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§ 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 551 I. O Direito Penal do Estado de Direito como sistema de referência para o normativamente defensável O fenômeno da “criminalidade organizada” conta entre os comprovados objetos de discussão do debate político-criminal europeu. Independente de como se pode representar a empiria deste fenômeno, um Direito Penal e um Direito Processual Penal orientados por princípios de Estado de Direito são a pedra-de-toque para avaliação do normativamente defensável. Para o exequível, serve à atual Política Criminal, simplesmente, o critério da eficiência, todavia sem provas empíricas. Os princípios de Direito Penal do Estado de Direito estavam e estão, sempre, politicamente ameaçados. Este é um conhecimento histórico trivial, que não tem seu começo apenas com a abreviatura política “CO” [Criminalidade Organizada], mas é examinado, desde muito tempo, na discussão científica do Direito Penal, sob a rubrica da “continuidade” do esvaziamento político dos princípios jurídico-penais. Desde o surgimento da suspeita do fato, até o registro da extinção da pena, o poder punitivo do Estado precisa enfrentar o contrapoder de um Direito Penal baseado em princípios inalienáveis, protegidos pela Constituição (compare acima § 9). Sem a determinação da posição do Direito Penal do Estado de Direito, que é o produto de penoso desenvolvimento histórico, da separação de poderes conquistada arduamente por meio da Revolução e do Iluminismo, da garantia da liberdade individual e expressão da autocompreensão do Estado democrático, a Política Criminal não se deixa julgar e avaliar, dos pontos de vista político e jurídico. A “Política Criminal moderna” nega estas conquistas do Iluminismo europeu. A mais moderna arma para todos os fins da Política Criminal – o conceito de “criminalidade organizada” – coloca o Direito Penal do Estado de Direito em grande perigo. II. Criminalidade organizada – construção e desconstrução de um conceito O conceito de “criminalidade organizada” é, em seu conteúdo, um conceito determinado pela Polícia, que é recepcionado de modo acrítico pela Política Criminal, mas também pela ciência do Direito Penal e pela MARLU Destacar MARLU Destacar Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça552 Jurisprudência alemãs. A construção policial do conceito torna, ao mesmo tempo, o fundamento empírico apresentado – como é representado em imagens de situação e relatórios de pesquisa dos órgãos criminais federais –, inútil. A existência da criminalidade organizada deve, segundo isto, ser comprovada com base na definição de criminalidade organizada, por meio de uma pesquisa em rede da criminalidade organizada e mediante contribuição da estatística criminal policial. Neste caso, o conceito é fabricado como nascente ameaça global e deduzido de modelos internacionais. 1. Criminalidade organizada: um abstrato vocábulo de ameaça A discussão alemã tenta vincular-se aos modelos norte-americanos. Estes modelos têm o real contexto histórico da Prohibition na história norte- americana dos anos vinte, mas também são abrangidas – despidas de seu conteúdo – as específicas formações social, política e nacional das italianas Mafia, Cosa Nostra etc. Em estudos sobre a época da Prohibition, nos EUA, torna-se claro que o conceito “criminalidade organizada” serve como instrumento de processos de imputação, no final dos quais está a estigmatização de grupos étnicos. Mafia e Cosa Nostra são sinônimos para agrupamentos fechados; reduzidas a “determinadas formas estruturais e âmbitos de delitos”, sobretudo aqueles que, em relação com a Prohibition, implicam bens e serviços criminalizados, mas não obstante procurados (v. Lampe, 1999, 54, 92). Estes sinônimos servem, simultaneamente, à sugestão de que os modos de comportamento criminalizados estariam fora da sociedade. São criadas imagens ilusórias de uma aparente antinomia de comportamento legal e ilegal, de bons cidadãos dentro de uma sociedade e de homens malvados muito além de seus limites: o submundo, como conceito superior, representa obscuridade, desperta a impressão de potencial de ameaça, que se dirige contra a sociedade, que assombra esta mediante crime, corrupção etc. Sobre este conceito é fundada a estratégia de combate do Estado, é mobilizado o contínuo rearmamento da Política Interna (v. Lampe, 1999, 68 s.). Nos EUA, este rearmamento da Política Interna, e a mediação de Lei e Ordem, sempre foram a prova da agulha da estratégia eleitoral para políticos conscientes de seu poder, que aspiravam a posição de um Governador, de MARLU Destacar MARLU Destacar § 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 553 Senador, de Presidente. Entretanto, as representações do “organized crime”, segundo as quais os cartéis criminosos, constituídos preponderantemente de homens italianos, dominam as grandes cidades do País, foram abandonadas por grande parte da literatura científica (Busch, 1992, 375). Apesar de todo rearmamento, o comércio de drogas e a corrupção continuam a existir, nos EUA, como situações sociais problemáticas. A Política Criminal alemã e europeia recepcionaram a terminologia do Crime Organizado da discussão norte-americana, todavia sem qualquer ancoragem histórica, política e social. A abreviatura CO [Criminalidade Organizada] atua exclusivamente como vocábulo de ameaça abstrata e como palavra de moda político- criminal. 