Buscar

Formas de Contratos e seus Princípios

Prévia do material em texto

BOA-FÉ OBJETIVA
Conceito - É a relação de confiança que se estabelece entre as partes contratantes, assim, se refere a conduta dos agentes. Dessa forma, as partes devem agir de maneira honesta e proba dentro das relações contratuais. 
Está prevista no art. 113 do CC (função interpretativa da boa-fé objetiva); 187 do CC; e 422 do CC.
Deveres Anexos Decorrentes da Boa-fé - O princípio da boa-fé objetiva inclui outros deveres anexos, como:
Dever de cuidado em relação à outra parte negocial;
Dever de respeito;
Deve de informar a outra parte sobre o conteúdo do negócio;
Dever de agir conforme a confiança depositada;
Dever de lealdade e probidade;
Dever de colaboração ou cooperação;
Dever de agir com honestidade; e
Dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade e boa razão.
Momento de Aplicação da Boa-fé Objetiva - A boa-fé deve ser observada na conclusão (celebração) do contrato, bem como em toda sua execução, fase pré-contratual (culpa in contrahendo) e pós-contratual (culpa pos pactum finitum). 
Estas determinações decorrem de uma interpretação extensiva do art. 422 do CC e dos enunciados 25 e 170 do CJF.
Exemplos de Aplicação da Boa-fé Objetiva nos Diversos Momentos Contratuais:
Exemplo de violação na fase pré-contratual - Ex.: Caso dos Tomates.
Exemplo de violação na fase contratual - Ex.: Caso Zeca Pagodinho.
Exemplo de violação na fase pós-contratual - Ex.: Caso da Construtora no Guarujá; Recall.
Função de Interpretação da Boa-fé Objetiva - art. 113 do CC - Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Função de Controle da Boa-Fé Objetiva (abuso de direito) - art. 187 do CC - Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Função de Integração da Boa-fé Objetiva - art. 422 do CC - Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Esta função se divide em vários conceitos paralelos. São estes: 
Supressio
Surrectio
Tu quoque
Exceptio doli
Venire contra factum proprium
Duty to mitigate the loss
Supressio - É a perda de um direito pelo não exercício no tempo. Dessa forma, significa a supressão, por renúncia tácita, de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não exercício com o passar dos tempos.
Surrectio - É a aquisição de um direito que não estava previsto em decorrência da efetividade social, dos costumes e dos atos das partes. Dessa forma, significa a aquisição de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu exercício com o passar dos tempos.
Tu quoque - É a ideia de que não se faz para o outro aquilo que não se deseja para si. Assim, um contratante que violou uma norma jurídica não poderá, sem caracterização do abuso de direito, aproveitar-se dessa situação anteriormente criada pelo desrespeito.
O tu quoque é um tipo específico de proibição de comportamento contraditório na medida em que, em face da incoerência dos critérios valorativos, a confiança de uma das partes é violada. Isto é, a parte adota um comportamento distinto daqueloutro adotado em hipótese objetivamente assemelhada.
Exceptio Doli - Trata-se da defesa do réu contra ações dolosas, contrárias a boa-fé. Aqui a boa-fé objetiva é utilizada como defesa, tendo uma importante função reativa. É um exemplo desse conceito a exceptio non adimplenti contractus (art. 476 do CC).
Venire Contra Factum Proprio - É a vedação ao comportamento contraditório, devendo ser mantida a confiança e o dever de lealdade, decorrentes da boa-fé objetiva. Segundo a doutrina existem quatro requisitos para aplicação desse conceito:
i) Um fato próprio, uma conduta inicial;
ii) A legítima confiança de outrem na conservação do sentido objetivo dessa conduta;
iii) Um comportamento contraditório com este sentido objetivo; e
iv) Um dano ou um potencial de dano decorrente da contradição.
Duty to Mitigate the Loss - É o dever de mitigar a própria perda. Assim, ocorre a culpa delitual quando aquele que sofre o dano não busca diminuir seus prejuízos (STJ - Resp.758.518).
Enunciado 169 do CJF - O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo.
Ex.: Contrato bancário em que há descumprimento por parte do consumidor. Assim, não poderá a instituição financeira permanecer inerte, aguardando que, diante de alta taxa de juros prevista no instrumento contratual, a dívida atinja montantes astronômicos. Se assim agir, como consequência da violação da boa-fé, os juros devem ser reduzidos.
Inobservância da Boa-fé Objetiva - A inobservância da boa-fé objetiva gera a violação positiva do contrato, que é uma espécie de inadimplemento que independe de culpa (Enunciados 24 e 37 do CJF).
Enunciado 24 do CJF - Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
Responsabilidade Objetiva em Decorrência da Violação a Boa-fé Objetiva - Enunciado 363 do CJF - Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, sendo obrigação da parte lesada apenas demonstrar a existência da violação.
