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Características do latim vulgar vocabulário fonologia morfologia e sintaxe

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS 
Prof.ª Rosane Monnerat
CARACTERÍSTICAS DO LATIM VULGAR
Ismael Coutinho, Gramática Histórica
O latim vulgar representava, pois, a soma de todos os falares das camadas sociais mais humildes. Era uma espécie de denominador comum, que se sobrepunha às gírias das várias profissões, como um instrumento familiar de comunicação diária.
Encerrava ele não poucos arcaísmos, banidos da língua literária, a par de um grande número de inovações ou empréstimos, que se refletiam principalmente no vocabulário, em conseqüência das conquistas.
Contido durante muito tempo, em suas expansões naturais, pela ação dos gramáticos, da literatura e da classe culta, o latim vulgar se expande livremente mais tarde, com a ruína do Império Romano e o avassalamento dos seus domínios pelas hordas bárbaras, cuja conseqüência foi, e não podia deixar se ser, o fechamento das escolas e o desaparecimento da aristocracia, onde se cultivavam as boas letras.
Produto de uma contribuição tão variada, em que ao lastro primitivo, de humilde origem rural, se haviam sobreposto elementos diversos dialetais ou de outra procedência, esse latim encerrava já em si o germe da diferenciação, que se foi acentuando cada vez mais, desde que o adotaram como idioma comum povos tão diversos pela língua e pelos costumes.
Foram essas transformações , que ele sofreu em cada região, que deram em resultado o aparecimento dos diferentes romances e, posteriormente, das várias línguas neolatinas.
Não é fácil conhecer, em seus pormenores, esta modalidade do latim. Nos autores latinos não houve nunca o propósito deliberado de retratar o falar do vulgo. O humilde entalhador, ao gravar na pedra ou no mármore uma inscrição, julgava estar escrevendo a boa língua, ou seja, o latim clássico.
Era a literatura latina uma espécie de círculo fechado às manifestações da vida popular. Os escritores punham sempre grande empenho em evitar o emprego de palavras ou expressões da plebe. Assim, não é em suas obras que se pode estudar o sermo vulgaris . Com isso, entretanto, não queremos dizer que não se encontrem absolutamente palavras ou expressões do povo em seus trabalhos. Não é possível supor que o sermo urbanus , em contato permanente com o vulgaris, não se deixasse penetrar de certos vulgarismos, como também não se pode negar que a língua do povo contivesse palavras ou expressões pertencentes à língua culta.
Os poucos informes que temos do latim vulgar são-nos ministrados:
 a) pelos trabalhos dos gramáticos, na correção das formas errôneas usuais;
 b) pelas obras dos comediógrafos, quando apresentam em cena pessoas do povo, falando;
 c) pelas inscrições, que nos legaram humildes artistas plebeus;
 d) pelos cochilos dos copistas;
 e) pelos erros ocasionais dos próprios escritores cultos, principalmente dos últimos tempos.
Por semelhantes documentos e pelos abundantes subsídios que nos fornecem as línguas românicas, podemos concluir que bem profundas eram as diferenças que extremavam o sermo vulgaris do sermo urbanus.
No estudo do latim vulgar, deve-se salientar a importância das obras dos escritores da decadência romana, sobretudo daqueles que, visando a um objetivo superior, escreviam com simplicidade, sem a preocupação da gramática e do estilo. Neste número, estão os escritores cristãos. Fontes de informação segura, para o conhecimento desta modalidade do latim, são igualmente o De architectura de (séc. I), a Cena Trimalchionis de Petrônio (séc I) , o Appendix Probi (séc III) , o Opus agriculturae e o De medicina pecorum de Paládio (séc. IV), a Perigrinatio ad loca sancta da monja hispânica Egéria (séc. IV) etc.
