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Monografia Letras O Pequeno Príncipe

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CENTRO UNIVERSITÁRIO PLÍNIO LEITE 
CURSO DE LETRAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA 
DA LITERATURA 
 
 
 
 
Por 
Orientadora: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói, RJ - 2007
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA 
DA LITERATURA 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Centro 
Universitário Plínio Leite como requisito 
parcial para obtenção do Grau de Bacharel 
em Letras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói, RJ - 2007
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". 
(Saint-Exupéry) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho a todos que acreditam que o 
mundo pode ser mudado através da leitura... 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Primeiramente à Deus, pela vida e por todas as bênçãos. 
Aos meus pais e minha irmã pelo carinho e por todos os momentos de 
ternura e aconchego. 
Ao meu marido, por cada dia juntos, por acreditar em mim e pelo apoio 
irrestrito sem o qual esse sonho jamais teria se realizado. 
À minha orientadora, pela generosidade, pelos momentos de 
aprendizagem e pelo exemplo de conduta acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Frequentemente ouve-se falar sobre a importância da leitura na vida do indivíduo, 
da necessidade de se cultivar esse hábito entre crianças e jovens e sobre o papel 
da escola na formação de leitores competentes. Pois, é através da literatura 
infantil que o indivíduo passa a compreender o mundo, se tornando um elemento 
importante na autoconstrução do indivíduo. A necessidade da presença do livro 
literário em sala de aula é algo incontestável, enquanto atividade cognitiva, 
contribui para a ampliação do processo perceptivo do leitor. Sendo preciso 
considerar que o livro infantil se constitui como um elemento de prazer e pode 
representar para a criança um encantamento característico a qualquer brinquedo. 
Esse encantamento está relacionado à função lúdica expressa por meio das 
figuras, do texto, das imagens, ilustrações coloridas entre outros aspectos. Dessa 
forma, o objetivo desta monografia é aplicar o conceito da análise do discurso na 
interpretação do livro O pequeno príncipe de Saint-Exupéry, procurando perceber 
as várias possibilidades de significação para a partir dela reconhecer estratégias 
de produção de sentido. Conclui-se que este livro, com o seu grande teor poético, 
leva, também, à reflexão, despertando o conhecimento, o senso crítico e moral 
nas crianças. 
 
Palavras-chave: importância, leitura, crianças, compreender, mundo. 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 07 
 
CAPÍTULO I 
BORBOLETINHA, TÁ NA COZINHA, FAZENDO CHOCOLATE PARA A 
MADRINHA... Notas sobre a educação infantil, a condição de ser criança 
e sua infância..................................................................................... 
1.1 – Aspectos do Desenvolvimento Humano............................................. 
1.1.1 - Teoria do desenvolvimento humano de Piaget............................ 
1.1.2 – Interacionismo.............................................................................. 
1.1.3 – Construtivismo............................................................................. 
 
 
 
09 
13 
14 
15 
16 
 
CAPÍTULO II 
DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DO MUNDO........................... 
2.1 – A literatura infantil e suas questões.................................................... 
2.2 – Leitura, texto e sentido....................................................................... 
 
17 
19 
21 
 
CAPÍTULO III 
A LITERATURA INFANTIL COMO POSSIBILITADORA DE LEITORES 
CRÍTICOS: UMA BREVE ANÁLISE DA OBRA O PEQUENO PRÍNCIPE...... 
3.1 - O simbolismo da Obra......................................................................... 
3.1.1 - Os personagens e os seus aspectos simbólicos.......................... 
 
 
24 
27 
28 
 
CONCLUSÃO.................................................................................................... 38 
 
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 41 
 7 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A literatura infantil demarca um conjunto de produções literárias a toda e 
qualquer manifestação do sentimento ou pensamento por meio de palavras. 
Define-se não apenas pelo texto resultante dessa manifestação, mas também por 
se destinar a um determinado público (infantil), no qual possui características 
específicas. 
A criança pode obter contato com esse tipo de texto até mesmo antes de ir 
para a escola, através de momentos do "contar histórias para dormir" realizados 
pelos pais e familiares. Pois, é através da literatura infantil que a criança passa a 
compreender o mundo. 
A função da literatura infantil é exatamente fazer com que a criança tenha 
uma visão mais ampla de tudo que a rodeia, tornando-a mais reflexiva e crítica, 
frente à realidade social em que vive e atua, desenvolvendo seu pensamento 
organizado. A literatura infantil tem o poder de suscitar o imaginário, de responder 
as dúvidas em relação a tantas perguntas, de encontrar novas idéias para 
solucionar questões e instigar a curiosidade do pequeno leitor. 
Como já foi pincelado antes, o gosto pela leitura vem de um processo que 
se inicia no lar. Mesmo antes da aprendizagem da leitura, a criança aprecia o 
valor sonoro das palavras. Aprende a gostar do livro pelo afeto, quando a mãe 
canta ao embalar o berço, ou narra velhas histórias aprendidas pelos avós. 
A presença de livros na sala de aula é fundamental para as crianças, por 
isso a necessidade do professor em organizar em recanto em sua sala onde os 
livros fiquem a disposição das crianças, para que elas possam manuseá-los 
sempre que desejarem, tendo contato desde cedo com o mundo letrado. 
A literatura enquanto universo ficcional é um elemento importante na 
autoconstrução do indivíduo. Percebemos que ela faz parte de um universo que 
 8 
provoca a emoção, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e o 
interesse da criançada. Esses, vinculados a estímulos e incentivos externos, 
fazem a criança conhecer e compreender o mundo a sua volta. 
Para entendermos a importância da literatura no universo infantil, 
recorremos à Analise do Discurso – AD - de linha francesa para interpretarmos os 
efeitos de sentido que circulam numa sociedade em transformação.seja no 
convivio leitor/livro, seja no dialogo leitor/texto. 
A AD por se ocupar do discurso, oferece-nos um inumeras possibilidades 
de interpretar um texto, sem que esgotemos sua analise. Dessa forma, 
procuraremos aplicar o conceito de texto como discurso na interpretação do livro 
O pequeno príncipe de Saint-Exupéry, no intuito de perceber as várias 
possibilidades de significação para a partir dela reconhecer estratégias de 
produção de sentido. 
 
 9 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
BORBOLETINHA, TÁ NA COZINHA, FAZENDO 
CHOCOLATE PARA A MADRINHA.. 
Notas sobre a educação infantil, a condição de ser 
criança e sua infância 
 
 
Sabendo-se da importância de se abordar, averiguar e investigar questõesque cerceiam a educação infantil, considera-se oportuno iniciar essa abordagem 
com a passagem de Gramsci (2005, p. 128), quando afirma: 
 
Com efeito, algumas plantinhas assemelham-se estranhamente à salsa 
e a cebolinhas mais que a flores. Todos os dias me vêm a tentação de 
podá-las um pouco para ajudar a crescer, mas permaneço na dúvida 
entre as duas concepções de mundo e da educação: se deixar agir de 
acordo com Rousseau e deixar obrar a natureza que nunca se equivoca 
e é fundamentalmente boa ou ser voluntarista e forçar a natureza 
introduzindo na evolução a mão esperta do homem e o princípio da 
autoridade. 
 
