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Aulas 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 de Literatura popular regional

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Aula 1: Apresentação da disciplina e discussão sobre o conceito de “povo e cultura”
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar “literatura” como um conceito complexo, de natureza polêmica;
2. compreender que, se existe uma literatura popular, existe uma não popular;
3. analisar os significados das ideias que o vocábulo popular possui e suas consequências para a nossa visão de literatura.
Pensar no que é literatura é também pensar na concepção que o termo ganhou ao longo da história. O que é isso?
O que conhecemos por literatura não era o mesmo que se imaginava a algum tempo atrás.
Literatura é uma palavra que tem origem no vocábulo littera, do latim, que quer dizer palavra. Se, por um lado, hoje em dia esse termo é associado ao uso estético da linguagem escrita e à arte literária, por outro, nem sempre foi assim! 
O termo literatura pode ser utilizado de uma forma mais ampla, mais geral; utilizávamos para falar de qualquer conjunto de escritos, ou seja, literatura se relacionava meramente à palavra escrita. 
	Literatura ampla: literatura médica, literatura educacional...
“Quando começamos a estudar qualquer literatura, seja grega, inglesa, alemã, portuguesa ou indiana, sempre se encontram, na parte inicial, quase exclusivamente, manifestações poéticas.  Ao longo dos anos, estas vão cedendo lugar à prosa, e, quando chegamos ao século XX, a poesia ocupa pouco espaço diante de outras manifestações literárias.”
Um dos registros mais antigos que se tem acerca do tema deve-se a Aristóteles, pensador grego que viveu entre 384 e 322 a.C. Entre outras atividades muito importantes para a humanidade, ele nos deixou um conjunto de anotações em que dialogava sobre as formas da arte e da literatura de seu tempo.
Essa obra é chamada de Poética e, nela, o pensador elaborou a teoria de que a poesia era técnica aliada à imitação, diferenciando os gêneros trágico e épico do cômico e satírico e, por fim, do lírico. É importante lembrarmos que a poesia era o gênero literário por excelência na época.
Essa obra é chamada de Poética e, nela, o pensador elaborou a teoria de que a poesia era técnica aliada à imitação, diferenciando os gêneros trágico e épico do cômico e satírico e, por fim, do lírico. É importante lembrarmos que a poesia era o gênero literário por excelência na época.
Hoje em dia temos outras definições acerca do que é literatura, já que os gêneros literários vão mudando de acordo com o tempo, com as novas concepções que vão surgindo e outras que desaparecem.
O advento da internet, por exemplo, acrescentou outros gêneros textuais e literários, e esses fatores acabam por diluir a definição clássica de literatura e gerando novas atribuições ao longo de seu desenvolvimento e recepção.
“Com efeito, todos sabemos que a literatura, como fenômeno de civilização, depende, para se constituir e caracterizar, do entrelaçamento de vários fatores sociais. Mas daí a determinar se eles interferem diretamente nas características essenciais de determinada obra, vai um abismo nem sempre transposto com felicidade. Do mesmo modo, sabemos que a constituição neuroglandular e as primeiras experiências da infância traçam o rumo do nosso modo de ser.”
Concepção Literária - O fato é que a concepção de literatura muda conforme mudam os conceitos da sociedade, como, por exemplo, uns duzentos anos atrás.
Nessa época, na Europa, um certo gênero literário chamado Romance começou a ser bastante conhecido através de sua distribuição em diversos jornais.
Romance - As histórias eram fragmentadas em capítulos que sempre instigavam os leitores a saberem o que viria depois, no próximo capítulo, na próxima semana. Muitas pessoas compravam os periódicos apenas para ler os romances!
Oscar Wilde, por exemplo, um dos maiores escritores irlandeses de todos os tempos, publicou muitas obras bem-sucedidas, mas ele sempre será conhecido por seu romance O retrato de Dorian Gray, que foi o único.
A intrigante história de Gray, um jovem de beleza extraordinária que teve sua vida completamente transformada ao ser retratado em um quadro, foi publicada inicialmente como a história principal da Lippincott's Monthly Magazine em 20 de junho de 1890.
	
Jornal
Enquanto no século XIX as histórias eram veiculadas somente de forma escrita, atualmente os veículos se diversificaram. O folhetim (do francês feuilleton, que significa folha de livro) é uma narrativa seriada dentro dos gêneros prosa,  de ficção e romance. É publicado, como já mencionamos, de forma parcial e sequenciada em periódicos (jornais  e revistas), tendo surgido na frança, no século XIX. 
	Joaquim Mauel de Macedo, importante escritor brasileiro, fundou o periódico Guanabara, revista bastante representativa na história da nossa literatura, na qual, inclusive, publicou grande parte do seu poema-romance A Nebulosa.
	Antes, as chamadas belas letras eram constituídas por composições em verso que seguiam uma estrutura formal de acordo com critérios estabelecidos desde a antiguidade.
	Com o advento e a popularização do romance, a concepção de literatura ganhou outras nuances e novos gêneros textuais foram ganhando espaço. Exemplo disso, é que, no século XX, houve a atribuição de alguns gêneros considerados menores, como cartas, biografias e diários à categoria literária.
	Choderlos de Larclos, contrariando os que achavam a carta um gênero menor, publica, em 1872, o muito bem-sucedido romance. “As Relações Perigosas” é um romance epistolar, ou seja, todo escrito através de cartas.    
	A literatura, como manifestação artística, tem por finalidade recriar a realidade a partir da visão de determinado autor, com base em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas técnicas narrativas.
	O que difere a literatura das outras manifestações é a matéria-prima: a palavra que transforma a linguagem utilizada e seus meios de expressão.
	Não devemos pensar que literatura é meramente um texto publicado em um livro, uma vez que nem todo texto publicado tem de caráter literário.
	O que distingue um texto literário de outro?
	Essa é uma questão que ainda gera bastante discussão em muitos meios, pois não há um critério formal para definir a literatura a não ser quando contrastada com as demais manifestações artísticas.
	José de Nicola, escritor de livros didáticos utilizados em todo país, enfatiza que não apenas o aspecto formal é significativo na composição de uma obra literária, como também o seu conteúdo: “o que torna um texto literário é a função poética da linguagem que ocorre quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, com as palavras carregadas de significado.”
Cultura e literatura popular – povo e cultura
Dois mundos não   tão separados assim...
Um célebre exemplo de uma manifestação cultural que acabou por ser disseminada entre as camadas populares é a quadrilha. Essa dança é originária das contradanças das cortes europeias do século XVIII, no entanto, após chegar até o Brasil no século XIX, foi se tornando cada vez mais uma dança popular e a variação de sua nomenclatura evidencia isso. É comum nós a chamarmos de quadrilha ou de caipira.
Embora nós possamos utilizar o termo cultura popular como uma oposição à cultura erudita, esse termo abrange todos os setores da vida de um determinado povo e podemos dizer que se manifesta com maior força nas sociedades cuja divisão de classes é bem acentuada.
A cultura popular é também o resultado de uma interação contínua entre pessoas de determinadas regiões e recobre um complexo de padrões de comportamento e crenças de um povo.
Nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive e abrange inúmeras aréas de conhecimento: tradições, crenças e determinados hábitos, usos e costumes, o artesanato, o folclore, por exemplo.
A cultura popular surge de costumes e tradições transmitidos de geração para geração.
Aula 2: Expressões da cultura e arte popular no Brasil
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar as principais expressões de arte brasileira;2. analisar os mais distintos gêneros da nossa cultura.
 