Caracteriza-se este latim:
a) no vocabulário:
1- pela preferência dada às palavras compostas, derivadas ou expressões perifrásticas: *accu’iste (iste) ; depost (post) ; fortimente (fortiter) ; jam magis (nunquam) ; 
hac hora (nunc);
2- pelo sentido especial, atribuído a alguns vocábulos do latim clássico: comparare (comprar); viaticum (viagem); paganus (pagão);
3- pelo emprego de termos, representativos de idéias, que eram expressas diferentemente no latim literário: caballus (equus), apprendere (discere). jocus (ludus), bucca (os) , focus (ignis), casa (domus), grandis (magnus), omnis (totus), campus (ager), bellus (pulcher), bibere (potare), manducare (edere).
b) na fonética
1- pela redução dos ditongos e hiatos a simples vogais: plostrum (plaustrum), orum (aurum), preda (praeda), paretes ( parietes), quetus (quietus) ;
2- pela transformação ou queda de alguns fonemas: justicia (iustitia); cocere (coquere); rius (riuus);
3- pelo obscurecimento dos sons finais: es (est); dece (decem), mecu (mecum), pos (post); ama (amat); biber (bibere);
4- pela tendência a evitar palavras proparoxítonas: masclus ( masculus); domnus ( dominus); caldus (calidus); fricda ( frigida); 
5- pela perda da aspiração representada no latim clássico pelo h: omo (homo); abere ( habere), eres (heres)
6- pela transposição doacento tônico, em circunstâncias especiais: cathédra (cathedra); intégrum (íntegrum); muliéris (mulíeris)
7- pela confusão reinante entre i e e , sobretudo em hiato: famis (fames) ; nubis (nubes); aria (area); e entre b e v : serbus (servus), albeus (alveus);
8- pela desnasalação ou queda do n no grupo ns e nf : asa (ansa); mesa (mensa); iferi (inferi);
9- pelas freqüentes assimilações: isse (ipse), pessicum (persicum) , dossum (dorsum); * verecunnia (verecundia);
10- pela prótese de um i nos grupos iniciais st, sp, sc: istare (stare); ispiritus (spiritus), iscribere (scribere)
c- na morfologia:
1- pela redução das cinco declinações do latim clássico a três, proveniente da confusão da quinta com a primeira e da quarta com a segunda: *dia,ae (dies,ei); glacia,ae (glacies, ei); fructus,i (fructus,us); gemitus,i (gemitus, us);
2- pela redução dos casos, tendo-se conformado, em todas as declinações, o vocativo com o nominativo; o genitivo, dativo e ablativo, já desnecessários pelo emprego mais freqüente das preposições, com o acusativo: cum filios (cum filiis), ex litteras (ex litteris);
3- pela tendência para tornar masculinos os nomes neutros quando no singular: vinus (vinum), fatus (fatum), templus (templum); e femininos, quando no plural: *folia (gen.foliae), ligna (gen.lignae);
4- pela substituição das formas sintéticas do comparativo e superlativo pelas analíticas: plus ou magis certus (certior); multum justus (justissimus);
5- pelo uso do demonstrativo ille, illa, e do numeral unus, una, como artigos: ille homo, illa domus, unum templum;
6- pela confusão nas conjugações: florir (florere), *lucire (lucere). *ridire (ridere), *sapére (sápere);
7- pela formação analógica de alguns infinitivos irregulares: *essere (esse), potere (posse), *volere (velle);
8- pela transformação dos verbos depoentes em ativos: *sequo (sequor), mentio (mentior), irasco (irascor);
9- pela substituição do futuro imperfeito do indicativo por uma perífrase em que entrava o infinitivo de um verbo e o indicativo de habere: amare habeo (amabo), debere habeo (debebo), audire habeo (audiam);
10- pelo emprego de uma perífrase verbal, constituída pelo infinitivo e o imperfeito do indicativo de habere, que deu origem ao nosso condicional (futuro do pretérito): amare habebam, audire habebam;
11- pelo uso do mais-que-perfeito do subjuntivo pelo imperfeito do mesmo modo: amassem (amarem), legissem (legerem), audissem (audirem);
12- pelo emprego de perífrases, formadas pelo verbo sum e particípio passado de outro verbo, em lugar das formas passivas sintéticas: amatus sum (amor), captus sum (capior), auditus sum (audior);
d) na sintaxe:
1- pelas construções analíticas: credo quod terra est rotunda por credo terram esse rotundam;
2- pelo empregomais freqüente das preposições em vez dos casos: dedi ad patrem (dedi patri), liber de Petro (Petri liber);
 Algumas das particularidades aqui mencionadas existiam também no latim clássico, porém, mais se acentuaram no vulgar.
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Exemplos do APPENDIX PROBI
speculum non speclum ; columna non colomna; calida non calda; vinea non vinia; alveus non albeus; oculus non oclus; ansa non asa; auris non oricla; nurus non nura; socrus non socra; rivus non rius; grundio non grunnio; numquam non numqua; vobiscum non voscum; vetulus non veclus.

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