Buscar

Biblioteca 947675

Prévia do material em texto

Disciplina: Psicologia Comunitária 
Professora: Jorgelina Ines Brochier 
Caros alunos e alunas: Esta coletânea de textos aborda conteúdos desenvolvidos ao longo do semestre. 
Trata-se de um material de apoio que está articulado com os planos de aula e com os livros didáticos desta 
disciplina. Assim, convido cada um de vocês a ler e, especialmente, analisar os textos propostos. Espero, 
portanto, que esta análise promova reflexões que potencializem novos saberes e horizontes! 
 
TEXTO 1 
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: considerações iniciais 
COMUNIDADE: um lugar imprevisível no qual as pessoas vivem seu cotidiano (CAMPOS, 1992) e se relacionam, 
traduzindo os modos de vida contemporâneos, tanto na fragmentação e naturalização da vida quanto na 
possibilidade de desejar, conviver e criar. 
A comunidade se expressa como espaço de construção de cidadania, no qual todas as falas são legítimas 
(GUARESCHI, 2003 apud COSTA; BRANDAO, 2005). Esse conceito, que pode parecer utópico, é tomado nessa 
perspectiva para que marque o desafio de atuarmos focando as relações entre indivíduos, e entre estes e a 
sociedade, em uma busca de valorização das relações comunitárias que visem o bem comum (RICCI, 2003 apud 
COSTA). TRATA-SE DE UMA UTOPIA? Talvez seja apenas um sonho que precisa ser sonhado e, como disse 
Galeano (1944), o sonho, as utopias estão no horizonte, são inatingíveis, mas nos levam a caminhar!!! 
A expressão “Psicologia social comunitária” designa um conjunto de saberes e práticas da psicologia que 
visam “contribuir para a melhoria na qualidade de vida das pessoas e grupos distribuídos nas inúmeras 
aglomerações humanas que compõem a grande cidade” (ANDREY, 2001, p.201). 
Góis (1993) define a psicologia social comunitária como sendo uma área da psicologia social que estuda a 
atividade do psiquismo decorrente do modo de vida da comunidade. Nessa perspectiva, o termo 
comunidade corresponde a um lugar “em que grande parte da vida cotidiana é vi vida” (CAMPOS, 1998, 
p.9). Esse lugar, ainda de acordo com a autora, pode ser geográfico, como um bairro, por exemplo, ou 
psicossocial, constituído, por exemplo, por colegas de trabalho. Embora as intervenções do psicólogo que 
atua no âmbito sócio comunitário não estejam restritas aos grupos populares, observa-se uma tendência 
para privilegiar aqueles que vivem em condições precárias (ou inviabilizadas) de trabalho, saúde, 
saneamento básico, educação escolar, lazer, dentre outras. 
Ao atuar com grupos que estão em condição ou muito próximo da condição de marginalizados dos serviços 
e obrigações da sociedade e do Estado, o psicólogo busca contribuir para o desenvolvimento da 
CONSCIÊNCIA CRÍTICA, da ÉTICA DA SOLIDARIEDADE, das PRÁTICAS COOPERATIVAS e AUTOGESTIONÁRIAS 
do GRUPO CLIENTE. 
Para alcançar essas metas, as ações do psicólogo são estruturadas, preferencialmente, através de equipes 
interdisciplinares. Tais ações, inicialmente, partem do levantamento das demandas dos grupos-clientes. A 
partir da análise das necessidades e das possibilidades concretas de ações, “procura-se trabalhar com os 
grupos para que eles assumam seu papel de sujeitos de sua própria história, conscientes dos determinantes 
sócio-políticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados” (FREITAS, 
1998, 57). 
Nesse sentido, o psicólogo não atua como um profissional que, por deter um saber específico, toma as 
iniciativas para a solução dos problemas enfrentados pelo grupo-cliente. O psicólogo atua como um 
ANALISTA FACILITADOR que, a partir de um saber específico, pretende contribuir para a melhoria da 
qualidade de vida da comunidade. Sendo assim, o trabalho está norteado por um processo de reflexão 
fundamentado em duas premissas: 
- Todos os grupos comunitários possuem um saber-fazer, que a priori não pode ser considerado nem 
melhor, nem pior do que o conhecimento construído nas Universidades. Ao compartilhar saberes com o 
grupo, o psicólogo contribui com novos saberes para este grupo que, por sua vez, també m contribui com a 
produção de saberes no âmbito da psicologia. 
- O trabalho comunitário deve incluir, além do diálogo e da partilha de saberes, a garantia da autogestão 
das próprias comunidades. A autogestão é básica para que existam relações efetivamente democráticas, 
pautadas na participação de todos os envolvidos. Quem vai “por um tempo para partilhar um saber, não 
pode retirar da comunidade essa prerrogativa fundamental de liberdade autonomia” (GUARESCHI, 
op.cit.p.99). A formação de recursos humanos da própria comunidade assegura, não apenas a autonomia 
do grupo para gerir a sua vida, mas, especialmente, a continuidade e multiplicação dos projetos de 
melhoria da qualidade de vida. 
Em síntese: “A Psicologia (Social) Comunitária utiliza o enquadre teórico da psicologia social (crítica), 
privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a formação da consciência crítica e para a 
construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos. ” (1996, 
p.73). 
A comunidade é mais do que uma categoria científico-analítica, é categoria orientadora da ação e da 
reflexão e seu conteúdo é extremamente sensível ao contexto social em que se insere. • A Psicologia Social 
ao qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de colaborar com a criação desses espaços 
relacionais, que vinculam os indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas. 
A busca do desenvolvimento da consciência crítica, da ética da solidariedade e de práticas cooperativas ou 
mesmo autogestionárias, a partir da análise dos problemas cotidianos da comunidade, marca a produção 
teórica e prática da psicologia social comunitária. 
TEXTO COMPLEMENTAR A 
DEFINIÇÃO E FINALIDADES DA PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA 
Definição e finalidade: A psicologia comunitária é definida como uma área da psicologia social que estuda a 
atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade. Estuda o sistema de relações e 
representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao 
lugar/comunidade e aos grupos comunitários (GÓIS, 1993). 
A ORIGEM: remonta a uma psiquiatria social e preventiva, bem como a dinâmicas e psicoterapias grupais. 
O desenvolvimento de movimentos que se manifestaram contra a falta de atenção social, no que diz 
respeito à participação coletiva no processo de tomada de decisões se tornou expressivo para o surgimento 
da psicologia comunitária. (teremos uma aula sobre essa temática) 
NO BRASIL: Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não pode ser feita fora do contexto econômico 
e político do Brasil e da América Latina. Sem dúvida, o golpe militar de 1964 tem muito a ver como seu 
surgimento, pois se num primeiro momento, vivemos um período de extrema repressão e violência, 
quando uma reunião de cinco pessoas já era considerada subversão, ele fez com que, individualmente, os 
profissionais de psicologia se questionassem sobre a atuação junto à maioria da população, e de qual 
maneira seria o seu papel na sua conscientização e organização. (CAMPOS, 2009). 
Bonfim (1994) faz uma retrospectiva da história da psicologia social no Brasil, nas décadas de oitenta e 
noventa. Nos anos oitenta, surgiram os primeiros cursos de pós-graduação na área da Psicologia Social e foi 
criada a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Novas práticas emergiram como, por 
exemplo, os trabalhos em favelas, com meninos de rua, com os sem-terra e com pessoas da terceira idade, 
além de práticas em comunidades, organizações e instituições. A partir dos anos noventa, em uma 
sociedade ainda mais pobre, foi constatado um aumento significativo da população. Ao mesmo tempo, 
ocorriao fortalecimento da democracia e a criação de instituições em defesa dos direitos humanos; por 
exemplo, as que foram criadas com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, que entrou em vigor em 
1990. Decorrentes desse contexto surgiram demandas de novas formas de trabalho do psicólogo, voltadas 
para práticas psicossociais. Por conta dessas demandas, o quadro conceitual precisou também ser revisto e 
ampliado. 
No início dos anos 90, em nível nacional, presencia-se a expansão dos trabalhos dos psicólogos junto aos 
diversos segmentos da população. Entretanto, cabe salientar que essa expansão acontece dentro de um 
quadro variado de práticas, envolvendo diferentes pressupostos filosóficos e referenciais teóricos. 
(CAMPOS, 2009). 
Nesse caso, começam a se desenvolver práticas nos diferentes setores públicos da sociedade, bem como 
em postos de saúde, secretaria do bem-estar social, ou em algum órgão ligado à família e aos menores. 
Essa atuação tem o objetivo de expandir e democratizar os serviços psicológicos em diversas áreas para a 
população em geral, esse trabalho tem continuidade e perpassa os dias atuais. 
Conceito de Comunidade: Podemos dizer que uma comunidade se caracteriza por: a) ser um grupo de 
pessoas, não um agregado social, com determinado grau de interação social;**b) repartir interesses, 
sentimentos, crenças, atitudes; **c) residir em um território específico; e **d) possuir um determinado 
grau deorganização”. (SANCHEZ; WIESENFELD apud Gomes,1999). 
Comunidade é conceito ausente na história das ideias psicológicas. Aparece como referencial analítico 
apenas nos anos de 1970, quando um ramo da psicologia social se autoqualificou de comunitária. Assim 
fazendo, definiu intencionalidades e destinatários para apresentar-se como ciência comprometida com a 
realidade estudada, especialmente com os excluídos da cidadania. (SAWAIA, 1994). 
Importante salientar que o conceito de comunidade não é mérito exclusivo da psicologia social. Esse 
conceito introduziu a incorporação de um corpo técnico e epistemológico da psicologia social, pois, 
representou a criação de um campo teórico que visa transformar o homem no contexto em que vive, 
levando em consideração a sua subjetividade. 
- As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações igualitárias, que se 
dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas relações implicam que todos possam ter 
vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E 
mais: as relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, implicam que as 
pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009). Entretanto, isto não significa que o 
conflito não exista. 
UM PEQUENO TEXTO PARA REFLEXÃO1 Movimento e transformação: uma identidade profissional para 
os psicólogos. 
[...] Tenho resistido um pouco a discussões sobre a identidade da Psicologia, porque, em geral, essas 
discussões buscam uma cara para a Psicologia pensando em poder mantê-la depois de encontrada. 
QUERO UMA PSICOLOGIA QUE SE METAMORFOSEIE o tempo todo, acompanhando as mudanças da 
realidade social de nosso país. Não podemos querer uma Psicologia que seja a cristalização de uma 
mesmice de nós mesmos. Se ENTENDERMOS QUE A IDENTIDADE É MOVIMENTO, É METAMORFOSE, 
devemos entender que a identidade profissional nunca estará pronta; nunca terá uma definição. Estará 
sempre acompanhando o movimento da realidade. Penso que nos enganamos quando falamos que não 
temos identidade profissional. Temos sim. Temos uma identidade profissional que reflete a prática 
importante que temos tido, porém elitista, restrita, pouco diversificada e colada às necessidades e 
demandas de setores dominantes de nossa sociedade. Uma minoria que, possuindo condições de comprar 
nossos serviços, foi por muito tempo a única usuária deles. QUEREMOS AGORA DAR A VOLTA POR CIMA E 
CONSTRUIR UMA PROFISSÃO IDENTIFICADA COM AS NECESSIDADES DA MAIORIA DA POPULAÇÃO 
BRASILEIRA, UMA MAIORIA QUE SOFRE E QUE LUTA DADAS AS CONDIÇÕES DE VIDA QUE POSSUI. 
 
