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1 VALORES EXIGIDOS PELO PODER PÚBLICO NO CURSO DO PROCESSO Guilherme Freire de Melo Barros I. PAGAMENTO DE DESPESAS PROCESSUAIS PELO ENTE PÚBLICO Dispõe o artigo 91 do CPC que as despesas dos atos processuais praticados a requerimento da Fazenda Pública serão pagas ao final pelo vencido. Entende-se por despesas processuais: 1. Custas: remuneração pela prestação da atividade jurisdicional; 2. Emolumentos: remuneração pelos sérvios de cartórios e serventias não oficializados; e 3. Despesas em sentido estrito: remuneração de terceiros acionados para auxiliar a atividade jurisdicional. Para o STF, custas e emolumentos possuem natureza jurídica de taxa. Nesse sentido, as despesas em sentido estrito não estão abrangidas pelo caput do artigo 91 do CPC. Os §§1º e 2º do mencionado artigo deixam claro que a perícia requerida pelo Poder Público não deve ser paga pela parte contrária, cabendo ao ente público prever em seu orçamento recursos para custear tais despesas. Não havendo previsão orçamentária, os honorários periciais devem ser custeados no exercício seguinte – ou pelo vencido se o processo de findar antes. O pagamento das despesas em sentido estrito se justifica pelo fato de recaírem sobre pessoas estranhas ao corpo de servidores do Poder Jurisdicional. Entretanto, não haverá pagamento se o Estado-Juiz provê o serviço (ex. se disponibilizar carro oficial para cumprimento das diligencias). 2 No mesmo sentido, a respeito das despesas com o transporte dos oficiais de justiça nas execuções fiscais, dispõe a súmula 190 do STJ: Na execução fiscal, processada perante a Justiça Estadual, cumpre à Fazenda Pública antecipar o numerário destinado ao custeio das despesas com o transporte dos oficiais de justiça. Importante destacar que o Estado não paga custas processuais por haver confusão entre o credor e devedor, uma vez que é ele próprio quem custeia a atividade jurisdicional. Diferentemente, quando o ente público estadual litigar na Justiça Federal, em regra o pagamento será devido, já que a imunidade recíproca abrange apenas impostos, e não taxas. A dispensa pode decorrer de convênio entre os entes políticos ou de lei concessiva da isenção. É o que ocorre com o artigo 4º da Lei 9.289/96 que prevê a isenção do pagamento de custas na Justiça Federal para todas as pessoas afetas ao regime jurídico de direito processual público. ATENÇÃO! Súmula 178 STJ: O INSS não goza de isenção do pagamento de custas e emolumentos, nas ações acidentárias e de benefícios propostas na Justiça Estadual. Súmula 483 STJ: O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública. Artigo 95, §3º do CPC/15 prevê que o pagamento de perícia cuja responsabilidade seja de beneficiário de justiça gratuita deve ser feito com recurso do orçamento do ente público e realizada por servidor do Judiciário ou órgão público conveniado. 3 II. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Regime jurídico significativamente modificado com o CPC/15. Percentuais de honorários em demandas contra o Poder Público: em caso de condenação até 200 salários mínimos, os honorários serão fixados como o parâmetro geral, 10 a 20% sobre o valor da condenação. Os valores percentuais vão-se reduzindo à medida que aumenta a condenação, conforme previsão no §5º do artigo 85 do CPC. Ex. condenação em 1000 salários mínimos. O juiz deve estabelecer o % de 10% a 20% para os primeiros 200 salários mínimos e de 8% a 10% para os 800 salários mínimos. Tal sistemática é aplicada em qualquer hipótese de litígio com o Poder Público, inclusive casos de improcedência e sentença sem resolução do mérito, seja sucumbente o Estado ou o particular. Importante deixar claro que o particular sucumbente também estará sujeito ao pagamento dos honorários segundo as faixas do §3º do artigo 85. Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. § 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais: I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos; II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos; 4 III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos; IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos; V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos. § 5o Quando, conforme o caso, a condenação contra a Fazenda Pública ou o benefício econômico obtido pelo vencedor ou o valor da causa for superior ao valor previsto no inciso I do § 3o, a fixação do percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente. Os % do §3º do artigo 85 devem ser aplicados quando a sentença foi LÍQUIDA. Sendo ilíquida, aguarda-se a fase de liquidação da sentença para a definição do percentual. Não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o