2. “CO” [Criminalidade organizada]: hipótese e tautologia Demonstrar a existência da criminalidade organizada é inteiramente reconhecido como problema (Hassemer, 1995, 487). O que o conceito deve abranger, que extensão apresenta, já permanece terminologicamente nebuloso. Fala-se de um “complexo fenômeno de criminalidade”. É lamentado, por exemplo, pelo BKA [Departamento Federal Criminal], que a criminalidade organizada se apresentaria “de modo não aberto” e que prognósticos seguros sobre o desenvolvimento posterior do fenômeno da criminalidade não poderiam ser feitos (BKA, 2003). a) CO como hipótese de trabalho de uma profecia autorrealizável É pesquisado um objeto que, em primeiro lugar, precisaria ser definido. A criminalidade organizada é uma hipótese de trabalho, cuja prova primeiro precisa ser produzida. É significativo para isto quando o BKA, em relação com o conceito, fala de “criminalidade de controle”. Com isto é considerado que a identificação da criminalidade se correlaciona com a extensão e a intensidade das investigações jurídico-penais (BKA, ibidem). O que pode ser visto como “CO”, portanto, resulta somente através do fornecimento de informações. Mas levantamento de informações somente pode dar bom resultado mediante ampliadas competências de investigação. Para consolidar a existência empírica da CO, necessita-se da desformalização e da ampliação do Direito Penal. Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça554 O Sistema de Justiça Criminal torna-se, com isto, o instrumento de um levantamento absurdo, porque tautológico: quanto menos se encontra, tanto mais forte torna-se a pressão sobre o ordenamento jurídico-penal de precisar comprovar a existente hipótese do crime organizado. Nada seria pior do que a confissão de que a motivação política para a abolição de princípios do Estado de Direito, permanece sem o sugerido fundamento empírico. A hipótese serve como fundamentação de intervenções do Direito Penal, na esperança racionalmente infundada de que ela já se provará como correta. A Criminalidade Organizada tem o caráter de uma profecia autorrealizável. O Direito Penal do Estado de Direito é subordinado, de modo tão leviano, a interesses de conhecimento politicamente dirigidos. Atua, como fundamentação empírica praticamente desamparada, a declaração do BKA de que os 5.669 procedimentos de investigação, trabalhados desde 1991,comprovariam claramente a existência da criminalidade organizada (BKA, 2003). Assim, o modelo de funil do processamento jurídico-penal do comportamento desviante pôde esclarecer que o Sistema de Justiça Criminal resolve, ainda antes da sentença, uma grande parte de seus processos. O início de um procedimento de investigação pode comprovar, talvez, que o órgão de investigação estava ativo na investigação de um comportamento incriminado, mas não o conteúdo de criminalidade da própria matéria investigada. b) Definições formais de fundamentação carente A definição de “CO” (Anexo E 2.1. RiStBV), contida nas Diretrizes para o processo penal e processo de multa (RiStBV), configura o ponto de partida da discussão empírica com a criminalidade organizada: “Criminalidade organizada é o planejado cometimento de fatos puníveis, determinados pela ambição de lucro ou ambição de poder, que são de considerável significação particular ou no seu todo, quando mais de dois participantes, em divisão do trabalho de duração prolongada ou indeterminada, atuam em conjunto a) com emprego de estruturas profissionais ou similares aos negócios, b) com utilização de violência ou de outros meios apropriados para intimidação, ou MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar § 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 555 c) com influência na Política, na Mídia, na Administração Pública, na Justiça ou na Economia. O conceito não abrange os fatos puníveis de terrorismo.” Esta definição é vaga, porque não pode separar o objeto do conceito, com precisão, das formas tradicionais de criminalidade. Critérios como ambição de lucro ou ambição de poder, procedimento em divisão do trabalho, emprego de violência, fatos puníveis de considerável significação, caracterizam qualquer fato punível complexo e profissionalmente realizado, no qual autor principal e partícipes são identificados (compare Ambos, 2003, 678s.). As características de ordenação, que devem servir para classificação de um fato como