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A INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS PRESENTES NO PROCESSO PSICOTERÁPICO SOB O VÍNCULO TERAPÊUTICO NA PERSPECTIVA DO CLIENTE: UM ESTUDO ANALÍTICO COMPORTAMENTAL JOICY DE SOUZA MOTA1 THAÍS VAREJÃO FAGUNDES BARCELOS¹ LUCIANO DE SOUSA CUNHA2 RESUMO Este trabalho teve como objetivo investigar o efeito de variáveis presentes no processo psicoterápico responsáveis pelo estabelecimento e/ou a manutenção do vínculo terapêutico baseado em uma perspectiva comportamental. Foi aplicado um questionário semiestruturado a 50 pacientes divididos em dois grupos, o primeiro composto por 25 clientes da clínica escola do curso de psicologia da Associação Educação de Vitória – AEV, o segundo grupo composto por 25 clientes que se encontram em acompanhamento psicoterápico em consultório particular na Grande Vitória. As variáveis do questionário foram categorizadas em quatro dimensões: características do terapeuta, atendimento, possibilidade de contato com o terapeuta e estrutura física do consultório. Cada participante deveria atribuir uma nota de 1 a 5, na qual 1 representava uma variável pouco relevante para a formação de vínculo terapêutico e 5 uma variável muito relevante a ponto de manter ou encerrar um processo psicoterápico. Os resultados sugerem que tanto os clientes da clínica escola (GCE) quanto os clientes da clínica particular (GCP) consideram como relevantes às características dos atendimentos (3,2; 3,6), seguido das características do terapeuta (3,0; 3,4), da possibilidade de contato com o terapeuta (3,1; 3,4) e características da estrutura física do consultório (3,1; 3,2). Os clientes da clínica particular atribuíram maior importância a todas dimensões, quando os resultados são comparados com o grupo da clínica escola, no entanto, não foi identificada uma diferença significativa entre as médias atribuídas. Espera-se que este estudo fomente o desenvolvimento de outros trabalhos, na tentativa de ampliar a generalidade dos resultados, sendo estes importantes para o desenvolvimento do processo terapêutico, e consequentemente para uma melhor qualidade no vínculo entre cliente-terapeuta, sejam eles terapeutas em formação ou profissionais formados. Palavras Chaves: vínculo terapêutico; relação terapêutica; análise do comportamento. APRESENTAÇÃO Analistas do Comportamento tem se referido ao vínculo terapêutico como uma variável determinante para o sucesso do processo psicoterápico (RANGÉ, 2001; DELLITI, 2005; SILVEIRA, 2003). No entanto, embora a relação terapêutica venha sendo um tema de destaque ao se falar da eficiência dos processos psicoterápicos, nota-se que a discussão ainda tem permanecido predominantemente no plano teórico (MEYER e VERMES, 2001). Segundo Meyer e Vermes (2001), observa-se que esses trabalhos prevalecem de pesquisas teóricas ou de recortes de casos clínicos que visam identificar e medir variações externas que perpetuam o processo terapêutico e a manutenção do vínculo. O presente trabalho se insere nessa discussão e, tendo em vista a escassez de trabalhos empíricos sobre o tema, tem como objetivo estudar as possíveis variáveis que influenciam de maneira positiva ou negativa no estabelecimento do vínculo terapêutico baseado em uma 1 Graduanda em Psicologia da FAESA 2 Doutor em Psicologia - Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Professor Orientador Faculdades Integradas São Pedro (FAESA/AEV) perspectiva comportamental. Variáveis, estas que vão desde a postura do terapeuta, os atendimentos, o local dos atendimentos e as possibilidades de contato com o terapeuta. Pretende-se contribuir com um maior conhecimento sobre o impacto dessas variáveis a partir da visão do cliente, diferente dos estudos realizados por Cerri & Cunha (2012), Madeira, Andreão & Cunha (2012) e Nazareth, Batista & Cunha (2013) que se basearam no olhar do terapeuta sobre a importância do vínculo. Para tal tarefa, o presente trabalho será organizado