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Imaginação Sociológica

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Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de graduação em Ciências Sociais
Professora Maria Soledad Etcheverry Orchard
Disciplina de Introdução à Sociologia 
Livro
– ano: 1965
- 1a edição
- páginas 9 à 32; 179 à 189
- livro: A imaginação sociológica
- capítulo 1 – A promessa e 9 – Da Razão e Liberdade
- C. Wright Mills
Tema do livro: sociologia
- palavras-chaves: sociologia, alienação, razão, liberdade, imaginação 
Trechos e considerações
“os homens sentem, frequentemente, suas vidas privadas como uma série de armadilhas. (…) tudo aquilo de que os homens comuns tem consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. (…) estão limitadas pelo cenário próximo: o emprego, a família, os vizinhos; (…) quanto mais consciência tem, (…) das ambições e ameaças que transcendem seus cenários imediatos, mais encurralados parecem sentir-se.” p. 9
os homens não tem consciência das relações que existem entre suas vidas e a sociedade toda; não compreendem a ligação entre suas vidas e o curso da história mundial; “não dispõem da qualidade intelectual básica para sentir o jogo que se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o eu e o mundo.” p. 10
grandes mudanças ocorreram; em apenas uma geração, um sexto da humanidade passou de uma era feudal, atrasada, para outra moderna, avançada e terrível
libertação de colônias; novas formas de imperialismos; revoluções; sociedades totalitárias nascem e são esmagadas – ou são exitosas
depois de dois séculos de capitalismo, ele é visto apenas como um processo de transformar a sociedade num aparato industrial; até mesmo a democracia formal está limitada a uma parcela pequena da humanidade
“as velhas maneiras de pensar e sentir entraram em colapso” p. 11
“o que precisam, e o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. É essa qualidade, afirmo, que jornalistas e professores, artistas e públicos, cientistas e editores estão começando a esperar daquilo que poderemos chamar de imaginação sociológica.” p. 11
“a imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhes levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais.” p. 11
primeiro fruto dessa imaginação: o indivíduo só pode compreender sua experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu período; só pode conhecer suas possibilidades, conhecendo as possibilidades de todas as pessoas que se encontram nas mesmas condições que ele
todos os sujeitos contribuem para a sociedade, apenas pelo ato de viver; contribui para o condicionamento da sociedade e para o curso de sua história, ao mesmo tempo em que é condicionado por ela (sociedade) e seu processo histórico
“a imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da sociedade.” p. 12
os que tiveram consciência imaginativa das possibilidades de seu trabalho formularam repetida e coerentemente três séries de perguntas: (p.13)
Qual a estrutura dessa sociedade como um todo? Quais seus componentes essenciais, e como se correlacionam? Como difere de outras variedades de ordem social? Dentro dela, qual o sentido de qualquer característica particular para a sua continuação e para a sua transformação?
Qual a posição dessa sociedade na história humana? Qual a mecânica que a faz modificar-se? Qual é o seu lugar no desenvolvimento da humanidade como um todo, e que sentido tem para esse desenvolvimento? Como qualquer característica particular que examinemos afeta o período histórico em que existe, e como é por ele afetada? E esse período – quais as suas características essenciais? Como difere de outros períodos? Quais seus processos característicos de fazer a história?
Que variedades de homens predominam nessa sociedade e nesse período? E que variedades irão predominar? De que formas são selecionadas, formadas, liberadas e reprimidas, tornadas sensíveis ou impermeáveis? Que tipos de “natureza humana” se revelam na conduta e caráter que observamos nessa sociedade, nesse período? E qual é o sentido que para a “natureza humana” tem cada uma das características da sociedade que examinamos?
Qualquer que seja o objeto de exame, essas são perguntas que os melhores sociólogos devem fazer; ter essa capacidade de passar de uma questão à outra; ter a capacidade de ir das mais remotas e impessoais transformações às características mais íntimas do ser humano – e ver a relação entre as duas
distinção mais proveitosa: a existente entre “as perturbações pessoais originadas do meio mais próximo” e “as questões públicas da estrutura social” (p. 14)
“uma perturbação é um assunto privado: a pessoa sente que os valores por ela estimados estão ameaçados.” (p. 15)
“uma questão é um assunto público: é um valor estimado pelo público que está ameaçado. (…) envolve quase sempre uma crise nas disposições institucionais, e com frequência também aquilo que os marxistas chamam de 'contradições' ou 'antagonismos'”. (p. 15)
exemplos que situações que podem ser questões pessoais ou públicas: desemprego, a guerra, o casamento, as metrópoles...
