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artigo - ALFABETIZACAO NA EDUCACAO INFANTIL UM TEMA EM DISCUSSAO

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ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM TEMA EM DISCUSSÃO 
 
Darlize Teixeira de Mello 
Universidade Luterana do Brasil/RS 
 
Resumo: Este trabalho tem por objetivo principal trazer para o debate a análise 
de práticas pedagógicas alfabetizadoras vigentes nas escolas de educação 
infantil, de alguns municípios do Estado do Rio Grande do Sul, a partir de 
narrativas presentes nos relatórios das alunas estagiárias do Curso de Pedagogia 
- Magistério da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da 
minha Universidade, disciplina de Prática de Ensino na Educação Infantil. Assim 
sendo, o referido trabalho tem a intenção de possibilitar elementos que possam 
auxiliar na compreensão da importância desse nível de ensino (educação infantil) 
no sentido de alicerçar o debate sobre a existência de uma infância que se 
constitui nesta cotidianidade de escola-vida. 
 
Palavras-chave: alfabetização, letramento, formação docente, Educação Infantil. 
 
 
A trajetória que venho construindo (professora/pesquisadora) passa por 
um encontro comprometido com o trabalho de formação de professores. O 
cotidiano acadêmico tem se mostrado, então, como um espaço peculiar, uma vez 
que o objeto de conhecimento/saber se constrói a cada momento e se revela em 
pequenos detalhes: nas ações, nos dizeres, na produção escrita e expressões 
(faciais, corporais, tom de voz, etc.) de cada um dos participantes da relação 
pedagógica. 
 
Deste modo, o presente trabalho, pretende analisar as práticas 
pedagógicas alfabetizadoras realizadas na Educação Infantil, através das 
narrativas que constituem os relatórios de práticas de ensino, produzidos por 
alunas do 7o semestre, da disciplina de Prática de Ensino na Educação Infantil, 
do Curso de Pedagogia – Magistério da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do 
Ensino Fundamental da minha Universidade. 
 
 
Objetivos e questões norteadoras 
 
 2 
O objetivo deste trabalho é de através das narrativas produzidas nos 
relatórios de prática de ensino na Educação Infantil, analisar as práticas 
pedagógicas vigentes, considerando a narrativa produzida como um processo de 
incorporação/apropriação de vozes e significações pelas alunas estagiárias. 
 
O estudo realizado procurou investigar as narrativas produzidas pelas 
alunas estagiárias, a partir de algumas questões norteadoras que podem ser 
assim sumariadas: 
 
1) Quais as práticas pedagógicas alfabetizadoras vigentes na Educação 
Infantil, em diferentes municípios do Estado do Rio Grande do Sul? 
 
2) Quais os fatores que favorecem a predominância de algumas práticas 
e não de outras nas narrativas produzidas? 
 
A partir de tais questões, o referido estudo teve a intenção de trazer 
elementos para a compreensão da importância desse nível de ensino (educação 
infantil) no sentido de alicerçar o debate sobre a existência de uma infância que 
se constitui nesta cotidianamente de escola-vida. 
 
 
Contextualização: o universo da pesquisa 
 
Focalizar a dinâmica discursiva, através das narrativas, significa 
considerar a linguagem não apenas como expressão e comunicação, mas como 
trabalho simbólico que envolve, simultaneamente, processo de construção de 
conhecimento, constituição de sujeitos e produção de sentidos.Tal foco permite 
observar que, quando se produz um texto, não se está simplesmente 
“escrevendo parágrafos”, está se mergulhando em um universo de significação, 
constituído coletivamente e subjetivamente, a partir da história de cada um. 
 
Ao considerar esse aspecto, a prática da pesquisa e a prática docente 
estiveram articuladas para a realização deste estudo. Isto é, durante a sua 
realização houve uma atuação minha enquanto professora dessa disciplina 
 3 
(Prática de Ensino na Educação Infantil) e enquanto pesquisadora, pois esse 
trabalho faz parte de um projeto de pesquisa. 
 
Ressalto para justificar essa ação (professor/pesquisador) trabalhos de 
pesquisa de Smolka (1991, 1993); e de Fontana (1993) que têm considerado esta 
perspectiva, à medida que o professor, no percurso de um caminho 
compartilhado, pode definir-se como um itinerante que se interroga, analisando a 
expressão de muitas vozes e a memória de muitos lugares marcados pelo 
intervalo entre seu mundo e de seus alunos. 
 
