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FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN 11. ANTIDIABÉTICOS ORAIS E FARMACOTERAPIA DA DM II O diabético tipo II, a partir do momento em que houve o diagnóstico da sua doença vai acompanhar a evolução da mesma. O diabetes mellitus tipo II é uma doença progressiva, que causa diminuição de +/- 25% da produção de insulina pelas células β a cada 4 anos. Dessa forma, com o passar dos anos há uma grande mudança no estilo da terapia utilizada para tratar o paciente. O principal tratamento para o diabético tipo II é a mudança do estilo de vida. Se com a mudança não houver melhora no quadro da doença, inicia-se a monoterapia. Com o passar dos anos serão feitas várias combinações orais de terapia para tratar este paciente, mais a diante, combinação oral mais a insulina (quando a glicemia se torna superior a 270 mg/dl), e por ultimo a aplicação de insulina, pois a diabete mellitus tipo II é uma doença progressiva que cursa com a falência das células β pancreáticas. Assim, conclui-se que a diabetes mellitus tipo II, com o passar dos anos será tratada da mesma maneira que a diabetes mellitus tipo I, com o uso de insulina, por isso não é mais chamada de “diabetes não insulino-dependente”. Resposta terapêutica A falha secundária aos antidiabéticos orais constitui uma evolução natural da diabetes tipo II. * Existe uma relação direta entre o risco de complicações diabéticas e níveis de glicemia ao longo dos tempos. • CLASSE DOS AGENTES PARA FARMACOTERAPIA DA DIABETES MELLITUS TIPO II AÇÃO CLASSES ANTIDIABÉTICOS ORAIS Drogas que estimulam a secreção de insulina São hipoglicemiantes SULFONILURÉIAS GLINIDAS INIBIDORES DA DPP-4 Drogas que reduzem a resistência à insulina Hipoglicemiantes e anti- hiperglicemiantes BIGUANIDAS GLITAZONAS Drogas que reduzem a absorção intestinal de polissacarídeos São anti-hiperglicemiantes INIBIDORES DA α- GLICOSIDADE ANTIDIABÉTICOS PARENTERAIS Agonistas da GLP-1 EXENATIDA Análogos do GLP-1 LIRAGLUTIDA Insulina • DROGAS QUE ESTIMULAM A SECREÇÃO DE INSULINA 1) SULFONILURÉIAS GERAÇÃO PRINCÍPIO ATIVO NOME COMERCIAL 1ª GERAÇÃO CLORPROPAMIDA Diabinese® ACETOHEXAMIDA Dymelor® TOLAZANIDA Tolinase® TOLBUTAMIDA Rastinon® 2ª GERAÇÃO GLIBENCLAMIDA Daonil® GLIPIZIDA Minidiab® / Glucotrol® GLICLAZIDA Diamicron® 3ª GERAÇÃO GLIMEPIRIDA Amary® Mecanismo de secreção da insulina: Após a dieta há um aumento de glicose, que vai entrar nas células β do pâncreas através de um transporte passivo, e em seguida serão metabolizadas, com isso ocorrerá um aumento de ATP. Esse aumento de ATP faz com que ocorra o fechamento dos canais de K⁺, provocando despolarização da membrana e influxo de cálcio, aumentando assim as cargas positivas no interior das células. Com isso haverá uma despolarização das células, e ocorrerá um estimulo a secreção de insulina. A droga se combina com uma FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN subunidade dos canais de K+, mantendo-os fechados, estimulando a secreção de insulina, agindo como hipoglicemiante. * As drogas de 1ª geração possuem ação muito longa, podendo causa hipoglicemia. As de 2ª e 3ª geração têm maior potência e menor tempo de meia vida plasmática do que as drogas de 1ª geração e, por isso, são mais utilizadas. * Os alimentos diminuem a absorção das sulfoniluréias, com isso o uso dessas drogas deve ser feito 30 minutos antes da refeição. Efeitos adversos: - Hipoglicemia (principalmente com os de 1ª geração); - Aumento do peso; - Efeito dissulfiran (a droga bloqueia a aldeído desidrogenase, que metaboliza o acetaldeído, por isso, ocorre seu acúmulo, que leva a náuseas, vômitos, vasodilatação, cefaleia, dores no peito, hipotensão