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A interpretação e os conhecimentos do psicanalista015.pdf

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Ed. , vol XXI I , Hogarth Press, London, 1974. 
"' D ID I -HUBERMAN , G. "La Couleur de la Chair ou Le 
Paradoxe de Tertulien" in Revue Française de Psychanalyse, n 9 35, 
Gallimard, Paris, 1987. 
12- LACAN, J . "Le stade da Mirroir comme Formation de la Fonction du 
Je" (1936) in Ecrits, Seuil, Paris, 1966. 
13- " Le Symbolique 1'Imaginaire et le Réel" (1953) in Bulletin 
de 1'Association Freudienne, 1982. 
14- "Le Séminaire Livre - I • Les Ecrits Techniques de Freud" 
(1953-1954), Seuil, Paris, 1975. 
15- "Remarques sur le rapport de Daniel Lagache:Psychanalyse 
et Structure de la Personalité" (1958) in Ecrits, Seuil, Paris, 1966. 
16- "UAngoisse" (1962-1963), Séminaire inédit . 
17- "Le Séminaire livre - XI - Les quatres Concepts Fondamentaux 
de la Psychanalyse" (1963-1964) Seuil, Paris, 1973. 
18- "Lituraterre" (1971), in Ornicar n 541, Seuil, Paris, 1987. 
19- LISBONA, Y. "O Domínio da Presença" (1991), Anuário Brasileiro de 
Psicanálise, Relume Dumará, Rio de Janeiro, 1992. 
20- MERLEAU -PONTY , M. "Le Visible et Vlnvisible", Ed . Gall imard, 
Paris, 1964. 
21- WALLON, H. "Comment se développe chez 1'enfant la Notion du Corps 
Propre" (1931) in Enfance n 9 spécial , Les Procedes D'Orel, Paris, 
1973. 
22- "Le Réel et le Mental" (1935) in Enfance n ? spécial , Les 
Procedes D'Orel, Paris,1975. 
23- . "De 1'Acte à la Pensée" Flammarion, Paris , 1970. 
86 
A INTERPRETAÇÃO E OS 
CONHECIMENTOS DO PSICANALISTA 
Antonio Carlos de Sá Earp 
Um dos motivos que tornam a interpretação indispensável 
ao processo psicanalítico é o fato de que é através dela se aponta 
o que é relevante de ser visto, entre a multidão de aspectos 
inconscientes passíveis de focalização. Freud fez menção a isso 
através de duas magníficas metáforas. Com elas fica claro que 
sem a interpretação a psicanálise é praticamente irrealizável. 
Disse ele na sua conferência XXVII, que é a que trata de 
transferência: ''Sem dúvida é mais fácil para a inteligência do 
pa,ciente reconhecer a resistência e encontrar a t radução 
correspondente àquilo que está reprimido se lhe tivermos 
oferecido previamente as ideias antecipatórias apropriadas. 
Sé eu lhes disser: 'Olhem o céu! Há um balão lá!' vocês o 
descobrirão com muito mais facilidade do que se eu simples-
mente lhes disser para olhar para cima e verificar se podem 
ver alguma coisa. Do mesmo modo, um estudante que está 
87 
olhando a t ravés de um microscópio pela primeira vez é 
instruído por seu professor a respeito daquilo que irá ver; se 
* não for assim ele não o verá de todo, embora esteja lá e seja 
visível"1. 
A interpretação é, no entanto, um tópico riquíssimo e 
certamente poderia ser examinada a partir de muitos ângulos. 
Como o espaço de exposição de que disponho é limitado, decidi-
me por tratar aqui de apenas um entre todos seus aspectos. 
Mais precisamente, nesse momento em que recomeça a ser 
pensando o valor da interpretação na função que ela tem de 
levantar conjecturas a respeito das articulações e significados 
que não estão conscientes para o sujeito2, apresso-me em 
apresentar esse trabalho com intuito de destacar, desde logo, 
uma característica que, quando negligenciada, o que pode 
ocorrer com muita facilidade, deturpa profundamente o sentido 
da nossa clínica. Vejamos que questão é essa. 