um [fato] relacionado com a criminalidade organizada, não são menos problemáticas. Aqui, o discurso é sobre planejamento preciso, realização qualificada do fato, forte orientação por lucro e comportamento conspiratório do autor (Anexo do Anexo E, RiStBV). Todas estas podem ser circunstâncias acessórias de conhecidos tipos penais – como furto, estelionato, talvez mesmo roubo. Por que devem existir aqui componentes de um fenômeno especialmente ameaçador e, por isso, fazendo necessária uma demolição de garantias do Estado de Direito, permanece empiricamente infundado. Esta carente fundamentação do conceito de “criminalidade organizada” manifesta-se no Anexo E 2.2 do RiStBV, quando diz que as formas de aparição da criminalidade organizada seriam múltiplas. Assim, demonstram também pesquisas mais recentes que “criminalidade organizada” não é nenhum fenômeno constante, fechado em si mesmo, mas abrange múltiplos aspectos da realidade, que ocorrem em diferentes constelações e são dependentes de concretas condições sociais, culturais, econômicas e políticas. Assim existe pouca esperança de poder desenvolver um conceito, cientificamente fundado, para compreensão e explicação do “organized crime” (v. Lampe, 1993, 345). c) CO como conceito substitutivo Em que deve consistir, portanto, a especificidade da “criminalidade organizada”? A resposta é lacônica, mas insatisfatória: criminalidade MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça556 organizada é o conceito substitutivo para estruturas sentidas como ameaçadoras, na economia e na sociedade, que são dificilmente acessíveis à intervenção política e, com isto, estão em condições de desestabilizar a estabilidade da própria ordem política. Isto se pode ilustrar com o exemplo da criminalidade econômica: os tipos legais do Direito Penal Econômico, incriminados e agravados nos últimos anos – são planejados outros agravamentos no âmbito da corrupção –, representam o grosso daqueles fatos puníveis, que são vistos como campos principais da “CO”. Fraude de subvenção e de investimento de capitais, lavagem de dinheiro, proibição do tráfico de influência são criminalizações de modos de comportamentos econômicos, que devem assegurar a confiança na integridade moral da economia social de mercado. Os processos econômicos ocultos por trás das criminalizações são complexos, politicamente difíceis de regular. A ordem econômica é ameaçada como um todo, na qual podem se impor métodos ilícitos de otimização do lucro. Acrescenta-se a isto, que o tráfico de bens furtados para o Exterior, a promoção da prostituição ilegal etc. possivelmente também têm por acompanhante a corrupção de funcionários do Estado. Com isto, o perigo não é visto, por último, nas ações criminosas, portanto, em fatos individualmente imputáveis, mas na possibilidade de influenciar processos de decisão econômicos e políticos, através do capital ganho e multiplicado (Gusy, 1995, 320s.). Tomando por base estas estruturas econômicas e políticas, a total imprecisão do conceito de criminalidade organizada torna-se de novo clara. Os limites entre comportamento desviante e conforme à norma, precisamente no setor empresarial, são fluidos. Quando se considera os acordos de cartéis e os casos de corrupção dos últimos anos, verifica-se que eram empresas completamente legais, que recorreram a meios econômicos proibidos. No Sistema de Justiça Criminal praticamente ninguém pensa, aqui, em falar de criminalidade organizada. Este conceito também não presta, nem mesmo, para uma descrição aproximativa dos problemas estruturais que deve apreender. Ao contrário, reduz conscientemente a sua complexidade (Gössner, 1995, 67 s.). Seu emprego dispensa da responsabilidade de reformar politicamente, isto é, sob discurso e ação democráticas, as estruturas reconhecidas como portadoras de risco. O MARLU Destacar § 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 557 conteúdo de sentido político-criminal dominante da sigla “CO” desvia, com isto, dos reais problemas estruturais na sociedade e na economia. Em um mais recente trabalho panorâmico, Kinzig chega à conclusão, na observação de inúmeras características, que ele indica em processos de criminalidade organizada, que “antes [parece] adequado falar, simplesmente, de ‘criminalidade de difícil investigação’...” (Kinzig, 2004, 779). 