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FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN 14. FARMACOTERAPIA DAS DISLIPIDEMAIS Conceito de dislipidemia: Alterações metabólicas lipídicas decorrentes de distúrbios em qualquer fase do metabolismo lipídico que resultem em alterações dos níveis séricos das lipoproteínas. - LDL e HDL estão relacionados com aterosclerose e suas consequências. - TRIGLICERÍDEOS estão relacionados com a pancreatite aguda e suas consequências. Lipídios são, em geral, partículas apolares que não se dissolvem bem na água. No sangue, diretamente, essa dissolução atrapalharia a eficiência do transporte. Já os lipídios anfipáticos, que possuem partes hidrofílica e hidrofóbica, possuem boa dissolução na água quando formam micelas, em que as partes hidrofóbicas situam-se na região interior dessas “cápsulas”. Assim, os lipídios e ácidos graxos que precisam transitar pelo corpo se associam à lipídios anfipáticos e/ou proteínas. Assim, podem se dissolver com certa eficiência do plasma sanguíneo e serem movidas para seus destinos finais. A maioria dos ácidos graxos se associa a proteínas chamadas albuminas séricas, mas uma pequena parte delas se associam as lipoproteínas para seu transporte. Lipoproteínas são aglomerados de lipídios anfipáticos, triglicerídeos(TG), colesteróis, ácidos graxos e proteínas especiais chamadas apolipoproteínas. Sua função é solubilizar no plasma sanguíneo o interior de suas cápsulas, que deve ser entregue em regiões distintas do corpo. Para que essa entrega seja feita de modo correto, existem receptores nas apolipoproteínas que definem o lugar específico de “entrega” dos conteúdos das lipoproteínas. As lipoproteínas possuem classificação definida quanto a sua densidade e função. Há 5 tipos diferentes que numa ordem crescente de densidade são os quilomícrons, VLDL, IDL, LDL e HDL. Quanto menor a densidade, maior o tamanho dessas partículas. Os quilomícrons são muito ricos em triglicerídios, pois partem diretamente do intestino, transportando componentes exógenos, adquiridos na alimentação. O VLDL tem ação paralela aos quilomícrons e transportam componentes endógenos sintetizados no fígado, às outras partes do corpo. Eles dão origem ao LDL e ao IDL. Ambos são compostos principalmente de colesterol, transportando-o para várias partes do corpo a partir do fígado, com destaque para o LDL (“colesterol ruim”), de grande atuação nessa função. Finalizando, o HDL tem função contrária ao LDL, transportando, em direção ao fígado, o colesterol vindo de várias partes do corpo e por isso é popularmente chamado de “colesterol bom”. *80% do colesterol é endógeno, isso explica porque apenas a mudança na dieta não adiantaria para reduzir o LDL do organismo. CLASSIFICAÇÃO DAS DISLIPIDEMIAS - DISLIPIDEMIA PRIMÁRIA: de origem genética (hipercolesterolemia familiar, defeito da Apo B, hipertrigliceridemia familiar e síndrome de quilomicronemia), cursam com o aumento de TG ou colesterol sérico, ou ainda de ambos, quando for uma dislipidemia mista. O tratamento é durante toda a vida. - DISLIPIDEMIA SECUNDÁRIA: de origem ambiental (deitas ricas em gorduras), por outras doenças (DM, hipotireoidismo) ou por uso de medicamentos (corticoide, diurético, anabolizante) e cursam com o aumento do colesterol sérico. O tratamento das dislipidemias tem como principais objetivos: ↓ o LDL; ↓ o TG; ↑ o HDL. � GRUPOS FARMACOLÓGICOS 1) ESTATINAS - LOVASTATINA - PRAVASTATINA - SINVASTATINA - FLUVASTATINA - ATORVASTATINA - ROSUVASTATINA CLASSE EFICAZ PARA: Reduzir os níveis de LDL. FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN Mecanismo de ação: As estatinas são inibidores competitivos da enzima HMG-CoA redutase, uma das enzimas chave na síntese intracelular do colesterol. Sua inibição reduz a biossíntese de colesterol e, como consequência, há aumento do número de receptores de LDL nos hepatócitos, que então removem mais VLDL, HDL e LDL da circulação para repor o colesterol intracelular. As estatinas são as drogas mais eficazes nas alterações do LDL, isso ocorre porque elas inibem a síntese do colesterol endógeno e captam o LDL plasmático. Ação das estatinas - Redução do LDL (20% – 55%) - Aumento do HDL (2% - 10%) - Redução dos triglicerídeos (7% - 28%) - Melhora a função endotelial, estabiliza a placa aterosclerótica e reduz a agregação plaquetária, aumentam a liberação de NO (funções cardioprotetoras). - As estatinas ajudam na estabilização da placa. Elas fazem o fechamento prematuro da placa de ateroma, assim impedem a formação de trombos nessas placas. - As estatinas ajudam na redução da agregação plaquetária. E estatinas são capazes de melhorar a função endotelial. (O endotélio é responsável em produzir algumas substâncias. Na disfunção endotelial ele passa a produzir mais substâncias vasoconstritoras e pró-agregantes plaquetários) - A cada vez que se dobra a dose de estatinas, ocorre uma diminuição do LDL de mais ou menos 6%. Exemplo: Sinvastatina 10mg: reduz de 26 a 30% do LDL Sinvastatina 20mg: reduz de 31 a 35% do LDL Portanto, não compensa dobrar a dose e possibilidade de efeitos adversos para um acréscimo de redução tão pequeno. USO TERAPÊUTICO: - INICIAR COM DOSE ALVO: dose necessária para reduzir a % de LDL desejada. Exemplo: reduzir o LDL sérico de 150 para 100 mg/dl, ou seja, redução de 33% do LDL, já inicia com a dose necessária para isso, mesmo que já seja alta. - HORÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO: O melhor horário é tomar estatinas é ao deitar, pois o pico da biossíntese do colesterol ocorre entre as 0 hrs e 2 hrs. Fluvastatina, Lovastatina e Pravastatina possuem meia vida plasmática de apenas 4 horas, a Sinvastatina, de 12 horas, por isso deve-se administrá-lo ao deitar para que abranja o período de pico da biossíntese. A Atorvastatina e a Rosuvastatina podem ser administradas a qualquer horário, pois possuem meia vida mais longa (20 horas). - SELEÇÃO DA DROGA: Observar qual é o percentual de LDL que precisa reduzir e o custo da droga. - TEMPO DE TRATAMENTO: para sempre quando dislipidemia primária, quando secundária, depende do paciente e causa. REAÇÕES ADVERSAS: - Hepatotoxicidade: em pacientes assintomáticos, a elevação isolada de 1 a 3 vezes das transaminases (enzimas hepáticas - TGO/TGP) não justifica a suspensão do tratamento com estatina. Caso ocorra elevação isolada e superior a 3 vezes, um novo exame deverá ser feito para confirmação, caso confirme, deve-se retirar a droga mesmo na ausência de sinais (icterícia, hepatomegalia, aumento do tempo de protrombina). - Miopatia: recomenda-se monitorização cuidadosa em pacientes que apresentarem dor muscular e/ou aumento de CPK (creatinofosfoquinase – CK muscular) de 3 a 7 vezes o limite superior da normalidade. As estatinas devem ser suspensas caso ocorra um ou mais dos seguintes critérios: aumento progressivo da CK muscular; aumento da Ck muscular acima de 10 vezes o limite superior da normalidade ou persistência dos sintomas musculares. Pode-se tentar uma segunda vez quando os valores normalizarem. CONTRAINDICAÇÕES: - Doença hepática grave ou hepatopatia aguda; - Gravidez (sem estudos para teratogênese); - Em associação com GENFIBROZILA (Fibrato - aumenta o risco de miopatia); - Crianças até 12 anos (Pravastatina pode ser utilizada à partir dos 8 anos). - Retira quando TGO/TGP aumentar mais que 3 x do valor basal e/ou CK muscular aumentar progressivamente ou estiver 10x o valor basal ou dores musculares persistentes. 