Buscar

Neoclassico historia 2

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Unidade i
Neoclássico
Histórico
“O período de 1760-1830 que, para os historiadores da economia, é o período da Revolução Industrial, corresponde, nos livros de História da Arte, ao neoclassicismo.” (L. Benevolo)
As grandes descobertas arqueológicas do século XVIII (Herculano, Pompéia, Estabia etc.);
As escavações realizadas em Atenas, Palmira, Baalbek, Roma etc.;
O trabalho das sociedades acadêmicas na Itália criadas por ingleses - a Sociedade dos Antiquários (1717) e a Sociedade dos Dilettanti (1734) - e por franceses, que permitiram um rico intercâmbio entre artistas e estudiosos de diferentes origens.
Histórico - Influências
A documentação produzida a partir destas descobertas arqueológicas transformadas, logo a seguir, em inúmeras (e importantes) publicações;
As obras de Johann J. Winckelmann, em especial A História da Arte na Antiguidade (1764) e sua teoria sobre a “beleza ideal”; 
A tradução em diversas línguas de todas essas importantes obras e a influência que exerceram nos estudiosos de diversos países;
Histórico - Influências
O racionalismo proposto pelo Iluminismo e pela Revolução Industrial;
O surgimento e o crescimento de uma rica burguesia (os novos industriais, os banqueiros, os grandes comerciantes etc.), ansiosa por exibir o seu poder, seu prestígio e a sua erudição (nem sempre real...);
Tudo isso, como seria de se esperar, possibilitou a difusão do neoclassicismo nos principais países da Europa.
Histórico - Influências
Mas o retorno à “contenção” típica da Antiguidade Clássica não se deu apenas em matéria de “gostos”; 
Histórico
Esta volta também indicava mudanças semelhantes que ocorriam em outras áreas: o desenvolvimento do racionalismo na filosofia, a utilização do grego e do latim clássicos como modelos para a literatura, a tendência geral de exigir regras e princípios claros em todas as expressões artísticas etc.
Para a história da arquitetura, portanto, o neoclassicismo do século XVIII foi um movimento “reacionário contra os excessos do Rococó e do Barroco tardio”;
Histórico - Arquitetura
Àquela altura, o Barroco, de fato, havia “atingido um impasse, em que só se afigurava possível uma elaboração cada vez maior das mesmas ideias”. (L. Benevolo)
E assim, dentre todas as “opções disponíveis”, a arquitetura clássica pareceu desde o início como o estilo “mais racional” e “mais claramente definido” (ou seja, aquele mais compatível com a nova racionalidade proposta pelos iluministas). (R. Jordan)
Histórico - Arquitetura
Igreja de São Francisco de Paula, em Nápoles (1824)
Da mesma forma, o estilo neoclássico – adotado entusiasticamente pela nascente burguesia industrial - também atendia perfeitamente aos ideais de grandeza do absolutismo monárquico (particularmente o francês).
Histórico - Arquitetura
Igreja de La Madeleine (Paris), versão do projeto de 1806 (Pierre-Alexandre Vignon e Jacques-Marie Huvé), concluída na década de 1830. Foi consagrada em 1842 (após quase virar uma estação ferroviária!).
Ou seja, para as monarquias que ainda resistiam aos ideais libertários da Revolução Francesa, a arquitetura neoclássica, imponente, simbolizava aquela ideia de força e poder que os antigos imperadores romanos aprenderam a usar tão bem para impressionar os povos conquistados. 
Histórico - Arquitetura
Igreja de La Madeleine (Paris) 
Histórico - Arquitetura
Igreja de La Madeleine (Paris)
E assim, a frivolidade e os excessos do barroco (perigosos em tempos de revoltas populares) são substituídos – sem o medo da perda do prestígio - pela racionalidade e tradicionalismo representados pelo neoclássico. 
De acordo com Benevolo, o neoclássico teria sido introduzido na França a partir da visita do influente Marquês de Marigny - junto com o arquiteto Jacques-Germain Soufflot (1713-1780) - ao norte da Itália em 1748; 
O Neoclássico na França
No retorno à França, artigos publicados pelos dois no jornal Le Mercur passaram a criticar duramente o Rococó, “preparando o terreno para o neoclássico”.
Destaque também, neste período, para as obras Ruines de Grèce (1758), de Julien-David Le Roi, e a coletânea de desenhos do próprio Sufflot e G. P. M. Dumont (1764). 
O Neoclássico na França
Entre 1762 e 1768, é construído em Versalhes o Petit Trianon, projeto de Ange-Jacques Gabriel.
