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CENTRO UNIVERSITÁRIO PLÍNIO LEITE CURSO DE LETRAS O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA Por Orientadora: Niterói, RJ - 2007 O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA Monografia apresentada ao Centro Universitário Plínio Leite como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Letras. Niterói, RJ - 2007 "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". (Saint-Exupéry) Dedico esse trabalho a todos que acreditam que o mundo pode ser mudado através da leitura... AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, pela vida e por todas as bênçãos. Aos meus pais e minha irmã pelo carinho e por todos os momentos de ternura e aconchego. Ao meu marido, por cada dia juntos, por acreditar em mim e pelo apoio irrestrito sem o qual esse sonho jamais teria se realizado. À minha orientadora, pela generosidade, pelos momentos de aprendizagem e pelo exemplo de conduta acadêmica. RESUMO Frequentemente ouve-se falar sobre a importância da leitura na vida do indivíduo, da necessidade de se cultivar esse hábito entre crianças e jovens e sobre o papel da escola na formação de leitores competentes. Pois, é através da literatura infantil que o indivíduo passa a compreender o mundo, se tornando um elemento importante na autoconstrução do indivíduo. A necessidade da presença do livro literário em sala de aula é algo incontestável, enquanto atividade cognitiva, contribui para a ampliação do processo perceptivo do leitor. Sendo preciso considerar que o livro infantil se constitui como um elemento de prazer e pode representar para a criança um encantamento característico a qualquer brinquedo. Esse encantamento está relacionado à função lúdica expressa por meio das figuras, do texto, das imagens, ilustrações coloridas entre outros aspectos. Dessa forma, o objetivo desta monografia é aplicar o conceito da análise do discurso na interpretação do livro O pequeno príncipe de Saint-Exupéry, procurando perceber as várias possibilidades de significação para a partir dela reconhecer estratégias de produção de sentido. Conclui-se que este livro, com o seu grande teor poético, leva, também, à reflexão, despertando o conhecimento, o senso crítico e moral nas crianças. Palavras-chave: importância, leitura, crianças, compreender, mundo. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................. 07 CAPÍTULO I BORBOLETINHA, TÁ NA COZINHA, FAZENDO CHOCOLATE PARA A MADRINHA... Notas sobre a educação infantil, a condição de ser criança e sua infância..................................................................................... 1.1 – Aspectos do Desenvolvimento Humano............................................. 1.1.1 - Teoria do desenvolvimento humano de Piaget............................ 1.1.2 – Interacionismo.............................................................................. 1.1.3 – Construtivismo............................................................................. 09 13 14 15 16 CAPÍTULO II DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DO MUNDO........................... 2.1 – A literatura infantil e suas questões.................................................... 2.2 – Leitura, texto e sentido....................................................................... 17 19 21 CAPÍTULO III A LITERATURA INFANTIL COMO POSSIBILITADORA DE LEITORES CRÍTICOS: UMA BREVE ANÁLISE DA OBRA O PEQUENO PRÍNCIPE...... 3.1 - O simbolismo da Obra......................................................................... 3.1.1 - Os personagens e os seus aspectos simbólicos.......................... 24 27 28 CONCLUSÃO.................................................................................................... 38 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 41 7 INTRODUÇÃO A literatura infantil demarca um conjunto de produções literárias a toda e qualquer manifestação do sentimento ou pensamento por meio de palavras. Define-se não apenas pelo texto resultante dessa manifestação, mas também por se destinar a um determinado público (infantil), no qual possui características específicas. A criança pode obter contato com esse tipo de texto até mesmo antes de ir para a escola, através de momentos do "contar histórias para dormir" realizados pelos pais e familiares. Pois, é através da literatura infantil que a criança passa a compreender o mundo. A função da literatura infantil é exatamente fazer com que a criança tenha uma visão mais ampla de tudo que a rodeia, tornando-a mais reflexiva e crítica, frente à realidade social em que vive e atua, desenvolvendo seu pensamento organizado. A literatura infantil tem o poder de suscitar o imaginário, de responder as dúvidas em relação a tantas perguntas, de encontrar novas idéias para solucionar questões e instigar a curiosidade do pequeno leitor. Como já foi pincelado antes, o gosto pela leitura vem de um processo que se inicia no lar. Mesmo antes da aprendizagem da leitura, a criança aprecia o valor sonoro das palavras. Aprende a gostar do livro pelo afeto, quando a mãe canta ao embalar o berço, ou narra velhas histórias aprendidas pelos avós. A presença de livros na sala de aula é fundamental para as crianças, por isso a necessidade do professor em organizar em recanto em sua sala onde os livros fiquem a disposição das crianças, para que elas possam manuseá-los sempre que desejarem, tendo contato desde cedo com o mundo letrado. A literatura enquanto universo ficcional é um elemento importante na autoconstrução do indivíduo. Percebemos que ela faz parte de um universo que 8 provoca a emoção, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e o interesse da criançada. Esses, vinculados a estímulos e incentivos externos, fazem a criança conhecer e compreender o mundo a sua volta. Para entendermos a importância da literatura no universo infantil, recorremos à Analise do Discurso – AD - de linha francesa para interpretarmos os efeitos de sentido que circulam numa sociedade em transformação.seja no convivio leitor/livro, seja no dialogo leitor/texto. A AD por se ocupar do discurso, oferece-nos um inumeras possibilidades de interpretar um texto, sem que esgotemos sua analise. Dessa forma, procuraremos aplicar o conceito de texto como discurso na interpretação do livro O pequeno príncipe de Saint-Exupéry, no intuito de perceber as várias possibilidades de significação para a partir dela reconhecer estratégias de produção de sentido. 