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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM SEGURANÇA AULA 2 Prof. Nivaldo Vieira Lourenço 2 CONVERSA INICIAL Esta é a rota de aprendizagem da nossa segunda aula da disciplina Planejamento Estratégico em Segurança. O assunto principal de nossos estudos serão os princípios, conceitos e fases do planejamento, distribuídos pelos seguintes temas: 1) princípios e fases do planejamento; 2) trinômia: planejamento, estratégia e planejamento estratégico; 3) planejamento, estratégico, tático e operacional; 4) definição de missão e objetivos; e 5) definição de visão e valores. TEMA 1: PRINCÍPIOS E FASES DO PLANEJAMENTO São os princípios que norteiam os estudos e decisões de determinado ramo do conhecimento, e não há diferenças profundas entre os princípios que regem a elaboração do planejamento estratégico de empresas privadas ou de instituições públicas, pois ambos devem ter como preocupação a definição futura da missão, da visão e dos valores da organização, objetivando escolher a melhor estratégia e estabelecer ferramentas de controle e avaliação. A Constituição Federal de 1988, no artigo 37, prevê os princípios que dirigem toda atividade da administração pública, mas valem também para a administração privada, sendo eles: “legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. O objetivo deste tema será trabalhar com os princípios que atendem à gestão da segurança pública, e para Oliveira (2001, p. 37) são: 1. Princípio da contribuição dos objetivos: o planejamento deve sempre visar aos objetivos da empresa. 2. Princípio da precedência do planejamento: corresponde a uma função administrativa que vem antes das outras (organização, direção e controle). 3. Princípio de maior penetração e abrangência: o planejamento pode provocar uma série de modificações nas características e atividades da empresa. 4. Princípio da eficiência, eficácia e efetividade: o planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as deficiências. Há outros princípios, os quais consideramos desdobramentos dos enumerados e de importante objeto de estudo, sendo eles: 3 Hierarquia: definição clara e objetiva dos graus de autoridade. Qualificação e divisão das tarefas: uma organização policial é formada por um complexo de indivíduos, cada qual com uma formação intelectual e/ou tendência, simpatia para o desenvolvimento de uma determinada tarefa. Qualidade do controle (ângulo da autoridade): bem próximo ao princípio da hierarquia, com a definição de quais tarefas serão divididas e quem serão os responsáveis por elas. Para o planejamento, Oliveira (2001, p. 40), elenca quatro princípios específicos: Planejamento participativo: o principal benefício do planejamento não é o seu produto, ou seja, o plano, mas o processo envolvido. Planejamento coordenado: todos os aspectos envolvidos devem ser projetados de forma que atuem interdependentemente. Planejamento integrado: os vários escalões de uma organização devem ter seus planejamentos integrados. Planejamento permanente: essa condição é exigida pela própria turbulência do ambiente, pois nenhum plano mantém seu valor com o tempo. Fases do planejamento As fases do planejamento estratégico variam de acordo com a literatura. Apresentaremos um modelo adequado à realidade da gestão da segurança pública adotado por Motta (2001): “missão e objetivos > ambiente geral > ambiente específico > diagnóstico interno > estratégias alternativas > implantação organizacional > escolha estratégica > controle > implantação comportamental”. Também podemos destacar duas fases do planejamento na administração pública: 1) Fase de preparação: é de caráter político, vai da formulação à aprovação do plano; e 2) Fase de execução: de caráter técnico, envolve a implantação, o controle e a avaliação do plano. TEMA 2: TRINÔMIA: PLANEJAMENTO, ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Estudamos a origem das instituições policiais, os primórdios do planejamento – em especial, os modelos de administração pública 4 patrimonialista, burocrática e gerencial, bem como os princípios e fases do planejamento. Cabe agora conhecer os conceitos que compõem o planejamento estratégico, compreendendo o significado de planejamento, estratégia e planejamento estratégico. Vamos comparar duas definições de planejamento: Para Rezende (2008, p. 47) “planejamento é o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando de forma inovadora e diferenciada”. Oliveira (2001, p. 35) aponta que planejamento deve ser compreendido como um processo, considerando os propósitos e objetivos em determinado assunto, “[...] desenvolvido para o alcance de uma situação desejada de um modo mais eficiente e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos pela empresa”. Vamos agora analisar algumas definições de estratégia: Segundo Ghemawat (2000, p. 16), estratégia “[...] é um termo criado pelos antigos gregos, para os quais significava magistrado ou comandante-chefe