O Neoclássico na França
O Neoclássico na França
Le Petit Trianon (Versalhes)
O Neoclássico na França
Le Petit Trianon (Versalhes)
O Neoclássico na França
Contudo, é do próprio Soufflot um dos principais projetos neoclássicos de Paris no século XVIII: a igreja – de planta centrada - de Sainte-Geneviève, iniciada em 1756.
O Neoclássico na França
Igreja de Sainte-Geneviève / Panteão (Paris)
O Neoclássico na França
Renomeada após a Revolução Francesa, passou a ser conhecida desde então como o “Panteão” de Paris.
O Neoclássico na França
Igreja de Sainte-Geneviève / Panteão (Paris)
O Neoclássico na França
Igreja de Sainte-Geneviève / Panteão (Paris)
O Neoclássico na França
A cúpula de Sainte-Geneviève eleva-se sobre uma parede quase inteiramente lisa (pois as janelas originais foram tapadas em 1791 por Quatremère de Quincy).
O Neoclássico na França
A iluminação interior do Panteão é extremamente suave (outro êxito de Quatremère de Quincy) e o traçado dos pendentes e arcos realmente “admirável”.
O Neoclássico na França
Após funcionar como uma igreja por pouco tempo, foi então transformada num mausoléu para os grandes nomes da cultura e ciência da França: Voltaire, Rousseau, Victor Hugo, Marie Curie etc. 
O Neoclássico na França
Detalhe da fachada principal do “Panteão” de Paris
A Revolução Francesa, portanto, embora tenha interrompido temporariamente, não chegou a alterar substancialmente os “ideais arquitetônicos do absolutismo”;
O Neoclássico na França
Na verdade, pouco depois, já sob o governo de Napoleão Bonaparte (1799 – 1815), esses valores foram reavivados (principalmente como um meio de Napoleão reforçar o seu “direito” ao trono francês na figura de um antigo imperador romano). 
De fato, enquanto Napoleão governou a França com o título de imperador (1804-1815), foi dada uma ênfase especial ao estilo clássico.
O Neoclássico na França
Napoleão como o deus Marte (Antonio Canova, 1802-1806)
Napoleão, que gostava de ser retratado como o sucessor dos imperadores romanos, foi nomeado “Rei da Itália” (em 1805) e logo fez de Roma a segunda capital do Império;
O Neoclássico na França
Por conseguinte, como símbolo do mais poderoso império do passado europeu, a cidade de Roma sofreu diversas intervenções de restauro (muitas delas, porém, sem o necessário cuidado com a precisão histórica).
Napoleão com a coroa de Rei da Itália
Em paralelo, o gosto pela antiga cultura romana tornou-se, naturalmente, moda em Paris, tanto na vida social quanto no teatro, nas artes plásticas etc. 
O Neoclássico na França
“Antiochus e Stratonice”, de Jean Auguste Ingres (1840)
Um dos melhores exemplos do uso do neoclássico por Napoleão: o “espetacular” Arco do Triunfo, obra de Jean-François Chalgrin (1739-1811), inaugurado em 1808.
O Neoclássico na França
O Neoclássico na França
Detalhes do Arco do Triunfo de Paris
Detalhes do Arco do Triunfo de Paris
Este monumento - o maior de todos os arcos do triunfo – ainda domina o longo eixo dos Champs-Elyseés (apesar de prejudicado por sua situação atual tão inadequada, rodeado por inúmeras avenidas...);
Como diz Benevolo, o arco de Napoleão “quase torna concreto o ideal de grandeza”. 
O Neoclássico na França
Outro exemplo: a coluna de Napoleão na Place Vendôme, baseada na coluna de Trajano em Roma;
Foi construída entre 1806 e 1810 em comemoração à vitória na Batalha de Austerlitz (1805).
O Neoclássico na França
Coluna de Trajano (Roma) – 113 d.C.
O Neoclássico na França
Coluna de Trajano (Roma) – 113 d.C.
Coluna de Napoleão (Paris)
O Neoclássico na França
Coluna de Napoleão (Paris) – 1806/1810
O Neoclássico na França
Arc de Triomphe du Carrousel (1806-1808), obra de Charles Percier e Pierre-François Fontaine na Place du Carrousel (um dos 3 arcos entre o Louvre e La Défense )
O Neoclássico na França
Detalhe: não podemos esquecer que na França a arquitetura era uma atividade eminentemente promovida – e controlada - pelo governo (ao contrário do que acontecia na Inglaterra, Alemanha etc.);
Na Inglaterra, por exemplo, a “evolução do gosto” permaneceu nas mãos das elites, tornando o movimento “descentralizado e eclético”;
Por causa disso, mesmo após o período de Napoleão I, a França manteve o curso do “racionalismo iluminista”, tendo em Jean-Nicolas-Louis Durand (que veremos adiante) o seu mais importante defensor.