A cultura popular abrange muitas aréas de conhecimento: tradições, crenças e determinados hábitos, usos e costumes, tais como o artesanato, o folclore, etc. Nesta aula faremos um breve panorama sobre algumas manifestações artísticas de cunho popular da nossa cultura.
É comum utilizarmos a palavra “povo” em contextos como os seguintes:
“O povo brasileiro comemorará a Proclamação da República semana que vem.”  Nessa frase, podemos perceber que “povo” está sendo utilizado como o conjunto de pessoas que habitam um país e/ou compartilham da mesma cultura.
“O povo vai hoje para a rua ver os blocos!” Nessa frase, notamos que a mesma palavra aparece com a concepção de multidão, aglomeração de pessoas.
Entre as várias concepções da palavra “povo”, nós, neste momento, a utilizaremos como a primeira frase, ou seja, entenderemos nesta aula “povo” como um conjunto ou uma certa totalidade de pessoas que compartilham:
• o mesmo território;
• os mesmos costumes; 
• os mesmos interesses e tradições.
Cultura é uma palavra ainda mais abrangente que “povo”! Prepare-se para uma certa viagem com essa palavra!
Se observarmos o Dicionário Eletrônico Houaiss, as primeiras definições de cultura serão:
1º Cultura: “ação, processo ou efeito de cultivar a terra; lavra, cultivo.”
5º Cultura: “conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que distingue um grupo social, forma ou etapa evolutiva das tradições e valores intelectuais, morais, espirituais (de um lugar ou período específico); civilização”.
6º Cultura: “complexo de atividades, instituições, padrões sociais ligados à criação e difusão das belas artes, ciências humanas e afins”.
“Até o século XVIII, O termo cultura tendia a referir-se à arte, literatura e música (...) hoje, contudo, seguindo o exemplo dos antropólogos, os historiadores e outros usam o termo cultura muito mais amplamente para referir-se a quase tudo que pode ser apreendido em uma dada sociedade, como comer, beber, andar, falar, silenciar e assim por diante.”
Bem, nem todo mundo concorda com Burke que, da forma como coloca a questão, não consegue dar conta da desigualdade entre as culturas e de como as diferenças se transformam em desigualdade.
Também poderíamos problematizar o seguinte: na medida em que pensam todas as atividades humanas como cultura, essa concepção deixa de fora a hierarquização desses fazeres e o peso distintivo que possuem dentro de uma determinada formação social.
Identidade nacional
O Brasil, em relação a outros países, tardou um pouco a discutir a questão nacional e é só no século XIX, que se inicia por aqui a busca do caráter e da identidade nacional. Bem, depois que se começou a pensar na questão, a discussão tem sido uma constante por aqui. 
As reflexões sobre a nossa identidade envolvem temas como raça, clima e formação do povo brasileiro.
Quando pensamos no conceito de nacional-popular, temos elementos essenciais para compreendermos as formulações ideológicas elaboradas por grupos hegemônicos da sociedade brasileira.
Qual seria o mais legítimo representante de uma nacionalidade brasileira?
O movimento romântico do século XVIII buscou localizar as "fontes originais" de nossa nacionalidade. Esse momento coincide com consideráveis mudanças as quais o Brasil estava sendo submetido. O início do século XX foi de intensa atividade intelectual conjugada à industrialização, que transformaria radicalmente as relações sociais no país. 
Podemos dizer que nas produções populares encontramos uma expressão do que é genuinamente brasileiro. 
Aula 3: Representatividade da Cultura Popular Regional
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Estabelecer uma relação fundamental entre a cultura popular e o período romântico;
2. reconhecer o Romantismo como a fase em que a cultura popular foi valorizada de forma pioneira pelos intelectos dominantes da sociedade, inclusive influenciando os movimentos subsequentes, como o naturalismo e o modernismo.
Na aula passada, conhecemos um pouco sobre dois temas que serão recorrentes nesta disciplina: povo e cultura.
Hoje veremos como a cultura popular foi representada pelo Romantismo, tanto na Europa quanto no Brasil.
No século XVIII, antes do Romantismo predominar na Europa, o velho continente testemunhou a decadência da doutrina clássica, a confluência de diversas tendências literárias, tais como as correntes arcádicas, as barrocas tardias e o estilo rococó.
O vocábulo rococó deriva do francês rocaille, cujo significado remete a um tipo de ornamento cuja característica é reproduzir artificialmente rochedos e pedras da natureza. Com o tempo, devido às críticas dos classicistas e dos românticos, o significado de rococó foi adquirindo um sentido de coisa velha, ultrapassada, inadequada aos contemporâneos. Só próximo de começar o século XX “rococó” daria nome a determinadas expressões da arte plástica, migrando depois para o domínio da crítica e da história literárias.
As bases do estilo de época que viria a ser denominado Romantismo surgem com as primeiras manifestações de um sentimento novo, que rompe gradualmente com os cânones neoclássicos: é o pré-romantismo. Oriunda da segunda metade do século XVIII, a literatura pré-romântica surge como uma audaciosa recusa ao imperialismo da razão.
O Pré-romantismo configurava-se uma transformação radical no pensamento e na sensibilidade da inteligência europeia. Abriam-se os caminhos para a liberdade de expressão, para o repúdio às normas que engessavam as estruturas poéticas, refletindo a crença dos representantes classicistas de que a razão era uma faculdade imutável, por isso os demais valores, inclusive os estéticos, deveriam compartilhar da mesma perenidade.
Arte clássica X romantismo
Existem muitas teorias a respeito das diferenças entre a arte clássica e o romantismo. Segundo o professor Vitor Manuel de Aguiar e Silva, o poeta e crítico alemão August Wihelm Schlegel é o responsável pela mais influente e sistemática exposição sobre o tema.   
Frankenstein & Goethe. Há uma relação possível?
O romance de Mary Shelley (1797-1851) foi escrito em plena vigência do romantismo na Europa. A considerar o círculo de amigos e afetos íntimos que possuía – seu marido era Percy Shelley, notável poeta do romantismo inglês - não é de se estranhar os diversos princípios românticos que guiam a célebre narrativa.
No capítulo XV do romance Frankenstein, publicado em 1818, a criatura diz a seu criador:
“Em Os Sofrimento do Jovem Werther (...) tantas opiniões são esboçadas e tantas luzes se lançam sobre assuntos até então totalmente obscuros para mim, que o considero uma fonte perene de construções e maravilhoso espanto.”
A criatura é um ser atormentado, que (re)nasce sem ninguém em torno para lhe acolher. Precisando compreender o mundo a sua volta, e ao mesmo tempo saber quem ou o que ela é, a entidade-experimental criada por Victor Frankenstein encontra no romance de Goethe respostas fundamentais para amenizar suas inquietações existenciais.
Apesar das diferenças que podemos identificar entre os autores romanticos, seja no temperamento ou no estilo, é comum a todos eles a valorizaçao do ideal e a seuperaçao dos limites que norteiam a realidade sensível.
O desenvolvimento do Romantismo ao longo do século XIX confirmará em parte a oposição de Goethe, pois o movimento compreende percursos alternativos que posicionarão o homem romântico ao largo dos estados mais febris.
Rapunzel, Branca de Neve, João e Maria são algumas das histórias que Jacob e Wilhelm escreveram a partir da oralidade, perpetuando-as graças aos recursos da escrita. Naturalmente o entusiasmo que os irmãos Grimm cultivavam pelas questões linguísticas tinha uma outra face: o sentimento nacionalista. Neste aspecto a sensibilidade romântica era também racionalidade.
Mas como seria representado esse modo de ser que definiria o brasileiro como um povo de traços distintos de todosos outros?
No Brasil, é José de Alencar um dos autores que mais intensamente se preocupa em construir uma literatura que representasse nossos hábitos e costumes sendo genuinamente brasileira.
José de Alencar
José de Alencar (1821-1877) é um dos mais representativos escritores brasileiros, retratou diversos aspectos e cores do país. Do nordeste ao sul, do homem urbano ao sujeito do campo. Alencar também foi advogado e político. 
     Segundo Afrânio Coutinho, a nacionalização do pensamento "é um processo intenso e persistente de busca da identidade nacional, de integração e globalização da realidade brasileira".
Utilizando-se dos idealismos pertinentes à liberdade e imaginação românticas, Alencar tomou como símbolos da identidade nacional a natureza exuberante das matas, a pureza idealizada do índio, isto é, o bom selvagem em seu estado primitivo, não corrompido pela civilização. 
		 Victor Frankenstein e sua criatura, esta sem nome, mas que pelo senso comum foi atribuído a ela o sobrenome do seu criador, são dois dos mais populares heróis românticos da literatura. 
Wolfgang von Goethe foi um dos maiores escritores populares da Alemanha, e legou à história da literatura obras fundamentais, que lançaram as bases para o movimento romântico.
 A cultura popular foi valorizada pelo Romantismo na literatura, ainda que de forma bastante idealizada.
 A leitura que a criatura de Frankenstein fez de Os Sofrimentios do Jovem Werther reflete o enorme impacto da obra de Goethe na mentalidade romântica.
	
