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Direito Penal l

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Introdução:
O Direito Penal constitui-se de um complexo de normas jurídicas que objetivam disciplinar os conflitos de interesses não resolvidos pelos demais ramos do Direito.
Direito Criminal = expressão que teve certo destaque nos fins do século XVIII na Espanha, Itália e Alemanha. É majoritária nos países anglo-saxões (criminal law) e de uso frequente na França.
No Brasil predomina a expressão Direito Penal, até porque a partir de 1890 nossa codificação passou a denominar-se Código Penal.
“Conjunto de normas jurídicas que o Estado estabelece para combater o crime, através das penas e medidas de segurança”(Basileu Garcia).
Conceito de Direito Penal
“Conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a quem os pratica” (Magalhães Noronha).
“Conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade de medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado” (Frederico Marques).
“Conjunto de normas pertencentes ao ordenamento jurídico público interno, de caráter autônomo, subsidiário, pessoal e imperativo, que disciplina a conduta dos indivíduos, tutelando interesses sociais fundamentais, mediante a imposição de mecanismos sancionários de caráter retributivo e preventivo, objetivando obter determinados comportamentos individuais na vida social preservando os bens jurídicos” (Álvaro Mairink da Costa).
Ainda que em caráter secundário, o Direito Penal tem uma aspiração ética: evitar o cometimento de crimes que afetam de forma intolerável os bens jurídicos penalmente tutelados. A tarefa imediata, contudo, é de natureza eminentemente jurídica e, assim, destinada à proteção dos bens jurídicos.
Divisões:
Objetivo = conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação das infrações de natureza penal e suas correspondentes sanções (o ordenamento jurídico-penal). Subjetivo = faculdade que tem o Estado de estabelecer e executar as penas e as medidas de segurança (jus puniendi).
Características: 
Sendo o jus puniendi um poder jurídico que o direito objetivo concede ao Estado para garantir e manter o ordenamento jurídico, inegável que se trata de um direito subjetivo. O titular do direito subjetivo é o Estado: o injusto rompe a orientação de que o cidadão não siga uma conduta contrária à norma jurídico-penal, sendo a pena uma forma de reparação da lesão desse direito. Por outro lado, o injusto sempre lesiona interesses coletivos, cuja proteção pertence ao Estado.
Características;
O Direito Penal positivo é valorativo, finalista e sancionador.
Valorativa = tutela os valores mais elevados da sociedade, valorando os fatos de acordo com sua gravidade. Quanto mais grave o crime, mais severa será a sanção aplicável ao seu autor.
Finalista = visa à proteção de bens e interesses jurídicos merecedores da tutela mais eficiente que só podem ser eficazmente protegidos pela ameaça legal de aplicação de sanções de poder intimidativo maior, como a pena.
Sancionador = através da cominação da sanção, protege outra norma jurídica de natureza extrapenal (direito de propriedade...).
Como ciência jurídica, o Direito Penal tem caráter dogmático, já que se fundamenta no direito positivo, exigindo-se o cumprimento de todas suas normas, pela sua obrigatoriedade.
O Direito Penal é normativo = não é um meio para conhecer a realidade social, mas para regulá-la.
Conteúdo do Direito Penal
O conteúdo do Direito Penal é o estudo do crime, da pena e do delinquente, que são os seus elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva.
Na parte introdutória são estudadas a propedêutica jurídico-penal e a norma penal, esta inclusive quanto à sua aplicação no tempo e no espaço, como também a sua exegese. Acrescentam-se partes referentes à ação penal, punibilidade e medidas de segurança.
Relações com outras Ciências
Como o sistema jurídico de um país é formado de elementos que se completam, sem contradições, o Direito Penal, como uma das partes desse todo, tem íntima correlação com os demais ramos das ciências jurídicas.
 
Filosofia do Direito = as investigações desse ramo levam à fixação de princípios lógicos, à formulação de conceitos básicos e à definição de categorias fundamentais e indispensáveis à elaboração da lei penal. Há fundamentos filosóficos nos conceitos de delito, pena, imputabilidade, irresponsabilidade, dolo, culpa, causalidade, erro etc.
Teoria Geral do Direito = são elaborados conceitos e institutos jurídicos válidos para todos os ramos do Direito.
Sociologia jurídica = focaliza o fenômeno jurídico como fato social resultante de processos sociais. Grande colaboração pode prestar ao Direito Penal, principalmente no campo da Sociologia Criminal.
Relações com as outras ciências jurídicas
Direito Constitucional = define o Estado e seus fins, bem como os direitos individuais, políticos e sociais. Diante do princípio da supremacia da Constituição na hierarquia das leis, o Direito Penal deve nela enquadrar-se. No artigo 5º são estabelecidos princípios relacionados com a anterioriedade da lei penal (XXXIX), sua irretroatividade como regra e retroatividade da mais benigna (XL), dispositivos a respeito dos crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo (XLII, XLIII), da personalidade da pena (XLV), da sua individualização e espécies (XLVI, XLVII) etc. Refere-se, ainda, a Constituição à fonte da legislação penal (art. 22), à anistia (21, XVII, e 48, VIII), a efeitos políticos da condenação (art. 55, VI), ao indulto (art. 84, VII) etc.
Direito Administrativo = A lei penal é aplicada através dos agentes da Administração (Juiz, Promotor de Justiça, Delegado de Polícia etc.). São utilizados conceitos de Direito Administrativo (“cargo”, “função”, “rendas públicas” etc.
Direito Processual Penal = ramo jurídico autônomo, em que se prevê a forma de realização e aplicação da lei penal. É através dele que se decide sobre a procedência a aplicação do jus puniendi do Estado.
Direito Processual Civil = normas comuns ao Direito Processual Penal (atos processuais, ações, sentenças, recursos etc.).
Direito Penal Internacional = ramo do Direito que tem por objetivo a luta contra criminalidade universal. “Ramo do Direito Penal que determina a competência do Estado na ordem internacional para a repressão dos delitos, bem como regulamenta a cooperação entre os Estados em matéria penal” (Celdo D. de Albuquerque Mello). O Código Penal consagra no artigo 7º regras que se inspiram nesses princípios.