da seguinte forma, inicialmente será feita uma discussão sobre o conceito de vínculo terapêutico, assim como uma breve descrição de alguns estudos sobre o tema. Posteriormente será feita uma descrição do método utilizado, seguida da análise e discussão dos resultados. O CONCEITO DE VÍNCULO TERAPÊUTICO Durante um processo psicoterápico, observa-se que a relação estabelecida entre terapeuta e cliente tem papel fundamental, desde a entrevista inicial até a escolha dos métodos de intervenção (CABALLO, 1996). Kholenberg e Tsai (1991) e Silveira (2003) comentam que esta interação muitas vezes acontece de forma similar as histórias de relacionamentos do cliente, e através da relação terapêutica é possível que o terapeuta faça importantes transformações utilizando de novas alternativas de interação. Nesse sentido, em um atendimento, a análise do comportamento do terapeuta é tão importante quanto à análise do comportamento do cliente, e a interação entre ambos – impactada pelas suas histórias de contingências – possui função significativa na formação de vínculo entre terapeuta-cliente e influência desta forma no andamento e nos resultados do processo psicoterápico. (VELASCO e CIRINO, 2002) A influência dessa interação sobre o processo psicoterápico é destacada por Silveira (2003), quando a autora cita que a “interação terapeuta-cliente” e “relação terapêutica” só devem ser tratadas como sinônimo quando há um fortalecimento ou enfraquecimento dos comportamentos do cliente de forma a alcançar metas no tratamento. Eckert, Abeles & Graham (1988 apud SILVEIRA, 2003) ressaltam a importância do terapeuta na tentativa de auxiliar seu cliente no desenvolvimento desta aliança terapêutica. Segundo os autores, o calor humano, a aceitação e o respeito são fatores que influenciam diretamente no tratamento, quanto melhor esse elo maior a possibilidade de ganhos. Corroborando essa afirmação, Meyer e Vermes (2001) destacam: A literatura aponta as seguintes qualidades necessárias ao terapeuta: postura empática e compreensiva, aceitação desprovida de julgamentos (Falcone, 1998; Frank e Frank, 1993; Rangé, 1995), autenticidade (Corey,1983), autoconfiança (Willians e Chambless, 1990) e flexibilidade na aplicação de técnicas (Shinohara, 2000). Trabalhos como os de Rudy, McLemore e Gorsuch, (1985) e Goldfried e Davidson (1976) indicaram que os terapeutas avaliados como “calorosos”, “amigáveis”, “comprometidos”, “tolerantes” e “interessados” são aqueles que têm maior sucesso no resultado dos tratamentos. (MEYER & VERMES, 2001, p.102) Guilhardi (2002) cita que dentro desse contexto observa-se o desenvolvimento do vínculo terapêutico como uma variável relevante no processo psicoterápico. Vinculo é o nome que se dá aos comportamentos e sentimentos que emergem numa relação (terapêutica) entre (duas) pessoas e que são produzidas, quase exclusivamente, por contingências reforçadoras e eventualmente, por contingências aversivas mínimas, manejadas por um em favor do outro, gerando pouco ou nenhum comportamento de contra-controle (GUILHARDI, 2002, p.10). Levando em consideração as contingências na qual o cliente é levado a terapia, é de suma importância que o terapeuta se comporte de forma a reduzir o desconforto do cliente a partir de estímulos discriminativos resultando em mudanças de comportamentos mais efetiva (MEYER e VERMES, 2001). Em 1953 Skinner (2003) já se referia a terapia como um local onde a principal função do terapeuta é ser uma audiência não punitiva e reforçadora. Quando o paciente busca a terapia imagina-se que o mesmo se encontra exposto às contingências aversivas e o terapeuta tem papel comum nesse processo sendo um agente que também produz controle. É de fundamental importância que este terapeuta torne-se uma figura reforçadora e acolhedora, paraque este use essas variáveis como um reforçador positivo, pois a medida que este contexto se estabiliza os comportamentos antes punidos começam a aparecer no repertório do cliente. Com