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UMA TEORIA DA JUSTIÇA JOHN RAWLS EDI FRANCO Capítulo I – Justiça como equidade Neste capítulo o autor apresenta sua ideia de justiça como equidade, que pretende generalizar e abstrair ainda mais o tradicional conceito de contrato social. Este contrato é substituído por uma situação hipotética inicial pautada por restrições de conduta que conduzirão a um acordo sobre os princípios da justiça. Seu objetivo é elaborar uma teoria de justiça social que se contraponha ao modelo de justiça utilitarista. Partindo da noção intuitiva que as estruturas sociais com suas posições sociais variadas levam pessoas de origens diferentes a expectativas de vida diferentes, dadas circunstâncias políticas, sociais e econômicas. Isto significa que as estruturas sociais favorecem alguns pontos de partida mais que outros, gerando desigualdades profundas que não podem ser justificadas por meio de noções como mérito ou valor. É justamente a essas desigualdades supostamente inerentes a uma sociedade que os princípios de justiça social devem ser aplicados. Uma concepção inicial de justiça social deve fornecer um padrão pelo qual os aspectos distributivos de uma sociedade devam ser avaliados Na concepção de justiça como equidade, Rawls concebe um contrato social norteado por princípios de justiça que pessoas livres e racionais, preocupadas com seus próprios interesses aceitariam em uma posição inicial de igualdade. Estes princípios determinarão todos os acordos subseqüentes, tipos de governo e tipos de cooperação social. Esta posição inicial de igualdade corresponde ao estado de natureza da teoria tradicional do contrato social (estágio anterior à sociedade civil no qual não há governo ou leis únicas instituidas) e é entendida como uma situação puramente hipotética na qual ninguém conhece seu lugar na sociedade, a posição de sua classe social, distribuição de habilidades, disponibilidades psicológicas ou inteligência, nem suas concepções de bem. As decisões estão permeadas por um véu da ignorância que garante que ninguém seja favorecido nem desfavorecido na escolha dos princípios. Desta forma, como todos estão em condições semelhantes, as escolhas resultam de um acordo equitativo. O autor sustenta que, ao contrário da posição utilitarista, as primeiras escolhas seriam no sentido de garantir igualdade na atribuição de deveres e direitos básicos e conceber a desigualdade como justa somente se favorece a todos, principalmente os menos favorecidos. O utilitarismo ao qual Rawls se contrapõe deve ser entendido com a doutrina pela qual a sociedade é vista como ordenada de maneira correta e justa, tendo suas instituições planejadas de modo a conseguir maior saldo líquido de satisfação. A satisfação social é obtida pela soma das satisfações de todos os seus membros. Seu princípio é promover o máximo bem-estar ao grupo e alcançar o mais alto sistemas de desejo, adotando para a sociedade os princípios de escolha racional para uma única pessoa. Assim, não importa o modo com se distribuem as satisfações entre os indivíduos, contanto que se atinja o grau máximo. A justiça social nega que a perda da liberdade de alguns seja justificada por um bem maior partilhado por outros, excluindo o pensamento que equilibra ganhos e perdas de diferentes pessoas como se fosse uma só. O princípio de maximização não é utilizado na nesta teoria. Na justiça como equidade as pessoas aceitam a priori um princípio de liberdade igual sem conhecer seus próprios objetivos pessoais. Seus desejos e aspirações são restringidos pelos princípios de justiça que delimitam os sistemas humanos de finalidades. É como se o conceito de justo precedesse ao conceito de bem. Rawls finaliza o capitulo I contornando as objeções levantadas pela doutrina intuicionista em relação à justiça. Esta abordagem considera que a partir de dado nível de generalidade, não existem critérios construtivos para determinar a importância de princípios de justiça. O intuicionismo prevê uma pluralidade de princípios básicos que podem divergir e apontar direções contrárias, além de não ter nenhum método específico para avaliar e comparar estes princípios, sendo necessário apenas atingir um equilíbrio. Uma das dificuldades do intuicionismo reside na grande importância às capacidades intuitivas sem, no entanto, dispor de critérios orientados e éticos, além de negar a existência de uma solução explícita e útil para o problema da prioridade, que é solucionado na justiça como equidade. Contudo, Jonh Rawls não defende que se deva eliminar completamente os juízos intuitivos, apenas reduzir nossa dependência em relação a eles.
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