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Apresentação Este material foi feito em conjunto pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, Secretarias de Estado de Governo (Segov) e de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese) e a Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa de Minas. Bom proveito! Sumário UNIDADE 1 - Contexto histórico UNIDADE 2 - Conceitos, princípios jurídicos e diretrizes UNIDADE 3 - Planejamento e procedimentos de seleção UNIDADE 4 - Formalização e execução UNIDADE 5 - Monitoramento e avaliação UNIDADE 6 - Prestação de contas e encerramento da parceria Como surgiu a Lei 13.019/2014 A Lei Federal n°13.019, de 31 de julho de 2014 (LF 13.019/2014), substituiu a legislação anterior de convênios, que já não era adequada à nova realidade das organizações da sociedade civil (OSCs). A nova lei federal muda a regulamentação de repasse de recursos públicos à OSCs e estabelece normas e procedimentos específicos. Nesta unidade 1, você ficará sabendo com mais detalhes o seguinte: Por que criar uma nova lei? O Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, conhecido como MROSC, é um conjunto de estratégias que busca melhorar a relação dessas entidades com o poder público. A Lei Federal nº 13.019, de 31 de julho de 2014, é o principal avanço do Marco Regulatório. Portanto para entender como surgiu a LF nº 13.019/2014 é importante entender como nasceu o MROSC, uma vez que a lei deriva do Marco. Em 2010, organizações, coletivos, redes e movimentos sociais criaram um grupo chamado “Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil - OSC”. Esse grupo reivindicava maior participação da sociedade na criação de regras e políticas relativas às parcerias entre a Administração Pública e as OSCs para torná-las mais colaborativas e democráticas. As propostas elaboradas pelos participantes da Plataforma foram enviadas aos candidatos à Presidência da República na época. Em 2011, o Governo Federal editou o Decreto Federal n° 7.568, de 16 de setembro de 2011, que criava o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para avaliar as parcerias celebradas entre a Administração Pública Federal e as OSCs e para propor soluções para os problemas que elas enfrentavam. Esse grupo era composto por membros do Governo Federal e das OSCs. Além de criar o GTI, esse decreto passou a exigir o seguinte: • chamamento público como pré-requisito para a execução de parcerias entre a Administração Pública e as OSCs. • mínimo de três anos de experiência para as OSCs (Artigo 3o, parágrafo 2o, inciso VI, da LF nº 13.019/2014) na atividade para a qual buscavam parceria para que pudessem firmar convênios e outros tipos de acordo. A primeira reunião do GTI aconteceu durante o Seminário Internacional do Marco Regulatório da Sociedade Civil, realizado no período de 9 a 11 de novembro de 2011. Depois de mais de quarenta reuniões, o grupo produziu, em agosto de 2012, um relatório final que continha um diagnóstico da realidade, propostas de melhorias, desafios e um projeto de lei. Durante o ano de 2013, esse projeto de lei foi amplamente discutido no Poder Legislativo. Aprovação da nova lei e desafios Em 31 de julho de 2014, foi aprovada a Lei Federal nº 13.019 (LF 13.019/2014), que estabelece um novo modelo de parceria entre a Administração Pública e as OSCs. Essa lei deveria entrar em vigor no início de novembro daquele mesmo ano. No entanto, para dar mais tempo às OSCs e à Administração Pública de se adaptarem à nova regra, o Governo Federal editou a Medida Provisória nº 658, de 29 de outubro de 2014 (MP 658/2014), que adiava por um ano a entrada em vigor da nova lei. No Congresso Nacional essa medida provisória recebeu 59 emendas, além de ser discutida numa audiência pública para ouvir a opinião de outros interessados e receber sugestões de modificação. Em seguida, passou a tramitar com o título Projeto de Lei de Conversão n° 19/2014 (PLV 19/2014). Em 2015, o novo Congresso discutiu novamente a MP nº 658/2014 e aprovou seu texto original, alterando apenas a data de entrada em vigor da lei e as regras de transição. Vencido o prazo para adequação previsto na MP 658/2014, as OSCs e os prefeitos solicitaram um novo prazo. O Governo Federal criou então a Medida Provisória n° 684, de 22 de julho de 2015, que prorrogava para 23 de janeiro de 2016 a entrada em vigor da Lei. Discutida e alterada no Legislativo com 152 emendas e com a realização de nova audiência pública, a MP nº 684/15 foi transformada no Projeto de Lei de Conversão nº 21 (PLV nº 21/15). Em 14 de dezembro de 2015, o PLV nº 21/15 foi sancionado pela Presidente da República como Lei Federal n° 13.204, de 2015, que alterava a LF nº 13.019/14, de 2014 em diversos pontos, especialmente com relação à vigência, que passou a ser diferente para cada ente da federação. União, Estados e Distrito Federal precisariam cumpri-la a partir de 23 de janeiro de 2016 e os municípios a partir 1º de janeiro de 2017. Uma relação de ajuda mútua A interpretação da Lei ainda será construída à medida que ela for sendo aplicada nos casos concretos. Como as parcerias são relações de interesse tanto das OSCs quanto da Administração Pública, é natural que as partes se auxiliem na tarefa de atender aos novos requisitos da legislação. O nascimento da Lei Federal 13.019/2014 Compreendendo a nova lei A Lei Federal nº 13.019, de 31 de julho de 2014 (LF nº 13.019/2014) ou Lei de Fomento e de Cooperação, traz em seu art. 2º conceitos e definições importantíssimos para a compreensão das parcerias possíveis de serem firmadas entre as organizações da sociedade civil (OSCs) e a Administração Pública (AP). Essas definições vão lhe ajudar a identificar os tipos de entidades consideradas como organizações da sociedade civil, os diversos atores envolvidos nas parcerias com a AP e os processos e procedimentos a serem implantados. Conhecendo os conceitos, os princípios e as diretrizes presentes na LF nº 13.019/14, você poderá compreender a lei, suas inovações e uma série de procedimentos muito importantes. Ao final desta unidade, você será capaz de refletir sobre as seguintes questões: O que são OSCs? As organizações da sociedade civil, ou OSCs, são pessoas jurídicas privadas, sem fins lucrativos que atuam na promoção e defesa de direitos em áreas como saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia, desenvolvimento agrário, assistência social, moradia e direitos humanos, entre outras. Dentro da terminologia sociológica, a sociedade civil é divida em três setores: Primeiro setor: toda a Administração Pública (setor público) Segundo setor: entidades privadas com fins lucrativos Terceiro setor: entidades privadas sem fins lucrativos, organizações dotadas de autonomia e administração própria que desempenham iniciativas privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil. O termo “terceiro setor” também pode ter como sinônimos: organizações não governamentais (ONGs) e organizações da sociedade civil (OSCs) – termo adotado pela LF nº 13.019/14 O quadro a seguir explica quais tipos de entidades a lei considera como OSCs. VOCÊ SABIA? OSCs x ONGs – O termo organizações não governamentais, ou ONGs, é um terno incorreto para designar as entidades privadas sem fins lucrativos, ou OSCs. Isso porque o termo “não governamental” abrange todos aqueles setores que não fazem parte do governo (primeiro setor), ou seja, abrange entidades privadas com fins lucrativos (segundo setor) e sem fins lucrativos (terceiro setor). Portanto, podemos dizer que OSCs são ONGs, porque não pertencem ao Primeiro Setor, mas ONGs nem sempre são OSCs, porque para serem OSCs não podem ter fins lucrativos. O que a LF nº 13.019/14 consideracomo OSC Tipos Características Observações Entidades privadas sem fins lucrativos Não distribuem a seus dirigentes, conselheiros, empregados, etc. nenhum tipo de dividendo, resultado financeiro, sobras e parcelas de patrimônio, entre outros valores, resultantes de suas receitas, aplicando integralmente os recursos excedentes em suas atividades (objeto social). - Sindicatos profissionais e patronais também são OSCs. - A LF nº 13.019/14 não contempla o Sistema S (SEBRAE, SESI, SENAT, etc). Sociedades Cooperativas - Cooperativas sociais, previstas em lei específica. - Sociedades integradas por pessoas em situação de risco ou vulnerabilidade pessoal ou social - Sociedades incluídas em programas e ações de combate à pobreza e de geração trabalho/renda - Sociedades de fomento, de educação, de capacitação de trabalhadores rurais ou capacitação de agentes de assistência técnica e extensão rural - Sociedades capacitadas para executar projetos de interesse público e de cunho social A Lei Federal nº 9.867/1999 define cooperativas sociais como entidades criadas para inserir no mercado econômico, por meio do trabalho em cooperação, as pessoas em desvantagem. A lei considera pessoas em desvantagem: deficientes físicos, sensoriais, psíquicos e mentais (dependentes de acompanhamento psiquiátrico), dependentes químicos, egressos de prisões, condenados a penas alternativas de detenção e adolescentes em idade adequada ao trabalho e situação familiar difícil do ponto de vista econômico, social ou afetivo. Organizações religiosas O que são parcerias? Uma parceria é a reunião de duas ou mais partes que combinam trabalhar em cooperação para atingir interesses comuns. A LF nº 13.019/14 define parceria da seguinte