A importância de tais pesquisas para o estudo em questão é que estas 
pressupõem a escrita como um processo em construção, determinado pelas 
inter-relações que se dão no contexto concreto de seus participantes. E têm nas 
interações sociais a constituição do processo de elaboração da escrita, levando 
em conta as multideterminações desse processo, onde os fatores cognitivos se 
interpenetram e se relacionam com o meio em que se inserem pelas narrativas 
do conhecimento. 
 
Sendo assim, o objetivo deste trabalho consiste em analisar os 
relatórios da Prática de Ensino na Educação Infantil, enquanto processo de 
constituição de práticas docentes. Tal pesquisa contribui para formação docente, 
à medida que analisa essas narrativas, a partir das inter-relações desenvolvidas 
na dinâmica discursiva de sala de aula. 
 
 
Trabalho de campo 
 
O trabalho de campo foi realizado no ano de 2003, em razão de ser um 
projeto-piloto iniciado no Curso de Pedagogia da minha Universidade, conforme 
já citado. Nesse período foram realizadas reuniões de orientação, individuais e 
coletivas, para a elaboração dos relatórios da Prática docente. 
 
Paralelo ao processo de planejamento, revisão teórica e docência, foi 
elaborado pelas alunas estagiárias um relatório da prática de ensino.Este 
 4 
relatório expressa todas vivências que as alunas estagiárias tiveram durante a 
prática de ensino.Constitui-se na soma de ações, reflexões e ações, 
considerando a realidade encontrada, os estudos teóricos realizados ao longo do 
Curso de Pedagogia e a experiência da aluna estagiária na docência com as 
crianças dessa faixa etária, uma vez que temos alunas estagiárias que já atuam 
nas redes de ensino municipais e estadual do Rio Grande do Sul, enquanto 
professoras, pois têm o curso de magistério, em nível de ensino médio. 
 
As estratégias pedagógicas desenvolvidas, nas reuniões de orientação 
para o desencadeamento de uma dinâmica discursiva que possibilitasse a 
produção de narrativas nos relatórios, foram elaboradas incluindo a leitura. Isto 
se justifica, uma vez que o contato sistemático com professores de literatura e 
minhas leituras sobre produção escrita, tais como Guedes (2002) e Geraldi 
(2001) consolidam a idéia do quanto é em situações significativas, oportunizadas 
em sala de aula, que o aluno vai criando, através da leitura, apoio para 
desenvolver o ato de escrever e, no caso das alunas estagiárias, apoio para 
argumentar sobre o que escreveram. Por isso, não renunciei da leitura como 
fruição, como obra autônoma e de ruptura, que possibilitasse a arte de dissertar e 
a força de argumentar, conforme já apontado. 
 
Durante este período consegui acumular um conjunto de informações, 
junto aos 26 relatórios de prática de ensino analisados, a partir de sua 
composição: caracterização da realidade, caracterização da turma onde é 
realizada a prática docente (incluindo o relato de observação das aulas da 
professora titular) a prática docente propriamente dita (projeto de trabalho, planos 
diários e reflexões diárias) e artigo de pesquisa (elaborado a partir das situações 
vivenciadas no trabalho docente). 
 
Além da análise deste material, também, obtive contato com as 
professoras titulares (professoras regentes das classes onde as alunas 
estagiárias desenvolvem a prática de ensino) durante as visitas de supervisão 
realizadas a estas alunasestagiárias nas escolas. Essas visitas, muitas vezes, 
incluíam novas impressões e olhares configurando uma visão geral bastante 
sugestiva do que pensavam e sentiam as professoras titulares acerca dos 
 5 
Projetos de Trabalho, organização de ensino desenvolvida pelas alunas 
estagiárias na Educação Infantil. 
 
Saliento, ainda, que ao atribuir à linguagem um papel central, na análise 
dessas informações, trato a narrativa (discurso) não como um conjunto de signos, 
mas como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam 
(Foucault, 2000). Sendo assim, compreendo que não há nada que faça sentido 
fora do discurso e da linguagem. Entendo, também, que ao nomear, ao 
descrever, ao caracterizar fatos, fenômenos e sujeitos, a linguagem institui 
significados, constituindo a realidade de uma determinada forma. De acordo com 
Veiga-Neto (1996), isso que chamamos de realidade não é um dado externo a 
ser acessado pela razão, mas é, sim,o resultado de uma construção interessada. 
As narrativas que procurei analisar, então, descrevem práticas educativas que 
me atravessam, me constituem enquanto professora e pesquisadora. Assim 
sendo, não posso negar que sou também, em alguma medida capturada por seus 
efeitos. 
 
