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Proteção Internacional dos Direitos Humanos

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS 
HUMANOS 
28º CPR 
2 
Sumário 
1.a. Violação de direitos humanos e responsabilidade internacional do Estado. .............................................................................. 3 
1.b. Relação entre violação de direitos humanos e crimes internacionais conexos: apartheid, tortura, desaparecimento forçado, 
genocídio, trabalho e comércio escravo, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. ............................................................. 5 
1.c. Proteção internacional dos direitos humanos e a reserva de jurisdição interna do Estado: limites e aplicabilidade do art. 2º, 
para. (7), da Carta da ONU. Inteligência do art. 1°, para. (3), da Carta da ONU. ............................................................................. 6 
 2.a. Princípio da universalidade dos direitos humanos e o relativismo cultural. gramáticas diferenciadas de direitos. O ius cogens 
internacional em matéria de direitos humanos. ................................................................................................................................ 7 
2.b. Princípio da indivisibilidade dos direitos humanos. A teoria das “gerações” de direitos. Diferenças entre obrigações 
decorrentes da garantia de direitos civis e políticos e obrigações decorrentes da garantia de direitos econômicos, sociais e 
culturais. 10 
2.c. Direitos humanos e garantias constitucionais fundamentais: convergências e divergências conceituais. Tratamento 
diferenciado entre direitos fundamentais e direitos sociais na Constituição Federal. ..................................................................... 12 
3.a. Relação entre o regime de proteção internacional de direitos humanos, o direito internacional humanitário, o direito de 
minorias, o direito de refugiados e o direito internacional penal. .................................................................................................... 13 
3.b. Eficácia vertical e horizontal de direitos humanos ("Drittwirkung"). Obrigação de respeitar e de garantir respeito a direitos. .. 15 
3.c. As Nações Unidas e a promoção universal dos direitos humanos: inteligência do art. 1º, para. (3), da Carta da ONU. Valor 
normativo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. ........................................................................................................... 16 
4.a. Procedimentos especiais no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Os procedimentos das 
Resoluções ECOSOC 1235 e 1503. As relatorias especiais. O sistema de "peer review"........................................................ 17 
4.b. Sistema de monitoramento multilateral de direitos: relatórios periódicos, comunicações interestatais, petições 
individuais e investigações motu proprio. ....................................................................................................................................... 19 
4.c. Direitos humanos e obrigações erga partes e erga omnes. Direito de Estados interferirem em situações de graves 
violações de direitos. 20 
5.a. Sistema interamericano de direitos humanos. A Declaração Americana dos Direitos e Deveres Humanos. A Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos: origem, composição e competências. A Corte Interamericana de Direitos Humanos: 
composição e competências. Medidas provisórias. Procedimento de fixação de reparações. Exequibilidade doméstica 
das decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos. .................................................................................................. 21 
5.b. Carta Democrática Interamericana de 2001. Natureza jurídica. Direito à democracia e obrigação de sua 
promoção. Democracia e direitos humanos. .................................................................................................................................. 24 
5.c. Protocolo de San Salvador. Monitoramento pelo Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, pelo Conselho 
Interamericano Econômico e Social e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Competência da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos. ............................................................................................................................................ 26 
6.a. Derrogações implícitas e derrogações explícitas de direitos humanos. Estado de emergência. Condições para suspensão 
de direitos. Direitos inderrogáveis. Conceitos de segurança e ordem pública, direitos de outros, saúde pública, moral pública 
como critério de delimitação do gozo de direitos. ......................................................................................................................... 27 
6.b. Acesso à Justiça. Princípios de Brasília adotados pela Cúpula Judicial Ibero-americana. ...................................................... 29 
6.c. "Tortura e penas ou tratos cruéis, desumanas ou degradantes" como conceito integral. Diferenciação entre os 
elementos do conceito na jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos (caso irlandês) e seus reflexos no art. 16 da 
Convenção da ONU contra a Tortura de 1984. .............................................................................................................................. 30 
7.a. Direitos comunicativos. Conceito, limites e espécies. Formas de violação de direitos comunicativos. .................................... 31 
7.b. Povos indígenas e comunidades tradicionais em face do DI. Convenção 169 da OIT. Convenção sobre a Proteção e 
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais de 2005. Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas de 
2007. 33 
7.c. Valor do tratado de Direitos Humanos na Constituição Federal. Hierarquia supralegal. Tratados "equivalentes a Emendas 
Constitucionais". 36 
8.a. Pena de morte. Restrições no direito internacional e, em especial, na Convenção Americana de Direitos Humanos. .......... 37 
8.b. História e evolução organizacional do regime internacional de proteção dos direitos humanos. ............................................. 38 
8.c. Proteção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência no direito internacional. A Convenção da ONU sobre 
os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo. ............................................................................................ 39 
9.a. Instituições e tratados de direitos humanos de que o Brasil é parte. ....................................................................................... 40 
9.b. Anistias autoconcedidas no direito internacional. Colisão com o dever de perseguir. Diferenciação no tocante a 
perdão, graça e indulto. 42 
9.c. Incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal: competência para processo e julgamento, hipóteses de 
cabimento atribuição do Procurador-Geral da República. Intervenção federal para garantia dos direitos humanos: condições 
para decretação e escopo da medida. ........................................................................................................................................... 43 
10.a. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do 
Pará de 1994): definição de violência contra a mulher, obrigações dos Estados-Parte e sistema de monitoramento. A Lei nº 
11.340, de 7 de agosto de 2006 ("Lei Maria da Penha"): origem e escopo. .................................................................................. 44 
10.b. Política Nacional de Direitos Humanos. O 3º Plano Nacional de Direitos Humanos. O Conselho de Defesa dos Direitos da 
Pessoa Humana - CDDPH. O Ministério Público e a defesa dos direitos humanos. ................................................................. 46 
10.c. Direito à autodeterminação dos povos (art. 1º comum aos dois Pactos Internacionais da ONU de 1966): conceito e 
convergênciacom o princípio de autodeterminação dos povos (art. 1º, para. (2) da Carta da ONU e Resolução 2625 (1970) da 
Assembleia Geral da ONU). 48 
11.a. Adequação do arcabouço legal brasileiro aos compromissos assumidos com o regime de proteção internacional dos direitos 
humanos. 50 
11. b. Experimentação humana. Limites bioéticos. Casos de convergência com o conceito de tortura. ......................................... 52 
11.c. Os Pactos Internacionais da ONU de 1966. Direitos protegidos e sistemas de monitoramento. ........................................... 53 
 
 
3 
1.a. Violação de direitos humanos e responsabilidade internacional do Estado. 
 