Direito Internacional Penal = ramo do Direito Internacional Público que tem por objetivo a luta contra as infrações internacionais (crimes de guerra, contra a paz, contra a humanidade, o terrorismo, pirataria, discriminação racial etc.). Jurisdição penal internacional: Tribunal Penal Internacional.
Direito Civil = Um mesmo fato pode caracterizar um ilícito penal e obrigar a uma reparação civil. Como o Direito Penal é eminentemente sancionador, sua contribuição é decisiva para reforçar a tutela jurídica do Direito Civil.
Direito Comercial = tutela a lei penal institutos como o cheque, a duplicata, a fraude no comércio, os crimes falimentares.
Direito Penitenciário = embora de discutível autonomia, disciplina a matéria relativa à execução da penal. Segundo a Constituição, compete à União, Estados e Distrito Federal, concorrentemente, legislar sobre direito penitenciário.
Direito do Trabalho = no que tange aos crimes contra a organização do trabalho (artigos 197 a 207 do CP) e efeitos trabalhistas da sentença penal (artigos 482, d, e § único, e 483, e e f).
Direito Tributário = contém a repressão aos crimes de sonegação fiscal.
Disciplinas auxiliares
Medicina Legal = aplicação de conhecimentos médicos para a realização de leis penais ou civis.
Criminalística = aplicação de várias ciências à investigação criminal, colaborandona descoberta dos crimes e na identificação de seus autores.
Psiquiatria Forense = ciência que estuda os distúrbios mentais em face dos problemas judiciários.
Fontes do Direito Penal
a)Fontes de produção ou materiais = informam a gênese, a substância, a matéria de que é feito o Direito Penal, como é produzido, elaborado.
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Compete privativamente à União legislar sobre direito penal, havendo possibilidade de lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas.
 O Estado não pode, entretanto, legislar arbitrariamente, por isso que como fonte remota e originária da norma jurídica está a consciência do povo em dado momento de seu desenvolvimento histórico.
b) Fontes de conhecimento ou formais = exteriorizam o direito, que lhe dão forma e o revelam, dividem-se em fontes diretas (ou imediatas) e indiretas (ou mediatas ou subsidiárias).
Fonte direta é a lei. Mediatas ou subsidiárias, os costumes e os princípios gerais do direito, referidos expressamente na Lei de Introdução ao Código Civil.
Técnica Legislativa do Direito Penal
Lato sensu, norma penal é tanto a que define um fato punível, impondo, abstratamente, a sanção, como a que amplia o sistema penal através de princípios gerais e disposições sobre os limites e ampliação de normas incriminadoras.
Em sentido estrito, a norma penal é a que descreve uma conduta ilícita, impondo uma sanção.
A norma penal obedece a peculiar técnica legislativa: O legislador não diz expressamente que matar é crime, que é proibido matar, e sim que a ocisão da vida de uma pessoa por outra enseja a aplicação de determinada pena. Assim, o preceito imperativo que deve ser obedecido não se contém de maneira expressa na norma penal. A sanção e o comportamento humano ilícito é que são expressos.
Essa forma de elaboração legislativa deriva do princípio de reserva legal (nullum crimen, nulla poena sine lege).
Princípios limitadores do Poder punitivo do Estado
Esses princípios, insertos, explícita ou implicitamente, em nossa Constituição (art. 5º), têm a função de orientar o legislador ordinário para a adoção de um sistema de controle penal voltado para os direitos humanos, embasado em um Direito Penal da culpabilidade, um Direito Penal mínimo e garantista.
1. Princípio da legalidade ou da reserva legal .
A gravidade dos meios que o Estado emprega na repressão do delito, a drástica intervenção nos direitos mais elementares e, por isso mesmo, fundamentais da pessoa, o caráter de ultima ratio que esta intervenção deve ter, impõem necessariamente a busca de um princípio que controle o poder punitivo estatal e que confine sua aplicação em limites que excluam toda arbitrariedade e excesso do poder punitivo.
O princípio da legalidade ou da reserva legal constitui uma efetiva limitação ao poder punitivo estatal. É um imperativo que não admite desvios nem exceções e representa uma conquista da consciência jurídica que obedece a exigências de justiça, que somente os regimes totalitários o têm negado.
Pelo princípio da legalidade, a elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei deve definir com precisão e de forma cristalina a conduta proibida.
2. Princípio da intervenção mínima1.
O princípio da legalidade impõe limites ao arbítrio judicial, mas não impede que o Estado – observada a reserva legal – crime tipos penais iníquos e comine sanções cruéis e degradantes. Por isso, impõe-se a necessidade de limitar ou, se possível, eliminar o arbítrio do legislador.
	
1Assenta-se na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, cujo art. 8º determinou que a lei só deve prever as penas estritamente necessárias.
O princípio da intervenção mínima, também conhecido como ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico. Se outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, a sua criminalização é inadequada e não recomendável. Se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais. Por isso, o Direito Penal deve ser a ultima ratio, isto é, deve atuar somente quando os demais ramos do Direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade.
Antes de se recorrer ao Direito Penal, deve-se esgotar todos os meios extrapenais de controle social.
3. Princípio da fragmentariedade.
A fragmentariedade do Direito Penal é corolário do princípio da intervenção mínima e da reserva legal.Significa que o Direito Penal não deve sancionar todas as condutas lesivas dos bens jurídicos, mas tão-somente aquelas condutas mais graves e mais perigosas praticadas contra bens mais relevantes.
4. Princípio da culpabilidade.
Segundo o princípio da culpabilidade, em sua configuração mais elementar, “não há crime sem culpabilidade”.
Pelo princípio da culpabilidade, não há pena sem culpabilidade, decorrendo daí três conseqüências materiais:
não há responsabilidade objetiva pelo simples resultado; 
a responsabilidade penal é pelo fato e não pelo autor; 
a culpabilidade é a medida da pena.
