá, ora representando “A” (como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 3 É interessante mencionar que a expressão “contrato” tanto pode ser usada para designar o negócio jurídico bilateral, como também a própria formalização do instrumento (seja ele público ou particular). Finalizando este tópico convém lembrar (falaremos sobre isso melhor mais adiante) que vigora para os contratos o princípio da liberdade das formas (art. 107, CC), mas excepcionalmente a forma pode ser exigida como requisito de validade (art. 108, CC) ou para efeito de prova (art. 227, CC). ELEMENTOS CONSTITUTIVOS Um contrato, sendo um negócio jurídico, tem como elementos essenciais: agentes capazes, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, consentimento válido e finalmente forma prescrita ou não defesa em lei. É interessante acrescentar que muitos pensam que um contrato somente existe se for escrito. No entanto, sem que percebamos, durante o dia celebramos vários contratos. E a maioria deles é verbal. Quandotomamos um café na padaria, quando tomamos uma condução para trabalhar etc. Já analisamos cada um dos elementos acima na aula sobre fatos e atos jurídicos. Vamos ver agora, reforçando o aprendizado, os elementos específicos, relativos ao contrato. São eles: 1. Existência de duas ou mais pessoas (naturais e/ou jurídicas). 2. Capacidade plena das partes para contratar. Se as partes não forem capazes o contrato poderá ser nulo (absolutamente incapaz que não foi representado) ou anulável (relativamente incapaz que não foi assistido). 3. Consentimento: vontades livres e isentas de vícios (erro, dolo, coação, etc.). Lembrando que em um contrato as vontades correspondem a interesses contrapostos (ex.: na compra e venda uma parte quer vender e a outra quer comprar). 4. Objeto do contrato (prestação). Não confundir objeto com a coisa sobre a qual incide a obrigação. O objeto é a atuação das partes no contrato. Ex.: no contrato de compra e venda de um relógio, o objeto não é o relógio. O relógio é a coisa sobre a qual a prestação se especializa. O objeto de quem compra é pagar o preço e de quem vende entregar a coisa. A análise do objeto possui algumas subdivisões: a) Licitude: o objeto não pode ser contrário à lei, à moral, aos princípios da ordem pública e aos bons costumes. Ex.: não posso contratar uma pessoa para matar outra. Se o objeto for ilícito, o contrato será considerado nulo. b) Possibilidade física e jurídica: temos a impossibilidade física quando contratamos um mudo para cantar. Ocorre a impossibilidade jurídica DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 4 quando encontramos algum obstáculo no próprio ordenamento jurídico. A inobservância deste preceito também gera nulidade absoluta do contrato. c) Certo, determinado, ou, pelo menos, determinável (ou seja, deve conter os elementos necessários para que possa ser determinado: gênero, espécie, quantidade e características individuais). Se o objeto for indeterminado, o contrato será considerado inválido. d) Economicamente apreciável: deverá versar sobre o interesse capaz de se converter, direta ou indiretamente, em dinheiro. 5. Forma prescrita ou não defesa em lei. A regra é que a forma é livre. Pode ser verbal, por meio de um simples gesto (ex: em leilões de arte, basta levantar um dedo para significar um lance), ou por um documento particular. No entanto em algumas circunstâncias exigem-se maiores formalidades e solenidades. Ex.: escritura de compra e venda de imóvel superior a certa quantia. Este é o instrumento essencial para a validade do negócio jurídico (art. 109, CC). Quando a lei exigir que um contrato tenha uma determinada forma especial é desta forma que ele deve ser feito (não pode ser feito de outra maneira). Somente quando não se exigir uma forma especial é que ele pode ter forma livre, apenas não utilizando alguma outra forma que seja expressamente proibida pela lei. Daí dizer-se forma prescrita (determinada) ou não defesa (proibida) em lei. Qualquer vício referente à forma torna o contrato nulo. O casamento é um contrato? Existem várias teorias a respeito. A primeira afirma que o casamento é instituto de direito público, portanto não é contrato. Outra teoria diz que o casamento é de direito privado, mas é uma instituição e não um contrato. A corrente mais forte no Brasil considera o casamento como um contrato especial de direito de família. Isto porque seu elemento fundamental é o consentimento das partes. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Princípio da Autonomia da Vontade (também chamado de princípio do consensualismo ou da autonomia privada) Inicialmente as pessoas têm liberdade para praticar um ato ou simplesmente abster-se do mesmo não assumindo obrigações, pactuando ou não um contrato. Ex.: tenho dois imóveis; resido em um deles; não sou obrigado a alugar o outro; se eu quiser posso deixá-lo fechado. Além disso, decidindo realizar um contrato, a pessoa tem liberdade de escolher quem será o outro contratante. E, vencidas estas etapas os contratantes têm liberdade para estipular a espécie contratual, mesmo que não prevista em lei (contrato inominado) e o DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 5 conteúdo das estipulações como melhor lhes convier. Em tese, pode-se contratar sobre o que quiser. Mas é evidente que há muitas restrições para essa autonomia, conforme veremos adiante. Vigora a máxima: “é lícito tudo o que não for proibido”. Princípio da Observância (ou supremacia) das Normas de Ordem Pública Trata-se de um limite do princípio anterior, pois a liberdade de contratar encontra restrições inicialmente na própria lei, ou seja, na ordem pública, que são as normas impositivas e que visam o interesse coletivo, tanto imperativas (de ordenam algum comportamento), como proibitivas (que vedam alguma conduta), além de princípios baseados na moral e nos bons costumes. Ex.: art. 426, CC: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”. A doutrina chama isso de pacta corvina (acordo do corvo). Essa analogia se faz por causa dos hábitos alimentares do corvo. O negócio jurídico com tal objeto indicaria o desejo de morte para aquele e quem a sucessão se trata. Tal como os corvos, que esperam a morte de suas vítimas para se alimentarem, os contratantes estariam avidamente aguardando o falecimento da pessoa para se apossarem dos bens de sua herança, o que é repudiado por nosso Direito. A doutrina entende que um contrato que versa sobre a herança de pessoa viva tem objeto juridicamente impossível, gerando sua ineficácia (ato nulo de pleno direito). Princípio da Obrigatoriedade das Convenções (pacta sunt servanda: os acordos devem ser cumpridos) Como vimos, ninguém é obrigado a contratar. Mas se as partes assim procederem, devem cumprir fielmente o pactuado, sob pena de execução patrimonial, pois ”o contrato faz lei entre as partes”. Em regra o simples acordo de duas ou mais vontades já é suficiente para gerar um contrato válido, independentemente da entrega do objeto (princípio do consensualismo). E não se pode alterar o seu conteúdo unilateralmente. Esse princípio possui dois fundamentos: a) necessidade de segurança nos negócios; b) imutabilidade das estipulações. Se o contrato não for cumprido, pode ocorrer a pena de execução patrimonial contra o inadimplente (pessoa que não cumpriu as obrigações contratuais), salvo algumas hipóteses excepcionais (ambas as partes resolvem rescindi-lo voluntariamente, se houver previsão de arrependimento ou ocorrência de caso fortuito ou força maior, etc.). Esse princípio, cada