forma, no inciso III de seu art. 2º: Parceria: conjunto de direitos, responsabilidades e obrigações decorrentes de relação jurídica estabelecida formalmente entre a administração pública e organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco, mediante a execução de atividade ou de projeto expressos em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação; A execução das parcerias implica a realização de atividades e projetos pelas OSCs. Veja abaixo como a lei diferencia uma atividade de um projeto. Atividade Projeto Conjunto de operações realizadas de modo contínuo ou permanente, que resultam em um produto ou serviço necessários à satisfação de interesses compartilhados pela Administração Pública e pela organização da sociedade civil. Conjunto de operações, limitadas no tempo, que geram um produto destinado à satisfação de interesses compartilhados pela Administração Pública e pela organização da sociedade civil. Note bem: a diferença entre esses elementos é que a atividade é realizada de modo contínuo, com entrega periódica de um produto ou serviço, e o projeto tem duração limitada, terminando com a entrega de produto ou serviço. Dirigentes, administradores públicos e outros agentes As parcerias são executadas por grupos de pessoas com funções bem definidas. A LF nº 13.019/14 relacionou alguns papéis fundamentais com responsabilidades definidas em seu Artigo 2o, incisos IV, V e VI. Quem Faz o quê? Onde é citado na Lei? Dirigentes (Administradores da OSC) Administram a OSC, assinam a parceria, autorizam outras pessoas (se o estatuto social permitir) a assinar por eles. Suas responsabilidades estão descritas no estatuto da OSC. Obs,: No estatuto da OSC estarão definidas as atribuições de cada cargo de dirigente. Geralmente, só o dirigente máximo da entidade pode assinar por ela ou autorizar outros a assinarem por ele. Inciso IV Administradores públicos (Dirigentes dos órgãos da Administração Pública) Assinam a parceria ou autorizam outras pessoas a firmá-los. Inciso V Gestores da parceria (Pessoas designadas pela Administração Pública) para gerir as parcerias) São os responsáveis na AP por gerir a parceria celebrada, controlando e fiscalizando as ações. A AP deve nomear os gestores por meio de ato administrativo publicado em meio oficial. Inciso VI Conselhos de políticas públicas (Órgãos criados pela AP para cada áreas de atuação do Poder Público, compostos de representantes do governo e da sociedade civil) Aconselham e orientam a formulação, implementação, acompanhamento, monitoramento e avaliação de políticas públicas relacionadas às parcerias. Inciso IX Comissão de seleção (Criada pela AP e composta por pelo menos um servidor efetivo ou empregado permanente do quadro de pessoal da AP) Processa e julga as propostas de parcerias apresentadas nos chamamentos públicos Inciso X Comissão de monitoramento e avaliação (Também criada pela AP, com garantia de participação de pelo menos um servidor efetivo ou empregado permanente do quadro de pessoal da AP.) Monitora e avalia as parcerias celebradas Inciso IX Conselhos de fomento e colaboração - CONFOCOs. (Instituído pelo Poder Executivo Divulgam boas práticas, propõem e apoiam políticas e ações voltadas ao fortalecimento das relações de fomento e de colaboração. Os CONFOCOs são Art. 15 federal, sendo composto por representantes do governo e das OSCs, em igual número). espaços de debates sobre o MROSC, que visam a contribuir para que a LF nº 13.019/14 seja implantada em todo território nacional de forma satisfatória. Os estados, Distrito Federal e municípios também poderão criar instâncias participativas, similares aos CONFOCOs. Não confunda administrador público com gestor O administrador público tem poderes para firmar parcerias, ao passo que gestor é o responsável pela gestão da parceria, com poderes de controle e fiscalização. Formação e capacitação Para a plena execução da LF nº 13.019/14 no território nacional, é necessário que todos os atores envolvidos nas parcerias sejam capacitados. Veja abaixo quem são eles. A capacitação deve atingir o maior número possível de pessoas do público- alvo descrito acima. O que você aprender aqui, compartilhe com as pessoas interessadas na LF nº 13.019/14 que você conheça. Fundamentos e princípios jurídicos da parceria A LF nº 13.019/14 tem como fundamentos a gestão pública democrática, a participação social, o fortalecimento da sociedade civil e a transparência na aplicação dos recursos públicos e os princípios constitucionais da legalidade, legitimidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficácia, eficiência e economicidade, que devem nortear as ações da Administração Pública. Em seu Artigo 6o, na Seção I, "Normas Gerais", encontramos as diretrizes que orientam sua elaboração e aplicação, entre as quais destacamos os seguintes tópicos: • A nova lei busca promover a organização, fortalecimento institucional das OSCs e sua capacitação para a cooperação com o Poder Público; • A execução das parcerias é tratada com foco principal no controle de resultados, diferenciando-se dos convênios, regidos por legislação anterior, cuja execução priorizava o cumprimento de formalidade com relação à documentação do processo; • A lei também incentiva e propicia o uso de mecanismos que possibilitem a ampla divulgação dos atos da parceria com o uso de recursos e tecnologias de informação e comunicação, favorecendo a transparência; • Uma das finalidades da LF nº 13.019/14 é fortalecer a cooperação institucional entre a Administração Pública (estados, municípios, Distrito Federal e União) em sua relação com as OSCs. Saiba Mais Princípios jurídicos que norteiam a LF nº 13.019/14 PRINCÍPIOS CONCEITUAÇÃO ONDEESTÁ NA LEI Eficiência Os atos da entidade p a r c e i r a devem gerar a melhorrelação entre o benefício obtido (quantidade e qualidade) e o custo da aquisição, para si mesma e para a sociedade a quem se destinam seus serviços. Caput do art.5 Eficácia A entidade parceira deve fazer escolhas que permitam o cumprimento dos objetivos de uma determinada ação e o pleno alcance dos resultados. Economicidade Os atos da entidade parceira devem contribuir para o pleno alcance dos objetivos traçados e dos resultados pactuados no Termo de Parceria, com o menor custo possível, agindo de forma a aproveitar da melhor forma possível os recursos para a realização máxima dos resultados desejados. Legitimidade A atuação dos parceiros deve ser legal, moral e visar à finalidade pública. Igualdade Todos os cidadãos da sociedade devem ser tratados igualmente. art.2º,inciso XII Impessoalidade Os atos dos parceiros devem ser centrados na busca dobem público e não no benefício individual ou personalizado. Características qualitativas e critérios objetivos devem ser previamente definidos para orientar a análise e a escolha da melhor proposta. Isonomia Isonomia significa igualdade de todos perante a lei,sem distinção de qualquer natureza. Méritos iguais devem ser tratados de modo igual, e situações desiguais tratadas desigualmente, já que não pode haver distinção de classe, grau ou poder econômicoentre os homens. Julgamento Objetivo Significa que o administrador deve observar critérios objetivos, definidos no edital de chamamento público para o julgamento das propostas. Afasta a possibilidade de o julgador utilizar-se de fatores subjetivos ou de critérios não previstos no edital, mesmo que em benefício da própria AP. art.2º,inciso XII Probidade Administrativa Honestidade e fidelidade com o Estado e com a população, são deveres de todo agente público no desempenho de suas funções. Vinculação ao Instrumento Convocatório A Administração Pública e os participantes devem obedecer ao chamamento público, ficando vinculados a seus termos. Legalidade Os atos dos parceiros não podem contrariar a lei. art.2º, inciso XII e caput do art.5º Moralidade Os atos da entidade parceira devem obedecer a valoreséticos socialmente adotados. Portanto, a entidade deve agir de boa-fé em todos os seus atos e julgamentos e nos instrumentos utilizados nos processos seletivos. Publicidade Os atos dos parceiros devem ser anunciados e publicados de forma visível e transparente para toda a sociedade. As exceções da LF nº 13.019/14 Em alguns casos, as disposições da LF nº 13.019/14 não se aplicam. Eles são descritos no artigo 3º e apresentados a seguir: • Transferências de recursos internacionais, naquilo que conflitarem com a Lei; • Contratos de gestão celebrados com OSCs qualificadas como Organizações Sociais (OSs); • Serviços complementares ao Sistema Único de Saúde (SUS); • Lei Cultura Viva (LF nº 13.018/14); • Termos de parceria celebrados com OSCs qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs); • Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência (PAED), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); • Contribuições associativas; • Parcerias da Administração Pública com o Sistema S. ATENÇÃO A Lei Federal nº 8.666, de 21 de junho de 1993, não se aplica às parcerias regidas pela LF nº 13.019/2014. Os seguintes convênios são regidos pelo art. 116 da LF nº 8.666/93: I - entre entes federados ou pessoas jurídicas a eles vinculadas; II - decorrentes de convênios e contratos celebrados com entidades filantrópicas e sem fins lucrativos nos termos do § 1o do art. 199 da Constituição Federal (serviços complementares ao SUS).. Procedimento de manifestação de interesse social (PMIS) A LF