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1 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Noções de cálculo vetorial e tensorial Variáveis escalares, vetoriais e tensoriais Os meios contínuos (sólidos, líquidos, gases) (MC) ocupam parte do espaço físico, isto é os MCs ocupam um certo domínio que pode ser um volume, uma superfície ou uma linha e que são domínios respectivamente a 3, 2 e 1 dimensão (3D, 2D, 1D), ou seja estão contidos em R3, R2 ou R respectivamente. Assim a sua caracterização ponto a ponto é representada por uma função real de variável real f: Rp onde RP é o contradomínio real a p dimensões. Chama‐se a esta função um campo real de variável real. A cada ponto P do meio contínuo corresponde uma partícula de meio contínuo que é em si um sistema caracterizado por várias grandezas físicas tais como a pressão p, a temperatura T (escalares) , a velocidade v (vetor), o tensor das tensões ˆ (tensor de 2ª ordem), que irá ser explicado mais tarde. Os escalares são caracterizados por um número real, os vetores são caracterizados por: ponto de aplicação (no caso de vetores aplicados contrariamente a vetores livres), direcção, sentido e módulo (amplitude ou comprimento). Os tensores são generalizações dos vetores. Os tensores de 2ª ordem podem ser encarados como um agrupamento de p vetores de dimensão p. Vetores Um vetor no espaço vetorial Rn pode ser representado pela seguinte combinação linear. 1 n i i i v v e onde 1 2, ,..., ne e e constituem uma base (conjunto de n vetores linearmente independentes). Consideremos o caso mais simples em que 1 2, ,..., ne e e são normados (vetores de norma unitária ou seja versores) e ortogonais entre si. Os versores constituem assim uma base ortonormada (bon): 0, 1,i j se i j e e se i j onde representa o produto interno. A norma quadrática vem: 2 1ie Neste caso (de uma bon), as componentes do vetor v exprimem‐se de forma mais simples: ( 1,..., )i iv v e i n Dem. Consideremos 1 n j j j v v e e tomemos o produto interno com ie . Graças à ortogonalidade e normalidade, Obtem‐se assim cada componente na forma: 2 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires 1 0 n n i j i j j i j i i i i i j j i v e v e e v e e v e e v v qed (quod erat demonstrandum) cqd (como queriamos demonstrar) A noção de expansão de um vetor numa bon pode generalizar‐se para funções, isto é funções podem ser expressas como combinações lineares de funções de norma unitária e ortogonais entre si. Este tema é assunto da Análise Funcional. Tensores de 2ª ordem Os escalares não têm componentes (zero componentes), são por isso tensores de ordem zero. Os vetores são expressos por componentes que fazem percorrer um índice, são por isso tensores de ordem 1. Os tensores de 2ª ordem são expressos em termos de componentes caracterizadas por de 2 índices i,j=1,…,n. Da mesma forma que para os vetores, um tensor Aˆ (usou‐se o acento circunflexo sobre A para diferenciar do símbolo de vetor), é representado na forma: , 1 ˆ n ij i j i j A A e e onde Aij é a (i,j)‐ésima componente que multiplica a díada i je e A díada é obtida pelo produto exterior de ie por je ou seja i j i je e e e .A díada é simplesmente visto como a associação de 2 versores O produto exterior é não comutativo isto é: i j j ie e e e . O produto exterior de 2 versores pertence a 2( )n , desse modo a operação binária de produto exterior é não fechada, isto é o produto exterior produz um resultado que não está no mesmo espaço dos vetores isto é Rn, por isso o produto se diz exterior. Um tensor de 2ª ordem é formalmente representado por uma matriz quadrada de n2=nxn componentes. 3 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Noção intuitiva de tensor de 2ª ordem Um tensor de 2ª ordem é representado por n vetores de n componentes ou seja, pertencentes a Rn. Para exemplificar consideremos n=3. 11 12 1321 22 23 1 2 3 31 32 33 ˆ A A A A A A A a a a A A A onde os vetores coluna 1 2 3 ( 1, 2,3) i i i i A a A i A formam a matriz associada A. Os tensores de 2ª ordem são úteis para representar grandezas físicas que dependem da orientação. Por exemplo a temperatura num ponto P não depende da orientação do termómetro e por isso não é um vetor. Já por exemplo a resistência eléctrica de um material depende da orientação do fluxo de cargas eléctricas. A caracterização completa da resistência eléctrica é dada pelo tensor de resistividade. Considerarmos um ponto P num meio contínuo em torno do qual está centrado um cubo infinitesimal. Este cubo tem 3 pares de faces opostas entre si (ver figura) e ortogonais a cada versor 1 2 3, ,e e e da bon. Assim a face de cima é ortogonal a 1e , a face da direita é ortogonal a 2e e a face de cima é ortogonal a 3e . Generalizando para um hipercubo em R4, teríamos 4 pares de hiperfaces opostas (cubos em R3), ortogonais aos 4 versores da base. Tem‐se assim n=3 faces, cada uma correspondente a um versor ie da bon. Sobre cada face é aplicado o vetor ia correspondente. Tensor Delta de Kronecker ˆ O tensor ˆ é um tensor de 2ª ordem que corresponde à matriz identidade de nxn componentes, isto é: 0,ˆ 1ij se i j se i j Formalmente tem‐se: 1 0 ....0 0 1 ....0ˆ . 