1
Extraído de: BOCK, Ana Mercês Bahia. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso 
social. Estud. psicol. (Natal),Natal , v. 4, n. 2, p. 315-329, Dec. 1999 . Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php? 
. Acesso em: 3 set. 2015. 
Identificar-se com as necessidades de nosso povo e acompanhar o movimento destas necessidades, sendo 
capazes de construirmos, sempre e permanentemente, respostas técnicas e científicas. É este o nosso 
desafio. QUEREMOS ESTAR EM BUSCA PERMANENTE, EM MOVIMENTO SEMPRE. QUEREMOS QUE O 
MOVIMENTO SEJA A NOSSA IDENTIDADE E QUE A INQUIETAÇÃO SEJA NOSSO LEMA. 
 
 
TEXTO 2 
A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA E ACRÍTICA À PSICOLOGIA SOCIAL TRACIDIONAL 
Conforme já comentado, a Psicologia Comunitária implica em formas de pensar e fazer psicologia voltada 
para a facilitação da conscientização dos grupos com quem trabalha para que eles assumam 
progressivamente seu papel de protagonistas de sua própria história, conscientes dos determinantes 
sociopolíticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados. 
Para refletir: A Psicologia Social Comunitária busca contribuir com a construção da consciência crítica, da 
ética da solidariedade e de práticas cooperativas e autogestionárias a partir da análise dos problemas 
cotidianos da comunidade. 
Mas, para que vocês compreendam essa dinâmica, INICIALMENTE VAMOS ABORDARALGUNS CONCEITOS: 
A psicologia social comunitária emerge da crítica à psicologia social tradicional (também identificada por 
psicologia social psicológica). 
A PSICOLOGIA SOCIAL TRADICIONAL aborda, especialmente, pequenos grupos tendo como principais focos 
de investigação e de intervenção questões relacionadas com o ajustamento social, com as atitudes e os 
estereótipos, assim como as relações interpessoais sem, no entanto, vincular tais processos com seus 
contextos históricos e culturais. Assim, concebe o homem como um ser abstrato e a-histórico e, portanto, 
descontextualizado das condições concretas de vida. 
O distanciamento da Psicologia Social tradicional dos problemas sociais e sua incapacidade de dar respostas 
a estes problemas levaram um grupo de Psicólogos Sociais a questioná-la em seus objetivos, concepções, 
ações e resultados. 
Esse movimento na Psicologia Social defendia a diversidade cultural e enfocava o contexto e a ideologia 
como questões que deveriam ser centrais na área. Preocupava-se também com uma relação mais ativa e 
comprometida dos Psicólogos com os problemas da sociedade. 
Como representantes dessa corrente, temos Martín-Baró (de origem espanhola, mas que viveu muitos 
anos na América Central, em El Salvador), Sílvia Lane (brasileira) e Maritza Montero (venezuelana). Suas 
obras estão voltadas para a construção de uma Psicologia Social crítica, preocupadas com a realidade dos 
povos da América Latina e com os caminhos de mudança dessa mesma realidade. Nessa perspectiva se 
evidencia a participação social e o desenvolvimento da consciência crítica. Atualmente, esta prespectiva é 
identificada por Psicologia Social Crítica ou Psicologia Social sociológica. Entre as abordagens do âmbito da 
psicologia, destaca-se a Psicologia Sócio Histórica. 
TEXTO COMPLEMENTAR B 
SUBJETIVIDADE, SUBJETIVAÇÃO E SINGULARIZAÇÃO2 
No imaginário social a subjetividade é algo interior, está dentro de cada um. Com esta concepção fica 
definido um espaço interno, tomado pela subjetividade, e um espaço externo, tomado pelo que não é 
subjetivo, o objetivo, o espaço da vida social. Tem-se uma oposição entre interno (subjetivo)e externo 
(mundo social) e, consequentemente, uma separação entre as experiências sociais e as experiências 
subjetivas, de modo dicotômico. No entanto, pensar na dicotomia interno x externo implicar em 
desconsiderar que a subjetividade é produzida por instâncias individuais, coletivas e institucionais, ou seja, 
“a subjetividade é plural”. Dessa forma, não existe uma instância que domine ou determine a outra. Por 
conseguinte, pode-se compreender que a subjetividade não é constituída somente pelo campo pessoal, 
mas é construída, significada e ressignificada no campo dos processos de produção social e material. 
“A subjetividade não é exclusivamente individual e nem exclusivamente coletiva, ela se desenvolve para 
além do indivíduo, junto ao social. Abordar a subjetividade humana desconectada de suas dimensões 
sociais, históricas e culturais pode produzir práticas eivadas de artificialismos” (MENDONÇA, 2007). 
Pensar em subjetividade fomenta a necessidade de refletir sobre processos de subjetivação e de 
singularização. Assim, convido você a pensar sobre tais processos: 
 SUBJETIVIDADE:3é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos 
nos desenvolvendo e vivenciando experiências da vida social e cultural. É uma síntese que nos identifica, 
de um lado por ser única e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são 
experienciados no campo comum da objetividade social. A Subjetividade é a maneira de sentir, pensar, 
fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. 
É o que constitui o nosso modo de ser: “sou filho de japoneses e militante de um grupo ecológico, detesto 
Matemática, adoro samba e blackmusic, pratico ioga, tenho vontade mas não consigo ter uma namorada. 
Meu melhor amigo é filho de descendentes de italianos, primeiro aluno da classe em Matemática, trabalha 
e estuda, é flamenguista fanático, adora comer sushi e navegar pela Internet.” Ou seja, cada qual é o que é: 
sua SINGULARIDADE E, AO MESMO TEMPO, É PLURAL porque somos influenciados e influenciamos as 
outras pessoas com as quais convivemos ou ainda, em função do momento histórico que singulariza cada 
grupo. 
 
2
 Extraído de: MENDONÇA, Valquíria Lúcia Melo de. Produção de subjetividade e exercício de cidadania: efeitos da 
prática em psicologia comunitária. Pesquisa e práticas psicossociais, 2(1), São João del -Rei, mar-abr., 2007. Disponível 
em: www.ufsj.edu.br/portal -repositorio/.../5artigoword.doc. Acesso em: 11 fev. 2016. 
3
 Extraído de: BOCK, A.M.B; FURTADO, O.; TEIXIERA, M.S.T. Psicologias: uma introdução à psicologia. São Paulo: 
Saraiva, 2004. 
 
