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DIREITO PENAL III PARTE ESPECIAL (arts. 121 ao 129)

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DIREITO PENAL III
PARTE ESPECIAL (arts. 121 ao 129)
DOS CRIMES CONTRA A VIDA
HOMICÍDIO – art. 121
O homicídio consiste na eliminação da vida humana extrauterina provocada por outra pessoa. Teorias de quando se considera vida extrauterina:
Soler: inicia-se com as dores do parto
Magalhães Noronha: inicia-se com a dilatação do colo do útero, embora o feto não tenha se desprendido das entranhas maternas
Alfredo Molinário: inicia-se com o completo desprendimento das entranhas maternas
1.1. OBJETO JURÍDICO: proteção do direito à vida extrauterina (a vida é um bem indisponível)[2: Objeto jurídico do crime é o bem jurídico, isto é, o interesse protegido pela norma penal.]
1.2. SUJEITOS:
Ativo: por ser crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.
Autoria do crime (teoria adotada – critério objetivo formal): Para essa teoria, o autor é o que realiza o núcleo do verbo. Quanto ao participante, é aquele que não pratica a conduta descrita no tipo, mas de alguma forma concorre para o resultado. Ressalta-se que o mandante do crime não seria o autor, respondendo apenas como partícipe (Damásio pensa diferente).
Autor mediato: será considerado o autor do crime de homicídio aquele que: utiliza-se de um inimputável (ausência de capacidade), prova alguém mediante coação moral irresistível ou induz alguém em erro. Somente o autor mediato será criminalizado penalmente, pois aquele que executou foi utilizado pelo agente
Autoria colateral: ocorre quando mais de um agente realiza uma conduta, mas não há liame subjetivo entre eles. Se for possível concluir quem realmente matou a vítima, este responderá por crime consumado e o outro por tentativa.
Autoria incerta: é uma espécie de autoria colateral, mas não se sabe qual dos comportamentos foi o responsável pelo resultado morte, de forma que todos os autores respondem por homicídio tentado.
Autoria ignorada ou indeterminada: não há possibilidade de se definir o autor. É um conceito de Direito Processual Penal, encontrando-se no plano probatório e ocorre quando não se descobre que foi o autor do crime.
Passivo: por se tratar de crime comum, qualquer pessoa pode ser a vítima.
¹OBS.: Se a vítima for o presidente da república/ senado/ câmara dos deputados/ STF, e o autor tiver motivações e objetivos políticos, a pena será de 15 a 30 anos em obediência ao principio da especialidade. (“ Lei de Segurança Nacional”- Lei 7.170/83 – art. 29)
²OBS.: Se a vítima for índio não integralizado ou comunidade indígena, a pena será a do CP acrescida de 1/3 (art.59, Código do Índio)
1.3. CONDUTA OU TIPO OBJETIVO: o crime pode ser praticado na forma omissiva ou comissiva.
Forma comissiva: o agente dirige a sua conduta com o fim de causar a morte da vítima, utilizando-se de qualquer meio de execução (crime de ação livre)
Forma omissiva: hipóteses (art. 13 do CP)
- Quando o autor tem por lei a obrigação de cuidado, proteção e vigilância. (ex.: bombeiro)
- Quando o autor assume a responsabilidade de impedir o resultado (salva-vidas)
- Quando o autor com o seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado
- Crime comissivo por omissão: há uma ação provocadora da omissão
1.4. TIPO SUBJETIVO OU INTENÇÃO
Nos casos do caput, §1º e §2º do art. 121, o crime é punível apenas a titulo de dolo, já o § 3º o crime é punível a titulo de culpa. Homicídio preterdoloso art.129
OBS.: Portador do vírus HIV – Posicionamento do STF: No caso de o portador manter relações sexuais com o seu parceiro sem lhe informar sobre a doença ou não tomando as devidas proteções, deve-se analisar a intenção do agente, por ser esta fatal, se comprovar que o autor tinha a intenção de transmitir a doença, responderá por tentativa de homicídio. Se o autor não quis assumir o risco/resultado acreditando que essa não ocorreria responde pelo art.131 do CP, já que o dolo de perigo.
1.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Por se tratar de crime material, o crime se consuma quando há o encerramento da atividade encefálica da vitima. Ademais, por se crime plurissubsistente, é possível a tentativa, que ocorrerá quando, iniciada a execução do homicídio, este não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente. Ressalta-se que, dependendo de a vítima ter sido ou não atingida, a tentativa pode ser:[3: A conduta se exterioriza por meio de dois ou mais atos, ou seja, a consumação passa por um processo executivo de várias condutas, por exemplo, homicídio com golpes de facadas, não será a primeira facada que irá matar, mas, a repetição do ato.]
Tentativa branca (incruenta): ocorre quando o golpe ou disparo efetuados não atingem o corpo da vítima de modo que esta não sofre nenhuma lesão. É necessário que se prove que o agente pretendia atingir a vítima, mas que não conseguiu. 
Tentativa cruenta: é aquela em que a vítima sofre lesão corporal como consequência do ato agressivo perpetrado pelo agente. 