A obra mais importante para a difusão do neoclassicismo na Inglaterra teria sido o volume de 1763 de Robert Adam: The Ruins of the Palace of Diocletian, recheado de impressionantes gravuras que fariam de seu autor o líder do movimento neoclássico inglês. 
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
Pranchas da publicação de Robert Adams, “As Ruínas do Palácio de Diocleciano”, produzidas com a necessária fidelidade histórica defendida por J. J. Winckelmann
O Neoclássico na Inglaterra
Vista atual das ruínas do Palácio de Diocleciano (Croácia)
O Neoclássico na Inglaterra
Vista atual das ruínas do Palácio de Diocleciano (Croácia)
Na Inglaterra, contudo, o ambiente é bem “menos ambicioso” e muito mais “descontraído” do que o francês; 
Este “informalismo” inglês pode ser explicado tanto por sua estrutura social e política (menos rigorosa, com um maior equilíbrio entre a monarquia, a nobreza e a classe média), como também pela força da tradição inglesa no domínio da construção.
O Neoclássico na Inglaterra
Apesar das típicas aldeias e propriedades rurais permaneceram quase inalteradas, vamos encontrar na Inglaterra, a partir desse momento, um grupo de arquitetos que se lançam em projetos de acordo com a tradição clássica. 
O Neoclássico na Inglaterra
L. Benevolo: “Enquanto os arquitetos de Napoleão tentavam transformar Paris numa cidade digna de César, Londres deixava de ser uma cidade provinciana do Norte (...) para se transformar numa grande capital. Não havia, nem poderia haver, em Londres, a sabedoria clássica dos franceses ou a escala monumental de Paris, mas a seu modo – o de uma classe média culta e bem instalada – deu o seu contributo”.
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
St. Bartholomew’s Fair (Londres), c.1730-1745 (autor desconhecido)
Fonte: http://www.museumoflondonprints.com/image/139508/british-school-st-bartholomews-fair-smithfield-18th-century
Destaque inicial para o trabalho dos dois John Wood, pai e filho, na estância termal e recreativa de Bath ao longo do século XVIII;
Nascido em Bath, John Wood (o pai), além de arquiteto, era também um empreendedor e próspero homem de negócios; 
O seu desejo era o de transformar a pequena cidade de Bath, já conhecida por suas águas termais, em uma “Roma britânica”.
O Neoclássico na Inglaterra
John Wood, “the Elder” (1704-1754)
Curiosidade: a cidade de Bath (“banho” em inglês) havia sido uma importante cidade romana, Aquae Sulis (famosa por seus banhos públicos com águas termais, construídos por volta do ano 75 de nossa era), conservando até hoje importantes vestígios arquitetônicos e arqueológicos desse período.
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
Termas romanas em Bath e as ruínas do templo Aquae Sulis-Minerva
Entre 1727 e 1780, os Wood criaram dois importantes tipos de construção: os terraces (filas de típicas casas inglesas, alinhadas e padronizadas, que se tornaram um protótipo para ruas e praças na Grã-Bretanha por mais de um século) e uma série de “espaços harmoniosos, mas contrastantes” que ficaram na história como bons exemplos de arquitetura urbana: Queen Square, Gay Street, o Royal Circus e o Royal Crescent.
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
Conjunto de terraces de John Wood em Bath (Inglaterra)
Com suas construções voltadas para o alojamento e entretenimento dos visitantes, os Wood realmente transformaram Bath e tornaram sua arquitetura um marco de referência para o resto da Europa.
O Neoclássico na Inglaterra
Royal Crescent (1767-1774): conjunto de 30 casas em Bath
O Neoclássico na Inglaterra
Royal Crescent (Bath)
O Neoclássico na Inglaterra
Royal Crescent (Bath)
O Neoclássico na Inglaterra
Royal Crescent
(Bath)
O Neoclássico na Inglaterra
The Royal Circus (começado por John Wood pai e concluído pelo filho) – Bath (Inglaterra)
O Neoclássico na Inglaterra
Royal Circus
O Neoclássico na Inglaterra
Royal Circus (Bath)
O Neoclássico na Inglaterra
Queen Square em 1784
O Neoclássico na Inglaterra
Queen Square no final do século XVIII (Bath)
O Neoclássico na Inglaterra
Queen Square (vista do North Terrace) em Bath
Porém, a relação entre arquitetos, patronos e construtores passaria por rápidas mudanças na Inglaterra; 
Com “a nova ênfase dada à elegância, à pureza, à precisão”, a arquitetura tornava-se, cada vez mais, uma “matéria de estudiosos” e não mais algo deixado sob os cuidados de “construtores amadores”; 
Isso explica a importante evolução que ocorreu logo a seguir na arquitetura inglesa e que traria a principal contribuição deste país para o neoclassicismo: o movimento palladiano (Andrea Palladio, 1508-1580).