De acordo com André Ramos de Carvalho (Revista CEJ, Brasília, n. 29, p. 53/63, abr./jun. 2005) as decisões da 
Corte Interamericana de Direitos Humanos podem impor até mesmo a modificação da Constituição da República. Essa tese 
coloca por terra a ideia ainda presente nos manuais de Direito Constitucional de que o Poder Constituinte Originário é 
juridicamente ilimitado. 
A responsabilização do Estado é essencial para reafirmar a juridicidade das normas de proteção internacional dos 
direitos humanos. 
São elementos da responsabilidade internacional: 1) fato internacionalmente ilícito; 2) resultado lesivo; e 3) nexo 
causal entre o fato ilícito e o dano. Genericamente, de acordo com Francisco Rezek, o conceito de Responsabilidade 
Internacional é sintetizado da seguinte forma: “O Estado responsável pela prática de um ato ilícito segundo o direito 
internacional deve ao Estado a que tal ato tenha causado dano uma reparação adequada”. (REZEK, Direito Internacional 
Público, 2014, p. 321). Em resumo, os elementos da responsabilidade internacional podem ser conceituados nos seguintes 
termos: 
i) Fato ilícito: descumprimento dos deveres básicos de garantia e respeito aos direitos humanos 
consagrados em convenções internacionais. 
ii) Resultado lesivo: prejuízos materiais e morais causados à vítima e a seus familiares. 
iii) Nexo causal entre o fato e o resultado lesivo: imputabilidade consistente no vínculo entre a 
conduta do agente e o Estado responsável. 
A imputação da responsabilidade é antes de tudo uma operação jurídica. Assim, mesmo uma decisão com trânsito 
em julgado ou uma norma constitucional podem acarretar a responsabilização do Estado. Nesse contexto, vale ressaltar que 
o Chile foi condenado a alterar o art. 19 de sua Constituição, relativo à liberdade de expressão. 
Nesse sentido, para evitar a responsabilidade do Estado por ato do Legislativo é necessário implementar o controle 
de convencionalidade das leis e da Constituição. 
De acordo com André de Carvalho Ramos, o controle de convencionalidade consiste: “na análise da 
compatibilidade dos atos internos (comissivos ou omissivos) em face das normas internacionais (tratados, costumes 
internacionais, princípios gerais de direito, atos unilaterais, resoluções vinculantes de organizações internacionais)”. (Teoria 
Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional, 2014, p. 294). 
Conforme leciona o Prof. Cançado Trindade (ASIL Proceedings, 1998, p. 200-201) a Convenção Americana de 
Direitos Humanos estabelece o dever de prevenção a fim de impedir a repetição de violações dos direitos humanos, incluindo 
o dever de harmonizar a legislação nacional com as normas de proteção internacional. O caso Suárez Rosero é paradigmático 
no sistema de proteção interamericano por ter sido a primeira vez que uma decisão de um tribunal internacional de direitos 
humanos determinou a modificação de uma lei nacional. 
A obrigação convencional de proteção dos direitos humanos é o princípio fundamental da responsabilidade 
internacional do Estado, de modo que o argumento da separação de poderes não isenta o Estado da obrigação de reparar o 
dano, ainda que não possa desconstituir uma decisão judicial com trânsito em julgado. A responsabilização por atos pode ser 
classificada nos termos abaixo: 
i) Atos ultra vires: praticados por agentes públicos, mas extrapolando as competências legais. O 
Estado responde pelo dano decorrente da atuação ilegal (ultra vires) por ter selecionado tais agentes públicos. 
ii) Atos omissivos em face de condutas de particulares: o Estado responde por não adotar as 
medidas necessárias a coibir os abusos praticados pelos particulares. Exemplo: caso José Pereira resultou na condenação 
do Brasil por não evitar o trabalho escravo. 
iii) Ato judicial que acarreta responsabilização: decisão tardia ou inexistente, bem como decisão 
violadora das normas de Direitos Humanos. Exemplo: caso Maria da Penha que resultou na condenação pela normatização 
de casos de violência doméstica em razão da demora em punir o agressor. 
iv) Reparação: preferencialmente o retorno ao status quo ante. A reparação pecuniária tem utilizado 
o critério do "projeto de vida", diferenciando-se da ideia dos lucros cessantes. 
v) Cessação do ilícito: independente da reparação. 
Diante da violação, existem modalidades de satisfação: 1) reconhecimento da ilegalidade pelo Estado; 2) 
indenização punitiva em benefício da vítima; e 3) obrigações de fazer. 
Garantia de não-repetição: graves violações. Neste caso, implica dever de investigar, processar e punir. 
Sanções pela comunidade internacional. Questão controversa é a da sanção unilateral, pois pode dar margem à 
sanções seletivas. 
Casuística: Responsabilidade Internacional pela Conduta do Poder Executivo: Caso Velásquez Rodríguez: a 
CorteIDH decidiu que os atos ultra vires dos órgãos ou agentes são também imputáveis ao Estado, por sua injustificável 
omissão (v. Doutrina Osman). A Corte consignou também o dever de organizar o aparato do Estado para garantir os direitos 
previstos na ConvADH. Doutrina Velásquez Rodríguez: determina a obrigação de o Estado reprimir penalmente as violações 
de direitos humanos. O Estado, portanto, responde pela violação do direito à vida e também pela eventual impunidade dos 
autores das violações. Caso José Pereira: o Brasil reconheceu perante a Comissão IDH sua responsabilidade por ter-se 
omitido em prevenir o trabalho escravo e por não ter conseguido punir os responsável pelo assassinato de um trabalhador (e 
tentativa de homicídio de José Pereira). Caso Godinez Cruz: “Com efeito, um fato inicialmente não é imputável diretamente 
a um Estado, por exemplo, por ser obra de um particular..., pode acarretar a responsabilidade internacional do Estado, não 
por esse fato em si mesmo, mas por falta da devida diligência para prevenir a violação (...)”. “Essa devida diligência constitui 
um agir razoável para prevenir ou punir situações de violação de direitos humanos”. 
Caso Damião Ximenes: Damião Ximenes, portador de doença mental foi assassinado dentro de clínica de 
repouso. A Corte IDH decidiu no mesmo sentido do Caso Niños de la Calle, entendendo que não basta que os Estados se 
abstenham de violar os direitos, mas é essencial que implementem medidas positivas adotadas em função das necessidades 
particulares de proteção do indivíduo (no caso de tratamento assumido por entes privados, há o dever de regular e fiscalizar). 
Responsabilidade Internacional pela Conduta do Poder Legislativo: Segundo André Carvalho Ramos “nada impede 
4 
que uma lei aprovada pelo Parlamento local viole os direitos humanos. Portanto, mesmo se as leis tiverem sido adotadas de 
acordo com a Constituição, e em um Estado democrático, isso não as exime do confronto com os dispositivos internacionais 
de proteção aos direitos humanos.” Forma-se, então, o chamado “controle de convencionalidade de leis perante o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos”. Caso Suárez Roseros vs. Equador: a CorteIDH estabeleceu que o art. 114 do CP do 
Equador, ao privar os acusados de tráfico de drogas da garantia judicial da duração razoável do processo, violou o art. 2º da 
ConvADH. De modo inovador a Corte decidiu que a violaçãoocorre mesmo sem a aplicação concreta do art. 144, ou seja, a 
Corte fez um juízo de convencionalidade da lei doméstica, estabelecendo que o Estado é responsável pelo ato do legislador 
(concretiza-se o dever de prevenção, previsto nos arts. 1º e 2ºda ConvADH). Caso La Ultima Tentacion de Cristo: a 
CorteIDH condenou o Chile pela censura prévia ao filme, por violar a liberdade de pensamento e expressão, bem como de 
consciência e religião. Foi determinada a adequação da legislação doméstica do Chile (que acarretou a reformada 
Constituição). Caso Loayza Tamayo, Caso Barrios Altos, Caso Bámaca Velázquez, Caso Gomes Lund: a CorteIDH 
condenou a edição de leis de anistia aos autores de violações de direitos humanos. Para a Corte, os Estados não podem 
justificar o inadimplemento de suas obrigações internacionais invocando dispositivos internos (reconheceu, assim, que para 
o direito internacional o direito interno é um mero fato). As leis de anistia violam, entre outros, o direito à verdade, o direito 
de acesso à justiça, o direito ao devido processo legal. Estabeleceu-se, portanto, o dever de os Estados investigarem e 
punirem os responsáveis por violações de direitos humanos1. No Caso Loayza Tamayo, em que ela foi ilegalmente detida, 
a Corte decidiu, ainda, pela sua libertação e pela reinserção no meio social, através do seu retorno às atividades de docente, 
com a anulação de qualquer antecedente penal da vítima. 
Responsabilidade Internacional pela Conduta do Poder Legislativo: Para o Direito Internacional, o ato judicial é um 
fato a ser analisado como qualquer outro fato. “A responsabilização internacional por violação de direitos humanos pela 
conduta do Poder Judiciário pode ocorreram duas hipóteses: quando a decisão judicial é tardia ou inexistente (no caso da 
ausência de remédio judicial) ou quando a decisão judicial é tida, no seu mérito, como violadora de direito protegido.” Caso 
Genie Lacayo: a CorteIDH reconheceu a responsabilidade internacional da Nicarágua pela conduta do Poder Judiciário, em 
razão da delonga injustificada na prolação de sentenças contra os responsáveis pelo desaparecimento e morte de Genie 
Lacayo. Caso Niños dela Calle (Villagrán Morales): a CorteIDH decidiu que o direito à proteção da vida abarca inclusive as 
condições materiais mínimas de existência de uma pessoa, cabendo ao Estado, na promoção da vida, garantir o acesso às 
condições que garantam uma existência digna. Assentou-se, assim, que o direito à vida não possui apenas uma faceta dita 
de defesa, mas é, também, além de um direito civil e político, um direito econômico e social (indivisibilidade dos direitos 
humanos). Assim, a Corte exigiu da Guatemala a adoção de ações sociais e da garantia do mínimo existencial. Além disso, 
o direito à vida alcança ainda o dever de o Estado restaurar o “projeto de vida” (algo semelhante com a perda de uma chance). 
Por fim, decidiu a Corte que não se poderia invocar a tese defensiva de que a violação teria sido ocasionada pelo Poder 
 
 
 
1
 Vale ressaltar, que ao contrário da decisão da CorteIDH, o STF decidiu pela constitucionalidade/recepção da Lei de Anistia 
no Brasil (Lei n. 6.683/79), no julgamento da ADPF n. 153. De acordo com o STF, trata-se de Lei “medida” 
(Massnahmegesetze): “(...) que disciplinam diretamente determinados interesses, mostrando-se imediatas e concretas, e 
consubstanciam, em si mesmas, um ato administrativo especial. No caso das leis-medida interpreta-se, em conjunto com o 
seu texto, a realidade no e do momento histórico no qual ela foi editada, não a realidade atual. É a realidade histórico-social 
da migração da ditadura para a democracia política, da transição conciliada de 1979, que há de ser ponderada para que 
possamos discernir o significado da expressão crimes conexos na Lei n. 6.683. É da anistia de então que estamos a cogitar, 
não da anistia tal e qual uns e outros hoje a concebem, senão qual foi na época conquistada”. 
5 
1.b. Relação entre violação de direitos humanos e crimes internacionais conexos: apartheid, 
tortura, desaparecimento forçado, genocídio, trabalho e comércio escravo, crimes de guerra e crimes 
contra a humanidade. 
 