militar”. Note que o conceito de estratégia remonta milênios atrás, da época dos manuscritos de Sun Tzu, autor de A Arte da Guerra, provavelmente redigido por volta do século IV a.C. Chiavenato e Sapiro (2009, p. 10) apontam que os ensinamentos legados por Clausewitz foram largamente aplicados para a estratégia organizacional, e que “a experiência militar em situações de guerra serviu de base para o desenvolvimento de novas ideias na administração”. Maximiano (2000, p. 203) conceitua estratégia como “[...] a seleção dos meios, de qualquer natureza, empregados para realizar objetivos. O conceito de estratégia nasceu da necessidade de realizar objetivos em situações complexas, principalmente nas quais um concorrente procura frustrar o objetivo do outro”. E por final, planejamento estratégico – lembrando que já o definimos em nossa primeira aula. 5 Para Oliveira (2001, p. 35), planejamento estratégico “[...] é um conjunto de providências a serem tomadas pelo executivo para a situação em que o futuro tende a ser diferente do passado”. Chiavenato (2003, p. 236) retrata que o “planejamento estratégico refere- se à maneira pela qual uma organização pretende aplicar uma determinada estratégia para alcançar os objetivos propostos”. Trata-se, portanto, de um planejamento mais amplo, que envolve toda uma organização, e que decorre de um plano de sua cúpula. TEMA 3: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL Apresentamos aqui uma breve definição: Planejamento estratégico: processo gerencial que possibilita ao agente público estabelecer o rumo a ser seguido pela instituição policial, com vistas a obter um nível de otimização na relação com seu ambiente. É de responsabilidade dos níveis mais altos da organização e diz respeito tanto à formulação de objetivos quanto à seleção dos cursos de ação a serem seguidos para sua consecução, levando em conta as condições externas e internas. Planejamento Tático O planejamento tático é elaborado em nível departamental, e suas principais características são: 1) projetado para o médio prazo; 2) abrange seus recursos específicos, preocupando-se em atingir os objetivos do departamento, e; 3) é definido em cada departamento da organização/instituição/empresa. Planejamento Operacional O planejamento operacional é a formalização, principalmentemediante documentos escritos, das metodologias de desenvolvimento e implantação estabelecidas. Há basicamente os planos de ação ou planos operacionais, ou seja, é o planejamento elaborado para cada tarefa ou atividade. É projetado para o curto prazo, e deve conter com detalhes os recursos necessários para o seu desenvolvimento e implantação, os procedimentos básicos a serem adotados, os produtos ou resultados finais esperados, os prazos estabelecidos e os responsáveis pela sua execução e implantação. 6 TEMA 4: DEFINIÇÃO DE MISSÃO E OBJETIVOS Para podermos compreender os estudos de como elaborar um planejamento estratégico para os órgãos da administração pública, principalmente aqueles órgãos vinculados à segurança pública, devemos também nos ater aos estudos e definições advindos da administração privada. Para tanto, somos sabedores de que as organizações públicas possuem finalidades públicas, a qual busca atender às necessidades da população. Normalmente, esta necessidade pública a ser atingida está definida na lei que cria a instituição, o que facilita identificar a missão, pois a norma delimita a razão de existir de um órgão público. Já com relação às corporações privadas, a missão é definida por seu corpo gerencial, e deve estar alinhada a sua constituição formal. Missão Segundo Chiavenato e Sapiro (2009, p. 41) a missão “é o elemento que traduz as responsabilidades e pretensões da organização junto ao ambiente e define o ‘negócio’, delimitando seu ambiente de atuação”. Uma das confusões identificadas ao desenvolver a missão é confundi-la com a atuação. A missão circunscreve a sua área de atuação, sua competência. O gestor da segurança, ao construir a missão deve estar atento a uma visão ampla e não se limitar a defini-la enquanto objetivos fundamentais. Exemplificando, poderíamos afirmar que a missão do Corpo de Bombeiros Militar é “realizar ações de defesa civil”. Não podemos esquecer alguns verbos chaves empregados na construção da missão: promover, servir, oferecer, produzir, assegurar, solucionar, inovar, socializar, entre outros, sempre utilizados no tempo presente, portanto, não inserindo data específica ou tempo, e, ao final, serão empregados desfechos como: “para a sociedade”, “com qualidade”, “com orgulho”, dentre outros. Objetivos Os objetivos são os resultados que se pretende alcançar por meio de uma atividade planejada, e deve ser quantificado quando possível, e devem atentar para os seguintes critérios: 1) enunciado restrito, limitado; 2) se possível, quantificação em números; e 3) estabelecer um lapso temporal. Um exemplo de objetivo seria “reduzir o número de furtos de veículos em 5% ao ano”. 