Traçarei, a seguir, alguns tópicos de análise das narrativas selecionadas. 
 
 
Definição de categorias de análise para fins de discussão 
 
Na tentativa de explicitar os diferentes aspectos em torno dos quais se 
pode refletir sobre a presença de diferentes tempos, espaços e práticas 
pedagógicas no material de análise, situarei as narrativas em aspectos 
diferenciados. 
 
Para melhor compreensão do leitor, a reflexão sobre as práticas 
pedagógicas alfabetizadoras vigentes na educação infantil foram organizadas em 
três categorias de análise: 1. Prática docente - professoras titulares; 2. Prática 
docente - Professoras titulares/alunas estagiárias e 3. Prática docente - alunas 
estagiárias. 
 
 6 
Cabe, ainda, ressaltar que para este trabalho selecionei a análise de 
narrativas onde a prática docente das professoras titulares e das alunas 
estagiárias foram explicitadas, principalmente salientando as situações de 
letramento, uma vez que nessa mesa de trabalho busca–se discutir “Múltiplas 
narrativas sobre a alfabetização”. 
 
Tomando, então, como ponto de partida as narrativas que focam as 
situações de letramento, dessas práticas pedagógicas apresentarei a seguir 
análise realizada. 
 
 
As primeiras experiências das crianças com a linguagem escrita: algumas 
práticas e narrativas. 
 
A partir de dados de pesquisa apontados pela UNESCO (2003) são 
grandes as dificuldades referentes a informações sobre a qualidade dos serviços 
destinados a educação infantil. Tal fato, pode estar relacionado à maneira 
descaracterizada de como a educação infantil se construiu ao longo dos anos. 
 
 Fazendo um breve histórico sobre as creches e pré-escolas podemos, a 
partir dos estudos de Bujes (2001), vislumbrar como essas instituições foram 
sendo criadas. As mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorreram na 
sociedade pela incorporação das mulheres à força de trabalho assalariado, 
constituíram na organização das famílias um novo papel. Geraram idéias novas 
sobre a infância, e de como torná-la, através da educação um indivíduo produtivo 
e ajustado às exigências dessa conjuntura social. 
 
Bem, mas como é que, a partir dessa constituição da Educação Infantil, 
espaço/lugar de produção de subjetividades é possível analisar as primeiras 
experiências das crianças com a linguagem escrita? 
 
Em primeiro lugar, marcando a escola de Educação Infantil no contexto 
atual. As mudanças sociais continuam provocando uma mudança nas escolas de 
educação infantil. Estas deixaram de atender à clientela que a elas se dirigiam. 
 7 
Principalmente, nas escolas públicas situadas em periferias, tal clientela mudou, 
ampliando, assim, significativamente o número de escolas. Essas escolas têm 
muita dificuldade em lidar com essa clientela crescente que aí está, pois a cultura 
vivida por tal clientela na comunidade, na cidade, na rua, nas praças, nos pontos 
de encontros, nos meios de comunicação, na família e a cultura formal que a 
escola representa ainda estão muito distanciadas, encontrando-se nas salas de 
aula poucos tradutores, intérpretes, interlocutores, conforme será evidenciado 
nas narrativas selecionadas para análise. 
 
Em segundo lugar, salientando que sempre que me referida à escola de 
Educação Infantil, estarei me referindo as escolas públicas, pois as práticas das 
narrativas selecionadas como corpus compõe em sua totalidade redes municipais 
de ensino e a rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul, e em especial os 
níveis A e B da pré-escola, uma vez que as alunas estagiárias optam, em sua 
maioria, por esses níveis de ensino para suas práticas docentes. 
 
Analisando os relatórios saliento, então, uma das narrativas que 
evidencia, apesar de todo discurso vigente sobre o brincar na educação infantil, 
como por exemplo o trabalho de Moyles (2002), os poucos interlocutores 
presentes na educação infantil no trabalho com o jogo simbólico realizado pelas 
crianças, quando essas brincam no momento da praça. 
 
As crianças foram para o pátio da Escola, que é destinado 
apenas para o jardim, lá elas brincaram nos poucos 
brinquedos que tem, como escorregador balanço. Também 
brincaram com alguns potes que a professora levou. Em 
nenhum momento a professora [titular] brincou com as 
crianças. (Nível B, Escola Estadual de Porto Alegre). 
 
Estamos no cenário da urbanidade, imaginemos essa cena. Podemos 
escutar o “ruído” das crianças, o barulho de suas vozes e o silêncio da 
professora. Pois bem, a partir dessa narrativa temos o exemplo de uma prática 
que podemos denominar de prática socializadora. 
 
É comum ouvirmos de pais e professores que a Educação Infantil é um 
espaço/lugar de socialização. Há alguns artigos produzidos por estudiosos (Costa 
 8 
e Silva, 2000) da educação infantil que são assim intitulados “O adulto um 
parceiro especial: o adulto facilita a criança a explorar o ambiente e a socializar-
se”. No entanto, a partir da narrativa apontada, cabe-nos perguntar: Socializar o 
quê? Com quem a criança se socializa? Onde estão as professoras que de posse 
de um intransferível desejo de conhecer quem são seus alunos, se dedicam a 
uma prática nova em seu mundo profissional, utilizando a pesquisa de dados e os 
registros que melhor possam revelar e desvelar quem são aqueles seres com 
quem interagem cotidianamente em sala de aula? Em hipótese alguma, nessa 
análise, estou desejando desconsiderar o papel do adulto enquanto parceiro mais 
experiente nessa primeira fase de reconhecimento e exploração do ambiente 
pela qual a criança passa, mas justamente chamar a atenção para a dinâmica 
das relações que estão se instituindo na educação infantil. Não é raro, encontrar 
nas narrativas produzidas pelas alunas estagiárias a descrição de práticas em 
que, enquanto as crianças brincam as professoras titulares aproveitam para fazer 
outras tarefas. 
 
Mas, qual a relação dessa narrativa com as situações de letramento? De 
alfabetização? 
 
Bem, o próprio jogo simbólico nos permitiria apresentar razões para ter 
elencado essa narrativa, pois é através do jogo simbólico que a criança assimila 
a realidade externa - adulta - à sua realidade interna. Porque quando uma 
criança brinca, joga ou desenha, ela está, de acordo com Freire (1999), 
desenvolvendo a capacidade de representar, simbolizar. Simbolização 
necessária para a representação do código escrito, por exemplo. 
 
No entanto,além dessa razão, nesta narrativa há um aspecto que urge, 
não apenas na Escola Infantil, mas na Educação Básica como um todo que é o 
fato de a professora não ser interlocutora/tradutora. A expressão “...em nenhum 
momento a professora [titular] brincou com as crianças...” remete-me a uma 
observação de Ferreiro (2001), em que ela aponta que as crianças urbanas, 
rodeadas de escrita desde que nascem, nem sempre são rodeadas de 
informantes e intérpretes. A autora salienta, ainda, que ao chegarem à escola, as 
crianças encontram uma professora que em vez de agir como intérprete, limita-se 
 9 
a agir como decodificadora: diz M é “eme” ou /m/; diz que MA é “ma”, ou seja, /m/ 
+ /a/. 
 
No entanto, a partir da próxima narrativa, podemos perceber que nem 
em situação de decodificadora a professora da narrativa a ser analisada é 
colocada, e eu salientaria o quanto em determinadas situações de alfabetização 
ou mesmo de letramento precisamos ser, enquanto professoras, decodificadoras, 
apesar de compreender a posição de Ferreiro (2001). Vejamos. 
 
Neste dia a professora [titular] deu para os alunos uma folha 
onde tinha o nome do aluno escrito pela professora em 
cima, e eles deveriam repetir 3 vezes abaixo. Depois dos 
alunos terem feito o trabalho eles o levavam até a 
professora...conforme iam acabando o trabalho do nome a 
professora [titular] entregava uma folha mimeografada, que 
segundo ela trabalhava a motricidade fina. (Nível B, Escola 
Estadual de Porto Alegre). 
 
Podemos observar o quanto a situação professora decodificadora, 
informante, intérprete ou tradutora distancia-se das narrativas apontadas. 
 