ortostática, visão turva) → não pode ingerir bebidas alcoólicas para evita-lo; - Alergias - Reações gastro-intestinais - As sulfoniluréias, principalmente as de 1ª geração, podem causar bloqueio dos canais de K⁺ miocárdicos. Isso faz com que ocorra uma diminuição da tolerância de isquemia e de reperfusão, a droga mais segura para pessoas com risco de tais eventos é a Glimepirida (3ª geração). * Deve ser administrada com cautela em pacientes com insuficiência hepática ou renal, pois são metabolizadas pelo fígado e excretadas pelos rins, se houver insuficiência, a droga pode se acumular no organismo, causando hipoglicemia. * Estudos retrospectivos mostram que as sulfoniluréias aumentam o risco de eventos cardiovasculares; aumentam a mortalidade em diabetes mellitus após angioplastia, por isso são contraindicadas para pacientes que já tiveram infarto agudo do miocárdio. Também não são utilizadas em gestantes (utiliza-se insulina). Ações - Diminuição do clearance hepático da insulina, com isso o paciente terá insulina por mais tempo. - Diminuição da secreção de glucagon - Diminuição de 1,5% a 2% da HbA1c (hemoglobina glicada) e 60-70 mg/dl da glicemia de jejum → ALTO POTENCIAL DE REDUÇÃO DA GLICEMIA. 2) GLINIDAS (METIGLINIDAS) - REPAGLINIDA - NATEGLINIDA Mecanismo de ação: similar ao das sulfoniluréias. Estimulam a liberação de insulina pelo fechamento dos canais de K⁺ dependente de ATP nas células β do pâncreas. * Apresentam tempo de meia vida mais curto e início de ação mais rápido que as sulfoniluréias → Ação RÁPIDA e CURTA, por isso, o uso é pré-prandial, servindo para reduzir a glicemia pós-prandial. Ações - Diminuem de 0,5% a 1,5% da HbA1c e 60-70 mg/dl da glicemia pós-prandial. * A nateglinida é utilizada em associação com biguanidas. Contra indicações • Gestação (pode causar efeitos teratogênicos). • Alergia ou hipersensibilidade ao tratamento. *Usar com cautela em pacientes com insuficiência hepática e insuficiência renal. SULFONILURÉIAS / GLINIDAS - interações com outras drogas: - Drogas que diminuem a liberação ou ação da insulina: Furosemidas e tiazídicos (depleção de K+), corticoides, propranolol (bloqueiam receptores β2 pancreáticos). FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN - Drogas que potencializam os efeitos (causando maior risco de hipoglicemia): as que deslocam as ligações sulfoniluréias-proteína plasmática, aumentando a fração livre (Sulfonamidas, Salicilatos, Clofibrato); as que prolongam a meia vida por inibição enzimática e redução do metabolismo (Anticoagulantes, Clorafenicol, Sulfonamidas); o álcool também aumenta o efeito hipoglicemiante. 3) INIBIDORES DA DPP-4 (ver em “Incretinomiméticos”) • SENSIBILIZADORES DE INSULINA Aumentam a sensibilidade do tecido à insulina e reduzem a produção hepática de glicose. Possuem alto potencial de redução glicêmica. 1) BIGUANIDAS - METFORMINA - FENFORMINA Mecanismo de ação - Diminui a produção de glicose hepática; - Diminui a resistência a insulina (aumenta a ação da insulina nos tecidos); - Diminui a absorção de polissacarídeos. *Diminui a HbA1c de 1,5% a 2% e 60-80 mg/dl a glicemia de jejum. *Não eleva o peso, é a primeira escolha do DM2 obeso. É a mais utilizada no SUS. *Diminui a diabetes mellitus tipo II em obesos, pois estes pacientes podem apresentar hiperglicemia em jejum Efeitos adversos - Náuseas nos primeiros dias, diarreia (por diminuir a absorção de polissacarídeos); - Sabor metálico; - Acidose lática: estimula glicólise por vias alternativas; - Anorexia (efeito não comprovado). Contra indicações: pacientes que predispõem à acidose. - Falência renal e hepática; - Doenças pulmonares hipóxicas; - Etilistas (acidose lática). 