Há um tipo muito conhecido de desdobramento do processo 
psicanalítico. Trata-se daqueles casos nos quais a análise 
caminha bem até que, a partir de determinado momento, 
começa a haver uma lentificação dos "insights", a resolução 
dos conflitos passa a ser feita com mais dificuldade e a 
diminuição do sofrimento acaba por estancar. Chega-se assim 
a um ponto em que a análise praticamente não mais caminha 
e nada se transforma, não importando o que o analista diga. A 
ideia de recorrer ao ato para tirar o cliente dessa estagnação, 
que se parece com um "gozo neurótico", pode se tomar, então, 
muito tentadora. Predominantemente durante o período em 
que atendeu o "homem dos lobos", e mesmo um pouco mais 
tarde, o próprio Freud tentou, com a utilização de um ato, fazer 
algumas análises caminharem assim que ficou claro que elas 
tinham chegado a situações de estagnação do tipo a que estou 
me referindo. 
Mais tarde, no entanto, escreveu, em "Análise Terminável 
e Interminável", que tinha se dado conta das limitações desse 
procedimento, o qual, na sua franqueza, chegou mesmo a 
qualificar de "chantagem"3. De fato, na inclinação ao ato está a 
88 
tendência a servirmos a um ideal de cura e a um modelo de 
saúde mental. Se essa tendência não for examinada e afastada, 
acabamos por exercer o poder, que nossa posição nos confere, 
no sentido do reforçamento da repressão e no da transformação 
da análise em uma psicoterapia que conduz o cliente aos 
caminhos que mais nos agradam. No meu modo de ver, tais 
atos do analista devem portanto ser firmemente evitados. Estou 
partindo, nesse trabalho, da referência a situações de bloqueio 
na análise porque a reflexão sobre elas abre, ao que tudo indica, 
umavia muito direta para chegarmos ao entendimento do 
aspecto da interpretação que escolhi para estudar e ao qual 
julgo muitíssimo oportuno dar destaque. 
Uma observação devo fazer logo de início, no entanto. O 
tipo de desdobramento do processo analítico que citei, isso é, 
aquele caracterizado pela lentificação e, ao fmal, paralisação 
dos ganhos, pode se dar, mas não é, de nenhuma forma, uma 
constante que se manifesta sempre e irrecorrivelmente. E 
verdade que houve mais de uma fase na história da clínica 
ps icana l í t i ca em que esse problema mostrou-se muito 
frequente. Isso, no entanto, não se repetiu em outros períodos. 
Tal constatação deve portanto apenas aguçar, ainda mais, nossa 
curiosidade e nossa vontade de entender os motivos que, em 
alguns contextos, determinam a paralisação do avanço do 
trabalho. 
Em "Recordar, Repetir e Elaborar" Freud faz referência à 
situação de estagnação e aponta que quando o processo de 
recordação estanca é porque o analisando começou a repetir 
com o anal ista, e na rida em geral, as situações do passado que 
foram mobilizadas pela análise 4 . Para que a repetição ceda 
lugar à recordação outra vez, seria necessário que essa 
transferência fosse cabalmente analisada. Isso quer dizer que-
é indicado que se examine, nos atos daquele momento atual do 
analisando, a repet ição de suas s i tuações b á s i c a s de 
dificuldades emocionais. Deve ser dito, de passagem, que não 
está implicado, nessa afirmação, que é necessariamente através 
da análise de ''neurose transferencial" que a transferência vai 
89 
s^e esclarecer. Em relação a esse ponto há muitas variações e 
flutuações. Na verdade, pode ser que a neurose transferencial 
mostre-se como o objeto mais fértil da atenção da análise em 
apenas alguns momentos de cada processo, assim como ela 
pode se destacar como problema central mais em determinadas 
relações que em outras. A regra geral, de qualquer forma, é 
que das meras recordações iniciais, o trabalho analítico passa 
a girar, depois, em torno da repet ição das dificuldades 
fundamentais que surgem, então, nos atos da vida presente do 
analisando. Essa repetição não significa que o processo analítico 
tenha necessariamente estancado de forma definitiva e que os 
avanços tenham cessado. Mui tas vezes a aná l i s e da 
transferência é produtiva e, como já dissemos, os ganhos não 
se interrompem. Não são esses, no entanto, os casos que nos 
interessam aqui. Estamos investigando justamente os outros 
casos, aqueles nos quais, apesar da análise da transferência, a 
repetição não se desfaz. Naquele mesmo artigo a respeito do 
recordar e do repetir Freud fala sobre a necessidade da 
elaboração para que a interpretação, que visa esclarecer a 
resistência manifesta atravésda repetição, chegue a produzir 
efeito. A observação de Freud é certíssima. Muitas vezes é com 
a elaboração que o processo retoma seu movimento e os ganhos 
reaparecem. Ora, também não são essas as situações que estão 
sob o foco da nossa atenção nesse trabalho. O que nos interessa, 
de fato, são os casos restantes, aqueles nos quais, apesar da 
análise da transferência, apesar das tentativas do trabalho de 
elaboração, ainda assim a paralisação não se desfaz e as 
transformações do quadro clínico não se dão. 