9 CAPÍTULO I BORBOLETINHA, TÁ NA COZINHA, FAZENDO CHOCOLATE PARA A MADRINHA.. Notas sobre a educação infantil, a condição de ser criança e sua infância Sabendo-se da importância de se abordar, averiguar e investigar questõesque cerceiam a educação infantil, considera-se oportuno iniciar essa abordagem com a passagem de Gramsci (2005, p. 128), quando afirma: Com efeito, algumas plantinhas assemelham-se estranhamente à salsa e a cebolinhas mais que a flores. Todos os dias me vêm a tentação de podá-las um pouco para ajudar a crescer, mas permaneço na dúvida entre as duas concepções de mundo e da educação: se deixar agir de acordo com Rousseau e deixar obrar a natureza que nunca se equivoca e é fundamentalmente boa ou ser voluntarista e forçar a natureza introduzindo na evolução a mão esperta do homem e o princípio da autoridade. Essa citação assemelha-se à parábola da borboleta que se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através do buraco do casulo. A parábola começa mostrando que tinha um homem observando curiosamente a situação. Vendo a dificuldade da borboleta, ele decidiu ajudá-la no intuito de facilitar a sua saída. Porém, o resultado não foi o esperado, ao invés de ajudar, ele a prejudicou, pois, seu corpo estava murcho, pequeno e tinha as asas amassadas. Condenando-a passar o restante de sua existência dessa forma. O homem em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendia que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura, era a forma com que Deus fazia o fluido do corpo da borboleta ir para as suas asas, de modo que ela ficasse pronta para voar. 10 Esses exemplos dão uma idéia da responsabilidade que os profissionais da educação infantil têm no desenvolvimento do aluno, já que esse está associado à infância como objeto e a sociedade como meta. A intervenção pedagógica que oscila permanentemente entre o "desabrochar" de uma formação humana conduzida pela natureza, a disciplinação e a conformação das regras e modos sociais dominantes, muitas vezes desconsidera a concomitância desses dois pólos dos processos educativos. Durante a prática profissional e cotidiana, muitos educadores já devem ter se perguntado o que se entende por infância e o que é ser criança. A infância, como esclarece Narodowski (1994, p.24), é o "suposto universal da ação e da produção pedagógica". Diferentemente de outros campos teóricos, tais como a medicina ou a psicologia, cujas áreas a infância é vista em suas dimensões gerais como um momento particular do ciclo vital, a pedagogia elabora uma análise particular da infância em situação escolar, estabelecendo um recorte específico a partir do qual busca identificar padrões de normalidade quanto ao desempenho das crianças e estabelecer regularidades para a orientação da prática dos educadores. Schimidt (2001, p. 5) considera que os conceitos de infância e criança, são objetos de pesquisa e necessitam ser diferenciados, entretanto: (...) o último se refere à dinâmica do desenvolvimento da criança individual, através do qual, eventualmente, chegará à condição de adulto. Em oposição, o conceito de infância se localiza na dinâmica do desenvolvimento social e corresponde a uma estrutura permanente, embora se caracterize pelo fato de que os autores que a integram o fazem transitoriamente num processo de permanente substituição. Por meio do conceito infância é possível transcender o detalhe da situação individual de uma criança, para remontar-se à análise das mudanças históricas e culturais que caracterizam a construção social da posição da infância na sociedade. Assim, ao se pretender conhecer as crianças, supõe-se conhecer a infância, pois os percursos individuais, únicos de cada criança, só fazem completo sentido se perspectivados sob a luz das condições estruturais que constrangem e condicionam cada existência humana. Sarmento (2000) constata que se faz referência da infância nesse século sob o paradigma da crise social, através de três aspectos do espaço estrutural da 11 produção: a pobreza entre as gerações, o trabalho infantil e o efeito do desemprego nas gerações mais jovens. A respeito da idéia da infância fantasiosa, ilusória e romântica existente na sociedade atual, encontramos a tese de Oliveira (1989) em que a autora consta que as propagandas de crianças veiculam o "projeto burguês de infância", pois essas são usadas de forma a modelar a infância como portadora de beleza, meiguice, inocência, fragilidade e de outros aspectos semelhantes. A exploração e exacerbação dessas especificidades da infância dão forma e credibilidade a produtos comerciais, e também nas propagandas de iniciativa do Estado "ela passa a ser o símbolo do novo", da esperança no futuro. Muitos consideram que a face romântica da infância é retratada de forma sedutora, contagiante de alegria e felicidade, de um mundo sem conflitos, sem divergências culturais ou miséria. Generalizando e banalizando os fenômenos sociais da infância. Consequentemente, o "tornar-se criança" implica dizer e assumir que a infância é marcada pela maneira como se recebem, educam as crianças no mundo e como se é educado e pela forma como se inserem as crianças no meio social ao qual pertencem. Enfocando a realidade brasileira, pode-se dizer que apesar das desigualdades sociais, diferentes realidades e modos de viver, engendram formas paradoxais de infância. Podendo-se encontrar crianças em situação de risco, desnutridas, exploradas, sem escola, pedintes, etc.; crianças ocupadas com aulas de inglês, judô, futebol, informática, tênis; crianças nutridas, que transitam pelos mais diversos espaços de lazer, etc. O que é característico da infância, apesar do mundo infantil variar tanto, é a forma pela qual as crianças se apropriam da realidade e a compreendem, uma maneira particular de ver e experienciar o mundo. Na trilha de uma caracterização das crianças e suas existências, emerge uma multiplicidade de imagens e realidades sociais que afirmam a idéia de que a infância e os sujeitos que compõem essa categoria não são dados estanques e/ou homogêneos, mas multiformes. Afora ter a consciência de tal realidade, faz- se necessário uma compreensão das crianças não mais pelo olhar impositivo de máscaras esculpidas pelos adultos, definidoras de crianças e infâncias, e sim pela 12 via do reconhecimento e respeito à alteridade presente nos pequenos (as). Assim, urge a construção e disseminação na sociedade de um olhar que vá ao encontro do Outro de pouca idade. Por entender que a linguagem é interação social em que o outro possui papel decisivo na constituição do significado, recorremos a Análise do Discurso que concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social - Orlandi (2002). Nessa mediação – o discurso -, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive. Para compreender os discursos sobre a criança e a infância é preciso analisar as maneiras de significá-las, considerando a produção de sentidos engendrados na e pela sociedade, sobre a criança enquanto sujeito, seja enquanto participante de uma determinada formação ideológica. Nesse sentido, conforme nos esclarece Orlandi (2002, p. 26-27): "A análise do discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos". A visão da delimitação da infância por um recorte etário definido por oposição ao adulto, pela pouca idade, pela imaturidade ou pela dita integração social inadequada, está sendo contestada, principalmente, no final deste século, pela negação ao estabelecimento de padrões de homogeneidade indicados por algumas tendências nos campos da sociologia e da antropologia, articulada com algumas abordagensda psicologia que apontam como necessidade, a adequação dos projetos educativos a demandas diferenciadas, rompendo com as desigualdades e vivendo o confronto. Pela via da contextualização, da heterogeneidade e da consideração das diferentes formas de inserção da criança na realidade, nas atividades cotidianas, nas brincadeiras e tarefas, delineia-se um outro conceito de infância, representativo de um novo momento da modernidade, em que novos sentidos sobre a criança e prática de leitura circulam no contexto escolar. Para efeito dessa abordagem, nos tópicos seguintes serão tratadas a teoria do desenvolvimento humano e a importância do construtivismo para o desenvolvimento infantil. Cujo objetivo é a realização de uma proposta pedagógica derivada da teoria de Jean Piaget, tendo como principal premissa que 13 o conhecimento é um constructo mental, produto da interação do homem com o meio, assim como a inteligência. No construtivismo, a visão central é a noção do organismo como “ativo”, não preocupado em responder a estímulos, mas engajado, participante e buscando o sentido e o significado das ocorrências no mundo. 