Cabe, também, ressaltar o quanto essa prática pedagógica, a qual 
denominaremos “hora da atividade”, está alicerçada na forma de planejamento 
apontada por Ostetto (2000). O planejamento, nesta prática, é baseado em 
listagem de atividades. Segundo a autora, esse tipo de planejamento poderia ser 
considerado um dos mais rudimentares, pois está baseado na preocupação do 
educador em preencher o tempo de trabalho com o grupo de crianças, entre um e 
outro momento da rotina (higiene, alimentação, pátio, etc.). Assim, como o 
planejamento é diário, a professora vai listando as possíveis atividades a serem 
desenvolvidas pela criança. Conforme as narrativas apontadas pelas alunas 
estagiárias essa é a forma como as professoras ainda organizam seus 
planejamentos. 
 
Bem, um contraponto a estas narrativas, seriam as narrativas a seguir, 
onde a prática docente é exercida pelas alunas estagiárias. Certamente o fato 
das alunas estagiárias estarem em formação marcará algumas diferenças. 
 10 
 
Gostaria, no entanto, de ressaltar que na disciplina de prática de ensino 
na Educação Infantil, o trabalho com as alunas estagiárias busca priorizar 
estratégias de trabalho que possibilitem o contato da criança com o material 
gráfico impresso, que sirva para explorar a apropriação dos princípios básicos de 
organização da escrita, suas convenções e suas funções. 
 
Essas estratégias se concretizam na incorporação de um amplo leque de 
materiais e de atividades capazes de sensibilizar a criança para com o meio 
escrito. 
 
Em outras palavras, os textos e os suportes existentes na vida cotidiana 
são os materiais que as alunas estagiárias oferecem às crianças. Nas aulas com 
as crianças, elas devem possibilitar que esses materiais sejam manipulados, 
recortados e classificados para a elaboração de outros materiais, para a 
confecção de um álbum, de um jogo de memória, como no exemplo abaixo. 
 
Ofereci ao grupo o jogo de memória que confeccionamos 
com caixas de leite. Alguns ainda não sabiam jogar o jogo 
de memória e os colegas que sabiam, junto comigo foram 
ensinando. (Nível B, Escola Estadual de Porto Alegre). 
 
Conforme a percepção dos leitores, a partir do que foi apontado, 
podemos analisar que os estudos de Teberosky e Colomer (2003), permeiam 
essa narrativa, quando as autoras afirmam que para entrar no mundo da escrita, 
é importante que as crianças interajam com uma grande diversidade de objetos 
escritos, pois a presença destes e a atitude da professora que facilita, interage e 
orienta sua exploração, favorece as atividades de ler e escrever, mesmo antes de 
as crianças poderem fazê-lo de forma convencional. 
 
Tal aspecto pode ser analisado, também, na narrativa abaixo. 
 
Em seguida vem a novidade da semana que é a sacola 
surpresa. Coloquei várias sucatas como: caixa de sabonete, 
pote de xampu, lata de azeite, etc. Tudo estava dentro de 
uma sacola grande escrita nos dois lados da sacola: sacola 
surpresa onde destaquei a letra S de sacola e o S de 
 11 
surpresa em vermelho e ainda amarrei as duas alças com 
uma fita vermelha com dourado fazendo um tope...(Nível A, 
Escola Comunitária do Município de Gravataí/RS). 
 
 
Bem, parece-nos pelo que está sendo apontado nestas narrativas e pelo 
comentário anterior que o curso de formação dessas alunas estagiárias prioriza, 
mesmo na educação infantil, a organização de um ambiente alfabetizador. 
 
Entretanto, cabe-me ressaltar dois aspectos com relação a esta idéia. 
 
Primeiro, fazer menção e corroborar com Soares (2003), quando aponta 
o quanto às práticas pedagógicas construtivistas são permeadas por equívocos e 
por falsas inferências, quando postulam que através do convívio intenso com o 
material escrito que circula com a cultura escrita, a crianças se alfabetiza. 
Saliento, ainda, como o letramento acabou obscurecendo a alfabetização, e 
conseqüentemente a perda de sua especificidade. 
 
E segundo, incorporar a idéia de ambiente alfabetizador, apontada 
anteriormente, uma complementação. Isto é, quando em interação didática com 
as alunas estagiárias propomos a idéia de um ambiente alfabetizador e de 
letramento, pois esses processos segundo Soares (2003) são interdependentes, 
embora distintos, estamos situando que é pouco colocar os materiais escritos 
“nos cantinhos” (prática de organizar os espaços da sala de aula da educação 
infantil de forma temática: cantinho da leitura, da casinha, do ateliê, etc ). É 
preciso transformar a sala de aula em um ambiente alfabetizador. 
 