1.5.1. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
Desistência voluntária e arrependimento eficaz (CP, art. 15) são espécies de tentativa abandonada ou qualificada. Nelas o resultado não se produz por força da vontade do agente, ao contrário da tentativa, em que atuam circunstâncias alheias a essa vontade. São incompatíveis com os crimes culposos, uma vez que se trata de tentativa que foi abandonada. Pressupõe um resultado que o agente pretendia produzir mas que, num segundo momento, desistiu ou se arrependeu. Havendo a desistência voluntária ou arrependimento eficaz, desaparece a possibilidade de se aplicar a pena a título de tentativa. O agente só responderá pelos atos até então praticados como delitos autônomos. Ambos os institutos são aplicáveis ao crime de homicídio.
Desistência voluntária. Trata-se de voluntária interrupção do iter criminis; o agente interrompe voluntariamente a execução do crime, impedindo a sua consumação. Por exemplo: o agente tem um revólver municiado com seis projéteis. Efetua dois disparos contra a vítima, não a acerta e, podendo prosseguir atirando, desiste por vontade própria e vai embora. Não ocorrerá, contudo, a desistência voluntária nas hipóteses em que o agente deixa de prosseguir no intento criminoso por supor que a arma já não contém cápsulas a serem deflagradas ou então por achar que logrou produzir o evento morte.
Arrependimento eficaz. O agente, após encerrar a execução do crime, impede a produção do resultado naturalístico. Aqui a execução do crime é realizada inteiramente, e o resultado é que vem a ser impedido, ao contrário da desistência voluntária. Por exemplo: o agente descarrega sua arma de fogo na vítima, ferindo-a gravemente, mas, arrependendo-se, presta-lhe imediato e exitoso socorro, impedindo o evento letal. 
Tanto na desistência voluntária quanto no arrependimento eficaz o agente impede que sobrevenha o resultado por vontade própria. Dessa forma, afasta-se a possibilidade de se aplicar a pena a título de tentativa, e o agente só responde pelos atos até então praticados como delitos autônomos. No exemplo da desistência voluntária o agente responderá pelo delito de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei n. 10.826/2003). No exemplo do arrependimento eficaz, responderá pelo delito de lesões corporais de natureza grave (CP, art. 129, § 1º)
1.6. CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DA PENA (homicídio privilegiado)
Motivo de relevante valor social: é aquele que corresponde ao interesse coletivo. Nessa hipótese, o agente é impulsionado pela satisfação de um anseio social. Ex.: o agente, por amor à pátria, elimina um traidor.
Motivo de relevante valor moral: diz respeito aos interesses individuais do agente, aprovados pela moral pátria, como os sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão. Ex.: eutanásia, pai que mata o estrupador da filha
Agente sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima: emoção deve ser intensa, como a ira explosiva, restando comprovado que o autor não agiu a sangue frio (vingança). A reação deve ser imediata, logo após a injusta provocação da vítima, sem intervalo, devendo perdurar oestado da violenta emoção, sob pena da demora configurar vingança.
¹OBS.: Em relação a essas circunstâncias minorantes e a comunicação com os demais autores: nos termos do art.30, as circunstancias de caráter pessoal ou subjetiva não se comunicam aos demais co-autores, salvo se elementares do crime. No caso em questão, como as circunstancias interferem somente na quantidade da pena e não na qualidade do crime, não são consideradas elementares do tipo, logo não se comunicam entre os agentes
²OBS.: Direito subjetivo do réu ou faculdade do juiz: hoje a doutrina e a jurisprudência entendem tratar de direito subjetivo do réu, presentes os requisitos do §1º.
1.7. FORMAS
O Código Penal distingue várias modalidades de homicídio: homicídio simples (art. 121, caput), homicídio privilegiado (§ 1º), homicídio qualificado (§ 2º) e homicídio culposo (§ 3º).
Homicídio simples doloso (caput): Constitui o tipo básico fundamental, é o que contém os componentes essenciais do crime e tem por pena-reclusão, de seis a vinte anos.
Homicídio privilegiado (§ 1º): Tendo em conta circunstâncias de caráter subjetivo, o legislador cuidou de dar tratamento diverso ao homicídio cujos motivos determinantes conduziriam a uma menor reprovação moral do agente. Para tanto, inseriu essa causa de diminuição de pena, que possui fator de redução estabelecido em quantidade variável (1/6 a 1/3).
Homicídio qualificado (§ 2º): Em face de certas circunstâncias agravantes que demonstram maior grau de criminalidade da conduta do agente, o legislador criou o tipo qualificado, que nada mais é que um tipo derivado do homicídio simples, com novos limites, mínimo e máximo, de pena (reclusão, de 12 a 30 anos).
Homicídio culposo (§ 3º): Constitui a modalidade culposa do delito de homicídio. Diz-se o crime culposo quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia ( art. 18, II).
Causa de aumento de pena (§ 4º): O § 4º contém causas de aumento de pena aplicáveis respectivamente às modalidades culposa e dolosa do delito de homicídio.
1.7.1. HOMICÍDIO QUALIFICADO
Há 07 hipóteses em que o legislador entendeu ser o agente merecedor de maior reprimenda, por isso estabeleceu uma pena maior. Urge mencionar que sendo qualificado o homicídio, passa ele a ter natureza hedionda (lei 8072/90).[4: Quanto ao caput 121, se for praticado a atividade típica de grupo de extermínio, será considerado também hediondo. Homicídio privilegiado não se configura em nenhuma hipótese a crime hediondo.]