nº 13.019/14, em seu art. 18, estabeleceu um procedimento para a avaliação e a discussão de propostas de parcerias. . Essas propostas A OSCs, os movimentos sociais e os cidadãos podem apresentar propostas de projetos de mudança social à Administração Pública (AP) na forma de Procedimento de Manifestação de Interesse Social, ou PMIS. O PMIS deverá conter as seguintes informações: • Identificação do autor • Indicação do interesse público envolvido • Diagnóstico da realidade que se quer modificar, aprimorar ou desenvolver • Quando possível, indicação da viabilidade, dos custos, dos benefícios e dos prazos de execução A AP publica a proposta em seu site na internet e, se achar conveniente a execução do PMIS, deverá promover uma audiência para ouvir a opinião da sociedade sobre o tema. Os prazos e regras do PMIS são definidos em regulamento próprio pelos estados, municípios, União e Distrito Federal. É bom destacar que o envio de uma proposta no PMIS não garante a execução do projeto ou atividade proposto, nem tão pouco que a OSC ao enviar um PMIS irá firmar um termo (de fomento ou de colaboração) para realizá-lo. Em regra, as parcerias sugeridas em PMIS estão também sujeitas ao chamamento público. ATENÇÃO • A OSC que propôs ou participou do PMIS poderá participar do eventual chamamento público subsequente. • É proibido condicionar a realização de chamamento público ou a celebração de parceria à prévia realização de PMIS. As cinco etapas da parceria A LF nº 13.019/14 prevê que a parceria entre a Administração Pública (AP) e a OSC compreenda cinco etapas, conforme diagrama abaixo. Planejamento O planejamento da execução da parceria deve ser feito tanto pelas OSCs quanto pela AP. Um bom planejamento garante os resultados pactuados e uma boa execução das etapas posteriores. Seleção A etapa de seleção envolve a escolha das propostas de parceria por meio de chamamento público, que é uma medida de transparência e de incentivo à gestão pública democrática das parcerias. O chamamento público é regra e permite à AP conhecer um maior número de OSCs interessadas em parcerias. Formalização e execução Feita a seleção, a parceria é formalizada por meio da celebração e assinatura de um termo de colaboração/fomento ou acordo de cooperação. Começa então a execução dos trabalhos, conforme procedimentos, metas e prazos estabelecidos na etapa de planejamento. Monitoramento e avaliação Esta é uma etapa em que a AP irá avaliar a execução da parceria, por meio do gestor e da comissão de avaliação e monitoramento, abrangendo todo o período de execução da parceria. Em parcerias com duração acima de um ano, a AP poderá realizar, sempre que possível, pesquisa de satisfação com os beneficiários das ações da parceria. As parcerias também poderão ser fiscalizadas pelos conselhos de políticas públicas. Prestação de contas Em parcerias que durem mais de um ano, a prestação de contas se dará ao fim de cada exercício para fins de monitoramento do cumprimento das metas. Além das prestações de contas anuais, deve-se realizar uma prestação de contas final e global. A nova lei estabelece que a execução de uma política pública em parceria entre AP e OSCs deverá ser objeto de termo de fomento, de termo de colaboração ou de acordo de cooperação. Os convênios não poderão mais ser celebrados entre a Administração Pública e OSCs. Como ainda há muitos convênios em vigência, foram estabelecidas algumas regras de transição para lidar com eles. Veja abaixo como estes casos serão tratados. Transição de convênio para parceria As regras de transição devem ser esclarecidas no regulamento de cada ente federado. Recapitulando Nesta unidade, você recebeu muitas informações novas e importantes sobre as parcerias a serem celebradas de acordo com LF nº 13.019/14. Conheceuos atores envolvidos e os principais conceitos estabelecidos pela Lei. Compreendeu também os princípios jurídicos que orientam a LF nº 13.019/14, em que eles se aplicam e por que são importantes. Aprendeu que o processo de parceria estabelecido pela LF nº 13.019/14 é desenvolvido em cinco etapas: planejamento, seleção, formalização e execução, monitoramento e avaliação, e prestação de contas. Finalmente, inteirou-se sobre as regras de transição entre o sistema anterior de convênios e a nova lei de parcerias por meio de termos de colaboração e de fomento e de acordos de cooperação. A cada momento, você fica mais informado sobre a LF nº 13.019/14e mais apto a trabalhar com eficiência e eficácia para melhor atender a população alvo de políticas públicas objetos de termos de colaboração, termos de fomento e acordos de cooperação. Diagrama-resumo As etapas da realização das parcerias As parcerias se realizam em cinco grandes etapas, de modo geral: 1. Planejamento 2. Seleção 3. Formalização e execução 4. Monitoramento e avaliação 5. Prestação de contas Nesta unidade 3 trataremos das duas primeiras, quais sejam: planejamento e seleção. O planejamento O planejamento é a primeira etapa da parceria. Se o planejamento é essencial a todo e qualquer projeto, incluindo os de nossa vida pessoal, imagine então sua importância para as atividades ou projetos que envolvam recursos públicos. A ação de planejar nos dá a oportunidade de prever diversas situações que poderiam impedir o bom andamento do trabalho em parceria. É no planejamento que • detalhamos todas as ideias que queremos pôr em prática; • identificamos as leis e normas que devemos seguir para atender bem às políticas públicas visadas pela parceria; • identificamos os recursos que estão disponíveis e que outros recursos podemos e devemos buscar. O que a Administração Pública terá de fazer para bem planejar uma parceria? Os artigos 8º, 22 e 46 da LF nº 13.019/14 trazem tais definições, que estarão detalhadas a seguir. O planejamento pela Administração Pública Ao celebrar uma parceria, o órgão ou entidade da Administração Pública (AP) deve levar em conta sua capacidade técnica e operacional para cumprir as obrigações dela decorrentes, assumindo as responsabilidades que lhe cabem. Isso quer dizer que a AP deve providenciar servidores em número suficiente e com conhecimentos técnicos para a execução dos procedimentos. Além de capacitar tecnicamente os servidores, é preciso que a AP obtenha ou mobilize os recursos materiais e tecnológicos necessários aos trabalhos. É também muito importante que a entidade ou órgão da AP envolvido na parceria faça a designação de gestores habilitados a controlar e fiscalizar a sua execução em tempo hábil e de modo eficaz e também designe as comissões de seleção e de monitoramento e avaliação. O plano de trabalho Todo o planejamento deve ser registrado em um documento denominado “plano de trabalho”, contendo os seguintes elementos, conforme art. 22 da LF nº 13.019/14: • descrição da realidade que será objeto da parceria, devendo ser demonstrada a relação entre essa realidade e as atividades ou projetos e metas a serem atingidas; • descrição das metas a serem atingidas e das atividades ou projetos a serem executados; • previsão das receitas e das despesas a serem realizadas na execução das atividades ou dos projetos abrangidos pela parceria; • forma de execução das atividades ou dos projetos e de cumprimento das metas a eles atreladas; • definição dos parâmetros a serem utilizados para a verificação do cumprimento das metas. A previsão das despesas É muito importante que a Administração Pública (AP) faça uma boa previsão dos recursos já na fase do planejamento para não gerar atrasos nos repasses financeiros às OSCs, acarretando dificuldades para ambos os parceiros. Veja o que pode acontece se a AP atrasar os repasses: - Se a AP atrasar um repasse de recursos financeiros à OSC, ela não é obrigada a quitar as despesas da parceria com recursos próprios. - Se o atraso do repasse pela AP causar inadimplência da OSC, a AP não poderá restringir a liberação de parcelas subsequentes. Veja na coluna ao lado as principais despesas que podem ser pagas com recursos da parceria. Exemplos de despesas • Remuneração da equipe encarregada da execução do plano de trabalho, inclusive de pessoal próprio da OSC durante a vigência da parceria, incluindo encargos sociais e trabalhistas. • Diárias para deslocamento, hospedagem e alimentação. • Aquisição de equipamentos e materiais permanentes e contratação de serviços de adequação de espaço físico, desde que necessários à instalação dos referidos equipamentos e materiais. Atenção: As despesas da OSC com remuneração da equipe contratada pela OSC com recursos da parceria não geram vínculo trabalhista com o Poder Público. Dispensa ou inexigibilidade de chamamento público Lembramos que é na etapa de planejamento que são definidas as condições que podem levar à dispensa ou inexigibilidade de chamamento público. Os Instrumentos de parceria A LF 13.019/2014 instituiu três instrumentos jurídicos de parceria, que são os tipos de pactos firmados entre a Administração Pública (AP) e as OSCs. São eles: termo de colaboração; termo de fomento; acordo de cooperação. Veja abaixo uma pequena descrição de cada um deles. Instrumentos de parceria • Termo de colaboração – Parcerias com finalidades propostas pela AP, que envolvem a transferência de recursos financeiros. • Termo de fomento – Parcerias com finalidades propostas pela OSC, que envolvem a transferência de recursos financeiros. • Acordo de cooperação - Parcerias que não envolvem a transferência