vez mais vem sendo abrandado, atenuando-se a força vinculante das convenções, ante o equilíbrio contratual que deve prevalecer. Exemplo disso é a chamada teoria da imprevisão, que veremos mais adiante. Princípio da Equivalência Material das Prestações impõe que os direitos e deveres entre os contraentes devem guardar equilíbrio entre si. DIREITO CIVIL =AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 6 Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato Em regra, um contrato vincula somente as partes que nele intervêm, vinculando-as em seu conteúdo, não afetando terceiros e seu patrimônio. O contrato tem efeito inter partes (e não erga omnes). A exemplo do princípio anterior, este também não é um princípio absoluto. A exceção no Direito Civil é a “estipulação em favor de terceiros” (que veremos mais adiante), onde pode haver o favorecimento de terceiros. No Direito do Trabalho temos a convenção coletiva de trabalho, que é um acordo feito pelo sindicato que pode beneficiar toda uma categoria. Princípio da Boa-fé Objetiva Trata-se de um novo princípio inserido pelo atual Código Civil. É uma cláusula geral de natureza principiológica, amparada pelo art. 421, CC, que tem função ou finalidade limitativa da autonomia privada, em respeito a valores constitucionalmente consagrados. A expressão “boa-fé” deriva do latim "bona fide", que significa boa confiança, ou seja, a convicção de alguém de estar agindo de acordo com a lei e a ética. Podemos afirmar que a boa-fé objetiva é um padrão de conduta (ética). Segundo ele as partes devem agir com lealdade, probidade (honestidade) e confiança recíprocas (art. 422, CC), com o dever de cuidado, cooperação, informando o conteúdo do negócio e agindo com equidade e razoabilidade (usam-se os termos transparência, veracidade, diligência e assistência). Impede-se, assim, o exercício abusivo de direito por parte de algum dos contratantes. A observância deste princípio deve estar presente não só no momento da elaboração, como também na conclusão e execução do contrato, que além da função econômica de circulação de riquezas, serve, também, de mecanismo para se atingir a justiça social, solidariedade, dignidade da pessoa humana, que são objetivos primordiais de nossa sociedade, estabelecidos na Constituição Federal. Portanto, é um roteiro a ser seguido pelas partes. No entanto, a socialização do contrato não significa a sua estatização, ou seja, atender à função social não significa suprir o interesse do Estado. Observação. A doutrina ainda vai mais adiante, afirmando que a boa-fé deve ser observada também nas fases pré e pós-contratual (ex: mesmo que o sócio já tenha se retirado da sociedade, não poderá utilizar dados sigilosos da antiga empresa numa eventual contratação da empresa concorrente). Funções da boa-fé objetiva: a) Função interpretativa: orienta o Juiz na interpretação do contrato; o juiz deve extrair eticidade do contrato. Consagrado no art. 113, CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 7 b) Função constitutiva de deveres anexos ou de proteção: a boa-fé objetiva cria os chamados “deveres anexos implícitos” em qualquer contrato. Isto é, além da obrigação de dar, fazer, ou não fazer, ainda existem alguns deveres implícitos e invisíveis de proteção, que quando descumpridos, podem gerar responsabilidade civil. Enunciado n° 24 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa” (ou seja, responsabilidade objetiva). Ex.: dever de guarda dos automóveis nos estacionamentos de supermercados, shoppings, etc.; dever do advogado em dar ao seu cliente ciência do risco do processo; dever de sigilo ou confidencialidade entre as partes do contrato; etc. O descumprimento desses deveres anexos é denominado pela doutrina de violação positiva do contrato. Funções Reativas da Boa-Fé Objetiva Havendo violação ou ameaça de violação à norma segundo a qual todos devem agir em consonância com a boa-fé objetiva, surgem situações em que podem ser invocadas as chamadas figuras parcelares ou desdobramentos da boa-fé objetiva. São elas: a) nemo potest venire contra factum proprium; b) surrectio; c) supressio; e d) tu quoque. Vejamos. Nemo potest venire contra factum proprium (proibição ao comportamento contraditório). O comportamento de cada uma das partes deve apresentar coerência de modo a não surpreender o outro contratante com uma mudança repentina, acarretando, com isso, prejuízos inaceitáveis. Ou seja, não é razoável que uma pessoa pratique determinado ato ou conjunto de atos e, em seguida, adote conduta diametralmente oposta. Ex.: se os contratantes estipularem que os pagamentos de uma determinada prestação de trato sucessivo devem se dar em determinado lugar e, apesar disto, o pagamento, com a aquiescência tácita do credor, vier a ser reiteradamente feito em outro local, não poderá o credor recusar- se a receber com base no argumento de que o pagamento deveria se dar no local contratualmente estipulado. Uma exigência desta ordem afrontaria o princípio da confiança, pois se trata de conduta contrária à que o próprio credor vinha adotando. É o que estabelece o art. 330, CC: “o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”. O STJ já se manifestou no sentido de reprovar o comportamento contraditório, por sua flagrante afronta à boa-fé. A esse respeito o Enunciado n° 362, da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil”. Desta situação decorrem as duas próximas figuras: supressio e surrectio, que são as duas faces da mesma moeda. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 8 Supressio. Consiste na perda (supressão) de um direito pela falta de seu exercício por razoável lapso temporal. Para usar o exemplo acima, seria a hipótese em que o credor reiteradamente aceita receber a prestação em local diverso do que foi contratado, sem fazer qualquer ressalva, e, com isso, perde o direito de exigir que o devedor pague no local inicialmente eleito. Surrectio. Se a supressio consiste na perda de um direito, a surrectio corresponde ao surgimento de um direito exigível pelo outro sujeito da mesma relação jurídica. Se de um lado o credor perdeu o direito de receber os valores no local pactuado, por outro lado o devedor se tornou titular do direito de pagar naquele local diverso, que a princípio fora não pactuado. Tu quoque (até tu). Deriva da célebre frase historicamente atribuída ao grande general romanoCaio Júlio César, ao constatar que foi traído por seu próprio filho Brutus (“Tu quoque, Brutus, fili mi!”). A aplicação do tu quoque se dá nas situações em que em que uma das partes adota comportamento oposto ao seu próprio, quando imputa ao outro, conduta contratual inadequada, valendo-se assim de dois pesos e duas medidas, colocando a outra parte em situação de injusta desvantagem. Em outras palavras, o que se quer é impedir o ineditismo indesejável, irrazoável e perturbador causando um equilíbrio nas relações jurídicas. Ex.: um dos contratantes, antes de cumprir a sua parte no contrato, exige o cumprimento da prestação do outro contratante (veremos adiante no tópico exceção de contrato não cumprido). Observação Atual Uma figura que foi desenvolvida no direito norte-americano e ultimamente vem ganhando adeptos no Brasil (inclusive do STJ, como decorrência do princípio da boa-fé, é o chamado duty to mitigate the loss, ou seja, o dever de mitigar (evitar o agravamento) do próprio prejuízo. Por este princípio o titular de um direito (credor) deve, sempre que possível, atuar para minimizar a extensão do dano, mitigando, assim, a gravidade da situação do devedor. O exemplo clássico é o seguinte. Imagine que “A”, negligentemente, bateu o carro em “B”. “A” sai para buscar ajuda. “B”, que é a vítima, fica esperando e percebe que está saindo uma pequena chama do motor de seu carro. Nesse momento “B” poderia perfeitamente apagar a chama, minimizando a extensão do dano. Mas, em afronta ao princípio da boa-fé pensa: “quero mais é que o carro exploda, assim eu receberei um novo”. Neste caso, se ficar demonstrado que o credor poderia ter atuado para minimizar o dano evitável, não fará jus a um carro novo; apenas receberá o valor correspondente à colisão inicial. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 9 Para complementar o tema é interessante mencionar e distinguir a boa-fé subjetiva. Esta diz respeito a situações psicológicas internas do agente; é um estado de espírito ou de ânimo do sujeito que realiza algo, sem ter noção do vício que o inquina. Deriva da ignorância do agente a respeito de determinada circunstância (estado psicológico de inocência), ou seja, uma pessoa que realiza um determinado ato sem ter ciência de eventual vício. Levam-se em conta os deveres de diligência que se espera de um “homem médio”. O exemplo clássico da boa-fé subjetiva é o do possuidor que desconhece o vício que macula a sua posse, previsto no art. 1.201, CC: “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa”. Nesse caso a lei ampara esse possuidor de boa-fé, não fazendo o mesmo se o possuidor está de má-fé. • Princípio da Função Social do Contrato (art. 421, CC) Trata-se de outra novidade introduzida pelo atual Código Civil. Explicando: a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato, que na prática é uma tentativa de se reduzir as desigualdades substanciais entre os contratantes (equilíbrio contratual). Compatibiliza-se as pretensões dos particulares com os anseios da coletividade, ou seja, o contrato não pode ser mais visto somente pela ótica individualista, uma vez que possui um sentido social para toda a comunidade. Há uma prevalência do interesse coletivo sobre o individual dos contratantes. Na verdade trata-se de um dispositivo genérico que deve ser preenchido pelo Juiz dependendo de uma hipótese concreta que lhe é apresentada. Leva-se em consideração a presença de outros subprincípios tais como: a) dignidade da pessoa humana: decorrente da aplicação de dispositivos constitucionais no Direito Civil, garantindo-se o direito de se viver sem intervenção ilegítima do Estado ou de outros particulares; o ser humano é sujeito de direito e não objeto de direito. b) Na interpretação do contrato, deve-se atender mais à intenção do que ao sentido literal das disposições escritas. c) Justiça Contratual (arts. 317 e 478, CC): protegida por institutos como o da onerosidade excessiva (para dar maior equilíbrio às partes e ao contrato), estado de perigo, lesão, etc. Tal princípio tem como funções básicas: a) abrandar a força obrigatória do contrato; b) coibir cláusulas abusivas, gerando nulidade absoluta das mesmas; c) possibilitar, sempre que possível, a conservação do contrato e o seu equilíbrio; d) possibilitar a revisão do contrato quando o mesmo contiver alguma onerosidade excessiva. Observem que não foi eliminada a autonomia contratual ou a sua obrigatoriedade, mas apenas se atenuou ou reduziu o seu alcance quando presentes interesses individuais. Considera-se violado o princípio da função social dos contratos quando os efeitos externos do DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 10 pacto prejudicarem injustamente os interesses da sociedade ou de terceiros não ligados ao que foi pactuado. Portanto, a autonomia da vontade (ou autonomia privada) e a obrigatoriedade contratual, princípios anteriormente quase que absolutos, perderam muito a importância que tinham. Apesar do Direito Civil fazer parte do Direito Privado, disciplinando a atividade dos particulares entre si, onde prevalecem os interesses de ordem particulares, não podemos negar que também neste ramo do Direito “sentimos a presença do Estado”. Em outras palavras: identificamos muitas normas de Direito Público no Direito Civil. Podemos dizer que atualmente há uma constante intervenção do Estado nas relações de Direito Privado e até mesmo nos contratos. Justifica-se esta interferência, pois ao contrário do que sustentava a ideologia do liberalismo, a desigualdade entre os homens é um fato inegável e o Estado moderno deve agir para tentar buscar um reequilíbrio de forças entre as pessoas, dando proteção jurídica à parte mais frágil de uma relação, como os consumidores, inquilinos, empregados, devedores, etc. Isto é chamado pela doutrina de Dirigismo Contratual. Relembre-se aqui a inesquecível frase usada por Rui Barbosa em sua imortal Oração aos Moços: “A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam”. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS Como vimos, o contrato é fonte de obrigações. Ele nasce da conjunção entre duas ou mais vontades coincidentes e contrapostas. De um lado temos o proponente ou policitante. De outro lado temos o aceitante ou oblato. Sem este mútuo consenso, não haverá contrato. Negociações Preliminares – Fase Pré-Contratual Antes de se estabelecer o acordo final, é possível que ocorram algumas negociações preliminares, que são as sondagens, os estudos, as conversas prévias e debates sobre os interesses de cada um, tendo em vista um contrato futuro. É a chamada fase das tratativas (ou puntuação), sem que haja uma vinculação jurídica entre os participantes, não se criando ainda obrigações (há apenas uma expectativa de direito). Somente no momento em que ambas as partes manifestama sua concordância é que se formará o contrato, criando obrigações. No entanto, defende a doutrina que também nesta fase é obrigatória a observância dos princípios da boa-fé e probidade estampados no art. 422, CC, podendo haver responsabilidade civil (extracontratual) caso sejam desrespeitados. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 11 Aliás, neste sentido é o Enunciado 25 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual”. Os contratos possuem basicamente duas fases: 1) Proposta ou Oferta; 2) Aceitação. A declaração inicial é a proposta, feita pelo proponente ou policitante. A segunda é a aceitação feita pelo aceitante ou obato. O vínculo contratual nasce quando se integram a proposta e a aceitação, oportunidade em que as partes concordam com as condições, preço e entrega da coisa ou do serviço. Vejamos cada um desses itens. 