isso é possível que o terapeuta ensine ao paciente emitir outros comportamentos que em situações parecidas sejam reforçadas e não punitivas (DELLITI e GROBERMAN, 2005). Deste modo, de acordo com Meyer e Vermes (2001), as características do terapeuta possuem uma grande influência sobre o estabelecimento e manutenção da relação terapêutica, mostrando que o terapeuta de certa forma não precisa somente estar capacitado a aplicação de técnicas, mas que precisa estar ciente da responsabilidade de construir um relacionamento terapêutico com o seu cliente. Os aspectos contribuintes da aliança terapêutica refletem aos comportamentos do cliente, como: se sentir motivado a ir a sessão mesmo sem vontade, dialogar com o terapeuta assuntos que sejam punitivos, e seguir com as regras do terapeuta mesmo que não concorde (KOHLENBEG e TSAI,1991). Em contrapartida alguns comportamentos e características do terapeuta podem atrapalhar o estabelecimento e manutenção da relação terapêutica. Alguns aspectos da história de vida do profissional podem causar efeitos negativos ao cliente, como diferença de valores morais, éticos ou religiosos e afeição com o problema do cliente (BANACO, 1993). Segundo Schindler, Hobenberger-Sieber e Hahlweg, 1989 citado por Meyer e Vermes (2001), ao negligenciar a relação terapêutica, o terapeuta pode criar condições que favorecem o fracasso do tratamento. Outro aspecto é que na relação terapêutica, existe a possibilidade do cliente e terapeuta discordarem (mesmo que implicitamente) sobre os objetivos terapêuticos. A coesão nos objetivos pode então favorecer uma aliança terapêutica, que de acordo com Bordin, (1979 apud Silveira, 2003) é “composta por três elementos: o vínculo terapeuta-cliente, o ajuste na percepção que o terapeuta e o cliente têm das tarefas da terapia e a concordância da díade quanto aos objetivos do tratamento. (p.142)” Cerri e Cunha (2012) e Banaco(1993), propuseram estudos empíricos sobre o tema. Os estudos de Cerri e Cunha (2012) objetivaram avaliar a influência do vínculo terapêutico sobre a continuidade dos atendimentos psicoterápicos após o período de férias letivas. Seus resultados mostraram que nos casos de desistência após o período de férias houve uma maior prevalência da avaliação da variável vínculo terapêutico sendo como péssima, ruim ou regular, e quando essa variável foi avaliada como bom ou ótimo a maior parte dos clientes voltaram e o período de férias não teve influência na manutenção do processo terapêutico. Estes concluíram que neste contexto a variável vínculo terapêutico tem papel determinante para o retorno ou não do cliente após o período de férias. Segundo Banaco (1993), “o estabelecimento e a manutenção de uma boa relação terapêutica tem sido atribuídos as características e habilidades pessoais do terapeuta” (p. 71), e essas habilidades estão relacionadas aos comportamentos presentes na interação terapeuta e cliente. Em sua pesquisa, o autor visa analisar teoricamente aspectos da interação entre terapeuta e cliente e as emoções experimentadas pelo terapeuta que podem influenciar na qualidade do atendimento e consequentemente na relação terapêutica. Os resultados do seu estudo demonstram que os temas que habitualmente levam a grandes impactos no desempenho profissional são: valores morais, éticos e religiosos muito diferentes entre terapeuta-cliente, identificação com o problema do cliente, desrespeito por parte do cliente, erro na interpretação do terapeuta e/ou condução da sessão e inveja da situação do cliente. Esses aspectos foram levantados para identificar sua importância no bom desempenho profissional do terapeuta e por conseguinte a relação terapêutica. O presente trabalho segue a perspectiva dos estudos citados e visa conhecer, a partir da visão do cliente, como algumas variáveis presentes na relação terapêutica podem influenciar na formação do vínculo entre terapeuta e cliente, considerado teoricamente como determinante para o sucesso do