Dentre as hipóteses, a doutrina e a jurisprudência diferem as circunstâncias objetivas das subjetivas:
Circunstâncias subjetivas: são os motivos determinantes do crime, indiciários da depravação do agente. Para a doutrina são os incisos: I, II, V, VI e VII
Circunstâncias objetivas: são os meios ou os modos malignos que acompanha o ato ou o fato. Para a doutrina são os incisos: III e IV.
OBS.: Circunstância qualificadora. Comunicabilidade. Concurso de pessoas
Dispõe o art. 30 do Código Penal: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. Circunstância, como é sabido, são dados acidentais que aderem ao crime, tendo por função agravar ou abrandar a pena. As circunstâncias podem ser objetivas (meios e modo de execução do crime, tempo do crime, objeto material, lugar do crime, qualidades da vítima) ou subjetivas (motivos determinantes, condições ou qualidades pessoais do ofensor etc.). 
Disso resulta que as circunstâncias qualificadoras, que são dados acessórios agregados ao crime para agravar a pena, quando tiverem caráter subjetivo (motivos determinantes do crime, p. ex., motivo fútil, homicídio praticado mediante paga ou promessa de recompensa) não se comunicam jamais ao partícipe. No entanto, se tiverem caráter objetivo, por exemplo, homicídio cometido mediante emboscada, haverá a comunicação se for do conhecimento do partícipe a presença da circunstância material, ou seja, se com relação a ela tiver agido com dolo ou culpa. Se desconhecia a presença da mesma, não poderá responder pela figura qualificada do homicídio.
Lembre-se que, elementar do crime é todo componente essencial da figura típica, sem o qual esta desaparece ou se transforma, situa se no caput do tipo incriminador (p. ex., homicídio simples), denominado tipo fundamental, enquanto as circunstâncias residem nos parágrafos, que são os tipos derivados (p. ex., homicídio qualificado).
Portanto, elementares são os dados que compõem o tipo penal básico ou fundamental. Normalmente, estão inseridas no próprio caput. Já as circunstâncias são dados que integram o acréscimo ao tipo penal, estruturando o tipo derivado, ou seja, são as qualificadoras ou privilégios. Normalmente, estão nos parágrafos ou incisos. 
§ 2º SE O CRIME É PRATICADO:
I – mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe: 
Torpe é o motivo moralmente reprovável, desprezível, vil, que suscita a aversão ou repugnância geral. Quando cometido mediante paga ou promessa de recompensa, o homicídio será chamado de mercenário. Na paga, o recebimento do dinheiro antecede a prática do homicídio, o que não se dá na promessa de recompensa, na qual basta um compromisso futuro de pagamento. 
OBS.: A vingança, por sua vez, nem sempre constituirá motivo torpe, pois, deverá ser analisado o caso concreto.
OBS.: A paga ou promessa de recompensa deve ou não ter valor econômico: (não há posicionamento mais aceito)
Primeira corrente (minoritária); pode-se cogitar de qualquer outra espécie de paga ou promessa de recompensa que não seja em pecúnia, desde que tenha valor econômico. (Magalhães Noronha)
Segunda corrente (majoritária): não é preciso que a paga ou recompensa sejam em dinheiro, podendo ser promessa de casamento, emprego. (Damásio E. de Jesus)
OBS.: Essa qualificadora aplica-se somente ao executor e/ou ao mandante:
Doutrina e jurisprudência minoritária: aplica-se somente ao executor, por se o autor do crime e o beneficiário direto da paga ou promessa
Doutrina e jurisprudência majoritária: tem aplicação tanto ao executor quanto ao mandante; embora esteja no parágrafo das qualificadoras, ou seja, inicialmente considerada uma circunstância que, em regra, não se comunica entre os autores, ela consiste em uma elementar subjetiva do crime de homicídio mercenário.
II – Motivo fútil
Fútil é o motivo desproporcional entre o crime e a causa, sendo considerado um motivo insignificante ou mesquinho. Ex.: discussão de trânsito-assassinato 
III – Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. [5: Meio insidio: é aquele dissimulado na sua eficiência maléfica, cometido por meio de emboscada, deslealdade. O agente se utiliza de mecanismos para a prática do crime sem que a vítima tenha qualquer conhecimento. (Ex.: sabotagem de freio de veículo). Meio cruel: é o que causa sofrimento desnecessário à vítima ou revela uma brutalidade incomum.]
São casos que denotam insídia, dissimulação (veneno), crueldade que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima (fogo, explosivo, asfixia ou tortura) ou capaz de atingir um número maior indeterminado de pessoas (perigo comum)
OBS.: Lei 9.455/97 – Lei sobre o crime de Tortura: Se o fim do autor é causar a morte mediante tortura aplica-se a pena do homicídio qualificado, porém, se o objetivo for praticar a tortura e ocorre a morte da vítima sem tê-la desejado, o agente responderá pela tortura seguida de morte do art. 1º, § 3º daquela lei.
IV – Traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. 