1.1 – Aspectos do Desenvolvimento Humano O ser humano desenvolve, em seus primeiros anos de vida, os sistemas simbólicos e expressivos que estarão na base de suas aprendizagens posteriores. Prosseguindo pela contínua transformação resultante de sua interação com o meio. Segundo Bock; Furtado & Teixeira (2001), o desenvolvimento humano deve ser entendido como uma globalidade, mas, para efeito de estudo, tem sido abordado a partir de quatro aspectos básicos: . Aspecto físico-motor: refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo, como, por exemplo, a criança leva a chupeta à boca ou consegue tomar a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, por que já coordena os movimentos das mãos. . Aspecto intelectual: é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo, a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que está embaixo de um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir de sua mesada ou salário. . Aspecto afetivo-emocional: é o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto. Por exemplo, a vergonha que se sente em algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um amigo querido. . Aspecto social: é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, é possível observar algumas que espontaneamente buscam outras para brincar, e algumas que permanecem sozinhas. 14 Devendo-se considerar que todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que esses quatro aspectos são indissociados, mas pode-se estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. 1.1.1 - Teoria do desenvolvimento humano de Piaget Segundo Jean Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa seqüência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Por isso Piaget dividiu o desenvolvimento humano em quatro fases, como serão destacadas nas linhas que seguem. - Período sensório-motor: neste período, a criança conquista, através da percepção e dos movimentos, todo o universo que a cerca. No recém-nascido, a vida mental reduz-se ao exercício dos órgãos de desenvolvem os reflexos, de fundo hereditário, como a sucção. Esses reflexos melhoram com o treino. Por volta dos cinco meses, a criança consegue coordenar os movimentos das mãos e olhos e pegar objetos, aumentando sua capacidade de adquirir hábitos novos. Ficando evidente que o desenvolvimento físico acelerado é o suporte para o aparecimento de novas habilidades. Isto é, o desenvolvimento ósseo, muscular e neurológico permite a emergência de novos comportamentos, como sentar-se, andar, o que propiciará um domínio maior do ambiente. - Período pré-operatório: neste período, o que mais de importante acontece é o aparecimento da linguagem, que irá acarretar modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da criança. A interação e a comunicação entre os indivíduos são, sem dúvida, as conseqüências mais evidentes da linguagem. Com a palavra, há possibilidade de exteriorização da vida interior e, portanto, a possibilidade de corrigir ações futuras. Pode-se afirmar que esse período é o que mais se relaciona com o objeto deste estudo – que é a literatura infantil -, considerando-se que essa proporciona 15 à criança contato com o mundo exterior e, conseqüentemente, o seu entendimento. - Período das operações concretas: o desenvolvimento mental, caracterizado no período anterior pelo egocentrismo intelectual e social, é superado neste período pelo início da construção lógica, isto é, pela capacidade da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vista diferentes. Esses pontos de vista podem referir-se a pessoas diferentes ou à própria criança, que vê um objeto ou situação com aspectos diferentes e, mesmo conflitantes. Outra característica dessa etapa é que a criança consegue exercer suas habilidades e capacidades a partir de objetos reais, concretos. Portanto, mesmo a capacidade de reflexão que se inicia, isto é, pensar antes de agir, considerar os vários pontos de vista simultaneamente, recuperar o passado e antecipar o futuro, é um exercício que se dá partir de situações presentes ou passadas, vivenciadas pela criança. - Período das operações formais: neste período, ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento formal, abstrato, isto é, o adolescente realiza as operações no plano das idéias, sem necessitar de manipulação ou referências concretas, como no período anterior. 1.1.2 - Interacionismo Um dos pressupostos básicos da obra de Vigotsky é que as origens das formas superiores de comportamento consciente (pensamento, memória, atenção voluntária, etc.), formas essas que diferenciam o homem dos outros animais, devem ser achadas nas relações sociais que o homem mantém. Entendendo o homem como um ser ativo, que age sobre o mundo, sempre em relações sociais, e transforma essas ações para que constituam o funcionamento de um plano interno. Sob o ponto de vista interacionista, o desenvolvimento infantil é visto a partir de três aspectos, conforme esclarece-nos Lúria (1994): 16 . Aspecto instrumental: refere-se à natureza basicamente mediadora das funções psicológicas complexas. Não apenas respondendo aos estímulos apresentados no ambiente, nem alterando e usando suas modificações como um instrumento do comportamento. . Aspecto cultural: envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta, e os tipos de instrumento, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe para dominar aquelas tarefas. Um dos instrumentos básicos criados pela humanidade é a linguagem. . Aspecto histórico: funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento, foram criados e modificados ao longo da história social da civilização. Assim, as crianças desde o nascimento, estão em constante interação com os adultos, que ativamente procuram incorpora-las a suas relaçõese a sua cultura. 1.1.3 – Construtivismo Conforme relata Íris Barbosa Goulart (2000) Piaget denominou a postura teórica por ele encabeçada de construtivismo, por realçar que o homem é construtor de seu conhecimento. Para explicar a interação construtivista da criança com o ambiente, utilizou os conceitos de assimilação, acomodação e adaptação. A assimilação é a incorporação de um novo objeto ou idéia à que já existe, ou seja, a aprendizagem que a criança já possui. Já a fase de acomodação da interação da criança com o meio ambiente implica na transformação do organismo para poder lidar com o mesmo; diante de um objeto de uma nova idéia a criança modifica seus esquemas adquiridos anteriormente. A adaptação representa, neste grupo, a maneira pela qual o organismo estabelece um equilíbrio entre assimilação e acomodação, adaptando-se continuamente às imposições feitas pelo ambiente. 