E para isto é preciso que a ação docente se dê no sentido de provocar 
múltiplas interações das crianças e da professora com os materiais que estão em 
exposição e, mais do que tudo, propor o uso destes materiais. Nesse sentido, 
apostamos, sim, em uma escola de Educação Infantil que estabeleça vínculos 
entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento formal, a partir de uma 
interação didática que priorize a tradução, a interpretação e a interlocução. 
 
 
 12 
Considerações finais 
 
Nesse trabalho de pesquisa todas as colocações feitas, a partir do lugar 
em que me situo – professora/pesquisadora - trazem para mim importantes 
reflexões sobre o ato educativo na educação infantil. 
 
Apesar da ênfase de meu trabalho ter se desenvolvido, a partir de 
situações de letramento, reconheço que, de fato, durante a análise não salientei 
apenas esse aspecto. 
 
Sendo assim, as narrativas apontadas ecoavam e ecoam outras 
análises. Penso que “isso que chamamos de realidade não é um dado externo a 
ser acessado pela razão, mas é sim, o resultado de uma construção interessada 
(Veiga Neto, 1996), pois, ao invés de narrativas simplesmente enunciadas, 
vamos percebendo no processo de descrição dessas narrativas a configuração 
de polêmicas, de disputas, permeadas por interesses, convicções e valores em 
jogo. Vamos percebendo que os movimentos das narrativas não se dão de 
maneira linear, nem mesmo pendular, mas que os enfoques se esboçam e se 
explicitam a partir do é do que temsido privilegiado socialmente. 
 
Nesse sentido, buscar outros olhares sobre a multiplicidade de narrativas 
em uma narrativa foi o grande desafio deste trabalho que se constituiu em um 
jogo estratégico para empreender uma aventura nas narrativas cotidianas da 
escola de educação infantil. 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
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Carmem e KAERCHER, Gládis E. P. da Silva. Educação Infantil: pra que te 
quero? Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. 
 
FERREIRO, Emília. Atualidade de Jean Piaget. Porto Alegre: Artes Médicas, 
2001. 
 13 
 
FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1999. 
 
FONTANA, Roseli C. A elaboração conceitual : a dinâmica das interlocuções em 
sala de aula . In: SMOLKA, Ana Luiza B.; GÓES, Maria Cecília R. de. A 
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Universitária, 2000. 
 
GERALDI, João Wanderley. Da redação à produção de textos. In: GERALDI, 
João Wanderley e CITELLI, Beatriz. Aprender e ensinar com textos de alunos. 
São Paulo: Cortez, 2001. 
 
GUEDES, Paulo Coimbra. Da redação escolar ao texto: um manual de redação. 
Porto Alegre: UFRGS, 2002. 
 
MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 2002. 
 
OSTETTO, Luciana Esmeralda. Planejamento na Educação Infantil: mais que 
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e encantamentos na educação infantil: partilhando experiências de estágios. 
Campinas, SP: Papirus, 2000. 
 
COSTA, Eliane; SILVA, Alma Helena A. O adulto um parceiro especial: o adulto 
facilita a criança a explorar o ambiente e a socializar-se.In: ROSSETTI- 
FERREIRA, Maria Clotilde et al. Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo: 
Cortez, 2000. 
 
 14 
SMOLKA, Ana Luiza B. Múltiplas Vozes na sala de aula: aspectos da construção 
coletiva do conhecimento na escola. Trabalhos em lingüística aplicada. 
Campinas, n. 18, jul./dez. 1991. 
 
_____.A dinâmica discursiva no ato de escrever: relações de oralidade-escritura. 
In: GÓES, Maria Cecília; SMOLKA, Ana Luiza. A linguagem e o outro no espaço 
escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas: Papirus, 1993. 
 
SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: muitas facetas. Trabalho 
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TEBEROSKY, Ana e COLOMER, Teresa. Aprender a ler e escrever: uma 
proposta construtivista. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003. 
 
VEIGA-NETO, Alfredo. Olhares... In: COSTA, Marisa Vorraber. Caminhos 
investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. Porto Alegre: Mediação, 
1996. 
 
	ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM TEMA EM DISCUSSÃO
	Darlize Teixeira de Mello
	Universidade Luterana do Brasil/RS
	Objetivos e questões norteadoras
	Contextualização: o universo da pesquisa
	Trabalho de campo
	Definição de categorias de análise para fins de discussão
	Considerações finais
	Referências Bibliográficas

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