Frankenstein já demonstra a sensibilidade romântica através do sofrimento 
Sobre a cultura popular, foi o romantismo que valorizou o folclore, os valores do povo. Trouxe para a questão formal várias manifestações, vários tipos de poesia utilizada pela tradição popular.
Goethe é um dos representantes mais célebres do movimento pré-romantico.
Aula 4: Cultura popular e cultura erudita
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Aplicar nossos conhecimentos sobre cultura e analisar a relação entre cultura popular e cultura erudita;
2. questionar julgamentos irrefletidos sobre a relação entre cultura popular e erudita, entendendo que não existe uma oposição espontânea entre estas duas modalidades culturais.
Cultura popular: definições e conceitos e exemplos gerais
Analisando a cultura popular na Europa do século XVI a partir da literatura do escritor François Rabelais, Mikhail Bakhtin faz uma análise rigorosa sobre um dos aspectos que considerou marcante da cultura popular, o riso. O cômico na obra de Rabelais ofereceu a Bakhtin a chave para o antagonismo – reverência e irreverência.
A descontração era uma espécie de marca dos excluídos (da cultura popular, extraoficial) enquanto para a Igreja (cultura erudita, oficial) a atitude compenetrada do homem austero protegia sua alma contra as influências do mal, sendo a postura que mais o aproximaria do bem e da verdade divina.
Por outro lado, numa justificativa menos espiritual, o riso representava para os representantes do clero um perigoso gesto de rebeldia, indisciplina e subversão aos princípios da ordem eclesiástica, ou seja, aos princípios do poder político no mundo feudal.
Clique nas figuras abaixo e veja as diferentes interpretações de risos:
 “Rindo, rindo, se fala o que quer...” Ditado popular
“Ridendo castigat mores”. Ditado latino da época clássica, cuja tradução é “Rindo, castiga-se os costumes”. Ilustração de uma cena de O Auto da barca do inferno, do mestre em crítica de costumes Gil Vicente.
Cena de O Corcunda de Notre-Dame, longa de animação produzido pelos estúdios Disney (1996). O riso era marca dos excluídos. A austeridade, expressão da nobreza e da religiosidade oficiais.
O romance Nossa Senhora de Paris, escrito por Victor Hugo na primeira metade do século XIX, é mais conhecido no Brasil com o título O Corcunda de Notre-
-Dame. Esta é uma obra bastante representativa do romantismo francês. Discurso da era romântica na literatura, seu texto é impregnado de idealismos típicos da época, tais como os “amores irrealizáveis” que consumiam o corpo e a alma dos heróis, não importando se uma cigana com espírito europeu se apaixona como uma “mocinha” burguesa ou se um corcunda grotesco é o rival improvável do cavaleiro Febo, cuja bela compleição remete ao Sol do Deus Apolo.
A despeito das idealizações, O Corcunda de Notre-Dame é um dos mais brilhantes retratos literários da tensão entre a cultura popular e a erudita. A cultura popular é representada pelos ciganos, marginalizados e perseguidos pela Igreja, uma vez que resistem às imposições políticas e culturais dos poderosos não aceitando converterem-se ao cristianismo, aos dogmas da religião oficial. Clopin e Esmeralda são os principais ciganos da narrativa.  
No capítulo em que Victor Hugo retrata uma das mais populares festividades da Europa medieval, a “Festa dos Tolos”, acompanhamos uma série de manifestações da cultura popular do feudalismo que identificamos diretamente com as tradições do nosso carnaval. Algumas das expressões populares que Bakhtin observa na obra de Rabelais estão presentes no romance de Victor Hugo. Práticas pagãs, como os jogos de adivinhação em praça pública, são realizadas pela cigana Esmeralda, com o auxílio de sua cabra Djali.    
“A dominação cultural nunca é total. Há sempre uma margem para a resistência e afirmação.” (CUCHE, 2002)
A partir do surgimento das sociedades estratificadas, isto é, divididas em classes, a irreverência, traço típico da comicidade e da crítica marginal, constitui-se, sobretudo no feudalismo europeu.
Em uma qualidade distintiva entre as esferas sociais que governavam – o clero e a nobreza - e as classes governadas – o povo e a burguesia.
Daí alguns autores, como Cuche, entenderem a cultura popular como uma série de manifestações culturais que tem como característica essencial uma postura de resistência às imposições políticas e culturais, superando a crença da cultura popular ser passiva e conformista.
Cultura Popular - na literatura brasileira
Uma das definições de cultura popular que mais orientam os debates acerca do tema é a que se baseia na origem da produção, ou seja, na classe social em que uma obra de arte é idealizada e finalizada.
As produções artísticas populares seriam aquelas “alheias” aos meios formais de aprendizagem, como escolas e universidades, instituições dotadas de rigoroso conhecimento técnico, histórico e teórico sobre a arte da escultura, da pintura, da música, etc.
Por conta da origem humilde, a cultura popular precisou de muito tempo e de grandes transformações sociais para que se iniciasse um processo de valorização da arte sem diploma.    
Em outras palavras, assim como a variação linguística “vale” o que vale seu falante, i.e., a língua padrão é representada pelo registro linguístico da aristocracia, a arte “canônica” é quase sempre a manifestação cultural das camadas mais privilegiadas da sociedade.
É fato que o samba não surgiu em academias de música ou nas universidades. Assim como na cultura anglo-americana o blues e em seguida o rock não foram gêneros musicais criados e florescidos nos meios de erudição. É comum aquela assertiva de que samba não se aprende na escola. O curioso é que dizem o mesmo sobre escrever, sugerindo que nunca haveria existido ou que seria inútil a existência de cursos para escritores de narrativas. A considerarmos o volume de publicações recentes com o objetivo de ensinar ao leitor técnicas para se escrever narrativas, esta crença ingênua de que para ser um grande escritor dependemos mais de um “dom” intuitivo do que de conhecimentos técnicos e teóricos passa a ser bastante questionável.
Qualquer concepção de cultura popular, assim como de cultura erudita, dificilmente será elaborada sem a influência dos valores contemporâneos, do tempo em que os conceitos são formulados.
O que era popular há décadas, com o tempo poderá cair no gosto das classes dominantes. Porém, quando falamosde classes, não devemos nos esquecer dos indivíduos que as compõem. Nem todos pensam da mesma forma, ou compartilham das mesmas ideias pelo fato de pertencerem a uma mesma classe!                
Sócrates, mestre de Platão, não deixou qualquer registro escrito, pois acreditava que o hábito de ler e de escrever enfraqueceria a memória humana e faria dos filósofos sábios imaginários, dependentes de um saber exterior a eles. Alguns pesquisadores, inclusive, acreditam que ele não soubesse ler ou escrever!
Entretanto, o fato de Sócrates não ter registrado seus pensamentos em livros e atas, como os filósofos posteriores, não exclui seu pensamento dos currículos universitários. Estudamo-lo graças aos registros de Platão e Xenofonte, e a força das ideias que deixou é responsável por grande parte das “correntes” filosóficas que se sucederam a ele!
Quanto à literatura brasileira, um dos mais importantes representantes da poesia popular, Patativa do Assaré (1909-2002), foi um lavrador que não sabia escrever e nem fazia questão de aprender, mas que se notabilizou por sua arte. Seus versos eram registrados num gravador.
Assaré jamais abandonou o campo migrando para a cidade no intuito de seguir uma carreira nas letras. Então por que lemos e escrevemos? Porque a verdade do filósofo grego e do poeta popular era relativa, não pertencia a todos.
Sócrates era fiel ao que acreditava, assim como o lavrador brasileiro, que não tinha a necessidade de aprender a escrita, nem a vaidade de ser um grande poeta. Contudo, não era no que Platão acreditava, e este provou que os mestres podem se enganar. Daí a importância de desenvolvermos o pensamento autônomo. Dentro deste padrão, Sócrates estava certo!
O problema de avaliarmos a cultura popular como naturalmente antagônica à erudita começa quando consideramos o fato de que existem tanto diferenças quanto semelhanças entre elas.
A partir destas fontes, a cultura popular original será reinventada e transformada num produto na maioria das vezes barato, de qualidade tão ínfima quanto os custos, a fim de gerar o máximo de lucro aos investidores e representantes das elites. Mas este é um assunto para as próximas aulas!
SLIDES
Já sabemos que todo processo cultural é uma construção social e histórica, portanto dinâmico e sujeito às interferências de novas ordens políticas e econômicas. 
Erudição -instrução, conhecimento ou cultura variada, adquiridos esp. por meio da leitura. A erudição está diretamente ligada ao estudo formal. Erudito é algo que surgiu na academia, no âmbito acadêmico.
A oposição entre cultura erudita e cultura popular é uma construção IDEOLÓGICA.
Aula 5: A Comunicação Popular – a Mídia e os Meios de Divulgação para a Arte Popular
	
		Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar alguns dos meios de divulgação da arte popular brasileira;
2. estudar a relação entre as formas de arte populares e as mídias que as divulgam;
3. refletir a respeito do papel das artes locais no contexto da globalização.
	