0 0 ..... 1 4 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Transposto de tensor de 2ª ordem (Para simplificar a notação eliminemos o símbolo ^ de tensor a menos que seja extritamente necessário) Definição: Seja A um tensor de 2ª ordem expresso em termos de díadas numa bon. Define‐se o seu transposto AT a partir da definição operacional: ( , 1,... )Tij jiA A i j n , ou a partir da troca de índices. O transposto de um tensor é representado pela matriz transposta. Tensor de 2ª ordem simétrico e anti‐simétrico Um tensor de 2ª ordem A é simétrico se AT=A ou seja Aij=Aji (tal exige que a matriz triangular inferior iguale a matriz triangular superior) Um tensor de 2ª ordem A é anti‐simétrico se AT=‐A ou seja Aij=‐Aji (tal exige que os elementos da diagonal sejam nulos e que a matriz triangular inferior seja simétrica da matriz triangular superior). Teorema: Para qualquer tensor de 2ª ordem A tem‐se a decomposição única numa soma de um tensor simétrico com um tensor anti‐simétrico: 1 parte simétrica 2 1 parte anti-simétrica 2 T s s a T s A A A A A A onde A A A Exemplo: 1 4 8 1 2 6 2 6 10 ; 4 6 4 ; 6 4 2 8 10 2 1 3 1 0 1 7 3 6 7 ; 1 0 3 1 7 2 7 3 0 T s a A A A A Vetor axial associado a um tensor de 2ª ordem em R3 Seja A um tensor anti‐simétrico de ordem 2 e dimensão 3. A é representado por 32=9 componentes das quais apenas 3 são não triviais, ou seja o tensor fica totalmente caracterizado por 3 componentes que são também as componentes do vetor axial associado a. escreve‐se então: ˆa ax A Assim A e a representam formalmente o mesmo objecto matemático. A componente ai (i=1,2,3) do vetor associado é dada por: i jka A 5 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires onde i,j,k constituem uma permutação cíclica da sequência (1,2,3). Uma permutação cíclica é obtida do seguinte modo. Imagine‐se que (1,2,3) estão dispostos regularmenteao longo de uma circunferência. Imagine‐se que os índices rodam todos de uma posição no mesmo sentido (empurram‐se todos de uma posição no mesmo sentido). Tal é uma permutação cíclica simples. Uma permutação cíclica é uma sequência de permutações cíclicas simples. Assim as permutações cíclicas de (1,2,3) são: (3,1,2) e (2,3,1) tal como indicado na figura anexa. Assim tem‐se então: 1 2,3 3,2 2 3,1 1,3 3 1,2 2,1; ;a A A a A A a A A . O tensor A e o seu vetor axial a ficam então arranjados na forma: 3 2 1 3 1 2 32 1 0 0 ; 0 a a a A a a a a aa a Onde se assume que a é um vetor coluna. Tensor de 3ª ordem e superiores Um tensor de 3ª ordem necessita de 3 índices para ser explicitado. Por exemplo: , , 1 n ijk i j k i j k C C e e e onde C é representado por uma combinação linear de tríadas (produto exterior de um versor por uma díada ou entre 3 versores). Um tensor de ordem p necessita de p índices sendo representado por uma combinação linear de p‐tuplos (produtos exteriores de p versores). Um tensor de ordem p e dimensão n é um objeto pertencente a ( )pn ou seja tem np componentes. Produto exterior de dois tensores Seja C e D tensores de ordem a e b respectivamente. Assim numa bon têm‐se as expansões: 1 1 1 1 1 1 ... ... ,..., ,..., ... ; ... a a b b a b n n i i i i j j j j i i j j C C e e D D e e 6 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires O produto de C por D é um tensor de ordem a+b e cujas componentes são todos os possíveis produtos (entre escalares) das componentes de C pelas componentes de D. Assim o respectivo produto exterior vem dado por: 1 1 1 1 1 1 ... ... ,..., ,..., ... ... a b a b a a n n i i j j i i j j i i j j E C D CD C D e e e e . Em termos de componentes tem‐se: ... ... 1 11 1 ... ...1 1 ... ...i i j j a ba b i i j ja b i i j jE CD C D . O produto exterior aplica RaRb em R(a+b). O produto exterior é não comutativo ou seja CDDC visto que o arranjo dos índices em CD é diferente do arranjo dos índices em DC. Exemplo 1 Produto exterior de 2 vetores (tensores de ordem 1): ;ij i j ij i jij ij ij ijE a b ab a b F b a ba ba É trivial verificar que o transposto de ab é ba . O vetor axial associado à parte anti‐simétrica do tensor ab é o produto externo de a por b . Em termos de notação tem‐se: 2 a a b ax ab ba ax ab A demonstração é fácil de obter. De facto a componente ( , ) ( , )( ) ( ) 2 ( )k i j i j i j a i ja b a b b a ab ba ab onde (i,j,k) é uma permutação cíclica de (1,2,3) tendo os valores possíveis de (i=1,j=2,k=3); (i=2,j=3,k=1); (i=3,j=1,k=3). Exemplo 2 Produto exterior de vetor a por