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3. CARNEIRO, Eduardo. Breves Notas sobre a história econômica.

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BREVES NOTAS SOBRE A HISTÓRIA ECONÔMICA1 
 
“A maior parte dos erros fundamentais praticados 
correntemente na análise econômica resulta mais da falta 
de experiência histórica do que de qualquer outra 
insuficiência instrumental do economista” (SHUMPETER, 
1967, p. 35). 
“Os economistas atualmente acham que fazer ciência 
consiste em provar axiomaticamente teoremas e a aplicar 
testes econométricos” (ALMEIDA, 2011, p.30). 
 
A disciplina História Econômica é fundamental para a formação 
acadêmica do economista. No entanto, por conta da hegemonia da visão 
positivista de Ciências Sociais dos racionalistas neoclássicos, o valor dela tem 
sido diminuído nos cursos de Economia. Professores embriagados com o 
discurso científico da imparcialidade se “gabam” por dominarem a 
aplicabilidade da estatística, da matemática e da econometria nas análises 
econômicas superficiais que fazem. Como se os números fossem o fetiche do 
economista para transmitir veracidade às suas explicações, que não deixam de 
ser meras interpretações da realidade. 
Para elevar o status da Economia e de seus profissionais diante das 
outras Ciências Sociais, muitos defendem torná-la uma “ciência aplicada”. 
Outros se perdem nas vãs diferenciações entre as Ciências Sociais e 
Humanas. O rigor pela exatidão e pela “quantificação” da Economia tem feito 
dela um “monstro invertebrado” (FRAGOSO, 2002). Monstro por que no seio 
das ciências exatas, ela se tornou irreconhecível. Invertebrado por que lhe falta 
o essencial de uma Ciência Social: as experiências humanas no tempo. 
Esse monstro invertebrado tem se alastrado nas faculdades conforme 
a influência dos postulados neoclássicos no Plano Político Pedagógico do 
Curso de Economia. A historicidade da vida material humana, com sua 
complexidade, instabilidade e dinamicidade - quer seja no ponto de vista 
 
1
 Anexo da monografia: CARNEIRO, Eduardo de Araújo. O capital internacional no Aquiry “sangue e 
lodo” na formação econômico-social do Acre. (Economia/UFAC). 
macro, quer seja no ponto de vista microeconômico – evidencia o elemento 
ideológico, parcial e relativo do objeto de estudo econômico. 
 
A Economia, desde os tempos de Ricardo que se tem vindo 
progressivamente a se desumanizar e a se afastar da História: 
embora sendo muito débil na vertente da experimentação e da 
previsão, persiste teimosamente em agarrar-se à área cultural das 
chamadas ciências exatas mediante o uso e abuso do instrumento 
lógico-matemático como instrumento de base da sua análise. 
(CIPOLLA, 1993, p. 8) 
 