17 CAPÍTULO II DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DO MUNDO Palavra. Instrumento humano tão poderoso, capaz de fazer acontecer, de dar vida, de provocar uma guerra. Materializa idéias, revitaliza lembranças, aproxima as pessoas. É fato que ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive. Não obstante, frequentemente ouve-se falar sobre a importância da leitura na vida do indivíduo, sobre a necessidade de se cultivar o hábito da leitura entre crianças e jovens, sobre o papel da escolar na formação de leitores competentes, com o que se concorda completamente. De acordo com as premissas de Paulo Freire (2006, p. 11), ao se procurar falar de tal importância, o professor diz que o ato de ler "não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo". Assim, a leitura do mundo precede a leitura da palavra. A linguagem e a realidade se prendem dinamicamente. E, a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Então, o que fazer com ou do texto em sala de aula funda-se, ou devia fundamentar-se, em uma concepção de literatura muitas vezes deixada de lado em discussões pedagógicas. Estas, de modo geral, afastam os problemas teóricos como irrelevantes ou elitistas diante da situação precária que se encontra o professor na atual conjectura. 18 Fazendo com que este se esqueça da importância da literatura infanto- juvenil como parte da formação da língua materna. Diante de tal constatação, considera-se que o professor deve procurar desenvolver na criança, através dos textos, o sabor das coisas simples. Em seu livro intitulado Classificados poéticos, Roseana Murray (2004, p. 10-13) procura expressar o desejo de guardar a infância nas lembranças das brincadeiras, de tudo o que não se fez, dos sonhos e das fantasias no poema É preciso sonhar: Por favor, reservem dois lugares num disco voador, um pra mim, outro pro meu amor que eu tenho sede de céu, tenho fome de estrelas e uma vontade louca de mastigar violetas. Prefiro partir nas primeiras horas do dia quando as nuvens ainda são suave carícia, Levarei comigo uma bagagem tão pequena que ninguém nem mesmo notará: uma bússola feita de vento e um embrulho de sonhos mais leve que a luz. Quero encontrar um planeta onde os homens tenham as mãos de tal modo azuis que ninguém saiba direito se são mesmo homens ou só são anjos ou pássaros. A necessidade da presença do livro literário em sala de aula é algo incontestável. Fonte inesgotável de conhecimentos e descobertas, a literatura, enquanto atividade cognitiva, contribui para a ampliação do processo perceptivo do leitor. O profissional da educação nunca deve perder de vista o princípio artístico que é o fundamento de toda obra literária: a literatura é, antes de mais nada, arte, é um fenômeno de criatividade que representa o ser humano, o universo, a vida por meio da palavra, numa comunhão entre o sonho e a vida prática, entre a utopia e a realidade. A criança desde o momento do seu nascimento é envolvida por um universo de linguagens, como por exemplo, palavras usadas como demonstração de carinho sentido pela mãe, pai, tias, avós, e por todos aqueles que usam as palavras para se comunicar com a criança. Envolvida nesse ambiente de falantes, 19 a criança logo procura recursos que a façam ser também compreendida pelos seus interlocutores. Nesse processo de aquisição da linguagem verbal, vai se exigindo mais da criança, à medida que as palavras são pronunciadas por ela para designar objetos que nem sempre corresponde ao significado da palavra. Quando a criança começa a falar, por exemplo, as palavras au-au, aprendida como signo para representar o animal cachorro, no início do uso da fala, essas palavras são usadas também, como signo a todo objeto compreendido na lógica da criança como correspondente a esse termo. No entanto, com sucessivos problemas enfrentados pela criança com relação ao significado, a compreensão dessas palavras vai se modificando à medida que as funções mentais da criança estão cada vez mais desenvolvidas. Para isso, ela precisa contar com as interações comunicativas com pares mais experientes, adultos do convívio diário, bem como, crianças com capacidades cognitivas superiores as suas. E isso pode se desenvolver através da análise do discurso, que na concepção de Orlandi (2002, p. 15), A Análise do Discurso concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive. Devendo-se considerar, também, que um dos pontos fortes da análise do discurso é re-significar a noção de ideologia a partir da consideração da linguagem. Trata-se assim, de uma definição discursiva de ideologia que não há sentido sem interpretação e, além disso, diante de qualquer objeto simbólico o homem é levado a interpretar. 2.1 – A literatura infantil e suas questões Torna-se premente fazer uma abordagem conceitual sobre o que vem a ser literatura antes de adentrar o espaço da literatura infantil. Nas palavras de Coelho (2000, p. 10) literatura é: 20 Um fenômeno de linguagem plasmado por uma experiência vital/cultural direta ou indiretamente ligada a determinado contexto social e à determinada tradição histórica. É arte e, como tal, as relações de aprendizagem e vivência, que se estabelecem entre ela e o indivíduo, são fundamentais para que este alcance sua formação integral (sua consciência do eu + o outro + mundo, em harmonia dinâmica. Pode-se dizer que a leitura se constituindo em um elemento muito importante na vida da criança, pois ela faz com que se possa aprender, ensinar, evoluir. A sua grandiosidade não deve ser compreendida somente como alfabetização, como um ler corretamente, mas também como uma leitura que permite a interpretação, a compreensão daquilo que se lê. Sendo assim, é preciso oferecer às crianças, oportunidades de leitura de forma convidativa e prazerosa. E é nesse sentido que a literatura infantil desempenha um importante papel, o de conduzir as crianças não só à aprendizagem, contribuindo para uma sistematizada escrita, mas que permita que se realize a leitura com fruição, isto é, que se sinta prazer ao estar lendo. E isso é ótimo, pois é fundamental que as crianças sintam o gosto pela leitura. A literatura possibilita então, que as crianças consigam redigir melhor desenvolvendosua criatividade, pois, o ato de ler e o ato de escrever estão intimamente ligados. Nesse sentido, A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização (...) (COELHO, 2000, p.27). A literatura infantil desenvolve não só a imaginação das crianças, como também permite que elas se coloquem como personagens das histórias, das fábulas e dos contos de fada, além de facilitar a expressão de idéias. Sendo assim, o objetivo da literatura infantil é o de formar leitores, pois por uma série de características e fatores ela desempenha esse papel melhor do que a literatura adulta, uma vez que é mais convidativa. O que se procura hoje é assegurar ao maior número de pessoas possíveis o direito de ler. "A literatura infantil contribui para que não se deixe esta tarefa por acaso (...)" (ZOTZ & CAGNETI, 1986, p.21). 