Há uma discussão no sentido de a vítima ser muito nova ou muito velha poderia dificultar a defesa do ofendido. A idade avançada ou terna da vítima não determina necessariamente a incidência da qualificadora, principalmente, porque a idade é uma característica da vítima e não um meio ou modo de execução do crime.
V – Assegurar a execução, a ocultação, a impunidadeou vantagem de outro crime.
São hipóteses de conexões ou vínculos entre o crime de homicídio e outros delitos anteriormente cometidos, a fim de garantir a impunidade, ocultação de crime anterior e a execução de outro. A doutrina divide em:
Conexão teleológica: ocorre quando o homicídio é cometido a fim de “assegurar a execução” de outro crime, por exemplo, matar o marido para estuprar a mulher.
Conexão consequencial: dá-se quando o homicídio é praticado com a finalidade de: assegurar a “ocultação” do crime – agente procura evitar que se descubra o crime por ele cometido. (p. ex., incendiário que mata a testemunha para que esta não veja o delito); assegurar “a impunidade” do crime – nessa hipótese já se sabe que um crime foi cometido, porém não se sabe quem o praticou, e o agente, temendo que alguém o delate ou dele levante suspeitas, acaba por eliminar-lhe a vida (p. ex., incendiário que mata a testemunha para que esta não o denuncie como autor do delito).
VI – Contra mulher por razões da condição de sexo feminino (feminicídio): Considera-se homicídio qualificado o assassinato de mulheres em razão do gênero (violência doméstica e familiar/menosprezo e discriminação contra a condição de mulher)
VII – Quando for cometido contra agente das forças armadas, da PF, PRF, PFF, PM, PC, BM, integrantes dos sistemas prisionais e da força nacional de segurança pública, desde que no exercício da função ou em razão dela. Ou contra o cônjuge, companheiro ou parente consangüíneo até o terceiro grau, desde que por ser parente. 
1.7.1.1. Homicídio privilegiado-qualificado 
É possível a existência do homicídio privilegiado-qualificado desde que a qualificadora que concorra com o privilégio (subjetivo) seja de natureza objetiva (incisos III e IV). Esse tipo de crime não é considerado crime hediondo já que as circunstancias subjetivas do privilégio se sobrepõem em relação às circunstâncias objetivas, pois dizem respeito aos motivos determinantes do crime (entendimento do STJ e STF).[6: São objetivas as qualificadoras dos incisos III (meios empregados) e IV (modo de execução) do § 2º do art. 121. Somente elas são compatíveis com as circunstâncias subjetivas do privilégio.]
1.7.1.2. Circunstância qualificadora-pluralidade
É impróprio falar em crime duplamente ou triplamente qualificado. Basta uma única circunstância qualificadora para se deslocar a conduta do caput para o § 2º do art. 121. Resta saber, então, que função assumiriam as demais qualificadoras. Existem duas posições: 
Uma é considerada como qualificadora e as demais, como circunstâncias agravantes; 
Uma circunstância é considerada como qualificadora. Com base nela fixa-se a pena de doze a trinta anos. As demais são consideradas como circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, pois o art. 61 do CP é expresso ao afirmar que as circunstâncias não podem funcionar como agravantes quando forem, ao mesmo tempo, qualificadoras
1.7.2. HOMICÍDIO CULPOSO 
A pensa de detenção é de 01 a 03 anos e as formas de se praticar um crime culposo são:
Imprudência: ação descuidada; é culpa de quem age, pois ela surge durante a realização de um ato sem os cuidados necessários
Negligência: é a culpa na sua forma omissiva; consiste em deixar de tomar os cuidados devidos, antes de começar a agir.
Imperícia: falta de aptidão técnica, para o exercício da profissão ou atividade
Homicídio culposo consiste numa conduta voluntária que realiza um fato ilícito, matar alguém, não desejado pelo agente, mas que foi por ele previsto (a culpa consciente) ou lhe era previsível (culpa inconsciente) e que poderia ser evitado caso ele atuasse com os cuidados necessários. Ressalta-se que tal crime não admite a tentativa.
¹OBS.: Quando esse homicídio ocorrer na direção de veículo automotor, pelo princípio da especialidade, o autor responderá pelo art.302 da Lei 9.503/97 (Trânsito).
²OBS.: Não há compensação de culpas no direito penal, assim, a culpa do pedestre que atravessa a rua fora da faixa a ele destinada não elide a culpa do motorista que trafega na contramão.
³OBS.: Há culpa concorrente quando as duas partes ocasionam a morte de uma terceira pessoa, nesse caso as duas pessoas respondem pelo crime de homicídio.
1.7.3. CAUSAS DE AUMENTO DA PENA
Se homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 se o crime resulta:
Quando houver inobservância de regra técnica de profissão, arte, ofício ou atividade: ocorre quando o agente tem aptidão técnica para desempenhar o seu trabalho, mas acaba provocando a morte em razão do seu descaso, desatendendo aos conhecimentos técnicos que possui
Quando o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima: ou seja, o próprio agente deu causa ao evento ilícito, mas, se omite e deixa de prestar socorro à vítima. Ainda que faça isso, por perceber que a vítima faleceu devido às lesões, responderá, pois essa informação deve ser confirmada apenas por um especialista.