processo psicoterápico, como já discutido anteriormente. MÉTODO PARTICIPANTES Participaram deste estudo, cinquenta (50) clientes em atendimento, divididos em dois (2) grupos: o primeiro composto por 25 clientes da clínica escola do curso de psicologia da Associação Educação de Vitória – AEV, que eram atendidos por alunos que estavam cursando no semestre 2015/1 o Estágio Básico IV, com ênfase na prática clínica em diferentes abordagens, atendendo a população dos projetos sociais do curso de Psicologia ou das demais clínicas da Unidade de Conhecimento de Ciências Médicas e Saúde da instituição, assim como a população atendida por instituições ou órgãos conveniados ao curso de Psicologia; o segundo grupo composto por 25 clientes que se encontram em acompanhamento psicoterápico em um consultório particular na Grande Vitória. MATERIAL E PROCEDIMENTOS Os dados foram coletados mediante a aplicação de um questionário estruturado (ANEXO 1), composto por questões fechadas sobre o julgamento dos clientes sobre a importância de alguns aspectos do atendimento sobre a qualidade do vínculo terapêutico. O questionário foi dividido em questões que visavam levantar dados sobre: características individuais do terapeuta, características temporais com relação a horários, periodicidade e pontualidade do terapeuta, comunicação entre cliente terapeuta, valor e reajuste das sessões, local de atendimento e estrutura física, e características empáticas do terapeuta. As opções de resposta variavam entre 1 e 5, sendo que 1 representava uma condição que não exerce qualquer influência sobre a qualidade do vínculo terapeuta-cliente e 5 para uma condição que exerce influência sob o vínculo a ponto de manter ou encerrar o processo psicoterápico. Os questionários foram entregues aos pacientes nas respectivas salas de espera dos locais de coleta, e estes eram solicitados a preenchê-los de forma individual. Além do questionário, todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 2) que explicitava que seria mantido o caráter sigiloso de todas as informações fornecidas por eles além da possibilidade de desistir durante a pesquisa sem qualquer tipo de ônus para os mesmos. RESULTADOS Foram coletados dados sobre 50 clientes, sendo 25 clientes da clínica escola do curso de psicologia da Associação Educação de Vitória – AEV e os outros 25 clientes de um consultório particular da grande vitória. Todos os dados foram tabulados através do software Excel. Foram calculadas as médias das respostas dos participantes. As variáveis cujos as médias tinham valor entre 1 e 2,5 foram classificadas como pouco relevantes; as médias entre 2,6 e 4,0 foram consideradas relevantes, e as médias acima de 4,1 foram consideradas muito relevantes. Os resultados serão apresentados a seguir divididos pelos grupos, que serão referidos da seguinte forma: Grupo Clínica Particular (GCP) e Grupo Clínica Escola (GCE). Figura 1- Variáveis Relacionadas ao Terapeuta Considerando as variáveis relacionadas ao terapeuta, pode-se observar através da Figura 1, que as características que foram apontadas como muito relevantes foram: “Postura do terapeuta” (4,3 em ambos os grupos), e o acolhimento na primeira sessão, que no GCE obteve média de 4,2 enquanto no GCP a média foi de 4,4. A variável “fazer esclarecimento de dúvidas sobre o processo psicoterápico” se mostrou relevante no GCE (3,8), enquanto no GCP se mostrou muito relevante (4,2). A variável “conteúdo das sessões” foi considerada como relevante no GCE (3,7) e muito relevante no GCP (4,1). A variável “Abordagem do terapeuta” foi consideradauma variável relevante tanto no GCE (3,4) quanto no GCP (3,7), assim como a variável “Aparência do terapeuta” que foi considerada relevante no GCE (2,9) e no GCP (3,4). A variável “titulação do terapeuta” mostrou-se como relevante em ambos os grupos, sendo no GCE a média foi 2,6, e no GCP 2,9. A variável “atendimento ser realizado por um estagiário” em uma clínica escola sob supervisão de um