EM SÍNTESE: Subjetividade é o mundo das ideias, significados e emoções construídos internamente pelo 
sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é também, fonte 
de suas manifestações afetivas e comportamentais. 
SUBJETIVAÇÃO: é, um modo de ser que é fabricado, produzido, modelado. (subjetividade/indivíduo; 
subjetividade social.***SINGULARIZAÇÃO: como processos de singularização ou ainda novos modos de 
subjetivação. A principal característica do processo de singularização é que ele seja auto modelador, isto é, 
ao invés de ficar na dependência de um poder exterior, globalizado, construir seus próprios tipos de 
referências e práticas. Se os grupos adquirem essa liberdade, têm a capacidade de autogerir sua própria 
situação, com a possibilidade de criação, sendo possível desenvolver sua autonomia. Importante é realçar 
que, alienação ou criação são processos, nunca aquisições definitivas. Isso significa que um indivíduo ou 
coletivo pode alternar momentos-processos de alienação ou criação – nada é definitivo 
O individuo é “uma realidade histórico social que se encontra fortemente enraizado em um processo 
cultural que lhe é próprio, em um modo de vida social peculiar, em uma estrutura social de classes e em um 
determinado espaço histórico, geográfico, social, cultural, econômico, simbólico e ideológico”; compreende 
o individuo vivendo em uma dada realidade concreta, físico-social, participando de uma rede de relações 
sociais complexas (mais além do interpessoal e do grupal) de uma sociedade de classes historicamente 
determinada. 
O entorno social não é algo necessário ou unicamente negativo e fonte de problemas e conflitos para 
indivíduos e grupos, mas é também fonte de recursos e potencialidades positivas. (...). 
O ENTORNO SOCIAL E CULTURAL É FONTE TANTO DE CONFLITOS COMO DE SOLUÇÕES. ISTO É, IMPÕE 
LIMITAÇÕES, MAS TAMBÉM APORTA RECURSOS. (MUSITU 2004, p.19) 
É essencial que não nos centrarmos mais unicamente no indivíduo (MUSITU, 2004), mas sim é fundamental 
voltar o olhar para o entorno social e cultural, pensando de que forma este contexto contribuiu para a 
formação daquele indivíduo em particular. ENTENDENDO QUE É EXATAMENTE ESTE ENTORNO QUE IRÁ 
DAR OS SUPORTES NECESSÁRIOS E TAMBÉM AS DIFICULDADES INEVITÁVEIS PARA A FORMAÇÃO DE UMA 
PESSOA ENQUANTO CIDADÃO. 
- Ao se fazer ciência, é necessária a participação da comunidade. A prática do psicólogo comunitário está 
mais voltada para o desenvolvimento de potencialidades e recursos do que em sanar déficits, buscando, 
sempre a potencialização da comunidade. Tem como meta, a transformação social. Sobre isso diz Lane 
(1996) “desenvolver grupos que se tornem conscientes e aptos a exercer um autocontrole de situações da 
vida através de atividades cooperativas e organizadas” (2004, p. 25). 
Diferentemente das intervenções participativas e dirigidas, uma perspectiva situada de intervenção social 
não “encara” os problemas sociais a partir de um conhecimento especializado, mas sim implica em ações 
coletivas em prol de um objetivo comum, socialmente definido. Essas ações envolvem as vidas das pessoas, 
as relações, discursos e práticas sociais, com uma visão do social mais anarquista ( MONTENEGRO, 2001). 
TEXTO COMPLEMENTAR 
Ações assistencialista e a perpetuação da população assistida na situação de “assistidos” 4 
[...] Temos que salvá-los. Salvá-los da bebida, da preguiça, da desorganização, da ignorância, do 
subdesenvolvimento, da desnutrição, das pestes, da falta de higiene, da desinformação, da rua, das drogas, 
da morte. Nos regozijamos com nossa bondade e solidariedade. Até os tratamos de igual para igual, não é 
mesmo? Somos como gênios da lâmpada: "Faça seu pedido e ele será satisfeito!!!" E eles pedem e nós 
oferecemos: pedem comida, roupas, passagens de ônibus, consultas em hospital, remédios, dinheiro... 
Nós oferecemos porque a ideia básica é não deixar ninguém totalmente desamparado e, portanto, aliviar a 
sua miséria, a sua falta de esperança. E, partindo dos nossos valores e estilos de vida, nos deduzimos que 
necessitam de um bom banho, de um médico, de educação, de um emprego…. 
Mas, com o tempo constatamos: eles não reconhecem a importância de nossa ajuda: não querem mudar e, 
por isso, cada vez pedem mais coisas. E, perguntamos: Por que não aproveitam as oportunidades que 
oferecemos? Para essa pergunta, emergem diferentes respostas, como por exemplo, “são ingratos!” ou 
“são preguiçosos”: preferem esperar que alguém resolva os seus problemas. 
No entanto, caberia perguntar: Será que ao oferecer coisas e serviços, atendemos apenas a nossa 
demanda de ofertar? Será que ao “fazer de nosso desejo, o desejo deles, produzimos (e, naturalizamos) a 
passividade e por isso, eles não aproveitam as oportunidades que lhes oferecemos? ” 
Para sair desse impasse que tal refletir acerca da seguinte dinâmica: Ao querer levar nossos ideais até 
outros, fazemos da demanda, além de invertida, infinita - pois ninguém conseguirá sustentar este lugar de 
provedor incondicional.... Enquanto se pensar em assistência socialcomo repasse de recursos, sempre 
estaremos lidando com recursos finitos para uma demanda infinita. 
Quando encerram-se os recursos, àqueles que nos procuram, nada temos a dar - a não ser um sorriso 
amarelo, e uma esperança: "volta daqui um tempo, vou colocar teu nome na lista de espera..." Assim, 
novamente, cabe perguntar: as nossas intervenções provocaram mudanças significativas na qualidade de 
vida das pessoas assistidas ou apenas fortaleceram no imaginário destas pessoas que, elas devem esperar 
que alguém as ajude? 
 
TEXTO 3 
INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO ÂMBITO COMUNITÁRIO5: considerações históricas 
 
-Na década de 40 e 50 do século XX, o Brasil passava por transformações em seu modelo produtivo, saindo 
do agropecuário e passando para o agroindustrial. Essa mudança demandava um rearranjo na mão-de-obra 
e para isso ‘trabalhos em comunidades’ precisaram ser realizados visando preparar a população para a 
realização de tarefas adequadas ao novo modelo econômico. A intenção era educativa, buscando um 
trabalho em comunidades, com o objetivo de integrar a população ao programa de modernização que o 
contexto econômico demandava. 
Essa primeiras experiências práticas estiveram associadas, portanto, à educação popular, à medicina 
psiquiátrica comunitária e sempre sob a proteção e orientação do Estado. Sua tese sociológica central era a 
 
4
 Texto extraído de: RAMMINGER, Tatiana. Psicologia comunitária X assistencialismo: possibilidades e l imites. Psicol. 
cienc. prof., Brasíl ia , v. 21, n. 1, p. 42-45, Mar. 2001 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci. 
Acesso em: 17 mar. 2017. 
5
 FREITAS, Maria de F. Quintal de. Inserção na comunidade e análise de necessidades: reflexões sobre a prática do 
psicólogo. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 11, n. 1, p. 175-189, 1998.Disponivel em: 
http://www.scielo.br/scielo. Acesso em:3 set. 2015. 
crença na modernização cultural e econômica, como via de progresso, através de reformas de base na 
agricultura, indústria e nos valores e atitudes da população. (SAWAIA, 1996, p. 45) 
Naquele momento histórico, esses trabalhos em comunidade, sem dúvida, ATENDIAM A INTERESSES 
GOVERNAMENTAIS(embora fosse uma prestação de serviços do governo junto à população, atendia, antes 
de tudo, à preocupação do governo quanto ao desenvolvimento econômico do país, tendo, portanto, um 
caráter PREDOMINANTEMENTE ASSISTENCIALISTA E PATERNALISTA). 
- A década de 1960 foi marcada por FORTES CONFRONTOS ENTRE ESTADO E POPULAÇÃO, tendo de um 
lado o recrudescimento dos mecanismos de controle repressivo e, de outro, reivindicações de necessidades 
básicas, que se davam via manifestações populares. 
Em OPOSIÇÃO AO REGIME MILITAR, A EDUCAÇÃO, COMO FOI PENSADA POR AUTORES COMO PAULO 
FREIRE, foi a via utilizada para que fosse possível promover o desenvolvimento DE UMA CONSCIÊNCIA 
CRÍTICA DA POPULAÇÃO, para que esta pudesse se posicionar no quadro social que o país apresentava, 
reivindicando de forma consistente e consciente os direitos que julgava necessários para o exercício de sua 
cidadania. 
Embora tais mudanças tenham ocorrido em pequenas proporções, foi o suficiente para que despertasse na 
população e nos acadêmicos, estudiosos das questões sociais - dentre eles o psicólogo, o interesse por 
mudanças políticas e sociais. Tratava-se de demandas sociais causadas a partir de um movimento sócio 
histórico. Neste contexto, MUITOS PSICÓLOGOS SAEM DOS CONSULTÓRIOS (onde atendiam, de forma 
individual e curativa a um pequena clientela (composta por grupos economicamente privilegiados) e são 
fomentadas novas práticas VOLTADAS PARA O ATENDIMENTO DA POPULAÇÃO EXCLUÍDA EM ASSOCIAÇÕES 
DE BAIRROS, CRECHES COMUNITÁRIAS E SINDICATOS. 
Especialmente na década de 1970, havia um trabalho voltado para a militância e participação políticas. Não 
havia, por parte dos profissionais, uma preocupação “com o crescimento das práticas educativas e de 
conscientização e libertação” (ANDERY, 1994, p. 209), pois, ‘como’ e ‘com que’ instrumentos o trabalho 
seria realizado, era uma preocupação secundária. Preocupavam-se com recrutamento de pessoas em apoio 
a um determinado ideal partidário. Tratava-se de um ativismo político. 
Assim, nesse período encontramos duas vertentes: Ativismo político e filantropia (benefício, amparo, 
assistencialismo). 
A PARTIR DAS CRÍTICAS DIRIGIDAS TANTO À VERTENTE “MILITÂNCIA” QUANTO À “FILANTRÓPICA”, OUTRA 
POSSIBILIDADE FOI SENDO CONCEBIDA: Uma proposta orientada pela preocupação de possibilitar mudança 
na realidade cotidiana da população, que caracteriza uma nova forma de inserção na comunidade. Esta 
nova forma de saber-fazer psicologia comunitária defende a subjetividade não seria somente do campo 
pessoal, mas do campo dos processos de produção social e material. 
Tal proposta aponta para uma organização da própria população para criar e buscar em torno de si, suas 
próprias condições (seu próprio poder e saber) para se autogestionar. A população não é vista nem como 
desamparada nem como desvalida. A proposta aqui “significa descobrir que a população é diferente sim, 
diferente dos padrões e previsões tradicionalmente científicas, sendo mais lutadora e sobrevivente do que 
tem sido considerada pelos centros de investigação” (Freitas, 1998, p. 183). Em outas palavras: defende 
que o problema nunca é somente individual, mas causado pela estrutura social, econômica e política. 
 