Essa citação assemelha-se à parábola da borboleta que se esforçava para 
fazer com que seu corpo passasse através do buraco do casulo. A parábola 
começa mostrando que tinha um homem observando curiosamente a situação. 
Vendo a dificuldade da borboleta, ele decidiu ajudá-la no intuito de facilitar a sua 
saída. Porém, o resultado não foi o esperado, ao invés de ajudar, ele a 
prejudicou, pois, seu corpo estava murcho, pequeno e tinha as asas amassadas. 
Condenando-a passar o restante de sua existência dessa forma. 
O homem em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendia que o 
casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da 
pequena abertura, era a forma com que Deus fazia o fluido do corpo da borboleta 
ir para as suas asas, de modo que ela ficasse pronta para voar. 
 10 
Esses exemplos dão uma idéia da responsabilidade que os profissionais da 
educação infantil têm no desenvolvimento do aluno, já que esse está associado à 
infância como objeto e a sociedade como meta. A intervenção pedagógica que 
oscila permanentemente entre o "desabrochar" de uma formação humana 
conduzida pela natureza, a disciplinação e a conformação das regras e modos 
sociais dominantes, muitas vezes desconsidera a concomitância desses dois 
pólos dos processos educativos. 
Durante a prática profissional e cotidiana, muitos educadores já devem ter 
se perguntado o que se entende por infância e o que é ser criança. A infância, 
como esclarece Narodowski (1994, p.24), é o "suposto universal da ação e da 
produção pedagógica". 
Diferentemente de outros campos teóricos, tais como a medicina ou a 
psicologia, cujas áreas a infância é vista em suas dimensões gerais como um 
momento particular do ciclo vital, a pedagogia elabora uma análise particular da 
infância em situação escolar, estabelecendo um recorte específico a partir do qual 
busca identificar padrões de normalidade quanto ao desempenho das crianças e 
estabelecer regularidades para a orientação da prática dos educadores. 
Schimidt (2001, p. 5) considera que os conceitos de infância e criança, são 
objetos de pesquisa e necessitam ser diferenciados, entretanto: 
 
(...) o último se refere à dinâmica do desenvolvimento da criança 
individual, através do qual, eventualmente, chegará à condição de 
adulto. Em oposição, o conceito de infância se localiza na dinâmica do 
desenvolvimento social e corresponde a uma estrutura permanente, 
embora se caracterize pelo fato de que os autores que a integram o 
fazem transitoriamente num processo de permanente substituição. Por 
meio do conceito infância é possível transcender o detalhe da situação 
individual de uma criança, para remontar-se à análise das mudanças 
históricas e culturais que caracterizam a construção social da posição da 
infância na sociedade. 
 
Assim, ao se pretender conhecer as crianças, supõe-se conhecer a 
infância, pois os percursos individuais, únicos de cada criança, só fazem completo 
sentido se perspectivados sob a luz das condições estruturais que constrangem e 
condicionam cada existência humana. 
Sarmento (2000) constata que se faz referência da infância nesse século 
sob o paradigma da crise social, através de três aspectos do espaço estrutural da 
 11 
produção: a pobreza entre as gerações, o trabalho infantil e o efeito do 
desemprego nas gerações mais jovens. 
A respeito da idéia da infância fantasiosa, ilusória e romântica existente na 
sociedade atual, encontramos a tese de Oliveira (1989) em que a autora consta 
que as propagandas de crianças veiculam o "projeto burguês de infância", pois 
essas são usadas de forma a modelar a infância como portadora de beleza, 
meiguice, inocência, fragilidade e de outros aspectos semelhantes. A exploração 
e exacerbação dessas especificidades da infância dão forma e credibilidade a 
produtos comerciais, e também nas propagandas de iniciativa do Estado "ela 
passa a ser o símbolo do novo", da esperança no futuro. 
Muitos consideram que a face romântica da infância é retratada de forma 
sedutora, contagiante de alegria e felicidade, de um mundo sem conflitos, sem 
divergências culturais ou miséria. Generalizando e banalizando os fenômenos 
sociais da infância. 
Consequentemente, o "tornar-se criança" implica dizer e assumir que a 
infância é marcada pela maneira como se recebem, educam as crianças no 
mundo e como se é educado e pela forma como se inserem as crianças no meio 
social ao qual pertencem. 
Enfocando a realidade brasileira, pode-se dizer que apesar das 
desigualdades sociais, diferentes realidades e modos de viver, engendram formas 
paradoxais de infância. Podendo-se encontrar crianças em situação de risco, 
desnutridas, exploradas, sem escola, pedintes, etc.; crianças ocupadas com aulas 
de inglês, judô, futebol, informática, tênis; crianças nutridas, que transitam pelos 
mais diversos espaços de lazer, etc. 
O que é característico da infância, apesar do mundo infantil variar tanto, é a 
forma pela qual as crianças se apropriam da realidade e a compreendem, uma 
maneira particular de ver e experienciar o mundo. 
Na trilha de uma caracterização das crianças e suas existências, emerge 
uma multiplicidade de imagens e realidades sociais que afirmam a idéia de que a 
infância e os sujeitos que compõem essa categoria não são dados estanques 
e/ou homogêneos, mas multiformes. Afora ter a consciência de tal realidade, faz-
se necessário uma compreensão das crianças não mais pelo olhar impositivo de 
máscaras esculpidas pelos adultos, definidoras de crianças e infâncias, e sim pela 
 12 
via do reconhecimento e respeito à alteridade presente nos pequenos (as). Assim, 
urge a construção e disseminação na sociedade de um olhar que vá ao encontro 
do Outro de pouca idade. 
Por entender que a linguagem é interação social em que o outro possui 
papel decisivo na constituição do significado, recorremos a Análise do Discurso 
que concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a 
realidade natural e social - Orlandi (2002). Nessa mediação – o discurso -, torna 
possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a 
transformação do homem e da realidade em que ele vive. 
Para compreender os discursos sobre a criança e a infância é preciso 
analisar as maneiras de significá-las, considerando a produção de sentidos 
engendrados na e pela sociedade, sobre a criança enquanto sujeito, seja 
enquanto participante de uma determinada formação ideológica. Nesse sentido, 
conforme nos esclarece Orlandi (2002, p. 26-27): "A análise do discurso visa a 
compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está 
investido de significância para e por sujeitos". 
A visão da delimitação da infância por um recorte etário definido por 
oposição ao adulto, pela pouca idade, pela imaturidade ou pela dita integração 
social inadequada, está sendo contestada, principalmente, no final deste século, 
pela negação ao estabelecimento de padrões de homogeneidade indicados por 
algumas tendências nos campos da sociologia e da antropologia, articulada com 
algumas abordagensda psicologia que apontam como necessidade, a adequação 
dos projetos educativos a demandas diferenciadas, rompendo com as 
desigualdades e vivendo o confronto. 
Pela via da contextualização, da heterogeneidade e da consideração das 
diferentes formas de inserção da criança na realidade, nas atividades cotidianas, 
nas brincadeiras e tarefas, delineia-se um outro conceito de infância, 
representativo de um novo momento da modernidade, em que novos sentidos 
sobre a criança e prática de leitura circulam no contexto escolar. 
Para efeito dessa abordagem, nos tópicos seguintes serão tratadas a teoria 
do desenvolvimento humano e a importância do construtivismo para o 
desenvolvimento infantil. Cujo objetivo é a realização de uma proposta 
pedagógica derivada da teoria de Jean Piaget, tendo como principal premissa que 
 13 
o conhecimento é um constructo mental, produto da interação do homem com o 
meio, assim como a inteligência. 
No construtivismo, a visão central é a noção do organismo como “ativo”, 
não preocupado em responder a estímulos, mas engajado, participante e 
buscando o sentido e o significado das ocorrências no mundo. 
 