professor apresentou-se como pouco relevante no GCE (2,3) enquanto o GCP foi considerada relevante (2,6). Entre as variáveis sobre terapeuta as de menor relevância, pode- se citar o “sexo do terapeuta”, com média 2,4 para o GCP e 1,9 para o GCE, e a variável “idade do terapeuta”, que foi sinalizada como pouco relevante para ambos os grupos, 1,6 para o GCE e 2,0 para o GCP. 1 2 3 4 5 Idade do Terapeuta Sexo do Terapeuta Aparência do Terapeuta (Roupas, Cuidados Pessoais) Titulação do Terapeuta (Especialização, Mestrado, Doutorado). Acolhimento na primeira sessão (Terapeuta receptivo e acolhedor) Postura do terapeuta (Terapeuta atencioso, paciente, simpático) Fazer esclarecimentos de dúvidas sobre o processo psicoterápico Conteúdo das sessões (Assuntos discutidos durante as sessões) Abordagem do Terapeuta (Linha teórica seguida pelo terapeuta) Atendimento ser realizado por um estagiário em uma clínica escola sob … Clínica Escola Clínica Particular Não foram percebidas diferenças significativas entre os dois grupos, e os dados corroboram as análises feitas por Silveira (2003) que enfatiza a importância das habilidades empáticas e a postura do terapeuta tanto quanto suas habilidades técnicas. Delliti e Groberman (2005) também enfatizam a importância da postura do terapeuta quando falam sobre a chegada do cliente a da necessidade do terapeuta se configurar como uma audiência não-punitiva. Figura 2- Variáveis Relacionadas ao Atendimento A Figura 2 apresenta as variáveis relacionadas ao Atendimento. Apenas a variável “periodicidade dos atendimentos (semanalmente)” foi considerada como muito relevante para o GCP (4,2), enquanto para o GCE foi considerada como uma variável relevante (3,2). De forma geral, todas as variáveis relacionadas ao atendimento, com exceção da “pontualidade do terapeuta” foram consideradas mais relevantes para o GCP. A variável “duração da sessão” obteve média 3,3 para o GCE e 4,0 para o GCP. A variável “valor das sessões” mostrou-se relevante para ambos os grupos (3,8 para o grupo da GCP e 3,6 para o GCE). O mesmo ocorre com as variáveis “pontualidade do terapeuta” (3,8 para o GCE e 3,4 GCP), “Horário fixo para realização dos atendimentos” (3,6 para o GCE e 3,4 para o GCP), “Reajuste anual das sessões” (3,6 no GCP e 3,3 no GCE), “Regras para desmarcação/cobrança de faltas” (3,1 para o GCE e 3,4 para o GCP). As demais variáveis consideradas “duração do processo psicoterápico” e “periodicidade dos atendimentos” (mensal e quinzenal) apresentaram-se menos relevantes para o GCE (com médias de 3,0, 2,6 e 2,5 respectivamente) quando comparadas as médias do GCP (3,8, 3,1 e 3,7 respectivamente). Tais dados permitem observar que os clientes do GCP dão maior relevância para as variáveis relacionadas aos atendimentos do que os clientes do GCE. Uma hipótese para tal diferença pode estar relacionada ao fato de que como os serviços em uma clínica particular são 1 2 3 4 5 Horário fixo para a realização dos atendimentos Periodicidade dos atendimentos (semanal) Periodicidade dos atendimentos (quinzenal) Periodicidade dos atendimentos (mensal) Pontualidade do Terapeuta Valor das sessões Reajuste anual das sessões Duração da Sessão Duração do Processo Psicoterápico Regras para desmarcação / Cobrança de Faltas Clínica Escola Clínica Particular cobrados, o cliente fique mais sensível a essas variáveis. Outra hipótese a ser investigada é sobre quais dessas informações são repassadas ao cliente na ocasião das entrevistas iniciais. Novos estudos se fazem relevantes para avaliar essas hipóteses. Figura 3- Variáveis Relacionadas a Possibilidade de Contato com o Terapeuta A figura 3 representa as variáveis referentes a Possibilidade de contato com o terapeuta. Pode- se observar que as variáveis “comunicação por telefone”, “comunicação por mensagem de texto/whatsapp/outros” e “agilidade do terapeuta no retorno de contato” se mostraram mais relevantes para a formação de vínculo no processo terapêutico em ambos os grupos (GCE: 3,4, 3,2 e 3,7 respectivamente e; GCP: 3,7, 3,8 e 4,0 respectivamente). Já as variáveis “Comunicação via secretária” e “Contato em período de festas/férias” foram menos relevantes, quando comparadas com as demais. Tais dados permitem dizer que ambos os clientes (GCE e GCP) consideram que formatos de comunicação cujo a resposta do terapeuta seja mais rápida são mais relevantes para a formação ou manutenção do vínculo terapêutico. Essa afirmação corrobora a discussão de Silveira (2003) que explica que o acolhimento do terapeuta não se restringe ao ambiente do consultório, sendo importante estar atento a variáveis fora do setting terapêutico que possam aprofundar o vínculo. 1 2 3 4 5 Comunicação por Telefone Comunicação via Secretária Comunicação por Email Comunicação por Mensagens de Texto / Whatsapp / outros Contato em período de festas / férias Agilidade do Terapeuta no retorno de contato Clínica Escola Clínica Particular Figura 4 - Variáveis Relacionadas a Estrutura Física do Consultório Os dados apresentados na Figura 4 referem-se as variáveis sobre a Estrutura Física do Consultório. A única variável classificada como muito relevante para ambos os grupos foi a “limpeza no consultório” com média 4,1 nos dois grupos. Variáveis como “localização do consultório”, “aparência do consultório”, “segurança do local em que os atendimentos são realizados”, “conforto na recepção” e “facilidade de estacionamento” foram consideradas relevantes em ambos os grupos (GCE: 3,4, 3,7, 3,9, 3,6 e 3,3 respectivamente e GCP: 3,8, 3,8, 4,0, 3,3 e 3,3) respectivamente. As variáveis “lanche na recepção”, “wi-fi na recepção” e “televisão na recepção” foram consideradas menos relevantes (GCE: 2,1, 2,3 e 2,0 respectivamente e GCP: 2,2; 2,4 e 2,1 respectivamente). Tais dados sugerem que a recepção não se apresenta como o ambiente mais importante para a formação do vínculo, o que dá dicas de que as variáveis mais relevantes se referem a própria relação terapêutica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados do presente trabalho sugerem a importância atribuída pelos participantes para cada dimensão investigada sobre os atendimentos psicoterápicos. Tal importância pode ser demonstrada na figura 5, que sinaliza que as variáveis mais valorizadas pelos participantes são: características dos atendimentos (GCP: 3,6; GCE: 3,2), características do terapeuta (GCP: 3,4; GCE: 3,0), possibilidade de contato com o terapeuta (GCP: 3,4; GCE: 3,1), e estrutura física do consultório (GCP: 3,1; GCE: 3,2). Nota-se que embora a diferença entre os resultados 1 2 3 4 5 Localização do Consultório Aparência do Consultório Segurança do Local em que os atendimentos são realizados Televisão na Recepção Lanche na recepção (café, água, biscoitos, etc.) Wi-fi na recepção Conforto da recepção Limpeza do Consultório Facilidade de Estacionamento Clínica Escola Clínica Particular dos dois grupos não tenha sido significativa, o GCP atribuiu mais importância a todas as dimensões, com exceção da estrutura física do consultório. Figura 5- Média geral das dimensões avaliadas Com base nos dados pode-se afirmar que as variáveisrelacionadas ao atendimento em si são as que exercem maior influência sobre o vínculo entre terapeuta e cliente, o que corrobora análises feitas por Delliti e Groberman (2005), que afirmam que a relação terapeuta-cliente amplia as possibilidades do cliente, ao permitir que seus comportamentos antes punidos possam ser expressos durante a terapia. Durante o processo psicoterápico o terapeuta faz uso desses comportamentos para auxiliar o cliente analisar as contingências as quais é exposto e com isso ampliar o repertório do cliente e verificar sua eficácia, para que em novos ambientes o mesmo consiga emitir novos comportamentos de modo que os mesmos possam ser reforçados positivamente. Sobre a mínima diferença nas médias desses dados entre os grupos, uma hipótese é que o GCP poderia ser mais compassivo a estas variáveis pelo fato de pagar