21 Como sabe-se, a leitura é um processo de contínuo aprendizado, assim, salienta-se que desde cedo, é preciso formar um leitor que tenha um envolvimento integral com aquilo que ele lê. De maneira que a cada leitura, se possa adquirir mais profundidade e intimidade com o texto, que se consiga estabelecer um diálogo, fazendo perguntas e buscando respostas, seja o texto uma história, uma fábula, um conto de fadas ou qualquer outro. Nesse sentido, pode-se mencionar ainda que a leitura, além de produzir um contínuo aprendizado, desenvolve a reflexão e o espírito crítico. "É fonte inesgotável de assuntos para melhor compreender a si e ao mundo" (ZOTZ & CAGNETI, 1986, p.23). Analisando as considerações aqui mencionadas, salienta-se que é muito importante para as crianças as situações de interação, contato e manuseio de materiais escritos para a sua evolução e aprendizagem da leitura e da escrita. Mas, será ainda mais enriquecedor se este contato e manuseio for com histórias de literatura infantil, pois os desenhos que se encontram explícitos nos livros são como uma chamada, um convite que fascina a criança, proporcionando-lhe interesse e prazer. O professor pode perceber isso em sua prática pedagógica, através do interesse das crianças quando se está contando a elas uma história de literatura infantil. Parece que se está vivendo aquele momento, aquela situação apresentada na história. 2.2 – Leitura, texto e sentido Frequentemente se ouve falar sobre a importância da leitura na vida do indivíduo, sobre a necessidade de se cultivar o hábito da leitura entre crianças e jovens, sobre o papel da escola na formação de leitores competentes. Mas na seara dessa discussão, destacam-se questões como: O que é leitura? Para quê ler? Como ler? Evidentemente, as perguntas poderão ser respondidas de diferentes modos, os quais revelarão uma concepção de leitura decorrente da concepção de sujeito, de língua, de texto e de sentido que se adote. Conforme preconiza os Parâmetros Curriculares Nacionais: 22 A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem, etc. Não se trata de extrair informação, decodificando a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, p. 69-70). Por sua vez, à concepção de língua como estrutura corresponde a de sujeito determinado, "assujeitado" pelo sistema, caracterizado por uma espécie de "não consciência". O princípio explicativo de todo e qualquer fenômeno e de todo e qualquer comportamento individual repousa sobre a consideração do sistema, quer lingüístico, quer social. Sob essa visão de língua como código – portanto, como mero instrumento de comunicação – e de sujeito como (pré) determinado pelo sistema, o texto é visto como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, o conhecimento do código utilizado. Consequentemente, a leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em sua linearidade, uma vez que "tudo está dito no dito". Se, na concepção anterior, ao leitor cabia o reconhecimento das intenções do autor, nesta concepção, cabe-lhe o reconhecimento do sentido das palavras e estruturas do texto. Em ambas, porém, o leitor é caracterizado por realizar uma atividade de reconhecimento, de reprodução. Diferentemente das concepções anteriores, na concepção interacional (dialógica) da língua, os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto, considerado o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores. Desse modo, há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem como pano de fundo, o contexto sócio cognitivo dos participantes da interação. Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído na interação texto- sujeitos e não algo que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície 23 textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior dos eventos comunicativos. Posto que se pretende enfatizar a importância da literatura infantil na formação do indivíduo, no próximo capítulo serão destacados o sentido e a mensagem social que o livro O Pequeno Príncipe passa o leitor. 24 CAPÍTULO III A LITERATURA INFANTIL COMO POSSIBILITADORA DE LEITORES CRÍTICOS: UMA BREVE ANÁLISE DA OBRA O PEQUENO PRÍNCIPE Talvez a primeira pergunta que se deva fazer, quando se trabalha com literatura infantil, seja aquela que questiona sobre o status dessa literatura que é escrita para a criança. Preocupando-se com as delineações dadas ao gênero infantil, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1973, p. 596) indaga: Haverá música infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra literária deixa de constituir alimento para o espírito da criança ou do jovem e se dirige ao espírito do adulto? Qual o bom livro para crianças, que não seja lido com interesse pelo homem feito? Qual o livro de viagens ou aventuras, destinado a adultos, que não possa ser dado à criança, desde que vazado em linguagem simples e isento de matéria de escândalo? Observados alguns cuidados de linguagem e decência, a distinção preconceituosa se desfaz. Será a criança um ser à parte, estranho ao homem, e reclamando uma literatura também à parte? Ou será a literatura infantil algo de mutilado, reduzido, de desvitalizado -, porque coisa primária, fabricada no pressuposto de que a imitação da infância é a própria infância? A palavra literatura tem muitas facetas e, independente do aspecto que se observe, significa emoção, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e o interesse no processo de interação livro-leitor. Sendo assim, o termo infantil associado à literatura não significa que ela tenha sido feita necessariamente para crianças. Na verdade,a literatura infantil acaba sendo aquela que corresponde, de alguma forma, aos anseios do leitor e que se identifique com ele. Muitos os educadores, que vivenciam de perto a experiência do contato da criança com o livro e comprovam que tal contato se constitui repleto de encantamento e magia, 25 fazendo com que estes percebam o quão importante e cheia de responsabilidade é toda forma de literatura. É preciso considerar que o livro infantil se constitui como um elemento de prazer e pode representar para a criança um encantamento característico a qualquer brinquedo. Esse encantamento está relacionado à função lúdica expressa por meio das figuras, do texto, das imagens, ilustrações coloridas entre outros aspectos. Por isso, compreende-se que o livro infantil é um importante instrumento de recreação e entretenimento para a criança graças a sua fonte inesgotável de formação e conhecimento. O trabalho com a literatura infantil na construção do pensar, pode ser uma alternativa para despertar a criança para o mundo. É uma atividade de prazer que leva não só a criança como também o adulto a ver e sentir o mundo com um olhar mais critico. Assim, para verificar o modo como a leitura desperta o prazer e amplia a visão de mundo, faz-se necessário uma analise do livro O pequeno príncipe que continua a ensinar e encantar crianças e adultos. Sendo assim, é importante elucidar que O Pequeno Príncipe, com o seu grande teor poético, leva, também, à reflexão, despertando o conhecimento, o senso crítico e moral nas crianças. Pois como bem esclarece Caldin (2003, p. 5): A função social da literatura é facilitar ao homem compreender – e, assim, emancipar-se - dos dogmas que a sociedade lhe