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FARES FACULDADE RORAIMENSE DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE AGRONOMIA Prof. MSc. Denysson Amorim da Silva – agrobiorr@yahoo.com.br A IMPORTÂNCIA DA SEMENTE NA AGRICULTURA 1 – Como elemento modificador da história do Homem O homem, provavelmente, sempre se alimentou de grãos, ao lado dos alimentos de origem animal. Mas, durante milhares e milhares de anos de sua existência, ele não conseguia se aperceber da relação existente entre uma semente e respectiva planta que a produzia, de sorte que sua principal fonte de alimentos era a caça que conseguia apanhar. E como os animais se moviam constantemente, impulsionado pelas variações estacionais, o homem levava uma vida totalmente nômade, deslocando- se sempre atrás da caça. Em determinada época, que se supõe ter ocorrido há mais ou menos 10.000 anos, a relação entre homem e a natureza sofreu profunda modificação, quando este percebeu a possibilidade da semente multiplicar a planta que lhe deu origem. O comportamento nômade inicial, deslocando-se atrás da caça, pôde ser alterado pelo próprio homem, fixando-se em local desejado, cultivando seus alimentos e formando as primeiras comunidades. Portanto, a constatação da relação semente-planta- sementes teve um papel fundamental no desenvolvimento da agricultura e história da civilização. 2 – Como mecanismo de perpetuação da espécie As plantas produtoras de sementes apareceram, provavelmente, na parte final do período Devoniano (era Paleozóica), cerca de 350 milhões de anos atrás. As sementes teriam surgidos como uma extensão da heterosporia (a produção de diversos tipos de esporos assexuais), em resposta a pressões ambientais (Tiffuny, 1977). As sementes representam um meio de sobrevivência das espécies vegetais, visto que resistem a condições adversas que seriam fatais a essas espécies e, mesmo após a extinção das plantas que lhes deram origem, elas podem se desenvolver e originar novas plantas. Elas são o principal veículo de reprodução das plantas através do tempo (mecanismo de dormência) e no espaço (pelo mecanismo de dispersão, tais como espinhos, pêlos, asas e etc.), e a forma de distribuir os melhoramentos genéticos às sucessivas gerações. O mecanismo de dormência impede que as sementes germinem todas ao mesmo tempo após a maturação, evitando assim, a possível destruição da espécies, caso sobrevenha alguma calamidade climática após a germinação. É, portanto, um mecanismo pelo qual a semente busca germinar só quando “sabe” que as condições climáticas vão ser propícias não só para a germinação mais também para as fases subsequentes de crescimento da plântula/planta. FARES FACULDADE RORAIMENSE DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE AGRONOMIA Prof. MSc. Denysson Amorim da Silva – agrobiorr@yahoo.com.br Já os mecanismos de dispersão das sementes poderiam ser encarados como os meios pelos quais a espécie vegetal tenta “conquistar” novas áreas. Mediante esses recursos a espécie vegetal tenta “fugir” do local onde se formou e “arrisca a vida” em outras áreas. Essa capacidade de distribuição aleatória da germinação no espaço, conferida pelos mecanismo de dispersão, seria o fator fundamental da heterogeneidade das populações vegetais. 3 – Como Alimento Uma semente qualquer possui três tipos básicos de tecidos: O Meristemáticos, que em Tecnologia de Sementes, convencionou-se chamar de “eixo embrionário”, que, sob condições propícias para a germinação, vai crescer e dar origem à planta; Um Tecido de Reserva, que pode ser cotiledonar, endospermático ou perispermático, ou ainda resultante da associação de dois ou dos três. E por último, um Tecido de Proteção Mecânica, que se constitui no envoltório da semente, vulgarmente conhecido como casca. Os tecidos de reservas caracteriza-se por ser especialmente rico em três substâncias: Carboidratos, Lipídios e Proteínas. As quantidades que as compõem cada uma dessas substâncias na composição química da semente e as que vão caracteriza-las como sementes Amiláceas, Oleaginosas ou Protéicas. Essas substâncias apresentam importância econômica como alimento (correspondem a 60-70% dos alimentos consumidos mundialmente) e são transformadas pela agroindústria em uma variedade de produtos. O Trigo, provavelmente é a espécie há mais tempo cultivada pelo homem, serviu de sustento para as civilizações da Mesopotâmia e o do Nilo, e também para aqueles que se desenvolveram posteriormente na Europa; o arroz foi e é a base alimentar da civilização asiáticas; o sorgo, na África e o milho, nas Américas. 4 – Como Material de Pesquisa Como material de pesquisa, a semente apresenta algumas características que a tornam de incomparável valor. Em primeiro, destaca-se o seu tamanho e forma, que normalmente são pequenas, o que possibilita guardar em recipientes relativamente pequenos. Sua forma, de maneira geral, tendendo pra arredondada, facilita sua manipulação. A semente é um órgão que usualmente se beneficia da desidratação e isto permite conservá-la em bom estado durante muito tempo. Não bastassem tais FARES FACULDADE RORAIMENSE DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE AGRONOMIA Prof. MSc. Denysson Amorim da Silva – agrobiorr@yahoo.com.br características, é um órgão que apresenta organização fisiológica e bioquímica altamente complexa, permitindo, praticamente, qualquer tipo de estudo da área da Biologia Vegetal. 