pelo serviço, diferente dos clientes atendidos na clínica escola, no entanto, novos estudos podem ajudar a confirmar esta hipótese. Outro aspecto a ser levado em consideração, é que os dados chamam atenção para o fato de que o vínculo terapêutico não deve ser entendido como uma via de mão única, em que o cliente é responsável pelo estabelecimento de uma relação significativa com o terapeuta, mas este – o terapeuta – também é responsável pelo estabelecimento e manutenção de uma relação que transcende sua competência técnica ou mesmo suas habilidades sociais, se estendendo para a forma como organiza seus atendimentos, englobando a estrutura física do seu consultório e seus contatos com o cliente fora da sessão . 1 2 3 4 5 Sobre o Terapeuta Sobre os Atendimentos Sobre os Contatos com o Terapeuta Sobre a Estrutura Física do Consultório Clínica Escola Clínica Particular Para tal, este trabalho deve ser visto como um estudo que tenta apenas fornecer dicas de algumas variáveis que podem ser observadas e estudadas durante o processo psicoterápico, além de proporcionar um trabalho com os terapeutas em formação que se encontram em processo de supervisão. Vale ressaltar que todas as variáveis estudadas podem ser mais bem avaliadas e conhecidas individualmente para que se identifique de forma mais precisa as variáveis que podem ou não influenciar no estabelecimento do vínculo para cada cliente. Espera-se que este estudo fomente o desenvolvimento de outros trabalhos, na tentativa de ampliar a generalidade dos resultados, sendo estes importantes para o desenvolvimento do processo terapêutico, e consequentemente para uma melhor qualidade no vínculo entre cliente-terapeuta, sejam eles terapeutas em formação ou profissionais formados. Ser reforçado pelo sucesso da nossa ação é especialmente vantajoso na medida em que nos faz essencialmente seres agentes em relação ao meio, agentes controlados pelo efeito de nossa própria ação. (MICHELETTO, 1997, P.118). REFERÊNCIAS BANACO, R. A. O impacto do atendimento sobre a pessoa do terapeuta. Temas em psicologia, v.2, p. 71-79. 1993. CABALLO, V. E. 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(1953) Ciência e Comportamento Humano. Trad.: TODOROV, João Carlos & AZZI, Rodolfo. 11ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.489. VELASCO, S.M.; CIRINO, S.D. A relação terapêutica como foco da análise na prática clínica comportamental. In: TEIXEIRA, A.M.S.; MACHADO, A.M.; ASSUNÇÃO, M.R.B.; CASTANHEIRA, S.S. (Org.). Ciência do Comportamento: Conhecer e avançar. (v.1, cap.5, p .31-38). Santo André: ESETec Editores Associados. 2002. ANEXOS ANEXO 1 – INSTRUMENTO DE PESQUISA ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DE VITÓRIA UNIDADE DE CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA PESQUISADORAS: JOICY DE S. MOTA – GRADUANDA EM PSICOLOGIA – MATRÍCULA 1120700 THAÍS BARCELOS – GRADUANDA EM PSICOLOGIA – MATRÍCULA 1120466 PROFESSOR ORIENTADOR: PROF. DR. LUCIANO DE SOUSA CUNHA – CRP 16 – 1371 QUESTIONÁRIO Você está recebendo um questionário que tem por objetivo identificar alguns fatores que interferem na construção de um vínculo terapêutico (relação entre cliente e terapeuta) durante uma terapia. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CLIENTE Idade: __________________ Sexo: Feminino: Masculino: Você já realizou algum atendimento psicoterápico? Sim Não Você realiza atualmente algum atendimento psicoterápico? Sim Não Em caso de resposta positiva, há quanto tempo? _________________________ Assinale entre as opções abaixo aquela que mais representa o impacto do item mencionado sobre a qualidade da sua relação com o seu psicólogo, sendo 1 (não exerce influência) e 5 (exerce influência significativa, a ponto de interromper ou continuar o processo psicoterápico). Nº ITEM AVALIADO SOBRE O TERAPEUTA 1 Idade do Terapeuta 1 2 3 4 5 2 Sexo do Terapeuta 1 2 3 4 5 3 Aparência do Terapeuta (Roupas, Cuidados Pessoais) 1 2 3 4 5 4 Titulação do Terapeuta (Especialização, Mestrado, Doutorado). 