Quando o autor não procura diminuir as consequências do seu ato;
Quando foge, para evitar prisão em flagrante.
Se homicídio doloso, a pena é aumenta 1/3:
Quando cometido contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos
1.8. PERDÃO JUDICIAL §5º
Somente ocorre no caso de homicídio de culposo. Assim, será concedido o perdão judicial quando restar demonstrado que as conseqüências da infração atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Seja por existir um elo afetivo entre o agente e a vítima, seja porque o autor sofreu as conseqüências de forma direta. Ressalta-se que será aplicado independentemente da aceitação do autor e configura-se como causa extintiva de punibilidade.
	
1.9. MILÍCIA PRIVADA OU GRUPO DE EXTERMÍNIO §6º
Milícia privada é um grupo armado de pessoas, com a presença obrigatória de ao menos um agente do Estado, tendo como finalidade e lucro individual e a promessa de devolver segurança às pessoas, substituindo o monopólio estatal e agindo sempre com violência ou grave ameaça. 
Grupo de extermínio é um grupo de civis ou não que também atuem na ausência do Estado, tendo como finalidade a matança generalizada de pessoas supostamente envolvidas com a criminalidade. Há dois posicionamentos: primeiro, utiliza o art.288, exigindo o número mínimo de 3 pessoas; segundo, utiliza a lei de organização criminosa, exigindo o número mínimo de 04 pessoas
1.10. FEMINICÍDIO §7
A pena de feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado:
Durante a gestação ou nos 03 meses posteriores ao parto
Contra pessoa menor de 14 anos e maior de 60 anos ou com deficiência
Na presença de descendente ou de ascendente da vítima
Essas situações devem ser conhecidas pelo autor do crime, para se evitar a responsabilização objetiva
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXILIO AO SUICÍDIO – art.122 
Configurar-se-á esse crime quando o ser humano de forma direta, voluntária e consciente eliminar a própria vida (se não for assim, o terceiro responderá por homicídio). Ressalta-se que, a pessoa que tenta se suicidar não responde penalmente por nenhum crime, ainda que dela resulte lesão grave, mas, apenas, o terceiro que induziu, instigou e auxiliou o suicídio, porque somente a vida alheia é penalmente protegida. Importante mencionar que o art. 148, §3º permite coagir alguém para evitar o suicídio.
2.1. OBJETO JURÍDICO: tutela-se o direito à vida humana e a sua preservação.
2.2. SUJEITOS:
Ativo: por ser crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.
Passivo: qualquer pessoa pode ser a vítima, desde que possua capacidade de resistência e discernimento, pois, é necessário que a vítima tenha capacidade de discernimento para entender o ato que pratica. 
Assim, nos casos de ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o agente será considerado autor mediato do delito de homicídio, pois, a vítima incapaz serviu como mero instrumento do agente para a realização do crime. Por exemplo, quem induz uma criança a tomar veneno não a está convencendo a se matar, mas praticando homicídio, no qual o menor atua comosimples instrumento do assassino.
Ademais, a vítima será determinada, ainda que haja mais de uma. A instigação, a indução ou o auxílio de caráter geral, que atinjam pessoa(s) incerta(s), por meio de livros, discos, espetáculos, não tipificam a conduta de que se cuida.
2.3. CONDUTA
Existem três formas de praticar o crime em tela: participação moral – induzir ou instigar – participação material – auxiliar.
Induzir: o autor faz nascer na vítima a idéia de se praticar o suicídio
Instigar: o autor reforça a idéia da vítima de se matar
Auxiliar: o agente presta efetiva assistência material, seja emprestando objetos ou indicando os meios, mas, sem intervir nos atos executórios, sob pena de ser co-autor do homicídio
Como dito é um crime de conteúdo variado, isto é, plurinuclear, existindo, assim, 03 formas de praticar o crime. Diante disso, cabe ressaltar que se o autor praticar mais de 01 núcleo do tipo, responderá por um único crime, mas o juiz ao fixar a pena levará em consideração a intenção do agente. 
OBS.: É um crime de conduta ou cooperação acessória, porque se a ação ou omissão interferir diretamente nos atos executórios, o autor responderá por homicídio.
2.4. TIPO SUBJETIVO OU INTENÇÃO: o crime em questão é punível apenas a titulo de dolo
2.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: A consumação pode ocorrer em dois momentos quando há a morte ou a lesão corporal de natureza grave. Não há tentativa, tendo em vista que não é um crime plurissubsistente.
2.6. AÇÃO PENAL: pública incondicionada
2.7. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA § único
Motivo egoístico: é a vantagem pessoal pretendida pelo partícipe do crime. Ex.: o irmão induz o outro a fim de ficar com a maior parte da herança.
Vitima menor de idade ou com capacidade resistência diminuída: vítima menor entende-se como menor de 18 anos e capacidade de resistência diminuída como embriaguez, depressão, idade muito avançada, etc.[7: Se fosse absoluta configuraria homicídio]
INFANTICÍDIO – art.123
3.1.OBJETIVIDADE JURÍDICA: tutela-se a vida humana. Para a maioria da doutrina trata-se de uma forma especial de homicídio, apesar de que para uma minoria seria crime privilegiado.
