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OBRIGACAO DE DAR

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18/03/2017 Direito a saber Direito.: Das Obrigações de Dar a Coisa Certa
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IMPOSSIBILIDADE  DE  ENTREGA  DE  COISA  DIVERSA,  AINDA  QUE  MAIS
VALIOSA
        Na obrigação de dar coisa certa o devedor é obrigado a entregar ou restituir uma coisa
inconfundível com outra, está assim adstrito a cumpri­la exatamente do modo estipulado, a
consequência  fatal  é  que  o  devedor  da  coisa  certa  não  pode  dar  outra,  ainda  que  mais
valiosa, nem o credor é obrigado a recebê­la. (GONÇALVES, 2012)
        Dispõe, com efeito, o art. 313 do Código Civil:
“O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda
que mais valiosa”.
                         A  entrega  de  coisa  diversa  da  prometida  importa modificação  da  obrigação,
denominada novação objetiva, que  só pode ocorrer havendo consentimento de  ambas as
partes.  Do  mesmo  modo,  a  modalidade  do  pagamento  não  pode  ser  alterada  sem  o
consentimento destas.
        Em contrapartida, o credor de coisa certa não pode pretender receber outra ainda de
valor igual ou menor que a devida, e possivelmente preferida por ele, pois a convenção é
lei entre as partes. A recíproca, portanto, é verdadeira: o credor  também não pode exigir
coisa diferente, ainda que menosvaliosa.
 TRADIÇÃO COMO TRANSFERÊNCIA DOMINIAL
        No direito brasileiro o contrato, por si só, não basta para a transferência do domínio.
Por ele criam­se apenas obrigações e direitos. 
        Dispõe, com efeito, o art. 481 do Código Civil que, pelo contrato de compra e venda:
“um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e, o outro, a
pagar­lhe certo preço em dinheiro”.
             O domínio só se adquire pela tradição, se for coisa móvel, e pelo registrodo  título
(tradição solene), se for imóvel. 
     Código Civil:
Art.  1.226.  Os  direitos  reais  sobre  coisas  móveis,  quando  constituídos,  ou
transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.
Art.  1.227. Os direitos  reais  sobre  imóveis  constituídos,  ou  transmitidos  por  atos
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entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos
referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.
        Desse modo, enquanto o contrato que institui ou contém promessa de transferência do
domínio  de  imóvel,  não  estiver  registrado  no  Cartório  de  Registro  de  Imóveis,  existirá
entre  as  partes  apenas  um  vínculo  obrigacional.  O  direito  real,  com  todas  as  suas
características, somente surgirá após aquele registro. A obrigação de dar gera apenas um
crédito e não direito real. Por si só, ela não transfere o domínio, adquirido só pela tradição;
com a sua execução pelo devedor, exclusivamente, o credor se converte num proprietário.
                Advirta­se  que  a  tradição,  no  caso  das  coisas móveis,  depende  ainda,  como  ato
jurídico do obrigado, para  transferir o domínio, da vontade deste. Só é modo de adquirir
domínio quando acompanhada da referida intenção — o que não ocorre no comodato, no
depósito, no penhor, na locação etc.(GONÇALVES, 2012)
DIREITO AOS MELHORAMENTOS E ACRESCIDOS
                Cumpre­se  a  obrigação  de  dar  coisa  certa mediante entrega  (como  na  compra  e
Venda) ou restituição (como no comodato, p. ex.). Conforme já dito, esses dois atos podem
ser resumidos numa palavra: tradição.
         Como no direito brasileiro o contrato, por si só, não transfere o domínio, mas apenas
gera  a  obrigação  de  entregar  a  coisa  alienada,  enquanto  não  ocorrer  a  tradição,  na
obrigação  de  entregar,  a  coisa  continuará  pertencendo  ao  devedor,  “com  os  seus
melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não
anuir, poderá o devedor resolver a obrigação” (CC, art. 237).