 Todos os fenômenos sociais, e os fatos econômicos estão incluídos aí, 
são ideologicamente marcados quando alvos de análises ou narrativas. Como 
diz Pedro Demo (1995, p. 19), “nas ciências sociais, o fenômeno ideológico é 
intrínseco, pois está tanto no sujeito quanto no objeto. A própria realidade 
social é ideológica”. Portanto, o mero emprego da matemática, da econometria, 
da equação e da estatística no estudo do fato econômico não conseguirá tirá-lo 
do atoleiro de subjetividades (LOWY, 2003). 
Mas a crença na existência de “leis universais” que regem o fenômeno 
social e na possibilidade de descrevê-lo modo “neutro”, “imparcial”, “objetivo”, 
“sem juízo de valor” se espalhou pela Europa em fins do século XIX. O francês 
Auguste Comte (1798-1857) foi o precursor dessa idéia, consagrada em seu 
em seu livro Curso de Filosofia Positiva (1830-42). 
Segundo ele, era possível analisar os fatos sociais com procedimentos 
e técnicas análogos aos da Ciência da Natureza, mesmo sabendo que eles não 
eram passíveis de observação laboratorial; impossível, pela condição histórica 
deles, submetê-los à prova. O método positivo, como ficou conhecido, 
pretendeu transmitir à recém-fundada sociologia certa respeitabilidade 
científica. 
Com o efêmero sucesso, não demorou muito para que o método 
positivo fosse plagiado por alguns economistas que almejavam colocar a 
Economia Política no mesmo patamar de respeitabilidade acadêmica, 
desassociando-a de vez da moral e da metafísica. Tudo isso culminou com a 
publicação do livro Elementos da Economia Política Pura (1874), do 
economista Léon Walras (1834-1910). Acreditava-se que “verdade econômica” 
era uma aquisição cientificamente possível de se obter, contanto que se 
evitasse o risco da emissão do juízo de valor e da história. 
 Em relação ao primeiro risco, como já se comentou, operou-se a 
matematização da economia. Criou-se também o homo economicus, aquele 
sujeito cujo comportamento era racional e previsível, um maximizador de 
utilidade por excelência. Em relação ao segundo, tentou-se reduzir ao máximo 
a temporalidade do fato econômico, privilegiando sempre o estudo sincrônico e 
a elaboração de modelos, cujos aspectos históricos são considerados 
externalidades. 
O próprio Karl Marx (1818-1883), que respirou os “ares novecentistas”, 
apesar de dar mais valor à História no estudo da Economia do que os 
Neoclássicos, criou os modelos chamados Modos de Produção e escreveu em 
O Capital (1867), que o objetivo da pesquisa dele fora descobrir “a lei 
econômica” da sociedade moderna, ou seja, aquelas que independem da 
vontade humana e da vida social, válidas para situações históricas diversas. 
A Ciência Economia rompeu o século XX com a maior parte de seus 
paradigmas já formados. O estudo da história, quando acontece, se restringe 
ao comportamento das instituições financeiras, à aplicabilidade dos modelos 
generalizantes, aos efeitos do progresso tecnológico, à sucessão dos modos 
de produção e à comparação das políticas econômicas nacionais. O homem 
enquanto ator social que trava relações de vivências ímpares no cotidiano da 
história desaparece. A frenética busca pelos fatores invariáveis ou pela 
exemplificação da fabulosa “lei da escassez” o faz sair de cena e com ele, a 
própria história. 
A ênfase aos modelos e aos comportamentos humanos previsíveis 
racionalmente, tem feito da Economia uma “ciência estéril, atraindo no mundo 
inteiro cada vez menos estudante” (ALMEIDA, 2001). Esse fenômeno parece 
que tem a ver com o apogeu da formação do “monstro invertebrado” do qual já 
nos referidos. 
Essa a-historicidade ou desumanização da Economia nos parece um 
preço muito alto a ser pago em defesa de uma pretensa neutralidade da 
ciência. O iluminismo, base filosófica de todas as ciências do século XVIII e 
XIX, foi duramente criticado segunda metade do século XX pelos pensadores 
vinculados à Pós-Modernidade (colocar referência). 
Primeiro porque o liberalismo não foi capaz de livrar o mundo da crise 
econômica mundial de 1929. Segundo, porque a razão humana não produziu 
um mundo melhor e sim uma sociedade profundamente desigual que produziu 
duas guerras mundiais. Terceiro, porque a própria ciência, em muitos casos, se 
colocou nitidamente a serviço do capital. A idéia de verdade científica se 
esfumaçou diante da inquestionável presença das ideologias no conhecimento, 
vejamos: 
 
No conhecimento histórico não se quer neutralidade, passividade, 
serenidade e universalidade. A verdade universal se pulverizou em 
análises pessoais. Não se busca mais o absoluto e não se quer mais 
produzir uma obra de valor universal. O conhecimento histórico é 
múltiplo e não definitivo: são interpretações de interpretações. A 
realidade é produzida por jogos de linguagem. O ser é diferença 
constante, isto é, temporal e inessencial, e aparece em linguagens 
múltiplas. (REIS, 2006, p. XX). [grifo nosso]. 
 