3.2. SUJEITOS
Ativo: por ser crime próprio só pode ser praticado pela mãe sob a influência do estado puerperal.
Passivo: o nascente ou o recém nascido durante ou logo após o parto.
3.3.CONDUTA: 
Pune-se a conduta (comissiva ou omissiva) da parturiente que sob a influência do estado puerperal mata o próprio filho durante o parto ou após o nascimento, ainda que o resultado se dê em data posterior.[8: Comissiva: estrangulamento. Omissiva: quando a mãe deixa de amamentar o filho.]
3.3.1. Elementos etiológico e cronológico
Elemento cronológico: durante o parto ou logo após o nascimento.
Elemento etiológico: a autora deve ter agido sob a influência do estado puerperal, que é aquele que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições de pré-gravidez, trazendo profundas alterações físicas e psicológicas, deixando a mãe sem plenas condições de entender a ilicitude da conduta, é o que a doutrina chama de semi-imputabilidade, daí uma pena mais branda do que a de homicídio.
3.3.2. Tempo médio do estado puerperal
A literatura médica alega que o puerpério dura de 6 a 8 semanas, mas a lei penal reconhece o crime de infanticídio apenas se praticado durante o parto ou logo após o nascimento. É importante destacar que antes do início do parto a ação contra o fruto da concepção caracteriza o delito de aborto.
3.4. TIPO SUBJETIVO
O crime em questão é punível apenas a titulo de dolo. Ressalta-se que não há a modalidade culposa no crime de infanticídio. Desse modo, se a mãe, culposamente, matar o filho, durante o parto ou logo após, sob influência do estado puerperal, em qual figura típica será enquadrada a sua conduta?
Há duas posições na doutrina.
O fato será penalmente atípico (minoritária) Segundo essa posição doutrinária, a genitora não responderá nem por infanticídio nem por homicídio. O fato é penalmente atípico, por ser impossível atestar a culpa em uma mulher desequilibradas psicologicamente.
Responderá pelo delito de homicídio culposo (majoritária): mas a influencia do estado puerperal será considerada na aplicação da pena
OBS.: Prova pericial na mulher: a maioria da doutrina entende que não é necessária a realização da prova pericial na mulher, porque há presunção relativa de que a mulher durante ou logo após o parto sofra perturbações físicas ou psíquicas, geralmente normais, mas, às vezes, tão intensas que podem levá-la a praticar o crime.
3.5. CONCURSO DE AGENTES: a maioria da doutrina admite o concurso d agente, seja na co-autoria ou participação desde que estes tenham conhecimento do estado puerperal, pois se trata de uma elementar do tipo penal.
3.6. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: por se tratar de crime material, consuma-se com a morte do nascente ou recém-nascido. A tentativa é possível.
3.7. AÇÃO PENAL: é pública e incondicionada.
3.8. DIFERENÇAS ENTRE INFANTICÍDIO E ABANDONO DE RECEM NASCIDO (art.134)
	INFANTICÍDIO
	ABANDONO DE RECEM NASCIDO
	Crime contra a vida
Julgado pelo tribunal do júri
Intenção é o dano
A morte é dolosa
	Crime de periclitação da vida e da saúde
Julgado pelo juiz singular (varas criminais comuns)
O autor age com dolo de perigo
A morte é culposa
ABORTO – arts. 124 ao 128
Aborto é a interrupção do processo de gravidez com a conseqüente eliminação da vida humana intra-uterina, importante destacar que a gravidez começa com a nidação ou implantação do óvulo fecundado na parede do útero materno. O aborto pode ser:
Aborto espontâneo ou natural: ocorre quando o próprio organismo moderno se encarrega de expulsar o produto da concepção, sem qualquer intervenção médica.
Aborto provocado: arts. 124 ao 128 do CP
¹OBS.: A pílula do dia seguinte e DIU não se configuram crime de aborto, porque eles agem antes da nidação, ou seja, impedem que haja fecundação do óvulo pelo espermatozóide.
²OBS.: Quanto a gravidez ectópica, esta ocorre quando o óvulo fecundado não consegue chegar até o útero desenvolvendo-se fora dele, de forma que sua expulsão não se configure crime de aborto.
³OBS.: quanto à gravidez tubária, esta ocorre quando o óvulo se desenvolve nas trompas de falópio, assim, também não ocorre o crime de aborto em caso de expulsão.
4.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA: tutela-se a vida intra-uterina 
4.2. SUJEITO ATIVO
Aborto provocado pela gestante (art.124) por ser crime de mão própria, as duas condutas (provocar ou consentir) só podem ser praticados por mulher grávida. 
No aborto provocado por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante (arts. 125 e 126): por tratar-se d crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
4.3. SUJEITO PASSIVO
No auto aborto ou aborto consentido (arts. 124 e 126) a vítima é o produto da concepção, podendo ser o óvulo fecundado (até 02 meses de gravidez), o embrião (3º ou 4º mês de gravidez) ou o feto (a partir do 5º mês)
No aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante: os sujeitos passivos são a gestante e o feto. Trata-se de crime de dupla subjetividade passiva.