2) SEQUESTRADORES DE SAIS BILIARES OU RESINAS DE TROCA - COLESTIRAMINA (a única disponível no Brasil) FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN - COLESTIPOL, COLESEVELAM CLASSE EFICAZ PARA: Reduzir os níveis de LDL. Mecanismo de ação: pó dissolvido em água, não possui absorção sistêmica, age no intestino se ligando aos sais biliares,reduzindo a reabsorção intestinal de sais biliares e, consequentemente, de colesterol (interrupção do ciclo enterro-hepático), este complexo resina-sais biliares é excretado nas fezes. Com a redução da absorção, reduz-se o colesterol intracelular no hepatócito e, por este motivo, o fígado aumenta o número de receptores de LDL nos hepatócitos para captar mais LDL, reduzindo o LDL circulante. Ação das resinas: - Redução do LDL (12% - 25%); - Aumento do HDL (4% - 5%); - Aumento dos triglicerídeos (geralmente transitório, contraindica para pacientes com TG > 400mg/dl) - O efeito sobre a colesterolemia é variável, reduzindo em média 20% dos valores basais de LDL. Esse efeito é potencializado pelo uso concomitante de estatinas, causando uma redução de 40% - 60% do LDL. Ocasionalmente pode promover pequena elevação do HDL. - O uso dessas drogas é seguro para gestantes, pois como essa droga não sofre absorção, ela não causa efeitos teratogênicos. Também pode ser utilizada em crianças. REAÇÕES ADVERSAS: - Aumento de triglicerídeos; - Dispepsia, gases e constipação intestinal (diluindo até 12 horas antes da ingestão e armazenar na geladeira, diminui os efeitos gastrointestinais); - Ligação com fármacos (ex: diuréticos) e nutrientes, excretando-os nas fezes, portanto, utilizá-los 1 hora antes ou 3 horas depois da administração das resinas. 3) INIBIDOR DA ABSORÇÃO INTESTINAL DE COLESTEROL - EZETIMIBE CLASSE EFICAZ PARA: Reduzir os níveis de LDL. Mecanismo de ação: o Ezetimibe é um inibidor de absorção do colesterol que atua na borda em escova das células intestinais, inibindo a ação da proteína transportadora do colesterol (somente inibe a absorção de colesterol, não de toda gordura, o que é importante para que não interrompa a absorção de vitaminas lipossolúveis). O fígado recebendo menos colesterol, aumenta a expressão de receptores para LDL, retirando-o da circulação. Ação do ezetimibe: - Redução do LDL (18% - 20%); - Aumento do HDL (1% - 2%); - Redução dos triglicerídeos (5%). Combinação com estatinas: tem sido mais frequentemente empregada em associação com as estatinas, em função da potencialização da redução do colesterol circulante (redução da síntese pela estatina e da absorção intestinal pelo Ezetimibe). Em associação, estes fármacos possuem efeito sinérgico, reduzindo o LDL em um valor superior ao da soma de ambas as reduções no uso isolado. Exemplo: Sinvastatina 10mg → redução de 30% do LDL Ezetimibe 10 mg → redução de 20% do LDL Sinvastatina 10mg + Ezetimibe → Redução de 60% do LDL. Essa droga permite reduzir a dose da estatina, reduzindo seu efeito adverso de miopatia, que é dose dependente. 