Apesar de os paradigmas iluministas terem sido abalados, a Ciência 
Econômica ainda sofre muito influência deles. O uso dos métodos abstrato-
dedutivos, de modelos,e a busca pelas conclusões universais ainda persistem. 
O que se fez foi recusar como objeto de estudo tudo aquilo que não pode ser 
medido ou quantificado numa temporalidade sincronicamente determinada. 
O Manual de Economia da USP, um dos mais utilizados do Brasil, diz 
que “a Economia estuda a administração dos recursos escassos entre usos 
alternativos e fins competitivos” (PINHO, 1999, p. XX). Outro diz que ela é “a 
ciência das leis que regem a produção e a distribuição de bens materiais” 
(LANGE, 1985). Embora sendo de filiações teóricas diferentes, nas duas 
citações prevalece o “monstro invertebrado” ao qual já nos referimos, como 
sendo a-histórico. Na primeira, prevalece o conceito de “escassez”, na segunda 
a de “lei”. Ambas saem em busca da sonhada objetividade. 
A “vertebralização” da Economia é uma necessidade acadêmica. Não 
há como negar a historicidade do objeto de estudo dessa ciência social. Tanto 
as causas, quanto as conseqüências dos fatos econômicos são atravessados 
por temporalidades. Além do mais, os fenômenos da produção, circulação e 
consumo são sociais. “Desde que desceu da árvore, o homem encarou o 
problema da sobrevivência, não como indivíduo, mas como membro de um 
grupo social”, já dizia Heilbroner (1996, p. 21). 
A inscrição do homem e da história na Economia é uma opção teórico-
metodológica. É o reconhecimento da existência de diferenças entre as 
Ciências Sociais e as Ciências Exatas. A diacronia do fenômeno econômico, 
embora colocando em risco, em certos casos, a credibilidade das “leis” e 
“generalizações” neoclássicas, não pode ser posta de lado. O homem 
enquanto protagonista dos fatos econômicos está no centro do conceito de 
Economia atribuído por Heilbroner (1984, p.19), vejamos: “A economia é o 
estudo de como a humanidade assegura sua suficiência material, de como as 
sociedades se organizam para seu aprovisionamento material”, em outra parte 
diz: “a economia estuda como o homem ganha o pão de cada dia” (Idem). 
A opção pela “vertebralização” da Economia passa necessariamente 
pela valorização de disciplinas como História Econômica Geral, História 
Econômica do Brasil, Formação Econômica do Brasil e do Mundo, História do 
Pensamento Econômico, etc., no Plano Político Pedagógico do Curso de 
Economia. Mas como diz ALMEIDA (2001, p. 32): “é muito mais difícil formar 
um economista que usa a História do que um economista que usa Matemática”, 
pois a História exige leitura constante, a Matemática não. Quando a faculdade 
de economia é composta hegemonicamente por professores defensores dos 
postulados neoclássicos, as disciplinas acima citadas sempre estão ofuscadas 
pela sobra de outras como Econometria, Macroeconomia, etc. 
Embora não seja cobrada com tanta ênfase nos concursos públicos, o 
que reforça a idéia de sua pouca importância, a História Econômica tem o seu 
valor. Sem ela, nem Adam Smith, nem Karl Marx, nem J. Keynes, por exemplo, 
teriam conseguido elaborar suas teorias. Uma boa análise conjuntural ou um 
julgamento crítico da realidade econômica sempre tem por trás economistas 
com largo conhecimento histórico. “É aí, mais do que nunca, há uma 
necessidade de se conhecer História, de se conhecer a vida real, e não a vida 
estilizada” (ALMEIDA, 2001, p. 32). 
 