EM SÍNTESE: A inserção do psicólogo na comunidade pode ser orientada por diferentes motivos: militância, 
curiosidade, assistencialismo/filantropia e compromisso social direcionado para mudanças nas condições 
de vida. 
a) Militância (especialmente na década de 1970) os profissionais inseriram-se nos bairros de periferia e nas 
favelas dos grandes centros, tentando negar a sua origem cultural e de classe. Era importante fazer algo, 
colaborar para a organização e mobilização dos setores oprimidos. Como e com que instrumentais 
constituíam-se em questões, na época, de importância secundária. Tratava-se de uma inserção guiada por 
uma preocupação de que o trabalho estivesse voltado para a militância e participação políticas. 
Surgem: Os centros comunitários de saúde mental. ** Educação popular: Paulo Freire – alfabetização de 
adultos como instrumento de conscientização. Assim, sobre rótulo de psicologia social comunitária, 
emergem práticas voltadas para: (A) prevenção da saúde mental, unindo psicólogos, psiquiatras e 
assistentes sociais. (B) educação popular com a participação de pedagogos, psicólogos, sociólogos e 
assistentes sociais. 
b) Filantropia e fornecimento de assistência psicológica mais acessível ou gratuito: voltado para a melhoria 
das problemáticas das pessoas. De um lado, estaria a população que necessita de tratamento e/ou 
orientação psicológica e, de outro, o psicólogo oferecendo sua ajuda, preocupado em implantar serviços e 
estratégias psicológicas, para que a população melhor se adapte às exigências societais ou que, pelo 
menos, aprenda a minimizar seus problemas e sofrimentos. 
c) Curiosidade em conhecer “as populações desfavorecidas”. Universitários passaram a caminhar nos 
bairros populares fazendo entrevistas, questionários, aplicando escalas e vários outros instrumentos 
importados de outros contextos e modelos. A inserção acontece com uma preocupação da ordem da 
curiosidade científica. 
d) INSERÇÃO ORIENTADA PELO COMPROMISSO DE QUE O TRABALHO DEVE POSSIBILITAR MUDANÇA DAS 
CONDIÇÕES VIVIDAS cotidianamente pela população, ao mesmo tempo em que esta população é quem 
estabelece os caminhos e aponta as suas necessidades prementes. Trata-se de uma inserção que se dá na 
dependência de a população comprometer-secom a possibilidade de mudança social e construção de 
conhecimento. 
As comunidades surgem do simples fato de vivermos em simbiose, isto é, de viverem juntos num mesmo 
habitat indivíduos tanto semelhantes quanto diferentes e da ‘competição cooperativa’ em que se 
empenham. As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações 
igualitárias, que se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas relações implicam que 
todos possam ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam 
respeitadas. E mais: as relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, 
implicam que as pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009). 
A psicologia social ao qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de colaborar com a criação 
desses espaços relacionais, que vinculam os indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades 
partilhadas num mundo assolado pela ética do “levar vantagem em tudo” e do “é dando que se recebe”. 
Esses espaços comunitários se alimentam de fontes que lançam a outras comunidades e buscam na 
interlocução da fronteira o sentido mais profundo da dignidade humana. Enfim ela delimita seu campo de 
competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie. (SAWAIA, 1994). 
Para reflexão: o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, 
com relações grupais – vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade – e com as emoções e afetos 
próprios da subjetividade, para exercer sua ação à nível de consciência, da atividade e da intensidade dos 
indivíduos que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade. 
 
Estratégias de inserção do psicólogo no âmbito comunitário 
Duas modalidades de inserção: (1) Com objetivos do trabalho definidos a priori(a partir dos objetivos, 
motivos e preocupações que orientam o psicólogo - antes mesmo deste conhecer a realidade em que 
pretende trabalhar- . (2) Com objetivos definidos aposteriori: o contato e a entrada que o psicólogo 
constrói na comunidade acontecem orientados pelas necessidades que a população vive. 
Possíveis consequências de cada tipo de inserção: 
(1) A priori: torna-se mais fácil e menos incerto identificar os fenômenos psicossociais e os instrumentais 
que devem ser utilizados. O papel do psicólogo não é questionado e a comunidade é vista e se assume 
como imutável, tendo uma vida e uma dinâmica de relações já dadas e prontas, fortalecendo assim o 
conformismo e a passividade, adotando uma posição de mera receptora dos serviços e benefícios 
fornecidos pelo psicólogo. 
(2) A posteriori: uma inserção que lida com o domínio das incertezas e poderá acontecer de duas 
maneiras: (a)A incerteza sobre o quê e como fazer e o desconhecimento sobre as necessidades e a vida da 
população existem apenas nos primeiros contatos. À medida que tai s informações vão sendo obtidas,vão 
se delimitando aspectos e fenômenos, tais como temáticas possíveis para o desenvolvimento do trabalho 
de intervenção. Neste momento, cessa a participação da população, minimizam-se as incertezas para o 
profissional e, consequentemente, garantindo uma especificidade da sua atuação. (b) Os objetivos são 
delimitados dentro de um processo decisório participativo, em que tanto profissional como comunidade e 
seus representantes, estabelecem relações horizontais de discussão, análise e definição sobre as 
problemáticas a serem consideradas e as possibilidades de resolução e/ou enfrentamento para as mesmas. 
TEXTO COMPLEMENTAR C
6
 
INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA COMUNIDADE: instrumentos e estratégias (leitura facultativa) 
- O trabalho de entrada do psicólogo na comunidade depende de: Momento inicial: contatos e 
conhecimentos que faz quando se depara com a realidade concreta dos setores 
populares;intermediários, individuais e/ou coletivos, que procuram o profissional de psicologia, 
geralmente com uma expectativa de que ele faça algum tipo de atendimento individual para as 
problemáticas vividas no contexto comunitário;  tentativas em que o próprio psicólogo faz de se fazer 
conhecer junto à comunidade ou aos seus representantes, orientadas pela preocupação de que é 
necessário colocar seus serviços à disposição desses setores. Neste tipo de contato, está implícita a 
aceitação de se submeter à avaliação sobre a necessidade do seu trabalho, com o risco de haver algum tipo 
de recusa. Depois de estabelecida a entrada: inicia-se um processo contínuo de obtenção de 
informações e de interações, em que o profissional está, de um lado, exercendo atividades que derivam da 
sua especificidade profissional, e de outro, sendo, de alguma maneira, também observado, registrado e 
avaliado pelos moradores daquele lugar. 
- Instrumentos utilizados e/ou construídos nas situações que se apresentam quando do desenvolvimento 
do trabalho:  entrevistas que muitas vezes são realizadas de maneira coletiva com um número variável 
de participantes do início ao fim;  conversas informais acontecidas em estabelecimento comerciais, 
pontos de ônibus, caminhando nas ruas, cujos conteúdos vão fornecendo indícios sobre a dinâmica 
existente na comunidade e sobre o tipo de interação e vínculo que os moradores vão criando; visitas às 
casas e participação em alguma festividade/evento; registros de acontecimentos e/ou episódios 
significativos em diários de campo, acompanhados de apreciações sobre as interações, as problemáticas 
vividas e as alternativas de ações encontradas pelas pessoas; recuperação da história de constituição da 
comunidade através de fontes vivas, como pessoas significativas, lideranças formais e informais, 
representantes de entidades, igrejas e templos, entre outros; resgate de documentos do saber popular e 
uso de fotografias e/ou objetos e/ou produções oriundas da produção cultural local; encontros não 
programados, reuniões imprevistas e debates repentinos acontecidos no seio dos grupos formais e 
informais. Tais estratégias objetivam: coleta de informações sobre a vida, condições de moradia e 
sobrevivência, recuperação histórica da construção daquela comunidade; identificação de necessidades 
e problemáticas vividas pela população na esfera do seu cotidiano, em termos de processos psicossociais 
que afetam as pessoas;  detecção dos modos alternativos de enfrentamento e resolução, encontrados 
pelos moradores no seu cotidiano e nas relações estabelecidas;  discussão conjunta, com a comunidade 
e seus representantes, sobre as alternativas, e decisão sobre aquela a serem adotadas, assim como sobre 
 
6
 FREITAS, Maria de Fatima Quintal de. Inserção na comunidade e análise de necessidades: reflexões sobre a prática 
do psicólogo. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 11, n. 1, p. 175-189, 1998 . Disponível 
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script>. Acesso em: 20 set. 2015. . 
as estratégias para sua viabilização;  constituição dos grupos para a execução das alternativas; e  
avaliação contínua e reformulação dos caminhos adotados, em função das necessidades e impedimentos 
que se apresentarem ao longo do trabalho. 
 