As mídias e os espaços de divulgação
Está entre as principais características humanas o fato de nos comunicarmos e transmitirmos o que sabemos ao nosso grupo social, na nossa família e, com as tecnologias mais recentes, com pessoas que nem chegaremos a conhecer.
Contar uma fábula para entreter uma criança ou transmitir conhecimento, on-line, para centenas ou milhares de pessoas é continuar a tradição pré-histórica de não deixar determinadas informações perecerem.
Somos o resultado de várias gerações de pensamentos, descobertas e realizações.
De certa forma, tudo que escrevemos ou pensamos não é exatamente original.
A poesia e a narrativa podem ser consideradas como as primeiras formas de expressão artística de todos os povos conhecidos.
“Entre as expressões de cunho popular, as que mais interesse oferecem são as modalidades comunicativas. E, entre estas, a poesia ocupa um lugar de destaque pela sua dinamicidade e força de expressão.” 
(LUYTEN, 1992)
As anedotas, lendas e contos que passam de geração em geração estão entre as expressões populares de cultura.
E como são transmitidas de uma pessoa a outra, de um grupo a outro?
Arte e literatura – quem conhece?
Na Antiguidade Clássica, na Grécia, havia alguns festivais voltados para as artes dramáticas. Nas Leneias e nas Dionisíacas eram apresentadas peças teatrais para um grande número de pessoas, muitas vindas de partes bastante distantes de Atenas - cidade que sediava a maior parte dos festivais gregos.
As apresentações eram os principais meios de conhecimento das histórias retratadas nas peças, mas, na medida em que faziam sucesso, as peças atravessavam as fronteiras dos teatros e ganhavam vida nas narrativas animadas da audiência e na representação pictórica em tecidos, afrescos e até objetos domésticos.
Quando um filme, novela ou seriado faz sucesso, logo vemos pessoas desfilarem com objetos que fazem referência a eles de algum modo. Esse fato pode até ser analisado como uma espécie de “medidor de sucesso” das obras.
Na Antiguidade também não era diferente, como vimos. 
Os festivais, em si, eram/são grandes meios de divulgação das obras e, na medida em que fazem sucesso, o que as pessoas falam sobre elas e as obras inspiradas nelas também se tornam meios eficazes de divulgação.
Pintura – Arte NAIF
O termo arte naïf aparece como sinônimo de arte ingênua, original e/ou instintiva, produzida por autodidatas que não têm formação acadêmica no campo das artes. A expressão se confunde muitas vezes com os termos arte popular, arte primitiva, art brüt, por conta de uma expressividade autêntica, da sua subjetividade e da imaginação de criadores alheios à tradição e ao sistema artístico convencional que privilegia o uso científico da perspectiva, formas convencionais de composição e de utilização das cores. 
O Violeiro, de Ernane Cortat
A expressão arte naïf caracteriza-se também pela ausência das técnicas usuais de representação e pela visão ingênua do mundo, destacamos a utilização de cores brilhantes e alegres, a simplificação dos elementos decorativos, a descrição minuciosa, a visão idealizada da natureza e a presença de elementos do universo onírico. A história da pintura naïf liga-se ao Salon des Independents, de 1886, em Paris, com exibição de trabalhos do "Le Douanier" Henri Rousseau (1844 - 1910), um dos mais notáveis pintores naïfs. "Le Douanier" (funcionário da alfândega) era o apelido de um funcionário burocrata que se dedicava à pintura como hobby.
Seu trabalho obtém reconhecimento imediato dos artistas de vanguarda do período - como Redon, Gauguin e Picasso, que interpretaram sua obra como  um símbolo do retorno às origens e das manifestações da vida livre e pura. Em 1928, o colecionador Wilhelm Uhde organiza a primeira exposição de arte naïf em Paris, reunindo obras de Rousseau, Luis Vivin, Séraphine de Senlis, André Bauchant e Camille Bombois. Mais tarde, o Museu de Arte Moderna de Paris dedica uma de suas salas exclusivamente à produção naïf. Sem dúvida, o apoio de artistas consagrados e a exposição no Museu de Arte Moderna parisiense foram extraordinários meios de divulgação para essa arte.
O Circo, Djanira, 1955
A arte naïf possui um circuito próprio e conta com museus e galerias especializados no  mundo inteiro. No Brasil, especificamente, uma série de artistas aparece diretamente ligada à pintura naïf: Cardosinho, Luís Soares, Heitor dos Prazeres, José Antônio da Silva (1909 - 1996) e muitos outros. Entre eles, ganham maior notoriedade: Chico da Silva  e Djanira. Djanira foi aluna do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e completou sua formação com Emeric Marcier  e Milton Dacosta, que foram amigos e hóspedes na Pensão Mauá, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Nos anos 1950, ela é artista consagrada e uma das lideranças do Salão Preto e Branco.
Samba nos Arcos da Lapa, de Heitor dos Prazeres (1964)
A arte popular do Nordeste brasileiro, tais como as xilogravuras que acompanham a literatura de cordele as esculturas de Mestre Vitalino (Já, falaremos a respeito dele!), figura em algumas fontes como exemplos da arte naïf nacional.
Para conhecer um pouco mais da Arte NaÏf, acesse:
MIAN – Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil
http://www.museunaif.com.br/
 
Escultura – Mestre Vitalino
 
“O mundo é para todos e todos precisam viver” 
(Mestre Vitalino)
 
Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, nasceu em 1909 nas cercanias da cidade de Caruaru (PE). É um dos artesãos mais conhecidos e reconhecidos do Brasil. Em virtude de sua origem humilde e, sobretudo interiorana, não havia possibilidade de se ganhar brinquedos. Então, o pequeno Vitalino começou a produzir pequenos animais em barro para suas brincadeiras. Porém, seu trabalho foi útil também economicamente, pois logo venderia suas esculturas numa feira de Caruaru. 
Apesar de vender muito barato as figuras esculpidas, não parou de produzi-las, e dos pequenos animais Vitalino passou a explorar temas dos mais diversos, sempre abordando os mais variados aspectos e costumes de sua região: cenas do dia-a-dia, do homem do campo, da realidade do agreste nordestino. A diversidade temática e a qualidade das esculturas fizeram a fama de Vitalino, que despertaria a atenção de novos artesãos e de artistas experientes como 
A obra de Mestre Vitalino teve como fontes de divulgação os meios tradicionais da arte popular brasileira, como feiras do interior e as próprias casas dos artesãos, porém, suas esculturas são reconhecidas internacionalmente, pois também tiveram ao seu favor considerável apoio das mídias impressas, assim como das rádios e televisão. Diversas matérias sobre o artista foram editadas. Em 1953, pelo Jornal de Letras e na Revista Esso, em 1959. Em 1955, a arte popular do mestre pernambucano desponta na exposição Arte Primitiva e Moderna Brasileiras, em Neuchatel, Suíça.
Augusto Rodrigues (1913 - 1993), que organizou no Rio de Janeiro a 1ª Exposição de Cerâmica Pernambucana contendo diversas obras de Vitalino.
Musica.
Falar de “música popular” no Brasil é algo de certo modo muito discutível. O conceito “popular” é naturalmente amplo, mas quando se trata de relacioná-lo à música, essa amplitude se torna ainda maior. São enquadrados na “música popular brasileira” os mais diferentes artistas, dos mais distintos estilos, cujos respectivos públicos são ainda mais dessemelhantes.
Os artistas brasileiros que influenciaram a música regional brasileira com o seu trabalho foram: Marisa Monte, Bete Carvalho, Nação Zumbi e Elba Ramalho.
As cantigas de ninar são exemplos de canções populares que passam de geração a geração.
No contexto dessa aula, nosso enfoque é a música cuja origem será, de fato, de artistas do povo, sem uma trajetória formal no meio musical.
Pode-se afirmar que a música popular brasileira começa com os índios e com a música feita pelos jesuítas que vieram para cá. Os ritmos tocados pelos nossos antecessores, como o cateretê ou o cantochão, são ainda hoje tocados em festas populares e também são mesclados com outros estilos musicais. Nossa música se tornou mais representativa no final do século XVII, com o lundu, uma dança de origem africana de meneios e sapateados, e a modinha, canção de origem portuguesa de cunho amoroso e sentimental. O lundu, a modinha junto da influência africana e a européia alternaram-se e combinaram-se das mais inusitadas formas criando estilos e gêneros musicais diversos.
SLIDES
A poesia e a narrativa podem ser consideradas como a primeira forma de expressão artística de todos os povos conhecidos. As anedotas, lendas e contos que passam de geração em geração estão entre as expressões populares de cultura. E como são transmitidas de uma pessoa a outra, de um grupo a outro? 
Não é muito diferente de hoje, não?
Os festivais, em si, eram/são grandes meios de divulgação das obras e, na medida em que fazem sucesso, o que as pessoas falam sobre elas e as obras inspiradas nelas também se tornam meios eficazes de divulgação.
 