3. Contraimagens do Direito Penal liberal – fenômenos do conceito de Política criminal autoritária, em perspectiva histórica Esta situação político-criminal atual não é nova. O conceito de criminalidade organizada está na continuidade de conceitos que têm utilizado o Estado, a sociedade, a Política e a Jurisprudência como alavanca para deslocar, passo a passo, a ideia do Direito Penal de Estado de Direito, que consistia no equilíbrio de liberdade e eficiência legalmente garantidas. São três os elementos que caracterizam o significado destes conceitos: ����Por um lado, situações sociais problemáticas, que esperam por uma solução política, são traduzidas jurídico-penalmente, quando se cria bens jurídicos, cujo conteúdo consiste na redução do próprio problema. ����Por outro lado, o bem jurídico corresponde com pessoas que são consideradas como ameaçadoras para sua existência. ����Finalmente: bem jurídico ameaçado e pessoa ameaçadora exigem medidas – na visão da Política –, que tentam se legitimar, teoricamente, com expressões jurídico-estatais e jurídico-penais de fundamentação da prevenção. Em detalhe e com maior precisão: a ciência do Direito Penal, com o Programa de Marburg de von Liszt, voltou-se para uma fundamentação empírica da pena. Estava ligada com esta legitimação empírica a busca pelas características exteriores do autor,suas estruturas psíquicas, ou seja, a completa penetração da sua pessoa. A empiria continha a classificação do autor. Diretriz da classificação era o bem jurídico, que o autor tinha lesionado. Tratava-se do ladrão, do defraudador, do assassino. A esta personificação jurídico-penal limitada do comportamento desviante seguiram, já no Império do Kaiser, mas depois, em todo caso, Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça558 na República de Weimar, outras tipificações de pessoas, que foram compreendidas como riscos políticos ou econômicos. No Império do Kaiser ainda se tratava do social-democrata perigoso para o público, depois em Weimar, do inimigo da República, do usurário, do beneficiário da inflação. Paralelo a isto, com a proteção da República e da ordem econômica, desenvolveram-se novos bens jurídicos. O desenvolvimento de tipos de autor e a definição de situações estruturais problemáticas, que deveriam ser enfrentadas jurídico-penalmente, estavam interligadas. Assim, em consideração à primeira grave crise econômica de Weimar, no ano de 1923, foram introduzidos os tipos legais da usura e – no Direito Penal Secundário – da especulação, e do chamado “comércio em cadeia”. Ambos os tipos legais referem-se a mecanismos econômicos condicionados pela inflação, que pessoas particulares utilizavam para otimização dos lucros (Braum, 1996, 126). Ao mesmo tempo, com a ruptura dos limites do Direito Penal material, produziu-se a instituição de Justiças especiais e a redução dos recursos legais, mediante a Lex-Emminger. Os protagonistas político-criminais viam necessidade de ação, para poder apresentar a uma população insegura a prova da competência da ordem. O agravamento do Direito Penal e a demolição de garantias processuais penais foram, do ponto de vista teórico-preventivo, fundadas com o topos da confiança do cidadão na ordem jurídica do Estado de Weimar (Braum, 1996, 108). Era de se observar, nos debates políticos, uma irrefletida situação de mistura das representações de prevenção geral. Com a ampliação da lei penal deveriam ser atingidos efeitos intimidantes que, por sua vez, aparentemente fortaleciam a validade da norma. As mesmas conexões teóricas valem para a legislação de proteção da República. É criminalizada a participação em uma associação hostil ao Estado, a ofensa pública de representantes da República, é criado um Tribunal de Justiça do Estado, que é materialmente competente para julgamento destes fatos (compare Primeira Lei para Proteção da República, de 21 de julho de 1922). Competências do Tribunal do Reich, em matéria de recursos jurídicos, são deslocadas para os Tribunais Estaduais Superiores, com a consequência de que as vias de audiência judicial, para o acusado condenado, são reduzidas. § 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 559 Breve: no Império do Kaiser, mas sobretudo em Weimar, surgem os tipos de autor. O tipo de autor é um elemento da reação estatal no trato com situações problemáticas estruturais. Serve para uma personalização individual- concreta destas situações problemáticas. É fundado, empiricamente, sob o mandamento do Direito Penal orientado pelas consequências, e tem em suas costas o agravamento do Direito Penal. O topos da confiança do cidadão na ordem jurídica garante, teórico-preventiva e político-socialmente, a criminalização de tipos de autor. O tipo de autor torna-se, nos anos vinte desse século, um conceito político. A ciência do Direito Penal, oportunista em face da política do poder, apropria-se dele. O tipo de autor desenvolve-se, depois, na figura do criminoso habitual perigoso. Esta [figura] personifica um autor, que foi levado ao seu fato pela atuação de seu mau caráter. A figura permite segregar, encarcerar tudo o que era politicamente indesejado ao domínio autoritário nacional- socialista, através da recém nascida via de execução da medida de segurança. Pesquisas sobre criminosos habituais perigosos estão, aparentemente, preocupadas com realidades. Ocupam-se com características corporais, origem étnica e traços de caráter. São empiricamente absurdas e ocultam que, com o criminoso habitual, foi criada uma figura mítica, que