1) PROPOSTA Também é chamada de oferta, solicitação, policitação ou oblação. É a manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, solicitando a concordância da outra. Trata-se de declaração unilateral por parte do proponente. A proposta é receptícia, ou seja, ela somente produz efeitos ao ser recebida pela outra parte. A proposta deve ser séria, inequívoca, precisa e completa para se revestir de força vinculante, já contendo todos os elementos essenciais do negócio jurídico. Regra: feita a proposta, vincula-se o proponente; caso ela não seja mantida, obriga a perdas e danos. Há duas espécies de proposta: Entre ausentes: é a que não há possibilidade de aceitação direta e imediata; ou seja, o contrato é celebrado em declarações intervaladas (ex.: carta enviada para proposta e carta posterior respondendo com aceitação). Entre presentes: é aquela em que as partes podem se comunicar direta e simultaneamente, havendo possibilidade de aceitação imediata. Por este motivo, os contratos celebrados por telefone, fax, etc., são reputados “entre presentes”. ����Atenção ���� como se percebe, a noção de presença e ausência nada tem a ver com distância ou espaço físico, mas sim com a possibilidade de aceitação imediata. Observação: há dúvida quanto aos contratos celebrados pela internet. A posição majoritária da doutrina (e isso já caiu em alguns concursos) é no sentido de que se trata de contrato entre ausentes, pois quando a proposta é enviada por e-mail nem sempre a aceitação pode ser imediata. No entanto há a ressalva de que quando ambos os usuários estiverem conectados em tempo real DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 12 e estiverem travando um contato direto e simultâneo, estaremos diante de um contrato entre presentes, já que a contratação estará sendo realizada direta e imediatamente pelas partes (ex.: skype, msn, etc.). Portanto, fiquem atentos com a que questão foi redigida!!! Regra: feita a proposta, ela vincula o proponente; caso a proposta não seja mantida, obriga a perdas e danos. Estabelece o art. 427, CC que a proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio ou das circunstâncias do caso. Exceções à obrigatoriedade da proposta. A proposta deixa de obrigar, se (art. 428, CC): • o contrário não resultar dos termos da proposta. Ex.: cláusula expressa que lhe retire a força vinculativa; ou seja, o próprio contrato possui uma cláusula de não obrigatoriedade, etc. • feita sem prazo determinado a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Ou seja, feita uma proposta entre presentes, a mesma deve ser imediatamente aceita. Se não o for, a proposta já não vincula mais. • feita sem prazo a pessoa ausente (não foi possível a comunicação imediata ou direta), deve-se aguardar um lapso de tempo suficiente para que a oferta chegue ao destinatário e a resposta retorne ao conhecimento do proponente, calculando-se o tempo conforme o meio de comunicação (ex.: cartas). Ultrapassado este “prazo razoável”, também não vincula mais. • feita a pessoa ausente, com prazo determinado, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo estipulado. • antes da proposta ou juntamente com ela, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. Observações 01) Proposta ou Oferta ao Público: é a propaganda de supermercados, lojas de magazine, drogarias, etc. feitos em panfletos, folhetos, jornais, outdoors, etc. Ela equivale a uma proposta normal de contrato quando contem os requisitos essenciais do contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. A oferta pode ser corrigida, revogada ou cancelada pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada (art. 429 e seu parágrafo único, CC); são as famosas frases: “enquanto durar nosso estoque”, “somente 100 unidades”, “oferta somente até o dia X”, etc. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 13 02) A morte ou a superveniente incapacidade (e interdição) do proponente não retira a força vinculante da proposta; esta continua a vincular seus herdeiros ou responsáveis pelas consequências jurídicas do negócio (salvo se se tratar de um contrato personalíssimo). 2) ACEITAÇÃO É a manifestação da vontade do destinatário (também chamado de oblato ou aceitante), anuindo com a proposta e tornando o contrato definitivamente concluído. Requisitos: a) não se exige obediência a determinada forma (salvo nos contratos solenes), podendo ser expressa ou tácita; b) deve ser oportuna; c) deve corresponder a uma adesão integral à oferta; d) deve ser coerente e conclusiva. Regras • se o negócio for entre presentes, a proposta ou oferta pode estipular ou não prazo para a aceitação. Se não contiver prazo a aceitação deverá ser manifestada imediatamente. Se houver prazo deverá ser pronunciada até o termo concedido. • se o contrato for entre ausentes, havendo um prazo determinado, a aceitação deve chegar a tempo, isto é, dentro do prazo marcado. Se a aceitação chegar após o prazo, sem culpa do aceitante (ex.: atraso no correio), o proponente deverá avisar o aceitante, sob pena de responder por perdas e danos, sobre a não conclusão do contrato, pois é possível que o aceitante imagine que o contrato está perfeito e já comece a realizar despesas necessárias ao cumprimento. Se o ofertante (ou policitante) não estipulou qualquer prazo, a aceitação deverá ser manifestada dentro de tempo suficientepara chegar a resposta ao conhecimento do proponente. • aceitação fora do prazo, ou com adições, restrições, modificações, corresponde a uma nova proposta (ou contraproposta: art. 431, CC). Ex.: pessoa oferece R$ 20 mil pelo meu carro. Peço R$ 25 mil. Este meu pedido representa uma nova proposta. • a aceitação admite retratação ou arrependimento se, antes da aceitação ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante (art. 433, CC: inexistência da aceitação). • O silêncio (falta de resposta), por si só, não configura aceitação tácita (em regra a aceitação deve ser expressa). No entanto há duas exceções: a) quando se tratar de negócios em que não se costuma exigir a aceitação expressa (art. 432, CC). Ex: uma loja de calçados faz uma programação de pedidos para o ano inteiro, com entrega mensais programadas; cria-se uma praxe comercial; caso o comerciante queira DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 14 interromper este ciclo, deverá avisar ao fornecedor a recusa com antecedência; b) quando o proponente a tiver dispensado. • A aceitação tácita é admitida quando provém de atos do agente, incompatíveis com a decisão contrária. Ex.: se num contrato de doação de um automóvel, o donatário, sem declarar que o aceita, toma posse do veículo, obtém licença, emplaca-o e passa a utilizá-lo, entende-se que aceitou a liberalidade, pois tal comportamento se mostra incompatível com a atitude de quem recusa a doação. MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO. Reputa-se concluído um contrato: Entre Presentes: momento da aceitação da proposta. Aqui a situação é simples, pois estando as partes presentes, no instante que a proposta é aceita, cruzam-se as vontades e o contrato começa a produzir seus efeitos. Vigora a chamada teoria da recepção: as partes estarão vinculadas no mesmo instante que o oblato aceitar a oferta. Entre Ausentes (ex.: correspondência epistolar ou carta). Aqui a situação se complica um pouco. Quando o negócio está concluído? No momento em que o oblato escreve sua aceitação? No momento que ele expede a aceitação? Ou somente no momento em que o ofertante toma conhecimento da aceitação? Para responder isso precisamos entrar um pouco no plano doutrinário. Inicialmente temos que esclarecer que há duas correntes (principais) sobre o tema: 1) Teoria da Cognição (ou da informação): o contrato só se aperfeiçoa no momento em que o policitante (ofertante) toma conhecimento da resposta (aceitação). 2) Teoria da Declaração (ou da agnição): o contrato se aperfeiçoa com a simples anuência do aceitante (dispensa-se que o proponente tome conhecimento da resposta). Todavia aqui se formam três subteorias: 2.1) Subteoria da Declaração propriamente dita: o contrato se aperfeiçoa-se no momento em que o aceitante escreve a carta, aceitando. Embora isso seja lógico (pois é nesse instante que o consentimento é externado) essa teoria não foi adotada por nenhuma legislação. 2.2) Subteoria da Expedição: não basta apenas formular a resposta; é necessário enviá-la (expedi-la). Entende-se que nesse o momento ocorreu o aperfeiçoamento do contrato, pois é nesse instante que o aceitante perde o comando sobre a sua vontade, não podendo mais se arrepender. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 15 2.3) Subteoria da Recepção: não basta formular a resposta e enviá- la; é necessário que a resposta chegue materialmente (não é necessário que ele a leia) às mãos do policitante. Sobre o tema, estabelece o art. 434, CC, que os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida (teoria da expedição). No entanto esta regra foi mitigada pelos incisos do art. 434, CC (I. no caso do artigo antecedente (retratação); II. se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III. se ela não chegar no prazo convencionado) e pelo art. 430, CC (a aceitação chegou fora do prazo). ����DIRETO AO PONTO. Teorias adotadas pelo nosso Código. a) Entre Presentes →→→→ Teoria da Recepção (momento da aceitação da proposta). b) Entre Ausentes: regra adotada pela corrente majoritária (admite exceções) →→→→ Teoria da Agnição na forma da Subteoria da Expedição, ou seja, no momento em que a aceitação é expedida (colocada no correio), real ou virtual (e-mail). No entanto há ferrenhos defensores da Subteoria da recepção. ����O núcleo do contrato é o consentimento. Consentimento = Proposta + Aceitação. LUGAR DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO O negócio jurídico reputa-se celebrado no lugar em que foi proposto (art. 435, CC). Esta é uma regra dispositiva, isto é, as partes podem dispor de modo diverso. Regra: o contrato é celebrado no lugar onde foi proposto. No entanto admite-se previsão em contrário, desde que expressa no contrato. Devemos lembrar que o art. 9°, §2° da LINDB, aplicável no direito internacional privado, a obrigação resultante do contrato considerar-se-á constituída no lugar onde residir o proponente. Seja como for, se a obrigação houver de ser cumprida no Brasil, a competência será do Judiciário brasileiro, nos termos do art. 88, II, do CPC. CONTRATO PRELIMINAR (arts. 462 a 466, CC) Às vezes não é conveniente celebrar, desde logo, o contrato definitivo; assim podem as partes firmar um contrato-promessa (pactum in contrahendo ou contrato preliminar), sendo que as partes se comprometem a celebrar o contrato definitivo posteriormente (o exemplo clássico é o compromisso irretratável de compra e venda). Assim, pode-se afirmar que o objeto do contrato preliminar é exatamente a celebração do contrato definitivo (trata-se DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 16 de uma obrigação de fazer). As partes se denominam promitentes (na compra e venda: promitente-comprador e promitente-vendedor). ����Atenção ���� Não confundir esse contrato preliminar (pacto in contrahendo) com as negociações preliminares (que vimos mais acima) que é somente uma fase pré-contratual, ainda sem vínculo obrigacional. O contrato preliminar é autônomo, devendo ser registrado e presumindo-se irretratável (art. 463, CC). Há quem sustente que o registro é somente uma condição de sua eficácia, porém recomenda-se a realização do registro para que a tutela específica seja efetivamente assegurada. Se uma das partes desistir do negócio sem justa causa e não havendo cláusula que permita o arrependimento, a outra parte poderá exigir-lhe, coercitivamente, a celebração do contrato definitivo, sob pena de multa diária, fixada no contrato ou peloJuiz. Esgotado o prazo estipulado, o Juiz, a pedido do interessado, poderá suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar (adjudicação compulsória). No entanto se a parte lesada pelo inadimplemento preferir (trata-se de uma opção do credor), pode simplesmente considerar o contrato desfeito e requerer perdas e danos (art. 465, CC). Observações 01) O contrato preliminar deve conter todos os requisitos essenciais do contrato principal a ser celebrado, exceto quanto à forma (art. 462, CC). Ou seja, pode-se firmar um contrato de promessa de compra e venda de um imóvel de alto valor por um instrumento particular, embora o contrato definitivo somente possa ser feito por instrumento público (art. 108, CC). 02) Se o contrato disser repeito a um bem imóvel, exige-se a outorga conjugal, nos termos dos art. 1.647, CC, sob pena de anulabilidade deste contrato (art. 1.649, CC). CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS CONTRATOS 1) CONTRATOS UNILATERAIS OU BILATERAIS Já vimos que o negócio jurídico pode ser classificado em unilateral (ex.: testamento) ou bilateral (ex.: contratos). Portanto podemos afirmar que o contrato é sempre um negócio jurídico bilateral, uma vez que necessita da participação de duas vontades para que fique perfeito. No entanto, o contrato também pode ser classificado em unilateral ou bilateral. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 17 O contrato será unilateral quando apenas um dos contratantes assume obrigações em face do outro. É o que ocorre na doação pura e simples. Inicialmente, por ser um contrato, temos duas vontades: a do doador (que irá entregar o bem) e a do donatário (que irá receber o bem). Mas neste concurso de vontades nascem obrigações apenas para o doador. O donatário, por sua vez irá apenas auferir as vantagens. Outros exemplos: mútuo, comodato, etc. Os contratos unilaterais, apesar de exigirem duas vontades, colocam só uma delas na posição de devedora. O contrato será bilateral quando os contratantes são simultânea e reciprocamente credores e devedores uns dos outros, produzindo direitos e obrigações para ambos. O contrato bilateral também é conhecido como sinalagmático. A compra e venda é o exemplo clássico: o vendedor deve entregar a coisa, mas por outro lado tem o direito ao preço; já o comprador deve pagar o preço, mas, por outro lado tem o direito de receber o objeto que comprou. Outros exemplos: troca, locação, etc. Fala-se também em contratos plurilaterais, que são aqueles que apresentam mais de duas partes (ex.: contratos de consórcio e de sociedade). ����ATENÇÃO! ���� CUIDADO! ���� Reforçando. Não devemos confundir “negócio jurídico” (que por sua vez é uma espécie de ato jurídico) com “contrato”. Este é um erro muito comum. Muitas vezes pergunto em sala de aula: Gostaria que alguém me desse um exemplo de negócio jurídico unilateral... E o primeiro exemplo que me costumam fornecer é a doação... Este exemplo está... errado!! Quem assim respondeu confundiu negócio jurídico com contrato. Doação é um contrato unilateral e não um negócio jurídico unilateral. Explicando melhor: no negócio jurídico unilateral há apenas uma manifestação de vontade. Exemplo: a renúncia é ato jurídico unilateral, pois se eu renuncio a um crédito, a outra parte não será consultada para que aceite ou não a minha renúncia. Eu apenas renunciei a um direito de forma unilateral... e pronto. Nada mais é necessário para que o ato (a renúncia) seja válido e produza os efeitos legais. Observem que há a manifestação de vontade de apenas uma pessoa. O mesmo ocorre com o testamento. Eu faço meu testamento. Ponto. Esse testamento já é válido (lógico que as suas cláusulas somente serão cumpridas quando eu morrer). Já a doação é exemplo de negócio jurídico bilateral. E por que isso? - Porque há duas (daí bilateral) manifestações de vontade. Primeiro a do doador. É necessário que uma pessoa queira doar o bem. Mas depois se consulta também o donatário, que é a pessoa que irá receber o bem doado. Se essa pessoa não aceitar, não houve a doação. O contrato não se aperfeiçoou. Havendo a aceitação da outra parte o negócio está perfeito. Portanto a doação é um negócio jurídico bilateral. Necessita de duas manifestações de vontade. No entanto os negócios jurídicos bilaterais DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 18 (contratos) se dividem em: unilaterais e bilaterais. E é isso que confunde um pouco. Resumindo: a doação é um negócio jurídico bilateral (contrato). No entanto é um contrato unilateral, pois apenas um dos contratantes (doador) assume obrigações em face do outro (donatário). Apresento o seguinte “esqueminha” para nunca mais esquecerem esta espécie de classificação. A) Negócio jurídico unilateral: possui apenas uma manifestação de vontade (ex: renúncia, testamento, promessa de recompensa, etc.). B) Negócio jurídico bilateral: possui duas manifestações de vontade (ex: perdão, pois precisa ser aceito para produzir efeito; casamento; todos os contratos; etc.). Já um contrato, por sua vez, se subdivide em: • Contrato unilateral: duas manifestações de vontade, sendo que apenas uma se obriga (ex: doação pura e simples, comodato, mútuo gratuito, etc.). • Contrato bilateral: duas manifestações de vontade, havendo obrigações e vantagens recíprocas (ex: compra e venda, locação, etc.). 