A literatura cânone abraça os traços marcantes do nosso regionalismo e enriquecem a nossa literatura, mas isso não é literalmente literatura popular. Cultura popular e literatura popular é aquela literatura produzida pela camada menos favorecida economicamente da população. Assim, Guimaraes Rosa, Jorge Amado, José Alencar entre outros não são autores de literatura popular, eles são cânones da literatura que trabalharam com temáticas regionais. 
É Literatura clássica, literatura cânone com traços de regionalismo, com traços da cultura popular, de modo que um mundo acaba influenciando o outro.
Aula 6: Contextualidade dos fenômenos literários regionais e tipos de regionalismo
Regionalismo é o tipo de produção literária que privilegia sua narrativa em determinada parte de um país. Os primeiros autores do gênero não mencionavam uma localidade, mas seus textos estavam cheios das referências à cultura regional brasileira. Esse tema é recorrente em nossa literatura desde o século XIX. Autores como José de Alencar, Bernardo Guimarães, Alfredo d'Escragnole Taunay e Franklin Távora deram o “pontapé” inicial e até hoje encontramos alguns traços de regionalismo na literatura brasileira, embora as obras mais representativas se concentrem nos textos da metade do século passado, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Guimarães Rosa.
Embora todos os autores regionalistas, de certa forma, tenham se inspirado nas narrativas, lendas e anedotas populares para compor sua obra, levando em conta o teor da disciplina, procuraremos nos aprofundar na literatura de cunho popular nessas regiões. A abordagem do cânone da literatura popular será abordada em outra disciplina. Sobre a literatura da região nordeste, teremos aulas específicas. Aguardem!
Região Norte
A literatura amazônica 
Lendas indígenas
Referência da cultura acadêmica: Milton Hatoum
As lendas indígenas influenciaram fortemente o folclore brasileiro.
Você já ouviu algum especialista comentar na TV a respeito de algum fato ocorrido na região norte? Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins? Já acompanhou matérias jornalísticas ou assistiu a algum documentário sobre a região?
Ainda que a resposta seja negativa, é bem provável que você ao ouvir os nomes ”Amazônia”, “Tocantins”, sempre acione na mente a imagem da floresta. Isto é, de modo geral, vinculamos a região norte à ideia de meio ambiente, desmatamento, conservação ambiental, populações e lendas indígenas. A região significaria para nós tão somente o mais importante polo de resistência da natureza, a última morada do homem ‘primitivo’, a derradeira referência ‘viva’ do que teria sido o paradisíaco jardim do Éden.
De fato, as populações indígenas fazem parte da paisagem amazônica, e junto com elas as lendas e os mitos sobreviventes, incorporados ao folclore amazônico, como a história do Uirapuru, do Boitatá etc.
Quem não ouviu falar em Saci-Pererê, na lenda do Boto-cor-de-rosa, na Mula sem cabeça?
Todos personagens cuja origem se encontra nas narrativas contadas oralmente pelos povos da região norte, seja pelos índios, seja pelas populações ribeirinhas. Durante longo tempo a literatura amazonense retratou com destaque essa realidade interiorana. Autores como Monteiro Lobato e Ziraldo se utilizaram das histórias e personagens da cultura amazônica, respectivamente no Sítio do Picapau Amarelo e na Turma do Pererê.
Contudo, a região amazônica não compreende somente a grande floresta ou o folclore, representado em grande escala pelos contos indígenas. O ciclo da borracha, por exemplo, é o pano de fundo para diversos romancistas amazonenses da primeira metade do século XX. As questões do homem, da sua dignidade e as injustiças sociais acerca da exploração extrativista na Amazônia são retratadas com relevância no romance Terra de Ninguém, do escritor Francisco Galvão e publicado em 1934.
Décadas depois, escritores como Arthur Engrácio (1928-1997) dividiriam o interesse pelas tradições populares e regionaiscom narrativas cujo tom de denúncia social marcava suas obras.
Em 1954, foi fundado pelo poeta Jorge Tufic, entre outros artistas, o Clube da Madrugada, importante grupo de escritores de vanguarda artística que tinham como objetivo modernizar a arte e a literatura no Amazonas, em conexão com as novas ideias surgidas no país a partir do movimento modernista. A partir do final da década de 60 do último século, Manaus sofre grandes transformações culturais, econômicas e sociais, sobretudo a partir da instalação da Zona Franca. Este cotidiano ‘das cidades’ começa a se refletir na literatura da região.  
Cultura popular e literatura acadêmica 
 
“Específico da natureza humana, isto é, o desenvolvimento autônomo da razão na compreensão dos homens, da natureza e da sociedade para criar uma ordem superior (civilizada) contra a ignorância e a superstição.” (CHAUÍ, 1986, p.13)
Podemos refletir sobre a realidade urbana, tradicionalmente elitista e acadêmica. A cidade é o “celeiro” dos intelectuais, portanto o deslocamento das atenções do interior selvático, mítico para a zona urbana racional, intelectualizada, originou uma nova e proeminente face da cultura literária da região norte.
No nosso imaginário, a Amazônia ainda é totalmente verde, porém, a cultura erudita está consolidada na região, o que nos exige reconhecer que as lendas e o folclore característicos da cultura popular já dividem espaço com a poesia e com a prosa da literatura acadêmica.  
Atualmente a nova geração de escritores amazonenses tem como seu representante mais célebre o escritor Milton Hatoum, vencedor de diversos prêmios.          
Região Sudeste
As origens do movimento denominado Trovismo encontram-se na literatura oral, isto é, nas raízes mais sólidas da cultura literária popular. 
Muito antes que fossem desenvolvidos os sistemas de escrita o homem já contava histórias, prática comum em todo tipo de sociedade. Com o advento da imprensa e a democratização da leitura a oralidade perdeu prestígio, sobretudo nos centros urbanos.
Até a primeira metade do século XX, período em que não havia rádio ou televisão, as pessoas costumavam se divertir em reuniões com seus familiares. Um dos entretenimentos era a narração de histórias, não raro baseadas em repertórios folclóricos.
As histórias podiam ser narradas em forma de versos ou de prosa, contadas ou cantadas geralmente pelos mais velhos. Dona Benta, personagem de Monteiro Lobato, é um exemplo da avó (anciã) que guarda na memória um vasto repertório de narrativas fantásticas.          
Na fronteira entre os narradores da literatura oral e a literatura letrada estão os pesquisadores, que buscam registrar as manifestações populares orais. No caso das trovas, podem ser cantadas por um indivíduo do povo, que para expressar seus sentimentos utiliza-se da poesia.             
Guilherme Santos Neves
Um dos Membros da Academia Espírito-santense de Letras, foi um dos mais importantes pesquisadores do Folclore capixaba.
Região Sul
Rio Grande do Sul
A literatura regional popular no Rio Grande do Sul tem semelhanças e uma evidente identificação com a de outras regiões do país. A poesia gauchesca, assim como a nordestina, está originalmente vinculada à música, à dança, à glosa e outros jogos de trovar.
Existem pelo menos dois tipos de poesia popular no Rio Grande do sul: as “décimas” e as “quadrinhas”. A primeira resulta em longas narrativas de aventura, a segunda em quadrinhas cantadas, chamadas de versos decorados, opondo-se aos versos de improviso, esta “a principal forma de trova campeira no Rio Grande.”, segundo o historiador e folclorista Barbosa Lessa.       
Exemplo de quadrinha: 
 