torna aceitáveis os princípios políticos e científicos do Estado nacional-socialista burguês-autoritário, e que devia fundamentar a completa abolição do já previamente esburacado Direito Penal do Estado de Direito. O criminoso habitual não descreve nenhum fenômeno social existente, mas personifica o inimigo imaginado do sistema político. A periculosidade do criminoso habitual resulta, no sistema de pensamento do Estado nacional-socialista, não somente do fato, mas de sua suposta atitude interna dirigida contra o Estado. À diferença do pensamento em tipos de autor, a figura do criminoso habitual perigoso não é mais configurada de modo concreto, mas de modo abstrato, como ponto culminante de todo comportamento hostil ao sistema. O criminoso habitual perigoso torna-se, por seu caráter de delimitação, ao mesmo tempo, um elemento integrador e estabilizador da dominação política. Na história alemã do pós-guerra, as estruturas sociais problemáticas não são mais personalizadas, mas em troca são elevadas a um nível de ameaça MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça560 geral. A criminalidade organizada é o disfarce para estruturas desconhecidas, o ponto de referência para conhecimento impreciso. Como sinônimo de incapacidade de reforma democrática, apenas finge configuração política. A criminalidade organizada é um pretexto historicamente amadurecido da Política, que possibilita deixar não resolvidas as estruturas propriamente responsáveis pelos problemas de uma sociedade e, não obstante, poder vencer a luta pela competência da ordem. III. O significado da “criminalidade organizada” para o desenvolvimento da Política interna europeia 1. “Criminalidade organizada” e “segurança interna” como fórmulas da Política interna Quando se fala do conjunto da política interna europeia, depara-se também, inevitavelmente, com o topos da “criminalidade organizada”. Com este topos, ao mesmo tempo, a fórmula da “segurança interna” é posta na ordem do dia da política europeia. Acredita-se reconhecer que o comportamento desviante opera crescentemente através das fronteiras, e que desvio e transposição de fronteiras ocorrem de forma organizada. Os Estados-Membros da União tentam criar prescrições e instituições, com as quais parece estar ligado um controle social do comportamento desviante transcendente do Estado nacional. O Acordo de Schengen e a instituição da Europol representam o esforço de acelerar o controle social, em favor de suas formas policiais formalizadas (Nelles, 1997, 735s.). As discussões na Comissão Europeia, no Parlamento Europeu, assim como no Comitê Econômico e Social da União Europeia comprovam a importância que é atribuída aos topoi da “criminalidade organizada” e da “segurança interna” (compare Albrecht/Braum, 1998, 477). Ambos os topoi servem como fórmulas de legitimação da política interna europeia, que tem por objeto um massivo e dinâmico programa de deslocamento do controle, do nível do Estado nacional para o nível europeu (compare Kaiafa-Gbandi, 2004, 4 s.). MARLU Destacar MARLU Destacar § 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 561 2. “Criminalidade organizada”: vocábulo de ameaça abstrata do Direito Penal Econômico europeu A criminalidade organizada, como objeto da política europeia do Direito, vincula-se com os tipos legais de sanções e suas características, como foram produzidos pela organização burocrática dos interesses econômicos. O conceito de “irregularidade” é usado como sinônimo de “fraude”, e vice- versa. Fraude em prejuízo da sociedade não significa nenhum tipo legal,com uma ação de engano, com um erro, uma disposição de patrimônio e um dano patrimonial, mas abrange qualquer comportamento, contrário aos interesses, a cargo do orçamento comunitário. Sonegação de impostos, infidelidade ou desfalque fraudulento são, também, subsumidos no conceito de fraude (compare as indicações em Müller-Graff, 1996, 17). A fraude atua, simplesmente, como conceito geral para comportamento desviante, que é compreendido como “criminalidade econômica”. Esta também está exposta à suspeita de política interna, de ser “organizada”. Isto tem consequências formais e materiais. a) Consequências formais Objetivos da política jurídica são formulados sobre a base imprecisa de normas de autorização europeias. A “grande delinquência econômica”, a “fraude transnacional” e as “piores irregularidades” devem determinar, decisivamente, a política jurídica e a política interna comuns (Albrecht/ Braum, 1998, 467s.). Tais conceitos de valor incumbem ao poder de definição daqueles que estão politicamente interessados na expansão do controle social vigilante e sancionador. b) Consequências materiais Nas motivações dos Atos de Direito europeus é indicado que, com a suposta organização do comportamento contrário ao interesse econômico, também existem elevados perigos para o patrimônio da comunidade. Este perigo deve ser enfrentado ampliando-se