OBRIGAÇÃO DE DAR MEDIANTE ENTREGA (Compra e Venda)
        Assim, se o objeto da obrigação for um animal, e este der cria, o devedor não poderá
ser constrangido a entregá­la. Pelo acréscimo, tem o direito de exigir aumento do preço, se
o animal não foi adquirido juntamente com a futura cria. (GONÇALVES, 2012)
        Também os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes (CC,
art. 237, parágrafo único). O devedor  faz  seus os  frutospercebidos até a  tradição porque
ainda  é  proprietário  da  coisa.  A  percepção  dos  frutos  foi  exercício  de  um  poder  do
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domínio.  Os  frutos  pendentes,  ao  contrário,  passam  com  a  coisa  ao  credor,  porque  a
integram até serem dela separados.
MELHORAMENTO
        Melhoramento é tudo quanto opera mudança para melhor, em valor, em utilidade, em
comodidade, na condição e no estado físico da coisa. (CC ­ art. 237)
ACRESCIDO
        Acrescido é tudo que se ajunta, que se acrescenta à coisa, aumentando­a. (CC ­ art.
237)
 FRUTOS
        Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem
da coisa, sem acarretar­lhe a destruição no todo ou em parte, como o café, os cereais, as
frutas das árvores, o leite, as crias dos animais etc. (CC ­ art. 237, parágrafo único)
OBRIGAÇÃO DE DAR MEDIANTE RESTITUIÇÃO
        Na obrigação de dar, consistente em restituir coisa certa, dono é o credor, com direito
à devolução,  como sucede no comodato e no depósito, por  exemplo. Nessa modalidade,
inversamente, se a coisa  teve melhoramento ou acréscimo, “sem despesa ou  trabalho do
devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização” (CC, art. 241).
               Todavia,  se  para  o melhoramento ou  aumento  “empregou  o  devedor  trabalho  ou
dispêndio,  o  caso  se  regulará  pelas  normas  deste  Código  atinentes  às  benfeitorias
realizadas pelo possuidor de boa­fé ou de má­fé” (CC, art. 242). O art. 1.219 do Código
Civil, normatiza:
             Código Civil:
             Art. 1.219
“O possuidor  de  boa­fé  tem direito  à  indenização das  benfeitorias  necessárias  e
úteis, bem como, quanto às voluptuárias*, se não  lhe  forem pagas, a  levantá­las,
quando o puder  sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de  retenção
pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis”.
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(benfeitorias de mero deleite que tornam o bem mais agradável e valioso*)
               O devedor de boa­fé,  embora  tenha direito aos  frutos percebidos, não  faz  jus aos
frutos pendentes, nem aos colhidos antecipadamente, que devem ser restituídos, deduzidas
as despesas da produção e custeio. É o que expressamente dispõe o parágrafo único do art.
1.214  do  mesmo  diploma.  Caso  não  houvesse  a  dedução  dessas  despesas,  o  credor
experimentaria um enriquecimento sem causa, algo inadmissível. Esse direito, porém, só é
garantido ao devedor de boa­fé até o momento em que estiver nessa condição.
        Código Civil:
        Art. 1.214
“O possuidor de boa­fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos”.
Parágrafo único. “Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa­fé devem ser
restituídos,  depois  de  deduzidas  as  despesas  da  produção  e  custeio;  devem  ser
também restituídos os frutos colhidos com antecipação”.
        Art. 1.215
“Os  frutos naturais  e  industriais  reputam­se  colhidos  e percebidos,  logo que  são
separados; os civis reputam­se percebidos dia por dia”.
        Assim, o devedor de boa­fé faz seus os frutosnaturais desde o instante daseparação,
tenha­os consumido ou estejam ainda em celeiros ou armazéns.
        A disciplina dos frutos industriais, que resultam do trabalho do homem, é a mesma
dos frutos naturais.
        A percepção dos frutos civis ou rendimentos, como os juros e aluguéis, não se efetiva
por ato material, mas por presunção da lei, que os considera percebidos dia a dia (de die in
diem). Também devem ser restituídos se recebidos com antecipação.
