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6 Dos Crimes Contra a Família

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DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA 
 
 Bigamia; 
 Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento; 
 Simulação de casamento; 
 Sonegação de estado de filiação; 
 Registro de nascimento inexistente; 
 Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-
nascido; 
 Abandono material; 
 Entrega de filho a pessoa inidônea; 
 Abandono intelectual; 
 Subtração de incapazes. 
 
Proteção Constitucional: 
 
A família é a base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
Artigo 226, caput, CF. 
 
DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO 
 
Bigamia 
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: 
Pena - reclusão, de 02 (dois) a 06 (seis) anos. 
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa 
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de 01 (um) a 03 (três) anos. 
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a 
bigamia, considera-se inexistente o crime. 
BIGAMIA: É a situação da pessoa que possui dois cônjuges. No Brasil, as Ordenações Filipinas 
(1603) sancionavam a bigamia com a pena de morte. O Código Criminal do Império, inspirado 
na legislação napoleônica, cominava ao delito em exame pena de trabalhos, além da multa. O 
Código Penal Republicano (1890) tipificou a conduta daquele que contraísse mais de um 
casamento sob o defeito nomen júris de “poligamia”, o que contribuiu para a consolidação do 
entendimento – infundado- de que o segundo matrimônio não era punível. 
Conduta típica: artigo 235 do CP. 
Objeto jurídico: A organização da família. É o interesse estatal na preservação da família como 
base da sociedade e do casamento monogâmico, eleito como a forma mais estável de 
constituição familiar. 
Sujeito ativo: A pessoa casada que contrai novo casamento. 
Sujeito passivo: O Estado, o cônjuge do primeiro matrimônio e o do segundo, se de boa-fé. 
Consumação: No momento e no lugar em que se efetiva o casamento. 
Tentativa: É duvidosa a admissibilidade, entendendo os que aceitam que ela começa com os 
atos de celebração. 
Ação penal: Pública incondicionada. 
Processo de habilitação: crime de falsidade ideológica – art. 299 do CPB. 
Extraterritoriedade: Configura crime de bigamia o fato de brasileiro, já casado no Brasil, 
contrair novo casamento no Paraguai, pois ambos os países punem a bigamia, o que preenche 
o requisito da extraterritoriedade do CP. 
Exceção pluralista. 
Concurso de crimes – a contração de mais de dois casamentos pode dar ensejo ao crime 
continuado – Há posição contrária, entendendo haver concurso material, a exemplo de Cezar 
Roberto Bitencourt, que entende haver concurso material, e ainda diz que o fato de já ser 
bígamo não imuniza a prática repetitiva do mesmo crime. 
Concurso de pessoas: É admissível o concurso de pessoas no contexto da bigamia. 
Classificação: 
 Crime próprio – demanda sujeito ativo qualificado ou especial; 
 Material – exige resultado naturalístico, consistente na efetiva ofensa aos laços 
matrimoniais; 
 De forma vinculada – cometido pela contração de novo matrimônio; 
 Comissivo - contrair implica em ação; 
 Comissivo por omissão - excepcional – artigo 13, § 2º do CP; 
 Instantâneo de efeitos permanentes – o delito é instantâneo, sem prolongamento da 
consumação, mas aparenta ser permanente, pois o bígamo permanece casado com duas 
pessoas ao mesmo tempo, dando a impressão de continuar ofendendo o bem jurídico 
protegido; 
 Plurissubjetivo – somente pode ser praticado por mais de um agente; 
 De concurso necessário – de condutas convergentes, de encontro, ou bilateral. 
 Plurissubsistente – via de regra, vários atos integram a conduta. 
 
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento: 
 
Art. 236. Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-
lhe impedimento que não seja casamento anterior: 
Pena - detenção, de 06 (seis) meses a 02 (dois) anos. 
Ver Comentários 01 e 02. 
Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser 
intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou 
impedimento, anule o casamento. 
Considerações gerais: A figura delitiva constante do artigo 236 do CP não constava da 
legislação pretérita. Constituiu, portanto, inovação incorporada ao ordenamento jurídico penal 
pelo Código Penal de 1940. Inspirou-se, para tanto, nos Códigos Penais: norueguês (arts. 220 e 
221) e italiano (art. 558). O Anteprojeto de Código Penal, Parte Especial, não prevê semelhante 
infração penal. 
Análise do núcleo do tipo: Contrair casamento significa ajustar a união entre duas pessoas de 
sexos diferentes, devidamente habilitadas e legitimadas pela lei civil, tendo por finalidade a 
constituição de uma família. 
Sujeitos do delito: 
 Ativo: o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que se case induzindo outrem em erro ou 
ocultando-lhe impedimento. 
 Passivo: O Estado, que busca manter a regularidade do casamento monogâmico e também 
a pessoa ludibriada. 
Erro essencial: Trata-se de norma penal em branco: 
Deve-se utilizar o disposto no artigo 1557 do Novo Código Civil, que preceitua tratar-se de erro 
essencial sobre a pessoa do outro cônjuge os seguintes casos: 
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o 
seu conhecimento ulterior torne insuportável à vida em comum ao cônjuge enganado; 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne 
insuportável a vida conjugal; 
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável (v.g. impotência 
instrumental ou coeundi) ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança 
(v.g. AIDS, esquizofrenia, sífilis, hemofilia, etc.) capaz de pôr em risco a saúde do outro 
cônjuge ou de sua descendência; 
IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, 
torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado. 
Impedimento matrimonial: sendo norma penal em branco, é preciso buscar socorro no Código 
Civil, que prevê as hipóteses de impedimento, no artigo 1521 do NCC, in verbis: 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do 
adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau 
inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio 
contra o seu consorte. 
Objetos material e jurídico: objeto material é o casamento. Objeto jurídico é o interesse do 
Estado em manter regulares os casamentos realizados, pois constituem forma comum de 
formação da família, base da sociedade. 
Ação penal privada: somente pode ser intentada pelo cônjuge enganado. Trata-se de ação 
privada personalíssima, de modo que, ocorrendo a morte do querelante durante o processo, 
extingue-se a punibilidade do agente. 
Condição de procedibilidade: ser o casamento anulado efetivamente. 
Classificação: 
Próprio – formal – de forma vinculada – comissivo – excepcionalmente comissivo por omissão 
– instantâneo – plurissubjetivo – plurissubsistente – não admite tentativa, porque é crime 
condicionado. 
Simulação de casamento: 
Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa: 
Pena - detenção, de 01 (um) a 03 (três) anos, se o fato não constitui elemento de crime mais 
grave. 
 Tipo subsidiário: Tratando-se de caso de subsidiariedade explícita, somente ocorrerá o 
crime previsto no artigo 239 se o fato não constituir delito mais grave,ainda que tentado 
(estelionato, posse sexual mediante fraude). 
 Objeto jurídico – É a organização regular da família, mediante a proteção da ordem jurídica 
matrimonial; 
 Sujeito ativo: qualquer pessoa que efetivamente simule a celebração do casamento. 
 Fraude: a conduta deve ser realizada com meios iludentes; 
 Competência para o ato: É necessário que tenha havido falsa atribuição de autoridade 
para a celebração.

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