ações típicas e se renunciando à descrição precisa das lesões de bens jurídicos. O tipo legal de irregularidade, acessório da administração, oferece um exemplo (Albrecht/Braum, 1998, 474). Aqui deve bastar, se a infração contra uma determinação de conduta “teria provocado” um dano (compare art. 1°, Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça562 seção 2, do Regulamento da União Europeia n. 2988/95, ABl. n. L 312/2, de 23.12.1995). Por trás disto não se sugere a simples não consumação do tipo legal, de modo que, com a formulação infeliz, seria estatuída uma simples punibilidade da tentativa. Ao contrário, é de supor que, com base na vontade legislativa, os caracteres empregados devem conter causalidade hipotética: se – assim quer dizer o Legislador – a ação contrária ao Direito da comunidade teria causado, pelo curso não interrompido, um dano às custas do orçamento comunitário, portanto, se existiu um perigo para o patrimônio da comunidade, então o tipo legal de irregularidade deve ser visto como preenchido. No Acordo para Proteção dos Interesses Financeiros da Comunidade (ABl. n. C 316/94, de 27.11.1995) é criminalizada, também, a obtenção, contrária ao Direito da comunidade, de recursos do orçamento da União Europeia. Trata-se lá, ainda, de saber que estes recursos foram realmente obtidos (art. 1°, seção 1, letra a), deve bastar para produção de um tipo legal de fraude, segundo a proposta feita no chamado “Corpus Iuris”, que a conduta contrária ao Direito da comunidade represente um perigo para as finanças do orçamento da União Europeia (Delmas-Marty, 1998, 46). No desenvolvimento do Direito Penal europeu, o delito de perigo abstrato ameaça tornar-se a regra, o Direito Penal orientado pelo dano e pela lesão da liberdade [ameaça] tornar-se a exceção. A predominância do delito de perigo abstrato, que está se desenhando por toda Europa, corresponde à obscuridade criminológica relativa ao objeto, que o conceito de “criminalidade organizada” deve descrever. O que é compreendido como algo oculto, secreto, escapa aos critérios que ainda caracterizavam o clássico Direito Penal garantidor da liberdade do Iluminismo, e produz pressupostos típicos que devem ser aplicados, de modo igualmente impreciso e imprevisível, ao imprecisamente determinado. A criminalidade organizada, como “vocábulo de ameaça abstrata”, domina a gênese normativa e a discussão científica do Direito Penal Europeu. 3. “Criminalidade organizada” como conceito jurídico do Acordo de Amsterdã No Acordo de Amsterdã, a “criminalidade organizada “ é elevada a um conceito jurídico. É característica normativa do fundamento de MARLU Destacar MARLU Destacar § 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 563 autorização do art. 34, 31 e, do Acordo da União Europeia. Configura uma característica normativa, que escapa a uma interpretação racional, de conteúdo determinável. No Parlamento Europeu, é criticada a ausência de uma definição vinculante (compare documento do Parlamento Europeu 223 427/def. p. 9, número marginal 16). No nível europeu, as definições existentes (ibidem, número marginal 17) mostram os problemas conhecidos: a separação, em relação ao comportamento desviante “normal”, não alcança nitidez; a complexidade das áreas problemáticas, nas quais a criminalidade organizada aparentemente domina, é reduzida de modo inadmissível. Criminalidade organizada é uma palavra de moda político-criminal, sua empiria, aparentemente racional, orienta-se pelos modelos norte-americanos, cuja recepção, para as condições europeias, permanece sem uma real ancoragem sócio-política. Com o nada conceitual da “Criminalidade Organizada” elevado a conceito jurídico, tudo se torna possível para o aplicador da norma. Fatos puníveis econômicos, o Direito Penal ambiental, delitos contra a autodeterminação sexual, fraude, desfalque e furto valem como áreas de atuação da “organizada” conduta desviante. Com o conceito jurídico de “criminalidade organizada”, a União Europeia pode se proporcionar a competência, na via de trabalho comum dos contratos de unificação, mediante Atos de Direito vinculantes, tornando-se mediatamente eficazes – Decisões-modelo e Convênios –, para influenciar e transformar, de modo duradouro, o Direito Penal nacional. Assim, o processo de integração europeia ameaça retirar do Legislador nacional a competência legislativa, no âmbito do Direito Penal. Esta subtração se executa sob o fundamento de normas de competência jurídico-europeias, de conteúdo indeterminável. Os princípios da legalidade penal e da democracia são lesionados (compare Kaiafa-Gbandi, 2004, 6s.). IV. Funções do fenômeno da criminalidade organizada Empiricamente infundado e dotado de tendências antiliberais, o conceito de criminalidade organizada recebe sua legitimação dos interesses de poder político dos que o empregam e recepcionam. Os interessados e os receptores do conceito se encontram na