2) CONTRATOS ONEROSOS OU GRATUITOS ● Contratos onerosos: trazem vantagens para ambos os contratantes, pois estes sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito desejado (ex.: locação – locatário paga aluguel, mas tem o direito de usar o bem; já o locador recebe o dinheiro do aluguel, mas deve entregar a coisa para que seja usada por outrem). Em outras palavras: ambas as partes assumem ônus e obrigações recíprocas. ● Contratos gratuitos (ou benéficos): oneram somente uma das partes, proporcionando à outra uma vantagem, sem qualquer contraprestação (ex.: doação pura e simples, depósito, comodato, etc.). Importância da Distinção. Nos contratos gratuitos, como na doação, o doador não responde pela evicção e nem pelos vícios redibitórios (falaremos sobre estes temais mais adiante), salvo nas doações com encargos; já nos contratos onerosos os contratantes respondem por ambos. Além disso, nos contratos gratuitos a interpretação será sempre restritiva, sendo que se houver erro quanto à pessoa ele será mais grave, situações que não ocorrem nos contratos onerosos. � Discussão Doutrinária � Pergunta: na realidade o comodato é um contrato bilateral (pois gera obrigações também para o comodante, como a indenização em caso de danos causados ao comodatário) ou um contrato unilateral, pois só gera obrigações para o comodatário (as eventuais obrigações do comodante decorrem, não do comodato em si, mas sim de todo e qualquer contrato)?? DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE)AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 19 Resposta: parte da doutrina costuma chamar esta espécie de contrato de bilateral imperfeito. Na realidade ele seria um contrato unilateral, mas que, por uma circunstância ocorrida no curso da execução do contrato, geraria uma obrigação para o contratante que não havia se comprometido. Assim, ele se subordina inicialmente ao regime dos contratos unilaterais porque não há uma contraprestação inicial (esta não nasce com o contrato). Ocorrendo um fato eventual, posterior à formação do contrato (dano ocorrido na coisa), surgiria a obrigação da outra parte em indenizar. Ocorre que para outra corrente não existe a classificação de “contrato bilateral imperfeito”. O contrato nasce e morre unilateral ou bilateral. O que pode variar é o contrato ser gratuito ou oneroso. O bilateral é sempre oneroso. Já o unilateral pode ser gratuito (doação simples) ou oneroso (doação com encargo, depósito remunerado, etc.). Assim, o fato de haver uma retribuição ou algum dever não transforma a natureza do contrato. Portanto o comodato seria um contrato unilateral. Em regra gratuito. Mas pode se transformar em oneroso. Outro exemplo: mútuo sujeito a juros. O mútuo é um empréstimo de coisa fungível (ex: um saco de arroz, uma resma de papel, um milheiro de tijolos, etc.). Se for empréstimo de dinheiro, além da obrigação de restituir a quantia emprestada (contrato unilateral), geralmente deve-se pagar juros (contrato oneroso). Portanto, segundo a doutrina, este caso seria um exemplo de contrato que é ao mesmo tempo unilateral e oneroso. 3) CONTRATOS COMUTATIVOS OU ALEATÓRIOS O contrato é comutativo (ou pré-estimado) quando as prestações de ambas as partes são conhecidas (certas e determinadas), guardando entre elas relação de equivalência (senão exata, ao menos aproximada). Ex.: compra e venda (como regra). A coisa a ser entregue por uma das partes e a quantia a ser paga pela outra geralmente são conhecidas no momento da realização do contrato e guardam uma relação de equivalência. Por serem as prestações conhecidas, pode-se apreciar de imediato essa equivalência. Ou seja, eu sei o quanto eu vou pagar pela coisa e sei qual o bem que me será entregue. E entre a prestação e a contraprestação há uma equivalência. Já o contrato aleatório é aquele em que a prestação de uma das partes (ou de ambas) não é conhecida com exatidão no momento da celebração do contrato. Depende de uma álea (incerteza, risco). O contrato depende de um risco futuro e incerto, capaz de provocar uma variação e, consequentemente, um desequilíbrio entre as prestações, não se podendo antecipar exatamente o seu montante. Alguns contratos são aleatórios devido à sua natureza (ex.: rifa, bilhete de loteria, o jogo e a aposta de uma forma geral, o seguro de vida, de um carro ou uma casa, etc.), enquanto outros são acidentais, por terem por objeto coisa DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 20 incerta ou de valor incerto (ex.: contrato de garimpo, venda de colheita futura, ou dos peixes que vierem na rede do pescador, etc.). O exemplo clássico é o contrato de seguro de um carro. Eu sei o quanto eu vou pagar pelo seguro! Mas... será que eu vou usá-lo algum dia? Quando? Qual o valor da indenização? Eu ainda não tenho estas respostas. Portanto, uma das prestações não é conhecida de antemão. Depende de um fato futuro e incerto. E pode haver uma não-equivalência entre o valor que eu paguei e aquilo que eu receberei. Os contratos aleatórios podem ser divididos em: A) Coisas Futuras 1. Emptio spei (“venda da esperança”). Trata-se do art. 458, CC: um dos contratantes assume o risco da existência da própria coisa, ajustando um preço, que será devido integralmente, mesmo que nada se produza, sem que haja culpa do alienante. Ex.: contrato um pescador dizendo que pago “X” por tudo que ele pescar hoje... se ele pescar 100, 10, 1 quilo ou nada pescar, eu deverei para a ele o preço “X” que combinamos. O pescador terá direito ao preço integral, ainda que o objeto futuro não venha a existir (outros exemplos da doutrina: colheita de uma fazenda, tesouros de um navio afundado, ninhada de uma cadela, etc.). 