de recursos financeiros. A seguir, veremos as diferenças entre os termos de colaboração e de fomento, que são os dois instrumentos de parceria que envolvem transferência de recursos financeiros. Fomento x Colaboração Vimos na seção anterior os três instrumentos jurídicos que consolidam os três tipos de parcerias que podem acontecer entre a Administração Pública (AP) e as OSCs: acordo de cooperação, termo de fomento e termo de colaboração. Desses três, os que mais trazem dúvidas em sua operacionalização são os termos fomento e de colaboração, pois envolvem a transferência de recursos financeiros. O quadro a seguir mostra as diferenças de implementação entre eles. CARACTERÍSTICAS FOMENTO COLABORAÇÃO Papel da AP Incentiva e reconhece ações de interesse público desenvolvidas pelas organizações da sociedade civil, via de regra, por meio de chamamento público. Atua em colaboração com as OSCs que executarão políticas públicas propostas, em regra por meio de chamamento público. Forma de apresentação de proposta técnica/plano de trabalho Por meio do chamamento público, salvo exceções, as OSCs poderão propor à AP atividades ou projetos a serem executados, conforme as características da própria organização. Por meio do chamamento público, salvo exceções, a AP elabora um edital com condições a serem cumpridas pelas OSCs conforme suas características. Responsável pela concepção OSCs AP Vantagens O fomento às iniciativas das OSCs amplia a participação social das destas organizações na gestão pública democrática, uma vez que apoia propostas que inovam a ação do Estado, amplia o alcance de ações de interesse público desenvolvidas ou criadas pelas OSCs, e estimula novas tecnologias sociais. Assegura maior autonomia das OSCs. A colaboração de OSCs em iniciativas da AP amplia a participação social dessas organizações na gestão pública democrática, porque compartilha a gestão dos resultadosa serem alcançados e aproxima a demanda local das políticas públicas. Exemplos de parceria em cada modalidade Fomento a atividades culturais. Atuação da OSC em Programa de Proteção a Vítimas Ameaçadas. Considerações finais sobre as parcerias Seguem algumas considerações de relevância sobre as parcerias e os instrumentos jurídicos que as regem. 1. Para que tenham validade, o termo de fomento, o termo de colaboração e o acordo de cooperação deverão ser publicados pela Administração Pública (AP) em formato de extrato, no meio oficial de divulgação (jornal oficial). 2. A legislação proíbe a celebração de parcerias que envolvam a delegação das funções de regulação, de fiscalização, de exercício do poder de polícia ou de outras atividades que são exclusivas do Estado. 3. A LF nº 13.019/14 trata com detalhes dos termos de fomento e de colaboração, porém, não é muito esclarecedora quanto a vários aspectos do acordo de cooperação. Em vista disso, é muito importante ficarmos atentos aos decretos que irão regulamentar a nova lei nos entes da federação, para que possamos saber com precisão o que caberá ou não nos acordos de cooperação. 4. Os regulamentos de cada ente federado devem detalhar os procedimentos para correta aplicação da LF nº 13.019/14. Exigências para a celebração de parcerias Na Seção X da LF nº 13.019/14, são descritos os requisitos para que as OSCs possam celebrar parcerias com a Administração Pública. Você encontrará essas condições nos artigos 33 a 38. Abaixo, relacionamos alguns pontos importantes da referida seção, que merecem sua atenção. • Todas as OSCs, exceto as sociedades religiosas e as cooperativas, devem ter o objetivo social (expresso em seus estatutos ou regimentos internos) de promover atividades e finalidades de relevância pública e social. • As normas de constituição/estatuto/regimento interno das OSCs, com exceção das entidades religiosas e sociedades cooperativas, devem prever que, caso a organização seja extinta, seu patrimônio líquido seja transferido a outra pessoa jurídica de mesma natureza e objetivo social e que preencha os requisitos da LF nº 13.019/14. • As normas de constituição/estatuto/regimento interno das OSCs devem prever sua escrituração contábil seguindo os princípios fundamentais das Normas Brasileiras de Contabilidade. • A OSC deve possuir instalações, condições materiais e capacidade técnica e operacional para o desenvolvimento dos trabalhos da parceria, não sendo necessário, porém, comprovar previamente tais condições. Além disso, para ser considerada apta a firmar parcerias com os entes da federação, a OSC deverá possuir cadastro ativo (CNPJ) na Secretaria da Receita Federal do Brasil e cumprir requisitos relativos a tempos mínimos de existência conforme quadro abaixo: Parceiro Tempo mínimo de existência União 3 anos Estados 2 anos Municípios 1 ano É possível que a AP reduza esses tempos se, entre as OSCs que se interessarem pela parceria em questão, não houver nenhuma organização que já os tenha atingido. Impedimentos à celebração da parceria Ficará impedida de celebrar com a Administração Pública (AP) a OSC que: - não estiver regularmente constituída (com CNPJ, registro em cartório e documentação ou autorizações referentes a seu objetivo social); - sendo estrangeira, não tenha autorização para funcionar no território nacional; - não tenha prestado contas de parceria anterior; - tenha, entre seus diretores, membro de algum dos Três Poderes ou Ministério Público, dirigente de órgão ou entidade da AP na esfera governamental da parceria ou cônjuges parentes desses dirigentes até o segundo grau; - tenha tido as contas rejeitadas pela AP nos últimos cinco anos, a não ser que a OSC esteja contestando a rejeição em recurso com efeito suspensivo, ou que a OSC consiga sanar as irregularidades ou obter uma revisão que reverta a sua rejeição; - tenha sido punida com alguma sanção das previstas no art. 39, inciso V (veja coluna à direita); - tenha entre seus dirigentes uma pessoa: • cujas contas relativas a parcerias tenham sido julgadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal ou Conselho de Contas em decisão irrecorrível, nos últimos oito anos; • julgada responsável por falta grave e considerada inabilitada para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, enquanto durar a inabilitação. Sanções e Penalidades que impedem a celebração de parcerias (Art. 39, nº LF 13.019/14) Suspensão de participação em licitação e impedimento de contratar com a administração; Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a AP; Suspensão temporária da participação em chamamento público; Impedimento de celebrar parceria ou contrato com órgãos e entidades da esfera de governo da AP que aplicou a penalidade, por prazo não superior a dois anos; Declaração de inidoneidade para participar de chamamento público ou celebrar parceria ou contrato com a AP em todas as esferas de governo, enquanto perdurarem os motivos para a punição ou até que a OSC regularize sua situação, ressarcindo a AP pelos prejuízos e decorrido o prazo da sanção, que é de até dois anos. Impedimentos à celebração de parceria Quando a OSC apresentar qualquer dos impedimentos acima ela estará impossibilitada de celebrar qualquer das parcerias, inclusive de receber recurso de uma parceria que já estiver em andamento, exceto para os casos em que o objeto da parceria for um serviço essencial. Para esse último caso, o dirigente máximo do órgão (Secretário) ou entidade da Administração Pública (Diretor-Geral ou Presidente) deverá autorizar o repasse a essa entidade “irregular” e justificar essa autorização. Caso contrário, o dirigente será acusado de responsabilidade solidária a OSC. Parcelamento de débito de ressarcimento Em qualquer das condições que impedem a OSC de celebrar parceria com a AP o impedimento persiste enquanto não houver o ressarcimento dos prejuízos causados pela OSC ou por seu dirigente. Não serão considerados débitos que decorram de atrasos na liberação de repasses pela AP ou que tenham sido objeto de parcelamento, se a OSC estiver em situação regular quanto ao parcelamento. Providências que a AP deve tomar A celebração e a formalização da parceria dependerão da adoção das seguintes providências pela Administração Pública (AP): • indicação de dotação orçamentária para execução da parceria; • demonstração de que os objetivos e finalidades institucionais e a capacidade técnica e operacional da OSC foram avaliados e são compatíveis com o objeto; • aprovação do plano de trabalho; • emissão de parecer de órgão técnico da AP sobre: • o mérito da proposta, em conformidade com a modalidade de parceria adotada; • a identidade e da reciprocidade de interesse das partes na realização, em mútua cooperação, da parceria; • a viabilidade da execução; • o cronograma de desembolso; • a descrição dos meios disponíveis para a fiscalização da execução da parceria e dos procedimentos de avaliação da execução física e financeira; • a designação do gestor da parceria; • a designação da comissão de monitoramento e avaliação. • obtenção de parecer jurídico do órgão de assessoria ou consultoria jurídica AP acerca da possibilidade de celebração da parceria. Caso os pareceres técnico ou jurídico concluam pela possibilidade de celebração de parceria com ressalvas, o dirigente máximo do órgão ou entidade pública (ou outra pessoa por ele autorizada) deverá corrigir os aspectos ressalvados(*) ou justificar formalmente a preservação desses aspectos ou sua exclusão. (*)A LF nº 13.019/14 