5. Princípio da humanidade.
Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados. É o maior entrave para a adoção da pena capital e da prisão perpétua.
6. Princípio da irretroatividade da lei penal.
 
Decorre do estatuído no artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal: “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.
7. Princípio da adequação social.
O comportamento que, a despeito de ser considerado criminoso pela lei, não afrontar lo sentimento social de justiça (aquilo que a sociedade tem por justo) não pode ser considerado criminoso. O Direito Penal somente tipifica condutas que tenham certa relevância social. A conduta deixa de ser punida por não mais ser considerada injusta pela sociedade.
8. Princípio da insignificância.
Originário do Direito Romano, esse princípio funda-se no conhecido brocardo de minimis non curat praetor. O Direito Penal não deve preocupar-se com bagatelas, do mesmo modo que não podem ser admitidos tipos incriminadores que descrevam conduta incapazes de lesar o bem jurídico. Não é aplicado no plano abstrato.
9. Princípio da alteridade ou transcendentalidade.
Proíbe a incriminação de atitude meramente interna, subjetiva do agente que, por essa razão, revela-se incapaz de lesionar o bem jurídico. O fato típico pressupõe um comportamento que transcenda a esfera individual do autor e seja capaz de atingir o interesse do outro (altero).
10. Princípio da confiança.
Trata-se de requisito para a existência do fato típico, não devendo ser relegado para o exame da culpabilidade. Funda-se na premissa de que todos devem esperar por parte das outras pessoas que estas sejam responsáveis e ajam de acordo com as normas da sociedade, visando evitar danos a terceiros. Consiste na realização da conduta na confiança de que o outro atuará de um modo normal já esperado, baseando-se na justa expectativa de que o comportamento das outras pessoas se dará de acordo com o que normalmente acontece.
11. Princípio da proporcionalidade.
A criação de tipos penais incriminadores deve constituir-se em atividade vantajosa para os membros da sociedade, eis que impõe um ônus a todos os cidadãos, decorrente da ameaça de punição que a eles acarreta. Tem origem normativa nos itens 20 e 21 da Magna Carta do Rei João Sem Terra.
Lacunas, a integração da norma penal:
critério de admissão
O conjuntode leis que compõe a ordem jurídica nunca deixará de ser lacunoso. Daí ter dado ao assunto particular atenção a LICC, em seu art. 4º, acentuando aplicar-se ao caso legalmente omisso a analogia , os costumes  e os princípios gerais de direito . 
Lacunas, a integração da norma penal
A lei deve reger a espécie: em sua falta, aplicam-se as disposições concernentes aos casos análogos; não as havendo, ver-se-á se o costume tem regra cabível; havendo omissão nos costumes, ela será fornecida pelos princípios gerais do direito (CPC, art. 126). Havendo uma lei reguladora do caso, não se lhe pode aplicar uma regra posta para caso análogo, ou um princípio geral de direito. Havendo ausência de previsão legislativa, não se lhe pode aplicar um preceito costumeiro, se houver, aplicável ao caso, disposição referente a hipótese análoga.
O emprego da auto-integração não é ilimitado. Antes, encontra limites no princípio da reserva legal. Assim, só pode ser aplicado em relação às normas penais não incriminadoras.
Costume secundum legis, contra legem e praeter legem: Através do costume se poderá aquilatar o exato significado dos termos honra, dignidade, decoro (art. 140), inexperiência e justificável confiança (art. 217), mulher honesta (arts. 215 e 219), meios de correção e disciplina (art. 136), ato obsceno (art. 233) etc. É, por outro lado, a evolução dos costumes que tem levado ao reclamo da extinção ou modificação de tipos penais como o adultério (art. 240), a sedução (art. 217), o aborto (arts. 124 a 126) etc.
Analogia: Diante do princípio da legalidade do crime e da pena, pelo qual não se pode impor sanção penal a fato não previsto em lei, é inadmissível o emprego da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. Nada impede, entretanto, a aplicação da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna da lei, favorecer a situação do réu por um princípio de eqüidade. Há, no caso, a chamada “analogia in bonam partem”, que não contraria o princípio da reserva legal. Só podem ser supridas, entretanto, as lacunas legais involuntárias; onde uma regra legal tenha caráter definitivo não há lugar para a analogia, ou seja, não há possibilidade de sua aplicação contra-legem.
Hipótese de aplicação da analogia:
 	 A não-punibilidade do dano de coisa comum fungível cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente, diante do disposto no artigo 156, § 2º, referente ao crime de furto .
Da interpretação da Lei Penal
Interpretação da lei penal: Interpretar é inter pretare. A interpretação consiste em extrair o significado e a extensão da norma em relação à realidade. É uma operação lógico-jurídica que se dirige a descobrir a vontade da lei, em função de todo o ordenamento jurídico e das normas superiores de cultura, a fim de aplicá-las aos casos concretos da vida real.
Espécies de Interpretação
1. Quanto ao sujeito:
 	a) Autêntica: Procede do próprio órgão de que emana. É a interpretação que parte do próprio sujeito que elaborou o preceito interpretado. Pode ser contextual (o legislador faz no próprio texto da lei, como no caso do art. 327 do CP) ou posterior (depois de editada a lei, com o fim de elidir incerteza ou obscuridade).
 	b) Doutrinária: Interpretação doutrinária é feita pelos escritores de direito, em seus comentários às leis. É denominada communis opinio doctorum.
 	c) Judicial: É a que deriva dos órgãos judiciários (juízes e tribunais). Não tem força obrigatória, senão para o caso concreto (coisa julgada).	
2. Quanto aos meios empregados:
 	a) Gramatical, literal ou sintática: Procura interpretar a lei no sentido de fazer aflorar a sua vontade pelo que dizem as palavras.
 	b) Lógica ou teleológica: Consiste na indagação da vontade ou intenção da lei. Investiga-se então os motivos que determinam o preceito, as necessidades e o princípio superior que lhe deram origem, chamado pelos clássicos de ratio legis. A interpretação teleológica se vale dos seguintes elementos: ratio legis, sistemático , histórico , Direito Comparado , extrapenal  e extrajurídico .