2) GLITAZONAS - ROSIGLITAZONA - PIOGLITAZONA Mecanismo de ação: agonistas do PPAR-gama (receptor gama ativador da proliferação de peroxissomo) no músculo, tecido adiposo e fígado, os quais controlam mecanismos intracelulares tão variados como diferenciação celular, metabolismo lipídico (melhora o perfillipídico - ↓ LDL e ↑ HDL), ação insulínica, imunidade, proliferação celular e tumorigênese Ação: aumento da sensibilidade a insulina; aumento da síntese e translocação do GLUT; aumento da adiponectina (hormônio produzido pelo tecido adiposo, que aumenta o transporte de glicose no músculo – a produção deste hormônio é reduzida em indivíduos obesos, o que pode estar ligado à resistência a insulina). Diminuição de 1% a 2% da HbA1c e 35-40 mg/dl da glicemia de jejum. *Como o efeito é através de transcrição gênica, ele se instala entre 6-12 semanas, não é droga de escolha para início de tratamento, é usada em associação. Efeitos adversos - aumento do peso (aumenta captação de glicose nos adipócitos); - aumento da volemia (contraindica para pacientes com ICC); - edema; - anemia (por hemodiluição); - hepatotoxicidade (monitorar função hepática). Contra indicações - Gestantes; FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN - Falência renal e hepática; - Insuficiência Cardíaca Congestiva 3 e 4; - Obesos. • DROGAS QUE REDUZEM A ABSORÇÃO INTESTINAL DE POLISSACARÍDEOS 1) INIBIDORES DA α-GLICOSIDASE - ACARBOSE - MIGLITOL Mecanismo de ação: inibem a α-glicosidase intestinal, enzima que tem a função de fracionar a sacarose, o amido e a maltose, consequentemente, reduzindo a absorção da glicose no trato gastrointestinal e impedindo o aumento pós- prandial da glicemia. * Pode ser utilizado na DM I e DM II. * A administração é feita no início da refeição. * Efeitos: 30% a 50% comparado aos outros antidiabéticos, por isso somente são utilizados em associação. Eles diminuem de 0,5% a 0,8% a HbA1c e 50-60 mg/dl da glicemia pós-prandial. Efeitos colaterais - Náuseas; - Flatulência; - Diarreia; - Distensão abdominal. *Efeitos devido ao acúmulo de polissacarídeos no TGI. Para evita-los, deve ser feita uma administração progressiva da dose de 4 a 8 semanas. 2) ANÁLOGO DO POLIPEPTÍDEO AMILÓIDE DAS ILHOTAS (IAPP) - PRANLINTIDA Mecanismo de ação: É um análogo sintético da amilina (que é liberada junto com a insulina), reduz a liberação de glucagon (que é hiperglicemiante) pós-prandial, auxilia na sensação de saciedade e retarda o esvaziamento gástrico., auxiliando na perda de peso. Reduz 0,5% a HbA1c na DM I e 0,3-0,5% na DM II. - Associa com a insulina na DM I e DM II (deve-se reduzir a dose de insulina para não ocorrer hipoglicemia). - Não reduz diretamente a absorção intestinal e sim a ingestão. - Vem na forma de caneta, para injeção subcutânea pré-prandial. - Reações adversas: podem causar náuseas e hipoglicemia. - Contraindicação: Gestantes e pacientes com gastroparesia ou alterações da motilidade no TGI. • INCRETINOMIMÉTICOS São drogas que “imitam” as funções das incretinas GLP-1 e GIP - hormônios produzidos no intestino e liberados na presença de glicose, que estimulam a produção e liberação de insulina pelas células β e suprimir a produção de glucagon pelas células α do pâncreas, ou seja, esses hormônios só aumentam a produção de insulina quando há aumento da glicose no corpo. Com isso, elas não causam hipoglicemia. Além das funções já citadas, eles também retardam o esvaziamento do TGI, aumentando a sensação de saciedade. O GLP-1 tem meia vida plasmática curta, pois é rapidamente degradado pela DPP4, uma dipeptidase. São secretagogos de insulina direta (Agonistas do receptor de GLP-1 e análogos do GLP-1) ou indiretamente (inibidor da DPP4). 