Nossos economistas começam a entender que o estudo de História 
Econômica não é apenas um exercício intelectual [...] mas uma 
obrigação acadêmica [...] Cada vez mais se compreende que a 
perspectiva histórica abre os horizontes do economista. (FRANCO 
JUNIOR, 1986, p. YY). 
Nossa primeira dificuldade estrutural diz respeito às paixões 
humanas: é difícil encontrar pessoas igualmente apaixonadas por 
Matemática (o reino do atemporal e do estritamente lógico) e por 
História (onde tudo é acontecimento, tudo é único, e nenhuma 
explicação parece suficiente). Mas é impossível realmente entender 
Economia sem amar estas duas ciências irmãs. (PAIVA, 2008, p. 09). 
 
Vários economistas de renome se posicionaram contra esse “monstro 
invertebrado”. Citemos apenas dois: um nacional, o paulista Caio Prado Junior 
(1907-90); e outro estrangeiro, o austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950). O 
primeiro, em seu famoso livro Esboço dos Fundamentos da Teoria Econômica 
dividiu a Ciência Econômica em três “disciplinas fundamentais”, a saber: 
Economia Política, História Econômica e História do Pensamento Econômico. 
O segundo, um dos mais importantes do século XX, afirmou que o economista 
que se preze deveria controlar quatro técnicas, a saber: História Econômica, 
Estatística, Teoria e Sociologia Econômica. A diferença do segundo para o 
primeiro foi que ele se posicionou dizendo que das quatro a mais importante 
era a História Econômica (SHUMPETER, 1964). 
Em relação ao Prêmio Nobel de Economia, temos: 
 
No conjunto dos 24 Prémios Nobel atribuídos até hoje no âmbito da 
ciência econômica, dois deles foram-no a três cientistas cujos 
trabalhos de investigação de maior relevo se desenvolveram 
inequivocamente no domínio da história económica [...] o fato de a 
história económica ter merecido por duas vezes, com o intervalo de 
22 anos, tal destaque, vem confirmar que ela não só é, 
indiscutivelmente, um ramo da ciência económica como é um 
domínio importante desta disciplina (NUNES, 2010, p. 1). [grifo 
nosso] 
 