A Comissão de Direito Internacional da ONU define crime internacional como o descumprimento, pelo Estado, de 
uma obrigação essencial para a salvaguarda de interesses fundamentais da sociedade internacional e cuja transgressão é, 
por esse motivo, reconhecida como grave pelos membros dessa coletividade. 
Embora o conceito acima seja incompleto, por não levar em conta a personalidade internacional dos indivíduos, 
os deveres que estes devem cumprir na vida social – inclusive no âmbito internacional – e o princípio da responsabilidade 
individual, que é uma das marcas do Direito Penal com um todo, deixa ele entrever a íntima correlação que a ideia de crimes 
internacionais tem com a violação aos direitos humanos (valores e interesses fundamentais tutelados em favor da dignidade 
humana). 
O desenvolvimento da noção de crimes internacionais é fenômeno que remonta à segunda metade do século XIX, 
quando teve início um esforço internacional de humanização da guerra. Entretanto, a consolidação do conceito é fenômeno 
posterior ao final da II Guerra Mundial e decorre diretamente da formação de um sistema internacional de proteção dos direitos 
humanos e de um mecanismo internacional de segurança coletiva administrado pela ONU e exercido pelo Conselho de 
Segurança. 
Com efeito, a construção da ideia de crimes internacionais é também fenômeno típico de um mundo em que há 
certa convergência em relação a uma pauta mínima de valores e no qual há muitas questões que dizem respeito a mais de 
um Estado específico ou a toda a sociedade internacional. É a consciência comum em relação à necessidade de se deferir 
especial tutela a certos valores (v.g., igualdade de gênero, de raça, etnia; inviolabilidade de crenças e convicções religiosas; 
liberdade do ser humano e autodeterminação dos povos, etc) que conduziu o DIP à preocupação de tipificar como 
“criminosas” as condutas transgressoras dos valores/bens/direitos relacionados com a dignidade humana. 
Neste sentido, Flávia Piovesan anota que o Tribunal de Nuremberg (1945-1946) significou um poderoso impulso 
ao movimento de internacionalização dos direitos humanos. Ao final da II Guerra e após intensos debates sobre o modo pelo 
qual poderiam os alemães ser responsabilizados pela guerra e pelos bárbaros abusos do período, os aliados chegaram a um 
consenso, com o Acordo de Londres de 1945, pelo qual ficava convocado um Tribunal Militar Internacional para julgar os 
criminosos de guerra. Ainda como contribuições históricas para reprimir os crimes internacionais, vale citar o Tribunal Penal 
Internacional para a ex-Iugoslávia e o Tribunal Penal Internacional para Ruanda, criados na década de 90 do século passado 
para processar e julgar indivíduos por atos cometidos nos conflitos ocorridos nesses dois países, todos, Tribunais de Exceção. 
Ainda de acordo com Piovesan, a adoção da Convenção para a Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio, 
em 8 de dezembro de 1948, que afirmou ser o genocídio um crime contra a ordem internacional, iniciando-se, então, os 
esforços para a criação de um Tribunal Penal Internacional permanente. De acordo com o artigo 6º da Convenção, “as 
pessoas acusadas de genocídio serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo território foi o ato cometido 
ou pela corte penal internacional competente com relação às Partes Contratantes que lhe tiverem reconhecido a jurisdição”. 
Importante anotar que, em abril de 2015, completou 100 anos o episódio conhecido como “Genocídio Armênio”, o qual 
representa significativo marco histórico de crimes notoriamente conhecidos “contra a humanidade e civilização”, de conotação 
humanitária e que contribuíram para a criaçãode Tribunais Internacionais que visavam a reprimir crimes, conforme acima 
mencionado. Todos esses eventos convergiram esforços internacionais para a criação de um organismo intergovernamental 
permanente, o Tribunal Penal Internacional (TPI), competente para examinar quatro tipos de ilícitos,desde que sejam de 
maior gravidade e que afetem a comunidade internacional em seu conjunto: crimes de guerra, crimes contra a humanidade, 
crimes de agressão e genocídio. 
Vale ressaltar que a comunidade internacional tece críticas ao âmbito de atuação do TPI, na medida em que 
referido Tribunal apenas julgou ou processa autoridades de países africanos, o que representaria uma forma de “imperialismo 
moderno”. Não há, efetivamente, autoridades de países desenvolvidos que tenham sido objeto de processo e julgamento 
perante o TPI. Com efeito, até a atualidade, o TPI proferiu duas condenações e uma absolvição em um total de seis casos 
analisados, sendo que as duas condenações se referem aos casos “Katanga” e “Lubanga”. Em relação a legalidade de seus 
crimes, destaca-se que o crime de agressão foi tipificado recentemente, mas a alteração do Estatuto de Roma sobre o assunto 
não foi internalizada pelo Brasil. 
No âmbito do Sistema Global de proteção de Direitos Humanos, cumpre ainda enumerar diversos tratados 
destinados a conferir especial proteção aos valores caros á Sociedade Internacional. É neste cenário que se apresentam: a 
Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (ONU, 1965); a Convenção sobre 
a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (ONU, 1979); a Convenção sobre os Direitos da Criança 
(ONU, 1989); a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006); a Convenção Internacional sobre a 
Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias (Resolução nº 45/158, AGda 
ONU, 1990); a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas cruéis, desumanos e degradantes (ONU, 1984), 
a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948). 
 
 
6 
 
1.c. Proteção internacional dos direitos humanos e a reserva de jurisdição interna do Estado: 
limites e aplicabilidade do art. 2º, para. (7), da Carta da ONU. Inteligência do art. 1°, para. (3), da Carta da 
ONU. 
 
 Inteligência do art. 1°, para. (3), da Carta da ONU: O dispositivo estabelece que entre os objetivos da ONU está 
“realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou 
humanitário, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem 
distinção de raça, sexo, língua ou religião”. A inteligência do dispositivo desejada pelo examinador parece no sentido de que 
as questões econômicas sociais culturais e humanitárias estão intimamente ligadas ao respeito dos direitos humanos. Não 
há plenitude de direitos humanos sem a solução de tais problemas. O artigo também deixa claro que a questão dos direitos 
humanos deve ser objeto de cooperação internacional, não se limitando cada Estado a resolver internamente seus problemas, 
além não ser possível a discriminação na promoção dos mesmos. 
Limites e aplicabilidade do art. 2º, para. (7), da Carta da ONU: a inclusão da obrigação de se respeitarem os 
direitos humanos na Carta da ONU foi um marco histórico no Direito Internacional Público, pois pela primeira vez os Estados 
comprometiam-se perante outros Estados a adotar um comportamento determinado ante os não sujeitos do direito 
internacional, ou seja, seus habitantes desprovidos de direitos. Com efeito, a ONU criou um sistema universal de proteção 
dos direitos. humanos com o advento, em especial, do Conselho de Segurança. Em regra, não haverá intervenção da ONU 
em assuntos que dependam de jurisdição do Estado, salvo quando houver hipótese de ameaça à paz, ruptura da paz e atos 
de agressão, hipóteses em que o Conselho de Segurança empregará a força para o restabelecimento da normalidade. 
O problema proposto neste caso é identificar quais são os assuntos de domínio reservado dos Estados que não 
podem sofrer a interferência da Organização. Neste ponto, verifica-se que o respeito aos direitos humanos é um dos principais 
propósitos consagrados na Carta da ONU, e, além dela, vários outros documentos internacionais expressam a obrigação dos 
Estados em respeitar as disposições internacionais humanitárias. 
Ademais a expressão “ações incompatíveis com os propósitos das Nações Unidas”, inserta no artigo 2º, n. 4, reflete 
uma “abertura” nos termos da Carta, uma vez que o dispositivo permite incluir várias situações imprevistas e vindouras, que 
podem ser enquadradas na norma e permitir que a Organização atue em determinados casos. As ações incompatíveis com 
os propósitos das Nações Unidas são aquelas contrárias ao disposto no primeiro artigo da Carta, ou seja: a) atos contrários 
à paz e segurança internacionais; b) solução não-pacífica de controvérsias; c) ações contrárias à autodeterminação dos 
povos; d) ações contrárias à igualdade de direitos dos povos e e) violações aos direitos humanos e às liberdades 
fundamentais. A inclusão destas expressões demonstra a preocupação de proibir a ameaça ou utilização da força não 
somente nos casos de integridade territorial ou independência política de qualquer Estado, mas, em qualquer ação militar 
que fosse contrária aos propósitos das Nações Unidas. 
Reitere-se que o disposto no art. 2º,§ 7º, da Carta da ONU, tende a ceder frente à constatação da existência de 
uma ameaça contra a paz, de uma ruptura da paz ou de um ato de agressão; casos em que as Nações Unidas, por meio da 
atuação do Conselho de Segurança, poderão empreender ações, armadas inclusive, em conformidade com o Capítulo VII da 
Carta, a fim de manter ou restabelecer a paz internacional em razão de situações de violações graves e sistemáticas de 
direitos humanos. Trata-se da teoria do “spill over effect”, por meio da qual é permitida a interferência do Conselho de 
Segurança da ONU em território de Estado Soberano. 
Anteriormente a aplicação de referida teoria, vigia a teoria “domaine rèservé”, conceito que impedia interveniência 
de órgãos internacionais em países soberanos violadores de direitos humanos. 
 