                Se  o  devedor  estava  de má­fé,  ser­lhe­ão  ressarcidos  somente  os melhoramentos
necessários,  não  lhe  assistindo  o  direito  de  retenção  pela  importância  destes,  nem  o  de
levantar os voluptuários, porque obrou com a consciência de que praticava um ato ilícito.
Faz  jus  à  indenização  dos  melhoramentos  necessários  porque,  caso  contrário,  o  credor
experimentaria um enriquecimento indevido.
        O devedor de má­fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como
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pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de
má­fé; tem direito às despesas da produção e custeio. 
        A posse de má­fé não é totalmente desprovida de eficácia jurídica, porque o devedor
nessa condição faz jus às despesas de produção e custeio, em atenção ao princípio geral de
repúdio ao enriquecimento sem causa.
ABRANGÊNCIA DOS ACESSÓRIOS
        Quanto à extensão, prescreve o art. 233 do Código Civil:
“A  obrigação  de  dar  coisa  certa  abrange  os  acessórios  dela  embora  não
mencionados,  salvo  se  o  contrário  resultar  do  título  ou  das  circunstâncias  do
caso”.
   
      É uma decorrência do princípio geral de direito, universalmente aplicado, segundo o
qual  o  acessório  segue  o  destino  do  principal  (accessorium  sequitur  suum  principale).
(GONÇALVES, 2012)
i)   Principal é o bem que tem existência própria, que existe por si só.
ii)  Acessório é aquele cuja existência depende do principal.
                O  princípio  de  que  “o  acessório  segue  o  principal”  aplica­se  somente  às  partes
integrantes  (frutos,  produtos  e  benfeitorias),  mas  não  às  pertenças,  que  não  constituem
partes  integrantes  e  se  destinam,  de  modo  duradouro,  ao  uso,  ao  serviço  ou  ao
aformoseamento de outro (CC, art. 93).
                Desse modo, mesmo  inexistindo  disposição  em  contrário,  as  pertenças,  como  o
mobiliário, por exemplo, não acompanham o imóvel alienado ou desapropriado.
CLASSE DOS BENS ACESSÓRIOS
                Segundo  Gonçalves,  na  grande  classe  dos  bens  acessórios  compreendem­se  os
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produtos e os frutos:
i) Produtos ­ são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo­lhe a quantidade,
porque não se reproduzem periodicamente, como as pedras e os metais, que se
extraem das pedreiras e das minas.
ii)  Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem
da coisa, sem acarretar­lhe a destruição no todo ou em parte, como os cereais, as
frutas das árvores etc.
        Os frutos dividem­se, quanto à origem em naturais, industriais e civis:
i) Naturais ­ são os que se desenvolvem e se renovam periodicamente, em virtude da
força orgânica da própria natureza, como as frutas das árvores, as crias dos
animais etc. 
ii)  Industriais ­ são os que aparecem pela mão do homem, isto é, os que surgem em
razão da atuação do homem sobre a natureza, como a produção de uma fábrica. 
iii) Civis ­ são os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude de sua utilização por
outrem que não o proprietário, como os juros e os aluguéis.
        Quanto ao estado, os frutos classificam­se:
i) Pendentes ­ enquanto unidos à coisa que os produziu; 
ii) Percebidos ou colhidos ­ depois de separados;
iii) Estantes ­ os separados e armazenados ou acondicionados para venda; 
iv) Percipiendos ­ os que deviam ser, mas não foram colhidos ou percebidos; 
v)  Consumidos ­ os que não existem mais porque foram utilizados;
                Também  se  consideram  acessórias  todas  as  benfeitorias,  qualquer  que  seja  o  seu
valor. 
i) necessárias – são as benfeitorias que têm por fim conservar o bem ou evitar que
se deteriore; 
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ii) úteis ­ são as benfeitorias as que aumentam ou facilitam o uso do bem (acréscimo
de um banheiro ou de uma garagem à casa, p. ex.); 
iii) voluptuárias – são as benfeitorias de mero deleite ou recreio (jardins, mirantes,
fontes, cascatas artificiais), que não aumentem o uso habitual do bem, ainda
que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.

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