 3. Quanto ao resultado
 	a) Declarativa: Quando a eventual dúvida se resolve pela correspondência entre a letra e a vontade da lei, sem conferir à fórmula um sentido mais amplo ou mais estrito  (art. 141, III).
 	b) Restritiva: Restringe o alcance das palavras da lei até o seu sentido real (art. 28).
 	c) Extensiva: Quando o caso requer seja ampliado o alcance das palavras para que a letra corresponda à vontade do texto. Ocorre quando o texto legal não expressa a sua vontade em toda a extensão desejada (art. 130). E mais: Progressiva e analógica.
Lei Penal no Tempo
Irretroatividade da lei penal 
b) Retroatividade da lei penal mais benigna { “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (art. 5º, XL, CF).
 
	1. Segurança jurídica = um dos princípios reitores do Estado de Direito. Razão Penal = promulgação de leis “ad hoc” pode facilmente estar contaminada pela comoção que a prática de um delito produz.
	2. Mais benigna = resulta do exame acurado de cada caso concreto.
Hipóteses:
 	1. “Abolitio criminis” = lei nova deixa de considerar crime fato anteriormente tipificado como ilícito penal. Permanecem os efeitos civis. Coisa julgada e execução: atinge.
 	2. “Novatio legis” incriminadora = considera crime falto anteriormente não incriminado. É irretroativa. 
 	3. “Novatio legis in pejus” = lei posterior que de qualquer modo agravar a situação do agente.
 	4. “Novatio legis in mellius” = lei nova, mesmo sem descriminalizar, que dá tratamento mais favorável ao agente.
Leis excepcionais e temporárias.
	a) Excepcionais = vigem durante situações de emergência;
	b) Temporárias = vigência previamente fixada pelo legislador. Ex: Lei 12.663/2012 (vigência até o dia 31/12/2014).
 
Lei penal em branco e retroatividade.
 	Retroatividade e lei processual = o princípio “tempus regit actum” aplica-se às normas que regem a realização dos atos processuais.
Tempo do Crime
Art. 4º: momento da ação ou omissão.
 	Adota-se a teoria da atividade, pois é nesse momento que o indivíduo exterioriza a sua vontade.
	Exceções:
 	a) Marco inicial da prescrição (ver art. 5., XLII e XLIV, C.F.): consumação do crime;
	b) crimes permanentes: quando cessa a permanência;
	c) bigamia, falsificação e alteração de assento de registro civil: data em que o fato se torna conhecido (art. 111, CP). Incisos I a V.
Lei Penal no Espaço
Princípios:
	1. Territorialidade 
	2. Real, de defesa ou de proteção
	3. Nacionalidade
Ativa
Passiva
	4. Universalidade ou cosmopolita
	5. Representação ou bandeira. 
Como regra, o CP adota o princípio da territorialidade e os demais como exceção (art. 5º).
O Código Penal limita o campo da validade da lei penal com observância de dois vetores fundamentais: territorialidade (art. 5º) e extraterritorialidade (art. 7º).
A territorialidade é a regra. Excepcionalmente admitem-se outros princípios para o caso de extraterritorialidade.
Matéria afeta ao Direito Penal Internacional, ramo do Direito Internacional Público que estabelece as regras de determinação da lei penal aplicável na hipótese da conduta criminosa violar o sistema jurídico de mais de um Estado.
Aplica-se a lei brasileira aos crimes cometidos no território nacional.
Território = espaço em que o Estado exerce sua soberania política.
Compreende espaço territorial delimitado pelas fronteiras, inclusive rios, lagos, mares interiores e ilhas, bem como o respectivo subsolo; mar territorial, que corre ao longo da costa como parte integrante do território brasileiro e que tem uma faixa de doze milhas marítimas de largura, medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro (Lei 8.617/93). Não obsta o direito de passagem inocente, isto é, a prerrogativa de navios mercantes ou militares de qualquer Estado transitarem livremente pelo mar territorial, embora sujeitos ao poder de polícia do Brasil;
plataforma continental, medindo 200 milhas marítimas a partirdo litoral brasileiro, como zona econômica exclusiva (Convenção da ONU sobre o Direito do Mar);
espaço aéreo, compreendido como dimensão estatal da altitude (teoria da absoluta soberania do país subjacente);
navios e aeronaves de natureza particular, em alto mar ou no espaço aéreo correspondente ao alto-mar (território brasileiro por extensão);
navios e aeronaves de natureza pública, onde quer que se encontrem;
rios e lagos internacionais (aqueles que atravessam mais de um Estado). Se sucessivos (não separam os países), considera-se o trecho que atravessa o Brasil; se simultâneos ou fronteiriços (separam os territórios), a delimitação da parte pertencente ao Brasil é definida por tratados ou convenções internacionais.
Princípio da personalidade ou nacionalidade = autoriza a submissão à lei brasileira dos crimes praticados no estrangeiro por autor brasileiro (ativa) ou contra vítima brasileira (passiva).
Personalidade ativa = o agente é punido de acordo com a lei brasileira, independentemente da nacionalidade do sujeito passivo e do bem jurídico ofendido (art. 7º, I, d, e inciso II, b. Fundamento constitucional: proibição de extradição de brasileiros (art. 5º, LI, da Constituição Federal).
Personalidade passiva = casos em que a vítima é brasileira (art. 7º, § 3º). O autor do delito que se encontrar em território brasileiro, embora seja estrangeiro, deverá ser julgado de acordo com a nossa lei penal.
Princípio do domicílio = o crime deve ser julgado em consonância com a lei do país em que for domiciliado o agente (art. 7º, I, d). Aplicável na hipótese de crime de genocídio.