 
1.1 – Aspectos do Desenvolvimento Humano 
 
O ser humano desenvolve, em seus primeiros anos de vida, os sistemas 
simbólicos e expressivos que estarão na base de suas aprendizagens posteriores. 
Prosseguindo pela contínua transformação resultante de sua interação com o 
meio. 
Segundo Bock; Furtado & Teixeira (2001), o desenvolvimento humano 
deve ser entendido como uma globalidade, mas, para efeito de estudo, tem sido 
abordado a partir de quatro aspectos básicos: 
. Aspecto físico-motor: refere-se ao crescimento orgânico, à maturação 
neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do 
próprio corpo, como, por exemplo, a criança leva a chupeta à boca ou consegue 
tomar a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, por que já coordena os 
movimentos das mãos. 
. Aspecto intelectual: é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por 
exemplo, a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um 
brinquedo que está embaixo de um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a 
partir de sua mesada ou salário. 
. Aspecto afetivo-emocional: é o modo particular de o indivíduo integrar as 
suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto. Por 
exemplo, a vergonha que se sente em algumas situações, o medo em outras, a 
alegria de rever um amigo querido. 
. Aspecto social: é a maneira como o indivíduo reage diante das situações 
que envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no 
parque, é possível observar algumas que espontaneamente buscam outras para 
brincar, e algumas que permanecem sozinhas. 
 14 
Devendo-se considerar que todas as teorias do desenvolvimento humano 
partem do pressuposto de que esses quatro aspectos são indissociados, mas 
pode-se estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos 
aspectos. 
 
 
1.1.1 - Teoria do desenvolvimento humano de Piaget 
 
Segundo Jean Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que de 
melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos 
passam por todas essas fases ou períodos, nessa seqüência, porém o início e o 
término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo 
e de fatores educacionais, sociais. Por isso Piaget dividiu o desenvolvimento 
humano em quatro fases, como serão destacadas nas linhas que seguem. 
- Período sensório-motor: neste período, a criança conquista, através da 
percepção e dos movimentos, todo o universo que a cerca. 
No recém-nascido, a vida mental reduz-se ao exercício dos órgãos de 
desenvolvem os reflexos, de fundo hereditário, como a sucção. Esses reflexos 
melhoram com o treino. Por volta dos cinco meses, a criança consegue coordenar 
os movimentos das mãos e olhos e pegar objetos, aumentando sua capacidade 
de adquirir hábitos novos. 
Ficando evidente que o desenvolvimento físico acelerado é o suporte para 
o aparecimento de novas habilidades. Isto é, o desenvolvimento ósseo, muscular 
e neurológico permite a emergência de novos comportamentos, como sentar-se, 
andar, o que propiciará um domínio maior do ambiente. 
- Período pré-operatório: neste período, o que mais de importante acontece 
é o aparecimento da linguagem, que irá acarretar modificações nos aspectos 
intelectual, afetivo e social da criança. 
A interação e a comunicação entre os indivíduos são, sem dúvida, as 
conseqüências mais evidentes da linguagem. Com a palavra, há possibilidade de 
exteriorização da vida interior e, portanto, a possibilidade de corrigir ações futuras. 
Pode-se afirmar que esse período é o que mais se relaciona com o objeto 
deste estudo – que é a literatura infantil -, considerando-se que essa proporciona 
 15 
à criança contato com o mundo exterior e, conseqüentemente, o seu 
entendimento. 
- Período das operações concretas: o desenvolvimento mental, 
caracterizado no período anterior pelo egocentrismo intelectual e social, é 
superado neste período pelo início da construção lógica, isto é, pela capacidade 
da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de 
vista diferentes. 
Esses pontos de vista podem referir-se a pessoas diferentes ou à própria 
criança, que vê um objeto ou situação com aspectos diferentes e, mesmo 
conflitantes. 
Outra característica dessa etapa é que a criança consegue exercer suas 
habilidades e capacidades a partir de objetos reais, concretos. Portanto, mesmo a 
capacidade de reflexão que se inicia, isto é, pensar antes de agir, considerar os 
vários pontos de vista simultaneamente, recuperar o passado e antecipar o futuro, 
é um exercício que se dá partir de situações presentes ou passadas, vivenciadas 
pela criança. 
- Período das operações formais: neste período, ocorre a passagem do 
pensamento concreto para o pensamento formal, abstrato, isto é, o adolescente 
realiza as operações no plano das idéias, sem necessitar de manipulação ou 
referências concretas, como no período anterior. 
 
 
1.1.2 - Interacionismo 
 
Um dos pressupostos básicos da obra de Vigotsky é que as origens das 
formas superiores de comportamento consciente (pensamento, memória, atenção 
voluntária, etc.), formas essas que diferenciam o homem dos outros animais, 
devem ser achadas nas relações sociais que o homem mantém. Entendendo o 
homem como um ser ativo, que age sobre o mundo, sempre em relações sociais, 
e transforma essas ações para que constituam o funcionamento de um plano 
interno. 
Sob o ponto de vista interacionista, o desenvolvimento infantil é visto a 
partir de três aspectos, conforme esclarece-nos Lúria (1994): 
 16 
. Aspecto instrumental: refere-se à natureza basicamente mediadora das 
funções psicológicas complexas. Não apenas respondendo aos estímulos 
apresentados no ambiente, nem alterando e usando suas modificações como um 
instrumento do comportamento. 
. Aspecto cultural: envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a 
sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta, e 
os tipos de instrumento, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena 
dispõe para dominar aquelas tarefas. Um dos instrumentos básicos criados pela 
humanidade é a linguagem. 
. Aspecto histórico: funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o 
homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento, foram 
criados e modificados ao longo da história social da civilização. 
Assim, as crianças desde o nascimento, estão em constante interação com 
os adultos, que ativamente procuram incorpora-las a suas relaçõese a sua 
cultura. 
 
 
1.1.3 – Construtivismo 
 
Conforme relata Íris Barbosa Goulart (2000) Piaget denominou a postura 
teórica por ele encabeçada de construtivismo, por realçar que o homem é 
construtor de seu conhecimento. 
Para explicar a interação construtivista da criança com o ambiente, utilizou 
os conceitos de assimilação, acomodação e adaptação. A assimilação é a 
incorporação de um novo objeto ou idéia à que já existe, ou seja, a aprendizagem 
que a criança já possui. Já a fase de acomodação da interação da criança com o 
meio ambiente implica na transformação do organismo para poder lidar com o 
mesmo; diante de um objeto de uma nova idéia a criança modifica seus 
esquemas adquiridos anteriormente. 
A adaptação representa, neste grupo, a maneira pela qual o organismo 
estabelece um equilíbrio entre assimilação e acomodação, adaptando-se 
continuamente às imposições feitas pelo ambiente. 
 