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
“Pontes palladianas”: jardins da Wilton House (1736/7), jardins da Stowe House (c.1742) e no Prior Park (c.1740).
Os seus expoentes máximos foram: William Kent (1685-1748), Lord Burlington (1694-1753), William Chambers (1723-1796) e (mais uma vez) Robert Adam (1728-1792).
O Neoclássico na Inglaterra
Com alas extensas, torres nos cantos e diferentes pavilhões, cada secção deste edifício relativamente complexo constitui “uma experiência independente de purismo no estilo clássico palladiano”. 
O Neoclássico na Inglaterra
O grande projeto de William Kent para Holkham Hall – “uma obra-prima austera” - em Norfolk, foi começado em 1734; 
O Neoclássico na Inglaterra
Vista aérea do Holkham Hall
O Neoclássico na Inglaterra
Planta baixa do Holkham Hall
Fachada do Holkham Hall voltada para o jardim
O Neoclássico na Inglaterra
Interior do Holkham Hall (Marble Hall)
O Neoclássico na Inglaterra
Interior do Holkham Hall: o vestíbulo (Saloon)
O Neoclássico na Inglaterra
Interior do Holkham Hall: a galeria de estátuas (todas romanas, esculpidas entre os séculos I e III): a maior coleção residencial na Grã-Bretanha
O Neoclássico na Inglaterra
Interior do Holkham Hall: Sala das Paisagens
O Neoclássico na Inglaterra
Interior do Holkham Hall: a capela
Kent, além disso, foi também um dos precursores do tradicional jardim de estilo inglês, sendo responsável pelos projetos paisagísticos de diversas edificações: Chiswick House (de Lord Burlington), Buckinghamshire, o do próprio Holkham Hall etc. 
O Neoclássico na Inglaterra
Jardins da Chiswick House
O Neoclássico na Inglaterra
Vistas dos jardins da Chiswick House
Lord Burlington, apesar de rico aristocrata, também gostava de atuar como arquiteto (e não era o único!);
O Neoclássico na Inglaterra
Isso demonstra a curiosa situação em que se encontrava a prática arquitetônica inglesa no início do século XVIII: estava em risco de se tornar “uma mera arte delicada”, enquanto a grand tour (a viagem pela Europa, considerada um complemento indispensável dos estudos superiores) perigava tornar-se um “mero passeio turístico”. 
Chiswick House (c.1725), foi a villa que Lord Burlington criou para si mesmo, próximo a Londres;
Colocada simetricamente sobre uma plataforma, com “complicadas escadarias” e um pórtico, este edifício tem “um encanto especial” por imitar a Villa Rotonda de Palladio. 
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
Chiswick House, de Lord Burlington
Villa
Rotonda de Palladio
O Neoclássico na Inglaterra
Vista áerea de 
Chiswick House
Planta baixa de 
Chiswick House
O Neoclássico na Inglaterra
Chiswick House: fachada oeste
O Neoclássico na Inglaterra
Interiores de Chiswick House
O Neoclássico na Inglaterra
Interiores de Chiswick House
O Neoclássico na Inglaterra
Chiswick House: Velvet Room (Salão Vermelho)
Porém, como está situada a uma latitude norte de 51° , ela obviamente funciona muito mal como habitação... 
O Neoclássico na Inglaterra
Ou seja, a maior crítica que podemos fazer ao uso indiscriminado desse estilo de arquitetura na Inglaterra é a sua inadequação ao clima rigoroso do país (especialmente durante o inverno)! 
O Neoclássico na Inglaterra
Nostell Priory, casa de campo reformada por Robert Adam a partir de 1766
De Robert Adam, destacamos, de início, uma longa série de grandes casas de campo: Harewood House (c.1761, em Yorkshire), Croome Court (em Worcestershire), Bowood (em Wiltshire) etc.
O Neoclássico na Inglaterra
Harewood House
O Neoclássico na Inglaterra
Harewood House
(Yorkshire)
O Neoclássico na Inglaterra
Croome Court
(Worcestershire)
O Neoclássico na Inglaterra
Croome Court no inverno...