 
TEXTO 4 
RELAÇÕES COMUNITÁRIAS, RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO: um pequeno recorte 
Relação e relações sociais: O termo relação significa que uma coisa não pode existir se não houver outra. 
Essa outra é uma parte essencial: se ela não existir, não existe relação. Então essa outra passa a fazer parte 
da definição de relação. As relações sociais implicam em um direcionamento de uma pessoa em relação à 
outra. As pessoas precisam de outra(s) para serem elas mesmas. Exemplo: Maria somente pode ser 
chamada de mãe porque tem um filho. 
Asrelações sociais envolvem: união, conflito, rejeição, exclusão, inclusão. 
Relações sociais e grupos: o que constitui um grupo são as relações sociais. As relações são dinâmicas. Por 
isso, possíveis mudanças nas relações sociais implicam em transformações do grupo. 
Multidão: pessoas que estão juntas em um mesmo lugar. As pessoas não se conhecem. A única relação que 
existe, pode ser comum dirigente, um líder. A multidão e o efeito do contágio: as pessoas podem se 
deixar guiar pelas emoções. A certeza da impunidade (pela dificuldade de identificar quem faz o quê) 
aumenta a irresponsabilidade. 
Público: constituem multidões, mas podem estar em lugares diferentes. Por exemplo: o público do Jornal 
Nacional. As pessoas que compõem esse público tem algo em comum: assistem ao programa (mesmo 
horário, mesmo dia). Neste caso, a relações são unidirecionais: partem de uma fonte para todos esses 
indivíduos. 
As relações podem ser de diferentes tipos que, por sua vez, podem ser alocados em duas categorias: 
relações de dominação, relações comunitárias. 
Diferença entre pode e dominação: Pode r capacidade de uma pessoa ou um grupo de executar uma 
ação qualquer ou desempenhar uma prática. Nesse sentido todos tem poder porque possuem capacidade 
para executar alguma coisa. Dominação  configura uma relação entre pessoas grupos ou pessoas e 
grupos, na qual uma parte se apropria do poder de outras. É uma relação assimétrica, desigual. 
Ideologia: uso de formas simbólicas (significados, sentidos) para criar, sustentar, reproduzir determinados 
tipos de relações. É o que dá sentido e significado as coisas. A Ideologia pode sustentar relações justas e 
éticas, mas também injustas, desiguais, como as relações de dominação. 
Cotidianamente damos significados às experiências e aos objetos buscando simplificar e agilizar a nossa 
compreensão sobre os fatos sociais. Para tanto, frequentemente, são criados estereótipos. POR EXEMPLO : 
os argentinos são metidos, os cariocas não gostam de parar no sinal de transito. Os judeus são inteligentes. 
Assim, vamos criando juízos de valor, discriminações, estereótipos, ligando qualidades às pessoas e aos 
grupos. Os estereótipos quando negativos geram relações de dominação. 
Diferença entre estereótipos e preconceito7(conceitos científicos): O preconceito perpetua uma atitude 
hostil ou negativa para com determinado grupo, baseada em generalizações deformadas ou incompletas 
(ARONSON, 1999). Esta generalização (ou representação mental) é chamada estereótipo e significa atribuir 
características pessoais ou motivos idênticos a qualquer pessoa de um grupo, independentemente da 
variação individual. Os estereótipos são, ao mesmo tempo, a causa e a consequência do preconceito. No 
entanto, os estereótipos podem ter valência positiva ou negativa, enquanto o preconceito sempre está 
pautado em estereótipos que apresentam valência negativa. Exemplos: Os cariocas são simpáticos 
(estereótipo com valência positiva). Uma pessoa, usando roupas simples ou desgastadas entra em uma loja 
de joias e o vendedor chama o segurança com medo de possível assalto (estereótipo negativo em relação à 
classe social). 
FORMAS DE DOMINAÇÃO 
Dominação Econômica. Exploração do trabalhador.Dominação política: relações entre pessoas em uma 
sociedade, entre Estado, governo e cidadãos. Quando não são democráticas, desrespeitam os direitos dos 
cidadãos. Dominação cultural: relações entre pessoas e grupos, que se cristalizam de tal modo que 
podem ser pensadas como se fizessem parte das pessoas. EXEMPLO: Racismo. O racismo é materializado 
através de práticas políticas e econômicas. EXEMPLO: Institucionalismo: quando uma instituição é colocada 
como a mais importante ou verdadeira em relação às outras, que pode legitimar repressões ou ações 
injustas aos que estão ligados em outras instituições. EXEMPLO: Patriarcalismo: A presença e, em inúmeros 
contextos, a banalização da violência doméstica dirigida à mulher denuncia que ocorrem situações de 
dependência (dominação) no interior do espaço familiar, particularmente das mulheres com relação aos 
homens. 
Relações comunitárias: definida a partir das relações que são estabelecidas em grupo. Neste caso 
constituem relações que potencializam a participação profunda dos membros de um grupo. “Um tipo de 
vida em sociedade onde todos se conhecem pelo nome, ou seja, uma sociedade onde o indivíduo participa 
se expressa e mantém sua identidade (singularidade)”. Comunidades que exercitam a democracia 
garantem uma sociedade democrática, pois envolve a participação e a garantia do exercício de direitos. 
TEXTO 5 
CONCEITOS BÁSICOS8: atividade, consciência e identidade 
 
7
Fonte: Definindo preconceito. Disponível em: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/9652/9652_5.PDF. Acesso em: 3 set. 2015. 
8
 Extraído de: BOCK, A.M.B; FURTADO, O.; TEIXIERA, M.S.T. Psicologias: uma introdução à psicologia. São Paulo: 
Saraiva, 2004. (capítulo: Psicologia Social). 
Conforme já descrito, a subjetividade humana surge do contato entre os homens e dos homens com a 
natureza, isto é, esse mundo interno que possuímos e suas expressões são construídas nas relações sociais . 
O objeto da psicologia social: compreender como se dá a construção desse mundo interno a partir das 
relações sociais vividas pelo homem. O mundo objetivo passa a ser visto não como fator de influência para 
o desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo. Para tanto apresenta três conceitos 
básicos de análise: ATIVIDADE, CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE. 
CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE: 
ATIVIDADE: É a unidade básica fundamental da vida do sujeito material. É através da atividade que o 
homem se apropria do mundo, ou seja, é a atividade que propicia a transição daquilo que está fora do 
homem para dentro dele. Pense na criança, onde isso tudo fica mais evidente. Ela se apropria do mundo 
engatinhando, andando ou percorrendo com os olhos o mundo circundante. Ela manuse ia os objetos, 
desmonta-os (infelizmente, nós compreendemos isso, às vezes, como destruição), monta-os, balança, 
lambe, ouve, vê, enfim, do PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA SOCIAL, COLOCA-OS PARA DENTRO DE SI, 
TRANSFORMA-OS EM IMAGENS E EM IDEIAS QUE PASSAM A HABITAR SEU MUNDO INTERNO. 
A atividade humana é a base do conhecimento e do pensamento do homem. Estamos considerando que 
os indivíduos apresentam uma necessidade de manter uma relação ativa com o mundo externo. PARA 
EXISTIRMOS, PRECISAMOS ATUAR SOBRE O MUNDO, TRANSFORMANDO-O DE ACORDO COM NOSSAS 
NECESSIDADES. AO FAZER ISSO, ESTAMOS CONSTRUINDO A NÓS MESMOS, 
O homem constrói o seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo. Mundos 
externo e interno são, portanto, imbricados, pois são construídos num mesmo processo, e a existência de 
um depende da do outro. 
CONSCIÊNCIA: A consciência humana expressa a forma como o homem se relaciona com o mundo objetivo. 
As aranhas constroem suas teias e reagem à vibração nelas produzida por insetos que ali ficam presos. Essa 
é a forma como as aranhas reagem ao mundo externo. As abelhas, os pássaros, os peixes e todos os 
animais apresentam uma maneira específica de relação com o mundo. O homem também apresenta o seu 
modo de reagir ao mundo objetivo: ELE O COMPREENDE, ISTO É, TRANSFORMA- O EM IDEIAS E IMAGENS E 
ESTABELECE RELAÇÕES ENTRE ESSAS INFORMAÇÕES, DE MODO A COMPREENDER O QUE SE PRODUZ NA 
REALIDADE AMBIENTE. A CONSCIÊNCIA É, ASSIM, UM CERTO SABER. NÓS REAGIMOS AO MUNDO 
COMPREENDENDO-O, “SABENDO-O”. 
A consciência não se limita apenas ao saber lógico. Ela inclui o saber das emoções e sentimentos do 
homem, o saber dos desejos, o saber do inconsciente. 
A consciência dohomem é produto das relações sociais que os homens estabelecem. E esse estabelecer 
está diretamente implicado com condições externas, tais como trabalho, a vida social e a linguagem. 
O homem encontra um mundo de objetos e significados já construídos pelos outros homens. Nas relações 
sociais, ele se apropria desse mundo cultural e desenvolve o “sentido pessoal”. Produz, assim, uma 
compreensão sobre o mundo, sobre si mesmo e os outros, compreensão construída no processo de 
produção da existência, compreensão que tem sua matéria-prima na realidade objetiva e na realidade 
social, mas que é própria do indivíduo, pois é resultado de um trabalho seu. 
Estuda-se a consciência através de suas mediações. No mundo observável, vamos encontrar, por exemplo, 
as representações sociais, veiculadas pela linguagem, que são expressões da consciência. Quando al guém 
discursa ou simplesmente fala sobre algum assunto, está se referindo ao mundo real e expressa sua 
consciência através das representações sociais. 
A representação social é a denominação dada ao conjunto de ideias que articula os significados sociais, isto 
é, o sentido construído coletivamente para o objeto com o sentido pessoal. Envolve crenças, valores e 
imagens que os indivíduos constroem, no decorrer de suas vidas, a partir da vivência na sociedade. 
IDENTIDADE: é a denominação dada às representações e sentimentos que o indivíduo desenvolve a 
respeito de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências. 
A identidade é a síntese pessoal sobre o si mesmo, incluindo dados pessoais (por exemplo: cor, gênero e 
idade), biografia (trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma representação 
a respeito de si. 
Estamos nos transformando a cada momento, a cada nova relação com o mundo social e sabemos disso. A 
consciência que desenvolvemos sobre “quem sou eu” acompanha esse movimento do real, às vezes com 
mais facilidade, às vezes com menos, mas acompanha. 
A mudança nas situações sociais, a mudança na história de vida e nas relações sociais 
determinam um processar contínuo na definição de si mesmo. 
A análise de três categorias fundamentais - ATIVIDADES, CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE – só se faz pelo 
registro de mediações com a linguagem (e o pensamento), ferramenta essencial para as relações com os 
outros e que irá constituir os conteúdos da consciência. 
E são também estas relações que se desenvolvem através de atividades que, por sua vez, sofrem a 
mediação das emoções, individuais, possivelmente constituindo conteúdos inconscientes presentes tanto 
na consciência como na atividade e na identidade. 
O profissional de psicologia na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e 
representações, com relações grupais e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer 
sua ação em nível da consciência, da atividade e da identidade dos indivíduos que irão, algum dia, viver em 
verdadeira comunidade (LANE, 2013) 
TEXTO COMPLEMENTAR D 
Consciência, Cultura, abordagem interacionista e representações sociais9 
- De modo geral, os trabalhos em Psicologia Comunitária focalizam: CONSCIÊNCIA: trabalho de 
conscientização, ou seja, desvelamento junto ao grupo, os determinantes de sua condição de vida. 
**CULTURA: descrição de práticas específicas de determinadas populações e dos significados 
compartilhados pelos membros do grupo em relação a sua prática. 
A problemática do convívio e do diálogo em grupos de diferentes inserções socioculturais e com histórias 
diversas ocupa lugar de destaque entre as preocupações de psicólogos que atuam em comunidades. 
As publicações da área divulgam estudos em que é analisada a psicossociologia de diferentes grupos e 
caracterizados por similaridades em termos de classe ou lugar social, gênero e etnia, em interação com a 
sociedade inclusiva. • Os conceitos utilizados para descrever essas interações decorrem das pr incipais 
teorias utilizadas em psicologia social: cognitiva, representações sociais e interacionismo. 
Cognição social: Enfatizam o estudo da consciência e exploram o efeito do pensamento e da interpretação 
dos sujeitos sobre a atividade social; • Inspirados na Gestalt, estes teóricos se interessam especialmente 
pelo modo como os processos mentais internos às pessoas impõem formas ao mundo externo. • Nesse 
sentido, acreditam que a percepção dos eventos é a principal variável que influencia a conduta do sujei to 
social. 
Abordagem sociointeracionista: O conhecimento se constrói na interação social. • Vygotsky é o principal 
representante dessa abordagem. Para ele, o conhecimento seria social antes de ser individual, e os 
artefatos criados pela atividade humano, bem como a linguagem, seriam os principais mediadores no 
processo de internalização da cultura. 
Para o sócio interacionistas, os seres humanos vivem em um ambiente em constante transformação, pois 
os artefatos culturais e a linguagem são transformados pela própria atividade dos grupos humanos em 
interação; • Cada artefato cultural contém, além de sua forma física, o código de condutas e de interações 
que o tornou possível, e que condiciona a ação das novas gerações que o utilizam. 
Representações sociais: Estuda a maneira como as representações sociais são hegemônicas em 
determinada formação social; • A ênfase será o estudo do aspecto social, isto é, interindividual, das 
representações; •A construção da representação deixa de ser individual, e passa a ser uma função 
simbólica do grupo social em seu conjunto. 
A interpretação da cultura como empreendimento intersubjetivo: O campo de estudo delimitado pela 
psicologia social que norteia possibilidades de intervenção em comunidades é constituído pela análise da 
cultura; • O conceito de cultura refere-se, precisamente, a este conjunto de significados compartilhados 
que orientam a conduta dos indivíduos. • Estes significados, se por um lado apresentam as características 
de homogeneidade e a duração, tendo em vista suas origens na tradição e na história do grupo, são 
 