tensor de 2ª ordem B: ˆ ˆijk i jkijk ijkE a B aB a B Produto interior ou contraído de dois tensores Seja C e D tensores de ordem a e b respectivamente. O produto exterior CD é dado por: 1 1... ...1 1 ... ...a bi i j ja b i i j jCD C D . O produto exterior é um tensor de ordem a+b ou seja recorre a a+b índices. O produto interior recorre à noção de contracção de índices. Escolhe‐se assim um par de índices. Estes 7 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires podem pertencer ambos a C ou a D ou ser um deles de C e o outro de D. Depois toma‐se a soma ao longo de todos os valores possíveis dos índices contraídos ou repetidos ou seja para os valores 1,2,…,N=dimensão do espaço. Chama‐se a essa operação de contracção de índices, uma vez que o objecto final será um tensor com uma ordem subtraída de 2 por cada contracção. Por cada escolha de par tem‐se um possível produto interior. Se os índices contraídos forem adjacentes (último de C com primeiro de D), então o produto interior diz‐se produto interno e representa‐se por C D . Deste modo é possível generalizar a noção de produto interno para objectos para lá de vetores. Podem executar‐se mais de uma contracção de índices. A ordem tensorial do produto interior de C por D com r contracções é a+b‐2r. Vamos dar exemplos de produtos interiores entre um vetor c (tensor de 1ª ordem, a=1) por uma matriz D (tensor de 2ª ordem, b=2). Existem 3 possíveis produtos interiores com uma contracção. Todos esses produtos interiores tem ordem a+b‐2r=1+2‐2x1=1 ou seja o resultado final é um vetor (tensor com um só índice). Assim: 1 1 1 ( 1º 1º ) ( 1º 2º ) ( ) ( 1º 2º ) n T i ij jj j i n T i ji jjj i n j ii j jj i c D c D D c w contracção do índice dec com o índice de D c D c D D c u contracção do índice dec com o índice de D c D cTr D v c contracção do índice deD com o índice de D onde Tr(B) é o traço de B ou seja o somatório das componentes da diagonal da matriz B. O produto algébrico de uma matriz B por um vetor a é um produto interior. Na notação algébrica, a representação DC do produto de matriz D por vetor c, representa na notação tensorial o produto interior D c . A álgebra tensorial permite representar objectos mais ricos que a álgebra de matrizes e vetores. Mostremos um exemplo com 2 contracções. , 1 ( : 1º . 1º 2º 2º ) n T ij ij i j C D C D contracções índ deC com deDe de C com de D O produto contraído tem 2+2‐2x2=0 índices ou seja trata‐se de um escalar. Convenção de Einstein (CE) ou dos índices mudos Sempre que há contracção de índices há que representar o símbolo de somatório que está implícito. Ora Einstein inventou uma convenção que omite o símbolo de somatório economizando assim a escrita. Essa convenção diz: Sempre que haja índices representados pela mesma letra (ex. i), admite‐se (a menos que se diga o contrário) que esses índices contraiem tomando‐se portanto o somatório para todos os valores possíveis desses índices (de 1 a n). O símbolo de somatório é omitido uma vez que é redundante quando se admite a convenção de Einstein. Exemplo 1 1 1 n n i ij p pj i ij p pj i p a B a B a B a B 8 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Na expressão anterior, i e p são índices mudos uma vez que estes são índices de somatório enquanto que j é um índice fixo. Exemplo 2 1 n ip ij ip ij pj i A B A B C Neste caso i é índice mudo, (p,j) são índices fixos. Exemplo 3 1 1 n n i ii p pp i ii p pp i p a B a B a B a B i ou p constituem um índice mudo. Aniquilação do tensor Delta de Kronecker Quando se toma o produto interior de um tensor A com o tensor Delta de Kronecker , este deve desaparecer sendo o índice contraído de A, substituído pelo índice de que não contrai. Por exemplo: ;ip pq iq ijk jq kq iqk kq iqq ikkA A T T T T Produto interno entre dois vetores O produto interno de a por b é dado por i ia b ab (somatório dos produtos das componentes duma bon). Este é o chamado produto interno canónico ou cartesiano. Tal permite definir a norma, comprimento ou amplitude de um vetor na forma: i ia a a a a . O ângulo entre dois vetores pode igualmente ser obtido através do seu co‐seno: cos , 1,1a ba b a b . Outros produtos interiores Seja a um vetor e T, R tensores de 2ª ordem em Rn. Um dos possíveis produtos interiores é ˆ ˆa T R . Este tensor contraídotem ordem p dada pela soma das ordens dos tensores (1+2+2), subtraída de duas vezes o número de contracções (duas neste caso). Assim p=1+2+2‐2x2=1, tratando‐se portanto ˆ ˆa T R de um vetor. Assim, usando a convenção de Einstein, a sua i‐ésima componente é: 1 1 1 1 ˆ ˆ n n n n j jp pi j jp pi s sk ki s sk ki k ks sii j p s k a T R a T R a T R a T R a T R a T R , onde há duas contracções de índices uma vez que há o par de índices j (ou s) e o par de índices p (ou k). Os índices contraídos são mudos e podem ser representados