Mas, de acordo com Benevolo, é como “decorador exímio” que R. Adam deve ser lembrado; ou seja, por seus projetos de mobiliário, tapetes, lareiras de mármore, tetos de estuque etc.
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
Projetos de Robert Adam
De fato, a partir da segunda metade do século XVIII, a Inglaterra vivia uma “época consciente de um requinte recentemente descoberto” e Robert Adam (junto com seu irmão James), neste aspecto, representou um importante papel; 
Robert Adam, portanto, introduziu o requinte no mobiliário da casa inglesa, atendendo uma clientela aristocrática que foi, praticamente, “a última geração que se preocupou com a elegância clássica”.
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
Sala de jantar de Lansdowne House (1765-1767)
O Neoclássico na Inglaterra
Sala de jantar de Lansdowne House (1765-1767)
O Neoclássico na Inglaterra
Hall de entrada de Osterley Park House
Outro arquiteto inglês muito importante no período foi John Nash (1752-1835), que destacou-se principalmente como urbanista; 
Entre 1812 e 1827, Nash realizou um grande complexo de parques, ruas, terraces, praças e igrejas na região do West End de Londres, desde Regent’s Park (ao norte) até St. James’s Park (ao sul).
O Neoclássico na Inglaterra
Cumberland Terrace
Hannover Terrace
O Neoclássico na Inglaterra
Carlton House Terrace
O Neoclássico na Inglaterra
Carlton House Terrace
Com este projeto, Nash transformou Londres “numa grande cidade cosmopolita”, transferindo o seu centro do “velho labirinto de ruas largas e estreitas da City e do Soho” para as zonas elegantes de St. James’s e Mayfair. 
O Neoclássico na Inglaterra
Cornwall Terrace
Cumberland Terrace
O Neoclássico na Inglaterra
Park Crescent (Londres)
O Neoclássico na Inglaterra
Park Crescent
O Neoclássico na Inglaterra
Park Crescent (Londres)
O plano de Nash para Londres consistiu basicamente dos seguintes elementos: (1) os 10 terraces à volta do Regent’s Park; (2) a incorporação do Portland Place, de Robert Adam; (3) a criação de uma Royal Mile completamente nova, composta pela Upper e Lower Regent Street; (4) a praça do Piccadilly Circus; (5) a Waterloo Place; (6) a Carlton House Terrace e (7) o St. James’s Park, assim como uma série de ruas e espaços adjacentes; 
Dentro deste grande plano, Nash foi o arquiteto de quase todos os edifícios.
O Neoclássico na Inglaterra
O Neoclássico na Inglaterra
A praça de Picadilly Circus (Londres) – final do século XIX
O Neoclássico na Inglaterra
Picadilly Circus (Londres) - atual
O Neoclássico na Inglaterra
Waterloo Place (em 1830)
O Neoclássico na Inglaterra
Waterloo Place (atual)
A arquitetura de Nash – tal como se pode ver nos terraces ao longo do Regent’s Park – é “alegre, versátil e despreocupada”, sem a mesma pompa, por exemplo, dos prédios neoclássicos franceses. (L. Benevolo)
O Neoclássico na Inglaterra
Hannover Terrace
O traçado das ruas criadas por Nash tinha grande qualidade: as retas e as curvas, por exemplo, “eram cuidadosamente demarcadas com pequenas torres de canto”.
O Neoclássico na Inglaterra
Western Strand
(próximo ao Trafalgar Square)
www.peterberthoud.co.uk
O Neoclássico na Inglaterra
Regent Street (atual)
O Neoclássico na Inglaterra
Regent Street (atual)
Comparando os terraces de Regent’s Park com as ruas equivalentes de Bath (mas de uma geração anterior de projetistas), “é visível a mudança operada na arquitetura”. 
O Neoclássico na Inglaterra
Royal Crescent (Bath) de John Wood (filho)
Cumberland Terrace (Nash)
No resto da Europa, percebemos que o Classicismo, assim como na França napoleônica, foi adotado “como a materialização dos ideais autocráticos”.
O Neoclássico no Continente Europeu
Alte Pinakotheke (Munique: 1826-1836), de Franz Leo von Klenze
O Neoclássico no Continente Europeu
Alte Pinakotheke (Munique: 1826-1836), de Franz Leo von Klenze
O Neoclássico no Continente Europeu
Portão de Brandenburgo (Berlim), inaugurado em 1791
Obras como essas, na Alemanha, nas palavras de Benevolo, “aspiram (...) mais à monumentalidade que ao encanto”. 