não traz nenhuma explicação de como o administrador público irá resolver essas ressalvas.A Seleção A nova lei exige que a Administração Pública (AP) use determinados procedimentos e critérios para escolher as OSCs com as quais irá celebrar parcerias. Vimos na seção anterior (Exigências para as parcerias) alguns dos principais requisitos que as OSCs devem preencher, e que estão elencados nos artigos 33 a 38 da lei e as vedações previstas no art. 39. O processo de seleção das OSCs pela AP se desenvolve em cinco fases distintas, quais sejam: • Elaboração e publicação do edital • Análise das propostas • Homologação e divulgação dos resultados • Documentação e situação • Elaboração dos planos de trabalho Na seção seguinte explicaremos essas fases como mais detalhes. Passo a passo A AP analisa as propostas encaminhadas pelas OSCs, verificando, principalmente, se estão adequadas aos objetivos específicos do programa ou da ação que deseja desenvolver em parceria. Uma outra questão importante a ser verificada pela AP é se as o valor financeiro das propostas está dentro do valor de referência estabelecido no chamamento público. Depois de analisar as propostas recebidas, a AP homologa e divulga o resultado da análise e a classificação das OSCs em sua página oficial de internet. Chamamento público A LF nº 13.019/14 trouxe uma novidade ao processo de celebração de parcerias entre Administração Pública (AP) e OSCs: o chamamento público. Esse é o nome que se dá ao procedimento usado pela AP para divulgar e convocar OSCs para a apresentação de propostas de parceria, quer seja do tipo termo de colaboração, quer seja do tipo termo de fomento ou mesmo de acordo de cooperação com compartilhamento de recurso patrimonial. Trata-se de um procedimento formal, público e transparente, destinado a promover uma escolha justa. O conceito de chamamento público consta no inciso XII, do art.2º, da LF nº 13.019/14. O chamamento público é feito por meio de um edital, que contém uma descrição clara dos objetivos da parceria e procedimentos a serem seguidos pelas OSCs interessadas. O edital deve ser divulgado na página oficial do órgão ou entidade pública, pelo menos 30 dias antes do fim do prazo de entrega das propostas. Veja abaixo algumas das informações que a AP deve incluir no edital de chamamento público. Informações do edital • Objeto da parceria • Metas a serem alcançadas • Custos • Indicadores de avaliação de resultados (quantitativos e qualitativos) • Identificação da programação orçamentária que autoriza a parceria e valor previsto • Informações sobre como apresentar as propostas (datas, prazos, local, etc.) • Critérios de julgamento das propostas • Minuta do termo de fomento/colaboração, ou do acordo de cooperação a ser assinado. A AP analisará as propostas encaminhadas pelas OSCs, verificando, principalmente, se estão adequadas aos objetivos específicos do programa ou da ação que deseja desenvolver em parceria. É importante que a AP verifique se o valor financeiro das propostas está dentro do valor de referência ou teto estabelecido no chamamento público. O regulamento de cada ente federado deve prever os procedimentos e prazos de apresentação de propostas, julgamento, apresentação e apreciação de recursos, homologação e notificação para celebração. ATENÇÃO • A AP só poderá exigir contrapartida com relação a bens ou serviços, caso em que seu valor deve ser compatível com os preços vigentes no mercado. (veja artigo. 35, parágrafo 1°.) • A AP divulgará o resultado do processo de seleção, depois da homologação, em sua página de internet. Chamamento público: competição justa e inclusiva O edital do chamamento público não pode conter cláusulas ou condições que limite o caráter competitivo do processo de seleção. A menos que essas exigências sejam previstas em lei e/ou relacionadas a questões de ordem territorial ou setorial, conforme o artigo 24, parágrafo 2°, incisos I e II, da LF nº 13.019/14, que reproduzimos abaixo: Artigo 24 (...) § 2o É vedado admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo em decorrência de qualquer circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto da parceria, admitidos: I - a seleção de propostas apresentadas exclusivamente por concorrentes sediados ou com representação atuante e reconhecida na unidade da Federação onde será executado o objeto da parceria; II - o estabelecimento de cláusula que delimite o território ou a abrangência da prestação de atividades ou da execução de projetos, conforme estabelecido nas políticas setoriais. Conforme o objeto da parceria, o edital de chamamento público deverá determinar medidas de acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e idosos. A garantia de acessibilidade a esses públicos está prevista em normas e legislações específicas, a saber: Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (promulgada pelo Decreto Federal n° 6.949/2009) e Lei Brasileira de Inclusão (Lei Federal nº 13.146/2016). Chamamento público: dispensa Há casos e situações em que não há necessidade ou é dispensada a realização de chamamento público (CP). As parcerias que envolvem recursos de emendas parlamentares estão entre esses casos. Outras situações de dispensa: ♦ Urgência: No caso de urgência decorrente de paralisação ou iminência de paralisação de atividades de relevante interesse público, pelo prazo de até 180 dias. ♦ Guerra/Calamidade: Nos casos de guerra, calamidade pública grave perturbação da ordem pública ou ameaça à paz social. ♦ Programa de proteção: Quando se tratar da realização de programa de proteção a pessoas ameaçadas ou em situação que possa comprometer a sua segurança. ♦ Educação, saúde e assistência: No caso de atividades voltadas ou vinculadas a serviços de educação, saúde, assistência social, desde que executadas por organizações da sociedade civil previamente credenciadas pelo órgão gestor da respectiva política. A LF nº 13.019/2014, em seu art. 29 não dispensa de Chamamento Público os acordos de cooperação cujos objetos sejam a celebração de comodato, a doação de bens ou qualquer outra forma de compartilhamento de patrimônio. Justificando a dispensa de chamamento público Para justificar a dispensa de chamamento público para os serviços de educação, saúde e assistência social, a AP deverá promover credenciamento prévio das OSCs. Chamamento público: inexigibilidade A não exigência, ou inexigibilidade, de Chamamento Público ocorre quando não há possibilidade de competição entre as OSCs devido ao objeto da parceria ser muito singular - único e específico - ou em razão do fato de as metas só poderem ser atingidas por uma organização específica, como nos seguintes casos: • Se o objeto da parceria já estiver previsto em acordo, ato ou compromisso internacional, com a indicação de quais organizações usarão os recursos; • Se a parceria envolver transferência de recursos para uma determinada OSC, inclusive subvenções sociais destinadas a instituições sem fins lucrativos de caráter assistencial (Lei Federal nº 4.320/1964). Observe que a transferência de recursos públicos para o setor privado deve ser autorizada em lei específica.(Ver art. 26 da Lei Complementar Federal nº 101/2000). ATENÇÃO • A Administração Pública deve publicar uma justificativa para a dispensa ou inexigibilidade de chamamento público na data da formalização da parceria. • As organizações e outros interessados têm o prazo de cinco dias, a contar da publicação, para pedir a anulação, ou impugnação, da justificativa. • Se for procedente a impugnação, a Administração Pública deverá realizar o chamamento público.VerLF nº 13.019/14, artigo 32. Comissão de seleção Para dar andamento ao processo de seleção das propostas, a Administração Pública (AP) precisa estabelecer uma comissão de seleção, que deve ser constituída de pelo menos um servidor ocupante de cargo efetivo ou de emprego permanente do seu quadro de pessoal, conforme art.2° da LF nº 13.019/14. O ato administrativo que cria a comissão deve ser publicado. As propostas apresentadas pelas OSCs serão avaliadas pela Comissão de Seleção ou pelo conselho gestor, caso o projeto ou atividade seja financiado por algum fundo específico. ATENÇÃO • Será impedida de participar da comissão de seleção pessoa que, nos últimos cinco anos, tenha mantido relação jurídica com ao menos uma das entidades participantes do chamamento público, devendo ser designado um substituto igualmente qualificado. O regulamento deve esclarecer o que seria “relação jurídica”. • A comissão de seleção deverá, obrigatoriamente, justificar a seleção de proposta que não for a mais adequada ao valor de referência constante do chamamento público. • A homologação do resultado não gera, automaticamente, para a OSC selecionada o direito à celebração da parceria. Documentações necessárias Depois de realizada a seleção, a AP deve convocar as OSCs, em ordem de classificação, para que elas apresentem suas documentações comprovando que possuem os requisitos previstos nos art. 33, 34 e 39 da LF nº 13.019/14. Documentação obrigatória das OSCs Veja abaixo a lista dos documentos que a OSC deve apresentar. a. Certidões de regularidade fiscal, previdenciária, tributária, de contribuições e de dívida ativa, de acordo com a legislação aplicável de cada ente federado; b. Certidão de existência jurídica expedida pelo cartório de registro civil ou cópia do estatuto registrado e de eventuais alterações ou, tratando-se de