Valor normativo da Declaração Universal dos Direitos Humanos – Foi objeto da questão 57na fase objetiva 
em que o examinador considerou que a declaração “não é formalmente vinculante, mas é indicativo de amplo consenso 
internacional, integrando o chamado soft law”.O assunto é polêmico, pois há doutrinadores, como Valério Mazzuoli, que 
defendem a natureza de jus cogens de referida Declaração, embora ela seja, juridicamente, uma Resolução da ONU. 
Como esta questão gerou certa confusão, especialmente porque alguns autores simplesmente consideram a 
declaração universal sem fazer mais considerações, cabem alguns comentários. 
O conteúdo da Declaração é repetido e ampliado por inúmeros tratados de direitos humanos, gerais ou específicos, 
universais ou regionais. Tais tratados são formalmente vinculantes para os Estados que deles fazem parte. Por outro lado, 
muito do conteúdo da declaração é costume ou princípio de direito internacional. O fato de um determinado direito ou 
obrigação estar inserido na declaração é forte indicativo de que ele é vinculante por outros motivos (tratado, costume ou 
princípio), porém isto não faz da Declaração em si formalmente vinculante, ainda que a maior parte de seu conteúdo vincule 
os Estados por outros motivos. 
SHAW (93) traz uma explicação acerca da soft Law: Essa terminologia pretende indicar que o instrumento ou 
disposição de que se trata não é por si só uma "lei", mas sua importância dentro da estrutura geral do desenvolvimento 
jurídico internacional é tal que ele merece atenção particular. O "direito suave" não é direitoe não podemos nos esquecer 
disso; mas não é necessário, por exemplo, que um documento seja um tratado vinculante para que possa exercer influência 
na política internacional. A Ata Final de Helsinque, de 1975, é um exemplo de primeira ordem. Não era um acordo de 
cumprimento obrigatório, mas exerceu influência incalculável na Europa Central e Oriental, sublinhando o papel e a 
importância dos direitos humanos. Certas áreas do direito internacional geraram mais "direito suave" do que outras, na medida 
em que produziram instrumentos importantes, mas sem poder vinculante. 
Podemos citar aqui, particularmente, o direito econômico e o direito ambiental internacionais. O uso desses 
documentos, como quer que sejam chamados -recomendações, diretrizes, códigos de conduta ou padrões, por exemplo -, é 
significativo para assinalar a evolução e a fixação de diretrizes, que poderão a ser convertidas em normas legalmente 
obrigatórias. Tais diretrizes são importantes e influentes, mas, por si, não constituem normas jurídicas. 
 
7 
Ponto 2.a. Princípio da universalidade dos direitos humanos e o relativismo cultural. gramáticas 
diferenciadas de direitos. O ius cogens internacional em matéria de direitos humanos. 
 
Princípio da universalidade dos direitos humanos e o relativismo cultural: 
Conceito: A universalidade dos direitos humanos consiste na atribuição desses direitos a todos os seres humanos, 
não importando nenhuma outra qualidade adicional, como nacionalidade, opção política, orientação sexual, credo, etc. (ACR, 
Curso de Direitos Humanos, 2014, p. 89). A universidade dos direitos humanos pode ser entendida em três planos: a) 
titularidade – direitos humanos são universais porque seus titulares são os seres humanos; b) temporal – os direitos 
humanos são universais, pois os homens os possuem em qualquer época da história; c) cultural – os direitos humanos são 
universais porque permeiam todas as culturas humanas, em qualquer parte do globo (ACR, Teoria Geral dos Direitos 
Humanos na Ordem Internacional, 2015, p. 206). 
Internacionalização (em sentido amplo, em sentido estrito e consagração), universalismo formal e 
universalismo em concreto: No caso dos direitos humanos, a internacionalização em sentido amplo apresenta-se 
incipiente, de forma fragmentada, voltada a direitos específicos ou a situações localizadas, desde o século XIX e o início do 
século XX (ex.: proibição da escravidão; regime de mandatos da Sociedade das Nações, que impôs obrigações de respeito 
aos direitos das populações de territórios sujeitos ao mandato; proteção aos trabalhadores com a criação da OIT em 1919; 
proteção das minorias na Europa Oriental no pós 1ª Guerra), tendo sido importante para a constituição da base que auxiliou, 
após a 2ª Guerra, a constituição de uma proteção internacional dos direitos humanos estruturada e coerente. A 
internacionalização em sentido estrito deu-se apenas com a Carta de São Francisco, tratado internacional que criou a 
ONU em 1945, que, além de mencionar expressamente o dever de promoção de direitos humanos por parte dos estados 
signatários, estabeleceu ser tal proteção um dos pilares da ONU. É a Carta de São Francisco o primeiro tratado de alcance 
universal que reconhece os direitos fundamentais dos seres humanos, impondo o dever dos estados de assegurar a dignidade 
e o valor de todos. A consagração da internacionalização dos direitos humanos no mundo pós-Guerra Fria ocorreu na 
Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, em 1993 (marco na proteção de direitos humanos no mundo, resultando 
na elaboração de uma Declaração e um programa de ação para a promoção e proteção de direitos humanos, que contou 
com o reconhecimento claro do universalismo, da indivisibilidade e da interdependência dos direitos protegidos). Com a 
internacionalização dos direitos humanos, implantou-se formalmente o universalismo dos direitos humanos (universalismo 
formal), inoculado pela adoção dos estados do mesmo texto de direitos humanos imposto nos tratados ratificados. Contudo, 
não basta a adoção da mesma redação de um determinado direito para que o universalismo seja implementado: é necessário 
que haja também a mesma interpretação desse texto (universalismo em concreto). Assim, o DIDH é composto por duas 
partes indissociáveis: o rol dos direitos de um lado e os processos internacionais que interpretam o conteúdo desses direitos 
e zelam para que os estados cumpram suas obrigações (interpretação internacionalista). A manutenção e primazia dada 
aos estados pela interpretação nacionalista dos tratados de direitos humanos torna o regime jurídico do DIDH manco e 
incoerente: universal no texto, nacional na aplicação e intepretação das normas na vida cotidiana. Essa dicotomia 
(universalismo na ratificação x localismo na aplicação) representa o “truque de ilusionista” na ordem internacional: os 
estados ratificam os tratados, os descumprem cabalmente, mas alegam que os estão cumprindo (ACR, Processo 
Internacional de Direitos Humanos, 2015, p. 30/35). 
Universalismo e relativismo cultural – “ser universal na diferença”: o principal desafio do DIDH é o de ser 
universal na diversidade, ou seja, o de criar, por meio de tratados e costumes internacionais, um rol amplo de direitos e um 
grupo de órgãos judiciais ou quase judiciais que, por sua vez, determinarão as interpretações comuns dos mais importantes 
temas das heterogêneas sociedades humanas. Surge daí o conflito entre aqueles que defendem a universalidade e aplicação 
geral dos direitos humanos e aqueles que pregam a possibilidade de opção local ou particular para, assim, preservar 
determinadas condutas ou práticas. ACR destaca que, embora a declaração de Viena tenha admitido que as particularidades 
locais devem ser levadas em consideração, assim como os diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever do 
estado promover e proteger todos os direitos humanos, independentemente de seus sistemas políticos, econômicos e 
culturais. Logo, as peculiaridades locais ou ocasionais, segundo o autor, não podem justificar a violação ou amesquinhamento 
desses direitos. Apesar disso, parte da doutrina e estados, em várias situações, opõem-se à aplicação de determinados 
direitos por considerá-los ofensivos às práticas culturais ou às opções legislativas locais (ACR, Teoria Geral dos Direitos 
Humanos na Ordem Internacional, 2015, p. 208/210). 
Objeções à universalização dos direitos humanos: a) argumento filosófico – funda-se na existência de 
diversas percepções valorativas de mundo, típicas da comunidade humana, na qual nada é universal; b) argumento da falta 
de adesão dos estados – questiona a pretensa adesão dos estados à defesa dos direitos humanos como prova inequívoca 
do universalismo dessa temática no direito internacional atual, pugnando ora a falta de adesão formal, ora, na existência de 
adesão formal, a falta de engajamento prático, servindo a adesão apenas para efeito publicitário externo; c) argumento 
geopolítico – destaca o uso do discurso de proteção dos direitos humanos como um elemento da política de relações 
exteriores de vários estados, em especial dos estados ocidentais, que se mostram incoerentes em vários casos, omitindo-se 
na defesa de direitos humanos na exata medida de seus interesses políticos e econômicos; d) argumento cultural – diz 
respeito a diferenças culturais, focadas na relação do homem e sua comunidade existente na cultural ocidental e na cultura 
africana e asiática (dicotomia indivíduo-comunidade); outra objeção cultural relaciona-se a específicos direitos que refletiriam 
um viés cultural ocidental e muitas vezes apenas de algumas regiões; e) argumento desenvolvimentista – sustenta que 
direitos humanos exigem um estágio ulterior de desenvolvimento para sua correta proteção e implementação (ACR, Teoria 
Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional, 2015, p. 210/215). 
Reafirmação da universalidadedos direitos humanos: em relação às objeções filosóficas ao caráter universal 
dos direitos humanos, destaca-se que a teoria geral dos direitos humanos não pretende ser uma cosmovisão ou abranger 
todas as facetas da vida social. Em relação ao pretenso caráter ocidental (e consequentemente não universal) dos direitos 
humanos, ACR observa que não se trata de buscar um denominador comum mínimo dos diversos valores culturais, que 
aceita diversas condutas humanas apenas por serem integrantes de tradições culturais, em sacrifício da dignidade da pessoa 
humana, mas de se afirmar que a pluralidade de culturas e orientações religiosas (ou de cosmovisões) deve ser respeitada 
8 
com o reconhecimento da liberdade e participação com direitos iguais para todos. A aceitação de justificativas culturais a 
condutas violatórias de direitos humanos carrega forte acento totalitário, na medida em que pode significar a coerção daqueles 
que, embora membros da comunidade, não mais se identificam com seus valores. O relativismo cultural da temática dos 
direitos humanos pode, à custa da liberdade, restringir os indivíduos a papéis pré-estabelecidos, o que mostra o caráter 
libertário e de ruptura da temática dos direitos humanos. Em relação à objeção geopolítica, ACR destaca que a mesma crítica 
pode ser feita em relação a qualquer tema do direito internacional. Por fim, aponta-se a falha do argumento desenvolvimentista 
por se basear na relação riqueza-proteção de direitos humanos, que é desmentida pela realidade (ACR, Teoria Geral dos 
Direitos Humanos na Ordem Internacional, 2015, p. 215/220). 
Perspectivas interculturais no século XXI: há uma tendência de modificação na centralidade do debate entre 
universalismo e relativismo, visando construir as bases teóricas para um diálogo intercultural. É necessário estabelecer um 
duplo diálogo: primeiro, um diálogo interno no qual determinada cultura possa debater sua visão de dignidade da pessoa 
humana e dos direitos humanos; após, um diálogo externo, igualitário e baseado na reciprocidade, no qual as diversas 
concepções possam convergir. Tal diálogo só é possível a partir das seguintes premissas: a) todas as culturas e religiões 
comungam dos ideais gerais de igualdade e liberdade encontrados na DUDH, mas divergem quanto à extensão e conteúdo 
dos direitos em concreto, o que exigirá a reinterpretação dos preceitos locais (interpretação iluminista); b) o diálogo interno 
é essencial para pôr em cheque determinados dogmas culturais, levando à releitura de concepções locais, agora à luz dos 
direitos humanos; c) o diálogo externo (com outras culturas) acarreta a revaloração dos próprios padrões de direitos humanos, 
usados anteriormente como marcos hermenêuticos do diálogo interno; ocorre o fenômeno na legitimação retrospectiva dos 
padrões universais, que, antes de rejeitar tais padrões, busca por meio desse diálogo multicultural revalidá-los. Além disso, 
o século XXI conta com um instrumento eficaz para a superação da antiga dicotomia universalismo-relativismo: os processos 
internacionais de direitos humanos perante os tribunais internacionais. A atividade das cortes europeia e interamericana 
permite avaliar as objeções locais à implementação de direitos humanos pela própria lógica dos direitos, graças ao 
reconhecimento de diversos direitos em conflito. Assim, aquilo que era visto como um conflito ente uma opção cultural local 
e um direito previsto em um tratado passa a ser entendido como um conflito de direitos, entre o direito cultural e outro direito 
essencial em tela (ACR, Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional, 2015, p. 220/223). 
 