impõe. Isso é possível pela reflexão crítica e pelo questionamento proporcionados pela leitura. Se a sociedade buscar a formação de um novo homem, terá de se concentrar na infância para atingir esse objetivo. O Pequeno Príncipe "Le Petit Prince", apesar de ter sido escrito em 1943 pelo aviador Antoine de Saint-Exupéry, durante seu exílio nos Estados Unidos, constitui-se uma obra aparentemente simples, mas profunda ao apresentar personagens cheios de simbolismo, relacionando-os com a vida real. O livro conta a história de um menino que vivia sozinho num planeta, do tamanho de uma casa, que tinha três vulcões e uma rosa formosa de grande beleza e orgulho. Aliás, o orgulho dessa flor levou o pequeno príncipe a viajar até a Terra. Durante a viagem ele encontrou diversos personagens peculiares, como o rei, o 26 vaidoso, o bêbado, o empresário, o acendedor de lampiões, o geógrafo, a serpente, a raposa, o vendedor, o manobreiro e o aviador. Todos eles têm algum ensinamento a passar ao pequeno príncipe, assim como ele também tem lições a ensinar a cada um. A partir da interação entre o menino e os personagens, descobre-se um mundo diferente daquele vivido na realidade, porque descobre-se o segredo do que é realmente importante na vida. Na opinião de Maleski (2007, p. 1) esse é: Um livro infantil escrito para adultos. Pois, além de agradar as crianças, ele também tem a incrível capacidade de fazer os adultos retornarem à infância, relembrando coisas simples, mas importantes, que deixamos de lado quando crescemos. Talvez esse sentimento de nostalgia explique o sucesso que o livro fez, e ainda faz, em todo o mundo. Schultze (2007, p. 1) analisando o simbolismo da obra e relativizando-a com a sua infância, acrescenta: O poder desse relativamente pequeno manuscrito é assustador: intelectuais se sentem extremamente desconfortáveis olhando para o garotinho louro cuja aparência é uma síntese de todos os símbolos “burgueses” da ternura: cachecóis, pantalonas, sapatinhos delicados, bochechas rosadas, cabelos louros levemente desarrumados; anjinho, em suma. Principezinho. E (...) todo o simbolismo do sentimentalismo explícito, aquelas flores, aquelas estrelas, a solidão, o vento, suspiros, a morte que rodeia em silêncio um amor puro (sic) que não terá tempo de se realizar, a gente pressente, não terá outra chance. Mas o texto é bom. É infernalmente bom, é uma areia movediça. A gente afunda fácil. A única alternativa para não ser absorvido é ler depressa, passando os olhos (...). Essa, então, é uma obra que enfatiza uma profunda mudança de valores sociais, que ensina como o ser humano é equivocado na avaliação das coisas e das pessoas que os rodeiam e como esses julgamentos levam-nos à solidão. Sensibilidade é o instrumento que Antoine de Saint-Exupéry utiliza ao narrar a realidade no livro. Com o uso dessa sensibilidade, o autor foi capaz de concluir sabiamente a primeira parte da obra que descreve o processo de "emburrecimento" da criança. O relato do “emburrecimento” da criança está relacionado a um fato da sua infância, quando viu em um livro, sobre florestas, a imagem de uma jibóia devorando um animal inteiro, sem mastigar. Impressionado com a gravura, ele tentou fazer um desenho que representasse o que havia aprendido: fez uma 27 cobra que devorara um elefante inteiro. Os adultos não compreenderam, e ele foi aconselhado a largar os desenhos e se importar com coisas mais interessantes, como os estudos de matemática e geografia. Assim, segundo o próprio autor, ele deixou de lado uma promissora carreira de pintor aos seis anos de idade. O sentido maior que a obra possui, é a de que o adulto, preocupado com o aspecto financeiro, esquece-se de dar oportunidade para a criança se descobrir, descobrir o mundo e desenvolver-se. 3.1 - O simbolismo da Obra Há de se considerar, que o livro foi escrito em 1943, momento em que a humanidade vivenciava a 2ª Guerra Mundial. Nesse momento, a ganância, conflitos e crises mundiais dominam o mundo e por isso, Saint-Exupéry compõe os personagens do livro, fazendo um convite à reflexão para que as pessoas se humanizem, se cativem e se percebam. Como ele mesmo disse: "Eu não me preocupo se eu morrer na guerra (...) Mas se eu voltar vivo desse 'trabalho' ingrato, mas necessário, haverá apenas uma questão para mim: O que dizer da humanidade? O que dizer para a humanidade?" (SAINT-EXUPÉRY, 2007, p. 1). As palavras e personagens de livros infantis possuem um significado simbólico através da linguagem e essa se constitui por signos e códigos que as tornam expressivas e comunicativas para os nossos sentidos ou percepções (visuais, acústicas, táteis, olfativas) e para a nossa cognição. As crianças por meio da linguagem, então, compartilham o espaço social, interferem e recebem influências dos valores culturais de determinadas épocas e locais. Coabitam o universo simbólico da mente humana, e ora produzem quebras (ou re- configurações), ora resgates dessas significações simbólicas, re- significando a memória através de novos textos, imagísticos ou verbais. Isso se dá a cada nova leitura, ou seja, a cada procura de outros sentidos (ALESSI et al., 2007, p. 2). É isso que se pretende nesse tópico, mostrar o significado simbológico que se realiza por meio de uma linguagem simples, mas enigmática, em cada 28 personagem da obra O Pequeno Príncipe. Em uma viagem pelo Universo, o pequeno príncipe se depara com personagens excêntricos que o levam a questionamentos sobre o comportamento de cada um. Cada personagem dessa obra mostra o quanto os adultos se preocupam com coisas inúteis e não dão valor ao que têm: amigos, família, amor, etc. Isso tudo pode ser traduzido por uma frase da raposa, personagem que ensina ao principezinho o segredo do amor: "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos". É interessante perceberque o autor usa os personagens para ensinar à criança o que é certo ou errado ao mesmo tempo em que faz com que o adulto relembre que um dia ele também teve esses ensinamentos. Percebe-se também, que as pessoas, quando querem fazer graça ou ser "aceito" por alguém, às vezes mentem. Correndo o risco de dar àqueles que não o conhecem uma falsa idéia de si. Assim, os adultos se tornam pessoas incapazes de entender o sentido da vida, pois deixam de ser a criança que um dia foram. Por isso é difícil para os adultos compreenderem toda a sabedoria de uma criança, já que eles não mais se vêem como uma. 3.1.1 - Os personagens e os seus aspectos simbólicos Através da representação ilustrativa dos personagens do livro, percebe-se que no aspecto gráfico, a obra rebusca bastante o aspecto lúdico como forma de convite à leitura. O livro é enriquecido de ilustrações, com traços infantis, que acompanham o desenrolar do texto, o que proporciona uma maior aceitação do público leitor. Conforme salienta Witter (2002, p. 1): Não importa se é em livro de ficção ou não, todos podem contribuir, usando-se ilustrações para estimular a pensar, falar, ouvir, ler, escrever e outras habilidades e competências. Entre as vantagens de recorrer a livros de pinturas e de ilustrações estão: recuperar a herança cultural e literária, o prazer da leitura, o estímulo à escrita e à linguagem oral, o estímulo a pensar, alegria no ensino-aprendizagem, desenvolvimento do senso de comunidade, ensino de gramática e estilo, explicações interessantes sobre diferentes culturas, expor o aluno a vários estilos e gêneros, com atividades criativas, e ampliar os estudos temáticos. 