4.4. CONDUTA
São puníveis 02 formas de conduta: a primeira, quando a própria mulher pratica o aborto e, a segunda, quando permite que outrem o faça. Quando a primeira forma (a mulher pratica em si o aborto) ele pode ser praticado pelos seguintes meios:
Meio químico: com a utilização dos componentes fósforo, chumbo mercúrio e arsênio
Meio orgânico: através do ópio, quinina e estricnina 
Meio psíquico ou moral: através de susto, choque ou terror
Meio físico: se subdividem em mecânico (traumatismo do óvulo com pulsão, dilatação do colo do útero, curetagem do útero e micro-cesariana), térmico (utilização de bolsa de água quente e escalda pés) e elétrico (choque elétrico na barrigada da gestante).
4.5. TIPO SUBJETIVO: crime punível apenas a título de dolo, para Nelson Hungria, considera-se também dolo eventual, por exemplo, a mulher sabendo que estágrávida pratica atos que podem gerar o aborto.
OBS.: Quando há acidente de trânsito com resultado aborto: se causado pela gestante – o fato será atípico, porque não se pune aborto a título de culpa e nem a auto lesão –; se causado por terceiros – embora, o terceiro não possa ser responsabilizado pelo aborto, ele responderá pela lesão corporal culposa.
4.6. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Por ser crime material, consuma-se com a interrupção da gravidez e consequente morte do feto. A ação física deve ser realizada contra a vida humana intra-uterina, podendo a consumação de o delito realizar se após a expulsão do feto das entranhas maternas, ou seja, nada impede que após o emprego de manobra abortiva o feto seja expelido pela mãe ainda vivo, vindo, no entanto, a falecer posteriormente. Por exemplo, se o feto nascer com vida e em seguida morrer fora do útero materno, em razão das lesões provocadas pelo agente, responderá este último pelo crime de aborto consumado, uma vez que, embora o resultado morte tenha se produzido após o nascimento, a agressão foi dirigida contra a vida humana intrauterina.
Ademais, é perfeitamente admissível forma tentada. Diante disso, se há o emprego de determinada manobra abortiva idônea a provocar a morte do feto e este vem a perecer em decorrência de outra causa independente, responderá o agente pela forma tentada do delito em estudo.
4.7. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
Quando a própria gestante dá início aos métodos abortivos, mas desiste voluntariamente ou se arrepende: os atos já praticados serão atípicos, porque não se pune a auto-lesão.
Quando terceiro faz o aborto com consentimento da gestante: neste caso, o terceiro não responderá quando causar apenas lesões leves, porque o consentimento da vítima afasta a tipicidade. Porém, causando lesões graves, o autor responderá pelos atos já praticados, porque o consentimento não afasta a ilicitude.
Quando terceiro faz o aborto sem o consentimento da gestante: em ambos os casos responderá pelos casos já praticados
4.8. CONCURSO DE PESSOAS
Quanto ao concurso de agentes no art.124, só é permitida figura do partícipe, não sendo possível a figura do coautor, por ser um crime de mão própria, assim, embora haja referência ao consentimento no caput do artigo, o terceiro que provocar o aborto responderá pelo delito do art.126. Nesse sentido, no art. 126 é possível o concurso de pessoas, na hipótese em que há o auxílio à conduta do terceiro que provoca o aborto; por exemplo: enfermeira que auxilia o médico em uma clínica de aborto.
4.9. CONCURSO DE CRIMES
Quanto ao crime de aborto previsto no art.125 sem o consentimento, algumas hipóteses merecem atenção, como:
Quando terceira pessoa visa o assassinato da mulher grávida e gera homicídio e o aborto:
Quando o agente elimina a vida da gestante sabendo do seu estado ou assumindo o risco do resultado: responderá pelo homicídio da mãe em concurso formal próprio com o aborto. (art.70, primeira parte)
Quando o agente dotado de desígnios autônomos (vontade), ou seja, com uma só ação deseja mais de um resultado (homicídio da mãe e aborto): haverá concurso formal impróprio (art.70, segunda parte)
Quando terceira pessoa visa o assassinato da mulher grávida de gêmeos (tri...)
Quando o autor conhecimento da gravidez gemelar: quando tiver conhecimento responderá pelos resultados em concurso formal impróprio
Quando o autor não tinha conhecimento: embora, a gravidez seja gemelar, o agente não tinha conhecimento dessa situação, responderá em concurso formal próprio.
Quando há o aborto mediante constrangimento por terceira pessoa:
Na hipótese em que há o emprego de ameaça ou violência como meio de execução da provocação do aborto: existem dois crimes em concurso formal o aborto sem consentimento e constrangimento ilegal (art. 146); por exemplo, marido que mediante o emprego de força ministra substância abortiva em sua esposa
¹OBS.: Nesse caso de aborto, não se aplicará a circunstância agravante genérica do art.61, II, h, para não ocorrer o bisindem.
²OBS.: A lei de contravenção prevê como uma contravenção (art.20) a propaganda de processo, substancia ou objeto destinado a provocar o aborto.
4.10. FORMAS
O Código Penal distingue várias modalidades de crime em tela: aborto provocado pela própria gestante (art.124); aborto provocado por terceira pessoas sem o consentido da gestante (art. 125); aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante (art. 126).