 17 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
DO MUNDO DA LEITURA PARA 
A LEITURA DO MUNDO 
 
 
Palavra. Instrumento humano tão poderoso, capaz de fazer acontecer, de 
dar vida, de provocar uma guerra. Materializa idéias, revitaliza lembranças, 
aproxima as pessoas. 
É fato que ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se 
vive. 
Não obstante, frequentemente ouve-se falar sobre a importância da leitura 
na vida do indivíduo, sobre a necessidade de se cultivar o hábito da leitura entre 
crianças e jovens, sobre o papel da escolar na formação de leitores competentes, 
com o que se concorda completamente. 
De acordo com as premissas de Paulo Freire (2006, p. 11), ao se procurar 
falar de tal importância, o professor diz que o ato de ler "não se esgota na 
decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se 
antecipa e se alonga na inteligência do mundo". 
Assim, a leitura do mundo precede a leitura da palavra. A linguagem e a 
realidade se prendem dinamicamente. E, a compreensão do texto a ser alcançada 
por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. 
Então, o que fazer com ou do texto em sala de aula funda-se, ou devia 
fundamentar-se, em uma concepção de literatura muitas vezes deixada de lado 
em discussões pedagógicas. Estas, de modo geral, afastam os problemas 
teóricos como irrelevantes ou elitistas diante da situação precária que se encontra 
o professor na atual conjectura. 
 18 
Fazendo com que este se esqueça da importância da literatura infanto-
juvenil como parte da formação da língua materna. 
Diante de tal constatação, considera-se que o professor deve procurar 
desenvolver na criança, através dos textos, o sabor das coisas simples. Em seu 
livro intitulado Classificados poéticos, Roseana Murray (2004, p. 10-13) procura 
expressar o desejo de guardar a infância nas lembranças das brincadeiras, de 
tudo o que não se fez, dos sonhos e das fantasias no poema É preciso sonhar: 
 
Por favor, reservem dois lugares 
num disco voador, 
um pra mim, outro pro meu amor 
que eu tenho sede de céu, 
tenho fome de estrelas 
e uma vontade louca de 
mastigar violetas. 
Prefiro partir nas primeiras horas do dia 
quando as nuvens ainda são suave carícia, 
Levarei comigo uma bagagem tão pequena 
que ninguém nem mesmo notará: 
uma bússola feita de vento 
e um embrulho de sonhos 
mais leve que a luz. 
 
Quero encontrar um planeta 
onde os homens tenham as mãos 
de tal modo azuis 
que ninguém saiba direito se são mesmo 
homens ou só são anjos ou pássaros. 
 
A necessidade da presença do livro literário em sala de aula é algo 
incontestável. Fonte inesgotável de conhecimentos e descobertas, a literatura, 
enquanto atividade cognitiva, contribui para a ampliação do processo perceptivo 
do leitor. 
O profissional da educação nunca deve perder de vista o princípio artístico 
que é o fundamento de toda obra literária: a literatura é, antes de mais nada, arte, 
é um fenômeno de criatividade que representa o ser humano, o universo, a vida 
por meio da palavra, numa comunhão entre o sonho e a vida prática, entre a 
utopia e a realidade. 
A criança desde o momento do seu nascimento é envolvida por um 
universo de linguagens, como por exemplo, palavras usadas como demonstração 
de carinho sentido pela mãe, pai, tias, avós, e por todos aqueles que usam as 
palavras para se comunicar com a criança. Envolvida nesse ambiente de falantes, 
 19 
a criança logo procura recursos que a façam ser também compreendida pelos 
seus interlocutores. 
Nesse processo de aquisição da linguagem verbal, vai se exigindo mais da 
criança, à medida que as palavras são pronunciadas por ela para designar 
objetos que nem sempre corresponde ao significado da palavra. Quando a 
criança começa a falar, por exemplo, as palavras au-au, aprendida como signo 
para representar o animal cachorro, no início do uso da fala, essas palavras são 
usadas também, como signo a todo objeto compreendido na lógica da criança 
como correspondente a esse termo. No entanto, com sucessivos problemas 
enfrentados pela criança com relação ao significado, a compreensão dessas 
palavras vai se modificando à medida que as funções mentais da criança estão 
cada vez mais desenvolvidas. 
Para isso, ela precisa contar com as interações comunicativas com pares 
mais experientes, adultos do convívio diário, bem como, crianças com 
capacidades cognitivas superiores as suas. E isso pode se desenvolver através 
da análise do discurso, que na concepção de Orlandi (2002, p. 15), 
 
A Análise do Discurso concebe a linguagem como mediação necessária 
entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é o 
discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o 
deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele 
vive. 
 
Devendo-se considerar, também, que um dos pontos fortes da análise do 
discurso é re-significar a noção de ideologia a partir da consideração da 
linguagem. Trata-se assim, de uma definição discursiva de ideologia que não há 
sentido sem interpretação e, além disso, diante de qualquer objeto simbólico o 
homem é levado a interpretar. 
 
 
2.1 – A literatura infantil e suas questões 
 
Torna-se premente fazer uma abordagem conceitual sobre o que vem a ser 
literatura antes de adentrar o espaço da literatura infantil. 
Nas palavras de Coelho (2000, p. 10) literatura é: 
 20 
Um fenômeno de linguagem plasmado por uma experiência vital/cultural 
direta ou indiretamente ligada a determinado contexto social e à 
determinada tradição histórica. 
É arte e, como tal, as relações de aprendizagem e vivência, que se 
estabelecem entre ela e o indivíduo, são fundamentais para que este 
alcance sua formação integral (sua consciência do eu + o outro + 
mundo, em harmonia dinâmica. 
 
Pode-se dizer que a leitura se constituindo em um elemento muito 
importante na vida da criança, pois ela faz com que se possa aprender, ensinar, 
evoluir. A sua grandiosidade não deve ser compreendida somente como 
alfabetização, como um ler corretamente, mas também como uma leitura que 
permite a interpretação, a compreensão daquilo que se lê. 
Sendo assim, é preciso oferecer às crianças, oportunidades de leitura de 
forma convidativa e prazerosa. E é nesse sentido que a literatura infantil 
desempenha um importante papel, o de conduzir as crianças não só à 
aprendizagem, contribuindo para uma sistematizada escrita, mas que permita que 
se realize a leitura com fruição, isto é, que se sinta prazer ao estar lendo. E isso é 
ótimo, pois é fundamental que as crianças sintam o gosto pela leitura. 
A literatura possibilita então, que as crianças consigam redigir melhor 
desenvolvendosua criatividade, pois, o ato de ler e o ato de escrever estão 
intimamente ligados. Nesse sentido, 
 
A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: 
fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem a vida, 
através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o 
real, os ideais e sua possível/impossível realização (...) (COELHO, 2000, 
p.27). 
 