Polícia, na Justiça e na Política. MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça564 1. Interesses policiais Estes se tornam claros no resultado, que o conceito significa, para a posição de poder da Polícia dentro do Sistema de Justiça Criminal. A Polícia mobiliza – em teoria de organização, inteiramente plausível – recursos que, de outro modo, dificilmente lhe são postos à disposição. O Legislador de orçamento quase não pode escapar das exigências de combater a criminalidade organizada. O preço – como outrora, no combate da RAF (Fração do Exército Vermelho) – é a redistribuição de recursos materiais e pessoais no interior da Polícia e, na verdade, às custas dos setores que não têm de enfrentar as “modernas” exigências de combate da criminalidade. O policial de patrulha e o policial de delegacia utilizam, como de costume, os instrumentos antiquados, que é melhor não apresentar a uma coletividade assustada, para que as perdas de confiança nos aparatos de segurança pública não se tornem demasiado grandes. Kinzig resume suas reflexões sobre a relação de Polícia e Criminalidade Organizada nisto, que no nível normativo, é de se reconhecer reformas, “cuja necessidade foi fundada com a exigência de um efetivo combate da criminalidade organizada, [que levam] a um desgaste da Polícia e do Direito Processual Penal, com simultâneo acréscimo de poder da Polícia, às custas do Ministério Público” (Kinzig, 2004, 788). Ele vê, na tessiturade normas para combate da Criminalidade Organizada, até um “sinal de um novo procedimento de investigação e de um novo processo penal” (Kinzig, 2004, 792), em que alterações legislativas conduzem a múltiplas erosões das garantias do Estado de Direito, no Direito Constitucional, no Direito Processual Penal, no Direito de administração e de execução da pena. 2. Interesses jurídicos O conceito de criminalidade organizada oferece ao Sistema de Justiça Criminal a legitimação de purificar o processo penal de elementos normativos, pretensamente complicadores e obstrutores do processo. Isto é discutido e ajuizado de modo elegante, sob o aspecto da capacidade de função da Justiça penal. Diversas reformas legislativas dos últimos tempos transformaram o procedimento de investigação em um procedimento secreto, entregaram terceiros não participantes, em uma extensão até agora MARLU Destacar MARLU Destacar § 43 - O fenômeno da “criminalidade organizada” 565 desconhecida, ao aparato estatal de investigação, e esburacaram direitos fundamentais, tudo junto (compare, em detalhe, § 15 acima). O processo penal se atrofia em um produto do todo poderoso Executivo. 3. Interesses políticos A Política fica de olho nos meios de comunicação. Eleições são ganhas com clichês, a especificidade atrapalha na comunicação entre partidos e eleitores. Comunicar fatos complicados, apesar do aumento das possibilidades de informação, torna-se cada vez mais difícil. Uma vez introduzidos os clichês da realidade e da indústria cultural, através da opinião publicada, estes se tornam altamente atrativos para a Política. A criminalidade organizada torna-se um tema prioritário de campanha eleitoral e surge uma corrida de competição político-partidária em torno das mais sutis estratégias de combate. A cultura do Direito paga o preço pela aniquilação dos princípios jurídicos garantidores da liberdade. Isto já prossegue no nível europeu. Com o Acordo de Amsterdã, um fenômeno da Política Criminal, de determinação empiricamente incerta, tem ingresso na aplicação do Direito Europeu. O abstrato vocábulo de moda “criminalidade organizada” dirige, também, a influência europeia sobre o Direito Penal nacional. Fora da ordem do Direito Penal nacional, é posto um fator jurídico-penalmente relevante, que se despede dos princípios do Direito Penal do Estado de Direito – legalidade penal, legalidade processual, culpabilidade, garantia de direitos fundamentais –, e se orienta por interesses executivos da nova organização estatal. A “criminalidade organizada” descreve aquele inimigo no interior da Europa, em torno do qual são reconstruídos os limites da liberdade. Na história do Direito Penal alemão sempre existiram tais conceitos, que eram apropriados para suspender as liberdades do clássico, rigorosamente delimitado Direito Penal nuclear, que destruíram, a longo prazo, estas liberdades. Neste caso, estes conceitos sempre se referiam a imagens tipificadas de inimigos, com base nos quais a ordem estatal precisava, supostamente, pôr-se à prova. A ameaça irreal pelo “inimigo”, tornou- se logo a ameaça real pelo Estado, que ampliava de modo constante, no confronto com o aparentemente irracional, seu poder burocrático-racional. MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar MARLU Destacar Capítulo 14 - Cenários político-criminais de ameaça566 Os princípios atuais de um “Direito Penal europeu” atuam como uma via nova, internacional do Direito Penal, que reforça as erosões