Gramáticas diferenciadas de direitos. 
Conceito: No artigo “A Gramática dos Direitos Humanos”, do prof. Oscar Vilhena Vieira, publicado no Boletim 
Científico da ESMPU, julho/setembro 2002, a expressão “gramática dos direitos” é utilizada como sinônimo de linguagem dos 
direitos. PIOVESAN, também utiliza a expressão “gramática dos direitos humanos” como sinônimo de linguagem ou 
interpretação dos direitos humanos. A expressão “gramática dos direitos humanos” refere-se às diversas linguagens 
produzidas ao longo da história ou pelos diferentes povos acerca da concepção dos Direitos Humanos. Neste ponto, a 
Declaração de 1948 inovou a gramática dos direitos humanos, ao introduzir concepção contemporânea de direitos humanos, 
marcada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos e combinando o discurso liberal da cidadania com o discurso 
social, elencando tanto direitos civis e políticos (arts. 3 a 21), como direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 a 28). 
 
O jus cogens internacional em matéria de direitos humanos. 
Normas imperativas em sentido amplo (jus cogens e obrigações erga omnes): as normas imperativas em 
sentido amplo são aquelas que contêm valores essenciais da comunidade internacional e que, por conseguinte, se impõem 
a cada estado isoladamente considerado. Logo, não é facultado ao estado o direito de violar normas imperativas ou de 
aquiescer com violações por parte de outrem dessas normas. Há duas espécies de normas imperativas em sentido amplo: o 
jus cogens e as obrigações erga omnes. O jus cogens (ou norma imperativa em sentido estrito ou norma cogente 
internacional) consiste no conjunto de normas que contém valores considerados essenciais para a comunidade internacional 
como um todo, sendo por isso dotado de superioridade normativa no choque com outras normas de direito internacional. 
Pertencer ao jus cogens não significa ser tal norma considerada como obrigatória, pois todas as normas 
internacionais o são: significa que, além de obrigatória, não podem os estados comportar-se de modo a derrogá-la, 
a não ser que a derrogação seja oriunda de norma de igual quilate. Já as obrigações erga omnes referem-se a 
obrigações internacionais cujo cumprimento interessa à comunidade internacional. Essas espécies não são estanques: 
normas pertencentes ao jus cogens são consideradas obrigações erga omnes. No entanto, o fato de uma norma pertencer 
ao conjunto de normas de obrigações erga omnes não implica no caráter cogente da mesma. O conceito de jus cogens 
implica o reconhecimento de uma qualidade do direito material (superioridade) e as obrigações erga omnes significam 
uma qualidade de implementação do direito material (todo estado tem interesse no cumprimento dessa norma) (ACR, 
Processo Internacional de Direitos Humanos, 2015, p. 49/50). 
O rol das normas imperativas: a Convenção Internacional sobre o Direito dos Tratados de Viena (CVDT, 1969) 
foi omissa na determinação do rol de normas pertencentes ao jus cogens, de modo que sua origem é o costume internacional. 
Dessa prática internacional fica evidente a existência de poucas normas de jus cogens reconhecidas, podendo ser apontadas 
como exemplos as seguintes: I) Proibição do uso ilegítimo da força, agressão e guerra de conquista: o desenvolvimento 
do direito internacional gerou a importante proibição do recurso à força como mecanismo de solução de controvérsias entre 
estados, sendo considerada a guerra e o recurso às represálias armadas ilegais. A CIJ consagrou tal entendimento no caso 
do Estreito de Corfu, considerando ilícita a chamada Operation Retail pela qual os navios de guerra do Reino Unido 
invadiram as águas territoriais da Albânia. Já no julgamento do litígio envolvendo Nicarágua versus Estados Unidos, a CIJ 
reconheceu a existência de obrigação internacional de proibição do uso da força para a solução de controvérsias entre 
estados. II) Princípio da autodeterminação dos povos: para ACR, autodeterminação dos povos é o direito à emancipação 
política de toda comunidade submetida à dominação estrangeira, jugo colonial e, recentemente, com base na experiência do 
Kosovo, grave situação de discriminação e violação dos direitos humanos (neste último caso o entendimento é minoritário). 
A CIJ reconheceu esse costumeinternacional no Caso do Timor Leste (Portugal versus Austrália, 1995), bem como nos 
Pareceres Consultivos sobre a Namíbia, 1971, e Saara Ocidental, 1975. No entanto, a consolidação consuetudinária 
direito à autodeterminação não eliminou a dúvida sobre quem pode invocá-lo. A prática tradicional dos estados indica que 
somente os povos sob dominação estrangeira ou jugo colonial é que estariam ao abrigo do jus cogens. Segundo ACR, o 
9 
caso do Kosovo sugere que as minorias existentes podem buscar a emancipação extraordinariamente – em face do direito 
à integridade territorial do antigo estado – caso haja discriminação e violação grave e sistemática dos direitos humanos, 
conforme consta do voto do Juiz Cançado Trindade no Parecer Consultivo da CIJ sobre a independência do Kosovo, 
de 2010 (tese, contudo, que não foi aceita pela maioria). A declaração de Viena de direitos humanos (1993) assinala uma 
conciliação entre proteção de direitos humanos e o direito à emancipação de agrupamentos não submetidos à dominação 
estrangeira ou jugo colonial, pugnando pela inexistência do direito de secessão no plano internacional desde que o estado 
possua governo representativo de toda a população pertencente ao seu território, sem distinções de qualquer natureza, ou 
seja, desde que não haja discriminação odiosa que leve o grupo discriminado a buscar a emancipação. 
As normas cogentes de direitos humanos: no âmbito da ONU, a CDI já considerou, em várias ocasiões, que 
violações a direitos de defesa (direitos de primeira geração) ofendem valores essenciais (ou seja, jus cogens) da sociedade 
internacional. Os tribunais internacionais caminham no mesmo sentido. A CorteIDH possui jurisprudência constante no 
sentido de reconhecer a qualidade de jus cogens de determinados direitos fundamentais (ex.: no parecer consultivo nº. 18 
sobre a condição jurídica e direitos dos migrantes não documentados de 2003 a Corte considerou que o princípio da 
igualdade e não discriminação pertence ao jus cogens; no caso dos meninos de rua da Guatemala – Caso Villagrán 
Morales, Cançado Trindade sustentou que o desaparecimento forçado de pessoas viola direitos humanos inderrogáveis – 
liberdade, integridade física e psíquica e direito à vida – e, por isso, pertence ao rol do jus cogens). Em paralelo, houve 
inconteste esforço da comunidade internacional de prevenir violações graves de direitos humanos desde o final da 2ª Guerra 
Mundial, o que culminou com a redação do Estatuto de Roma (TPI). Hoje, os direitos humanos protegidos pela tutela 
internacional penal strictu sensu (crimes contra a humanidade, crimes de guerra, genocídio e agressão) são parte integrante 
do jus cogens, uma vez que a vontade de um estado ou de estados isolados não impedirão a ação punitiva dos tribunais 
penais internacionais. 
O que se espera dos estados: não basta que seja reconhecido o estatuto de jus cogens de determinada regra 
internacional. O conceito de jus cogens exige que o estado se comporte de modo a respeitar seu conteúdo, não o derrogando 
com sua conduta comissiva ou omissiva. É necessário que o conceito de jus cogens gere o seu desdobramento lógico: 
permitir que os estados possam pacificamente fazer valer seus conteúdos pelo acesso obrigatório aos tribunais internacionais, 
dispensando-se a anuência como requisito de acesso à jurisdição internacional. 
 