O Neoclássico no Continente Europeu
A Engenharia e Neoclassicismo
Para o espírito iluminista, as “tradicionais formas renascentistas” justificavam-se por duas razões principais: (1) o fato de que correspondiam aos antigos modelos greco-romanos (que agora eram estudados com um maior rigor científico) e (2) o fato de que a racionalidade das formas clássicas acabavam favorecendo os construtores naquelas situações em que os elementos tradicionais (colunas, arquitraves etc.) podiam ser assimilados mais facilmente pelos elementos construtivos (pilares, vigas etc.). 
Ou seja, o progresso da técnica construtiva tornou “mais precisos os raciocínios de construção” e o próprio funcionamento dos elementos construtivos; 
Com isso, as “regras tradicionais” começam a sofrer um processo de “retificação” e também algumas restrições;
A Engenharia e Neoclassicismo
Museu de Belas-Artes de Budaeste
Exemplos: (a) uma coluna seria justificada somente quando estivesse isolada (e não mais embutida); (b) o frontão só se justificava quando havia por trás um telhado e assim por diante. 
O “sistema da arquitetura tradicional” (principalmente a academia), contudo, não estava preparado para lidar com críticas e/ou exigências dessa natureza...; 
A Engenharia e Neoclassicismo
Como diz Benevolo: “o caráter de necessidade que era atribuído (...) aos elementos clássicos, não podia mais ser sustentado” (pelo menos com os tradicionais argumentos) pelos arquitetos em seus projetos. 
Diante do impasse, os defensores do neoclássico dividiram-se em grupos que usavam três principais argumentos para justificar sua posição:
A Engenharia e Neoclassicismo
Os que defendiam as “supostas leis eternas da beleza”, posição adotada por teóricos que seguiam as ideias de Winckelmann e por membros mais “radicais” da Academia, preocupados “em pôr a salvo a autonomia da cultura artística”.
1.
Canova: “Cupido e Psichè”
Os artistas vinculados a este grupo tendiam a fazer uma imitação bem mais rigorosa dos antigos monumentos e obras de arte (exemplos: o italiano Antonio Canova (1757-1822), o dinamarquês Bertel Thorvaldsen (1770-1844), o francês Louis-Pierre Baltard (1764-1846) etc.). 
A Engenharia e Neoclassicismo
Antigo Fórum de Lyon (França) – L.P. Baltard (1835)
A Engenharia e Neoclassicismo
Perseu com a cabeça de Medusa (1801) – A. Canova
Hércules e Licas (1795) – A. Canova 
A Engenharia e Neoclassicismo
Os que defendiam o papel da arte como “veículo para inculcar as virtudes civilizadas” na sociedade. Sob esta ótica, as formas antigas serviriam justamente para lembrar os “nobres exemplos da história
grega e romana”;
2.
Esta postura foi característica da geração envolvida na Revolução Francesa (tais como Ledoux). Seus defensores adotavam a arte como “profissão de fé política”.
A Engenharia e Neoclassicismo
Por fim, havia aqueles que atribuíam a manutenção do repertório clássico simplesmente à moda ou ao hábito. Ou seja, para eles o neoclassicismo seria apenas uma mera convenção, à qual não era atribuída qualquer significado especial.
3.
De acordo com Benevolo, a origem desta postura pode ser traçada às escolas de engenharia, onde se graduavam, a partir daquele momento, a maior parte dos projetistas.
Downing College, Cambridge (1807-21) de William Wilkins
A partir do início do século XIX, “duas posições opostas, ambas extremas e representadas por um instituto oficial, se confrontavam na França”: a École des Beaux-Arts e a École Polytechnique, ambas em Paris; (S. Giedion)
 A École des Beaux-Arts, criada em 1803 por Napoleão (uma das 5 instituições que compunham o Institut de France), tinha um programa que cobria toda a área das artes plásticas, mantendo “aquela unidade entre a arquitetura e as outras artes que (...), infelizmente, fomentou “um isolamento crescente das artes em relação às condições da vida cotidiana”.
A Engenharia e Neoclassicismo
A École Polytechnique (fundada em 1794), por sua vez, oferecia “uma formação científica uniforme para as escolas técnicas avançadas” – l’école des ponts et chaussées, l’école des mines, l’école de l’artillerie etc. – contando com ilustres matemáticos, físicos e químicos em seu quadro docente;
S. Giedion: “a École Polytechnique desempenhava o importante papel de combinar a ciência teórica à prática. O fato de ter influenciado diretamente a indústria é irrefutável”.