5 – Como Inimigo do Homem Os mecanismo de dispersão de dormência que possibilitaram às espécies produtoras de sementes a conquistar a Terra, são os mesmo que tornam ao homem tão difícil e tão caro o controle das plantas daninhas. Outro aspecto a ser considerado é que as sementes são veículos eficientíssimos de disseminação de pragas e moléstias de uma região pra outra. DEFINIÇAO E CONCEITOS Pela definição botânica, semente é o óvulo desenvolvido após a fecundação, que contém embrião, reservas nutritivas e tegumento. A Legislação Brasileira (Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003) apresenta um conceito mais amplo, definindo semente como o material de reprodução vegetal de qualquer gênero, espécie ou cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica de semeadura. Uma coisa verificada muito cedo pelo homem em suas atividades relacionadas com a Agricultura é que havia necessidade de se proceder a uma divisão de trabalho, isto é, fazer com que alguns agricultores só produzissem sementes, enquanto outros produzissem grãos. É muito difícil produzir, ao mesmo tempo, material para consumo (grão) e material para plantio (sementes) (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000). Com a Revolução Industrial, a produção de sementes deve ter sofrido grandes progressos, pois que a crescente mecanização dos meios de produção e de transportes resultava em maior concentração urbana, na redução da população rural, no aparecimento de novas cidades, numa melhor e mais rápida colonização dos novos continentes, numa ampliação do período médio da vida humana e, tudo isso, consequentemente, na necessidade de maior produção de alimentos e de matéria prima para as indústrias (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000). A produção de sementes deve ter sido objeto de fraudes desde os seus primórdios, mas foi somente a partir dos primeiros anos do século XIX que foram tomadas as primeiras providências efetivas para tentar coibir abusos desse tipo. Foi em 1816, em Berna, na Suíça, que surgiu o primeiro decreto proibindo a venda de sementes de trevo adulteradas. As fraudes cometidas, de acordo com registros da época consistiam na mistura de trevo com areia peneirada, lavada e colorida a fim de se FARES FACULDADE RORAIMENSE DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE AGRONOMIAProf. MSc. Denysson Amorim da Silva – agrobiorr@yahoo.com.br assemelhar às sementes ou, então, na mistura com sementes semelhantes de outras espécies, ou ainda com sementes inviáveis. Em meados de 1869, Tharandt, na Saxônia, Alemanha, surgiu o primeiro laboratório de análise de sementes do mundo, chefiado por Friederich Nobbe, botânico e geneticista alemão. Nobbe logo percebeu que se tornava necessária a criação de regras para analisar sementes que fossem observadas por todos os laboratórios, a fim de evitar obtenção de resultados conflitantes. Trabalhou durante 7 anos e, finalmente, em 1876, editou o seu “Handbuch der Samenkund” (Manual de Sementes), um alentado volume de 631 pág. No Brasil, os poucos e esparsos documentos existentes apontam o ano de 1956 como sendo aquele em que, pela primeira vez, se organizou um Manual de Regras para Análise de Sementes. Esse manual vem, depois disto, sendo atualizado com relativa periodicidade. A partir da edição de 1967, por decisão do MAPA, as Regras para Análise de Sementes (RAS) passaram a ter validade nacional. Nos últimos anos, o Brasil, país essencialmente agrícola, definiu-se pelo aumento da produção e da produtividade agrícola, para elevar a produção de grãos a um patamar superior a 100 milhões de toneladas. Através de dados obtidos entre os anos de 1990 e 2003, observa-se que a produção de grãos cresceu 131%, embora o crescimento da área cultivada no País tenha sido de apenas 16,1%, graças ao aumento de 85,5% na produtividade, que, em termos médios, para as grandes culturas, passou de 1.500 para 2.800 kg/ha. Estes resultados estão diretamente relacionados à utilização de sementes de qualidade, com capacidade de produção, pureza genética, alta qualidade fisiológica e boa sanidade, parâmetros esses que contribuem significativamente para que altos níveis de produtividade sejam alcançados. A relação entre utilização de sementes e produtividade é exemplificada na Figura 1 abaixo, que apresenta a produtividade e a taxa de utilização de sementes de soja. Com o aumento na taxa de utilização de sementes de 50% para 90%, observa-se um aumento de 28% na produtividade, que passa de 2.500 para 3.200 kg/ha. FARES FACULDADE RORAIMENSE DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE AGRONOMIA Prof. MSc. Denysson Amorim da Silva – agrobiorr@yahoo.com.br 1000 1500 2000 2500 3000 3500 0 20 40 60 80 100 Taxa de utilização de sementes (%) Pr od ut ivi da de (k g/h a) Figura 1. Relação entre produtividade e taxa de utilização de sementes de soja, nos estados brasileiros com a menor e a maior médias estaduais (Abrasem, 2005). Apesar dos benefícios produzidos pelo uso de sementes, tem-se observado uma redução na utilização de sementes certificadas nos últimos anos, as quais têm sido substituídas por sementes próprias ou piratas, sem qualidade comprovada, devido ao menor custo destas. No Rio Grande do Sul, em 1998 o uso de sementes certificadas de soja era de 65%, caindo para 3% em 2004. Efeito semelhante é observado para o arroz e para o trigo, cuja taxa de utilização decaiu de 60% para 33% e 92% para 40%, respectivamente. Contudo, deve-se ressaltar que o maior custo da semente certificada acaba sendo compensado pela redução nos gastos com insumos e pela maior produtividade da lavoura. Desta forma, percebe-se a importância da semente, desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, onde a solução para alimentar a crescente população mundial passa pelo aumento na produção de grãos, proporcionado pela utilização de sementes de alta qualidade. REFERENCIA CARVALHO, N. M., NAKAGAWA, J. Sementes – Ciência, tecnologia e produção. 4 ed., Jaboticabal:FCAV/FUNEP, 2000.
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