proveito econômico, a condenação em honorários tomará por base o valor atualizado da causa. Ainda se permite a fixação equitativa de honorários para causas de valor inestimável, aquelas cujo proveito econômico seja irrisório ou quando o valor da custa for muito baixo. O Tribunal, ao julgar o recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal. Importante ressaltar que existe % máximo de honorários advocatícios: 20% na fase de conhecimento e 20% na 5 fase de cumprimento de sentença. Destarte, se o juiz de 1º grau condena a parte sucumbente a honorários de 10%, e há recurso, o Tribunal pode majorar até o patamar de 20%. Essa nova regra, prevista no §11 do artigo 85, apenas se aplica aos recursos interpostos posteriormente à entrada em vigor do novo CPC. Por fim, destaque-se que a aplicação dos honorários sucumbenciais na fase recursal ocorre tanto em julgamento colegiado, quanto em monocrático. Não haverá a incidência de honorários advocatícios no cumprimento de sentença em face do Poder Público, desde que não haja impugnação (artigo 85, §7º, CPC). Trata-se de aplicação na lógica do princípio da causalidade. O Poder Público não pode pagar suas dívidas de forma espontânea, devendo seguir o rito dos precatórios (artigo 100 da CF). Caso o Estado apresente impugnação, serão devidos os honorários advocatícios. ATENÇÃO! Se a obrigação for de fazer, não fazer e entregar a coisa, é possível que o Poder Público voluntariamente cumpra os termos da decisão. Assim, caso não cumpra e o particular precise ingressar com o cumprimento de sentença, haverá incidência de honorários. Para essa fase, o CPC estabelece a cobrança de honorários no valor de 10% (artigo 532, §1º). Os honorários advocatícios têm natureza alimentar e pertencem ao advogado. O §19 do artigo 85 do CPC garante a titularidade doshonorários aos advogados públicos. É preciso que haja lei regulamentadora dos honorários. Enunciado nº 384 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: a lei regulamentadora não poderá suprimir a titularidade e o direito à percepção dos honorários de sucumbência dos advogados públicos. 6 III. RECURSOS Dispensa de preparo e do porte de remessa e retorno para os entes efeitos ao regime jurídico de direito processual público (artigo 1.007, §1º, do CPC). IV. AÇÃO RESCISÓRIA Para propositura da Ação Rescisória, o Poder Público não precisa efetuar o depósito de 5% do valor da causa previsto no artigo 968, II e §2º do CPC, por expressa ressalva do §1º do mesmo artigo. V. MULTAS Os incisos IV e VI do artigo 77 do CPC preveem hipóteses de ato atentatório à dignidade da Justiça. A multa, cujo valor é de até 20% do valor da causa, é revertida em favor do Poder Público (caso não seja paga, será inscrita em dívida ativa e cobrada mediante execução fiscal). Não estão sujeitos à multa por ato atentatório à dignidade da Justiça os advogados públicos e privados, o MP e a Defensoria. Nesses casos, o juiz deve oficiar o respectivo órgão de classe ou a corregedoria. Aquele que litiga de má-fé (artigos 79 e 80 do CPC) pode ser punido com a imposição de multa de 1 a 10% do valor da causa, além de arcar com honorários advocatícios e despesas efetuadas pela parte prejudicada. Tais valores são destinados à parte contrária. Saliente-se que a multa por litigância de má-fé e a responsabilidade por perdas e danos podem ser cobradas do ente público, pois não se trata de irresponsabilidade processual. 7 Sobre os embargos de declaração protelatórios e ao agravo interno inadmissível, o CPC traz multas que funcionam como requisito de admissibilidade de qualquer outro recurso futuro. Ocorre que, por expressa previsão legal, o Poder Público apenas recolherá o valor da multa, caso venha a ser aplicada, ao final do processo. Atenção aos artigos 1.021, §§4º e 5º e 1.026, §§2º e 3º. No cumprimento de sentença que impõe obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa, uma das medidas de apoio à efetivação da tutela é a fixação de multa (medida coercitiva, meio de coerção indireta). Tal multa, teoricamente, pode ser aplicada ao Poder Público. No entanto, do ponto de vista prático, a efetividade da multa aplicada ao Estado é remota, uma vez que o servidor não responde – ao menos imediatamente – pelo possível prejuízo ao erário. Ademais, as ações de regressos em face do funcionário público são eventuais e incapazes de influenciar sua conduta. No final, o maior prejudicado acaba sendo a própria sociedade. Com efeito, a doutrina aduz que seria mais eficaz a imposição da multa diretamente ao agente público. O STJ não possui posição pacifica quanto ao tema, possuindo julgados em sentidos diversos.
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