Bote uma linha no começo.
Mais outra, pra dar a rima.
E depois duas, que nada
Têm a ver com as de cima
LESSA, Barbosa. História do chimarrão. Rio Grande do Sul: Sulinas, ANO)
Região Centro-Oeste
Concentraremos a literatura popular da região centro-oeste em um nome: Cora Coralina.
Os poucos anos de escolaridade formal não impediram que o Brasil conhecesse a poesia delicada, de palavras precisas da artista mais reverenciada da lírica do centro-oeste. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a Cora Coralina, escrevia desde os treze anos, fundou um jornal literário em Goiás aos dezessete anos com as amigas Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana, mas só alcançou o sucesso nacional na década de 80, quando Carlos Drummond de Andrade a parabeniza publicamente, em uma carta com muitos elogios ao livro Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha:
“Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...)." (Vintém de cobre - Meias confissões de Aninha. São Paulo: Global Editora, 2001, p. 174.)
Slides
Autores como José de Alencar, Guimarães Rosa, Érico Veríssimo e Franklin Távora deram o “pontapé” inicial e até hoje encontramos alguns traços de regionalismo na literatura brasileira, embora as obras mais representativas se concentrem nos textos da metade do século passado, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos entre outros.
Aula 7: A Literatura Popular no Brasil
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar as origens da literatura popular no Brasil, como ela se constituiu e se consolidou no imaginário popular;
2. conhecer as principais manifestações da literatura de cunho popular, sua prosa, poesia e seus principais escritores e poetas da atualidade.
Embora a frase “Ser ou não ser, eis a questão” tenha se notabilizado, Shakespeare não foi o precursor das questões sobre identidade. Os gregos (eles, novamente), mais especificamente os filósofos das questões humanas, como Sócrates, Platão e Aristóteles, se preocuparam muito com isso. “O que o ser humano é?”, “O que nós somos?” eram reflexões freqüentes entre os pensadores. 
Édipo Rei é uma viagem trágica ao autoconhecimento. 
Porém, na frase do bardo inglês há uma questão lógica, ainda fruto de debates teóricos. Não se pode ser e não ser ao mesmo tempo. Quando afirmamos: “somos brasileiros”, dizemos implicitamente que não somos americanos, gregos ou finlandeses. O vocábulo “brasileiro” traz uma série de significações agregadas a ele ao longo da história. A identidade implica sua diferença em relação a outras coisas. O mesmo acontece com comunidades. 
Quando Patativa do Assaré afirma ser lavrador e não poeta, nega a cidade e os costumes de uma intelectualidade dominante, ambas díspares, sem equivalências com a sua identidade rural. Eu sou do campo, portanto: “não sou da cidade”. 
Enfim, nestes casos identificamos “identidade” com essa antiga questão da filosofia.
Entre os autores mais proeminentes, importa destacar os nomes de Gellner (1993), Smith (1997), Anderson (1983), Hobsbawm (1983) e Habermas (1994), que se impuseram como uma referência quando se trata de abordar questões sobre identidade ou cultura nacional. Em geral, estes autores consideram que só a partir de uma análise da nação como artefacto cultural, portanto, como representação, será possível conceitualizar a identidade nacional e explicar a sua relevância nas sociedades contemporâneas, especialmente nos domínios cultural, social e político.”
Enfim, nestes casos identificamos “identidade” com essa antiga questão da filosofia: “Quem sou?”. Saber quem somos nos remete à máxima do Oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo!”. Contudo, o conceito é bem mais complexo e envolve uma série de debates entre os mais variados pensadores ao longo da história da filosofia. 
Identidade nacional
E qual é, de fato, nossa identidade? Quem somos? “Que país é esse?”
E qual é, de fato, nossa identidade? Quem somos? “Que paísé esse?”
“Grande parte dos estudos sobre nacionalismo, cultura nacional e identidade nacional inscreve-se numa perspectiva que procura entender de que modo as 'narrativas da nação' contribuem para a promoção da homogeneidade cultural no seio do Estado-nação, reconhecendo-lhes um papel fundamental na construção da identidade nacional.”
 Maria Luiz Rovisco
Identidade cultural
A pop art se apropriou de elementos da cultura de massa, tais como as celebridades e embalagens de produtos conhecidos e os transformou em objetos artísticos, resignificando-os.
Aleijadinho foi o nosso maior artista barroco.
Os desfiles de escola de samba cariocas
Segundo Adorno, esta culturaq não é de massa, mas é fabricada para ela, ou seja, para o maior numero de consumidores possivel.
Indústria cultural e literatura regional popular
Entre as manifestações da literatura popular a o cordel é a única conhecida e divulgada, porém todo o restante carece seriamente de documentação, pesquisa e divulgação. 
SLIDES
Aula 7: Indústria cultural: regionalismo e globalização.
A diluição das culturais locais
Conteúdo Programático desta aula
-A questão da “identidade cultural”; 
- A relação entre o movimento modernista brasileiro e a busca pela identidade nacional na cultura e nas artes; 
- O conceito de “indústria cultural”. 
 
Grande parte dos estudos sobre nacionalismo, cultura nacional e identidade nacional inscreve-se numa perspectiva que procura entender de que modo as 'narrativas da nação' contribuem para a promoção da homogeneidade cultural no seio do Estado-nação, reconhecendo-lhes um papel fundamental na construção da identidade nacional.
“A língua é a súmula da cultura.” M Câmara
	Hoje em dia, assim como os romanos dominaram os godos, visigodos e lusitanos, as grandes economias moldam o mundo segundo seus próprios valores e, com isso, povos, idiomas e costumes são “engolidos” pelo “rolo compressor” homogeneizante das civilizações do bloco das macro-economias. Esse processo de formação longo, complexo e sangrento, que resultou em uma maioria da população bastante prejudicada economicamente, desde os tempos do Brasil colônia, contribuiu significativamente para que se propagasse uma espécie de propaganda de um país que será, poderá e realizará. Todos verbos no futuro.
E qual é, de fato, nossa identidade? Quem somos? “Que país é esse?”
“Grande parte dos estudos sobre nacionalismo, cultura nacional e identidade nacional inscreve-se numa perspectiva que procura entender de que modo as 'narrativas da nação' contribuem para a promoção da homogeneidade cultural no seio do Estado-nação, reconhecendo-lhes um papel fundamental na construção da identidade nacional.”
 Maria Luiz Rovisco
Uma das funções da literatura, como de todas as artes, é de estimular indagações. Mas, como abordou Walter Benjamim, tal função torna-se impraticável num contexto em que os representantes do capital se apoderam dos meios de cultura e das mídias, e nesta veiculam seus produtos e negócios. O interesse da indústria cultural é prático e imediato: gerar necessidades de consumo, ou tudo que favoreça as práticas lucrativas. Fica só uma pergunta, é possível estabelecer limites para a dominação e a influência exercidas pela indústria cultural sobre as liberdades de escolha? 
Segundo o sociólogo Denys Cuche, a dominação cultural nunca é absoluta, pois sempre haverá espaço para a resistência e afirmação das culturas subordinadas às imposições políticas e culturais.
Aula 8: A Literatura Popular no Brasil
A literatura como conhecemos atualmente nem sempre existiu. Os poetas da antiguidade e da era medieval cantavam ou escreviam seus versos sem qualquer noção de que estavam produzindo ou que séculos depois seria classificado como tal.
Nas aulas anteriores, vimos que cultura popular é o resultado de uma interação entre pessoas de determinadas regiões, recobre um complexo de padrões de comportamento e crenças de um povo e nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive e abrange inúmeras aréas de conhecimento: tradições, crenças e determinados hábitos, usos e costumes, o artesanato, o folclore, por exemplo. A cultura popular surge de costumes e tradições transmitidos de geração para geração.
As origens da literatura popular nos levam à Europa, na Idade Média, quando o sistema de comunicação, assim como as manifestações culturais eram dominadas pela Igreja. Nessa época o idioma oficial era o latim, no entanto, esse idioma só era acessível a pouquíssimos letrados.
O povo dominava o dialeto das províncias romanas locais, ou seja, o falar da sua própria localidade. O latim ficava restrito aos poucos letrados e, claro, o povo possuía suas manifestações artísticas, suas lendas e sua história, independentes do idioma que lhes era imposto.
O povo dominava o dialeto das províncias romanas locais, ou seja, o falar da sua própria localidade. O latim ficava restrito aos poucos letrados e, claro, o povo possuía suas manifestações artísticas, suas lendas e sua história, independentes do idioma que lhes era imposto.
A beata Hildegard von Bingen (1098-1179) escreveu a antífona Nunc gaudeant materna na coletânea Symphoniae harmoniae celestium revelationum, manifestação artística d classe culturalmente dominante na Idade Média.
Surgem, então, as primeiras manifestações da literatura popular como uma espécie de oposição à cultura eclesiástica. O que se produzia em termos literários era essencialmente religioso e escrito em latim, mas as manifestações populares eram cantadas/contadas e escritas – quando escritas - nos idiomas das localidades que, na época, eram protoidiomas - versões arcaicas de idiomas como o francês, italiano e português.
“Pois naci nunca vi amor
E ouço del sempre falar.
Pero sei que me quer matar
Mais rogarei a mia senhor
Que me mostr' aquel matador
Ou que m'ampare del melhor.”
 