sociedade cooperativa, certidão simplificada emitida por junta comercial; c. Cópia da ata de eleição do quadro dirigente atual; d. Relação nominal atualizada dos dirigentes da entidade, com endereço, número e órgão expedidor da carteira de identidade e número de registro no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) de cada um deles; e. Comprovação de que a OSC funciona no endereço por ela declarado; f. Outros documentos solicitados no regulamento de cada ente federado. Recapitulando Nesta unidade 3, vimos a importância de um bom planejamento para que a Administração Pública, em parceria com a OSC, consiga levar ao beneficiário da política pública, os resultados pactuados. Na etapa de planejamento é possível identificar os obstáculos às ações e as soluções para as dificuldades que surgirem, sejam elas restrições orçamentárias, número insuficiente de servidores públicos ou tecnologia indisponível. Saber das dificuldades com antecedência ajuda a Administração Pública a providenciar tempestivamente soluções para os problemas. Não só a Administração Pública mas também as OSCs devem se planejar. A LF nº 13.019/14 traz uma série de inovações, algumas muito necessárias no âmbito de alterações dos estatutos das entidades, que, se não forem revistos a tempo, podem fazer com que algumas OSCs não consigam sequer participar de um chamamento público. Recomenda-se muita atenção ao período de planejamento, cuidando para que todas as ações, recursos materiais e humanos e despesas necessárias à plena execução da parceria estejam descritas no plano de trabalho. Na etapa de seleção, vimos os novos instrumentos jurídicos trazidos pela LF nº 13.019/14 e a obrigatoriedade do chamamento público, com suas exceções relativas a emendas parlamentares e casos de dispensa e inexigibilidade. Finalizamos mencionando a documentação necessária à celebração das parcerias, bem como os impedimentos para sua concretização. Diagrama-resumo Instrumentos jurídicos de formalização e procedimentos de execução Terminada a etapa 3, em que se faz a seleção das propostas por meio de chamamento público, entramos na etapa de formalização da parceria e sua execução. Já sabemos que os tipos de parceria possíveis na LF nº 13.019/14 são fomento, colaboração e cooperação, cada uma formalizada por meio de seu respectivo instrumento jurídico, a saber: termo de fomento, termo de colaboração e acordo de cooperação. Nesta unidade 4, trataremos dos requisitos e exigências para a formalização e execução da parceria, respondendo ainda às seguintes dúvidas que algumas pessoas têm sobre o assunto: É importante lembrar que a elaboração e a execução desses dois instrumentos jurídicos obedecem a mesma legislação. A diferença entre essas duas formas de parceria, como vimos na Unidade 3: Planejamento e Procedimentos de Seleção, está no papel desempenhado pela Administração Pública (AP) em cada uma e na responsabilidade pela concepção do objeto. Reveja o quadro comparativo da seção Fomento x Colaboração, da Unidade 3: Planejamento e procedimentos de seleção. Cláusulas essenciais das parcerias O art. 42 da LF nº 13.019/14 lista 16 cláusulas essenciais e um anexo, que devem constar dos instrumentos jurídicos (termos de fomento ou de colaboração e acordos de cooperação), que relacionamos resumidamente no quadro abaixo. O inciso correspondente é indicado na segunda coluna, a cor azul indica que o elemento destacado deve constar do instrumento jurídico "quando couber", ou seja, se a natureza da parceria assim o exigir. Cláusula Localizaçã o no artigo 42 Dispositivos correlacionados/ Observações Descrição do objeto da parceria (o que será feito) Inciso I Definição das obrigações das partes (quem faz o quê) Inciso II Valor total da parceria e cronograma de desembolso Inciso III Contrapartida oferecida pela OSC Inciso V Art. 35, §1º Período de duração da parceria (vigência) e casos em que pode ser prorrogada Inciso VI Em no mínimo 30 dias antes do fim da vigência, a OSC pode pedir à AP a prorrogação da vigência da parceria, formalizando e justificando seu pedido. A AP pode prorrogar a vigência unilateralmente (prorrogação "de ofício) quando ela for responsável por atraso na liberação de recursos. O tempo de prorrogação deve corresponder ao tempo do atraso nos repasse. (Art. 55) Obrigatoriedade da OSC de prestar contas (prazos e metodologia) Inciso VII Art. 69, §1° Forma de monitoramento e avaliação, recursos humanos e tecnológicos necessários e da participação de apoio técnico Inciso VIII Art. 58, §1° Art. 59, §2° Obrigatoriedade de a OSC devolver recursos, nos casos previstos. Inciso IX Art. 72, §2° Definição de com quem ficarão os bens e direitos adquiridos com os recursos públicos da parceria que restarem depois que ela for concluída ou mesmo extinta. Inciso X Art. 36, Parágrafo único (Continuação do quadro) Cláusula Localizaçãono artigo 42 Dispositivos correlacionados/ Observações Atribuição à Administração Pública da prerrogativa de assumir ou transferir a responsabilidade pela execução em caso de paralisação Inciso XII Art. 62, inciso II Obrigatoriedade da OSC de manter e movimentar os recursos em conta bancária específica Inciso XIV Garantia de livre acesso aos documentos e informações e aos locais de execução da parceria Inciso XV Direito dos parceiros de rescindir o termo ou acordo a qualquer tempo, com indicação das condições e Inciso XVI O prazo de antecedência para que a OSC ou a Administração Pública comuniquem a intenção de rescindir o termo ou acordo de parceria deve ser de penalidades. no mínimo 60 dias. Indicação do local (foro) para resolver dúvidasou divergências entre os parceiros Inciso XVII Caso haja divergências entre agentes dos parceiros envolvidos na execução dos termos ou acordos, a lei recomenda que eles deem prioridade a tentativas de solução administrativa (não judicial) junto à assessoria jurídica da Administração Pública Atribuição à OSC de responsabilidade exclusiva pelo gerenciamento administrativo e financeiro dos recursos Inciso XIX Atribuição à OSC da responsabilidade exclusiva pelo pagamento dos encargos sociais e trabalhistas Inciso XX Os termos e acordos de parceria devem enfatizar que a Administração Pública não tem responsabilidade (chamada tecnicamente de responsabilidade "solidária" ou "subsidiária") de arcar com despesas de que deveriam ter sido pagas pela OSC. Plano de trabalho Parágrafoúnico O plano de trabalho deve constar como anexo. A lei permite que o plano possa ter metas e valores alterados por meio de um termo aditivo ou apostila. (Art. 57). O extrato do instrumento jurídico deve ser publicado em meio oficial, seguindo os prazos contidos no regulamento de cada ente federado. Recursos: liberação, movimentação e aplicação Os recursos públicos para a execução da parceria são liberados em parcelas segundo o cronograma de desembolso constante no termo de colaboração/fomento ou acordo de cooperação. O regulamento de cada ente pode prever requisitos adicionais. A Administração Pública irá reter parcelas se constatar que a OSC cometeu irregularidades na aplicação da parcela anterior, se a organização desviar recursos (desvio de finalidade) ou se deixar de cumprir obrigações previstas no termo ou acordo. Também haverá retenção de recursos se a OSC não adotar medidas recomendadas pelos órgãos fiscalizadores (controle interno, controle externo) para resolver alguma irregularidade constatada (art. 48). Os recursos serão liberados depois que a OSC resolver os problemas. Aplicação e movimentação Os recursos que a OSC recebe devem ser depositados em conta corrente específica, isenta de tarifa bancária, em uma instituição financeira pública determinada pela Administração Pública (AP). A OSC pode aplicar estes recursos no mercado financeiro, porém, os rendimentos devem ser investidos na execução da parceria e estão sujeitos à prestação de contas da mesma forma que os recursos recebidos. O regulamento de cada ente deve prever a forma de aplicação dos recursos da parceria no mercado financeiro. Depois da conclusão ou mesmo da extinção da parceria, a OSC deve devolver à AP os saldos de recursos não utilizados e de receitas de aplicação financeira no prazo de 30 dias (art. 52). Toda a movimentação dos recursos da parceria deve ser feita por meio de transferência eletrônica para as contas bancárias dos beneficiários, com depósitos identificados. Se em algumas situações não for possível usar este método de pagamento, o instrumento de parceria pode prever pagamentos em dinheiro ("em espécie"). (art. 53) ATENÇÃO A Administração Pública deverá divulgar na internet as informações sobre a liberação dos recursos referentes às parcerias para possibilitar o acompanhamento de todos os envolvidos na parceria e de todo e qualquer cidadão interessado. Recomendamos a leitura do art.11 da LF 13.019/2014 para maiores esclarecimentos sobre a publicidade da parceria. Atuação em rede É permitido que as OSCs desenvolvam e executem projetos em parceria umas com as outras. O art.35-A abre essa possibilidade de "trabalho em rede". A atuação em rede ocorre quando mais de uma organização, em conjunto, executa um único projeto ou atividade de parceria. Nesse tipo de atuação, a OSC celebrante ou signatária, aquela que assina o termo de fomento/colaboração ou acordo de cooperação, fica responsável pelo projeto ou atividade pactuado na parceria. A LF nº 13.019/14 estabelece que a OSC celebrante