4) ÁCIDO NICOTÍNICO - NIACINA CLASSE EFICAZ PARA: Aumentar os níveis de HDL. Mecanismo de ação: causa uma aumento da Apo-A I levando ao aumento do HDL (que tem papel de remover o colesterol da circulação), o ácido nicotínico também reduz a ação da enzima lipase tecidual nos adipócitos, levando à menor liberação de ácidos graxos livres para a corrente sanguínea. Como consequência, reduz-se a síntese de triglicerídeos pelos hepatócitos. Ação do ácido nicotínico: - Aumento do HDL (15% - 35%); FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN - Redução dos triglicerídeos (35% - 45%); - Redução do LDL (20% - 30%) REAÇÕES ADVERSAS: - Rubor (ativa COX 2, aumentando PGs, causando vasodilatação → rubor); - Prurido, dispepsia; - Hepatotoxicidade (dosar ALT/AST frequentemente); - Aumento da resistência à insulina (cautela em pacientes diabéticos); - Aumento do ácido úrico (diminui a excreção de urato). CONTRAINDICAÇÕES: - doenças hepáticas; - pessoas que possuem episódios de “gota” (devido ao aumento do ácido úrico). - Começar o tratamento com doses baixas e associando a um DAINE para atenuar o rubor principalmente na face e pescoço. - Quando o LDL muito alto e o HDL muito baixo pode-se associar com estatina, pois não potencializará a hepatotoxicidade. - Apesar de reduzir o LDL e o TG, não utiliza com esta finalidade devido aos vários efeitos colaterais, portanto, reserva-se o uso para quando necessário aumentar o HDL. 5) DERIVADOS DO ÁCIDO FÍBRICO (FIBRATOS): - CLOFIBRATO - GENFIBROZILA - FENOFIBRATO - CIPROFIBRATO - BEZAFIBRATO, ETOFIBRATO CLASSE EFICAZ PARA: Reduzir os níveis de TG. Mecanismo de ação: agem estimulando os receptores nucleares denominados “receptores alfa ativados de proliferação dos peroxissomas” (PPAR-α) do tecido adiposo e fígado. Esse estímulo leva a um aumento da produção e ação da enzima lipase lipoprotéica (LPL), responsável pela hidrólise intravascular dos triglicerídeos. O estímulo do PPAR-α pelos fibratos também leva a maior síntese da Apo-A I, e consequentemente, o aumento de HDL. Ação dos fibratos: - Redução dos triglicerídeos (30% - 60%); - Aumento do HDL (7% - 15%); - Ação variável sobre LDL * Utilizado quando o TG está muito alto, devido ao risco de pancreatite aguda. A hidrólise de TG aumenta os níveis de LDL, por isso é importante monitorá-lo. REAÇÕES ADVERSAS: - Urticária; - Cefaléia; - Cálculos biliares (Clofibrato); - Miopatia (principalmente quando associado a estatinas); - Interação com anticoagulantes orais. *O risco de miopatia na associação com estatinas é ainda maior para a Genfibrozila, portanto, nunca deve-se associá-las. Com as demais drogas da classe, monitorar CK muscular constantemente. * Quando LDL e TG muito elevados: trata-se primeiro com fibratos até normalizar os níveis de TG, protegendo o paciente de uma pancreatite. Depois, suspende o fibrato e inicia o tratamento com estatina para normalizar o LDL (que é feito no segundo momento pois as complicações não são tão agudas quanto às do TG > 500mg/dl). CONTRAINDICAÇÃO: doenças renais graves (pois pode precipitar cálculos renais). 6) ÔMEGA 3: os ácidos graxos ômega 3 são derivados de óleos de peixes e reduzem a síntese hepática de TG. Há estudos que indicam atividades anti-inflamatórias. Ação: redução na produção hepática de VLDL e sérica de triglicerídeos. Pode ser utilizado como coadjuvante de outras drogas. PRINCIPAIS ESCOLHAS Reduzir o LDL sérico ESTATINA Aumentar o HDL sérico ÁCIDO NICOTÍNICO Reduzir o TG sérico FIBRATO
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