A literatura infantil desenvolve não só a imaginação das crianças, como 
também permite que elas se coloquem como personagens das histórias, das 
fábulas e dos contos de fada, além de facilitar a expressão de idéias. Sendo 
assim, o objetivo da literatura infantil é o de formar leitores, pois por uma série de 
características e fatores ela desempenha esse papel melhor do que a literatura 
adulta, uma vez que é mais convidativa. O que se procura hoje é assegurar ao 
maior número de pessoas possíveis o direito de ler. "A literatura infantil contribui 
para que não se deixe esta tarefa por acaso (...)" (ZOTZ & CAGNETI, 1986, p.21). 
 21 
Como sabe-se, a leitura é um processo de contínuo aprendizado, assim, 
salienta-se que desde cedo, é preciso formar um leitor que tenha um 
envolvimento integral com aquilo que ele lê. De maneira que a cada leitura, se 
possa adquirir mais profundidade e intimidade com o texto, que se consiga 
estabelecer um diálogo, fazendo perguntas e buscando respostas, seja o texto 
uma história, uma fábula, um conto de fadas ou qualquer outro. Nesse sentido, 
pode-se mencionar ainda que a leitura, além de produzir um contínuo 
aprendizado, desenvolve a reflexão e o espírito crítico. "É fonte inesgotável de 
assuntos para melhor compreender a si e ao mundo" (ZOTZ & CAGNETI, 1986, 
p.23). 
Analisando as considerações aqui mencionadas, salienta-se que é muito 
importante para as crianças as situações de interação, contato e manuseio de 
materiais escritos para a sua evolução e aprendizagem da leitura e da escrita. 
Mas, será ainda mais enriquecedor se este contato e manuseio for com histórias 
de literatura infantil, pois os desenhos que se encontram explícitos nos livros são 
como uma chamada, um convite que fascina a criança, proporcionando-lhe 
interesse e prazer. O professor pode perceber isso em sua prática pedagógica, 
através do interesse das crianças quando se está contando a elas uma história de 
literatura infantil. Parece que se está vivendo aquele momento, aquela situação 
apresentada na história. 
 
 
2.2 – Leitura, texto e sentido 
 
Frequentemente se ouve falar sobre a importância da leitura na vida do 
indivíduo, sobre a necessidade de se cultivar o hábito da leitura entre crianças e 
jovens, sobre o papel da escola na formação de leitores competentes. 
Mas na seara dessa discussão, destacam-se questões como: O que é 
leitura? Para quê ler? Como ler? Evidentemente, as perguntas poderão ser 
respondidas de diferentes modos, os quais revelarão uma concepção de leitura 
decorrente da concepção de sujeito, de língua, de texto e de sentido que se 
adote. 
Conforme preconiza os Parâmetros Curriculares Nacionais: 
 22 
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de 
compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu 
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre 
a linguagem, etc. Não se trata de extrair informação, decodificando a 
letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica 
estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as 
quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que 
possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões 
diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de 
esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, p. 
69-70). 
 
Por sua vez, à concepção de língua como estrutura corresponde a de 
sujeito determinado, "assujeitado" pelo sistema, caracterizado por uma espécie de 
"não consciência". O princípio explicativo de todo e qualquer fenômeno e de todo 
e qualquer comportamento individual repousa sobre a consideração do sistema, 
quer lingüístico, quer social. 
Sob essa visão de língua como código – portanto, como mero instrumento 
de comunicação – e de sujeito como (pré) determinado pelo sistema, o texto é 
visto como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo 
leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, o conhecimento do código utilizado. 
Consequentemente, a leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no 
texto, em sua linearidade, uma vez que "tudo está dito no dito". Se, na concepção 
anterior, ao leitor cabia o reconhecimento das intenções do autor, nesta 
concepção, cabe-lhe o reconhecimento do sentido das palavras e estruturas do 
texto. Em ambas, porém, o leitor é caracterizado por realizar uma atividade de 
reconhecimento, de reprodução. 
Diferentemente das concepções anteriores, na concepção interacional 
(dialógica) da língua, os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, 
sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto, 
considerado o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores. 
Desse modo, há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos 
mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem como pano de fundo, o 
contexto sócio cognitivo dos participantes da interação. 
Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído na interação texto-
sujeitos e não algo que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade 
interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza 
evidentemente com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície 
 23 
textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto 
conjunto de saberes no interior dos eventos comunicativos. 
Posto que se pretende enfatizar a importância da literatura infantil na 
formação do indivíduo, no próximo capítulo serão destacados o sentido e a 
mensagem social que o livro O Pequeno Príncipe passa o leitor. 
 
 
 
 24 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III 
A LITERATURA INFANTIL COMO 
POSSIBILITADORA DE LEITORES CRÍTICOS: 
UMA BREVE ANÁLISE DA OBRA O 
PEQUENO PRÍNCIPE 
 
Talvez a primeira pergunta que se deva fazer, quando se trabalha com 
literatura infantil, seja aquela que questiona sobre o status dessa literatura que é 
escrita para a criança. Preocupando-se com as delineações dadas ao gênero 
infantil, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1973, p. 596) indaga: 
 
Haverá música infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra 
literária deixa de constituir alimento para o espírito da criança ou do 
jovem e se dirige ao espírito do adulto? Qual o bom livro para crianças, 
que não seja lido com interesse pelo homem feito? Qual o livro de 
viagens ou aventuras, destinado a adultos, que não possa ser dado à 
criança, desde que vazado em linguagem simples e isento de matéria de 
escândalo? Observados alguns cuidados de linguagem e decência, a 
distinção preconceituosa se desfaz. Será a criança um ser à parte, 
estranho ao homem, e reclamando uma literatura também à parte? Ou 
será a literatura infantil algo de mutilado, reduzido, de desvitalizado -, 
porque coisa primária, fabricada no pressuposto de que a imitação da 
infância é a própria infância? 
 
A palavra literatura tem muitas facetas e, independente do aspecto que se 
observe, significa emoção, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e 
o interesse no processo de interação livro-leitor. Sendo assim, o termo infantil 
associado à literatura não significa que ela tenha sido feita necessariamente para 
crianças. Na verdade,a literatura infantil acaba sendo aquela que corresponde, 
de alguma forma, aos anseios do leitor e que se identifique com ele. Muitos os 
educadores, que vivenciam de perto a experiência do contato da criança com o 
livro e comprovam que tal contato se constitui repleto de encantamento e magia, 
 25 
fazendo com que estes percebam o quão importante e cheia de responsabilidade 
é toda forma de literatura. 
É preciso considerar que o livro infantil se constitui como um elemento de 
prazer e pode representar para a criança um encantamento característico a 
qualquer brinquedo. Esse encantamento está relacionado à função lúdica 
expressa por meio das figuras, do texto, das imagens, ilustrações coloridas entre 
outros aspectos. Por isso, compreende-se que o livro infantil é um importante 
instrumento de recreação e entretenimento para a criança graças a sua fonte 
inesgotável de formação e conhecimento. 
O trabalho com a literatura infantil na construção do pensar, pode ser uma 
alternativa para despertar a criança para o mundo. É uma atividade de prazer que 
leva não só a criança como também o adulto a ver e sentir o mundo com um olhar 
mais critico. 
Assim, para verificar o modo como a leitura desperta o prazer e amplia a 
visão de mundo, faz-se necessário uma analise do livro O pequeno príncipe que 
continua a ensinar e encantar crianças e adultos. Sendo assim, é importante 
elucidar que O Pequeno Príncipe, com o seu grande teor poético, leva, também, à 
reflexão, despertando o conhecimento, o senso crítico e moral nas crianças. Pois 
como bem esclarece Caldin (2003, p. 5): 
 
A função social da literatura é facilitar ao homem compreender – e, 
assim, emancipar-se - dos dogmas que a sociedade lhe impõe. Isso é 
possível pela reflexão crítica e pelo questionamento proporcionados pela 
leitura. Se a sociedade buscar a formação de um novo homem, terá de 
se concentrar na infância para atingir esse objetivo. 
 