29 As ilustrações permitem o devaneio, permitem às crianças a soltar a imaginação e criar um mundo de sonhos e possibilidades por meio do simbolismo que cada personagem ilustra. Assim, o pequeno príncipe personagem principal, vai revelando que sua vontade de vencer é maior que os obstáculos que ele possa encontrar. "Vivi portando só, sem amigo com quem pudesse realmente conversar (...)" (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 2). Exatamente por causa de sua solidão e influência da rosa, esse personagem viajou por vários planetas e personagens até chegar a Terra. Esse último planeta, que, simbolicamente, representava a junção de todos os outros dos quais ele havia visitado, estimula a criança a perceber a imensidão do mundo e suas contradições. Assim consta no livro que, A Terra não é um planeta qualquer! Contam-se lá cento e onze reis (não esquecendo, é claro, os reis negros), sete mil geógrafos, novecentos mil negociantes, sete milhões e meio de beberrões, trezentos e onde milhões de vaidosos isto é, cerca de dois bilhões de pessoas grandes (...) (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 16). Perplexo e triste com as contradições dos adultos, o pequeno príncipe simboliza a esperança, o amor, a crença nos sonhos e a força inocente da infância que habita no inconsciente do homem adulto. 30 A rosa, símbolo da beleza, da vida, da alma e do amor estabelece uma relação de afeto e amizade com o pequeno príncipe que fica encantado com os mistérios dela. (...) Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém. Apareciam certa manhã na relva, e já à tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o princepezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros (...) Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 8). A relação de amor do pequeno príncipe com a rosa, representa muito bem a relação homem-mulher. O homem, no imaginário feminino, geralmente, apaixona-se e vive para atender aos caprichos da amada. Foi exatamente o que o principezinho fez, um lanchinho, o para-vento, uma redoma. Mas ela nunca está satisfeita e o nosso herói decide partir. Como no mundo real, essa relação homem x mulher é marcada de conflitos. Em tom de arrependimento, o príncipe diz: Não soube compreender coisa alguma! Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não 31 podia jamais tê-la abandonado. Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era jovem demais para saber amá-la. Embora pareça contraditória, entre caprichos e sabedoria, a rosa é extremamente feminina e sedutora. Por isso, cativa o coração do principezinho, já que possui toadas as características que a sociedade exige da mulher. Oposto à rosa, o rei, detentor do poder nas mediações entre os homens, porque é ele que estabelece a ordem de um povo quer mandar, governar a tudo e a todos. Ah! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o principezinho. E o principezinho perguntou a si mesmo: Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu? Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os homens são súditos (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 10). O rei solitário pensa que tudo e todos são seus súditos e tem necessidade de controlá-los. O Pequeno Príncipe, então, pede a ele que ordene que o sol se ponha; o mesmo Rei que até então não mostrou coerência de pensamentos, 32 explica-lhe que quando se é dado um comando do qual quem o recebe não tem possibilidade de realizá-lo, a culpa por um resultado desfavorável, deverá ser atribuída sempre a quem ordenou. Ou seja, a arrogância humana é tamanha, que o rei não consegue admitir que ele não pode tudo. Saint-Exupéry, nos ensina com sabedoria, através desse personagem que cada um só pode dar aquilo que tem. Aí aparece a vaidade que leva, muitas vezes, o homem a discriminar seu semelhante. "Ah! Ah! Um admirador vem visitar-me! (...) para os vaidosos, os outros homens são sempre admiradores" (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 11). Todos sabem que a vaidade consiste em uma estima exagerada de si mesmo, uma afirmação esnobe da própria identidade. Na definição do dicionário Aurélio, “a vaidade é a qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória. A vaidade, sentimento que esvazia e dispersa”. Dessa forma, o indivíduo vaidoso está sempre em busca de uma auto-afirmação através de elogios, e, para isso ele tentar ostentar suas qualidades. É o que o personagem em questão vem trazer à baila. Ele nos faz lembrar e refletir de que precisamos reconhecer nossos próprios talentos, valores e capacidades, pois todo ser humano tem seu valor, 33 mas não depender – muitos menos buscar - de elogios dos outros para nos auto- afirmar. Outra personagem interessante é o bêbado. O autor parece apresentar os personagens na ordem dos valores que considera importantes para a humanidade. O bêbado ocupava o terceiro planeta visitado pelo principezinho. - Por que é que bebes? Perguntou-lhe o principezinho. - Para esquecer, respondeu o beberrão. - Esquecer o quê? Indagou o principezinho, que já começava a sentir pena. - Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça. - Vergonha de quê? Investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo. - Vergonha de beber! Concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 12). Entrelaçando-o à realidade cotidiana, pode-se perceber que muitas pessoas adultas bebem para tenta escapar da realidade, mas não consegue escapar da vergonha de ser como é. O desabafo desse personagem é um alerta contratodos os vícios, que submete o homem a degradação de seu físico e da sua moral. Os personagens que seguem na apresentação delimitam o comportamento, a ignorância e a falta de sensibilidade humana, que em determinado momento, não se sabe quando nem onde, dá lugar a uma vida sem sonhos, cheia de preocupações e egoísmo. Assim temos: O empresário "(...) tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias!" (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 13). Esse, por sua vez, 34 parecia muito ocupado contando as estrelas, para depois registrá-las e assim as possuir. A falta de tempo era a sua justificativa para não sonhar. A lição que o empresário transmite é a de que o homem está tão ocupado contando o que acumulou que não pode desfrutar da vida. O pequeno príncipe faz ver que isso também é um vício. É preciso valorizar quem o indivíduo é, e não o que ele tem. O acendedor de lampiões, personagem encontrado no quinto menor planeta, tinha como trabalho acender a lâmpada solitária da rua, porém esse personagem não tem o bom senso de questionar o regulamento e trabalha sem parar, mesmo sabendo que não vai chegar a lugar algum. 