do Direito Penal nacional e ameaça dissolver as ancoragens, ainda existentes, no princípio da democracia e no princípio da legalidade (Albrecht/Braum, 1998, 481). Tão desenfreada avança a integração europeia, quanto será necessário reclamar direitos fundamentais e direitos de liberdade, no “Direito Penal europeu” (Denninger, 1996, 585s.). O Direito Penal pressupõe constitucionalidade democrática. Sobre a base dos cenários de ameaça político-criminais, que suportam as permanentes campanhas eleitorais dos partidos, um Direito Penal europeu, que se sente comprometido com os princípios jurídicos tradicionais, não se poderá desenvolver. § 44. O fenômeno do “terrorismo” Literatura: Arnold, J., Der Einfluss des BverfG auf das nationale Straf- und Strafverfahrensrecht, StraFo 2004, 402 s.; ders., Teil II, StraFo 2005, 2 s.; Barak, A., The Supreme Court and the Problem of Terrorism, in: Judgements of the Israel Supreme Court: Fighting Terrorism within Law, 2005, p. 9 s.; Beste, H., Die Anschläge des 11. September in sozialwissenschaftlicher Rezeption, Krim. Journal 2003, 30 s.; Bunyan, T., Geheimverfahren gegen Terroristen? G8- Modelle für die Eu, Bürgerrechte & Polizei/Cilip 80 (1/2005), 61 s.; Cilip 70 (3/2001), Terrorismusbekämpfung – alte und neue Irrwege; Funk, A., Krieg als Terrorismusbekämpfung, Krim. Journal 2002, 132 s.; Hess, H., Spielarten des Terrorismus, Krim. Journal 2002, 84 s.; ders., Terrorismus und Weltstaat, Krim. Journal 2002, 143 s.; Hummriche, M., “Krieg gegen Terror” – keine (Menschen)Rechte für Terroristen?, DriZ 2004, 193 s.; Holzberger, M., Reaktionen der Eu auf den 11. September, Bürgerrechte & Polizei/Cilip 70 (3/2001), Terrorismusbekämpfung – alte und neue Irrwege, 55 s.; International Law Comission, Principles of International Law Recognized in the Charter of the Nürnberg Tribunal and in the Judgement of the Tribunal, www.un.org/law/ilc/texts/nurnberg/htm; Jakobs, G., Bürgerstrafrecht und Feindstrafrecht, HRRS 3/2004, 88 s.; Kant, M., Bilanz der Rasterfahndung nach dem 11. September 2001, Bürgerrechte & Polizei/Cilip 80 (1/2005), 13 s.; Karstedt, S., Terrorismus und “Neue Kriege”, Krim. Journal 2002, 124 s.; Lederer, A., Terrorwarnungen und was davon blieb, Bürgerrechte & Polizei/ Cilip 80 (1/2005), 32 s.; Pelzer, M., Fremden-Polizeirecht: Anti-Terrorismus und Zuwanderungsgesetz, Bürgerrechte & Polizei/Cilip 80 (1/2005), 21 s.; von Plottnizt, R., § 129a StGB: Ein Symbol als ewiger Hoffnungsträger, ZRP 2002, 351 s.; Pütter, N., Terrorismusbekämpfung als Ermächtigungspolitik, Bürgerrechte & Polizei/ Cilip 80 (1/2005), 27 s.; Scheerer, S., Nachteil und Nutzen kritischer Kriminologie in Zeiten des Terrorismus, Krim. Journal 2002, 35 s.; Tröndle, H./Fischer, T., Strafgesetzbuch und Nebengesetze, 52. Auflage, 2004; Unger, E.-M., Schutzlos ausgeliefert? Der Europäische Haftbefehl – Ein Beispiel für die Missachtung europäischer Bürgerrechte -, 2005; Voss, R., Wehret den Anfägen, DriZ 2004, 194. MARLU Destacar § 44 - O fenômeno do “terrorismo” 567 Em 11 de setembro de 2001, são sequestradas quatro aeronaves nos EUA. Duas aeronaves são dirigidas pelos sequestradores para dentro das torres do World Trade Center, em Nova Iorque, uma é derrubada sobre o Pentágono, em Washington. Uma outra cai com mais de 200 pessoas à bordo, antes de poder atingir outro alvo visado. Imagens televisivas transportam o medo por todo o mundo. Por algumas semanas, o mundo vacila além da normalidade. A fragilidade dos sistemas civilizatórios se torna evidente (compare, sobre isto, também Beste, 2003, 30 s.). Não obstante, o terrorismo não é nenhum fenômeno dos tempos modernos; também não está limitado a uma parte determinada do mundo. Ataques terroristas ocorreram em todos os tempos (compare, sobre isto, Karstedt, 2002, 124 s.; Scheerer, 2002, 35 s.). A. Problema de definição: o que é terrorismo? O conceito de terrorismo é difuso. Suas variantes são quase tão numerosas quanto as diferentes formas de aparição do próprio terrorismo. O perigoso potencial da definição de terrorismo resulta, sobretudo, do extraordinariamente extenso catálogo de fatos puníveis e, na verdade, internacional, em todos os ordenamentos jurídicos. I. Alemanha A República Federal da Alemanha olha, retroativamente,para suficientes experiências legislativas com o processamento jurídico de acontecimentos motivados pelo terrorismo. O § 129 a CP positiva um extenso catálogo de fatos puníveis. Esta prescrição foi introduzida em 1976 e, desde então, constantemente modificada, ou seja, ampliada (por último, 34ª Lei de Alteração Penal, de 22.8.2002). O antigo Ministro da Justiça do Estado do Hessen, von Plottnitz, analisou o resultado dos esforços legislativos para o § 129 a CP: “Muita esperança e dispêndio, pouco retorno e utilidade prática” – em torno de 8 condenações por ano, em todo território nacional (von Plottnitz, 2002, 352).
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