Princípio da defesa, real ou da proteção = Submete-se à lei brasileira os crimes praticados no estrangeiro que ofendam bens jurídicos pertencentes ao Brasil (art. 7º, I, a, b, e c).
Princípio da justiça universal = caracteriza-se pela cooperação penal internacional, fundamentando-se no dever de solidariedade na repressão de certos delitos cuja punição interessa a todos os povos. Ex: tráfico de drogas, comércio de seres humanos, genocídio etc). Adotado pelo art. 7º, II, a.
Princípio da representação ou bandeira = deve ser aplicada a lei penal brasileira aos crimes cometidos em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando estiverem em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Adotado pelo art. 7º, II, c. Se a aeronave ou embarcação for pública ou estiver a serviço do governo brasileiro, incide o princípio da territorialidade, eis que, nesse caso, são consideradas extensão do território nacional (art. 5º, § 1º, do Código Penal).
Lugar do crime
Art. 6º do CP: ação ou omissão ou resultado
Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
A aplicação do princípio da territorialidade da lei penal no espaço depende da identificação do lugar do crime.
Várias teorias buscam estabelecer o lugar do crime:
Teoria da atividade ou da ação = lugar do crime é aquele em que foi praticada a conduta (ação ou omissão);
Teoria do resultado ou do evento = lugar do crime é aquele em que o se produziu ou deveria produzir o resultado, pouco importando o local da prática da conduta;
Teoria mista ou da ubiquidade = lugar do crime é tanto aquele em que foi praticada a conduta (ação ou omissão) quanto aquele em que se produziu o deveria produzir-se o resultado. Adotada pelo Código Penal.
A discussão apresenta relevância em relação aos crimes à distância, isto é, aqueles em que a conduta é praticada em um país e o resultado vem a ser produzido em outro. Não se trata de comarcas distintas, mas de pluralidade de países. Ex: agente efetua disparo de arma de fogo contra a vítima em solo brasileiro, mas o ofendido foge e morre depois de atravessar a fronteira com o Paraguai. A adoção da teoria da ubiquidade permite que se considere lugar do crime tanto o Brasil como o Paraguai (soberania dos países).
Exceções:
Crimes conexos (aqueles que de algum modo estão relacionados entre si. Os diversos crimes não constituem unidade jurídica, por isso cada um deles deve ser processado e julgado no país em que foi cometido.
Crimes plurilocais (aqueles em que a conduta e o resultado ocorrem em comarcas diversas, mas no mesmo país). Aplica-se no caso a regra do artigo 70, caput, do Código de Processo Penal, de forma que a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração ou, no caso de tentativa, pelo local em que for praticado o último ato de execução.
Crimes dolosos contra a vida. Aplica-se a teoria da atividade, conforme pacífica jurisprudência, em razão da conveniência para a instrução criminal (é mais fácil e seguro produzir provas no local em que o crime se realizou). Ademais, não é possível obrigar as testemunhas a comparecerem ao plenário do Júri em outra comarca.
Infrações penais de menor potencial ofensivo. O art. 63 da Lei 9.099/95 adotou a teoria da atividade.
Crimes definidos na Lei de Imprensa. O art. 42 da Lei 5.250/67 acolheu a teoria da atividade. Assim, “lugar do delito, para a determinação da competência territorial, será aquele em que for impresso o jornal ou periódico, e o do local do estúdio do permissionário ou concessionário do serviço de radiodifusão, bem como o da administração principal da agência noticiosa”.
Crimes falimentares. Será competente o foro do local em que foi decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação judicial (art. 183 da Lei nº 11.101/05).
Atos infracionais. Será competente a autoridade do lugar da ação o da omissão (Lei nº 8.069/90).
Estelionato. “O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado” (Súmula 521 do STF).
Falso testemunho. É competente o juízo deprecado, uma vez que foi nele que ocorreu o depoimento fraudulento.
Uso de documento falso. Competência do lugar em que se deu a falsificação.
Aborto. Competência do local da conduta e não do lugar da morte do feto.
Lei Penal em Relação às Pessoas
O princípio da territorialidade é adotado com exceções.
Tratados e convenções: imunidades diplomáticas
Direito público interno: imunidades parlamentares
Convenção de Viena: imunidade de jurisdição penal = causa especial de exclusão da pena.
Abrangência: agentes diplomáticos e funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc).
Cônsules: agentes administrativos (imunidade apenas em relação aos atos praticados no exercício das funções).
1. Imunidade Parlamentar
	a) material (art. 53, CF)
	b) formal (art. 53, §§ 1º e 3º, CF)
EC 35/2001: nova disciplina da imunidade.
2. Extradição = obrigação resultante da solidariedade internacional na luta contra o crime.
Princípios:
1. Quanto ao delito
a) Legalidade; b) Especialidade; c)identidade de norma.
2. Quanto à pena e à ação penal
a) comutação; b) jurisdicionalidade; c) “non bis in idem”.
SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA
Sentença penal estrangeira (art. 9º, CP)
EFEITOS NO BRASIL.
Execução do julgado = homologação pelo STJ (art. 105, I, “h”, CF).
CONTAGEM DE PRAZO (art. 10, CP).
O dia do começo inclui-se no cômputo, que se realiza considerando o calendário comum. Prazos processuais (art. 798, § 1º, CPP): não se computa o dia do começo, incluindo-se o do vencimento. 
FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA (art. 11, CP)
Penas privativas de liberdade: desprezam-se as frações de dia;
Penas de multa: desprezo das frações do padrão monetário vigente.
LEGISLAÇÃO ESPECIAL: Aplicam-se as regras gerais do CP, se na dispuserem de modo diverso.
Ilícito penal/ilícito civil: critério de distinção é político, cabendo ao legislador fazer a seleção.
Infração penal:
a) crime; b) contravenção.
Estudo do Direito Penal
a) aplicador do direito (impõe-se o cumprimento da lei)
b) reflexivo ou crítico.