O Pequeno Príncipe "Le Petit Prince", apesar de ter sido escrito em 1943 
pelo aviador Antoine de Saint-Exupéry, durante seu exílio nos Estados Unidos, 
constitui-se uma obra aparentemente simples, mas profunda ao apresentar 
personagens cheios de simbolismo, relacionando-os com a vida real. 
O livro conta a história de um menino que vivia sozinho num planeta, do 
tamanho de uma casa, que tinha três vulcões e uma rosa formosa de grande 
beleza e orgulho. 
Aliás, o orgulho dessa flor levou o pequeno príncipe a viajar até a Terra. 
Durante a viagem ele encontrou diversos personagens peculiares, como o rei, o 
 26 
vaidoso, o bêbado, o empresário, o acendedor de lampiões, o geógrafo, a 
serpente, a raposa, o vendedor, o manobreiro e o aviador. Todos eles têm algum 
ensinamento a passar ao pequeno príncipe, assim como ele também tem lições a 
ensinar a cada um. A partir da interação entre o menino e os personagens, 
descobre-se um mundo diferente daquele vivido na realidade, porque descobre-se 
o segredo do que é realmente importante na vida. Na opinião de Maleski (2007, p. 
1) esse é: 
 
Um livro infantil escrito para adultos. Pois, além de agradar as crianças, 
ele também tem a incrível capacidade de fazer os adultos retornarem à 
infância, relembrando coisas simples, mas importantes, que deixamos de 
lado quando crescemos. Talvez esse sentimento de nostalgia explique o 
sucesso que o livro fez, e ainda faz, em todo o mundo. 
 
Schultze (2007, p. 1) analisando o simbolismo da obra e relativizando-a 
com a sua infância, acrescenta: 
 
O poder desse relativamente pequeno manuscrito é assustador: 
intelectuais se sentem extremamente desconfortáveis olhando para o 
garotinho louro cuja aparência é uma síntese de todos os símbolos 
“burgueses” da ternura: cachecóis, pantalonas, sapatinhos delicados, 
bochechas rosadas, cabelos louros levemente desarrumados; anjinho, 
em suma. Principezinho. E (...) todo o simbolismo do sentimentalismo 
explícito, aquelas flores, aquelas estrelas, a solidão, o vento, suspiros, a 
morte que rodeia em silêncio um amor puro (sic) que não terá tempo de 
se realizar, a gente pressente, não terá outra chance. Mas o texto é bom. 
É infernalmente bom, é uma areia movediça. A gente afunda fácil. A 
única alternativa para não ser absorvido é ler depressa, passando os 
olhos (...). 
 
Essa, então, é uma obra que enfatiza uma profunda mudança de valores 
sociais, que ensina como o ser humano é equivocado na avaliação das coisas e 
das pessoas que os rodeiam e como esses julgamentos levam-nos à solidão. 
Sensibilidade é o instrumento que Antoine de Saint-Exupéry utiliza ao 
narrar a realidade no livro. Com o uso dessa sensibilidade, o autor foi capaz de 
concluir sabiamente a primeira parte da obra que descreve o processo de 
"emburrecimento" da criança. 
O relato do “emburrecimento” da criança está relacionado a um fato da sua 
infância, quando viu em um livro, sobre florestas, a imagem de uma jibóia 
devorando um animal inteiro, sem mastigar. Impressionado com a gravura, ele 
tentou fazer um desenho que representasse o que havia aprendido: fez uma 
 27 
cobra que devorara um elefante inteiro. 
Os adultos não compreenderam, e ele foi aconselhado a largar os 
desenhos e se importar com coisas mais interessantes, como os estudos de 
matemática e geografia. Assim, segundo o próprio autor, ele deixou de lado uma 
promissora carreira de pintor aos seis anos de idade. 
O sentido maior que a obra possui, é a de que o adulto, preocupado com o 
aspecto financeiro, esquece-se de dar oportunidade para a criança se descobrir, 
descobrir o mundo e desenvolver-se. 
 
3.1 - O simbolismo da Obra 
 
Há de se considerar, que o livro foi escrito em 1943, momento em que a 
humanidade vivenciava a 2ª Guerra Mundial. Nesse momento, a ganância, 
conflitos e crises mundiais dominam o mundo e por isso, Saint-Exupéry compõe 
os personagens do livro, fazendo um convite à reflexão para que as pessoas se 
humanizem, se cativem e se percebam. Como ele mesmo disse: 
 
"Eu não me preocupo se eu morrer na guerra (...) Mas se eu voltar vivo 
desse 'trabalho' ingrato, mas necessário, haverá apenas uma questão 
para mim: O que dizer da humanidade? O que dizer para a 
humanidade?" (SAINT-EXUPÉRY, 2007, p. 1). 
 
As palavras e personagens de livros infantis possuem um significado 
simbólico através da linguagem e essa se constitui por signos e códigos que as 
tornam expressivas e comunicativas para os nossos sentidos ou percepções 
(visuais, acústicas, táteis, olfativas) e para a nossa cognição. As crianças por 
meio da linguagem, então, 
 
compartilham o espaço social, interferem e recebem influências dos 
valores culturais de determinadas épocas e locais. Coabitam o universo 
simbólico da mente humana, e ora produzem quebras (ou re-
configurações), ora resgates dessas significações simbólicas, re-
significando a memória através de novos textos, imagísticos ou verbais. 
Isso se dá a cada nova leitura, ou seja, a cada procura de outros 
sentidos (ALESSI et al., 2007, p. 2). 
 
É isso que se pretende nesse tópico, mostrar o significado simbológico 
que se realiza por meio de uma linguagem simples, mas enigmática, em cada 
 28 
personagem da obra O Pequeno Príncipe. 
Em uma viagem pelo Universo, o pequeno príncipe se depara com 
personagens excêntricos que o levam a questionamentos sobre o comportamento 
de cada um. Cada personagem dessa obra mostra o quanto os adultos se 
preocupam com coisas inúteis e não dão valor ao que têm: amigos, família, amor, 
etc. Isso tudo pode ser traduzido por uma frase da raposa, personagem que 
ensina ao principezinho o segredo do amor: "Só se vê bem com o coração. O 
essencial é invisível aos olhos". É interessante perceberque o autor usa os 
personagens para ensinar à criança o que é certo ou errado ao mesmo tempo em 
que faz com que o adulto relembre que um dia ele também teve esses 
ensinamentos. 
Percebe-se também, que as pessoas, quando querem fazer graça ou ser 
"aceito" por alguém, às vezes mentem. Correndo o risco de dar àqueles que não 
o conhecem uma falsa idéia de si. Assim, os adultos se tornam pessoas 
incapazes de entender o sentido da vida, pois deixam de ser a criança que um dia 
foram. Por isso é difícil para os adultos compreenderem toda a sabedoria de uma 
criança, já que eles não mais se vêem como uma. 
 