Sem dúvida, esse quadro de repetição foi um dos principais 
dados que conduziram Freud à elaboração do conceito de pulsão 
de morte. Tal fato está explicitamente declarado em "Além do 
Princípio do Prazer". O repetitivo movimento no sentido do 
desfazer destrutivo é, com efeito, capaz de provocar a 
interrupção no progresso da análise. O entendimento desse 
fator permite a elaboração de interpretações que, a partir da 
ideia de fusão das pulsões, facilitam o encontro de soluções 
90 
para as dificuldades que até então pareciam incontornáveis. 
Certamente alguns casos de estagnação beneficiam-se desse 
tipo de entendimento, e os ganhos analíticos são retomados. 
Mas também aqui sabemos que existem os outros casos, ou 
seja, aqueles nos quais, mesmo tais interpretações que visam 
lançar luz sobre o trabalho da pulsão de morte, não produzem • 
efeito e a repetição perdura, invencível. Ora, nosso interesse -
se concentra exatamente sobre esses casos que de nenhuma 
forma se movem, e ainda não se movem nem mesmo quando 
apontamos um derradeiro fator adicional. Trata-se, nessa 
úl t ima situação, tal como Freud procurou demonstrar em 
"Análise Terminável e Interminável", do exame das resistên-
cias que derivam da rejeição de um resto fundamental da 
genitalidade infantil, ou seja, o componente feminino que, 
depois de tudo visto, mostra-se como elemento que está na 
linha final de defesas, impedindo o analisando de aproveitar 
melhor a situação analítica 7. E, então, sobre as situações de 
incontornável estancamento do processo analítico, impasse que 
desafia todos nossos recursos e todos nossos conhecimentos, 
que queremos refletir. Por que, em tais casos, é tão difícil a 
passagem do repetir para o recordar? E, além do mais, como 
promover essa passagem, se todos nossos conhecimentos 
falham? 
J á sabemos que na repetição o cliente está transferindo, 
Ora, vamos poder responder às perguntas que levantamos 
assim que percebermos que a paralisação na análise não se 
desfaz porque o analista vive algo que é fundamentalmente 
semelhante a essa repetição perpetuada pelo analisando. De 
fato, na medida em que nada do que o analista conhece ajuda a 
retomada do movimento na análise, não há mais como fugir de 
entender que o que poderia ser eficaz está no que o analista 
está se recusando a ver. Se o analista não olha a situação dessa 
maneira, não há chance de que alguma coisa se transforme. 
Consideramos, por isso, que na s i tuação de renitente 
estagnação, assim como o analisando está transferindo, da 
mesma maneira o analista deve estar perseverando numa 
91 
transposição. É sem dúvida provável que o analista esteja 
insistente e erroneamente transportando para a relação atual 
o que teve origem e foi pertinente apenas numa si tuação 
pretér i ta . Isso é demonstrado, caracteristicamente, pelo 
aprisionamento do analista em suas próprias teorias, esquemas 
através dos quais, enredado no passado, insiste em não 
reconhecer o que ocorre diante dele. 