por letras diferentes, desde que não usem 9 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires outras letras já usadas na expressão. Tome‐se atenção que quando há vários pares de índices contraídos se tem de usar uma letra diferente para cada um deles. Por exemplo j jj jia T R refere‐se à soma correndo todos os valores de j. Esse produto contraído é diferente de ˆ ˆa T R . Duplos produtos interiores entre tensores de 2ª ordem Tem‐se os dois possíveis duplos produtos interiores entre tensores com a seguinte convenção de escrita: : ; : :T Tij ji ij ijT R T R T R T R T R T R No primeira expressão a contracção é executada nos índices anti‐homólogos (1º com 2º, 2º com1º); na segunda é executada nos índices homólogos (1º com 1º, 2º com 2º). Usando essa convenção pode exprimir‐se o traço de um tensor (soma dos elementos da diagonal) na forma: 11( ) : ...ij ij ii nnTr R R R R R R R . Em particular o traço do tensor Delta de Kronecker é Tr()=n=dimensão do espaço Rn. Tensor alternante ou de Levi‐Civita O tensor de Levi‐Civita ou alternante é um tensor de 3ª ordem (p=3) em R3 (n=3). Podem formalmente definir‐se generalizações do tensor de Levi‐Civita com p=n (ex. tensor de 2ª ordem em R2, tensor de 4ª ordem em R4). O tensor tem a seguinte forma: 1 ( , , ) (1,2,3) 1 ( , , ) (1,2,3) 0 2 ( , , 1, 2,3) ijk se i j k são diferentes e constituem uma permutação par de se i j k são diferentes e constituem uma permutação ímpar de se ou mais índices são iguais i j k Definamos permutação par e ímpar. Admitamos que se tem n índices dispostos ciclicamente. Expliquemos o caso com n=5 na figura. Uma permutação simples consiste numa troca de índices adjacentes. Assim P1 resulta de uma permutação simples a partir de P0 e P2 resulta de duas permutações simples a partir de P0. É possível chegar a qualquer permutação dos n índices através de permutações simples (troca de lugares adjacentes). Seja m() esse número, a permutação diz‐se par se m() é par e ímpar se m é ímpar, o que caracteriza a paridade da permutação. O valor de (‐1)m() é designado por assinatura da permutação valendo 1 ou ‐1 conforme seja par ou ímpar. 10 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Mostra‐se que as permutações cíclicas (todos os índices avançam de uma posição) são pares. No caso n=3, as permutações pares de (1,2,3) são: (1,2,3), (2,3,1) e (3,1,2), donde 1,2,3= 2,3,1= 3,2,1= 1. As permutações ímpares de (1,2,3) são: (2,1,3), (1,3,2) e (3,2,1) e portanto 2,1,3= 1,3,2= 3,2,1= ‐1. Todas as outras 21=np‐ 6=27‐6 componentes do tensor de Levi‐Civita são nulas. As propriedades do tensor de Levi‐Civita são as seguintes: 1) ijk jki kij ikj jik kji isto é uma permutação par dos índices deixa invariante ; uma permutação ímpar produz o simétrico de . 2) A contracção de 2 de qualquer dos seus 3 índices é nula ou seja 0iik kii iki . Esta propriedade é trivial porque os termos da soma que está implícita na contracção são todos nulos. 3) Regra Épsilon‐Delta. Trata‐se de uma fórmula que exprime o produto interior de dois tensores alternantes com uma contracção. Tem‐se pois 2 índices mudos e 4 índices fixos: qrp stp pqr pst qpr spt qs rt qt rs O resultado é uma soma de produtos de Deltas de Kronecker. No primeiro produto de Deltas tem‐ se (q,s) e (r,t) ou sejam respectivamente os primeiros e os segundos índices de cada . No segundo produto de Deltas tem‐se (q,t) e (r,s) ou sejam respectivamente (o primeiro e segundo) e (o segundo e o primeiro) índices de cada . O tensor alternante é muito importante na definição de produto externo ou vetorial entre vetores, de produto misto e triplo de vetores e ainda na definição de determinante de uma matriz ou tensor de 2ª ordem. 11 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Produto externo ou vetorial entre vetores Sejam 2 vetores a e b de R3. O seu produto externo ou vetorial é uma operação binária fechada, isto é cujo resultado está também no espaço de partida (R3) e é representado por: a b e que possui as seguintes propriedades: 1) a b é ortogonal (perpendicular) a a e b . 2) Tem sentido dado pela regra do parafuso ou do saca‐rolhas (sentido que o parafuso de rosca direita executa ao progredir no sentido de a (primeiro vetor do produto) para b (segundo vetor do produto). Como consequência a b b a . 3) Módulo sin ,a b a b a b onde é área do paralelogramo de arestas definidas por a e b . Recorrendo ao tensor alternante , o produto externo é dado pelo produto interior de com a e b com duas contracções de índices na forma: ipq p qia b a b As propriedades 1 e 2 vêm triviais. Na verdade o produto de a b com a é nulo sendo dado por: (pela prop. 1 de ε) (por i,pserem índices mudos) (prop. comutativa da multiplicação)=0 (porquevem igual aosimétrico) i ipq p q i piq p q ii ipq i q p ipq p q i a b a a b a a b a a b a a b a O produto externo de dois vetores pode ser obtido através da notação de determinante: x y zx y z y z z y x z x x z y x y y x z x y z e e e a b a a a a b a b e a b a b e a b a b e b b b 12 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Produtos entre vetores e tensores de 2ª ordem Seja a um vetor e bc o produto exterior de dois vetores (ex. díada). Os produtos interno e externo entre a e bc vêm definidos de forma coerente como: ;a bc a bc a b c a bc a b c Produto misto entre 3 vetores de R3 O produto misto entre 3 vetores a , b e c é um escalar obtido pelo produto interno de um desses vetores pelo produto externo dos dois restantes. Assim tem‐se o produto misto: ipq i p qa b c b c a c a b a b c Este produto é invariante para uma permutação cíclica dos três vetores mudando de sinal para uma permutação ímpar. Tem‐se a b c V que é o volume V do paralelogramo rectângulo definido pelos três vetores (vide figura). Produto triplo O produto triplo de 3 vetores é o produto externo de um deles com o produto externo dos dois restantes. O produto triplo pode exprimir‐se através de produtos internos graças às propriedade Épsilon‐Delta de . Tem‐se assim o produto triplo: a b c a c b a b c Dem. A componente i do produto triplo é: (def. de d) (prop. ε-δ) (prop. distributiva) (aniquilaçãodeδ) ikl k l ikl k lpq p qii ikl lpq k p q lik lpq k p q ip kq iq kp k p q ip kq k p q iq kp k p q q i q p b i i a b c a d a d a b c a b c a b c a b c a b c a b c a b c a b c a c b a i i b c a c b a b c i donde sai o resultado. 13 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Determinante de tensor de 2ª ordem Um tensor A em R3 é representado por matriz 3x3 que é formalmente idêntico à linha de 3 vetores coluna 1a , 2a e 3a ou seja 1 2 3, ,A a a a . O determinante da matriz A é o produto misto 1 2 3a a a e representa (a menos de um sinal) o volume do paralelogramo definido pelos três vetores. Tem‐se assim o determinante: 1 2 3 1 2 3det( ) det( ) T ijk i j k ijk i j kA A A A A A A A A O determinante do tensor transposto é idêntico devido às propriedades de . Pode obter‐se o determinante de um tensor de 2ª ordem em Rn recorrendo ao tensor de Levi‐Civita de n‐ésima ordem em Rn e que fornece a assinatura de uma permutação genérica de n índices tal como no caso em n=3. Tem‐se assim: 1 1,... ,1 , det( ) ... n ni i i i n A A A A No caso n=2 o tensor alternante é dado por uma matriz 2x2: 11 12 21 22 0 1 1 0 donde o determinante de A é: 11 12 1 2 11 11 12 21 21 12 12 11 22 22 21 22 21 22 21 12 11 22 det ij i j A A A A A A A A A A A A A A A A A A A Vetor axial associado Seja um tensor A de 2ª ordem em R3. Das 9 componentes, 3 são nulas sobre a diagonal, e das restantes 6 apenas 3 são independentes sendo as outras simétricas das primeiras. Desse modo o tensor A fica totalmente caracterizado por um vetor a=ax(A) que é o vetor axial associado cujas componentes são dadas pela fórmula: 1 2i ipq pq i a A ax A Se A é simétrico então o vetor formado pela operação anterior é nulo devido às propriedades do tensor alternante. A fórmula anterior é equivalente a: ; ( , , ) permutação cíclica de (1,2,3)pq ipq i pqi iA a a i p q a qual permite obter o tensor original a partir do vetor axial em termos indiciais. 14 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Cálculo diferencial e integral de campos tensoriais cartesianos em Rn (Usa‐se a convenção de Einstein a menos que se diga o contrário) Qualquer ponto Q do espaço Rn pode ser descrito de forma unívoca pelas coordenadas cartesianas 1,..., nx x . A base de versores ortonormados (bon) é : 1,..., ne e , sendo cada versor ie tangente à i‐ésima linha coordenada, na qual apenas ix varia deixando invariantes todas as outras coordenadas ( )jx j i . Desse modo, qualquer deslocamento vetorial infinitesimal dr é expresso na forma: i idr dxe Poderemos definir sobre um domínio arbitrário de Rn um campo tensorial de ordem p ou seja a uma aplicação: ( ): pn nT R R em que a cada ponto Q faz corresponder um tensor de ordem p. São exemplos em mecânica dos meios contínuos. Os campos escalares da pressão, temperatura, densidade (p=0); os campos vetoriais da velocidade, aceleração (p=1), campos tensoriais das tensões, da taxa de deformação (p=2). O campo T admite‐se contínuo e com derivadas contínuas até uma certa ordem, isto é a ordem necessária para as aplicações. Estas propriedades permitem a aplicação do cálculo diferencial sobre campos de tensores. A integração do campo T em subdomínios de Rn é também necessária e útil em certas aplicações. Por exemplo o comportamento mecânico integrado de um fluido exige a integração de campos tensoriais. 15 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Noção de Gradiente e Diferencial Consideremos um campo tensorial de uma certa ordem p, ( ) ( )T Q T r , aplicado no ponto Q de vetor posição r em relação à origem do sistema de coordenadas. Os versores nos quais se exprime T são os versores fixos da base cartesiana. Vamos exprimir a variação infinitesimal dT num pequeno deslocamento dr : 1 n i i ii i T TdT dx dx x x A variação dT pode exprimir‐se recorrendo ao operador gradiente. Um operador é uma aplicação que converte uma função noutra função. Por exemplo a derivada é um operador porque converte uma função na sua função derivada. O operador gradiente é um operador tensorial de ordem 1 ou seja tem a mesma estrutura que um vetor. Assim, em coordenadas cartesianas definimos o operador gradiente na forma: 1 operador gradiente ou NABLA n i i ii i grad e e x x O produto interno do deslocamento infinitesimal dr com o operador gradiente fornece o operador diferencial d : 1 i i j i i j j j n i ij i i ij i i d dr dx e e dx e e x x dx dx dx x x x A derivada dirigida segundo uma certa direcção l, orientada segundo o versor lé dada pelo produto interno de l com o operador gradiente ou seja: l i i dd l l x dl onde dl é o deslocamento medido ao longo da direcção orientada l. Em particular, se aplicarmos esse operador a T vem: l dTd T dl ou seja a taxa de variação de T ao longo da direcção orientada l. 16 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Gradiente de um campo escalar Consideremos um campo escalar diferenciável ( )T r . O lugar geométrico T dos pontos onde T =T0 =constante é um domínio (variedade) com dimensão n‐1, sendo n a dimensão do espaço total. Chamemos a esse domínio T de iso‐domínio T (o prefixo iso significa constante). Por exemplo em R3 os iso‐domínios são iso‐ superfícies (duas dimensões). Em R2, os iso‐domínios são iso‐linhas (uma dimensão). Ao longo dos iso‐ domínios T não há variação do campo T. Calculemos a variação dT ao longo de um deslocamento ( )dr dr vers dr dr l onde 0dr é o comprimento desse deslocamento e l o seu versor. dT dr l T Esta expressão permite mostrar as seguintes propriedades do gradiente de um campo escalar. 1) O gradiente de T é perpendicular aos iso‐domínios de T. Na verdade se o versor l for tangente aos iso‐ domínios de T, a variação dT=0 ou seja o produto interno 0l T o que significa que o iso‐ domínio de T é ortogonal a T . 2) A máxima derivada dirigida positiva de T (máxima taxa de variação espacial positiva de T verifica‐se na direcção e sentido do gradiente. Na verdade tomando l vers T tem‐se: 0dT dr T . Assim ~ /T T r onde r é a distância, medida na perpendicular entre iso‐domínios em que difira de 0T . Deste modo quanto menor a distância entre iso‐domínios (iso‐superfícies, isolinhas), maior o módulo do gradiente de T. O campo escalar T fica totalmente caracterizado pelo gráfico dos iso‐ domínios. 17 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Gradiente de um campo tensorial cartesiano Seja T um campo tensorial de ordem p1 em Rn (exemplos: um campo vetorial, um campo de tensores de 2ª ordem). Um campo tensorial é composto de np campos escalares e portanto poderemos calcular o gradiente e os iso‐ domínios de cada uma das np componentes. O gradiente do tensor T de ordem p é assim um tensor de ordem p+1 que é formado pelo gradiente (vetorial) de cada uma das np componentes escalares. Tendo em conta que os versores da base em que se exprime T são cartesianos e fixos (contrariamente ao que sucede em coordenadas curvilíneas em geral), tem‐se: ji j j i j i i T T e T e e e x x Note‐se a aplicação da Convenção de Einstein. Para um tensor T de 2ª ordem, o seu gradiente é um tensor de 3ª ordem: jki jk j k i j k i i T T e T e e e e e x x A variação infinitesimal dT de um tensor de ordem p é dada, tal como para o caso escalar por: dT dr T 18 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Operador divergência de tensores cartesianos O produto interno entre tensores permite construir o operador de divergência, muito útil em cálculo diferencial e integral em Rn. Assim, em coordenadas cartesianas, define‐se o operador divergência aplicado a um tensor T cartesiano de ordem p1 na forma: 2 2 ...div ... p pi i ii i i T T e e T x onde se executa a contracção do índice da derivada com o primeiro índice da esquerda de T. O resultado é um tensor de ordem p‐1. Assim a divergência de um campo vetorial é um campo escalar, a divergência de um campo tensorial de 2ª ordem é um campo vetorial etc. Por exemplo em R3 com coordenadas cartesianas (x,y,z), a divergência de um campo vetorial vem: com x y z u v wdiv v v ue ve we x y z onde , ,x y ze e e são os versores associados às direcções orientadas x,y,z respectivamente. Um campo tensorial de divergência nula diz‐se solenoidal ou seja em que 0div T Operador Laplaciano O operador Laplaciano define‐se como a norma quadrada do operador gradiente ou seja o produto interno do operador gradiente por ele próprio. Tem‐se então o Laplaciano de um tensor T ordem p0 (escalar, vetor, tensor): 1 2 1 222 ...Lap ... p pi i i i i i i i T T T e e e T x x Por exemplo os Laplacianos de um escalar e de um vetor x y zv ue ve we em R3 vêm respectivamente: 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2Lap ; Lap v v vv x y z x y z 19 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Operador Laplaciano iterado Em algumas aplicações nomeadamente para a modelação do atrito em mecânica de fluidos, usa‐se o laplaciano iterado (ex. laplaciano do laplaciano). Assim tem‐se o operador bi‐harmónico para a duplicação do laplaciano: 1 2 1 22 24 ...Lap Lap ... p pi i i i i i j j i i T T e e e T x x x x Em coordenadas (x,y,z) e para o caso de um escalar tem‐se: 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2Lap Lap x y z x y z Operador rotacional de tensores cartesianos O rotacional (rot ou curl em alguma literatura inglesa) de um tensor T de ordem p1 em Rn recorre ao produto externo em Rn e portanto ao tensor alternante de ordem n em Rn e à operação de produto externo. O rotacional de T é também um tensor de ordem T. Rotacional em R3 Usa‐se o tensor alternante em R3 ou o tensor de Levi‐Civita. 2 2 ...rot ... p pk i i kjs si i j T T e e e T x Pode assim definir‐se o rotacional de um campo vetorial e o rotacional de um campo tensorial. Um campo tensorial de rotacional nulo diz‐se irrotacional ou seja rot 0T . Em particular o rotacional é de um campo vetorial em coordenadas cartesianas (x,y,z) é: rot com x y z x y z x y z e e e w v u w v uv e e e x y z y z z x x y u v w v ue ve we 20 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Rotacional em R2 O equivalente ao rotacional em R2 é um operador vetorial aplicado ao campo escalar na forma: x y z x y e e e e e y x x y Identidades entre operadores diferenciais Usando as propriedades dos operadores divergência, rotacional, do produto externo, interno, triplo e misto, é possível obter várias entidades entre operadores que são úteis em cálculo diferencial integral em R3 nomeadamente em mecânica dos meios contínuos. Tem‐se então para um campo escalar arbitrário e campos vetoriais ,A B : 2 3 1: ( ) 0 2 : ( ) 0 3: (n=2 em R , n=3 em R ) 4 : 0 5: 6 : 7 : 8 : 9 : rot grad A div rot A r n r A A A A A A A B B A A B A B A B B A A B B A A B A B B A 10 : 11: 112 : (decomposição de Weber) 2 B A A B A A A A B A B A B A B A A A A A A 21 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Demonstrações de algumas Identidades entre operadores diferenciais (Recurso ao cálculo tensorial) Demonstração de: A B A B B A B A A B . O produto triplo A B pode expandir‐se como: ( aplica-se aos dois vectores)B A A B Usando a derivada do produto em que se deriva um dos vetores de cada vez tem‐se: ;B A A B B A A B B A A B donde se obtem o resultado. Demonstração de: A A A ou ( ( )) ( ( )) ( )rot rot A Grad Div A Lap A Desenvolvamos a componente i de A : 2 2 2 2 2 (Regra Épsilon-Delta) (Aniquilação de Deltas) s ipq ipq qrsqi p p r s s s ipq qrs qip qrs ir ps is pr p r p r p r p pi p i r r i p AA A x x x A A A x x x x x x A AA A x x x x x x , i ii A A i Como a igualdade se verifica para cada componente i então obtem‐se a igualdade para a totalidade do vetor. 22 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Cálculo Integral de tensores cartesianos No cálculo integral em Rn são necessários calcular vários tipos de integrais tais como o fluxo de um campo tensorial através de uma superfície orientada e a circulação ao longo de uma curva fechada. Fluxo de um campo tensorial através de uma superfície orientada Consideremos uma superfície orientada no espaço R3 (superfície curva) ou no espaço R2 (superfície plana) limitada pela curva fronteira . Em R3, uma superfície orientada é aquela que tem dois lados bem definidos e não é possível através de um percurso ao longo da superfície passar de um lado para o outro da superfície. Existem superfícies não orientadas tais como a fita de Möbius, isto é que têm apenas um lado como mostra a figura. A curva fronteira de é em geral uma linha torsa se R3 e plana se R2. Tendo essa superfície dois lados bem definidos, poderemos definir um ‘lado de dentro’ e o correspondente ‘lado de fora’. O elemento de superfície orientada define‐se como: d nd onde d é a área infinitesimal (positiva) e n é o versor normal que aponta do lado (convencionado) de dentro para o lado de fora. O versor tangente t é o versor com o sentido directo, tangente à curva orientada . O elemento de arco ao longo de é dl. O sentido directo (anti‐horário) é aquele que deixa a superfície à sua esquerda. O versor u é tangente à superfície e perpendicularà curva fronteira . Têm‐se as relações: ;u t n t n u 23 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires O fluxo de