2. Emptio rei speratae (“venda de coisa esperada”). Trata-se do art. 459 e seu parágrafo único, CC: se o risco versar sobre a quantidade maior ou menor da coisa esperada (e não da existência). Ex.: contrato um pescador dizendo que compro tudo o que ele pescar e pago “X” pelo quilo de peixe. Neste caso o preço poderá ser maior ou menor dependendo da quantidade peixe pescado. Aí está a álea. Percebam que o risco contratado é parcial. E se nada for pescado não serei obrigado a pagar importância alguma. E se a quantia foi paga com antecedência, haverá a devolução da mesma. Apenas para reforçar: a primeira situação (art. 458, CC) se refere ao risco da coisa em si, à existência da coisa objeto do negócio; já a segunda situação (art. 459, CC) refere-se à maior ou menor quantidade da coisa e não sobre a existência dela. B) Coisas Existentes O art. 460, CC trata do contrato sobre coisas já existentes, mas que estão sujeitas ao risco de se perderem, danificarem ou, ainda, sofrerem depreciação. Ex.: determinada mercadoria é vendida, mas a mesma será transportada de navio até o seu destino final. O comprador então assume o risco de ela chegar ou não ao seu destino; se o navio afundar a venda será válida e o vendedor terá direito ao preço. Este dispositivo possui uma ressalva, pois a venda poderá ser anulada se a pessoa sabia que o risco já havia sido consumado (ou seja, quando houve a celebração do contrato a parte já sabia que o navio havia afundado). DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 21 4) CONTRATOS QUANTO AO NOME ● Típicos (ou nominados): são os contratos que têm denominação, previsão e regulamentação previstas em lei (Código Civil ou leis especiais), formando espécies contratuais legalmente definidas. Ex.: compra e venda, locação, comodato, etc. ● Atípicos (ou inominados): são contratos criados pelas partes que não correspondem a nenhum tipo contratual previsto em lei; não têm denominação ou tipificação legal. Com isso, contempla-se maior amplitude na autonomia privada e na liberdade contratual. Ex.: cessão de clientela, factoring, etc. O art. 425, CC permite às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas no Código Civil. Obs.: embora aceita, alguns autores não gostam da expressão “contratos inominados”, pois, muitas vezes, a espécie contratual possui nome (é nominada), todavia, não se encontra regulamentada na lei (não possui tipicidadelegal). 5) CONTRATOS PARITÁRIOS OU DE ADESÃO ● Paritários: são aqueles em que ambos os interessados são colocados em pé de igualdade e podem (ao menos em tese) discutir e negociar as cláusulas contratuais, uma a uma, eliminando os pontos divergentes mediante transigência mútua. ● de Adesão (ou por adesão): são aqueles em que a manifestação de vontade de uma das partes se reduz a mera anuência a uma proposta da outra. Uma das partes elabora o contrato e a outra parte apenas adere às cláusulas já estabelecidas, não sendo possível a discussão ou modificação dessas cláusulas. Exemplo: contratos bancários. Quando você abre uma conta em um banco, o contrato já está pronto. Ou você assina da maneira como ele foi elaborado ou o contrato não sai. Será que alguém já ficou discutindo alguma cláusula de um contrato de abertura de conta com um gerente de Banco? - Não!! Por isso é considerado como um contrato de adesão. Outros exemplos: contrato de transporte, convênio médico, seguro de vida ou de veículos, sistema financeiro de habitação, etc. Partes envolvidas: proponente e aderente (que adere às cláusulas apresentadas; é a parte mais fraca do contrato – não obrigatoriamente a “mais pobre”). O art. 54, CDC admite expressamente esta espécie de contrato, acrescentando que a eventual inserção de uma cláusula no formulário a pedido de uma das partes não desfigura a natureza de adesão do contrato (esta cláusula pode é considerada como “uma apertada margem reservada à negociação”). O contrato de adesão deve ser sempre escrito com letras grandes e legíveis. Portanto são proibidas as famosas “letrinhas miúdas” nesta espécie de contrato. Ele também não pode ser impresso com redação confusa, utilizando terminologia vaga e ambígua, nem DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 22 com cláusulas desvantajosas para um dos contratantes. A cláusula que implicar limitação ao direito do consumidor deverá ser redigida com destaque (letras maiores), permitindo sua imediata e fácil compreensão. Nestes contratos os contratantes não podem criar regras próprias de interpretação; ao contrário, devem obedecer o estabelecido nos arts. 423 e 424, CC (além das regras do CDC). Vejamos. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas (que dão ensejo a várias interpretações) ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio (ex.: “caso o objeto adquirido esteja com algum problema, o aderente abre mão de pedir a substituição do produto”). 6) CONTRATOS CONSENSUAIS OU FORMAIS ● Consensuais ou não solenes: são aqueles que se perfazem pelo simples acordo ou consenso das partes (proposta e aceitação) independentemente da entrega da coisa e da observância de uma forma determinada e especial. Podem ser celebrados inclusive de forma verbal. Exemplo: eu digo que quero vender meu relógio; uma pessoa diz que quer comprá-lo. Pactuamos o preço da venda. Pronto. Em tese o contrato já está celebrado. Daí para diante é cada um cumprir o que ficou estabelecido. ● Solenes ou formais: são aqueles em que a lei exige uma forma especial. A falta desta formalidade levará à nulidade do negócio. Ex.: a compra e venda de bens imóveis exige escritura pública e registro. 7) CONTRATOS REAIS São os que para aperfeiçoamento exigem além do acordo de vontades, também a entrega da coisa, que constitui o seu objeto. Exemplo: o depósito somente será concretizado quando a coisa for realmente entregue, depositada. Antes disso tem-se apenas uma promessa de contratar e não um contrato perfeito e acabado. Outros exemplos: comodato, mútuo, penhor, etc. 8) CONTRATOS DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E CONTINUADA Esta classificação leva em consideração o momento em que os contratos devem ser cumpridos. ● Execução instantânea (ou imediata): são aqueles que se consumam em um só ato, cumprindo-se imediatamente após sua celebração, mediante uma única prestação; o nascimento e a execução do contrato ocorrem no mesmo momento (ex: compra e venda à vista). DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 23 ● Execução diferida: também cumpridos em um só ato, mas em um momento posterior à celebração do contrato (ex: compra e venda à vista, mas com a entrega da mercadoria em 30 dias). ● Contratos de trato sucessivo (de execução continuada ou periódica): são os que se prolongam no tempo, são cumpridos por meio de atos reiterados (soluções periódicas), resolvendo-se em intervalos de tempo (regulares ou não). Quando uma parcela é paga a obrigação está quitada. Mas neste instante inicia- se a formação de outra prestação que deverá ser paga no fim do próximo período. Ex.: prestação de serviços, fornecimento de mercadorias, etc. Observem a locação: o pagamento do aluguel de um mês não libera o contratante, senão da dívida relativa àquele período, de modo que o vínculo contratual perdura até o final do prazo convencionado para o término do contrato. 9) CONTRATOS PRINCIPAIS OU ACESSÓRIOS ● Principais: são os que existem por si, exercendo sua função e finalidade independente de outro. Ex.: contrato de compra e venda, de locação, etc. ● Acessórios: são aqueles cuja existência supõe a do principal, pois visam assegurar sua execução. Ex.: a fiança é contrato acessório, estabelecida para garantir a locação, que é o principal; logo, a fiança não poderá existir sem a locação. Lembrem-se da regra “o acessório acompanha o principal”. Havendo nulidade no principal, esta atinge o acessório, que também será considerado nulo. No entanto, havendo nulidade do acessório, esta atinge somente o acessório, não contaminando o contrato principal. 