 Mas o que vem a ser História Econômica? Muitas são as possíveis 
definições. Numa mesma corrente teórica é pode-se verificar conceitos 
diferentes. Cada um deles enfatizando aspectos que consideram mais 
relevantes no estudo histórico. Um economista mais experiente conseguirá 
associar as definições às suas respectivas Escolas, ou quem sabe, aos seus 
autores. Mas a princípio, escrevemo-las, sem maiores compromissos. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA estuda a luta pela riqueza. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é o estudo dos sucessivos Modos de Produção. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA estuda as ações do homo economicus. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA estuda as economias das sociedades passadas. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA estuda como o homem em sociedade resolveu 
seus problemas econômicos no tempo. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é o estudo de como os homens se sustentam na 
história. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA estuda os fatos econômicos individuais ou 
coletivos no tempo. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é o campo da História que prioriza a atividade 
econômica humana sobre as outras atividades. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA mostra como as necessidades humanas foram 
satisfeitas no tempo. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é a área da economia que procura estudar a 
história das instituições econômicas e a maneira como elas têm repercutido na 
sociedade. 
 A HISTÓRIA ECOMÔMICA é um registro das providências tomadas pelos 
povos na luta pela satisfação econômica. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é a história da luta de classes nas mais diversas 
sociedades e tempos. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA estuda as relações sociais que se estabelecem 
entre os homens no decorrer da história quando procuram resolver o problema 
básico da vida: a sobrevivência. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é a narração cronológica dos fatos econômicos. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é a história da pobreza e da riqueza humana. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é a história dos fatos econômicos na sua relação 
com os indivíduos, empresas ou comunidades. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA é o estudo da evolução das forças produtivas, 
em grandes sistemas de longa duração, e de como comunidades e sociedades 
humanas organizaram o arranjo dos recursos materiais destinados à sua 
sobrevivência, desenvolvimento e progresso. 
 A HISTÓRIA ECONÔMICA estuda a evolução das relações econômicas de 
produção, circulação e consumo, sua mutabilidade ou persistência, a partir da 
interaçãode um conjunto de fatores que são específicos no tempo e no 
espaço. 
Muitas outras definições seriam possíveis, mas por ora, essas nos 
bastam. 
A primeira cadeira de História Econômica foi criada em uma 
universidade foi 1893, em Havard (EUA). Na Europa, foi fundada em 1907 no 
Collége de France. No entanto, os estudos nesse campo de pesquisa já 
vinham acontecendo desde a segunda metade do século XIX. Os fenômenos 
econômicos ficaram na ordem do dia depois do impacto da dita Revolução 
Industrial na Europa. 
Em 1845/6, Karl Marx e Friedrich Engles escrevem Ideologia Alemã. 
Estava fundada a interpretação econômica da história, que pretendeu explicar 
a totalidade histórica por meio dos fenômenos econômicos. Em seu livro 
Dezoito Brumário de Luís Bonaparte (1851/2), Marx aplica empiricamente sua 
teoria materialista da história, ao estudar a França, na primeira metade do 
século XIX. A História Econômica Marxista pode ser subdividia, no entanto, não 
é nossa pretensão falar de cada uma delas. 
A Escola Histórica de Economia Política surgiu na Alemanha no final do 
século XIX. Tinha a história como principal fonte de questões econômicas. Era 
contra a elaboração de modelos generalizantes, pois acreditava que o fato 
econômico, por ser histórico, era singular e irrepetível, não podendo, com isso, 
se abstrair dele “leis” que servissem para outros. Acreditava na existência de 
estruturas econômicas, porém bem localizada temporalmente e 
geograficamente. O método utilizado era o empírico, pois o estudo da 
econômica acontecia in lócus e não por meio de modelos. 
Foi na mesma Alemanha, no ano de 1871, onde se criou a primeira 
Revista de História Econômica. Tempos depois, em 1889, o alemão Max 
Weber (1864-1920) publicou sua primeira obra de peso no campo da História 
econômica, o livro A História das Companhias Comerciais na Idade Média. Em 
1902, publicou o clássico Ética Protestante e o Espírito Capitalista. E em 1919, 
escreveu História Geral da Economia. Tais obras foram básicas para o 
surgimento da História Econômica Idealista - aquela que estuda os fenômenos 
econômicos a partir da multicausalidade sociocultural deles. Muitos a inclui 
como uma tendência ou facção da Escola Histórica Alemã de Economia. 
Nesse mesmo período, os fundamentos do que viria a ser chamado de 
História Econômica Positivista também foram lançados. Influenciados por 
Auguste Comte e Émile Durkheim (1858/1917), historiadores procuraram 
estudar os fatos econômicos como fenômenos naturais. O objetivo era 
comprová-los empiricamente através da crítica minuciosa dos documentos e 
depois narrá-los cronologicamente, evitando ao máximo a emissão de juízo de 
valor sobre eles; já que, conforme se acreditava, a função do historiador não 
era analisar ou explicar os fenômenos econômicos. 
Nascida praticamente sob o mesmo paradigma de cientificidade da 
anterior, a História Econômica Neoclássica ou Econométrica, se diferenciou 
dela por tentar explicar os fenômenos econômicos e não somente descrevê-
los. O objetivo era encontrar as “leis” que regiam os fenômenos econômicos. 
Depois de “encontradas”, serviam de base para a elaboração de “modelos 
econômicos”, que geralmente apontavam para um equilíbrio geral. 
Em 1926, foi fundada a cadeira de História Econômica e Social da 
Escola de Economia de Londres (ING) e em 1927, a de História Econômica da 
Universidade de Sorbone (FRA), a partir de então, a disciplina se populariza. A 
crise de 1929 colocou novamente os fenômenos econômicos em evidência. E 
nesse mesmo ano os franceses Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre 
(1878-1956) organizam a publicação da primeira edição da revista Anais de 
História Econômica e Social. A partir da fundação da revista, a disciplina 
ganhou novo fôlego e se popularizou. 
A História Econômica nasce no entremeio de duas Ciências Sociais: a 
História e a Economia. O entendimento que se teve é que a dimensão 
econômica é indissociável ao social, devido ao fato das experiências humanas 
serem vividas integralmente. Qualquer separação delas constitui-se numa ação 
meramente artificial ou pedagógica. 
 