Do Fato Típico
Do crime
Proeminência da “teoriado fato punível” ou “estrutura do delito”, para a própria legitimação do Direito Penal (provêm dela os elementos técnicos necessários à construção de um sistema propiciador de segurança jurídica, que enseja a certeza e a uniformidade na aplicação do Direito Penal).
Direito Penal do fato = primeiramente se evidencia o fato como alicerce construtor da base dogmática, surgindo somente a posteriori, secundariamente, as considerações quanto ao autor em suas características pessoais. O autor deve ser punido pelo que fez. 
Direito Penal do autor = o fato tem somente uma “função sintomática” (os tipos requerem complementação por um tipo judicial do autor). Desloca-se o centro de gravidade de definição do delito do fato para o autor (atitude do autor). O autor de uma conduta delituosa deve ser punido pelo que é.
Síntese da teoria do fato punível: Vincula o juiz penal a uma ordem que tem de seguir no momento de comprovar a punibilidade de um comportamento humano (o leigo julga um comportamento “como um todo” ou pelo que pensa ser “essencial”). Deve, gradualmente, comprovar se “quem” atuou foi uma pessoa (somente a conduta humana tem relevância); se essa ação é subsumível em um tipo penal; se a ação está excepcionalmente justificada (fato justo ou injusto); se a ação antijurídica pode ser atribuída subjetivamente a uma pessoa determinada; por fim, se excepcionalmente pode ou deve deixar-se de impor uma pena.
Dogmática do Direito Penal
Conceito de crime é essencialmente jurídico. O Código Penal não definiu o crime, deixando a definição à elaboração da doutrina.
ASPECTO FORMAL = crime é o fato humano contrário à lei. Crime é qualquer ação legalmente punível. Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena. Crime é uma conduta (ação ou omissão) contrária ao Direito, a que a lei atribui uma pena.
ASPECTO MATERIAL = Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal. Crime é a ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável somente através da sanção penal. Crime é qualquer fato do homem, lesivo de um interesse, que possa comprometer as condições de existência, de conservação e de desenvolvimento da sociedade. Indaga-se o porquê de determinado fato ser considerado criminoso ou não. Assim, crime pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social.
CONCEITO ANALÍTICO= Crime é um fato típico, antijurídico e culpável. Com a teoria finalista, proposta por Hans Welzel, passou-se a entender que a ação (ou conduta) é uma atividade que sempre tem uma finalidade. Assim, a conduta abrange o dolo (querer ou assumir o risco de produzir o resultado) e a culpa em sentido estrito. Assim, se a conduta é um componente do fático típico, deve-se definir o crime como fato típico e antijurídico. No Brasil: Heleno Fragoso, René Dotti, Damásio, Mirabete e Miguel Reale Júnior.
CONCEITO ANALÍTICO= Estabelece os elementos estruturais do crime, propiciando a que o julgador ou intérprete desenvolva seu raciocínio em etapas.Desde o início, na perspectiva da modera dogmática alemã, com Franz e Beling, adota-se um conceito tripartido de delito: fato típico, ilícito (antijurídico) e culpável. Em primeiro lugar, deve ser observada a tipicidade da conduta; depois, se é lícita ou não. Sendo o fato típico e ilícito, questiona-se sobre a culpabilidade do agente (deve ou não sofrer um juízo de reprovação).
Polêmica doutrinária: a culpabilidade é elemento do crime ou pressuposto da pena (Damásio e outros). O primeiro autor brasileiro a tratar a culpabilidade como pressuposto da pena foi René Ariel Dotti (1.976). A aparente adoção do conceito bipartido no CP: No título II o CP trata “Do crime”, no Título III da imputabilidade. No art. 23 dispõe que “não há crime”; nos arts. 26 e 28, p. 1º. , diz que o autor é “isento de pena”. Também o art. 180, p. 4º. Corrente majoritária: tripartida (Greco, Bitencourt).
AÇÃO - CONDUTA = momento objetivo ou material do delito. Sem ação não existe crime. É ela que revela o crime no mundo exterior. Compreende a ação propriamente dita e a omissão. Ambas são comportamento humano, importando em fazer ou não fazer. Tanto uma quanto outra integram o fato humano e conseqüentemente o crime.
TIPICIDADE = correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto, e a descrição contida na lei. Consiste na descrição abstrata da conduta humana feita, pormenorizadamente, pela lei penal e correspondente a um fato criminoso – também chamado de tipo incriminador. É um molde criado pela lei, em que está descrito o crime com todos os seus elementos.
ADEQUAÇÃO TÍPICA = é o enquadramento do fato ocorrido concretamente ao tipo legal.
Adequação típica de subordinação imediata: é o ajuste integral, perfeito, entre a conduta e o tipo legal, sem que se exija o concurso de outra norma.
Adequação típica de subordinação mediata ampliada ou por extensão: o fato não se enquadra imediatamente na norma penal incriminadora, exige para isto o concurso de outra disposição (tentativa, concurso de agentes).
 ANTIJURIDICIDADE/ILICITUDE = É a contradição entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típico a princípio é antijurídico. Existem, entretanto, na lei penal ou no ordenamento jurídico em geral, causas que excluem a antijuridicidade do fato típico.
A antijuridicidade é sempre objetiva, porque independe da culpabilidade do agente. Ex: menor pode praticar fato antijurídico; contudo, não responde porque não tem culpabilidade. A antijuridicidade é o segundo requisito do crime.
Causas de exclusão da antijuridicidade:
legais (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito);
supralegais (não previstas em lei, como a colocação de piercing, de brincos).
CULPABILIDADE = É a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica. É a possibilidade de se declarar culpado o autor de um fato típico e ilícito. Requisitos: imputabilidade, consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.
Divisões dos crimes
Quanto à gravidade: crimes, delitos e contravenções (sistema tricotômico) e crimes ou delitos e contravenções (sistema dicotômico ou bipartido). O primeiro é adotado na França, Alemanha e Bélgica.
No Brasil, adota-se a divisão dicotômica. A diferença entre crime e delito reside na pena.