Descobrimos também, por outro lado, que com a insistência 
nessas interpretações o analista está, na verdade, muito mais 
agindo sobre o cliente, na tentativa de obter dele um efeito que 
suas teorias predizem que deveria ocorrer, do que realmente 
expressando suas reflexões a respeito do que observa. Não há, 
nessas circunstâncias, o desenvolvimento de um verdadeiro 
pensamento por parte do analista, mas sim uma ação que faz 
da razão um uso meramente instrumental. Tal como na 
transferência o cliente está vivendo uma ação que tem uma 
origem no passado, da mesma forma, nas suas transposições, 
o analista está situado no registro da ação e no plano do passado. 
Por trás da aparência, às vezes até muito bem construída, de 
oferecimento de interpretações, o que o analista de fato procura 
é obter a adesão de seu cliente às suas teorias. Como as razões 
desse disfarçado trabalho de convencimento têm a ver com o 
passado do analista, e não com a realidade do analisando, não 
é de se admirar que a análise tenha acabado por chegar a uma 
paralisação.. 
Para sair desse impasse o analista tem que deixar de lado 
suas preconcepções. Ao lado disso, tem que suspender seu desejo 
de provocar um efeito que ele mesmo antecipa e deve entregar-
se ao ver, ao entender, isso é, ao pensar. A interpretação 
realmente operante no campo psicanalítico será então um 
pensamento original que realmente emerja do presente que 
está sendo vivido, uma articulação que sugira um entendi-
mento, sim, mas que não seja nunca uma intervenção que 
resulte da insistência numa perspectiva teórica que foi adotada 
anteriormente. 
92 
A comunicação, por parte do analista, de uma compreensão 
nova, vai naturalmente levar o analisando a se contemplar de v 
uma maneira diferente da que vinha fazendo até então. Haverá 
assim a possibilidade de que um outro momento vivencial / / 
comece a se instalar. Essa é uma etapa fundamental em 
qualquer processo de mudança. Se o trabalho de elaboração 
confirmar e ampliar o quadro que a nova interpretação indicou, 
esse modo vivencial terá uma boa chance de se firmar e de se 
enriquecer. Com isso, começará a se estabelecer um contraste 
com o que estava sendo experimentado anteriormente e, à 
distância, aquela perspectiva antiga poderá, na verdade, ser 
cada vez melhor apreendida. Na diferença com o que começou 
a ser vivido agora, o modo anterior passará então a ter mais e 
mais o c a r á t e r de uma l embrança . E fácil , nessas 
circunstâncias, que venha a se desenvolver uma sequência de 
associações que liguem, à perspectiva da qual o cliente está se 
distanciando, uma série de memórias a ela estreitamente 
correlacionadas. Chegamos assim a entender por intermédio 
de que caminho a repetição pode dar lugar ao processo de 
recordação. 
Volto, nesse ponto, àquelas metáforas de Freud a respeito 
da interpretação, citadas no início desse trabalho, para destacar 
que nelas também está contido o aspecto que estou apontando 
aqui. De fato, depois de uma procura infrutífera mais ou menos 
prolongada, as descobertas tanto dos segredos da natureza 
a t ravés do microscópio, quanto de um balão no céu, são 
acompanhadas de inconfundível emoção. Trata-se, sem dúvida, 
do que é sentido quanto finalmente se reconhece, com absoluta 
nitidez, o que já estava lá mas não se conseguia distinguir até 
então. Essa é, com efeito, exatamente a qualidade vivencial 
que acompanha a compreensão de uma interpretação por parte 
do analisando. Ora, a descoberta das in terpre tações que 
realmente serão produtivas devem provocar no analista 
experiências mitigadas do mesmo teor, ou seja, as sensações 
de novidade, esclarecimento e surpresa. 