35 Os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 14). O geógrafo sabe toda a teoria, mas não aplica seus conhecimentos. Nunca sai da sua mesa para explorar as descobertas. Como um bom burocrata, declara que isso é trabalho de outra pessoa. "Mas tu vens de longe. Tu és explorador! Tu me vais descrever o teu planeta" (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 15). Em conseqüência disso, ele se tornou incapaz de contar ao pequeno príncipe qualquer coisa sobre o seu planeta, pois se esqueceu de que existem outras questões importantes no mundo. A serpente, conhecida por ser secreta, enigmática ora representa o feminino ora o masculino, simboliza a inteligência, a fecundidade, representa o personagem mais franco de toda a história. Ela respeita o que é puro e verdadeiro: "Mas tú és puro. Tu vens de uma estrela (...) (Tempo) tenho pena de ti, tão fraco, nessa Terra de granito. Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade do teu planeta. Posso (...)” (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 17). Apesar da figura da serpente ter um simbolismo ambíguo, nesta obra, ela pode servir como exemplo. Exemplo de que o homem deve ser transparente, verdadeiro, devendo ter discernimento de suas escolhas, não esquecendo de sempre respeitar a si mesmo e o próximo. 36 A raposa, sábia, ensina o pequeno príncipe a compartilhar. E explica-lhe que, apesar de existirem milhares de flores parecidas, a dele é única, e foi o tempo que ele dedicou a ela que a fez tão importante. Cativar quer dizer conquistar e requer responsabilidade. Responsabilidade por um amor, por um amigo, pelo talento que possuímos e pelo que conquistamos em nossa carreira profissional e pessoal. Pode-se também observar nas últimas páginas do livro que o aviador que narra a história indaga junto ao leitor se o carneiro dado de presente por ele ao principezinho comeu ou não a flor, pois ele havia esquecido de desenhar a correia de couro que prenderia o focinho do animal. É nessa indagação que reside um dos significados mais sublimes da principal obra: a inocência. Olhar para o céu e procurar pelo planeta B612 e perguntar a si mesmo se o carneiro terá ou não comido a flor é a eterna busca pela inocência perdida. O Pequeno Príncipe vem ao longo do tempo cativando gerações de leitores adultos e crianças. "O essencial é invisível aos olhos”, mais filosófico do que essa frase não existe. Ensinamentos humanistas como o valor da verdadeira amizade, permeiam todo o livro, é a importância de criar laços com as outras pessoas, tentar conhecê- las de verdade e não o que elas têm para nos oferecer. 37 Todas essas questões confirmam e reafirmam a ideologia de bondade, perseverança, humildade, amor e confiança como forma de resgatar tudo aquilo que se pode perder em uma guerra. Seja a guerra política, seja guerra pela sobrevivência, a preocupação humanista em resgatar um sentimento esquecido, porém tão nobre, faz do O Pequeno Príncipe uma lição de vida e uma homenagem “à tenra infância, ou àqueles que a perderam”. A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me (SAINT- EXUPÉRY, 2002, p. 21). 38 CONCLUSÃO A literatura infantil é, antes de tudo, arte, fenômeno de criatividade que representa o mundo, a vida. Ela enriquece a imaginação da criança, oferece-lhe condição de criar e ensina-lhe a libertar-se pelo espírito, levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a liberdade. É uma das produções humanas mais importantes para a formação do indivíduo, pois sua matéria é a palavra, o pensamento e as idéias, exatamente aquilo que distingue ou define especificidade do ser humano. A criança deve ter acesso à literatura, associando e harmonizando a fantasia e a realidade, a fim de satisfazer suas exigências internas e desejos imaginários. Após analisar o livro O Pequeno Príncipe, observa-se que o desenvolvimento do interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira, pois esse processo é uma importante prática social a qual suscita diferentes significados através dos tempos. Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é determinado pela "atmosfera literária" que, segundo Bamberguerd (2000, p.71) a criança encontra em casa quando “ouve histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que seja estimulada, terá um desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a leitura". Ainda de acordo com Bamberguerd (2000) a criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente, neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente ligada à motivação. 39 Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente em estimular esse hábito nos seus filhos. Outro fator que contribui positivamente em relação à leitura é a influência do professor. Nesta perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a criança a perceber no texto estratégias de produção de sentido por meio da interação com o texto e com as marcas que ele oferece para se chegar a uma ou oura interpretação. Professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, desvendando operações lingüístico- discursivas estrategicamente utilizadas na estruturação do texto, cria, com certeza, na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora. Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça certa variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e, principalmente, e o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra. Assim, o equilíbrio de um programa de leituradepende muito mais do bom senso e da habilidade do professor que de uma hipotética e inexistente classe homogênea. Num mundo tão cheio de tecnologias em que se vive, onde todas as informações ou notícias, músicas, jogos, filmes, podem ser trocados por e-mails, CDs e DVDs o lugar do livro parece ter sido esquecido. Há muitos que pensam que o livro é coisa do passado, que na era da Internet, ele não tem muito sentido. Mas quem conhece a importância da literatura na vida de uma pessoa e do trabalho de reconstrução de sentidos , quem sabe o poder que tem uma história bem contada, quem sabe os benefícios que uma simples história pode proporcionar, com certeza haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo repleto de encantamento. Se o professor acreditar que mesmo não havendo uma compreensão total do texto, porque ela é gradativa, mas que é possível informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer. E a criança vai se interessar por ele, vai querer buscar no livro essa alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona. 40 Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura. 41 BIBLIOGRAFIA ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 2006. ALESSI, Júlio et al. A Tradução intersemiótica integrada ao design gráfico. 4º Congresso Internacional de Pesquisa em Design, Brasil, Rio de Janeiro, 11 à 13 de out. 2007. ANDRADE, Carlos Drummond de. Literatura Infantil. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973. BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito da leitura. 7.ed. São Paulo: Ática, 2000. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O. & TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: o terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. CALDIN, Clarice Fortkamp. A função social da leitura da literatura infantil. Revista Eletrônica de Biblioteconomia, Florianópolis, n. 15, 2003. COELHO, N. N. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000. FARIA, A. L. G. Da escola materna à escola da infância: a pré-escola na Itália hoje. 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