deverá possuir mais de cinco anos de inscrição no CNPJ. Para que ocorra o repasse de recurso entre a OSC celebrante e as não celebrantes, as OSCs assinarão um termo de atuação em rede. A AP deverá ser comunicada sobre a celebração desse termo em até 60 dias da assinatura. A celebrante será a responsável pela parceria com a AP e atuará como entidade supervisora, mobilizadora e orientadora das atividades desenvolvidas pelas outras OSCs da rede. Por isso é necessário que ela tenha capacidade técnica e operacional para realizar essas atividades. Recomendação de leitura As OSCs deverão estar adequadas à LF nº 13.019/14 para se tornarem parceiras da Administração Pública. Recomendamos a Leitura dos artigos 33, 34 e 39 da lei. Despesas A LF nº 13.019/14 embora não estabeleça um rol extenso de exemplificações sobre os gastos que poderão ser executados com o recurso da parceria, ela traz em seu art.46, alguns gastos listados abaixo: Cláusula Localização no art. 46 Remuneração da equipe encarregada da execução do plano de trabalho, bem como de seus encargos sociais e trabalhistas (férias, FGTS, férias, décimo terceiro salário, salários proporcionais, verbas rescisórias) Inciso I Diárias, hospedagens e alimentação Inciso II Custos indiretos necessários à execução do objeto (como por exemplo: internet, transporte, aluguel, telefone, consumo de água e luz e remuneração de serviços contábeis e de assessoria jurídica) Inciso III Aquisição de equipamentos e materiais permanentes essenciais à consecução do objeto Inciso IV Ponto para legislar! As vedações e permissões de despesas estabelecidas na LF 13.019/2014 não esgotam o assunto, cabendo aos demais entes da Administração Pública legislarem sobre esse assunto, inclusive sobre a permissão de pagamento de dirigentes das OSCs com recursos da parceria. Ponto para legislar! As vedações e permissões de despesas estabelecidas na LF 13.019/2014 não esgotam o assunto, cabendo aos demais entes da Administração Pública legislarem sobre esse assunto, inclusive sobre a permissão de pagamento de dirigentes das OSCs com recursos da parceria. É importante ressaltar que mesmo que a LF nº 13.019/14 permita o pagamento de pessoal com recurso da parceria, isso não irá acarretar vínculo trabalhista entre os empregados da OSC e a AP. Quanto às vedações de despesas, a Lei recomenda apenas o pagamento de custos relacionados ao objeto da parceria, além de alertar para a proibição de remuneração a servidores públicos (excetuando os casos previstos em lei específica e na lei de diretrizes orçamentárias). A LF nº 13.019/14 permite, ainda, o pagamento de custos indiretos (água, luz, telefone, internet, aluguel etc) necessários à execução do objeto e na proporção em que estiverem contribuído para a parceria. Recapitulando Nesta unidade 4, você pôde perceber como a etapa de planejamento está diretamente vinculada à de execução, pois aquilo que é executado deve ser exatamente o que é planejado. Por isso, recomenda-se muita atenção ao período de planejamento, cuidando para que todas as ações, recursos materiais e humanos e despesas necessárias à plena execução da parceria estejam descritas no plano de trabalho. Você viu também as inovações trazidas pela lei, destacadamente a possibilidade de remuneração de trabalhadores da OSC que vierem a atuar na execução das parcerias. Nesta unidade, você tomou conhecimento das cláusulas que devem constar nos instrumentos jurídicos de parceria - termos de colaboração e de fomento e acordos de cooperação e verificou a importância que o MROSC dá à publicidade das ações de execução das parcerias, como forma de dar o máximo possível de transparência aos processos, possibilitandoo acompanhamento pela sociedade e facilitando o trabalho dos agentes de controle interno e externo. Diagrama-resumo De olho na execução da parceria Para que um projeto ou atividade alcance os resultados esperados, é importante que os parceiros - OSCs e Administração Pública - façam o acompanhamento da sua execução. O acompanhamento consiste em monitorar o andamento dos trabalhos, para ver se tudo está saindo como planejado, e avaliar a execução para verificar se o planejado foi bem elaborado e realizar correções necessárias, para que, ao fim, as metas sejam atingidas com eficácia e eficiência nos processos. Ao final desta Unidade 5, você será capaz de refletir e responder aos seguintes questionamentos sobre esta quarta etapa do processo de execução das parcerias: Monitoramento e avaliação Para obter melhores resultados na execução de políticas públicas por meio das parcerias, a Administração Pública (AP) faz o monitoramento das atividades da parceria. Em outras palavras, a AP colhe informações sobre a execução dos trabalhos por meio de observações periódicas realizadas por um gestor, por ela designado. A lei admite que a AP recorra ao apoio técnico de terceiros e a parcerias como órgãos ou entidades locais (veja comentário na coluna ao lado). Monitoramento e avaliação por terceiros A Lei não deixa claro se essa parceria com terceiros atuará diretamente no monitoramento da parceria, ou se ela será apenas um ato complementar ao monitoramento. Também não fica claro qual instrumento será usado para estabelecer essa parceria no monitoramento. Esses são pontos que devem ser tratados nos decretos que regulamentarão a Lei nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios. Para o bom cumprimento desta etapa da parceria, é necessário que a AP forneça ao gestor ferramentas (recursos materiais e tecnológicos). Monitoramento e avaliação A coleta de informações e a análise vão compor o relatório técnico de monitoramento e avaliação, um documento que, segundo o art. 59, §1° da LF nº 13.019/14, deverá conter basicamente os seguintes elementos: • a descrição simples e resumida das metas e atividades definidas no plano de trabalho; • a avaliação das atividades realizadas, do cumprimento das metas e do desempenho da parceria com base nos indicadores; • os valores transferidos pela AP para a execução das atividades. Em casos específicos, o relatório deverá conter também os elementos abaixo indicados: • a análise dos documentos que comprovam as despesas e que foram apresentados pela OSC em sua prestação de contas, quando não for comprovado o alcance das metas e resultados; • a análise de auditorias em parcerias que tenham passado por fiscalização preventiva por agentes de controle interno e externo, com as conclusões e medidas que foram tomadas. Parcerias financiadas por fundos específicos Nos casos em que os recursos da parceria sejam provenientes de fundos específicos, o acompanhamento deverá ser realizado pelo conselho gestor do fundo, respeitando também as normas específicas do fundo. Em parcerias com duração superior a um ano, a AP pode usar como instrumento de avaliação as pesquisas de satisfação com os beneficiários do projeto ou atividade. Nessa avaliação, os pesquisados dão sua opinião sobre o atendimento que receberam da OSC. Os resultados coletados devem constar no relatório de monitoramento e avaliação. O relatório de monitoramento e avaliação deverá ser encaminhado, para homologação, à comissão de monitoramento e avaliação sobre a qual falaremos um pouco na próxima seção. O regulamento de cada ente federado deverá esclarecer o conteúdo do relatório de monitoramento e avaliação e os prazos para sua emissão. Comissão de monitoramento e avaliação A comissão de monitoramento e avaliação é um órgão, instituído pela Administração Pública (AP) por meio de ato publicado em meio oficial de comunicação. Cabe a ela monitorar e avaliar as parcerias. Este órgão é composto por agentes públicos (sendo no mínimo um desses servidor público de cargo efetivo ou empregado permanente da AP), todos com poderes iguais. Estão impedidos de participar da comissão de monitoramento e avaliação todos aqueles indivíduos que tiveram relações jurídicas com a OSC parceira nos últimos cinco anos. Mais uma questão de regulamentação A Lei não estabelece qual o número de integrantes da comissão de monitoramento e avaliação, nem que critérios serão utilizados em caso de empate nas votações de decisões. Este é mais um ponto a ser regulamentado posteriormente. O regulamento também deverá esclarecer o que seria “relação jurídica” para impedimento, a frequência de reuniões da comissão e suas competências. O gestor da parceria O gestor da parceria é um agente público designado pela Administração Pública (AP) em ato administrativo publicado em meio oficial de comunicação. Ele tem a tarefa de, em nome da AP, fiscalizar e controlar a parceria de modo eficaz e oportuno. Não poderão se tornar gestores aqueles agentes que tenham tido alguma relação jurídica ou vínculos de obrigação, como, por exemplo, contrato de trabalho ou de fornecimento de bens ou serviços - com a OSC parceira nos últimos cinco anos. Se isso for constatado, a AP deve nomear outro gestor. A substituição do gestor também deve ocorrer no caso de transferência ou desligamento do agente público responsável por monitorar a parceria. Enquanto essa substituição não ocorrer efetivamente, o administrador público assumirá as responsabilidades. Durante o monitoramento da parceria, o gestor tem por dever comunicar a seu superior, de preferência, formal e expressamente, qualquer acontecimento que comprometa ou possa comprometer o desempenho da parceria, para que possam solucionar os problemas a tempo. Caso a parceria