FiGURA 1 
 
A História até então estava preponderantemente voltada para a 
narração dos feitos políticos e militares, dando ênfase aos “grandes 
acontecimentos” e aos heróis nacionais. A Escola dos Annales, como ficou 
conhecida a corrente teórica desenvolvida pelos historiadores ligados à Revista 
Anais de História Econômica e Social, rejeitou a mera narração dos fatos e 
defendeu a interpretação deles a partir de problemáticas oriundas do presente. 
Para isso, incentivou a interdisciplinaridade e a profissionalização da própria 
História enquanto ciência. “O abandono da história política beneficia, portanto, 
o estudo da história econômica” (DOSSE, 2003, p. 77), 
Com o fim de expandir a História para além dos muros das questões 
políticas defendida pelos Positivistas, pesquisadores ligados aos Annales 
fizeram da economia um tema privilegiado. Incentivados tanto pelos assuntos 
materiais oriundos da crise econômica de 1929, quanto pelos avanços da 
quantificação, tornaram-se objetos de estudo: preços, bancos, moeda, jurus, 
salários, demografia, produção, consumo, comércio, etc. 
Com o sucesso das idéias do antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-
2009) no campo das ciências sociais, não ficou difícil para que alguns 
historiadores ligados a elas desenvolvessem a História Econômica 
Estruturalista. Tal história estudou os fenômenos econômicos por meios de 
duas categorias principais: conjuntura – fatores dinâmicos da vida econômica, 
porém momentâneos e factuais, irrelevantes para uma análise mais profunda; e 
estrutura – fatores duradouros, que fogem da aparência conjuntural, e que se 
constituem na “raiz” explicativa dos fenômenos socioeconômicos na longa 
duração. 
Concorrente direto dos estruturalistas, historiadores ligados aos 
Annales, na década de 1950, às sobras do francês Ferdinand Braudel (1902-
1985), desenvolveram a chamada História Econômica Quantitativa. A 
característica básica dela é a utilização de informações quantificadas por meio 
ou de dados matemáticos, equações, balança de pagamentos, estatística, 
econometria, etc. A diferença dela para a História Econômica Neoclássica era 
ênfase ao homem e o pouco interesse pela elaboração de modelos 
econômicos explicativos da realidade. E se diferenciava dos positivistas pelo 
caráter interpretativo de seus estudos. 
O que dificultou o trabalho desses historiadores foi a escassez, a 
imprecisão e a desconfiança das fontes numéricos quando se recuava no 
tempo. A obsessão pelo quantificável acabou limitando o estudo ao passível de 
mensuração. 
 
A verdadeira história quantitativa resultaria assim, na lógica desta 
concepção, de uma dupla redução da história: redução, pelo menos 
provisória, do seu campo à economia, e redução do sistema 
descritivo e interpretativo ao sistema que foi elaborado pela ciência 
social mais rigorosamente constituída nos nossos tempos: a 
economia matemática. (FURET, s/d, p. 60) 
 
 A História Serial, contemporânea das duas últimas, é outra forma de se 
fazer história econômica. Ela não se interessa tanto pelos fatos individuais, 
nem pelo cotidiano. Mas pelos elementos econômicos repetíveis num dado 
período sincrônico. Após a constituição das séries, elas são analisadas por 
comparação, através de métodos matemáticos, de modo a explicar a dinâmica 
das conjunturas. É “a construção de um dado histórico em função de uma 
análise probabilística” (FURET, s/d, p. 63). 
 
A História Econômica Serial desemboca assim na análise de 
conjunturasdiferenciais ou simplesmente afastadas no espaço; 
poder-se-ia dizer: uma geografia da sua cronologia e no exame das 
diferenças estruturais assinaláveis por contradições cronológicas. 
(IDEM, p. 77). 
 