93 
\o início desse trabalho, disse que iria me concentrar no 
estudo daquelas situações em que a análise já não caminha 
para, por essa via, reenfatizar um importante aspecto de 
interpretação. Devo fazer agora uma correção. Essa carac-
terística da interpretação, a de ser, de alguma maneira, 
novidade para o próprio analista, não deve se restringir apenas 
às interpretações que têm que ser encontradas quando os 
conhecimentos antigos já não ajudam. Quando o que se está 
fazendo é transmissão de conhecimentos antigos, mesmo que 
se apliquem ao caso, fica-se num nível de generalidade quepode ajudar o analisando, mas sem dúvida muito menos 
adequadamente do que quando se chega a uma compreensão 
que é específica daquela situação e daquele cliente. Nessa 
perspectiva, então, toda interpretação, desde o começo da 
análise, e em todas as suas fases, deve representar, a partir de 
algum ângulo pelo menos, um pensamento novo para o próprio 
analista8. Se isso se der assim, será então muitíssimo provável 
que, desde o início, sejam evitadas as situações de paralisação 
que tomamos aqui como primeiro objeto de reflexão. 
Olhando toda essa questão de uma outra perspectiva 
vemos que quando as interpretações são pensamentos novos 
para o próprio analista, é aí que a análise está de fato sendo 
uma verdadeira investigação, como Freud dizia que deveria 
ser. Em outras palavras, a análise sempre deve ter como modelo 
o trabalho do cientista no contexto da descoberta. 
Ao concluir quero enfatizar o fato de que quando o analista 
deixa de lado um pseudo-saber triunfante e prévio para, em 
vez de preservá-lo, colocar-se na procura das razões novas para 
ele mesmo que, como honestas conjecturas, tornem as 
dificuldades de seus clientes mais compreensíveis e mais fáceis 
de serem enfrentadas, será nessa circunstâncias que vai se 
dar uma grande transformação na clínica. Podemos resumir o , 
que se passa dizendo que, a partir desse momento, readqui-
rimos a liberdade de não estarmos controlando o processo que -
toma, então, caminhos genuinamente próprios, recuperamos 
o contato afetivõ com nossos clientes, a dimensão criativa da 
94 
análise se instala e se impõem a experiência de estarmos / 
participando na fabricação de algo que nunca se passou antes, j 
Seria, no entanto, inadequado terminar essas reflexões 
sem responder a uma última questão. O exame das situações 
de paralisação do progresso e a insistente e in terminável 
repetição de um mesmo quadro, eventos que caracterizam 
certos atendimentos, foi útil para fazermos uma reavalização '' 
do significado do que é interpretar. Podemos chnTudo nos 
perguntar porque alguns processos clínicos caminham _para 
esse impasse, e outrõsnãorErií primeiro lugar, é claro que tal 
situação vai se instalar em todos aqueles casos em que o 
analisando vive alguma dificuldade que o analista ainda não 
foi capaz, ele mesmo, de compreender. Nessas circunstâncias, 
a paralisação é uma mera consequência natural da falta de 
entendimento para uma dificuldade específica que es tá em 
pauta. Convém, no entanto, insistirmos na nossa curiosidade 
e nos indagarmos se, pelo menos em alguns casos, essa situação 
de paralisação não nos revela, em si mesma, algum tipo 
particular de quadro psíquico. A persistência em tentarmos 
compreender o que se mostra diante de nós costuma ser 
recompensada, e não vamos encontrar aqui uma exceção a essa 
regra geral. De fato, o que tem me parecido é que uma situação 
muito particular é revelada nas análises que caminham para 
um estancamento no qual não ajuda em nada, tudo o que o 
analista é capaz de dizer a seu cliente, a partir de suas teorias. 
É muito comum, nessas análises, estarmos diante de alguém 
que reprimiu uma parte de sua masculinidade infantil em 
função da relação com um pai que não pôde aceitar seus 
próprios aspectos femininos. Evidentemente essa situação v a i . 
reaparecer na situação transferencial. Ora, como Freud muito 
bem lembrou, um inimigo não pode ser vencido apenas 
destruindo-se suas imagens. Essa adve r t ênc i a é aqui 
muitíssimo pertinente mas quero retomá-lo a partir de um 
novo ângulo. Nas circunstâncias que estamos focalizando, o 
analista não deve se considerar como uma projeção dos 1 
fantasmas de seu cliente somente. Será fundamental que ele 
95 
^xarnine qual está sendo sua própria atitude frente a tal cliente. 