“Quais as principais questões públicas para a coletividade e as preocupações-chaves dos indivíduos em nossa época? Para formular as questões e as preocupações, devemos indagar quais os valores aceitos e que estão ameaçados, e quais os valores aceitos e mantidos pelas tendências características de nosso período. Tanto no caso da ameaça como do apoio, devemos indagar que contradições de estrutura mais destacadas podem existir na situação.” p. 17
o bem-estar é experimentado quando sobre seus valores não pesa qualquer ameaça; quando estes valores são ameaçados, experimentam uma crise; e se todos os valores estão em jogo, sentem a ameaça total do pânico
mas se as pessoas não tem consciência dos valores aceitos, e portanto nem sentem qualquer ameaça, temos então a indiferença, que se envolver a todos, transforma-se em apatia
e se não tem consciência de nenhum valor estimado, mas ainda assim sentem-se ameaçadas, temos então “a inquietação, a ansiedade, que, se for bastante forte, torna-se uma ameaça mortal e não-específica.” p. 18
“nossa época é uma época de inquietação e indiferença – ainda não formuladas de modo a permitir que sobre elas se exerçam a razão e a sensibilidade.” p. 18
“há com frequência a miséria da inquietação vaga; ao invés das questões explícitas, há com frequência o sentimento desanimador de que algo não está certo.” p. 18
na década de 1930 eram poucas as dúvidas; os valores ameaçados eram vistos e estimados por todos; as contradições estruturais que os ameaçavam também pareciam evidentes. Era uma idade política
os valores ameaçados na era posterior à Segunda Guerra Mundial não são, com frequência, reconhecidos por todos como valores, nem todos os julgam ameaçados
“para os que aceitam valores herdados, como razão e liberdade, é a inquietação em si que constitui o problema; é a indiferença em si que constitui a questão. E essa condição de inquietação e indiferença é que constitui a característica marcante do nosso período.” pp 18 e 19
os problemas da nossa época passaram além da economia, e tem hoje relação com a qualidade de vida individual
“o principal perigo do homem está nas forças desregradas da própria sociedade contemporânea, com seus métodos de produção alienantes, suas técnicas envolventes de domínio político, sua anarquia internacional – numa palavra, suas transformações gerais da própria natureza do homem e das condições e objetivosde sua vida.” p. 20
“a principal tarefa intelectual e política do cientista social (…) é deixar claros os elementos da inquietação e da indiferença contemporâneas.” p. 20
“não é apenas uma qualidade de espírito (…) é a qualidade, cujo uso mais amplo e mais desembaraçado nos proporciona a perspectiva de que todas essas sensibilidades (…) virão a desempenhar um papel maior nas questões humanas.” p. 22
 “muitos (…) passaram a considerar a ciência como um falso e pretensioso Messias, ou pelo menos um elemento altamente ambíguo na civilização moderna.” p. 23
Mills explicita sua apreensão em relação aos rumos que os estudos sociais estariam tomando (p. 26); manifesta a intenção de contribuir para essa apreensão, definindo parte de suas fontes e ajudando a “transformá-la numa necessidade específica de realizar a promessa da ciência social, abrir o caminho para novos começos; em suma, indicar algumas das tarefas à mão, e os meios disponíveis para realizar o trabalho que deve ser feito agora.” p. 27
sua concepção se opõe à ciência social como um corpo de técnicas burocráticas, com suas pretensões “metodológicas”, “grupos de pesquisa de técnicos”, refinamento dos métodos e técnicas de investigação, etc
“creio ser o que se pode chamar hoje de análise clássica um conjunto estável e utilizável de tradições; que sua característica essencial é a preocupação com as estruturas sociais históricas; e que seus problemas são de relevância direta para as questões públicas urgentes e para os problemas humanos insistentes.” p. 28
tendências da sociologia:
tendência 1: no sentido de uma teoria da história (Comte, Marx, Spencer e Weber); sociologia ocupando-se da totalidade da vida social do homem
tendência 2: no sentido de uma teoria sistemática “da natureza do homem e da sociedade” (Simmel e Von Weise); “a sociologia passa a ocupar-se de conceitos criados para a classificação de todas as relações sociais (… ). Ocupa-se (…) com uma visão bastante estática e abstrata dos componentes da estrutura social, num nível de generalidade bastante elevado.” p. 30
tendência 3: no sentido de estudos empíricos dos fatos e problemas sociais contemporâneos
capítulo 9: da Razão e Liberdade (p. 179)
“o auge da preocupação do cientista social com a história é a idéia que chega a ter da época em que vive. O auge de sua preocupação com a biografia é a idéia que chega a ter da natureza básica do homem, e dos que ela pode impor à sua transformação pelo curso da história.” p. 179
todos os cientistas sociais clássicos se preocuparam com as características salientes de sua época; mas na nossa época, muitos não fazem o mesmo. E é precisamente hoje que essas questões se tornam prementes, vitais!
“Nossas orientações principais – liberalismo e socialismo – se decompuseram virtualmente como explicações adequadas do mundo e de nós mesmos.” p. 180
“os principais fatos de nossa época (…) não podem ser (…) compreendidos em termos da interpretação liberal nem da interpretação marxista da política e cultura.” p. 181
“as idéias de liberdade e razão com frequência parecem ambíguas tanto na nova sociedade capitalista como na sociedade comunista de nossa época; (…) o marxismo tornou-se (…) uma retórica cansativa de defesa a abuso burocráticos. E o liberalismo, uma forma trivial e irrelevante de mascarar a realidade social.” p. 181
“o papel da razão nas questões humanas e a idéia do indivíduo livre como o centro da razão são os temas mais importantes que os cientistas sociais do século XX herdaram dos filósofos do Iluminismo. Para que permaneçam como os valores-chaves (…) os ideais da razão e liberdade devem ser reformulados como problemas de modos mais preciosos e solúveis do que o existente ao alcance dos pensadores e investigadores mais antigos. Pois em nossa época, esses dois valores, razão e liberdade, estão em perigo, que embora evidente é, mesmo assim, sutil!” p. 182
“presos aos ambientes limitados de suas vidas diárias, os homens comuns com frequência não podem raciocinar sobre as grandes estruturas – racionais ou irracionais – de que seu ambiente é parte subordinada. Assim (…) realizam uma série de atos (…) sem qualquer idéia dos fins a que servem (…) O crescimento dessas organizações (…) cria mais e mais esferas de vida, trabalho e ócio nas quais o raciocínio é difícil ou impossível.” p. 182
a racionalização leva os sujeitos a não mais encontrar saída, mas a adaptar-se. “Aquela parte de sua vida que sobra do trabalho, ele a usa para jogar, para consumir, para 'distrair-se'. Não obstante, essa esfera de consumo também está sendo racionalizada. (…) Essa adaptação do indivíduo e seus efeitos sobre seu ambiente e o eu resultam não apenas na perda de sua possibilidade e, com o tempo, de sua capacidade e vontade de raciocinar: também lhe afetam as possibilidades e sua capacidade de agir como homem livre. Na verdade, nem o valor da liberdade nem o da razão (…) lhe são conhecidos.” p. 184
“o que está em jogo é a natureza mesma do homem, a imagem que temos de seus limites e possibilidades como homem.” p. 185
Mills manifesta de forma muito clara, contundente, suas preocupações com o tipo de homem que está sendo “produzido”, e que ele chama de “robô alegre”. Esse robô alegre tanto pode ser uma construção involuntária, resultado e desdobramento desse sistema racionalizado alienante, como, de forma mais triste, ser o resultado de uma auto-racionalização
esse homem alienado é o oposto da imagem construída no ocidente de “homem livre”
como pode haver uma verdadeira democracia e uma sociedade realmente livre, formada por tais tipo de sujeitos? 
“a promessa moral e intelectual da ciência social é a de que a liberdade e a razão continuarão como os valores aceitos, e que serão usadas de forma séria, coerente e com imaginação, na formulação dos problemas.” p. 188
“qualquer reformulação política contemporânea das metas liberal e socialista deve incluir, como fundamental, a idéia de uma sociedade na qual todos os homens se transformariam em homens de razão substantiva, cujo raciocínio independente teria consequências estruturais para suas sociedades, sua história e portanto para suas próprias vidas.” p. 188
“a liberdade é, em primeiro lugar, a possibilidade de reformular as escolhas existentes, discuti-las – e então, a oportunidade de escolher. É por isso que a liberdade não pode existir sem um maior papel da razão humana nas questões humanas. (…) a tarefa social da razão é formular escolhas, ampliar o alcance das decisões humanas no processo histórico. (…) O futuro é o que está por ser decidido – dentro dos limites, sem dúvida, da possibilidade histórica. Mas essa possibilidade não é fixa; em nossa época, os limites parecem realmente muito amplos.” p. 189
Wladimir Berchon Crippa – 27 de setembro de 2009.
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