3.1.1 - Os personagens e os seus aspectos simbólicos 
 
Através da representação ilustrativa dos personagens do livro, percebe-se 
que no aspecto gráfico, a obra rebusca bastante o aspecto lúdico como forma de 
convite à leitura. O livro é enriquecido de ilustrações, com traços infantis, que 
acompanham o desenrolar do texto, o que proporciona uma maior aceitação do 
público leitor. 
Conforme salienta Witter (2002, p. 1): 
 
Não importa se é em livro de ficção ou não, todos podem contribuir, 
usando-se ilustrações para estimular a pensar, falar, ouvir, ler, escrever 
e outras habilidades e competências. Entre as vantagens de recorrer a 
livros de pinturas e de ilustrações estão: recuperar a herança cultural e 
literária, o prazer da leitura, o estímulo à escrita e à linguagem oral, o 
estímulo a pensar, alegria no ensino-aprendizagem, desenvolvimento do 
senso de comunidade, ensino de gramática e estilo, explicações 
interessantes sobre diferentes culturas, expor o aluno a vários estilos e 
gêneros, com atividades criativas, e ampliar os estudos temáticos. 
 
 29 
As ilustrações permitem o devaneio, permitem às crianças a soltar a 
imaginação e criar um mundo de sonhos e possibilidades por meio do simbolismo 
que cada personagem ilustra. Assim, o pequeno príncipe personagem principal, 
vai revelando que sua vontade de vencer é maior que os obstáculos que ele 
possa encontrar. 
 
 
 
"Vivi portando só, sem amigo com quem pudesse realmente conversar (...)" 
(SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 2). Exatamente por causa de sua solidão e influência 
da rosa, esse personagem viajou por vários planetas e personagens até chegar a 
Terra. Esse último planeta, que, simbolicamente, representava a junção de todos 
os outros dos quais ele havia visitado, estimula a criança a perceber a imensidão 
do mundo e suas contradições. Assim consta no livro que, 
 
A Terra não é um planeta qualquer! Contam-se lá cento e onze reis (não 
esquecendo, é claro, os reis negros), sete mil geógrafos, novecentos mil 
negociantes, sete milhões e meio de beberrões, trezentos e onde 
milhões de vaidosos isto é, cerca de dois bilhões de pessoas grandes 
(...) (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 16). 
 
Perplexo e triste com as contradições dos adultos, o pequeno príncipe 
simboliza a esperança, o amor, a crença nos sonhos e a força inocente da 
infância que habita no inconsciente do homem adulto. 
 30 
 A rosa, símbolo da beleza, da vida, da alma e do amor estabelece uma 
relação de afeto e amizade com o pequeno príncipe que fica encantado com os 
mistérios dela. 
 
 
 
(...) Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito 
simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar 
nem incomodavam ninguém. Apareciam certa manhã na relva, e já à 
tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não 
se sabe de onde, e o princepezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão 
diferente dos outros (...) Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, 
durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol 
nascer, havia-se, afinal, mostrado (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 8). 
 
A relação de amor do pequeno príncipe com a rosa, representa muito bem 
a relação homem-mulher. O homem, no imaginário feminino, geralmente, 
apaixona-se e vive para atender aos caprichos da amada. Foi exatamente o que o 
principezinho fez, um lanchinho, o para-vento, uma redoma. Mas ela nunca está 
satisfeita e o nosso herói decide partir. Como no mundo real, essa relação homem 
x mulher é marcada de conflitos. Em tom de arrependimento, o príncipe diz: 
 
Não soube compreender coisa alguma! Deveria tê-la julgado por seus 
atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não 
 31 
podia jamais tê-la abandonado. Deveria ter percebido sua ternura por 
trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era 
jovem demais para saber amá-la. 
 
Embora pareça contraditória, entre caprichos e sabedoria, a rosa é 
extremamente feminina e sedutora. Por isso, cativa o coração do principezinho, já 
que possui toadas as características que a sociedade exige da mulher. 
 Oposto à rosa, o rei, detentor do poder nas mediações entre os homens, 
porque é ele que estabelece a ordem de um povo quer mandar, governar a tudo e 
a todos. 
 
 
Ah! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o principezinho. 
E o principezinho perguntou a si mesmo: 
Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu? 
Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os 
homens são súditos (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 10). 
 
O rei solitário pensa que tudo e todos são seus súditos e tem necessidade 
de controlá-los. O Pequeno Príncipe, então, pede a ele que ordene que o sol se 
ponha; o mesmo Rei que até então não mostrou coerência de pensamentos, 
 32 
explica-lhe que quando se é dado um comando do qual quem o recebe não tem 
possibilidade de realizá-lo, a culpa por um resultado desfavorável, deverá ser 
atribuída sempre a quem ordenou. Ou seja, a arrogância humana é tamanha, que 
o rei não consegue admitir que ele não pode tudo. 
Saint-Exupéry, nos ensina com sabedoria, através desse personagem que 
cada um só pode dar aquilo que tem. Aí aparece a vaidade que leva, muitas 
vezes, o homem a discriminar seu semelhante. 
 
 
 
"Ah! Ah! Um admirador vem visitar-me! (...) para os vaidosos, os outros 
homens são sempre admiradores" (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 11). 
Todos sabem que a vaidade consiste em uma estima exagerada de si 
mesmo, uma afirmação esnobe da própria identidade. Na definição do dicionário 
Aurélio, “a vaidade é a qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência 
ilusória. A vaidade, sentimento que esvazia e dispersa”. Dessa forma, o indivíduo 
vaidoso está sempre em busca de uma auto-afirmação através de elogios, e, para 
isso ele tentar ostentar suas qualidades. É o que o personagem em questão vem 
trazer à baila. 
Ele nos faz lembrar e refletir de que precisamos reconhecer nossos 
próprios talentos, valores e capacidades, pois todo ser humano tem seu valor, 
 33 
mas não depender – muitos menos buscar - de elogios dos outros para nos auto-
afirmar. 
 Outra personagem interessante é o bêbado. O autor parece apresentar os 
personagens na ordem dos valores que considera importantes para a 
humanidade. O bêbado ocupava o terceiro planeta visitado pelo principezinho. 
 
 
- Por que é que bebes? Perguntou-lhe o principezinho. 
- Para esquecer, respondeu o beberrão. 
- Esquecer o quê? Indagou o principezinho, que já começava a sentir 
pena. 
- Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a 
cabeça. 
- Vergonha de quê? Investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo. 
- Vergonha de beber! Concluiu o beberrão, encerrando-se 
definitivamente no seu silêncio (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 12). 
 
Entrelaçando-o à realidade cotidiana, pode-se perceber que muitas 
pessoas adultas bebem para tenta escapar da realidade, mas não consegue 
escapar da vergonha de ser como é. O desabafo desse personagem é um alerta 
contratodos os vícios, que submete o homem a degradação de seu físico e da 
sua moral. 
Os personagens que seguem na apresentação delimitam o 
comportamento, a ignorância e a falta de sensibilidade humana, que em 
determinado momento, não se sabe quando nem onde, dá lugar a uma vida sem 
sonhos, cheia de preocupações e egoísmo. Assim temos: 
 O empresário "(...) tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me 
preocupo com ninharias!" (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 13). Esse, por sua vez, 
 34 
parecia muito ocupado contando as estrelas, para depois registrá-las e assim as 
possuir. A falta de tempo era a sua justificativa para não sonhar. 
A lição que o empresário transmite é a de que o homem está tão ocupado 
contando o que acumulou que não pode desfrutar da vida. O pequeno príncipe faz 
ver que isso também é um vício. É preciso valorizar quem o indivíduo é, e não o 
que ele tem. 
 