10 
Ponto 2.b. Princípio da indivisibilidade dos direitos humanos. A teoria das “gerações” de 
direitos. Diferenças entre obrigações decorrentes da garantia de direitos civis e políticos e obrigações 
decorrentes da garantia de direitos econômicos, sociais e culturais. 
 
Princípio da indivisibilidade dos direitos humanos 
Conceito: Para ACR, a indivisibilidade dos direitos humanos consiste no reconhecimento de que todos os diretos 
humanos devem ter a mesma proteção jurídica, uma vez que são essenciais para uma vida digna (Teoria geral dos direitos 
humanos na ordem internacional, 2015, p. 224). Para o autor, a indivisibilidade possui duas facetas: a) o direito protegido 
apresenta uma unidade incindível em si; b) não é possível proteger apenas alguns dos direitos humanos reconhecidos. Pela 
indivisibilidade dos DH, a classificação entre direitos civis e políticos, de um lado, e direitos econômicos, sociais e culturais, 
de outro, perde a importância. A Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 adotou a indivisibilidade, consagrando 
a chamada concepção contemporânea de direitos humanos, conjugando o valor liberdade ao valor igualdade na seara dos 
direitos humanos. A DUDH parificou os direitos civis e políticos e os direitos econômicos e sociais, afirmando, ainda, a 
interrelação, indivisibilidade e interdependência de todos estes direitos: “Sem a efetividade dos direitos econômicos, sociais 
e culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais, enquanto sem a realização dos direitos civis 
e políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem de verdadeira significação” (Piovesan, pag. 142). A 
indivisibilidade foi reafirmada na Resolução 32/130 da AG-ONU e na Declaração de Direitos humanos de Viena (1993). 
 
Teoria das “gerações” de direitos 
Conceito: A teoria das gerações de direitos decorre de uma incompreensão surgida a partir de uma metáfora 
usada por Karel Vasak, que, em Conferência proferida no Instituto Internacional de Direitos Humanos no ano de 1979, 
classificou os direitos humanos em três gerações, cada uma com características próprias. Parte-se do critério do momento 
histórico em que o direito foi concebido, não se tratando de sucessão geracional de direitos, mas de expansão, cumulação 
ou fortalecimento dos direitos humanos, todos essencialmente complementares. 
Gerações: Primeira geração: engloba os chamados direitos de liberdade, que são direitos às chamadas 
prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a esfera de autonomia do indivíduo; são direitos de defesa, possuindo 
o caráter de distribuição de competências (limitação) entre o Estado e o ser humano, sendo denominados direitos civis e 
políticos. Segunda geração: representa a modificação do papel do Estado, exigindo-lhe um vigoroso papel ativo, além do 
mero fiscal das regras jurídicas; sob a influência das doutrinas socialistas, constatou-se que a inserção formal de liberdade e 
igualdade em declarações de direitos não garantia a sua efetiva concretização, o que gerou movimentos sociais de 
reivindicação de um papel ativo do Estado para realizar aquilo que CELSO LAFER denominou “direito de participar do bem-
estar social”; Terceira geração: fundamento na solidariedade – ou fraternidade –, são de titularidade coletiva e indivisíveis, 
não fracionáveis quanto aos seus destinatários; trazem como nota distintiva o fato de se desprenderem, em princípio, da 
figura do homem-indivíduo como seu titular, destinando-se à proteção de grupos humanos (povo, nação), e caracterizando-
se, consequentemente, como direitos de titularidade transindividual (coletiva ou difusa); dentre os direitos fundamentais de 
terceira dimensão mais citados, cumpre referir os direitos à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, ao meio 
ambiente e qualidade de vida, bem como o direito à conservação e utilização do patrimônio histórico e cultural e o direito de 
comunicação. Alguns autores aventam a existência de direitos de quarta geração, ligados à democracia participativa 
(plebiscito, referendo, iniciativa popular, ação popular) e à democratização dos fóruns de deliberação internacional (ex. direito 
de representação de cidadãos de um determinado estado nos órgãos de deliberação em órgãos internacionais, como o 
Parlamento do Mercosul); para BONAVIDES, esta quarta dimensão é composta pelos direitos à democracia (no caso, à 
democracia direta) e à informação, assim como pelo direito ao pluralismo. Merece registro, ainda, a proposta de Bonavides, 
no sentidode que o direito à paz integra uma quinta geração de direitos humanos e fundamentais. Por fim, destaca-se ainda 
o posicionamento de JOSÉ ALCEBÍADES DE OLIVEIRA JÚNIOR, para quem, com base na dinâmica da sociedade 
tecnológica, a quarta geração incluiria os direitos relacionados ao domínio da biotecnologia e bioengenharia, os quais, por 
tratarem de questões ligadas à vida e à morte, requerem uma discussão ética prévia, ao passo que a quinta geração diz 
respeito ao campo da cibernética e da tecnologia da informação e comunicação de dados, que apresenta como característica 
comum a superação das fronteiras mediante o uso da internet e outras ferramentas. 
Críticas: a teoria geracional vista acima é criticada nos dias de hoje por transmitir, de forma errônea, o caráter de 
sucessão de uma geração por outra. Para BONAVIDES, no caso dos direitos humanos não há sucessão, mas sim 
acumulação de direitos; para o autor, a melhor expressão seria “dimensão”, que se justifica tanto pelo fato de não existir 
realmente uma sucessão ou desaparecimento de uma geração por outra, mas também quando novo direito é reconhecido, 
os anteriores assumem uma nova dimensão, de modo a melhor interpretá-los e realizá-los. 
 
Diferenças entre obrigações decorrentes da garantia de direitos civis e políticos e obrigações decorrentes 
da garantia de direitos econômicos, sociais e culturais: 
Diferente dos direitos civis e políticos, considerados absolutos no que tange a sua autoaplicabilidade, os direitos 
econômicos, sociais culturais consagrados no PIDESC têm como característica a realização progressiva, conforme os 
recursos de cada Estado. Além disso, a forma de acompanhamento da efetivação exclusivamente através de relatórios resulta 
em mera condenação política, o que confere baixa efetividade, razão pela qual na Declaração de Viena consta a 
recomendação para que seja aceita a petição individual como instrumento de cobrança da efetivação do PIDESC. Não 
obstante é assente a ideia de que é vedado o retrocesso social, ou seja, prevalece o efeito catraca em matéria de direitos 
econômicos, sociais e culturais, constituindo condições materiais para a efetiva fruição dos direitos civis e políticos. 
A doutrina mais recente entende que os DESC são direitos subjetivos públicos, ainda que de efetivação complexa. Em 
consonância com o DIDH, o Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento, na ADPF 45, de que a cláusula da reserva do 
possível não pode resultar na nulificação ou aniquilação de direitos fundamentais, preservando assim o núcleo essencial dos 
direitos econômicos, sociais e culturais ao assegurar o mínimo existencial. Nesse sentido, Deborah Duprat, na ADPF em 
defesa da pessoa deficiente, argumenta que o mínimo existencial constitui um pressuposto para a liberdade, bem como para 
11 
a participação democrática na vida pública. 
Verifica-se ainda que os DCP caracterizam-se por impor ao Estado um dever de abstenção (não fazer), de não 
interferência no espaço de autodeterminação do indivíduo. Mas há hipóteses em que um direito de 1ª geração dá lugar a um 
direito à prestação positiva (ex. a propriedade privada pode revelar um dever prestacional do estado, como a segurança 
pública, de modo a evitar a usurpação da propriedade). Já os DESC demandam uma atuação estatal corretiva, gerando uma 
obrigação estatal de fazer ou de dar. Mas há hipóteses em que um direito de 2ª geração dá origem a direito de defesa (ex. 
direito de greve e direito à livre associação sindical, cuja dimensão preponderante é negativa, a exigir do estado a tolerância 
aos movimentos grevistas e às associações). 
 
12 
Ponto 2.c. Direitos humanos e garantias constitucionais fundamentais: convergências e 
divergências conceituais. Tratamento diferenciado entre direitos fundamentais e direitos sociais na 
Constituição Federal. 
 