9
Texto elaborado pela Profa. Natália Rodrigues e extraído do “Material do Acervo, SIA, Universidade Estácio de Sá, 
2016 
também questionados pelo movimento de construção de novas práticas, que por sua vez, na interação, 
produzem novos significados. 
A psicologia social trabalha com conceitos que permitem trabalhar as relações culturais em situações de 
diálogo, contribuindo para desenvolver a capacidade de análise de novas interpretações. • Esta é 
precisamente a situação na qual se encontram muitos dos trabalhos comunitários com os quais se 
envolvem os psicólogos sociais. • E assim se movimenta o estudo psicossociológico dos grupos 
multiculturais: de uma abordagem centrada no indivíduo passamos à história do grupo social como fonte 
de representações que os indivíduos se fazem uns com os outros, para chegar a uma abordagem em que a 
própria análise das representações se torna um empreendimento intersubjetivo. 
A interpretação dos sujeitos imersos na cultura é resultante de um processo de reflexão no qual a análise 
focaliza precisamente os diferentes pontos de vista envolvidos na definição da situação. • Para a psicologia 
social comunitária, estas contribuições são relevantes, na medida em que apontam para os aspectos 
cruciais do processo de conscientização: a cultura, como construção intersubjetiva de significado, e o 
diálogo, como contexto para a problematização e reconstrução cultural. 
 