1) AGONISTAS DO RECEPTOR DE GLP-1 - EXENATIDA (Byetta®) FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN * Derivado da exendina-4, presente na saliva do lagarto Heloderma suspectum (Monstro de Gila). 2) ANÁLOGO DO GLP-1 - LIRAGLUTIDA - EXENATIDA e LIRAGLUTIDA são administradas por caneta, via subcutânea. Podem ser associada com metformina e sulfoniluréias. Causam redução de peso. Efeitos colaterais: náusea, diarreia e vômito no início do uso. * A Liraglutida também é validada para o tratamento da obesidade. A Exenatida foi associada a alguns casos de pancreatite. 3) GLIPTINAS (INIBIDORES DA DPP-4) - SITAGLIPTINA (Januvia®) - VILDAGLIPTINA (Galvus®) - São drogas para administração oral. - Reduzem 0,5-0,8% da HbA1c em monoterapia. - Tem atividade menor do que o análogo do GLP-1. - Podem ser associadas com metformina (Janumet®, Galvusmet®) e glitazonas. - Sua reação adversa mais característica é a diarreia. Pode também predispor às infecções de vias aéreas, por inibir a DPP-4 nos linfócitos. VANTAGENS DAS 3 CLASSES DE DROGAS INCRETINOMIMÉTICAS - Não causam hipoglicemia; - Preservação da massa e função da célula β; - Exercem efeito favorável sobre o peso corporal A ESCOLHA DA DROGA PARA A TERAPIA DA DM 2 DEVE LEVAR EM CONTA: - Valores da glicemia de jejum e pós-prandial; - Valores da hemoglobina glicada; - Peso, IMC e idade; - Evolução da doença; - Outros (como por exemplo, doenças concomitantes que contraindicam algum medicamen- to). EXEMPLOS: - Glicemia de jejum ≤150 mg/dl: indica insulinoresistência. Utiliza-se medicamentos sensibilizadores e não os que aumentam a secreção de insulina, principalmente no obeso. Exemplos: Glitazonas, Metformina, pode associar a Acarbose. - Glicemia de jejum entre 150 - 270 mg/dl Tem que avaliar a insulino-resistência X a insulino-deficiência. No tratamento usa-se em primeiro lugar mudança no estilo de vida, caso não ocorra melhora, usar drogas sensibilizadoras(Metformina) e secretagogas (sulfoniluréias - Glibenclamida). FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN - Glicemia de jejum normal e hemoglobina glicada aumentada: indica hiperglicemia pós-prandial. Utiliza-se acarbose ou glinida (secretagogo rápido). - Deficiência de insulina Usa-se associação de medicamentos. Exemplo: sulfoniluréia ou glinidas + gliptinas; insulinoterapia. INDICAÇÕES DO USO DE INSULINA NO DIABÉTICO TIPO II • Hiperglicemia severa • Grande perda de peso • Descompensação cetótica e não-cetótica • Hiperglicemia apesar do tratamento oral combinado • Enfermidade intercorrente com hiperglicemia • Gravidez • Corticoterapia *O estudo de Kumamoto demonstrou um retardo no início e progressão de complicações microvasculares em pacientes diabéticos tipo II com insulinoterapia intensificada (múltiplas aplicações de acordo com as necessidades nos horários, através de monitorização do índice glicêmico). O melhor controle glicêmico (HbA1c) no diabético tipo II ocorre com insulinoterapia intensificada. DIABETES MELLITUS TIPO II E RESPOSTA TERAPÊUTICA • Terapêutica combinada: o objetivo do tratamento é diminuir a HbA1c a valores inferiores de 7%; a monoterapia reduz cerca de 2% do valor da HbA1c. Em geral, os agentes orais atingem 70 a 80% do efeito máximo com metade da dose máxima recomendada, portanto, a adição de uma segunda droga é preferível ao aumento de dose da primeira escolha quando persiste a hiperglicemia. • Em sua maioria, os pacientes vão requerer insulina, isoladamente ou em combinação com antidiabéticos orais, para conseguir um controle glicêmico satisfatório. INTENSIFICAÇÃO DO TRATAMENTO EM RESPOSTA A PROGRESSÃO NATURAL DO DIABETE MELLITUS TIPO II: Mudança no estilo de vida → combinação oral → oral + insulina → insulina
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