Direitos humanos e garantias constitucionais fundamentais: convergências e divergências conceituais: 
Direitos humanos são “um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as 
exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humana, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos 
ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional” (CUNHA JR, 542). Embora ontologicamente ligados, tem-se 
reservado a expressão “direitos fundamentais” para designar os direitos humanos positivados em nível interno, assegurados 
pelos mecanismos constitucionais, enquanto “direitos humanos”, de alcance universal, no plano das declarações e 
convenções internacionais, assegurados por mecanismos internacionais de supervisão e controle e, indiretamente, por 
mecanismos internos. A “diferenciação [entre direitos humanos e direitos fundamentais] perde a importância em virtude do 
processo de aproximação e mútua relação entre o direito internacional e o direito interno na temática dos direitos humanos” 
(RAMOS, 2007, p. 128), como ocorre nos arts. 5º, §§ 2º e 3º, e 109, § 5º, da CR. 
Direitos humanos internacionais são “a soma dos direitos civis, políticos [1ª geração], econômicos, sociais [2ª], 
culturais e coletivos [3ª] estipulados pelos instrumentos internacionais e regionais e pelo costume internacional” (PETERKE, 
2010, pp. 88 e 89). Direitos civis são “toda forma de garantia que protege a integridade física e psíquica”. Direitos políticos 
são “toda forma de garantia que protege a participação na vida política e social”. Direitos econômicos são “direitos humanos 
referentes à produção, ao desenvolvimento e à administração de materiais para as necessidades da vida”. Direitos sociais 
são “reclamações aos governos a fim de que propiciem o bem-estar a todos que residem em seus territórios”. Direitos 
culturais são “direito de preservar e gozar da identidade cultural e do desenvolvimento” (ARAGÃO, 2010, pp. 356 e 357). 
A expressão “direitos e garantias fundamentais” é gênero do qual são espécies, entre outros, os direitos e 
deveres individuais e coletivos e os direitos sociais. Não há dúvidas de que a CF-88 inseriu extenso (e esparso) rol de direitos 
sociais, sendo que o qualificativo “social” não está exclusivamente vinculado a uma atuação positiva do Estado na promoção 
e na garantia de proteção e segurança social, porquanto também são sociais direitos que asseguram e protegem um espaço 
de liberdade ou mesmo de proteção de determinados bens jurídicos para segmentos sociais, como o direito dos 
trabalhadores. 
A CR 88 incluiu os direitos sociais no título dos direitos e garantias fundamentais (art. 6º e ss., complementado 
pelo título da ordem social). Até então, esses direitos eram tratados como normas programáticas; após, afirmaram-se como 
autênticos direitos fundamentais. Os direitos sociais também têm dupla fundamentalidade: formal (ao se inserir 
positivamente em texto constitucional ou em tratados internacionais firmados e incorporados) e material (ao se mostrarem 
projeção da dignidade humana). 
No sistema brasileiro, os direitos sociais também se encontram sob o regime material de aplicabilidade imediata 
(art. 5º, §1º, CF), a despeito da posição topográfica desta norma (inserida dentro do capítulo dos direitos e deveres 
individuais). Por outro lado, para além de uma interpretação literal do art. 60, §4º, CF, entende-se que esta regra de 
imunização visa a impedir a destruição dos elementos essenciais da Constituição, no particular, os direitos projetados da 
dignidade humana. Ademais, não existe na CF/88 uma rígida separação entre os direitos de liberdade e os direitos sociais, 
de modo a excluir estes últimos do rol de cláusulas pétreas. 
Diversamente dos direitos fundamentais clássicos, cujo conteúdo é determinado pela CF/88, a maior parte das 
normas consagradoras de direitos sociais “não definem aquilo que o cidadão pode exigir em juízo a partir delas”. Os direitos 
sociais — de implantação sempre onerosa— podem, então, ser realizados de várias formas e demandam“que se reconheça 
um vasto espaço de liberdade de conformação do legislador”, em razão do princípio democrático e da escassez de recursos 
(SARMENTO, 2010, pp. 564, 565 e 567). 
Destaca-se que “a cláusula da reserva do possível [...] encontra insuperável limitação na garantia [...] do mínimo 
existencial [...]. A noção de “mínimo existencial”, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos constitucionais (CF, 
art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de garantir condições 
adequadas de existência digna, em ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, também, a 
prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos [...]. [DUDH], de 1948 
(Artigo XXV). A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E AO 
INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. - O princípio da proibição do retrocesso 
impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo 
cidadão ou pela formação social em que ele vive.” (ARE 639337 AgR / SP, 2 T, 08.2011, rel. Celso Mello). 
 
13 
3.a. Relação entre o regime de proteção internacional de direitos humanos, o direito 
internacional humanitário, o direito de minorias, o direito de refugiados e o direito internacional penal. 
 
Direitos Humanos: garantias fundamentais, particularmente de natureza civil e política, inicialmente reconhecidas 
no plano interno dos países e que, ao depois, foram consagrados, em tratados e convenções, no plano internacional; Direito 
Humanitário: regulação do tratamento destinado aos soldados feridos ou náufragos, aos prisioneiros, ao pessoal voltado aos 
serviços de socorros e aos não combatentes, i.e., às populações civis em tempos de conflitos armados; 
Direitos dos Refugiados: regulação do direito de asilo ou de refúgio. 
Direito das Minorias: parte dos direitos humanos que se destina a proteger os direitos de membros de minorias 
étnicas, religiosas ou linguísticas, ainda que não nacionais do Estado em que se encontram, assegurando-lhes o usufruto de 
sua cultura, a prática de sua religião e o uso de sua língua. 
Direito Internacional penal: conjunto de normas que possibilita a punição de crimes, delitos e infrações 
internacionais. 
 Embora constituam regimes formalmente distintos – cada qual com sua peculiar normatização 
substantiva e processual – interagem de modo a formar um sistema funcionalmente integrado. No plano substantivo, essa 
interação revela-se, por exemplo, no art. 3, comum às quatro Convenções de Genebra sobre Direito Internacional 
Humanitário, que consagra direitos humanos básicos, uma pauta mínima de humanidade, a serem respeitados tanto em 
tempos de paz como em tempos de conflitos armados. Em igual senda, determinadas garantias fundamentais da pessoa 
humana encontram-se consagradas nos dois Protocolos Adicionais de 1977 às Convenções de Genebra. Também as normas 
relativas aos direitos inderrogáveis – art. 4(2) do Pacto de Direitos Civis e Políticos, art. 27 da Convenção Americana sobre 
Direitos Humanos, art. 15(2) da Convenção Européia de Direitos Humanos, bem como o já mencionado art. 3 das Convenções 
de Genebra sobre Direito Internacional Humanitário –, que são aplicáveis indistintamente tanto no âmbito dos Dir. Humanos 
como no do Dir. Humanitário. 
 O mesmo se passa com o Direito dos Refugiados (cuja existência deve-se, em grande medida, 
à violação de direitos humanos, que, por sua vez, gera a fuga de nacionais de seus países) e os Direitos Humanos. Aplicam-
se, assim, as disposições relativas ao sistema de proteção dos Direitos Humanos antes do processo de solicitação de asilou 
ou refúgio, durante o seu curso e depois de seu término (na fase final das soluções duráveis). Dada a inter-relação acima 
assinalada, em nada surpreende que muitos dos direitos humanos universalmente consagrados se apliquem diretamente aos 
refugiados, por exemplo, os arts. 9 e 13-15 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e o art. 12 do Pacto de Direitos 
Civis e Políticos). Em via de mão dupla, também preceitos do Direito dos Refugiados aplicam-se ao domínio dos Direitos 
Humanos, como é o caso do princípio da não-devolução (vide art. 33 da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados, art. 3 
da Convenção das Nações Unidas contra a Tortura, e o art. 22(8) e (9) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos). 
 No plano operacional, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – ACNUR e 
o Comitê Internacional da Cruz Vermelha – CICV trabalham em conjunto para enfrentar questões atinentes aos direitos 
humanos e ao direito humanitário, inclusive com a prestação de assistência, por parte do CICV, a detidos ou prisioneiros 
políticos em decorrência não de guerra, mas de repressão política interna. Também em matéria de Direito dos Refugiados 
nota-se essa operação conjunta. A partir da criação do ACNUR, passou o CICV a exercer papel complementar ao daquele, 
nas diversas crises humanitárias ocorridas em diferentes partes do mundo. Em verdade, um sem-número de cláusulas das 
Convenções de Genebra e de seus Protocolos Adicionais lida especificamente com refugiados (i.e. arts. 44 e 70(2) da 
Convenção IV e art. 73 do Protocolo I) ou a eles se relacionam indiretamente (arts. 25-26, 45 e 49 da Convenção IV; art. 33 
do Protocolo I; e art. 17 do Protocolo II). Ademais, resoluções adotadas por sucessivas Conferências Internacionais da Cruz 
Vermelha vezeiramente dispõem sobre a assistência a refugiados e deslocados. 
 A aplicação das normas relativas ao Direito dos Refugiados e ao Direito Humanitário não exclui 
a aplicação concorrente das normas relativas aos Direitos Humanos (dado seu caráter de generalidade), o que restou 
reconhecido na II Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, junho de 1993). A obrigação passa a ser incondicional e 
partilhada por todos. 
 Princípios comuns ao Direito Internacional dos Direitos Humanos e ao Direito Internacional 
Humanitário: inviolabilidade da pessoa (englobando o direito à vida, à integridade física e mental e aos atributos da 
personalidade); não-discriminação (de qualquer tipo); segurança da pessoa (abarcando a proibição de represálias, de penas 
coletivas e de tomada de reféns; observância das garantias judiciais, da inalienabilidade dos direitos e da responsabilidade 
individual). 
 O chamado Direito das Minorias serve como contraponto e mitigação do Direito dos Povos. 
Enquanto este último relaciona-se com o direito das populações de se autogerirem e de se autodeterminarem, formando um 
Estado nacional, aquele – o Direito das Minorias – relaciona-se com os deveres cometidos à nação assim constituída, o 
Estado, no sentido de respeitar as eventuais particularidades religiosas, culturais ou lingüísticas de determinada parcela da 
população desse mesmo Estado. Assim, o direito de autodeterminação e de autogestão (Direito dos Povos) encontra-se 
juridicamente limitado pelo dever correlato de respeitar a livre expressão de eventuais minorias (Direito das Minorias). 
 A matéria, depois do fim da Primeira Guerra, passou a ser objeto de acordos internacionais 
específicos, no âmbito da Liga das Nações e da ONU. A vigente Resolução 47/135, de 18 de dezembro de 1992, da 
Assembléia Geral da ONU, adota a “Declaração dos Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas, 
Religiosas e Lingüísticas”. Nesse documento, às minorias, em regra, não é reconhecida capacidade jurídica coletiva, isto é, 
não lhes é reconhecida personalidade jurídica de direito público internacional. Os direitos proclamados dirigem-se, 
precipuamente, aos indivíduos pertencentes a essas minorias. Entretanto, há concessões importantes ao reconhecimento da 
existência de direitos coletivos das minorias, como, porexemplo, o de “criar e gerir suas próprias associações” (art. 2, 
parágrafo 4). 
 Esse reconhecimento, ainda que eventual, de direitos coletivos, é a novidade histórica trazida 
pela mencionada Resolução da ONU, que sinaliza, talvez, nova tendência para o tratamento futuro da matéria. Importante 
notar que o Direito das Minorias não autoriza movimentos em favor de secessão. A uma, porque seria contraditório com a 
própria idéia da existência da minoria. A duas, porque implicitamente vedado pelo art. 8, parágrafo 4, da própria Resolução 
14 
(i.e. que garante o princípio à manutenção da integridade territorial dos países pactantes). Outro ponto importante da referida 
Resolução é a ausência de definição legal do termo “minoria”, cujo conteúdo é alvo de acirrada e histórica controvérsia tanto 
de natureza política quanto doutrinária. De se destacar ainda uma gama de normas protetoras dos direitos dos povos 
indígenas (categoria minoritária específica), sobretudo a Convenção nº 169 da OIT. 
 A violação a direitos humanos garantidos em tratados internacionais, como o são aqueles 
previstos pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos, pelo Direito Humanitário e pelo Direito dos Refugiados, pode gerar 
responsabilização penal internacional, conforme determinam as regras de competência complementar (princípio da 
complementaridade) do Tribunal Penal Internacional Permanente – TPIP, criado pelo Estatuto de Roma. No caso de países 
que não tenham aderido ao TPIP, pode-se cogitar da responsabilização penal mediante a constituição de Tribunais ad hoc, 
segundo decisão específica do Conselho de Segurança da ONU. Neste último caso, diferentemente do que ocorre com o 
TPIP, a competência do Tribunal Internacional revela primazia sobre a competência dos Tribunais nacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.b. Eficácia vertical e horizontal de direitos humanos ("Drittwirkung"). Obrigação de respeitar e 
de garantir respeito a direitos. 
 