Love Song é uma cantiga de amor do século XIII composta por Nuno Fernandes Torneol e cantada pelo grupo Legião Urbana. É a música de abertura do álbum Legião Urbana V.
A produção popular, nessa época, tinha como principal modalidade a poesia, a trova. Os menestréis, trovadores e jograis eram poetas que cantavam as tradições, as dores e os amores de seus povos e que muitas vezes também viajavam de uma localidade à outra, o que enriquecia seu repertório.
As cantigas e as trovas eram muito apreciadas nas camadas mais ou menos abastadas e o tema mais recorrente eram as histórias de amores impossíveis, que muitas vezes eram disfarçados sob o véu da religiosidade, como a cantiga composta pelo rei Afonso X de Castela, conhecido como Afonso, o Sábio:
As origens da literatura popular podem até estar na Idade Média, mas foi só no final do século XVIII que se começou a separar a literatura feita pelo povo e a literatura de elite. A criação da imprensa foi fundamental para que se registrassem as produções.
Na Europa a imprensa já era uma realidade relativamente acessível a quase todas as classes sociais, mas no Brasil não aconteceu dessa forma. Somente no século XX a impressão se tornou realidade e, com isso, as primeiras manifestações literárias do povo começaram a surgir.
Bufões,  bobos da corte – expressão da arte popular que interagia diretamente nos meios mais privilegiados - só eles diziam certas verdades diretamente aos poderosos
A xilogravura popular é, de certo modo, uma permanência do traço medieval da cultura portuguesa transplantada para o Brasil e que se desenvolveu na literatura de cordel.
A literatura popular no ocidente surge na Europa, século XII, como uma manifestação independente do sistema de comunicação eclesiástico.
A história da literatura de cordel começa com o romanceiro do Renascimento, quando se iniciou impressão de relatos tradicionalmente orais feitos pelos trovadoresmedievais, e desenvolve-se até à Idade Contemporânea
A literatura de cordel
No Brasil, a vertente mais representativa da literatura popular é o cordel. Nas próximas aulas, exploraremos mais esse tipo de lírica, bem como a narrativa popular, modalidades tão relevantes da vertente popular da literatura do Brasil.  
Mas, por hora, introduziremos três nomes importantes da literatura cordelística, para que tomemos conhecimento dessa manifestação cultural e apreciemos um pouco da sua grande produção.
Principais autores cordelistas
Ariano Suassuna
Representante mais célebre da prosa e do teatro populares do Brasil, tem formação acadêmica, membro da Academia Brasileira de Letras e um ávido leitor de escritores eruditos, uma das maiores preocupações de Ariano Suassuna é valorizar a cultura popular brasileira. E esse objetivo se reflete em toda a sua obra. Suassuna é o tipo de mediador ideal entre as duas culturas, a popular e a erudita. Já teve inúmeras de suas obras adaptadas para cinema e televisão, dentre elas a minissérie de grande sucesso O auto da Compadecida.               
Leandro Gomes de Barros 
Considerado o precursor da literatura de cordel no Brasil e um dos mais importantes cordelistas, escreveu centenas de obras. Vendeu seus versos para os mais diferentes tipos populares: sertanejos, vaqueiros, cangaceiros, etc. Diversos episódios do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, foram inspirados na obra de Leandro Gomes de Barros.  
Antônio Vieira 
Seguindo uma tradição da legítima arte popular, o cordelista baiano Antônio Viera além de poeta é músico. Em sua obra “O Cordel Remoçado” integra música e literatura popular, numa narrativa em que o foco é a sua cultura, isto é, os costumes e as tradições nordestinas.              
Assim como Ariano Suassuna, Antônio Vieira é um assíduo frequentador de palestras em universidades, além de ministrar cursos. É reconhecido internacionalmente, sobretudo em Portugal. No Brasil, foi diplomado como membro da Academia de Cultura da Bahia.  
De Antonio Vieira:
“... Os nomes dos poetas populares
Deveriam estar na boca do povo
No contexto de uma sala de aula
Não estarem esses nomes me dá pena
A escola devia ensinar
Pro aluno não me achar um bobo
Sem saber que os nomes que eu louvo
São vates de muitas qualidades.
O aluno devia bater palma
Saber de cada um o nome todo
Se sentir satisfeito e orgulhoso
E falar deles para os de menor idade
Os nomes dos poetas populares.”  
Algumas curiosidades sobre Antônio Vieira:
“gravou o Cd “O Cordel remoçado”, gravou um especial para a TVE-Bahia com entrevista e performance do show “O Cordel Remoçado”.” 
“Maria Bethania, em seu CD “Pirata”, declama uma poesia do cordelista de Santo Amaro da Purificação, Antônio Vieira que, mais do que muitas palavras, coloca o assunto em seu devido lugar, o lugar dos poetas populares...”   
	
	O Brasil, em relação a outros países, tardou um pouco a discutir a questão nacional, busca do caráter e da identidade, que se inicia por aqui somente no século XIX
	
	
	
Aula 9: Lírica Popular - a Literatura de Cordel
Na aula anterior estudamos que os poetas da Antiguidade e da era medieval cantavam ou escreviam seus versos sem qualquer noção de que estavam produzindo o que séculos depois seria classificado como Literatura. 
	A expressão cujo berço são as camadas mais prestigiadas da sociedade geralmente são logo aceitas no cânone artístico, enquanto o que vem dos meios populares às vezes leva séculos até ser considerado arte.
	Também vimos que cultura popular é o resultado de um conjunto de manifestações tradicionais e crenças de um povo e nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive, de costumes e tradições transmitidos de geração para geração.
	O cordel, também conhecido no nosso país como folheto, é um gênero literáriopopular escrito comumente sob a forma de rima, cuja origem, como já vimos, parte de relatos da cultura oral. Embora possamos afirmar que sua origem remonta à Antiguidade dos fenícios, gregos e romanos, a forma como é conhecida hoje, com os folhetos, remonta ao século XVI, quando o Renascimento popularizou a impressãode relatos orais. 
	Na Península Ibérica recebeu os nomes de pliegos sueltos na Espanha e folhas soltas ou volantes em Portugal. O nome Literatura de Cordel tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal, mas, no Brasil, o folheto pode ou não estar exposto em barbantes.
	A maior parte das obras é ilustrada com xilogravuras e, em relação à estrutura dos poemas, as estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos, que são recitados de forma melódica, por vezes acompanhadoe de instrumentos como a viola caipira.
 