 O acendedor de lampiões, personagem encontrado no quinto menor 
planeta, tinha como trabalho acender a lâmpada solitária da rua, porém esse 
personagem não tem o bom senso de questionar o regulamento e trabalha sem 
parar, mesmo sabendo que não vai chegar a lugar algum. 
 
 35 
Os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No 
entanto, é o único que não me parece ridículo. 
Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele 
próprio (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 14). 
 
O geógrafo sabe toda a teoria, mas não aplica seus conhecimentos. Nunca 
sai da sua mesa para explorar as descobertas. Como um bom burocrata, declara 
que isso é trabalho de outra pessoa. 
 
 
 
"Mas tu vens de longe. Tu és explorador! Tu me vais descrever o teu 
planeta" (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 15). 
 Em conseqüência disso, ele se tornou incapaz de contar ao pequeno 
príncipe qualquer coisa sobre o seu planeta, pois se esqueceu de que existem 
outras questões importantes no mundo. 
 A serpente, conhecida por ser secreta, enigmática ora representa o 
feminino ora o masculino, simboliza a inteligência, a fecundidade, representa o 
personagem mais franco de toda a história. Ela respeita o que é puro e 
verdadeiro: 
"Mas tú és puro. Tu vens de uma estrela (...) (Tempo) tenho pena de ti, tão 
fraco, nessa Terra de granito. Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade 
do teu planeta. Posso (...)” (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 17). 
Apesar da figura da serpente ter um simbolismo ambíguo, nesta obra, ela 
pode servir como exemplo. Exemplo de que o homem deve ser transparente, 
verdadeiro, devendo ter discernimento de suas escolhas, não esquecendo de 
sempre respeitar a si mesmo e o próximo. 
 36 
 
 
 
A raposa, sábia, ensina o pequeno príncipe a compartilhar. E explica-lhe 
que, apesar de existirem milhares de flores parecidas, a dele é única, e foi o 
tempo que ele dedicou a ela que a fez tão importante. 
Cativar quer dizer conquistar e requer responsabilidade. Responsabilidade 
por um amor, por um amigo, pelo talento que possuímos e pelo que conquistamos 
em nossa carreira profissional e pessoal. 
Pode-se também observar nas últimas páginas do livro que o aviador que 
narra a história indaga junto ao leitor se o carneiro dado de presente por ele ao 
principezinho comeu ou não a flor, pois ele havia esquecido de desenhar a correia 
de couro que prenderia o focinho do animal. É nessa indagação que reside um 
dos significados mais sublimes da principal obra: a inocência. 
Olhar para o céu e procurar pelo planeta B612 e perguntar a si mesmo se o 
carneiro terá ou não comido a flor é a eterna busca pela inocência perdida. 
O Pequeno Príncipe vem ao longo do tempo cativando gerações de leitores 
adultos e crianças. "O essencial é invisível aos olhos”, mais filosófico do que essa 
frase não existe. 
Ensinamentos humanistas como o valor da verdadeira amizade, permeiam 
todo o livro, é a importância de criar laços com as outras pessoas, tentar conhecê-
las de verdade e não o que elas têm para nos oferecer. 
 37 
Todas essas questões confirmam e reafirmam a ideologia de bondade, 
perseverança, humildade, amor e confiança como forma de resgatar tudo aquilo 
que se pode perder em uma guerra. Seja a guerra política, seja guerra pela 
sobrevivência, a preocupação humanista em resgatar um sentimento esquecido, 
porém tão nobre, faz do O Pequeno Príncipe uma lição de vida e uma 
homenagem “à tenra infância, ou àqueles que a perderam”. 
 
 
 
 
A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os 
homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo 
prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens 
não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me (SAINT-
EXUPÉRY, 2002, p. 21). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 38 
 
 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
A literatura infantil é, antes de tudo, arte, fenômeno de criatividade que 
representa o mundo, a vida. Ela enriquece a imaginação da criança, oferece-lhe 
condição de criar e ensina-lhe a libertar-se pelo espírito, levando-a a usar o 
raciocínio e a cultivar a liberdade. 
É uma das produções humanas mais importantes para a formação do 
indivíduo, pois sua matéria é a palavra, o pensamento e as idéias, exatamente 
aquilo que distingue ou define especificidade do ser humano. A criança deve ter 
acesso à literatura, associando e harmonizando a fantasia e a realidade, a fim de 
satisfazer suas exigências internas e desejos imaginários. 
Após analisar o livro O Pequeno Príncipe, observa-se que o 
desenvolvimento do interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, 
que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida 
inteira, pois esse processo é uma importante prática social a qual suscita 
diferentes significados através dos tempos. 
 Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura. O 
primeiro e talvez mais importante é determinado pela "atmosfera literária" que, 
segundo Bamberguerd (2000, p.71) a criança encontra em casa quando “ouve 
histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que seja estimulada, 
terá um desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão 
para a leitura". 
Ainda de acordo com Bamberguerd (2000) a criança que lê com maior 
desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente, neste sentido, a 
criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Sendo assim, 
pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente ligada à motivação. 
 39 
Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente em estimular esse 
hábito nos seus filhos. 
Outro fator que contribui positivamente em relação à leitura é a influência 
do professor. Nesta perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante 
papel: o de ensinar a criança a perceber no texto estratégias de produção de 
sentido por meio da interação com o texto e com as marcas que ele oferece para 
se chegar a uma ou oura interpretação. 
Professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, 
sem forçar, mas com naturalidade, desvendando operações lingüístico-
discursivas estrategicamente utilizadas na estruturação do texto, cria, com 
certeza, na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora. 
Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os 
conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça certa variedade de livros de 
literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a 
idade cronológica da criança e, principalmente, e o estágio de desenvolvimento 
de leitura em que ela se encontra. Assim, o equilíbrio de um programa de leituradepende muito mais do bom senso e da habilidade do professor que de uma 
hipotética e inexistente classe homogênea. 
Num mundo tão cheio de tecnologias em que se vive, onde todas as 
informações ou notícias, músicas, jogos, filmes, podem ser trocados por e-mails, 
CDs e DVDs o lugar do livro parece ter sido esquecido. Há muitos que pensam 
que o livro é coisa do passado, que na era da Internet, ele não tem muito sentido. 
Mas quem conhece a importância da literatura na vida de uma pessoa e do 
trabalho de reconstrução de sentidos , quem sabe o poder que tem uma história 
bem contada, quem sabe os benefícios que uma simples história pode 
proporcionar, com certeza haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que 
substitua o prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo 
repleto de encantamento. 
Se o professor acreditar que mesmo não havendo uma compreensão total 
do texto, porque ela é gradativa, mas que é possível informar, instruir ou ensinar, 
o livro pode dar prazer. E a criança vai se interessar por ele, vai querer buscar no 
livro essa alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande 
magia que o livro proporciona. 
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Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do 
professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um 
momento propício de prazer e estimulação para a leitura. 
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