4.10.1. Aborto provocado pela própria gestante (art.124)
O autoaborto está previsto no art. 124, caput, tendo duas figuras:
1ª figura: Aborto provocado pela própria gestante (autoaborto): é a própria mulher quem executa a ação material do crime
2ª figura: Aborto consentido: a mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do crime é realizada por terceira pessoa.
4.10.2. Aborto provocado por terceira pessoas sem o consentido da gestante (art. 125);
Trata-se da forma mais gravosa do delito de aborto (pena — reclusão de 3 a 10 anos). Ao contrário da figura típica do art. 126, não há o consentimento da gestante no emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiro. 
O dissentimento pode ser real ou presumido. O dissentimento é real quando o sujeito emprega contra a gestante: fraude, grave ameaça contra a gestante ou violência. Presume-se o dissentimento da vítima na prática do aborto por terceiro: se a vítima não é maior de 14 anos, alienada ou débil mental.
4.10.3. Aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante (art. 126)
O fato, conforme já visto, gera a incidência de duas figuras típicas, uma para a consenciente (art. 124, 2ª parte) e outra para o provocador (art. 126). Para que se caracterize a figura do aborto consentido, é necessário que o consentimento da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir. Ausente essa capacidade, o delito poderá ser outro (CP, art. 125). Assim, consentimento inválido consiste nas hipóteses elencadas no parágrafo único do art. 126, em que o dissentimento é real ou presumido 
Importa destacar que a gravidez da vítima menor de 14 anos, da portadora de enfermidade ou deficiência mental, que não tenha o necessário discernimento para a prática do ato, ou, que, por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência, constitui, na realidade, estupro de vulnerável (CP, art. 217-A). Nessa hipótese, se o aborto é precedido do consentimento de seu representante legal, o médico estará realizando o aborto legal (art. 128, II), acobertado por causa excludente da ilicitude.
4.11. FORMA MAJORADA (CP, ART. 127)
O art. 127 do CP prevê as formas majoradas do crime de aborto, quais sejam: 
Ocorrendo lesão grave, a pena é aumentada em um terço; 
Ocorrendo morte, a pena é duplicada.
OBS.: Enquadramento legal da conduta do partícipe no crime de autoaborto do qual resulte lesão corporal ou morte da gestante: por qual delito responde o instigador ou auxiliador do crime de autoaborto se do emprego dos meios ou manobras abortivas advier lesão corporal ou morte da gestante? a) Responderá por lesão corporal culposa ou homicídio culposo. É a posição de Nélson Hungria.
b) Responderá tão somente pela participação no delito do art. 124 do CP. É a posição de E. Magalhães Noronha. 
c) O partícipe ou coautor do aborto, além de responder por esse delito (art. 124), pratica homicídio culposo ou lesão corporal de natureza culposa, sendo inaplicável o art. 127 do Código Penal, uma vez que esta norma exclui os casos do art. 124. É a posição de Damásio223.
Entendemos que o sujeito deve responder por homicídio culposo ou lesão corporal culposa, conforme o caso, na qualidade de autor mediato, pois a gestante funcionou como instrumento (longa manus) de sua atuação imprudente. Além disso, responde por participação em autoaborto em concurso formal.
OBS.: Crime preterdoloso. As majorantes aqui previstas são exclusivamente preterdolosas. No caso da morte da gestante e de o feto sobreviver por circunstâncias alheiasà vontade do aborteiro, configurar-se-ia tentativa de aborto qualificado? Em caso afirmativo, seria uma exceção à regra de que não cabe tentativa em crime preterdoloso. Entendemos que, nessa hipótese, deve o sujeito responder por aborto qualificado consumado, pouco importando que o abortamento não se tenha efetivado. Não cabe mesmo falar em tentativa de crime preterdoloso, pois neste o resultado agravador não é querido, sendo impossível ao agente tentar produzir algo que não quis: ou o crime é preterdoloso consumado ou não é preterdoloso.
4.12. ABORTO LEGAL. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE (CP, ART. 128)
Consta da redação do art. 128 do CP: “Não se pune o aborto praticado por médico: I — se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II — se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”.
Aborto necessário ou terapêutico: É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver correndo perigo de vida e inexistir outro meio para salvá-la.
Aborto sentimental, humanitário ou ético: Trata-se do aborto realizado pelos médicos nos casos em que a gravidez decorreu de um crime de estupro. O Estado não pode obrigar a mulher a gerar um filho que é fruto de um coito vagínico violento, dados os danos maiores, em especial psicológicos, que isso lhe pode acarretar.
Consentimento. Prova do estupro. O médico, para realizar o aborto, ao contrário do aborto necessário ou terapêutico, necessita do prévio consentimento da gestante ou do seu representante legal. A lei não exige autorização judicial, processo judicial ou sentença condenatória contra o autor do crime de estupro para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção a critério do médico. Basta prova idônea do atentado sexual (boletim de ocorrência, testemunhos colhidos perante autoridade policial, atestado médico relativo às lesões defensivas sofridas pela mulher e às lesões próprias da submissão forçada à conjunção carnal). No tocante à gravidez decorrente de estupro de vulnerável, basta a prova da realização da conjunção carnal.

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