TEXTO COMPLEMENTAR D 
PSICOLOGÍA SÓCIOHISTÓRICA: considerações iniciais 
A Psicologia Sócio-Histórica tem como pilar a Psicologia Histórico-Cultural desenvolvida por Vygotsky, 
assim como por seus parceiros de trabalho, Luria e Leontiev,na ex -União Soviética durante a primeira 
metade do século XX. 
A abordagem sócio histórica é baseada no marxismo, fundamentada nos princípios e no método do 
materialismo histórico dialético e concebe o homem como um ser ativo, social e histórico, isto é, um 
homem que “é moldado pela cultura que ele próprio cria” (LUCCI, 2006, online). 
Esse método é denominado materialismo porque considera que a única realidade é a matéria, rejeitando 
concepções quec oncebem a existência de um princípio espiritual que liga a realidade à matéria e a suas 
modificações. É também identificado por dialético porque defende que a única realidade é a matéria em 
permanente movimento. Assim, cada ação possui em si o seu contrário, traz em si o germe de sua própria 
negação. A negação, por sua vez, entra em choque com a afirmação e este choque vai gerar um novo 
elemento. 
O materialismo dialético é também histórico porque “as sociedades humanas viabilizam suas relações a 
partir das relações de produção, que em seu conjunto constituem a estrutura econômica da sociedade” 
(MARTINELI; LOPES, 2009, online). Partindo desse pressuposto é possível compreender que as diferentes 
dimensões da subjetividade, por serem produzida em um determinado momento histórico, expressam as 
contradições internas dos sistemas sociais. Tais contradições ao fomentar formas de pensar, sentir e agir, 
propiciam, simultaneamente, novas formas de ser e de se relacionar com os outros, produzindo constantes 
movimentos de transformação social. 
Contexto em que nasce o projeto de Vygotsky: O autorsurge na psicologia num momento significativo para 
a nação russa. Logo após ter-se consolidado a revolução, emerge uma nova sociedade, que, 
consequentemente, exige a constituição de um novo homem. Nesse sentido, a primeira missão que a 
Revolução imprimiu para a psicologia foi a análise dos problemas de aplicação prática. Por sua formação 
humanista e sua bagagem cultural, Vygotsky reunia as condições necessárias para idealizar uma nova 
concepção de Educação, Pedologia (ciência da criança) e Psicologia. 
Os objetivos de sua teoria são: caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e 
elaborar hipóteses de como essas características se formam ao longo da história humana e de como se 
desenvolvem durante a vida do indivíduo. 
PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS DE VIGOTSKY: A teoria histórico-cultural ou sociocultural do psiquismo humano 
de Vygotsky, também conhecida como abordagem sociointeracionista, toma como ponto de partida as 
funções psicológicas dos indivíduos, as quais classificou de elementares e superiores, para explicar o objeto 
de estudo da sua psicologia: a consciência. 
A teoria do desenvolvimento vygotskyana parte da concepção de que todo organismo é ativo e estabelece 
contínua interação entre as condições sociais, que são mutáveis, e a base biológica do comportamento 
humano: . Nesta perspectiva, o processo de desenvolvimento segue duas linhas diferentes em sua origem: 
um processo elementar, de base biológica, e um processo superior de origem sociocultural. 
Funções psicológicas elementares: são de origem biológica; estão presentes nas crianças e nos animais; 
caracterizam- se pelas ações involuntárias (ou reflexas); pelas reações imediatas (ou automáticas) e sofrem 
controle do ambiente externo. 
Funções psicológicas superiores: são de origem social; estão presentes somente no homem; caracterizam-
se pela intencionalidade das ações, que são mediadas. Elas resultam da interação entre os fatores 
biológicos (funções psicológicas elementares) e os culturais, que evoluíram no decorrer da história 
humana. Dessa forma, Vygotsky considera que as funções psíquicas são de origem sociocultural, pois 
resultaram da interação do indivíduo com seu contexto cultural e social. 
Segundo Vygotsky, o desenvolvimento mental é marcado pela interiorização das funções psicológicas. O 
que nós interiorizamos são os modos históricos e culturalmente organizados de operar com as 
informações do meio. 
Vygotsky considerava que a aquisição da linguagem constitui o momento mais significativo no 
desenvolvimento cognitivo. Ela, a linguagem, representa um salto de qualidade nas funções superiores; 
quando ela começa a servir de instrumento psicológico para a regulação do comportamento, a percepção 
muda de forma radical, novas memórias são formadas e novos processos de pensamento são criados. 
É pela mediação que o indivíduo se relaciona com o ambiente, pois, enquanto sujeito do conhecimento, ele 
não tem acesso direto aos objetos, mas, apenas, a sistemas simbólicos que representam a realidade. É por 
meio dos signos, da palavra, dos instrumentos, que ocorre o contato com a cultura. 
Nesse sentido, a linguagem é o principal mediador na formação e no desenvolvimento das funções 
psicológicas superiores. Ela constitui um sistema simbólico, elaborado no curso da história social do 
homem, que organiza os signos em estruturas complexas permitindo, POR EXEMPLO, NOMEAR OBJETOS, 
DESTACAR SUAS QUALIDADES E ESTABELECER RELAÇÕES ENTRE OS PRÓPRIOS OBJETOS. O surgimento da 
linguagem, como já foi dito anteriormente, representa UM SALTO QUALITATIVO NO PSIQUISMO, 
ORIGINANDO TRÊS GRANDES MUDANÇAS. 
A primeira está relacionada ao fato de que ela permite lidar com objetos externos não presentes. A 
segunda permite ABSTRAIR, ANALISAR E GENERALIZAR CARACTERÍSTICAS DOS OBJETOS, SITUAÇÕES E 
EVENTOS. Já a terceira se refere a sua FUNÇÃO COMUNICATIVA; EM OUTRAS PALAVRAS, “A 
PRESERVAÇÃO,TRANSMISSÃO E ASSIMILAÇÃO DE INFORMAÇÕES E EXPERIÊNCIAS ACUMULADAS PELA 
HUMANIDADE AO LONGO DA HISTÓRIA”. 
É justamente pela sua função comunicativa que o indivíduo se apropria do mundo externo, pois é pela 
comunicação estabelecida na interação que ocorrem “negociações”, reinterpretações das informações, 
dos conceitos e significados. 
A linguagem materializa e constitui as significações construídas no processo social e histórico. Quando os 
indivíduos a interiorizam, passam a ter acesso a estas significações que, por sua vez, servirão de base para 
que possam significar suas experiências, e serão estas significações resultantes que constituirão suas 
consciências, mediando, desse modo, suas formas de sentir, pensar e agir. 
Considerando-se a origem do indivíduo (ontogênese), ocorrem dois saltos qualitativos no seu 
desenvolvimento. O primeiro, quando o indivíduo adquire a linguagem oral, e o segundo, quando adquire 
a linguagem escrita. 
OUTRO PONTO FUNDAMENTAL PARA O SEU DESENVOLVIMENTO: o papel desempenhado pela 
aprendizagem. 
Desse ponto de vista, para que o indivíduo se desenvolva em sua plenitude, ele depende da aprendizagem 
que ocorre num determinado grupo cultural, pelas interações entre seus membros. 
A aprendizagem é encarada como um processo que antecede o desenvolvimento, ampliando-o e 
possibilitando a sua ocorrência. Em outras palavras, os processos de aprendizagem e desenvolvimento se 
influenciam mutuamente, gerando condições de que quanto mais aprendizagem, mais desenvolvimento e 
vice-versa. 
NO CONTEXTO DA APRENDIZAGEM SÃO CONSIDERADOS dois níveis de desenvolvimento. Um corresponde 
a tudo aquilo que a criança pode realizar sozinha e o outro, às capacidades que estão se construindo; isto é, 
refere-se a tudo aquilo que a criança poderá realizar com a ajuda de outra pessoa que sabe mais . Esta 
última situação é a que melhor traduz, segundo Vygotsky, o nível de desenvolvimento mental da criança. 
Entre esses dois níveis, há uma zona de transição, na qual o ensino deve atuar, pois é pela interação com 
outras pessoas que serão ativados os processos de desenvolvimento. Esses processos serão interiorizados e 
farão parte do primeiro nível de desenvolvimento, convertendo-se em aprendizagem e abrindo espaçopara novas possibilidades de aprendizagem. 
TEXTO COMPLEMENTAR D 
PSICOLOGIA SÓCIO HISTÓRICA: breve reflexão sobre o compromisso profissional e social do psicólogo 
Entre os principais referencias, encontra-se Vigotski e, portanto, fundamenta-se no marxismo e adota o 
materialismo histórico e dialético como filosofia, teoria e método. Nesse sentido, conforme já assinalado, 
concebe o homem como ativo, social e histórico. A sociedade, como produção histórica dos homens que, 
através do trabalho, produzem sua vida material. As ideias, como representações da realidade material. A 
realidade material, como fundada em contradições que se expressam nas ideias. E a história, como o 
movimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a partir da base material, deve ser 
compreendida toda produção de ideias, inclusive a ciência. 
A Psicologia Sócio Histórica não trabalha com a concepção liberal de homem e de fenômeno psicológico. 
Acredita que o fenômeno psicológico se desenvolve ao longo do tempo. Assim: o FENÔMENO 
PSICOLÓGICONÃO PERTENCE À NATUREZA HUMANA• o fenômeno psicológico NÃO PRÉ EXISTE AO 
HOMEM• o fenômeno PSICOLÓGICO REFLETE A CONDIÇÃO SOCIAL, ECONÔMICA E CULTURAL EM QUE 
VIVEM OS HOMENS. 
Falar da subjetividade humana é falar da objetividade onde vivem os homens. A compreensão do “mundo 
interno” exige a compreensão do “mundo externo”, pois são dois aspectos de um mesmo movimento, de 
um processo no qual o homem atua e constrói/ modifica o mundo e este, por sua vez, propicia os 
elementos para a constituição psicológica do homem. 
A psicologia não tem sido capaz de, ao falar do fenômeno psicológico, falar de vida, das condições 
econômicas, sociais e culturais nas quais se inserem os homens. A psicologia tem, ao contrário, contribuído 
significativamente para ocultar estas condições. Fala-se da mãe e do pai sem falar da família como 
instituição social marcada historicamente pela apropriação dos sujeitos; fala-se da sexualidade sem falar da 
tradição judaico-cristã de repressão à sexualidade; fala-se da identidade das mulheres sem se falar das 
características machistas de nossa cultura; fala-se do corpo sem inseri-lo na cultura; fala-se de habilidade e 
aptidões de um sujeito sem se falar das suas reais possibilidades de acesso à cultura; fala-se do homem 
sem falar do trabalho; fala-se do psicólogo sem falar do cultural e do social. Na verdade, não se fala de 
nada. Faz-se ideologia! 
Ideologia: “criação de universais abstratos, isto é, a transformação das ideias particulares da classe 
dominante em ideias universais de todos e para todos os membros da sociedade. Essa universalidade das 
ideias é abstrata porque não corresponde a nada real e concreto, visto que no real existem concretamente 
classes particulares e não a universalidade humana. As ideias da ideologia são, pois, universais abstratos”. 
(Chauí, 1981, p.95). A ideologia é, assim, uma representação ilusória que fazemos do real. O ilusório da 
ideologia está em que parte da realidade fica ocultada nas constituições ideais. 
NA PSICOLOGIA, AO CONSTRUIRMOS AS NOÇÕES E TEORIZAÇÕES SOBRE O FENÔMENO PSICOLÓGICO TEM 
FICADO OCULTADA A SUA PRODUÇÃO SOCIAL.Com isto, as consequências são danosas do ponto de vista 
das possibilidades da psicologia contribuir para a denúncia e a transformação das condições de vida 
constitutivos do fenômeno. 
A psicologia histórica parte da premissa de que o mundo social e o mundo psicológico caminham juntos 
em seu movimento e a psicologia para compreender o mundo psicológico terá obrigatoriamente que trazer 
para seu âmbito a realidade social na qual o fenômeno psicológico se constrói; e por outro lado, ao estudar 
o mundo psicológico estará contribuindo para a compreensão do mundo social . Tal dinâmica possibilitará 
e exigirá do psicólogo um posicionamento ético e pol ítico sobre o mundo social e psicológico. 
Conforme já comentado, o fenômeno psicológico não preexiste no homem. Se desenvolve conforme o 
homem se insere na sociedade, nas relações e na cultura. Ali estão as possibilidade do homem se tornar 
humano. A humanidade do homem está na cultura, nas relações sociais e nas formas de produção da 
vida. É lá que o homem vai buscar os elementos para sua constituição. 
A concepção histórica do fenômeno psicológico permite que se pense o homem e o mundo em 
permanente movimento; permite que se construa uma prática profissional e saberes em Psicologia colados 
a um projeto de sociedade; permite que o psicólogo perceba claramente sua profissão como um fazer 
social, que incentiva um determinado projeto de transformação social . A concepção histórica do 
fenômeno psicológico contribui significativamente para a superação de perspectivas estigmatizadoras que 
a Psicologia desenvolveu. O homem é visto como uma construção do homem. O controle, a categorização e 
a diferenciação deixam de ser entendidas como naturais, para serem lidas como um determinado 
compromisso da Psicologia com as necessidades e projetos sociais. 
Os processos a serem analisados são da objetivação do homem em seu mundo e o da apropriação do 
mundo, pelo homem, para se constituir. O homem atua, pondo no mundo social seus conteúdos 
individuais. O homem se objetiva no mundo e faz isto junto com os outros homens. Assim, a humanidade 
vai se constituindo no mundo, nos objetos, na cultura, nas formas de sobrevivência e de produção 
humanas. De lá, que o homem vai retirar o material para se constituir. Vai se apropriar da humanidade que 
construiu ao transformar o mundo. Vai retomar para si a humanidade que construiu. Assim, o homem se 
constrói ao construir o seu mundo. 
Pensar desta forma a subjetividade nos coloca em uma outra relação com o mundo social. Passamos a 
perceber a necessidade de nos posicionarmos sobre qual homem e qual sociedade queremos estimular. 
Isto porque, passamos a pensar que o mundo psicológico não está pronto e nem mesmo tem direção para 
seu desenvolvimento dado naturalmente. Nossas intervenções profissionais são, portanto, 
direcionamentos. Qual mundo queremos estimular? Qual sociedade? Qual subjetividade? Qual homem? 
Ao mesmo tempo em que esta tarefa, de definirmos o projeto de nossa intervenção, se coloca como 
obrigatória, outro ganho acontece. Passamos a nos ver, como profissionais, que através de nossas 
intervenções atuamos no mundo; mudamos o mundo; nos objetivamos no mundo. Nos vemos, então, 
como sujeitos que transformam o mundo a partir de sua prática profissional. Isto passa a exigir que 
façamos de nosso projeto profissional, um projeto político, de construção do âmbito coletivo. 
Queremos, com a perspectiva histórica na Psicologia, reverter esse processo e nos comprometermos com 
outros setores da população. Queremos acreditar que é possível pensar que os sofrimentos psíquicos que 
temos e que nossos conteúdos e estruturas psíquicas são reflexo de um mundo de competição, de 
discriminação, de estigmatização, de diferenciação... E que querer trabalhar para mudar esses quadros é, 
também, acreditar que um mundo melhor é possível. É em prol desse projeto, de um mundo melhor, que 
queremos colocar nossa profissão. 
Texto extraído de: BOCK, Ana M. Bahia. A perspectiva histórica da subjetividade: uma exigência para la Psicologia 
atual. Psicología para América Latina Revista de laUniónL atinoamericana de Psicología . Disponível em: 
www.psicolatina.org. Acesso em: 26 out. 2015.  LUCCI, Marcos A.A proposta de Vygotsky: a psicologia sócio 
histórica. Profesorado: revista de currículum y formacióndelprofesorado, 10, 2 (2006). Disponível em: 
http://www.ugr.es/~recfpro/rev102COL2port.pdf Acesso em: 26 out. 2015. 
 