 Houve outra historiografia econômica ligada á Escola dos Annales 
conhecida como História Econômico-social. Vários são os seus diferenciais, 
citemos alguns deles: ênfase no agir econômico do homem no cotidiano e não 
na economia nacional ou nas estruturas; a vida material dos homens como eixo 
temático identificador da disciplina e não meramente a utilização de métodos 
matemáticos; destaque às causas e conseqüências sociais e psicológicas na 
vida material; crença na possibilidade de explicar o presente através do 
passado, a história ainda teria a missão de síntese. Enfim, ela é “preocupada 
com a repercussão dos fatos econômicos da vida social” (BARROS, 2008, p. 
24). 
 
A própria natureza, no seu conjunto, tem uma e economia cuja 
história valeria certamente a pena ser escrita. Mas, entende-se 
geralmente por história econômica a história dos homens, quer seja 
branco, amarelo, escuro ou vermelho, paleolítico, neolítico ou 
industrial. Essa observação pode parecer à primeira vista estúpida 
ou, pelo menos, banal; no entanto, significa que na análise histórico-
econômica, é necessário ter em conta não apenas os dados de 
natureza puramente econômica, mas também as características 
fisiológicas e psicológicas próprias do homem, a sua racionalidade 
bem como a sua irracionalidade e as suas características mentais, 
sociais e culturais, quer a nível individual, quer coletivo. (CIPOLLA, 
1993, p. 13). 
 
 Em 1960, aconteceu o 1º Congresso Internacional de História 
Econômica em Estocolmo. Nessa década, o debate econômico floresceu, a 
economia mundial crescia de forma vertiginosa e o desenvolvimento das 
economias periféricas era um tema corrente. Na década seguinte, o 
estruturalismo entra em descrédito e a crítica a dita modernidade ganha força. 
A crise internacional do capitalismo ocorrida em 1973 concorreu para que a 
economia mantivesse como uma das preocupações principais dos 
historiadores. Em 1979, Fernand Braudel publica Civilização Material, 
Economia e Capitalismo XVI-XVIII (1979), livro de grande repercussão, para 
não citar outros. 
 Foi nesse contexto que vários economistas se interessam pela história, 
fundando nos EUA a New Economic History ou Cliometria. Surgida por volta da 
década de 1960, ela se desenvolve nos anos posteriores e ganha notoriedade 
internacional nos anos 1990, com as publicações dos economistas Robert 
Fogel e Douclass North, ambos laureados com o Prêmio Nobel de Economia. 
Eles aplicaram teorias econômicas e métodos quantitativos, 
econométricos e contrafactuais para explicar a história. O último consiste em 
descrever matematicamente uma situação anterior a uma tomada de decisão 
ou ao surgimento de uma dada inovação tecnológica, para em seguida formular 
hipóteses - projetar e simular conjunturas várias casos a dita decisão ou 
inovação não tivesse acontecido, ou acontecido de outra forma ou em 
circunstâncias diferentes. É a ênfase ao custo de oportunidade na análise da 
evolução econômica. Alguns destacam que a New Economic History é apenas 
mais uma tendência dentro da chamada História Econômica Neoclássica. 
 Nosso objetivo aqui foi falar um pouco sobre a importância da História 
para os Economistas, valorizar a disciplina História Econômica e, de forma 
resumida, apresentar algumas das tendências teóricas ligadas a ela. Pelo 
menos duas mais duas mereciam destaque, a História das Empresas e a Nova 
Economia Institucional, mas a abordagem dela ficará para outra oportunidade. 
Há quem diga que a História Econômica hoje “agoniza” (FRAGOSO, 1997), 
outros que ela está em pleno processo de independência acadêmica 
(FALEIROS, 2010). Não entraremos no mérito da discussão, apenas queremos 
terminar esse texto afirmando que a História Econômica muito tem a contribuir 
para a formação do Economista e que, por isso, merecia mais destaque. 
Abaixo, uma síntese da historiografia econômica. 
 
FIGURA 2 – (FALEIROS, 2010, p. 254) 
 
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