Não há diferença qualitativa entre crime e contravenção; mas apenas diferença quantitativa: a contravenção é um crime menor, é menos grave que o delito. Art. 1º. da LICP.
QUALIFICAÇÃO LEGAL E DOUTRINÁRIA DOS CRIMES 
Qualificação é o nome dado ao fato ou à infração penal pela doutrina ou pela lei.
Qualificação do fato: é o nomen juris da infração. => “ofender a integridade corporal ou a saúde corporal de outrem” recebe o nome de “lesão corporal”; “trazer consigo arma” branca “fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade”, é denominada “porte de arma” (LCP, art. 19, caput).
Qualificação da infração é o nome que recebe a modalidade a que pertence o fato: crime ou contravenção. A “lesão corporal” é qualificada crime; o porte de arma branca, contravenção.
Há também a qualificação doutrinária (é o nome dado ao fato delituoso pela doutrina, como crime formal, de dano, permanente, próprio etc).
crimes comuns e especiais = crime comuns são os descritos no Direito Penal Comum; especiais, os definidos no Direito Penal Especial.
crimes comuns e próprios = comum é o que pode ser praticado por qualquer pessoa. Ex; homicídio, furto, estelionato etc. Próprio é o que só pode ser cometido por uma categoria de pessoas, pois pressupõe no agente uma particular condição ou qualidade pessoal. Pode exigir do sujeito uma particular condição jurídica (acionista, funcionário público), profissional (comerciante, empregador,empregado, médico, advogado), de parentesco (pai, mãe, filho) ou natural (gestante, homem).
Crimes de mão própria ou de atuação pessoal = só podem ser cometidos pelo sujeito em pessoa. Ex: falso testemunho e prevaricação. Estão descritos em figuras típicas que, diante de seu injusto, são necessariamente formuladas de tal maneira que o autor só pode ser quem esteja em situação de realizar imediata e corporalmente a conduta punível. Assim, a testemunha não pode pedir a terceiro que deponha falsamente em seu lugar. O funcionário público não pode pedir a terceiro que deixe de realizar ato de ofício em seu lugar, a fim de atender sentimento pessoal (prevaricação). O soldado não pode solicitar a terceiro que fuja em seu lugar (crime de deserção).
Crimes de dano são aqueles que só se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico. Ex: homicídio, lesões corporais etc. Crimes de perigo são os que se consumam tão-só com a possibilidade do dano; são os que se contentam com a probabilidade de dano. Ex: perigo de contágio venéreo (art. 130); rixa (art. 137); incêndio (art. 250) etc. O perigo pode ser presumido ou concreto. Presumido é o considerado pela lei em face de determinado comportamento, como no caso do artigo 135, nas primeiras hipóteses. No caso de pessoa em grave e iminente perigo, o crime é de perigo concreto.
Perigo individual é o que expõe ao risco de dano o interesse de uma só pessoa ou de limitado número de pessoas, como no caso de perigo de contágio venéreo. Já o crime de perigo comum (coletivo) é o que expõe ao risco de dano interesses jurídicos de um número indeterminado de pessoas, a incolumidade pública (art. 250). Perigo atual é que está ocorrendo (art. 24 – estado de necessidade). Perigo iminente é o que está prestes a desencadear-se (art. 132).
Crimes materiais, formais e de mera conduta.
Materiais = de resultado naturalístico. A lei reclama a verificação do resultado querido pelo agente, que consiste na lesão de fato do bem.
Formais = de evento naturalístico cortado ou de consumação antecipada. A lei reclame que a vontade do agente se dirija à produção de um resultado que constituiria uma lesão do bem, mas não exige para a consumação que esse resultado se verfique. Ex: art. 158.
Mera conduta = sem resultado naturalístico {no crime de mera conduta o legislador só descreve o comportamento do agente. Ex: violação de domicílio (art. 150), desobediência (art. 330) e reingresso de estrangeiro expulso (art. 338). No crime formal o tipo menciona o comportamento e o resultado, mas não exige a sua produção para a consumação. Ex: divulgação de segredo, violação de segredo profissional, extorsão etc. 
Crimes comissivos e omissivos.
A) Comissivos: são os praticados mediante ação; exigem atividade positiva.
a.1. propriamente ditos 
a.2. por omissão
B) Omissivos: mediante inação
b.1. próprios (perfazem com a simples abstenção. Ex: art. 134).
b.2. impróprios (comissivos por omissão) – produção de um resultado (mãe que deixa de amamentar o filho, hipótese em que a simples omissão não constitui crime)
b.3. de conduta mista (há uma ação inicial e uma omissão final, como no caso da apropriação indébita de coisa achada prevista no art. 169, parágrafo único).
Instantâneo = quando se exaure com o resultado;
Permanente = cuja consumação se prolonga no tempo;
Continuado = constituído por duas ou mais violação jurídicas da mesma espécie (art. 71);
Progressivo = quando um tipo contém outro, de modo que sua realização não ocorre senão passando-se pela realização do que ele contém.
Unilateral = pode ser praticado por um único indivíduo;
Bilateral = exige o encontro de duas pessoas (bigamia, como era o adultério e o rapto consensual);
Profissionais = quando a habitualidade se caracteriza pelo propósito de viver do crime;
Exaurido = diz-se quando um crime, após a consumação, é levado a outras conseqüências lesivas.
Crime de ação múltipla = o tipo contém várias modalidades de conduta delituosa, as quais, praticadas pelo agente, constituem fases do mesmo crime. 
Sujeitos do Delito
Ativo (pratica a figura típica); passivo (é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado; pessoa física ou jurídica).
Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na norma penal incriminadora. Só o homem possui capacidade para delinqüir. As qualidades pessoais de quem pratica o crime, sua situação particular, as relações que tenha com o ofendido constituem elementos que se referem ao sujeito ativo.