	“Na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões, etc, a literatura de cordel já existia, tendo chegado à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por volta do século XVI. Na Península a literatura de cordel recebeu os nomes de pliegos sueltos (Espanha) e "folhas soltas" ou "volantes" (Portugal). Florescente, principalmente, na área que se estende da Bahia ao Maranhão esta maravilhosa manifestação da inteligência brasileira merecerá no futuro, um estudo mais profundo e criterioso de suas peculiaridades particulares.” 
Do site da Academia Brasileira de Cordel:
http://www.ablc.com.br
A literatura de cordel é predominantemente escrita nos folhetos, nos cordéis, os quais sempre foram utilizados na literatura de cordel como uma opção barata e prática de distribuição do material poético. Entre os séculos XV e XVI eles também apresentavam outros gêneros literários, como o tearo. As peças de Gil Vicente chegaram a ser produzidas com este material. Na segunda metade do século XIX temos as primeiras impressões de cordéis no Brasil, com características genuinamente brasileiras. 
Gonçalo, poeta e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, e os mais de 13 mil títulos do acervo da ABLC
http://www.ablc.com.br/aablc.html
Cuíca de Santo Amaro (1907-1964), o “Trovador da Bahia”, poderia ser conhecido como Trombeta de Santo Amaro, pois seus versos retratavam com aguçado sarcasmo a realidade social e política de Salvador e do mundo entre 1940 e 1960. Atuou em “A Grande Feira”, filme dirigido por Roberto Pires. O filme “O Pagador de Promessas”,  foi inspirado em Cuíca de Santo Amaro.
Palavras de Jorge Amado sobre Cuíca: “Não pense o visitante que ele seja apenas um tipo de rua, figura popular e risível. É bem mais que isso. É a voz do povo trabalhando que, não encontrando ressonância nos poetas modernos, e tendo sede de poesia, cria seu bardo pobre e semianalfabeto. Os poetas estão nos bares inventando sonetos de rimas milionárias ou quebrando a cabeça em ritmos novos para poemas exotéricos. Só Cuíca de Santo Amaro canta para o povo pobre. Quando o forasteiro passar por ele, talvez a figura e a voz do trovador mereçam apenas um sorriso dos seus lábios civilizados. Mas, que importa? O povo não sorri do poeta. Ri e sofre com ele, combate e tem esperança!”. http://eleotal.webnode.com.br/cuica-de-santo-amaro/
A nossa produção é predominantemente nordestina, mas outros estados também possuem produção de cordéis e o gênero tem multiplicado sua produção ao longo dos anos, sobretudo após a criação da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, em 1988. Os próprios autores costumam comercializar a produção de sua obra, que geralmente é vendida em feiras culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos cordelistas.
José Luis Borges (n.1935), ou J. Borges, é um renomado xilogravador e cordelista pernambucano, seu trabalho é reconhecido internacionalmente. 
“José Francisco Borges, J.Borges, como é conhecido mundialmente, é um dos mestres da literatura de cordel, um dos artistas folclóricos mais celebrados da América Latina e o xilogravurista brasileiro mais reconhecido do mundo.” Fonte: http://jborgesbrasil.blogspot.com/
O cordeltem um importante papel na cultura brasileira. É incontável o número de pessoas que aprenderam a ler através dos lúdicos folhetinhos, cujo papel social ultrapassa a importante função de aproximar os ouvintes em torno de uma boa história, mas chega até a reflexão sociopolítica de acontecimentos contemporâneos e históricos através de seus versos.  Muitos brasileiros não teriam outra oportunidade de discutir temas políticos e filosóficos se não através dos folhetins poéticos do cordel.
A xilogravura é a técnica mais tradicional de ilustração dos cordéis.
O tema da literatura de cordel e alguns cordelistas
Os temas abordados pela poesia de cordel incluem fatos do cotidiano, episódios históricos, temas religiosos, entre muitos outros.
A temática das tradições, lendas e cultura nordestina são amplamente abordadas e a seca é um tema recorrente.
Uma de suas principais características é a manifestação da opinião do autor a respeito de algo dentro da sua sociedade.
As xilogravuras ilustram o cordel e representam um registro considerável do imaginário artístico popular. Obra de José Costa Leite
Com tema bastante recorrente, os cangaceiros encarnavam um ideal de justiça numa época em que os coronéis eram os senhores absolutos representando a figura principal do opressor do povo. 
Com o fim do cangaço, surgiram heróis da ficção como Rufino, o Rei do Barulho, José de Souza Leão e Antônio Cobra-Choca, sempre em papéis de vingadores das injustiças de que eram vítimas os mais humildes, os homens do povo.
Lampião, Padre Cícero, Getúlio Vargas e Frei Damião foram, e continuam fazendo parte da cultura do homem simples, portanto são biografados pelos poetas populares, intérpretes do inconsciente coletivo até os dias de hoje e suas façanhas são alguns dos assuntos de cordéis que tiveram maior tiragem desde sempre.
Nos dias atuais, o ex-presidente Lula, um nordestino de origem humilde que chegou à presidência do país, é um tema de bastante sucesso. Não há limite para a criação de temas dos folhetos. Praticamente todo e qualquer assunto pode virar poesia.
O Romance do pavão misterioso, de José Camelo de Melo Resende, é considerada a obra mais vendida do Cordel de todos os tempos, com milhões de exemplares vendidos em quase oitenta anos de edições e reimpressões ininterruptas.
Capa do CD da banda Cordel do Fogo encantado, cuja trajetória bem-sucedida começou no teatro e ganhou Brasil afora. O grupo participou, inclusive,  da trilha sonora de filmes como Deus é Brasileiro e Lisbela e o Prisioneiro.
Leandro Gomes de Barros (1865-1918) foi um dos mais produtivos e publicados poetas populares, pioneiro do cordel no Brasil. Ainda é um dos cordelistas mais lidos, cantados e reverenciados.
Os primeiros cordelistas da história são  Manoel Riachão ou Mergulhão e Leandro Gomes de Barros. Este, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, nos fins do século XIX.
Sua afirmação, na última estrofe da obra, é um documento muito importante da literatura popular do Brasil, pois evidencia a não contemporaneidade do Riachão com o rei dos autores da literatura de cordel. São muitos os autores que contribuem para esse tipo de literatura: Viana, Rouxinol do Rinaré, Manoel Monteiro, Moreira de Acopiara, Marco Haurélio, Arievaldo Viana, João Gomes de Sá, Varneci Nascimento, Evaristo Geraldo, Janduhy Dantas, José Honório e Antônio Barreto e muitos outros.
Aula 10: A literatura Popular e os Centros Acadêmicos no Brasil
A literatura de cordel por Carlos Drummond de Andrade:
	"A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente. A espontaneidade e graça dessas criações fazem com que o leitor urbano, mais sofisticado, lhes dedique interesse, despertando ainda a pesquisa e análise de eruditos universitários. É esta, pois, uma poesia de confraternização social que alcança uma grande área de sensibilidade".
Estudos acadêmicos – algumas origens
O cordel nas atividades acadêmicas da UNB
Mais do que fazer um relato da literatura popular nos meios acadêmicos, essa aula pretende expor algumas evidências a respeito da relação entre o cordel e a academia e propor muitas reflexões sobre o assunto.
Bem, por isso não nos demoraremos sobre a origem das universidades no mundo ocidental, as quais surgiram em meados do século XI, e foram o princípio do modelo que temos hoje. Não são apenas instituições de ensino, eram também locais de pesquisa e produção do saber, centro de importantes debates a respeito de assuntos diversos.
As primeiras universidades da Europa foram fundadas na Itália e na França para o estudo de direito, medicina e teologia. É importante ressaltarmos que as universidades eram os centros de pesquisa e fundamentação de teorias científicas.
A Universidade de Bologna é a mais antiga do Ocidente, fundada em 1088. Nomes fundamentais da ciência, da cultura e das artes foram alunos da instituição, como Dante Alighieri, Francesco Petrarca, Nicolau Copérnico, Thomas Becket, Pico della Mirandola etc.
Atualmente Umberto Eco, autor de romances como O nome da Rosa, é o titular da cadeira de Semiótica dessa universidade.
Quanto às origens da vida universitária no Brasil, sabemos que as famílias mais abastadas mandavam seus filhos estudarem na Europa até pelo menos o início do século XX e, somente depois da transferência da corte de Portugal para o Brasil algumas escolas superiores foram criadas no Rio de Janeiro, Paraná e na Bahia.
Somente em 1915, já na República, o governo reuniu escolas politécnicas, faculdades de direito e de medicina da então capital brasileira na Universidade do Rio de Janeiro, considerada oficialmente a primeira instituição de ensino superior do País.
A cultura popular na educação formal
A literatura cordelística é um gênero literário que se apropria de vários temas e, ao mesmo tempo, inspira várias outras manifestações artísticas. Podemos observar o cordel no cinema, em produções para a televisão na música e até na moda!
Sílvio Romero, pioneiro dos estudos etnográficos e historiador literário, já fazia uso do termo “literatura de cordel" nos seus estudos sobre a poesia popular, de 1885, mas Romero não destaca nenhum poeta em particular, ou seja estas publicações são o primórdio dos registros acadêmicos e estavam muito distantes do padrão das publicações atuais.
Escritores e poetas dos mais distintos estilos e gêneros da literatura brasileira se inspiram na poesia e nos temas da literatura de cordel. Mário de Andrade, por exemplo, se inspirou em um cordel satírico de Leandro, A Vida de Canção de Fogo e o seu Testamento, na estruturação do personagem Macunaíma, que uma das obras mais representativas da literatura brasileira:
		"Um Leandro, um Athayde nordestinos, compram 		no primeiro sebo uma gramática, uma geografia, 		ou um jornal do dia, compõem com isso um jornal 		de sabença, ou um romance trágico de amor, 			vivido no Recife. Isso é o Macunaíma e esses sou 		eu."
Guimarães Rosa, em um de seus contos de Sagarana traz um personagem típico do cordel, o cangaceiro Vilela, personagem sem autenticação da história, arquétipo cristão de culpa e redenção.
 
Em um folheto de gracejo Ariano Suassuna encontrou o personagem-símbolo de sua dramaturgia: João Grilo teve sua história escrita em 1932 por João Ferreira de Lima e trazia como protagonista o célebre amarelo dos contos populares portugueses. Esse mesmo João Grilo será reaproveitado no Auto da Compadecida, transformado em filme em 2000 por Guel Arraes.
 
Muitos autores beberam na fonte da poesia popular: Ferreira Gullar, em João Boa-Morte Cabra Marcado para Morrer; João Cabral de Melo Neto, especialmente no auto Morte e Vida Severina; Cecília Meireles e muitos outros.  Morte e Vida Severina no cinema. Direção de WalterAvancini.
A música popular brasileira se inspira muito nos temas da literatura popular. Alguns artistas:  Antônio Nóbrega, Siba, Gilberto Gil, Tom Zé, Ednardo, Luiz Gonzaga, João do Vale, Raul Seixas, Xangai, Alceu Valença, Elomar, Vital Farias e Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Zé Ramalho e Morais Moreira.
Atualmente a literatura popular, sobretudo a literatura de cordel, são temas de inúmeras teses, artigos em universidades de todo o Brasil. O cordel tem ganhado mais e mais prestígio nos meios de educação formais, parte por conta da sua imensa popularidade e parte pela grande importância para a manutenção de uma cultura genuinamente nacional.

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