10) CONTRATOS PESSOAIS OU IMPESSOAIS ● Pessoais (personalíssimos ou intuitu personae): são aqueles em que a pessoa do contratante é considerada pelo outro como elemento determinante de sua conclusão. Ex.: Desejo que o advogado “Y” me defenda no Tribunal do Júri. Quero que o cirurgião “X” me opere. Quero comprar um quadro do famoso pintor “Z”. Contrato um show com a banda “WW”. Somente o devedor pode realizar, não se aceitando o cumprimento por terceiros. Se o devedor não honrar o contrato, haverá perdas e danos; se ocorreu caso fortuito ou força maior estará desobrigado. ● Impessoais: são os que a pessoa do contratante é juridicamente indiferente para a conclusão do negócio. Contrato uma empresa para pintar minha casa. Tanto faz que o serviço seja realizado pelo pintor “A” ou “B”. Exemplo comum é a contração de “pessoal de limpeza ou manutenção” em realizado por uma empresa terceirizada. DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos UnilateraisProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 24 EFEITOS DOS CONTRATOS O contrato válido estabelece um vínculo jurídico entre as partes, sendo que, em princípio, é irretratável unilateralmente. Ou seja, depois de celebrado, como regra, uma das partes não pode simplesmente desistir do cumprimento do contrato. Ao contrário, deve ser observado como se fosse uma “lei entre as partes”. Trata-se da aplicação do princípio pacta sunt servanda. Depois de celebrado um contrato e assumidas as obrigações, passamos ao cumprimento do seu conteúdo. Porém, um contrato pode produzir diversos efeitos. Vejamos: A) EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO (arts. 476/477, CC) Também chamado de exceptio non adimpleti contractus. Inicialmente é necessário esclarecer que este instituto não se aplica nos contratos unilaterais (doação pura, comodato, etc.), uma vez que nestes não há contraprestação para uma das partes. Já nos contratos bilaterais (ou sinalagmáticos) a regra é que nenhum dos contratantes poderá, antes de cumprir a sua obrigação, exigir a do outro (art. 476, CC). Isso porque há uma dependência recíproca das prestações que, por serem simultâneas, são exigíveis ao mesmo tempo (interdependência, reciprocidade e simultaneidade). Num contrato as partes devem cumprir exatamente aquilo que combinaram. Por isso uma das partes não pode exigir o cumprimento da obrigação outra parte, se ela própria ainda não cumpriu com a sua parte, pois foi assim que foi combinado desde o início no contrato. Exemplo: contratei um pintor para pintar toda minha casa. Acertamos um determinado valor. E combinamos que o pagamento seria feito em duas etapas: metade do valor seria entregue no início dos trabalhos e o restante somente após o término do serviço. Eu cumpri a minha parte. Paguei ao pintor o valor referente à metade do serviço e ele começou a pintar a casa. Após alguns dias o pintor exige o pagamento da parcela restante. Ele está descumprindo o combinado. Somente faria jus à parcela restante no final do serviço, mas está exigindo tudo agora. O que eu diria ao pintor? – Só vou lhe pagar o restante após a conclusão do serviço; cumpra a sua parte que depois eu cumpro com a minha, pois foi assim que nós combinamos. Assim, para que eu não pague a segunda parcela antes do serviço completo alego em minha defesa a exceção de contrato não cumprido. A mesma regra é aplicada no caso de cumprimento incompleto, defeituoso e inexato da prestação por um dos contraentes. Trata-se de uma variação da regra anterior. Ex.: o pintor realmente executou a obra, mas não da forma que DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 25 nós combinamos (deixou de pintar alguns cômodos ou pintou com a cor errada ou deixou buracos na parede, etc.). A doutrina chama isso de exceptio non rite adimpleti contractus. Neste caso eu também posso me recusar a cumprir com a minha obrigação (pagar o restante do dinheiro) até que a prestação (a pintura da casa) seja realizada exatamente da forma como nós combinamos. ����ATENÇÃO ���� Excepcionalmente será permitido, a quem incumbe cumprir a prestação em primeiro lugar, recusar-se ao seu cumprimento, até que a outra parte satisfaça a prestação que lhe compete ou dê alguma garantia de que ela será cumprida. No entanto, isso somente é admissível quando, depois de concluído o contrato, sobrevier diminuição em seu patrimônio que comprometa ou torne duvidosa a prestação a que se obrigou. Usando o mesmo exemplo anterior: digamos que durante a execução do serviço (a pintura da casa), haja uma diminuição do meu patrimônio e haja uma presunção de que eu não possa cumprir com a minha parte na obrigação (pagar o restante da prestação). O pintor, sabendo deste fato, poderia então pedir que eu pague primeiro (invertendo a ordem no cumprimento da obrigação) ou poderia exigir, pelo menos, que eu forneça uma garantia de que eu tenho dinheiro para pagar o combinado. Chamamos isso de “garantia de solvabilidade”. Desta forma, para dar essa garantia, eu coloco a quantia devida em uma “conta-poupança”, dando mostras de que eu tenho o dinheiro e que o mesmo está disponível para o saque, assim que o serviço for concluído. Procedendo desta forma eu provo que tenho condições de honrar o meu compromisso. Cláusula solve et repete A “exceptio” não poderá ser arguida se houver renúncia, impossibilidade da prestação ou se o contrato contiver a cláusula solve et repete, que torne a exigibilidade da prestação imune a qualquer pretensão contrária do devedor. Isto é, o contrato pode conter uma cláusula (na realidade fazer isso é muito perigoso, pois a parte fica sem garantia) de que o contratante renuncia, abre mão da exceptio. Isso quer dizer que a qualquer momento a outra parte (que seria o pintor no exemplo que estamos dando) pode exigir o pagamento integral, mesmo que ele ainda não tenha cumprido com a sua parte no contrato. Não se deve pactuar esta cláusula na prática (mas é possível, sem que seja considerado como abusivo). Rescisão A parte lesada pelo inadimplemento (não cumprimento) da obrigação pela outra parte pode pedir rescisão do contrato, acrescido de perdas e danos. B) DIREITO DE RETENÇÃO É a permissão concedida pela norma ao credor de conservar em seu poder coisa alheia, já que detém legitimamente, além do momento em que deveria restituir, até o pagamento do que lhe é devido. Digamos que uma pessoa foi DIREITO CIVIL = AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL (AFTE/PE) AULA 08 – Contratos – Teoria Geral – Atos Unilaterais Prof. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro EscobarProf. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Prof. LAURO ESCOBAR 26 possuidora de boa-fé de uma casa, durante quatro anos. Nesse tempo realizou benfeitorias necessárias. No entanto o verdadeiro proprietário moveu uma ação de reintegração de posse e acabou ganhando a ação. O possuidor, embora estivesse de boa-fé, perdeu a ação; deve sair do imóvel. No entanto, tem o direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias que realizou no imóvel. E se a pessoa que ganhou a ação não quiser indenizar? Ora, enquanto o possuidor não for indenizado pela benfeitoria necessária que realizou, ele tem o direito de reter o imóvel até que seja ressarcido ou até o tempo calculado sobre o valor da benfeitoria. Devem estar presentes os seguintes requisitos: a) detenção da coisa alheia; b) conservação dessa detenção; c) crédito líquido, certo e exigível do retentor, em relação de conexidade com a coisa retida. Esse direito está assegurado a todo possuidor de boa-fé que tem direito à indenização por benfeitorias necessárias ou úteis (art. 1.219, CC). C) REVISÃO DOS CONTRATOS – RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA (art. 478/480, CC) Como já falamos, em princípio os contratos devem ser cumpridos exatamente como foram estipulados (pacta sunt servanda). No entanto, a obrigatoriedade das convenções não é absoluta. Admite-se, excepcionalmente, a revisão judicial dos contratos de cumprimento a prazo ou em prestações sucessivas, quando uma das partes vem
Compartilhar