7 Segundo Chiavenato (2003, p. 168), objetivos são “[...] resultados futuros que se pretende atingir. São alvos escolhidos que se pretende alcançar dentro de certo espaço de tempo, aplicando determinados recursos disponíveis ou possíveis. Assim, os objetivos são pretensões futuras que, uma vez alcançadas, deixam de ser objetivos para se tornarem realidade”. Existe uma hierarquia de objetivos na qual alguns deles são mais importantes, lembrando que os objetivos da empresa predominam sobre todos os demais objetivos, enquanto os objetivos de cada divisão predominam sobre os objetivos de cada tarefa. Estabelecer os objetivos é de vital importância pois após fixá-los (primeiro passo), é possível obter uma visão de aonde se quer chegar, para então estabelecer como se quer chegar. TEMA 5: DEFINIÇÃO DE VISÃO E VALORES Visão Importante salientar que o poder de polícia é indelegável, portanto, sempre existirá uma Polícia, pois é função essencial de responsabilidade do Estado. É complexo, porém devemos discutir que isto não significa que ela não possa vir a ser substituída por outro órgão com igual ou maior legitimidade – isto numa visão futurística. Então o que vem a ser visão? Podemos iniciar afirmando que o hoje deve estar contido na elaboração da visão. Quando uma corporação expõe uma projeção de futuro, ela descreverá o que enxerga em longo prazo: suas perspectivas e em que lugar pretende se posicionar. Isso significa que a entidade tem um desafio que deseja alcançar e que deve ter uma perfeita compreensão do que ela faz hoje e quais são seus sonhos e prognósticos ideais. Ao construir a expressão indicativa da visão devemos utilizar o verbo voltado para a ação futura: “tornar-se”, “transformar-se”, “ser reconhecida”. Podemos exemplificar por meio do conceito de visão da Polícia Rodoviária Federal, disponível em seu sítio eletrônico: “Ser reconhecida pela Sociedade brasileira por sua excelência e efetividade no trabalho policial e pela indução de políticas públicas de segurança e cidadania”. Por ser uma projeção, permitimos inserir datas ou estabelecer um prazo para alcançar o desafio, apesar de não ser obrigatório. 8 Valores Podemos perceber que há textos que traduzem valor como sinônimo de princípios. Esta percepção de equiparação dos conceitos é aceitável em empresas privadas, mas temos dificuldades de aplicar tal abordagem às organizações públicas, pois ao falar em valores a organização expõe aquilo em que acredita – sua fé e seus princípios – e indica uma lista de atributos vivenciados pelos seus integrantes. Normalmente estes códigos de conduta são fixados em lei própria para os servidores policiais; outras vezes estão inseridos junto ao estatuto que disciplina todo o regime jurídico ou ainda, em regulamentos próprios, e, ao contrário de entidades privadas, estes dilemas morais e ações éticas são imposições legais, e não meros referenciais, e sua violação podem sujeitar aos integrantes das corporações sanções disciplinares. Podemos ainda apresentar como exemplos de valores frases com os seguintes dizeres: “satisfação do cliente”; “ética nos relacionamentos”; “valorização do ser humano”; “honestidade, seriedade”; “capacitação dos colaboradores”; “trabalho em equipe e profissionalismo”. NA PRÁTICA Para melhor compreensão das definições desta aula, analise o plano estratégico do município de Salvador (BA), para o triênio 2013-2016, no qual foram previstas diversas ações sistêmicas, dentre as quais ações para a área de Ordem Pública. Este estudo está presente no livro base da disciplina, e você deverá analisá-lo de forma a visualizar as definições de planejamento estratégico, tático e operacional, e encontrar qual é a missão, os objetivos, a visão e os valores da Guarda Municipal de Salvador. FINALIZANDO Nesta aula nosso objeto de estudo foi o planejamento nas instituições públicas de segurança, e como os objetivos devem ser fatores importantes para atingir com eficiência e eficácia os resultados previstos para que as tarefas sejam finalizadas com qualidade e controle. 9 Tivemos noção do tripé planejamento, estratégia e planejamento estratégico, sob a ótica de diversos autores, preparando você para entender que o conceito de estratégia foi concebido nas estruturas militares e levado para o ambiente de negócios. Ainda conceituamos missão, objetivos, visão e valores. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. BUSHIDÔ, N. Sun Tzu: a arte da guerra – os treze capítulos originais. São Paulo: Jardim dos Livros, 2007. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: da intençãoaos resultados – fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2000. OLIVEIRA, D. P. R. de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 16. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001. REZENDE, D. A. Planejamento estratégico para organizações públicas e privadas: guia prático para elaboração do projeto de plano de negócios. Rio de Janeiro: Brasport, 2008.
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