A Engenharia e Neoclassicismo
A existência em separado dessas duas Écoles, portanto, era um reflexo – e também um agente fomentador – da crescente “cisão entre arquitetura e construção” que seria observada ao longo do século XIX e que, por sua vez, “criaria a demanda por uma nova arquitetura”; (S. Giedion)
De fato, as questões mais discutidas na época surgiam das controvérsias entre estas duas escolas: (1) Que princípios deve seguir a formação de um arquiteto?; (2) Qual a relação entre o engenheiro e o arquiteto? (3) Quais as atribuições específicas de cada um? (4) Eles constituem um só profissional? 
A Engenharia e Neoclassicismo
No final do século XVIII, alguns professores demonstraram preocupação com o fato de que a arquitetura estaria ficando para trás em termos de progresso e ciência;
Em função disso, começaram a surgir tentativas de construir uma verdadeira “ciência da arquitetura”; 
A Ciência da Arquitetura
O trabalho de Jean-Nicolas-Louis Durand (1760-1834) na École Polytechnique, neste aspecto, resume este esforço de alcançar uma sistematização do conhecimento arquitetônico.
Na École Polytechnique, a arquitetura era considerada uma disciplina tão importante quanto a física, a mecânica ou a química; 
Afinal de contas, “nas regiões longínquas, onde os arquitetos são muito escassos, [os engenheiros] se encontram, por sua condição, chamados a levantar hospitais, prisões, quartéis, arsenais, armazéns, pontes, portos, faróis, enfim, uma profusão de edifícios de máxima importância; assim, os conhecimentos e as aptidões em arquitetura são a eles pelo menos tão necessárias quanto aos arquitetos de profissão”. (Durand)
A Ciência da Arquitetura
De 1796 a 1833, Jean-Nicolas Durand lecionou no curso anual de arquitetura da École, desenvolvendo um método para “adquirir as verdadeiras habilidades arquitetônicas em um curto período de tempo”: as palestras semanais (com 1 hora de duração) eram seguidas de oficinas de desenho com 3 horas de duração, nas quais os alunos geralmente copiavam as plantas impressas em seus livros. 
A Ciência da Arquitetura
A Ciência da Arquitetura
Em suas aulas, ele procurou empregar o “legado (...) eminentemente teórico” do neoclássico para transmitir à geração seguinte um sistema de regras racionais e práticas, adaptada ao grande número de tarefas que agora se apresentava aos construtores do período;
A obra mais conhecida de Durand – Précis des leçons d’architecture données à la École royale polytechnique, publicada pela primeira vez em 1802 - tornou-se, em seguida, uma importante referência na Europa por mais de meio século.
Durand, em seus textos, se opunha ao historicismo clássico que apenas copiava elementos de “superfície” e que apresentavam plantas baixas “irracionais” (exemplo: Capitólio de Washington).
A Ciência da Arquitetura
Planta baixa do Capitólio (Washington), versão original (1793), projeto do médico William Thornton.
Durand: “Seja consultando a razão, seja examinando os monumentos, é evidente que dar prazer não pôde ser jamais o fim da arquitetura, nem a decoração arquitetônica ser seu objeto. A utilidade pública e privada, a felicidade e a conservação dos indivíduos e da sociedade, tais são, como vimos desde o principio, o fim da arquitetura”.
A Ciência da Arquitetura
Modelo de planta baixa proposto por Durand: sobre uma grade, formas simples (geralmente um quadrado) e simétricas expressam solidez, funcionalidade, economia etc.
Durand: “É racional crer que estando isolado, tendo que se defender da intempérie das estações e do furor de animais ferozes (...), o homem, ao levantar um abrigo, teria sonhado somente em fazer um objeto apropriado a distrair seus olhos? É mais fácil crer que os homens reunidos em sociedade, tendo uma infinidade de ideias novas, e consequentemente uma infinidade de novas necessidades a satisfazer, tenham feito da decoração o objeto principal da arquitetura?”
A Ciência da Arquitetura
Durand: “...conveniência e economia são os meios que deve naturalmente empregar a arquitetura e as fontes das quais deve extrair seus princípios, os únicos que podem nos guiar no estudo e no exercício dessa arte”;
Conveniência: resultado da solidez, salubridade e comodidade (“se o número e o tamanho de todas suas partes, se sua forma, sua situação e sua disposição estão na mais exata relação com sua destinação”).
Economia: “...tendemos a concluir que um edifício será tão menos dispendioso quanto mais simétrico, mais regular e mais simples ele for”.