1 2 3 4 5 5 Acolhimento na primeira sessão (Terapeuta receptivo e acolhedor) 1 2 3 4 5 6 Postura do terapeuta (Terapeuta atencioso, paciente, simpático) 1 2 3 4 5 7 Fazer esclarecimentos de dúvidas sobre o processo psicoterápico 1 2 3 4 5 8 Conteúdo das sessões (Assuntos discutidos durante as sessões) 1 2 3 4 5 9 Abordagem do Terapeuta (Linha teórica seguida pelo terapeuta) 1 2 3 4 5 10 Atendimento ser realizado por um estagiário em uma clínica escola sob supervisão de um professor. 1 2 3 4 5 SOBRE OS ATENDIMENTOS 11 Horário fixo para a realização dos atendimentos 1 2 3 4 5 12 Periodicidade dos atendimentos (semanal) 1 2 3 4 5 13 Periodicidadedos atendimentos (quinzenal) 1 2 3 4 5 14 Periodicidade dos atendimentos (mensal) 1 2 3 4 5 15 Pontualidade do Terapeuta 1 2 3 4 5 16 Valor das sessões 1 2 3 4 5 17 Reajuste anual das sessões 1 2 3 4 5 18 Duração da Sessão 1 2 3 4 5 19 Duração do Processo Psicoterápico 1 2 3 4 5 20 Regras para desmarcação / Cobrança de Faltas 1 2 3 4 5 SOBRE AS POSSIBILIDADES DE CONTATO COM O TERAPEUTA 21 Comunicação por Telefone 1 2 3 4 5 22 Comunicação via Secretária 1 2 3 4 5 23 Comunicação por Email 1 2 3 4 5 24 Comunicação por Mensagens de Texto / Whatsapp / outros 1 2 3 4 5 25 Contato em período de festas / férias 1 2 3 4 5 26 Agilidade do Terapeuta no retorno de contato 1 2 3 4 5 SOBRE A ESTRUTURA FÍSICA DO CONSULTÓRIO 27 Localização do Consultório 1 2 3 4 5 28 Aparência do Consultório 1 2 3 4 5 29 Segurança do Local em que os atendimentos são realizados 1 2 3 4 5 30 Televisão na Recepção 1 2 3 4 5 31 Lanche na recepção (café, água, biscoitos, etc.) 1 2 3 4 5 32 Wi-fi na recepção 1 2 3 4 5 33 Conforto da recepção 1 2 3 4 5 34 Limpeza do Consultório 1 2 3 4 5 35 Facilidade de Estacionamento 1 2 3 4 5 Obrigado pela colaboração! ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DE VITÓRIA UNIDADE DE CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA TERMO DE CONSENTIMENTO Eu,___________________________________________________________portador da carteira de identidade número______________________ e CPF_________________________________, declaro que recebi todas as informações necessárias e estou ciente desta pesquisa, cujo objetivo é identificar alguns fatores que interferem na construção de um vínculo terapêutico (relação entre cliente e terapeuta) durante uma terapia. Para isso, fui solicitado a responder um questionário que tem como objetivo levantar alguns dados sobre o vínculo terapêutico. Declaro que fui informado que os dados fornecidos não possibilitarão a identificação de qualquer sujeito e que se manterá o caráter confidencial das informações registradas relacionadas com a minha privacidade. Declaro que fui informado(a) que a participação nesta pesquisa não representa riscos para a minha integridade física e/ou emocional e que a qualquer momento poderei retirar meu consentimento livre e informado. Declaro que estou ciente que a participação na pesquisa não envolve qualquer tipo de investimento ou ressarcimento financeiro. Declaro que autorizo a utilização das informações por mim prestadas em questionário e/ou entrevistas para fins de produção de conhecimento, bem como divulgação em revistas, jornais, congressos, palestras e demais atividades científicas, tanto no país como no exterior, respeitado o código de ética do exercício profissional do psicólogo. O responsável por este projeto é o Prof. Dr. Luciano de Sousa Cunha. _______________________________ ________________________________ Pesquisador Pesquisador Responsável Thaís Varejão Fagundes Barcelos Dr. Luciano de Sousa Cunha Graduanda do Curso de Psicologia Psicólogo CRP 16/1371 Matrícula 1120466 Doutor em Psicologia pela UFES _______________________________ ________________________________ Pesquisador Assinatura do Participante Joicy de Souza Mota Graduanda do Curso de Psicologia Matrícula 1120700 Vitória, ____ de Maio de 2015.
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