 Não há divergência em relação à projeção de direitos fundamentais sobre as relações entre os 
cidadãos e os poderes públicos, a denominada eficácia vertical dos direitos fundamentais. A eficácia horizontal (privada ou 
externa) refere-se à projeção dos direitos fundamentais às relações entre particulares. 
 Teoria da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais na esfera privada: Esta teoria foi 
defendida inicialmente na Alemanha na década de 50. Os direitos fundamentais podem ser invocados diretamente nas 
relações privadas, independentemente de qualquer mediação por parte do legislador, ressalvando-se a necessidade de 
ponderar o direito fundamental em jogo com a autonomia privada dos particulares envolvidos no caso. 
 Parâmetros para a ponderação de interesses: o fato de os particulares serem também titulares 
de direitos fundamentais, desfrutando de autonomia privada constitucionalmente protegida, impõe uma série de adaptações 
e especificidades na incidência dos direitos humanos no campo privado. Quanto maior a desigualdade, mais intensa será a 
proteção do direito fundamental em jogo e menor a tutela da autonomia privada, variando a ponderação de interesses também 
em função da natureza da questão constitucional. 
 No Brasil predomina a teoria da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais na esfera 
privada, com a vinculação direta dos particulares aos direitos fundamentais, aceita pela maioria da doutrina (José Adércio, 
Sarmento, Barroso) e na jurisprudência é a tese que o STF vem adotando, antes sem mencionar diretamente tal teoria, mas 
já constando em julgados mais recentes (STF, RE 201819/RJ, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 11/10/2005). 
 Sobre a eficácia horizontal existem ainda as seguintes teorias: 
• Na Alemanha prevalece a teoria da eficácia indireta (mediata) dos direitos fundamentais na esfera privada, que 
nega a possibilidade de aplicação direta nas relações privadas, segundo essa teoria, a Constituição não investe os 
particulares em direitos subjetivos privados, mas ela contém normas objetivas, cujos efeitos de irradiação levam à 
impregnação das leis civis por valores constitucionais.Ao Judiciário sobraria o papel de preencher as cláusulas 
indeterminadas criadas pelo legislador, levando em consideração os direitos fundamentais ou rejeitar, por 
inconstitucionalidade, a aplicação de normas privadas incompatíveis com tais direitos. Prevalece tal teoria na Áustria e na 
França. 
• Teoria dos deveres de proteção. Na Alemanha, autores (Canaris, Isensee) consideram que o Estado tem a 
obrigação não apenas de abster-se de violar os direitos fundamentais, mas também de protegê-los diante de lesões e 
ameaças provenientes de terceiros, inclusive particulares; 
• Teoria da convergência estatista, de Jurgen Schwabe (Alemanha-1971): é sempre o Estado o responsável último 
por lesões a direitos fundamentais que têm origem nas relações privadas; 
• Robert Alexy tentou conciliar as correntes, pois todas elas reconhecem que as gradações da eficácia dos direitos 
decorrem da ponderação de interesses, propondo um modelo de três níveis de efeitos: o nível dos deveres do Estado, o nível 
dos direitos frente ao Estado e o nível de relação entre os particulares. 
 
 Obrigação de respeito aos direitos humanos, para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, 
caracteriza-se como dever de caráter eminentemente negativo, de abstenção de condutas violadoras dos direitos 
humanos; continua a Corte, na sentença do Caso Velasquez Rodriguez, que o exercício da função pública tem limites que 
derivam dos direitos humanos, atributos inerentes à dignidade humana e em conseqüência, superiores ao poder do Estado 
(RAMOS,2004:41). 
 Obrigação de garantia se relaciona com uma obrigação de fazer. Para a Corte 
Interamericana, ainda no Caso Velasquez Rodriguez, essa obrigação manifesta-se de forma preponderantemente positiva, 
tendo por conteúdo o dever dos Estados Partes de organizarem o “aparato governamental e, em geral, todas as 
estruturas através das quais se manifesta o exercício do poder público, de maneira tal que sejam capazes de 
assegurar juridicamente o livre e pleno exercício dos direitos humanos” (RAMOS,2004:42). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.c. As Nações Unidas e a promoção universal dos direitos humanos: inteligência do art. 1º, 
para. (3), da Carta da ONU. Valor normativo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
 
 Os países aliados, em outubro de 1944, reuniram-se na cidade de Dumbarton Oaks para 
estabelecer as diretrizes de uma nova organização internacional em que se garantisse a paz e a segurança internacional 
após a guerra. Essas diretrizes ficaram conhecidas como Dumbarton Oaks Proposals e serviram de inspiração para 
elaboração da Carta da ONU. O Dumbarton Oaks Proposals fazia referência apenas em uma passagem ao termo “direitos 
humanos”. Já a Carta das Nações Unidas, desenvolvendo melhor o tema, fez referência a mencionada expressão em 5 
passagens: art. 1.º, parágrafo (3); art. 13, parágrafo (1), alínea (b); art. 55, alínea (c); art. 60; art. 62, parágrafo (2). Embora 
ocorram as citadas referências, a Carta da ONU não definiu em que consistiam “os direitos humanos”. Por isso, a Comissão 
responsável pela organização inicial da ONU, já em setembro/1945, recomendou ao Conselho Econômico e Social instituir 
uma Comissão de Direitos Humanos com a finalidade de elaboração de um “Bill of Rights” internacional e assim foi feito 
resultando na DUDH. A DUDH foi adotada por unanimidade fato que reforça sua força política. Dos 56 países representados 
na sessão da Assembléia, 48 votaram a favor e houve oito abstenções. É composta de 30 artigos. Combinou, de forma 
inédita, o discurso liberal com o discurso

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