Boa-fé Subjetiva - Esta difere da boa-fé objetiva, pois se trata de um estado psicológico de crença ou ignorância. Esta não é princípio de direito contratual.
Assim, podemos chegar a conclusão que a boa-fé subjetiva se refere ao estado psicológico da pessoa, consistente na justiça, ou, na licitude de seus atos, ou na ignorância de sua antijuricidade. Alípio Silveira a chamou de boa-fé crença e Fábio Ulhoa Coelho a definiu como “a virtude de dizer o que acredita e acreditar no que diz”. Assim, aquele que se encontra em uma situação real, e imagina estar em uma situação jurídica, age com boa fé subjetiva.
Exemplos da Boa-fé Subjetiva - Artigos 309; 1242 e 1562 do C.
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Fundamento - Art. 441 a 446 do CC.
Não se deve confundir o vício do negócio jurídico com o vício redibitório, pois o primeiro recai sobre vontade e o segundo sobre coisa. Além disso, os vícios do negócio jurídico afetam o plano da validade, já os vícios redibitórios afetam o plano da eficácia.
Ressalta-se que na entrega da coisa diversa da pactuada ocorre inadimplemento e não vício redibitório ou do negócio jurídico.
Conceito - É um vício oculto que torna a coisa imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminui o valor e que tenha sido adquirida por contrato comutativo ou doação onerosa.
Vício Oculto - É aquele que não pode ser percebido com um simples exame superficial. Dessa forma, para se descobrir tal vício é necessária uma perícia (ex.: boi garanhão estéreo).
Onerosidade - Para aplicação dos vícios redibitórios é necessária a existência de onerosidade contratual.
Previsão Legal - art. 441 do CC - A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único - É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas (ex.: doação modal).
A doutrina afirma que também se aplica a teoria dos vícios redibitórios as doações remuneratórias.
Requisitos:
a) Coisa adquirida através de contrato comutativo (inclusive doações onerosas);
b) Vício oculto;
c) Vício grave que impossibilite o uso ou diminua o valor da coisa;
d) Que o adquirente não saiba do defeito; e
e) Que o defeito exista no momento da aquisição.
Vício Redibitório e Hasta Pública - Atualmente, é possível se alegar a existência de vício redibitório do bem adquirido em hasta pública.
Responsabilidade do alienante sobre a coisa em poder do adquirente:
Possibilidade de Perdas e Danos (Má-Fé do Alienante) - art. 443 do CC - Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, maisas despesas do contrato.
Perda da Coisa em Poder do Alienatário - art. 444 do CC - A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.
Medida Judicial Cabível - Na existência de vício redibitório cabem as ações edilícias.
Estas são:
Ação Redibitória - Tem a função de buscar a extinção do contrato, mais perdas e danos se provada a má-fé do alienante.
Ação Estimatória (quanti minoris) - Visa a obtenção de abatimento no preço em virtude do vício redibitório.
Prazos das Ações Edilícias:
Prazo de 30 dias - É aplicado se o bem móvel.
Prazo de 1 ano - É aplicado se o bem é imóvel.
Contagem dos Prazos (art. 445 do CC) - Como regra, o prazo é contado da entrega efetiva (tradição). 
Exceções:
Agente já na Posse do Bem - Se o adquirente já estava na posse do bem (traditio brevi manu) o prazo será contado da alienação, porém reduzido a metade (1/2); 
Vício Oculto de Difícil Percepção - Se o vício, por sua natureza, só puder ser descoberto posteriormente (perícia) o prazo será contado do conhecimento do vício, até o prazo máximo de cento e oitenta (180) dias, em se tratando de bens móveis; e de um (1) ano, para os imóveis (art. 445, § 1 do CC).
Aplicação da Exceção do Vício Oculto de Difícil Percepção - Parte considerável da doutrina (Gustavo Tepedino) afirma que, nos casos de vícios ocultos, o adquirente terá contra si o prazo de 30 dias para móveis e 1 ano para imóveis, desde que os vícios surjam nos prazos de 180 dias para móveis e 1 ano para imóveis.
Enunciado 174 do CJF - Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no parágrafo primeiro, fluindo, entretanto, a partir do conhecimento do defeito.
Ressalta-se que esta matéria não é pacífica.
Natureza Jurídica dos Prazos - São ações híbridas que trazem constituição e condenação. Assim, a natureza dos prazos da ações edilícias é controvertida:
Primeira Corrente (Nelson Nery) - Entende que o prazo é prescricional.
Segunda Corrente (Majoritária) - Entende que o prazo é decadencial, pois as ações edilícias são predominantemente desconstitutivas, as condenações são apenas consequência.
Enunciado 28 do CJF - Estabelece que os prazos são decadenciais.
Cláusula de Garantia - É uma cláusula que tem a função de aumentar o prazo de garantia descrito na lei (30 dias ou 1 ano). Ressalta-se que esta cláusula só é aplicada nas relações civis.
Nesse caso a garantia contratual se soma a garantia legal, pois a garantia legal independe de convenção.