TEXTO 6 
REFLETINDO SOBRE A NOÇÃO DE EXCLUSÃO10: notas de aula I 
Os discursos sobre a exclusão social estão continuamentepresente na mídia, no discurso político e nos 
planos e programas governamentais. O processo de exclusão não é apenas um fenômeno que ocorre nos 
países pobres: ele sinaliza o destino excludente das parcelas majoritárias da população, em função das 
transformações das transformações do mundo do trabalho e dos modelos e estruturas econômicas que 
geram desigualdades absurdas na qualidade de vida. 
Pensar criticamente a exclusão como um mecanismo de produção da desigualdade social impõe um 
mergulho na complexidade e nas controvérsias do mundo atual, trazendo a reflexão para o campo ético, o 
que implica uma discussão de valores e dos efeitos da ordem capi talista sobre a vida das pessoas. 
Mendigos, pedintes, vagabundos, marginais povoaram historicamente os espaços sociais, constituindo 
universos estigmatizados que atravessaram séculos. Porém, a partir dos anos 90 do século XX que uma 
nova noção – a de exclusão – vai protagonizar o debate intelectual e político. 
 
10
 Extraído de: WANDERLEY, MariangelaBelfiore. Refletindo sobre a noção de exclusão. In: SAWAIA, Bader (Org.). As 
artimanhas da exclusão. 11ª ed. Rio de Janeiro. Petrópolis: Vozes. (Material didático, v. 2,disponível no Leitor Estácio) 
Se atualmente a maioria dos problemas sociais são apreendidos através da noção de exclusão, é preciso ver 
aí, ao mesmo tempo, o resultado da degradação do mercado de emprego, particularmente forte no início 
da década, e também a evolução das representações e das categorias de análise que incluem pessoas 
qualificadas para o trabalho e em situação de desemprego duradouro ou que nunca conseguiram ingressar 
no mercado de trabalho. 
Atribui-se a René Lenoir a invenção da categoria “exclusão social”. Este pesquisador, em 1974,já salientava 
algo extremamente importante para o psicólogo social comunitário: a exclusão não é um fenômeno 
individual, mas social, cuja origem deveria ser buscada no funcionamento da sociedade moderna. 
Principais causas: Rápido e desordenado processo de urbanização, inadaptação e uniformização do sistema 
escolar, desenraizamento (mobilidade profissional), desigualdade de renda e acesso aos serviços. Assim, a 
exclusão social atinge todas as camadas sociais. O fenômeno da exclusão é tão vasto que é quase 
impossível delimitá-lo. Cabe, portanto indagar: é possível categorizar quem são os excluídos? 
Excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos 
valores. Excluídos não apenas física, geográfica ou materialmente. Não apenas de mercado ou de suas 
trocas. Mas de todas as riquezas espirituais porque seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também 
uma exclusão cultural. Essas pessoas pertencem à denominada nova pobreza. 
Quem pertence à nova pobreza? Os desempregados de longa duração que vão sendo expulsos do 
mercado produtivo e os jovens que não conseguem entrar nele. Os excluídos nesse contexto n ão são 
residuais ou temporários, como eram os pobres antes do neoliberalismo. 
No Brasil o tema foi inicialmente registrado por Helio Jaguaribe (que utilizou a expressão apartação social) 
e também na mídia e na academia nos anos de 1980. **APARTAÇÃO SOCIAL: A desigualdade social, 
econômica e política na sociedade brasileira chegou a um ponto incompatível com o processo de 
democratização da sociedade. **No Brasil há uma discriminação econômica, social e política, além de 
étnica. A exclusão inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade e não 
representação pública. Isto significa que a exclusão é social e, portanto, as causas não são individuais. . 
APARTAÇÃO SOCIAL (Cristóvão Buarque): um processo pelo qual denomina-se o outro com um ser “à 
parte”. Ou seja, o fenômeno de separar o outro, não apenas como desigual, mas como um “não 
semelhante”, um ser expulso não somente dos meios de consumo, dos bens, serviços, etc., mas do gênero 
humano. Forma de intolerância social. Então, toda forma de pobreza leva a formas de ruptura de vínculo 
social e representa na maioria das vezes um acumulo de déficit e precariedades. Noção que busca 
demonstrar o papel essencial da dimensão simbólica no fenômeno de exclusão social. 
Conceitos que compõem o universo da exclusão: de acordo com autores franceses contemporâneos de 
diferentes matrizes psicológicas e sociológicas. 
- Desqualificação: processo relacionado a fracassos e sucessos de integração. Aparece como contrário da 
integração social, a partir da obra de Paugan. Pobreza: produto de uma construção social e problema de 
integração normativa e funcional que passa pelo emprego. O Estado é convocado a criar políticas 
indispensáveis à regulamentação do vínculo social, como garantia da coesão social. 
- Desinserção: conceito trabalhado por Gaujel (ênfase no papel essencial da dimensão simbólica nos 
fenômenos de exclusão):os estudos também analisam questões sobre emprego e vinculo social, mas 
ressaltam os fatores de ordem simbólica. Para os autores “não existe uma relação direta ente desinserção e 
situação social desfavorável, logo não há relação imediata entre desinserção e pobreza. Nessa perspectiva, 
é o sistema de valores de uma sociedade que define os “fora da norma” como não tendo valor ou utilidade 
social, o que conduz a tornar a desinserção como fenômeno identitário, na articulação entre elementos 
objetivos e subjetivos. 
- Desafiliação: termo cunhado por Robert Castel. Significa uma ruptura de pertencimento, de vinculo 
societal. Desafiliado éaquele cuja trajetória é feita de uma série de rupturas com relação a estados de 
equilíbrio anteriores, mais ou menos estáveis ou instáveis. Inclui as populações com insuficiência de 
recursos materiais e também aquelas fragilizadas pela instabilidade do tecido relacional: desta forma 
ocorre, não somente com os paupérrimos, mas também com aqueles que tiveram rupturas no vinculo 
societal. 
Castel é um crítico da concepção de exclusão: a heterogeneidade de usos do conceito e uso banalizado. 
Esse cenário promove: analise setoriais descontínuas e deslocadas da lógica econômica do neoliberalismo 
acarretando em políticas públicas apenas “encobridoras dessa lógica” 
Em síntese: Para além das controvérsias e das diferentes categorias de análise do termo, a exclusão na 
modernidade transformou o “exército de mão de obra de reserva” (que pautavam as relações de 
dominação) para um contingente extremamente significativo de indivíduos desnecessários e descartáveis. 
**NO BRASIL: particularmente, a pobreza e exclusão são faces de uma mesma moeda. Se por um lado 
cresce cada vez mais a distância entre os excluídos e os incluídos de outro essa distância nunca foi tão 
pequena, uma vez que os incluídos estão ameaçados de perder direitos adquiridos. 
 
TEXTO 7 
PROCESSOS PSICOSSOCIAIS DA EXCLUSÃO11: notas de aula II 
Exclusão: expressão polissémica, no entanto existe um ponto em comum: o nível de interação entre 
pessoas e entre grupos, que delas são agentes ou vítimas. Tema básico da psicologia social. 
QUESTÕES DA PSICOLOGIA SOCIAL: O que faz com que em sociedades que cultuam valores democráticos e 
igualitários as pessoas sejam levadas a aceitar a injustiça, a adotar ou tolerar aqueles que não são seus 
pares ou com eles práticas de discriminação que os excluem? 
 
11
Extraído de: JODELET, Denise. Os processos psicossociais da exclusão. In: SAWAIA, Bader (Org.). As artimanhas 
daexclusão. 11ª ed. Rio de Janeiro. Petrópolis: Vozes. (Materi al didático, v. 2,disponível no Leitor Estácio) 
COMO A PSICOLOGIA SOCIAL ABORDOU, ao longo da sua história, essa questão? Inicialmente dirigia a 
atenção aos comportamentos

Outros materiais

Perguntas Recentes