Com certeza a análise vai paralizar-se no caso do analista 
também recusar seus próprios aspectos femininos infantis de 
castração frente a um analisando que procura recuperar e 
integrar, na genitalidade definitiva, o componente fálico 
masculino que reprimiu. Em outros termos, se o analista não 
reconhece para si mesmo sua ignorância e se não aceita que 
deve vir do analisando, pela via da atenção flutuante, o 
esclarecimento que ele não tem, então a paralisação do processo 
não vai se desfazer. E precisamente isso que tais situações 
têm nos ensinado. Se agora, concluindo, generalizarmos essa 
descoberta para todas as relações analíticas, j á que em todas 
elas, como vimos, a interpretação deve vir do novo que cada 
uma traz, vamos poder afirmar que seremos tanto melhores 
analistas quanto mais formos capazes de integrar nossa posição 
in fan t i l feminina frente ao outro. Essa tarefa Freud 
caracterizou, em 1938, como o obstáculo maior que todos nós 
temos que superar se não quisermos interromper nossas 
análises verdadeiramente intermináveis 9 . A conclusão a que 
finalmente chegamos é que a psicanálise estará viva para nós 
se duas condições forem satisfeitas: em primeiro lugar, se 
formos capazes de entrar em cada nova relação clínica tomando 
nossa ignorância como fundamento e, em segundo lugar, se de' 
todas elas pudermos sair com algum conhecimento que 
modifique significantemente as teorias que e s t ávamos 
adotando anteriormente. 
Notas e Referências Bibliográficas 
1. Freud, S. Lecture XXV I I - "Transference" in. "Introductory Lectures 
on Psycho-Analysis. Part I I I . General Theory of The Neuroses". 
(1917/1916-17). St. E d . vol. XV I , pg. 437. The Hogarth Press. 1978. 
London. (St. Ed . Bras . vol. XV I , pg. 510). 
9fi 
2. Seria muito útil para o desenvolvimento da nossa c iênc ia um estudo 
que fizesse o l evan tamento da " h i s t ó r i a da i n t e r p r e t a ç ã o 
psicanalítica", assunto muito rico e que certamente já compreende 
muitas etapas. 
3. Freud, S. "Analysis Terminable and Interminable". (1937). St. E d . vol: 
XXI I I , pg. 218. The Hogarth Press. 1978. London. (St. E d . Bras . 
vol. XX I I I , pg250). 
4. Freud, S. "Remembering, Repeating an Working-Through". (1914). St. 
Ed . vol. X I I , pg. 151. The Hogarth Press. London. 1978. (St. E d . 
Bras. vol. X I I , pg. 197.) 
5. Ibid. pg. 155 (St. Ed . Bras. vol. X I I , pg. 202). 
6. Freud, S. "Beyond the Pleasure Principie". (1920). St. Ed . vol. XV I I I . 
The Hogarth Press. 1978. London. Veja principalmente a parte I I I , 
pgs. 18/23. (St. Ed . Bras . vol. XV I I I , pgs. 31/37). 
7. Freud, S, "Analysis Terminable and Interminable". (1937) St. E d . vol. 
XX I I L pg. 252. The Hogarth Press. 1978. London. (St. E d . Bras . 
vol. XX I I I , pgs. 286/287). 
8. Essa é uma compreensão que aprofunda um pouco mais a pos i ção 
que eu mesmo propus no tópico "Trabalho Ps i cana l í t i co - Ap l i cação 
de um Conhecimento?" que e s t á desenvolvido nas p ág i na s 39/40 
do artigo "O Modelo da Prát ica Psicanal í t ica" publicado no n" 2 do 
volume I I , 1979, da revista "Tempo Psicanal í t ico". 
9. Veja a nota n" 7. 
97

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