Art. 446 do CC - Não correrão os prazos do artigo antecedente (1 ano e 30 dias) na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar (avisar) o defeito ao alienante nos trinta (30) dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.
Ressalta-se que a não observância desse artigo somente acarreta a perda da garantia contratual, pois esta é uma causa impeditiva da decadência.
Prazos dos Vícios no CDC - art. 26 do CDC - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta (30) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa (90) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
Contagem dos Prazos:
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
EVICÇÃO
Fundamento - Art. 447 a 457 do CC
Conceito - É a perda da posse ou da propriedade de um bem, adquirido onerosamente, em virtude de uma decisão judicial ou apreensão administrativa (STJ) que o atribui a outrem, mesmo se adquirida em hasta pública.
Cabimento - A evicção só é cabível nos contratos onerosos.
Bem Arrecadado em Hasta Pública - Subsiste a garantia pela evicção ainda que o bem tenha sido vendido em hasta pública.
Sujeitos da Evicção:
Evicto (evencido) - É aquele que perde a coisa por força de decisão judicial.
Alienante - É aquele que transferiu a coisa viciada, de forma onerosa.
Evictor (evencente) - É aquele que recebe a coisa por força de decisão judicial.
Tipos:
Evicção Parcial - A evicção parcial se dá pela perda de parte da coisa.
Evicção Total - A evicção total se dá pela perda total da coisa.
Suspensão da Prescrição pela Ação de Evicção - Não corre a prescrição pendendo a ação de evicção (art. 199, III do CC).
Reforço, Atenuação ou Agravamento dos Efeitos da Evicção - art. 448 do CC - Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.
Exclusão da Responsabilidade - Cláusula non praestaenda evictione - É a cláusula que se pactua pela não responsabilidade da evicção. Ressalta-se, que esta não é cabível em contrato de adesão.
Direito de Reembolso do Preço Pago - art. 449 do CC - Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Doutrina sobre a Disposição do Direito de Evicção - Como foi visto, é possível que as partes prevejam cláusula reforçando, diminuindo ou excluindo a garantia da evicção. Entretanto, mesmo que haja previsão da exclusão da evicção o alienante somente se exonera totalmente se ele cientificou o adquirente dos riscos inerentes a evicção e o adquirente assumiu esses riscos.
Assim, para que haja a exclusão da evicção deve haver previsão contratual da exclusão, ciência dos riscos e a assunção desses riscos expressamente pelo adquirente. Se não houver a ciência dos riscos ou a assunção dos riscos o alienante, apesar da cláusula de exclusão da responsabilidade, não se exonera da evicção, porém, nesses casos, só há responsabilidade pelo valor da coisa (exclui-se perdas e danos e benfeitorias).
Responsabilidade Total pela Evicção - art. 450 do CC - Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Preço da Coisa - parágrafo único - O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.
Responsabilidade pela Evicção da Coisa Deteriorada - art. 451 do CC - Subsiste para o alienante esta obrigação (responsabildiade pela evicção), ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.
Art. 452 do CC - Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante (vedação ao enriquecimento ilícito).
Pagamento das Benfeitorias - As benfeitorias necessária e úteis não abonadas (não restituídas pelo evictor) serão pagas pelo alienante (art. 453 do CC).
Benfeitorias Abonadas ao Adquirente (evicto) e Realizadas pelo Alienante - art. 454 do CC - Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.
Evicção Parcial - É aquela que se refere somente a uma parcela do bem. Art. 455 do CC - Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.
Tipos (valores definidos pela doutrina e jurisprudência):
Considerável - Deve ir de 99% a 50% do bem.
Não Considerável - Deve ir de 49% a 1% do bem.
Ressalta-se quealguns autores levam em consideração para a determinação do tipo de evicção parcial a essencialidade da parte perdida em relação às finalidades sociais e econômicas do contrato.
Consequências:
Considerável - Pode ser pedida a extinção do contrato, mais perdas e danos; ou o valor do desfalque.
Não Considerável - Cabe somente o valor do desfalque, mais perdas e danos.
Exercício dos Direitos Concedidos pela Evicção e Denunciação a Lide - art. 456 do CC - Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo.
Parágrafo único - Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.
Apesar dessa norma conflitar com a norma do art. 75, II do CPC, a doutrina entende que deve prevalecer a norma do CC, por ser especial aplicável a evicção.
Denunciação Per Saltum - Enunciado 29 do CJF - A interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício (per saltum).
Ressalta-se que a melhor doutrina (moderna) entende que esta denunciação da lide não é obrigatória. Assim, não há perda do direito de regresso contra o alienante, caso não seja realizada.
Impossibilidade do Adquirente que Sabia da Litigiosidade da Coisa ou da Propriedade de Terceiro de Demandar pela Evicção - O adquirente também não poderá cobrar indenização pelos riscos inerentes a evicção se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa (art. 457 do CC).

Outros materiais