um campo tensorial T em R3 (ou R2), de ordem p1 através da superfície orientada (curva ou plana) é o integral: dT n T Em particular a superfície pode ser a fronteira de um certo domínio tridimensional R3. Nesse caso a superfície = é uma superfície fechada e o seu bordo é o conjunto vazio (não tem bordo). Aplicação: Cálculo da quantidade de massa total (ou parcial) escoada por unidade de tempo e que atravessa a superfície orientada . O campo T e o respectivo fluxo são neste caso: ; dT v v n v onde é a densidade do fluido (ou densidade parcial de um certo tipo de massa específico, ex: sal, vapor) e v é a velocidade do fluido. A quantidade v tem dimensões físicas de kg/s (massa/tempo) e na terminologia dos fluidos chama‐se débito de massa. Se a velocidade v for tangente em cada ponto à superfície, então 0n v e o débito é nulo ou seja a massa não atravessa , verificando‐se a condição de fluxo nulo ou de impermeabilidade total (ou parcial a um certo tipo de massa ou espécie química). 24 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Fluxo no bordo de uma superfície orientada A superfície orientada (curva ou plana) tem como fronteira a curva orientada . Esta curva tem como versor tangente t , versor normal exterior u e elemento de arco dl. Define‐se o fluxo de um campo tensorial T (de ordem p1) através da curva como: dT l u T Aplicação: Consideremos o escoamento bidimensional sobre uma superfície (ex. escoamento de água sobre uma bolha de água e detergente (sabonária)). A massa está distribuída por unidade de superfície sendo o seu valor (densidade areolar ou por área) de dimensões kg/m2. O débito (quantidade de massa que atravessa é dado por: ;T v v dl u v A curva que limita é fechada, no entanto pode igualmente calcular‐se o fluxo ao longo de uma curva não fechada C com extremidades (início e fim). Circulação de um campo tensorial T ao longo de uma curva orientada fechada Consideremos um campo tensorial T de ordem p1 em R3 (ou R2). A circulação de T ao longo de uma curva fechada orientada C é o integral de linha: dC C T l t T 25 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Aplicação: Consideremos um fluido circulando em circuito fechado em sentido único ao longo da curva fechada C (célula de circulação) com massa por unidade de comprimento ou densidade linear l (em kg/m). A energia cinética do fluido em circulação é dada pela circulação ao longo de C do vetor 12 l v v onde t é o versor de v . Teoremas Integrais em R2 e R3‐ vol O cálculo de integrais tridimensionais 3D num domínio R3 pode em certos casos ser obtido pelo integral na sua fronteira de normal exterior (apontando para fora) n de componentes ni . Tem‐se então o teorema de Stockes generalizado em volumes (TSG‐vol): ... ...i i dv d n x Onde (…) é um campo tensorial arbitrário envolvendo produtos interiores ou exteriores com o índice i e onde ix são as derivadas em relação às coordenadas cartesianas. Alguns corolários deste teorema muito geral são o teorema do fluxo‐divergência. Teorema do fluxo‐divergência em R3, de Gauss ou de Ostrogradsky Tome‐se no TSG‐vol as componentes cartesianas Ai do campo vetorial A e faça‐se a contracção em i. Obtem‐se: i i Adv dv div A d n A A x ou seja o integral de volume da divergência iguala o fluxo através da fronteira. Tal permite definir a divergência de um campo vetorial como o limite quando 0 do Fluxo/Volume. Outras aplicações do TSG‐vol ... escalar grad (integral de volumede gradiente) ... ( ) rot (integral de volumede rotacional) dv d n A produtoexternocom A dv A d n A 26 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Teoremas Integrais em R2 e R3‐sup O teorema de Stockes generalizado pode aplicar‐se também sobre uma superfície orientada de normal n com linha fronteira ou bordo orientado∙ com versor tangente t e normal exterior u t n . Tem‐se então o teorema TSG‐sup: ... ... ...ii id n dl n u dl t Aplicações do teorema TSG‐sup em 3D ... d n dl t ... Fluxo do Rotacionalde Circulação de no bordo= (Teorema de Stockes ) A d n A d n A A dl t A A A Este teorema permite definir rotacional como o limite quando 0 do quociente circulação/área. ... A d n A dl t A Aplicação: vetor área tomando A r vector posição 1 2 d n r dr 27 Mecânica de Fluidos – FCUL – DEGGE – Prof. Carlos Pires Teorema de Green No caso de ser uma superfície plana com normal n constante tem‐se: ... ...i id dl u Tomando um campo vetorial A bidimensional (com componentes apenas sobre ) e fazendo a contracção dos índices tem‐se: 2 Fluxode através da linha orientada D d A dl u A A A Ou seja, o integral de superfície da divergência iguala o fluxo através do bordo. Este teorema é uma versão 2D do teorema fluxo‐divergência. Outra aplicação em 2D é a do integral do gradiente 2D: 2Dd dl u
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