não esteja sendo executada por culpa exclusiva da OSC parceira, a Administração Pública poderá intervir, adotando as seguintes medidas: • Reavendo os bens públicos de posse da OSC (ação válida para qualquer tipo de modalidade ou título de concessão de direitos); • Assumindo a execução das atividades necessárias à conclusão do objeto da parceria; Cabe também ao gestor a obrigação de elaborar um parecer conclusivo para a prestação de contas. Esse parecer deverá tomar como base os relatórios de monitoramento e avaliação que foram emitidos ao longo da parceria. Recapitulando Esta Unidade 5 tratou da etapa de monitoramento e avaliação, em que o gestor designado pela Administração Pública exerce a importante tarefa de acompanhar e fiscalizar a execução da parceria, podendo receber auxílio de terceiros. Nessa etapa da execução, as informações sobre o andamento dos trabalhos são coletadas e apresentadas no relatório de monitoramento e avaliação, que será analisado e homologado pela comissão de monitoramento e avaliação. É importante recordar que cabe ao gestor alertar a seu superior sobre ocorrências na execução que prejudiquem ou venham a prejudicar o bom andamento dos trabalhos e o cumprimento das metas constantes do plano de trabalho. Diagrama-resumo O que há de novo A prestação de contas nas parcerias ganharam um novo sentido em relação à visão tradicional que se tinha desses procedimentos no âmbito dos convênios. Nos convênios, as prestações de contas tinham foco em como os gastos eram feitos, por exemplo: se houve procedimento análogo à licitação para adquirir produtos ou serviços, se o pagamento das despesas foi feito em cheque ou por meio de transferência bancária, etc... A partir da LF nº 13.019/14, a análise das contas se concentra nos resultados obtidos com a parceria. Esta últimaunidade de seu curso se destina a responder às seguintes dúvidas: Procedimento e prazo para a prestação de contas A LF nº 13.019/14, em seu art. 2°., inciso XIV, descreve a prestação de contas como um procedimento no qual os resultados da parceria são apresentados pela OSC à Administração Pública, que as analisa e avalia, verificando se o objeto da parceria foi cumprido e se as metas e os resultados previstos foram alcançados. As OSCs devem repassar ao gestor público da parceria, informações que lhe permitam avaliar o andamento da parceria, verificando se o objeto foi executado conforme descrito no plano de trabalho. Essas informações deverão ser apresentadas geralmente no prazo de até 90 dias a partir da data de término da parceria ou ao final de cada ano de vigência da parceria, se a duração da parceria for superior a um ano (Art. 69, LF nº 13.019/14). A AP poderá prorrogar o prazo por 30 dias, se a OSC não conseguir cumpri- lo, porém, é preciso que esta apresente uma justificativa bem fundamentada para ser aprovada pela AP. Fique de olho no plano de trabalho Dependendo da complexidade do objeto, o prazo para prestação de contas pode ser menor que 90 dias. Nesse caso, esta informação estará disponível no instrumento de parceria. Documentos que comprovam a execução da parceria As informações da prestação de contas deverão estar disponíveis em meio eletrônico, de modo a permitir que qualquer cidadão possa ter acesso a esses dados. A União disponibilizará o SICONV para estados, Distrito Federal e municípios, caso eles não tenham seus próprios sistemas. A Lei também permite que seja feita a prestação de contas por meio de documentos físicos, como no caso de municípios com até cem mil habitantes, ou até que haja sistemas eletrônicos para essa finalidade. Os tipos e quantidades de documentos necessários podem depender do valor da parceria. Parcerias de alto valor poderão ter prestações de contas mais rigorosas do que parcerias com valores mais baixos. As informações sobre os documentos necessários devem constar no plano de trabalho do termo de colaboração ou de fomento ou acordo de cooperação. A OSC deverá apresentar também os seguintes relatórios: • relatório de execução do objeto, descrevendo o que foi feito e comparando as metas estabelecidas com as alcançadas; • relatório de execução financeira, descrevendo as despesas e receitas realizadas e sua vinculação com a execução do objeto, na hipótese de descumprimento de metas e resultados estabelecidos no plano de trabalho. O regulamento de cada ente pode demandar a apresentação desse relatório em outras situações, mas é essencial respeitar o “espírito da lei” de foco nos resultados. A Administração Pública terá um prazo de 150 dias, para concluir a análise da documentação, contados a partir da data de seu recebimento ou do cumprimento de diligência determinada pela AP, podendo ser prorrogado por igual período, desde que justificado. A partir da análise dos documentos, o gestor deverá emitir um parecer técnico contendo os seguintes itens: • resultados alcançados e seus benefícios; • impactos econômicos e sociais; • satisfação do público-alvo, quanto aos resultados da parceria (caso tenha sido feita a pesquisa de satisfação); • possibilidade de continuidade da política pública. Se os resultados da parceria estiverem aquém do acordado, a AP também analisará a documentação financeira da OSC parceira, para esclarecer a relação entre as despesas e a receita. O julgamento da prestação de contas As prestações de contas analisadas pela Administração Pública são assim julgadas: • Aprovadas: Parcerias sem irregularidades, cujas metas e objetivos foram cumpridos. • Aprovadas com ressalvas: Parceria com alguma irregularidade não relacionada a desvio de recurso público. • Rejeitadas: Parceria com irregularidade grave, como a não apresentação da prestação de contas, descumprimento de meta ou objetivo, desvio de recurso público ou seu uso de forma não econômica. Nos casos em que a prestação de contas for aprovada com ressalva ou rejeitada, ou em que não houver apresentação da documentação, a AP notificará a OSC parceira para que ela regularize os problemas apontados em um prazo de 45 dias, prorrogável por igual período, no máximo. Os dias de prorrogação serão descontados do prazo que a AP tem para fazer a análise e conclusão do processo. ATENÇÃO Mesmo que a prestação de contas tenha sido aprovada, é obrigatório que a OSC mantenha arquivados os documentos originais da prestação de contas por no mínimo dez anos. Responsabilidades e sanções Vimos na seção anterior que a OSC tem um prazo de 45 dias, que pode ser prorrogado por, no máximo, outros 45 dias, para resolver as irregularidades em sua prestação de contas. Se nesse período a OSC não conseguir corrigir os problemas apontados, a Administração Pública (AP) deverá investigar os fatos, encontrar os responsáveis e realizar procedimento para a restituição dos valores que digam respeito a despesas irregulares e não justificada. As prestações de contas parciais também não escapam das sanções, podendo sofrer processo de tomada de contas especial. Quanto aos valores a serem restituídos, a OSC parceira poderá pedir que a devolução ocorra na forma de serviços, previstos em um novo plano de trabalho. É importante ressaltar que essa possibilidade não é válida nos casos de devolução integral do recurso da parceria, ou na constatação de fraudes ou descumprimento da lei, por desconhecimento ou por má-fé. Quando, porém, for comprovado que as irregularidades não foram causadas de forma intencional, não serão cobrados juros e atualizações monetárias dos valores a serem devolvidos no período entre a data máxima em que a análise da prestação de contas deveria ter sido finalizada e a data real de conclusão. Comentário e dica Embora a LF nº 13.019/14 crie a possibilidade de a OSC pedir que a restituição dos recursos aplicados irregularmente seja feita na forma de serviços, ela não determinou quem irá decidir sobre essa troca e tão pouco deixa claro se é possível negar esse pedido. Esse é mais um ponto a ser regulamentado por cada ente federado. A lei, em seu artigo 63, §1°, obriga a Administração Pública a fornecer manuais para orientar as OSCs parceiras na prestação de contas. Exija o seu manual no ato da celebração da parceria! ATENÇÃO • O administrador público é o responsável pelo julgamento da prestação de contas, e sua aprovação deve se basear em pareceres técnicos, financeiros e jurídicos. Ele também pode ser responsabilizado se deixar de analisar a prestação de contas. • O administrador público pode delegar a seus subordinados diretos a análise e julgamento das contas, sendo proibido a estes delegá-las a terceiros (subdelegação). Art. 72, §1°. da LF nº 13.019/14 Responsabilidades e sanções (2) As parcerias que tiverem execução abaixo do acordado no plano de trabalho e/ou infração de alguma norma estabelecida pela LF nº 13.019/14 serão advertidas do fato pela Administração Pública (AP), tendo as OSCs direito a defesa. Os ministros de Estados e secretários estaduais, distritais e municipais poderão aplicar as seguintes penalidades: • impedir a OSC, por um período máximo de dois anos, de realizar parcerias e contratos ou participar de chamamentos públicos com órgãos da mesma esfera de governo (União, município, estado ou Distrito Federal) que o parceiro público que a penalizou (veja exemplo no final da página); • declarar que a OSC é inapta para participar de chamamento público, celebrar parceria ou contrato com órgãos e entidades de todas
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