O CP e o CPP empregam várias denominações quando se referem ao sujeito ativo do delito: os arts. 14, II, 15, 18, I e II, 19, 20, § 3º, 21, parágrafo único, 23, caput e parágrafo único, 28, §§ 1º e 2º, 59, caput, 61, II, 62, caput, 63, caput, 65, I e III, 67 usam a expressão “agente”. Na fase do IP recebe a denominação de “indiciado” (arts. 5º, § 1º, b, 6º, V, VII e IX, 10, caput e seu § 3º, 14, 15 e 21 do CPP). Durante o processo recebe o nome de acusado, denunciado ou réu. O que já sofreu sentença condenatória, é chamado sentenciado, preso, condenado, recluso ou detento.
Capacidade especial do sujeito ativo: há crimes que podem ser cometidos por qualquer pessoa imputável. Outros exigem determinada posição jurídica ou de fato do agente. Ex: funcionário público, condição jurídica do sujeito ativo do delito de peculato: gestante, condição de fato do sujeito ativo no crime de auto-aborto.
Sujeito passivo = é o titular do interesse cuja ofensa constitui essência do crime. É encontrado a partir do interesse tutelado pela lei penal incriminadora. Ex: no homicídio, o homem é o seu titular, eis que a norma protege o direito à vida.
Sujeito passivo constante, geral, genérico ou formal = o Estado, o titular do mandamento proibitivo não observado pelo sujeito ativo.
Sujeito passivo eventual, particular, acidental ou material = o titular do interesse penalmente protegido. Pode ser o homem, a pessoa jurídica, ...
Pessoa jurídica como sujeito passivo nos crimes contra a honra = três correntes (uma não admite, outra admite apenas nas hipóteses de difamação ou injúria e a terceira admite apenas na hipótese de difamação, que se referente à honra objetiva, como reputação, boa fama). Honra subjetiva = sentimento de dignidade e decoro próprios.
Objeto jurídico = é o bem-interesse protegido pela norma penal. Bem = é o que satisfaz uma necessidade do homem (material ou imaterial). Ex: vida, integridade física, honra, patrimônio. Interesse = é a relação psicológica em torno desse bem, é sua estimativa, sua valorização.
Objeto material = o homem ou a coisa sobre que incide a conduta do sujeito ativo (objeto da ação). No homicídio é alguém; no furto é a coisa.
Conflito Aparente de Normas
Princípios que o resolvem: especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade.
Especialidade = a norma especial, ou seja, a que acrescenta elemento próprio à descrição legal do crime prefere à norma geral. Ex: a norma que define o infanticídio é especial em relação à que descreve o homicídio, que é geral; No latrocínio, a figura típica qualificada prevista no art. 157, º 3º, é especial em relação ao homicídio qualificado; o tipo fundamental é excluído pelo qualificado ou privilegiado, como no furto simples e furto qualificado, o estelionato simples e o qualificado.
Subsidiariedade = relação de primariedade e subsidiariedade entre normas, quando descrevem graus de violação do mesmo bem jurídico. A infração definida pela norma subsidiária (“soldado de reserva”, na expressão de Nélson Hungria) é parte da infração principal. Ex: a ameaça está incluída no tipo de constrangimento ilegal (art. 146). Pode ser expressa ou explícita e tácita ou implícita. No primeiro caso, a norma, em seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não-aplicação da outra, de maior gravidade punitiva, como no artigo 132, 129, § 3º, do CP e 21 da LCP (vias de fato).
Na segunda hipótese, uma figura típica funciona como elementar ou circunstância legal específica de outra, de maior gravidade punitiva; mas a norma subsidiária na determina expressamente a sua aplicaçãoà não-ocorrência da infração principal. Ex: crime de dano e furto qualificado pela destruição ou rompimento de obstáculo; a ameaça e o constrangimento ilegal; a ameaça em relação a todos os crimes em que há violência e grave ameaça, como o aborto, a violação de domicílio qualificada, a extorsão, o dano qualificado, o estupro; a omissão de socorro em relação ao homicídio culposo qualificado.
Consunção = ocorre a absorção, quando um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime. A conduta que se contém na norma consuntiva é de natureza complexional, uma vez que subentende, estruturalmente, espécies criminosas independentes, pois são primárias as leis que as descrevem. Ex: tentativa – consumação; partícipe – autor; crimes progressivos, crimes complexos; fatos anteriores e posteriores.
No crime progressivo, o sujeito, para alcançar um resultado, passa por uma conduta inicial que produz um evento menos grave que aquele. Assim, no crime de homicídio, pressupõe-se um resultado anterior, que é a lesão corporal. O crime de dano absorve o de perigo. O crime de seqüestro é absorvido pela redução de alguém a situação análoga à de escravo. O estupro, o atentado violento ao pudor, a posse sexual mediante fraude, o atentado ao pudor mediante fraude e a sedução, se praticados contra ofendida maior de 14 e menor de 18 anos e honesta, absorvem o crime de corrupção de menores.
Crime complexo = quando a lei considera como elemento ou circunstância fatos que, por si mesmos, constituem crimes.
Progressão criminosa = um tipo, já realizado, ainda se concretiza através da prática sucessiva de outra figura típica em que se encontra implicada. Existe no crime progressivo, desde o início, a vontade de cometer a infração de maior gravidade; na progressão criminosa, a intenção inicial é de praticar o delito menor e só depois, no mesmo iter criminis, resolve o agente cometer a infração mais grave. Antefactum não punível = posse de instrumentos empregados usualmente na prática do crime de furto (LCP, 25) por quem pratica o crime de furto. Postfactum impunível = após o furto o ladrão destrói a coisa subtraída.
Já o princípio da alternatividade – que não configura um conflito aparente de normas, uma vez que as condutas descritas pelos vários núcleos se encontram num só preceito primário – se caracteriza quando a norma penal prevê vários fatos alternativamente, como modalidades de um mesmo crime. Ex: aquele que importa, depois tem em depósito e vende substância entorpecente, sem autorização legal, só transgride uma vez a norma do art. 33 da Lei nº 11.343/06.
Direito Penal
Prof. Carlos Henrique Gasparoto

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