A Ciência da Arquitetura
Durand passou a criticar, portanto, a noção tradicional das ordens clássicas: “é preciso concluir, necessariamente, que as ordens não formam, de fato, a essência da arquitetura; que o prazer que se extrai de sua utilização e da decoração que daí resulta não existe; que essa mesma decoração é uma quimera e as despesas a que leva constituem uma loucura”. (Durand)
A Ciência da Arquitetura
Ou seja, para Durand a beleza agora “deriva necessariamente da coerência com que o arquiteto atinge seu escopo utilitário”, e a “verdadeira” decoração, portanto, resulta da disposição mais conveniente e mais econômica dos elementos estruturais. 
Detalhe de prancha do “Précis...” (1802)
A Ciência da Arquitetura
Um pensamento que antecipou em quase um século as propostas dos arquitetos modernistas!
Ele efetua, assim, uma espécie de “seleção das formas” tradicionais, dando preferência justamente às mais “simples e esquemáticas”, aplicadas a esquemas modulados (uma ideia que antecipou a moderna noção de industrialização da construção).
Prancha do “Précis...” (1802)
A Ciência da Arquitetura
Em seu tratado de 1802, estão expostas as principais características da arquitetura defendida por Durand, muitas delas válidas até hoje: 
o modo de composição por justaposição das paredes; 
a independência da estrutura em relação aos acabamentos;
A Ciência da Arquitetura
a preferência por cotas em números “redondos” ;
paredes “limpas”, sem pilastras engastadas, pedras angulares, rusticados etc.;
a preferência pelas formas elementares (especialmente o quadrado) nos projetos etc.
A Ciência da Arquitetura
Enfim, Durand, adotando um raciocínio “rigorosamente lógico” entende que “nada impede que elas [as formas clássicas] sejam determinadas lançando-se
mão das formas (...) extraídas dos edifícios antigos”, mas “uma vez que estas variam um tanto nos edifícios gregos imitados pelos romanos e naqueles, por sua vez, imitados pelos povos modernos da Europa, estamos livres para escolher entre estas as formas e as proporções que, sendo as mais simples, são mais adequadas a satisfazer o olho e o espírito, favorecendo a economia do edifício”. 
A Ciência da Arquitetura
Ou seja, nesse tratado, Durand já prenunciava toda a produção dos engenheiros do século XIX!
Estas características serão encontradas mais tarde, na França, nas obras de Eiffel, de Contamin, de Hennebique etc.
Grand Hotel Trajan (1882), na Romênia (projeto e construção de Gustave Eiffel: estrutura metálica, elementos pré-fabricados, divisórias em madeira e vidro etc.)
A Ciência da Arquitetura
Em resumo: ao longo do século XIX, os engenheiros fazem progredir a técnica das construções e “preparam os meios de que se irá servir o movimento moderno” (L. Benevolo);
Porém, ao mesmo tempo, colocam sobre esses meios “uma pesada hipoteca cultural, associando a eles uma espécie de indiferença pela qualificação formal”. 
A herança neoclássica
Contudo, observamos que a associação do gosto clássico à prática construtiva tem resistido bravamente ao passar do tempo, como demonstram inúmeros projetos em vários cantos do mundo...
Teatro do Champs-Elysées (Paris, 1913), de Auguste Perret
Palais d’Iéna (Paris, 1936),
projetos de Auguste Perret
A herança neoclássica
Universidade Federal do Paraná (UFPR) – prédio de 1912
American Bank Note Company – NY – projeto de Kirby, Petit & Green (1912)
A herança neoclássica
Schermerhorn Symphony Center (Nashville, EUA – 2006)
A herança neoclássica
Quinlan Court, projeto de Quinlan Terry (Danbury, Inglaterra) - 2011 
A herança neoclássica
Salvador (setembro de 2015) – em uma certa rua da Pituba...
A herança neoclássica
Referências:
BENEVOLO, Leonardo. Historia da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994.
CHING, Francis D. JARZOMBERG, Mark. PRAKASH, Vikramaditya. A Global History of Architecture. John Wiley & Sons: New Jersey, 2010. 2 ed. 
DURAND, Jean-Nicolas-Louis. Novo Compêndio de Lições em Arquitetura. Tradução Igor Fracalossi. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-169991/novo-compendio-de-licoes-de-arquitetura-jean-nicolas-louis-durand>. Acesso em: 30 ago. 2014.
GIEDION, Siegfried. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
JORDAN, Robert Furneaux. História da Arquitetura no Ocidente. São Paulo: Editorial Verbo, 1985.
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais