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Poder de Investigação das Comissões Parlamentares de Inquérito - OLIVEIRA, Geovan Ferreira de.

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Faculdades Integradas Pitágoras – FIPMoc 
Geovan Ferreira de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poder de investigação das comissões parlamentares de inquérito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros/MG 
Junho/2016 
 
Geovan Ferreira de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poder de investigação das comissões parlamentares de inquérito 
 
Monografia apresentada pelo acadêmico Geovan 
Ferreira de Oliveira como exigência do curso de 
graduação em Bacharelado em Direito das Faculdades 
Integradas Pitágoras de Montes Claros sob a orientação do 
Professor Lucas Santana Borges. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros/MG 
Junho/2016 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A toda minha família, em especial aos meus 3 irmãos, pois são eles minha maior fonte 
de motivação. 
A minha companheira, Érika Santiago pelo amor e carinho sempre, 
independentemente de qualquer coisa. 
Ao Prof. Lucas Santana Borges, que me acompanhou, transmitindo-me o 
conhecimento necessário para que o presente trabalho monográfico fosse concluído com 
sucesso. 
 
 
RESUMO 
 
 
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é um instituto previsto no ordenamento jurídico 
brasileiro com função atípica do Poder Legislativo. O procedimento das CPI’s pode ser 
realizado em nível municipal, quanto estadual e federal. A CPI objetiva investigar atos ilícitos 
praticados pelos entes da Administração Pública, bem como os demais envolvidos nos atos 
praticados por estes. O presente trabalho monográfico buscou conhecer o procedimento 
investigativo das CPI’s no sistema de perquisição do Poder Legislativo brasileiro. A 
metodologia utilizada para a elaboração do seguinte trabalho foi a pesquisa documental, 
através de leis, regimentos internos das Casas Legislativas, analise de decisões referentes ao 
tema proferidas pelo STF, doutrina e jurisprudências. Verificou-se que para a instauração do 
referido instituto, deve-se observar alguns requisitos básicos inerentes ao seu prelúdio, sendo 
estes o aspecto formal (requerimento de quórum mínimo das casas legislativas), substancial 
(tratar de fato certo e determinado em seus trabalhos) e temporal (ter prazo certo para decorrer 
com a investigação parlamentar). Também pode-se identificar a constante inobservância do 
referido instituto frente às garantias constitucionais inerentes aos indivíduos. Deste modo, a 
proteção destas garantias somente pode ser assegurada pela constante intervenção do Poder 
Judiciário dentro das CPI’s, pelos mecanismos do Mandado de Segurança e Habeas Corpus. 
Conclui-se que, a investigação parlamentar é de fundamental importância, no tocante a 
elucidação de fatos que envolvem a administração pública. Destarte, estas investigações 
frequentemente ultrapassam suas competências estabelecidas pelo complexo de normas que 
regulam a matéria, e por este motivo, através dos remédios constitucionais impetrados em 
face das comissões, o Poder Judiciário deve garantir a observância dos preceitos fundamentais 
inerentes ao indivíduo, de forma que este não sofra com os abusos praticados pelas CPI’s. 
 
Palavras-chave: Comissão Parlamentar de Inquérito. Garantias Fundamentais. Habeas 
Corpus. Mandado de Segurança. 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO 05 
 
CAPÍTULO I – A COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO 07 
1.1. Conceito, natureza jurídica e instauração 07 
1.2. Poder, competência de investigar e procedimento das CPI’s 10 
1.3. Aplicação subsidiária das normas de Processo Penal às CPI’s 13 
 
CAPÍTULO II – AS CPI’S E AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DOS 
INVESTIGADOS 17 
2.1. Apontamentos sobre garantias constitucionais 17 
2.2. Dados Pessoais, sigilo bancário, fiscal e telefônico 21 
2.3. Garantia de não auto incriminação e a presunção de inocência (nemo tenetur se detegere)
 25 
 
CAPITULO III – EFEITOS JURÍDICO-PENAIS DAS CPI’S 28 
3.1. Relatório Final e conclusão das CPI’s 28 
3.2. A aplicabilidade dos remédios constitucionais às CPI’s 32 
3.3. Apontamentos sobre a jurisprudência das CPI’s 37 
 
CONSIDERAÇOES FINAIS 40 
 
REFERÊNCIAS 42 
 
5 
INTRODUÇÃO 
 
 
O presente trabalho monográfico tem por objeto analisar o procedimento para a 
instauração das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) no sistema de investigação 
legislativa do Brasil, dando ênfase à análise dos abusos praticados pela persecução legislativa 
frente ao cidadão, levando em consideração ainda as formas que o judiciário tem para 
proteger as garantias individuais descritas na Constituição da República Federativa do Brasil 
de 1988. 
As CPI’s têm seu primeiro retrato histórico flagrado em meados do séc. XIV, na 
Inglaterra, durante o reinado do rei Eduardo II e do rei Eduardo III. A primeira CPI da qual se 
tem registro foi constituída logo após o conflito que trouxe a Irlanda para o domínio do Reino 
Unido (SILVA, 2014). 
No ordenamento jurídico brasileiro, nas primeiras constituições, não foi previsto o 
instituto das comissões, porém a norma constitucional também não vedava a criação de 
grupos de parlamentares para discutir e investigar temas inerentes a demanda da sociedade. O 
referido instituto, somente se fez presente positivamente no ordenamento jurídico brasileiro, 
após a Constituição de 1934, e a partir dessa esteve presente em todas as constituições do 
estado brasileiro, com exceção apenas para a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 
1937, durante o período de Estado de Sítio. 
Embora a CRFB/88, em seu art. 58, §3º, mencione o fato de que as CPI’s terão 
poderes de investigação próprio das autoridades judiciais, sendo suas conclusões 
encaminhadas ao Ministério Público para que proceda na apuração das responsabilidades civil 
e criminal dos investigados, há que se analisar qual sentido real da expressão “poderes de 
investigação próprio das autoridades judiciais” (BRASIL, 1988) e como se delimita a 
competência de atuação e os limites das CPI’s, tendo em vista ser recorrente a intervenção do 
Poder Judiciário no processo de investigação das comissões, através dos remédios 
constitucionais Habeas Corpus e Mandado de Segurança, visando assegurar as garantias 
individuais do cidadão, frente aos abusos cometidos pelas investigações das CPI’s. 
Para proporcionar os estudos, o presente trabalho monográfico foi dividido em 
três capítulos, utilizando-se do método de pesquisa dedutivo exploratório bibliográfico. 
O primeiro capítulo analisará o surgimento e a evolução histórica do instituto, 
bem como o entendimento referente ao atual conceito de CPI dentro do ordenamento jurídico 
brasileiro. Em seguida, tratará da natureza jurídica das comissões, sustentada pela CRFB/88 e 
6 
pelas normas infraconstitucionais, os regimentos internos das Casas Legislativas, tal como lei 
específicas sobre a matéria, e o procedimento para instauração da dessas, definido pela lei nº 
1.579/52, e tendo como os requisitos, o formal, substancial e o temporal. Analisar-se-á 
também os limites dos poderes de investigação da CPI, bem como a competência de 
investigação e como se processa o instituto, utilizando as normas oriundas dodireito penal e 
processo penal, aplicadas subsidiariamente ao instituto. 
O segundo capítulo analisará as garantias constitucionais inerentes ao cidadão 
brasileiro, com ênfase na preservação dos direitos ao sigilo dos dados pessoais, fiscais, 
bancários e telefônicos, da mesma maneira que a análise do princípio não autoincriminação e 
a presunção da inocência (nemo tenetur se detegere). 
Por fim, o terceiro capítulo abordará com maior realce o tema proposto, através da 
análise dos Relatórios Finais das CPI’s, como meio de conclusão e fonte de apuração de 
responsabilidade civil e criminal dos investigados e a aplicabilidade dos remédios 
constitucionais previstos pelo ordenamento jurídico brasileiro, objetivando defender os 
investigados do exercício do abuso de poder dentro da persecução legislativa, do mesmo 
modo que análise da jurisprudência oriunda da intervenção do judiciário na função atípica 
perquisidora dada pela CRFB/88. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
CAPÍTULO I 
 
 
A COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI) 
 
 
1.1 Conceito, natureza jurídica e instauração 
 
As comissões parlamentares de inquérito, segundo Silva (2014), tem registros de 
surgimento na Inglaterra, em meados do século XIV, sob o período de reinado de Eduardo II e 
Eduardo III, estes reinados foram responsáveis por proporcionar a supremacia ao parlamento 
britânico. A primeira comissão parlamentar foi constituída com a finalidade de investigar 
como havia procedido o Reino Unido na guerra que foi realizada para que a Irlanda fosse 
integrada ao seu território. 
De acordo com Nina (2005), as comissões parlamentares no Brasil, apesar de não 
previstas expressamente nas primeiras constituições, nunca foram proibidas, as investigações 
eram feitas nos moldes utilizados pelo poder judiciário e pela polícia judiciária. As CPI’s 
foram descritas constitucionalmente a partir da Constituição de 1934 e se fizeram presentes 
em todas as constituições seguintes, com exceção da Constituição dos Estados Unidos do 
Brasil de 1937, durante o Estado de Sítio. Deste modo, Cantonide (2013, p.1107) aduz que: 
“No ordenamento constitucional brasileiro, as Comissões de Inquérito foram introduzidas na 
Constituição de 1934, em seu artigo 36.” 
Paula (2007, p.04) afirma que: 
 
[...]A constituição de 1934, em seu art. 36, vem constitucionalizar o instituto 
em comento, inspirando-se na Constituição de Weimar. Todavia, cabia 
apenas à Câmara dos Deputados a faculdade da criação das comissões, não 
havendo tal previsão para o Senado Federal. 
 
Silva (1992, apud LENZA, 2012, p. 507) define as comissões como “[...] 
organismos constituídos em cada Câmara, composto de número geralmente restrito de membros, 
encarregados de estudar e examinar as proposições legislativas e apresentar pareceres.” 
Cardoso (2002, p.13-14) aduz: 
 
[...] A CPI se destina a apurar fatos relacionados com a administração (CF, 
49, X) com a finalidade de conhecer situações que possam ou devam ser 
8 
disciplinadas em lei, ou ainda para verificar os efeitos de determinada 
legislação, sua excelência, inocuidade ou nocividade. 
A natureza jurídica das CPI’s tem sustentáculo tanto em legislação constitucional 
como infraconstitucional, neste sentido, Paula (2007, p.4-5) aduz: 
 
As Comissões Parlamentares de Inquérito tem previsões normativas 
constitucional e infraconstitucional no ordenamento jurídico brasileiro. Com 
isto adquiriu-se, através do Diploma Político de 1988, prestígio e amparo 
constitucional. 
 
Pode-se então, observar a ênfase na qual a Constituição da República Federativa 
do Brasil de 1988 (CRFB/88) alicerça as CPI’s, pelo descrito no art. 58, §3º, in verbis: 
 
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e 
temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no 
respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação: 
[...] 
§ 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de 
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos 
nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos 
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, 
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de 
fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, 
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade 
civil ou criminal dos infratores. (BRASIL, 1988). 
 
As leis 1.579/52 e 10.001/00 dispõem sobre o procedimento das comissões 
parlamentares. A lei 1.579/52 regulamenta o dispositivo constitucional mencionado 
previamente (BRASIL, 1952). Por outro lado, a lei 10.001/00 trata do procedimento a ser 
realizado pelo Ministério Público após o recebimento do relatório final de investigação da 
CPI, sendo que esse rito descrito vale tanto para CPI’s federais, estaduais quanto municipais. 
Além dessas, os procedimentos das comissões são tratados pelo previsto no Regimento 
Interno da Câmara e do Senado Federal. (BRASIL, 2000). 
Segundo Soares (1999, p.04), são requisitos para a criação das CPI’s: 
 
A) Requerimento de um terço dos membros da Casa Legislativa ou um terço 
dos membros da Câmara mais um terço dos membros do Senado, no caso de 
Comissão Mista; 
B) Fato determinado, consistente no acontecimento de relevante interesse 
para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social do 
País, devidamente caracterizado no requerimento de constituição de 
comissão; [...] 
9 
C) Número inferior a cinco CPIs em funcionamento simultâneo na Casa, 
caso em que a criação de nova Comissão só se dará mediante projeto de 
resolução com o quorum de um terço dos Membros da Casa Legislativa. 
 
 Gois, Scola e Amaral (2008), afirmam que: 
 
De acordo com a Constituição Federal, para que seja constituída uma CPI, 
são indispensáveis a presença de três requisitos: formal, temporal e 
substancial. Requisito formal: é a necessidade de o requerimento ser feito 
por pelo menos um terço dos membros da casa. Requisito substancial: é a 
exigência de objeto de investigação da CPI constituir fato determinado, 
porém, constatando-se a ocorrência de um novo fato relevante que deva ser 
investigado, não há óbice à criação de uma nova CPI ou de aditamento do 
objeto da CPI já em curso acaso os fatos sejam conexos aos iniciais. 
Requisito temporal: a CPI deve ter prazo certo para seu funcionamento. 
Sendo respeitados estes requisitos, deverão as conclusões quando 
necessárias, serem encaminhadas ao Ministério Público. 
 
Para Lenza (2012), a instauração da comissão parlamentar será solicitada pela 
Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal ou pelas duas casas conjuntamente, sendo esta 
Comissão chamada de Mista. Serão exigidos três requisitos para a instauração do inquérito. 
Como disposto no art.58, §3º da CRFB/88 é necessário que haja requerimento de no mínimo 
1/3 dos parlamentares do Congresso Nacional, sendo respectivamente 171 na Câmara Federal 
e 27 no Senado. No sistema municipal a contagem deverá ser realizada da mesma forma com 
que é aplicada no Congresso, porém na proporção da quantidade de Vereadores em cada 
Câmara Municipal. Deve ser indicado no requerimento para a instauração, minuciosamente, o 
fato determinador a ser apurado pela comissão parlamentar, pois a sua não determinação, 
torna a investigação subjetivamente descentralizada. Por fim, é necessário indicar o período 
certo no qual a investigação será realizada, pois deve ser observado a legislatura na qual a 
investigaçãoserá empreendida, respeitando o princípio da temporariedade. 
Entende–se que o requisito formal é descrito como o requerimento apresentado 
pela minoria do congresso ao Presidente da Casa Legislativa, contendo a presença das 
assinaturas de 1/3 dos parlamentares. O requisito substancial, como o art. 1ª da lei 1.579/52 
descreve, são os fatos determinados, estes devem ser fundamentados e de relevância social. 
Caso no decorrer da comissão, novo fato surja, tornando necessária à sua apuração, o 
requerimento para a CPI poderá ser aditado, para que seja incluído ao foco de investigação 
este fato descoberto, ou nova CPI poderá ser solicitada, pelo mesmo procedimento já 
realizado. Por fim, deve ser observado o requisito temporal, ou seja, a estipulação de prazo 
definido para o andamento das investigações realizadas pelas comissões. De acordo com o art. 
10 
5º §2º, da lei 1.579/52, as CPI’s terminam junto com a sessão legislativa na qual foi realizada 
a sua instauração, portanto, caso haja requerimento do congresso, esta poderá ser prorrogada 
dentro da legislatura em vigor. Portanto, a lei impõe de maneira taxativa, um limite temporal 
para que as CPI’s possam transcorrer. 
 
1.2 Poderes, competência para investigar e procedimento das CPI’s 
 
O art. 58 § 3º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
(CRFB/88) define que os poderes das Comissões Parlamentares de Inquérito serão 
semelhantes aos poderes de investigação das autoridades judiciais, além dos previstos nos 
regimentos internos das respectivas casas legislativas. 
Cardoso (2002, p.17), elenca poderes dos quais as CPI’s usufruem: 
 
A) Determinar as diligências necessárias à colimação dos seus objetivos; 
B) Requerer a convocação de ministro de estado; 
C) Tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou 
municipais; 
D) Inquirir testemunhas; 
E) Ouvir os indiciados; 
F) Requisitar, de repartições públicas e autárquicas, documentos e 
informações; 
G) Transportar-se aos lugares onde se fizer necessária a sua presença. 
 
Brotas (2008), os poderes de investigação das CPI’s estão sempre vinculados ao 
fato determinador da sua instauração, portanto, os parlamentares devem se ater ao que foi 
solicitado inicialmente, desde o questionamento das testemunhas, até solicitação de 
diligências ou requisição de documentos, sendo que qualquer pedido realizado em plenário 
deve estar observante ao fato estabelecido. A ausência de vínculo com o fato determinador 
configura falta de interesse de agir, fugindo então do mérito da questão discutida pelos 
parlamentares. 
Carneiro (2010) pondera: 
 
A Constituição Federal dispõe que cabem as comissões permanentes, em 
função da matéria de sua competência, as seguintes atribuições: a) discutir e 
votar projeto de lei que dispensar, na forma do respectivo regimento, a 
competência do plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos 
membros da Casa – o chamado poder conclusivo das comissões; b) realizar 
audiências públicas com entidades da sociedade civil; c) convocar Ministros 
de Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes a suas 
atribuições; d) receber petições, reclamações, representações ou queixas de 
11 
qualquer pessoa contra atos ou omissões de autoridades ou entidades 
públicas; e) solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão; e f) 
apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de 
desenvolvimento e sobre eles emitir parecer. 
 
Gois, Scola e Amaral (2008) aduzem: 
 
Para realizar seus trabalhos, a CPI tem os mesmos poderes de investigação 
de uma autoridade judicial, podendo, portanto, através de decisão 
fundamentada de seu plenário: quebrar sigilo bancário, fiscal e de dados 
(inclusive dados telefônicos); requisitar informações e documentos 
sigilosos diretamente às instituições financeiras ou através do BACEN 
ou CVM, desde que previamente aprovadas pelo Plenário da CD, do 
Senado ou de suas respectivas CPIs [...]; ouvir testemunhas, sob pena 
de condução coercitiva; ouvir investigados ou indiciados. 
 
Lenza (2012) atesta que as CPI’s realizam investigações típicas das autoridades 
judiciais, assemelhando-se aos juízos de instrução que são responsáveis por solicitar 
diligências, convocar a presença de Ministro de Estado, ouvir testemunhas e solicitar 
documentos para órgãos públicos. A CPI dispensa intervenção judicial, ou seja, tem 
autoridade própria, salvo nos casos em que seja necessária quebra de sigilo bancário, fiscal e 
de dados pessoais. Nestes casos, a CPI deverá requerer pela quebra, judicialmente, mas caso 
sejam comprovados indícios suficientes ou justa necessidade da quebra do sigilo dos 
envolvidos, não será necessária intervenção por meio judicial, tornar-se-ia assim possível a 
Comissão agir sem intervenção da justiça. 
Magalhães (2013, p.29) aduz que: 
 
Destarte, por ser uma expressão muito ampla e sem uma previsão que 
enuncie todos os poderes decorrentes dos “poderes de investigação das 
autoridades judiciais”, serão os mesmos destacados neste estudo através 
de uma análise dos poderes delineados na Lei 1.579/52, e, após, serão 
“filtrados” os demais poderes através dos seus limites previstos 
constitucionalmente, que são os direitos e garantias fundamentais, a 
separação dos poderes, a reserva constitucional de jurisdição e o poder 
geral de cautela. 
 
Ainda neste sentido, Cardoso (2002) dispõe que a competência de investigar das 
CPI’s tem delimitação certa na CRFB/88, nas leis especiais e nos regimentos internos das 
casas legislativas. As prerrogativas atribuídas às comissões são direcionadas a partir da 
observância do princípio da legalidade que envolvem os meios nos quais ela utiliza na 
investigação dos fatos. Há possibilidade de controle jurisdicional de suas atribuições quando a 
comissão torna atual ou iminente o risco de lesão ao direito de liberdade do indivíduo, 
12 
portanto será admissível a utilização do remédio constitucional do Habeas Corpus, também é 
possível impetrar Mandado de Segurança quando é identificada violação de direito líquido e 
certo do indivíduo, pelo inquérito parlamentar. 
Marcondes e Costa (2012, p.11), consolidam que: 
 
Os poderes de investigação das CPI’s, conquanto amplos, não são absolutos. 
Eles encontram limites na cláusula de reserva de jurisdição. Ademais, sob 
pena de desrespeito ao pacto federativo, a CPI criada pelas Casas do 
Congresso Nacional não alcançam fatos ligados estritamente à 
competência dos Estados, DF e Municípios. Pelo princípio da simetria, a 
CPI criada por uma Assembleia Legislativa não alcança fatos ligados 
estritamente à competência dos Municípios. 
 
Siraque (2014, p.16), ratifica: 
 
A CPI não julga e não tem competência de punição. Ela investiga e 
propõe soluções, encaminhando suas conclusões ao Poder Judiciário, 
Ministério Público ou Procuradoria do Estado, quando for o caso. Os 
membros das Comissões Parlamentares de Inquérito, durante a 
investigação, poderão fazer vistorias e levantamentos em repartições 
públicas municipais e entidades descentralizadas, onde terão livre acesso 
e permanência, solicitando a exibição de documentos e prestação de 
esclarecimentos que considerem necessários. 
 
Miranda (2009) descreve as fases que deverão ser observadas no procedimento da 
CPI. Primeiramente, deve ser apresentado um requerimento para a instauração ao Presidente 
da Casa Legislativa na qual está sendo solicitado o inquérito parlamentar, este deve conter 
assinatura de no mínimo 1/3 dos membros da casa.Após isto, o Presidente irá verificar se o 
requerimento preenche os quesitos de admissibilidade descritos pela CRFB/88 e pela Lei 
1.579/52. Caso seja procedente a presença dos requisitos básicos, será solicitado às lideranças 
da casa que nomeie os membros representantes, através de documento ou resolução. Em 
seguida, é publicada pela casa o ato de constituição da CPI, assim sendo, serão definidos o 
Presidente, Vice-presidente e Relator da Comissão e também será determinada a linha de 
trabalho a ser realizado durante o inquérito parlamentar. Assim, vão ser informados os 
envolvidos na investigação e a estes serão encaminhadas cópias dos autos já presentes na 
comissão. A ciência dos envolvidos marca o início da verdadeira investigação dos fatos, pois 
é a partir disso que serão solicitadas as oitivas dos envolvidos, perícias, buscas, quebra de 
sigilo, solicitação de documentos e outras atribuições inerentes ao instituto do inquérito 
parlamentar. Após toda a fase de instrução, será prolatado relatório final que será votado pelo 
13 
plenário como Resolução. Em caso de aprovação, o relatório será remetido ao Ministério 
Público, para que sejam tomadas as providências dispostas pela lei 10.001/00. 
As comissões parlamentares de inquérito, tem poder semelhante às autoridades 
judiciais brasileiras, segundo o Art. 58 da CRFB/88. As CPI’s competem para investigar, 
fatos de relevante valor social, que versem sobre a administração de bens e serviços públicos, 
da União, dos Estados ou dos Municípios. Dentro das comissões, os parlamentares devem se 
ater, ao fato determinador para a instauração do inquérito parlamentar, não podendo dessa 
forma se desvincular do objetivo principal da elucidação dos acontecimentos anexos ao fato 
principal. 
 
1.3 A aplicação subsidiária da norma processual penal às CPI’s 
 
A lei 1.579/52 regulamenta as Comissões Parlamentares de Inquérito no Brasil, 
dita qual o caminho as comissões devem seguir para que seja possível a elucidação dos fatos 
que são determinados à serem investigados. A lei atribui no seu art. 6º, que os poderes 
impostos às comissões serão regidos de forma análoga pelo conjunto de prerrogativas 
existentes na legislação processual penal. Desta forma, o art. 36, parágrafo único, in verbis, 
também afirma que: “As Comissões Parlamentares de Inquérito valer-se-ão, subsidiariamente, 
das normas contidas no Código de Processo Penal.” (BRASIL, 1952). 
Soares (2014), mostra que as CPI’s, tem fundamentação legal na Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), na lei 1.579/52, como dito anteriormente, 
nos regimentos internos das Casas Legislativas (Assembleia estadual, Congresso Nacional e 
Câmara Municipal) e de forma subsidiária, nas normas processuais penais. 
Mossin (2013), informa que o Código de Processo Penal, de forma subsidiária, 
atribui poderes às comissões tais como determinar realização de perícias, colher depoimento 
dos investigados, realizar busca e apreensão, inquirir testemunhas e até mesmo determinar 
expedição de ordem de prisão em flagrante, nos casos prescritos pela lei 1.579/52 em seu art. 
4º, impedindo ou tentando impedir através de violência ou ameaça, o funcionamento das 
comissões e mentindo ou fazendo afirmação falsa perante as Comissões Parlamentares. 
Carvalho (2004, p.18), aduz: 
 
Infere-se, portanto, que relativamente ao processo legislativo a norma 
aplicável é, sem dúvida, o Regimento Interno. Contudo, no inquérito 
parlamentar, por força do que determina o próprio Regimento Interno e a Lei 
nº 1579/52, o Regimento cede lugar ao Código de Processo Penal - CPP, que 
14 
passa a regular o processo e a instrução do inquérito, guardadas as suas 
peculiaridades, que o distingue do inquérito policial. 
 
Mossin (2013, p.463) demonstra: 
 
A teor do que pode ser observado no conteúdo normativo trasladado, a CPI 
tem poder muito abrangente em nível de produção de prova. A exemplo do 
que acontece com o inquérito policial visando a apuração de crime e de sua 
autoria, bem como da ação penal, em nível de investigação parlamentar 
podem ser produzidas provas orais, documentais, periciais além de 
ouvir o indiciado, ou seja, aquele sobre o qual recai a imputação de fato 
determinado. O que está sendo dissertado se mostra sustentável, uma vez 
que pelos elementos que compõem esse diploma legislativo, a aplicação 
de regramentos contidos no Código de Processo Penal aplicáveis 
supletivamente, desde que não haja conflito com as normas de regência 
que são próprias das Comissões Parlamentares de Inquérito. Ademais, o 
que está sendo discursado, também se adota em CPIs em nível estadual e 
municipal. Nessa ordem de consideração, para fortalecer ainda mais o que 
está sendo exortado, o art. 7º da Lei nº 1.579/52, contem os seguintes 
termos legislativos: “O processo e a instrução dos inquéritos obedecerão ao 
que prescreve esta Lei, no que lhes for aplicável, às normas do processo 
penal.” 
 
Paula (2007), diz que deve se aplicar a lei processual penal, quando a lei 1.579/52, 
o regimento das Casas Legislativas ou quando a CRFB/88 forem omissas acerca dos fatos 
ocorridos no decorrer do inquérito parlamentar. Desta forma, todas as garantias previstas para 
os investigados em geral, como devido processo legal, legalidade, contraditório e ampla 
defesa, devem ser observados caso contrário podem incorrer em nulidade. 
Assim, os artigos 148, §2 e 153, caput, in verbis, do Regimento Interno do Senado 
Federal, informam: 
 
Art. 148. § 2º Os indiciados e testemunhas serão intimados de acordo com 
as prescrições estabelecidas na legislação processual penal, aplicando-se, 
no que couber, a mesma legislação, na inquirição de testemunhas e 
autoridades. 
Art. 153. Nos atos processuais, aplicar-se-ão, subsidiariamente, as 
disposições do Código de Processo Penal. (BRASIL, 1970). 
 
Willeman (2012, p.70) esclarece: 
 
Desse modo, se a Constituição Federal impõe aos poderes de investigação da 
CPI os mesmos limites a que se submetem as autoridades judiciais, e o 
próprio regimento interno do Senado Federal [...] preveem que aos atos 
processuais praticados durante a CPI deve ser aplicada a legislação 
processual penal. 
15 
 
Segundo Schier (2002), por interpretação ao Código de Processo Penal, poderão 
as Comissões Parlamentares de Inquérito, de maneira genérica, solicitar de ofício diligências 
para elucidar fatos que são de relevante valor ao seguimento do inquérito parlamentar. Esta 
aplicação se dá pela observância análoga do princípio do livre convencimento motivado ao 
parlamentar integrante das comissões, pois este encontra-se em mesma posição na qual o juiz 
penal permanece quanto à fase instrutória no processo penal. Este deve utilizar de todas as 
prerrogativas que a legislação o garante, para tornar lúcidos os fatos que envolvam o inquérito 
parlamentar. 
Abrão (2010, p.204) aduz que: 
 
Verificou-se que os limites aos (amplos) poderes de investigação próprios 
das autoridades judiciais, outorgados pela Constituição de 1988, encontram-
se também no próprio texto constitucional e nas leis existentes e vigentes em 
nosso país. Mas, não basta encontrá-los e reconhecê-los formalmente. É 
preciso aplicá-los efetivamente no curso das investigações criminais 
preliminares, inclusive, quando por meio do inquérito parlamentar. 
 
Conclui-se que, as Comissões Parlamentares de Inquérito, tem embasamento 
jurídico na lei nº 1.579/52, na CRFB/88, nos regimentos internos das Casas Legislativas e de 
forma subsidiária nas normas e princípios oriundos do direito processual penal brasileiro. Alei nº 1.579/52 e a CRFB/88 legalizam e garantem legitimidade ao inquérito parlamentar, os 
regimentos das Casas Legislativas, no que lhe concerne, tem como função ditar o andamento 
no qual o inquérito parlamentar deve obedecer. A norma processual penal, por sua vez, trata 
de como o procedimento integrante das comissões parlamentares deverão ser percorridos, esta 
norma é aplicada de forma subsidiária, ou seja, é utilizada quando os demais recursos 
normativos citados anteriormente são omissos ou não tratam de como o procedimento deverá 
ser realizado. O fato da CRFB/88 em seu Art. 58, § 3º, instituir que as comissões 
parlamentares terão poderes semelhantes aos das autoridades judiciais, traz a prerrogativa ao 
parlamentar integrante das comissões parlamentares, similar ao do membro do judiciário 
brasileiro, portanto, este deve observar uma série de princípios que norteiam essa 
prerrogativa, tais como o princípio do livre convencimento motivado, devido processo legal e 
o princípio da legalidade. Segundo Abrão (2010), os parlamentares egressos das comissões, 
de acordo com a interpretação do artigo acima, tem em mãos os mesmos poderes que um juiz 
penal tem, na fase de instrução do processo penal brasileiro, portanto a observância aos 
princípios processuais são de obrigatoriedade aos mesmos. 
16 
 
17 
CAPÍTULO II 
 
 
AS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO E AS GARANTIAS 
CONSTITUCIONAIS DOS INVESTIGADOS 
 
 
2.1 Apontamentos sobre garantias constitucionais 
 
Para que sejam realizados os procedimentos investigativos das Comissões 
Parlamentares de Inquérito (CPI) o poder legislativo na prerrogativa da função atípica 
investigativa, deve observar as garantias individuais e fundamentais inerentes ao cidadão 
brasileiro como descrito na CRFB/88. 
De acordo com Mendes e Branco (2011) a sedimentação das garantias 
fundamentais como normas positivadas decorre de uma longa e profunda evolução histórica 
do direito. Esta maturação histórica passou por diversas gerações, sendo atualmente 
identificadas em cinco. A primeira geração de direito, surgiu no final do séc. XVIII e início do 
séc. XIX, o chamado constitucionalismo ocidental, tratavam de consagrar os direitos civis e 
políticos clássicos, diretamente ligados ao valor de liberdade dos indivíduos. Visava dar ao 
particular a prerrogativas de se opor aos atos arbitrários do estado, consagravam meios de 
defesa da liberdade do indivíduo. 
Bobbio (2004) aduz que o reconhecimento e a guarda dos direitos fundamentais 
do homem deverão ser elemento basilar para às constituições democráticas modernas, pelo 
fato que os direitos fundamentais inerentes ao homem encontram-se consolidados 
historicamente através das eras ou gerações de direitos. Para ele, a primeira geração de direito 
é aquela que presume a igualdade formal dos indivíduos, considerando o sujeito 
individualmente. 
Sarmento (2011) salienta que a concepção do que se entende como direitos 
fundamentais inerentes ao homem é fruto de uma evolução histórica das gerações de direitos 
humanos na ordem jurídica supraestatal e nas constituições contemporâneas. Deste modo, a 
primeira geração de direitos tem nas liberdades públicas, o elemento axiológico preeminente. 
Essas liberdades são entendidas como os direitos civis ou individuais, sendo entendidas como 
prerrogativas que visam proteger as integridades físicas, psíquicas e morais dos indivíduos, do 
abuso de poder e da intervenção ilegítima do Estado. 
18 
Conforme Mendes e Branco (2011) os direitos de segunda geração surgiram na 
lacuna entre o séc. XIX para o séc. XX, ligados aos direitos econômicos, sociais e culturais, 
positivou a ideia de igualdade material entre os homens. Chamados também de direitos do 
“bem-estar”, tem o objetivo de proporcionar os meios materiais necessários para a efetivação 
dos direitos individuais e sociais. Portanto exige do Estado uma prestação positiva, uma 
obrigação de fazer dependendo assim da implementação de políticas públicas estatais e do 
cumprimento de prestações por parte do Estado. 
Sarmento (2011) aduz que os direitos de segunda geração, que tem como berço o 
contexto do pós Primeira Guerra Mundial, efluem da concepção teórica de Estado do Bem-
estar social. Esta geração tem como elemento marcante o poder de exigir do Estado que, 
através de suas instituições, assegurem a todos igualdade de oportunidade. As referidas 
instituições têm como função exteriorizar normas que versem sobre os direitos sociais, 
econômicos e culturais dos indivíduos. 
Ainda nesta concepção Bobbio (2004) ensina que a segunda geração de direito 
tem como fundamental limiar, os direitos sociais de forma que o sujeito é analisado por uma 
ótica social vinculada a uma situação concreta. Sendo assim, o séc. XX foi marcado por uma 
nova ordem social que tinha como objetivo promover uma nova estruturação dos direitos 
fundamentais não mais enraizada na ideia do individualismo, como se identificava na geração 
anterior de direitos. A principal distinção da segunda geração e da primeira foi a sua dimensão 
positiva, não mais tratando da não intervenção estatal, mas moldando um complexo de 
normas e instituições legitimadas a resguardar os direitos sociais, culturais e econômicos dos 
indivíduos de uma coletividade. 
Consoante Marchinhacki (2012), a terceira geração de direitos fundamentais teve 
início na Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. Esta geração seria, dentre 
todas as anteriores, a de fundamental importância pois, iria compor um processo no qual as 
garantias seriam impostas até mesmo contra o próprio Estado. Desta forma, se desprenderiam 
os direitos apenas do conceito individual pautado na proteção do homem, mas traria como 
titular de sua proteção um grupo de humanos, exigindo esforços, prestações, obrigações e 
responsabilidades, em contexto mundial. 
Já para Mendes e Branco (2011) os direitos de terceira geração por sua vez, 
surgiram ao final do séc. XX tratando de maneira primordial a desigualdade entre as nações 
desenvolvidas e subdesenvolvidas. Os chamados direitos de fraternidade e solidariedade, 
englobavam os direitos ao desenvolvimento, ao progresso, ao equilíbrio ambiental, a 
autodeterminação dos povos, do consumidor, da infância e da juventude entre outros. Não 
19 
tratando de interesses individuais, são direitos de caráter genérico atribuídos a todo e qualquer 
tipo de organização social, sempre buscando tutelar interesses difusos e coletivos. 
Bobbio (2004) conclui que os direitos fundamentais de primeira, segunda e 
terceira geração estão profundamente vinculados aos ideais da Revolução Francesa de 
maneira respectiva, onde a primeira geração teria como objetivo garantir as liberdades dos 
indivíduos, bem como na segunda geração seria possível identificar os direitos das 
coletividades interligadas à igualdade dos indivíduos para com o Estado, e os direitos de 
terceira geração seriam os direitos ligados a solidariedade e fraternidade entre os povos, assim 
caucionando os interesses de maneira organizada coletivamente. 
No atual contexto histórico, conforme Santos (2010), pode-se identificar como 
presente a quarta geração de direitos atribuída a ideia de sociedade globalizada, tratando das 
garantias vinculadas à democracia, informação e ao pluralismo, visando a possível integração 
da sociedade em um contexto mundial. É defendido a hipótese que há a presença de uma 
iminente quinta geração de direito, estes tratando dos direitos fundamentais ligados ao 
conceito de paz. 
Para fim de tratar das Comissões Parlamentares, pode-se retirar do conceito das 
garantias fundamentais referentes aos direitos individuais do cidadão, sendo estes locados 
entrea primeira e terceira geração de direito. Conforme o exposto pelo Relatório Final da CPI 
dos Crimes Cibernéticos concluído em 2016 pela Câmara dos Deputados, os direitos 
referentes à proteção dos indivíduos contra os abusos de poder do Estado evoluíram dentro 
das três primeiras gerações de direitos fundamentais, deste modo, protegendo a integridade 
pessoal dos cidadãos das possíveis inobservâncias do Estado em meio às suas investigações, 
independente de qual natureza essas seriam advindas. 
Para Frota (2006) as investigações realizadas pelo poder legislativo na esfera 
privada, devem observar o que refere à CRFB/88 sobre os princípios da supremacia do 
interesse público em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana e com a 
proporcionalidade. Desta maneira, o princípio do interesse público aplicado ao poder de 
investigação do inquérito parlamentar preconiza a entrada das comissões no âmbito privado 
sem prévia autorização do poder judiciário, quando fundada suspeita torne necessário a 
inquirição de determinados atos. 
Em contrapartida Frota (2006) salienta que, o princípio que norteia a CRFB/88, no 
que se refere aos direitos fundamentais a dignidade da pessoa humana, resguarda a vida 
privada do indivíduo protegendo o mesmo dos possíveis abusos de poder do estado referentes 
a desconsideração da proteção a vida privada do indivíduo. Por fim, figura-se o princípio da 
20 
proporcionalidade que condiciona as comissões a se adentrar na vida privada do indivíduo 
apenas na presença de pressupostos previamente determinados, sendo eles a presença de causa 
provável ou fundada suspeita, a adequação, se o meio de descontinuar a vida privada do 
indivíduo é apto e eficaz para que seja elucidado o fato inquietado, a exigibilidade, se o meio 
pelo qual o procedimento ocorre é menos gravoso ao investigado, e a proporcionalidade em 
sentido estrito, se a diligência necessária a elucidação do fato é proporcional e adequada para 
aquele determinado momento. A proporcionalidade desta maneira tem como papel certificar a 
harmonia entre o princípio da primazia do interesse público com o da dignidade da pessoa 
humana, tendo sempre como principal norte neste caso, a proteção do indivíduo. 
Rossoni e Bolesina (2014) trazem a aplicação da Teoria dos Círculos 
Concêntricos às garantias fundamentais referentes aos direitos a vida privada do indivíduo. 
Como parte do conjunto de direitos essenciais, as garantias individuais constituem bases a 
dignidade da pessoa humana no âmbito normativo brasileiro. A teoria propriamente dita se 
baseia na ideia da existência de 3 círculos concêntricos, estando um dentro do outro. Sendo 
divididas as esferas dentro da vida privada do ser humano, respectivamente na privacidade ou 
privada (esfera externa), intimidade ou da confidencia (esfera intermediária) e segredo (esfera 
interna). 
Seguindo o pensamento de Rossoni e Bolesina (2014), na referida teoria a camada 
mais externa da esfera onde ocorrem as relações interpessoais, sendo estas superficiais é uma 
situação de convivência dos indivíduos da sociedade, sendo terceiros excluídos por não terem 
relações mais próximas. Nesta esfera é onde algumas relações são relevantes para a 
comunidade, portanto desta maneira há interesse público. O acesso a vida privada não perde a 
condição de íntimo, nem de privacidade pelo fato do conhecimento de alguns acontecimentos, 
desta forma, o acesso público é restrito, salvo quando os fatos ensejarem na ocorrência do 
interesse público. À título de exemplificação, é nesta esfera que ocorre a quebra de sigilo 
telefônico, ou seja, uma relação que envolve indivíduos de maneira superficial. 
Ainda nesta esteira, para Rossoni e Bolesina (2014) a camada intermediária, por 
outro lado trata da intimidade do indivíduo, se desdobra nas informações pessoais e 
confidenciais compartilhadas com familiares, amigos próximos ou por força da profissão, esta 
esfera é onde pode-se identificar o sigilo familiar e profissional. Destina-se a proteger as 
relações com sigilo mais profundo que a referente a esfera externa, trata de informações mais 
restritas sobre os indivíduos. O que difere a esfera externa da intermediária são os critérios 
subjetivos, portanto, deverá analisar a abrangência do conteúdo se implica na intimidade ou se 
o fato é notoriamente público. 
21 
Rossoni e Bolesina (2014) deste modo concluem que, deve-se analisar a camada 
mais profunda da Teoria dos Círculos, a interna trata das relações mais intimas do ser 
humano, usualmente não compartilhadas de maneira ampla com os demais. Portanto, quanto 
mais profunda a relação de interferência na vida intima da pessoa por parte de terceiros, maior 
é a desconsideração ao direito de intimidade do indivíduo e consequentemente maior o dano 
causado pela parte envolvida. 
Frota (2006) aduz que a Teoria dos Círculos Concêntricos tem papel de mediador 
entre o princípio da supremacia do interesse público e da dignidade da pessoa humana, de 
forma que há a mitigação da supremacia do interesse público, visando resguardar o direito à 
vida privada do indivíduo. Destarte assevera: 
 
O círculo da vida privada em sentindo estrito é suscetível à indagação 
probatória pelas CPI’s, mas se preserva o direito à intimidade do 
investigado. Ao se abrir o círculo da vida privada em sentido estrito à 
instrução probatória das CPI’s, permite-se a elas, por autoridade própria, sem 
prévia autorização judicial, descerrarem o sigilo patrimonial (v.g., os sigilos 
fiscal, financeiro - mormente bancário – e empresarial, a exemplo do 
tradicional sigilo da escrituração comercial) e o sigilo de dados e registros 
das comunicações (e.g., sigilo de dados e registros telefônicos). Todavia, 
estando as CPI’s impedidas de descobrirem o manto protetor da intimidade, 
descabe a elas desnovelarem, por iniciativa própria, quer o sigilo familiar, 
profissional e domiciliar, quer o sigilo do conteúdo das comunicações. 
(FROTA, 2006. p.243). 
 
Através do exposto, pode-se concluir que para que as CPI’s possam praticar seus 
atos investigativos, deve-se sempre observar as garantias fundamentais demonstradas pelo 
complexo normativo nacional. No que se refere à forma de identificar até onde podem ir os 
poderes de investigação das comissões, sempre deverá ser observado o princípio do interesse 
público sobre o particular, tendo como motivação a elucidação de fatos de interesse da 
coletividade, desde que não usurpem o círculo íntimo do indivíduo. 
 
2.2 Dados pessoais, sigilo bancário, fiscal e telefônico 
 
De acordo com Lamy (2009), os poderes de investigação atribuídos às CPI’s 
devem observar a intimidade, a vida privada, a imagem e as garantias individuais prescritas na 
CRFB/88. Deste modo, o procedimento adotado para o prosseguimento das CPI’s é o contido 
na norma processual penal, que é aplicado salvaguardando estes direitos mencionados. 
22 
Para Barroso (2008), as determinações proferidas nas comissões parlamentares 
tem natureza imperativa, ou seja, impõem um dever de obedecer, podendo utilizar de meios 
coercitivos quando forem necessários. Estes meios coercitivos serão determinados mediante 
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Sendo assim, as comissões não podem requerer 
de ofício estas medidas, visto que de acordo com a lei 1.579/52, os atos desta natureza estarão 
sujeitos a apreciação do poder judiciário. Por outro lado, as CPI’s podem determinar, 
mediante fundamentação, mas, sem necessidade de intervenção judicial, o acesso a dados 
inferidos de sigilo fiscal, bancário ou telefônico. Entretanto, terão de submeter-se à votação 
do plenário constituinte da CPI e deverão observar os princípios da razoabilidade e 
proporcionalidade.O Ministro Celso de Mello, relator no Mandado de Segurança MS-23.639 de 
2001, alega: 
 
A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de qualquer pessoa sujeita a 
investigação legislativa pode ser legitimamente decretada pela Comissão 
Parlamentar de Inquérito, desde que esse órgão estatal o faça mediante 
deliberação adequadamente fundamentada e na qual indique a necessidade 
objetiva da adoção dessa medida extraordinária. (BRASIL, 2001). 
 
Aguiar (2008) afirma que para se tornar possível a quebra do sigilo bancário, 
fiscal e telefônico, deve haver uma fundamentação razoável que justifique o pedido. O 
princípio constitucional da motivação, fortalece a ideia de que o ato praticado pela CPI, é 
dotado de legitimidade, e através da forma prescrita nas normas processuais penais, se tornará 
possível a determinação, por convicção própria e sem acionar o judiciário, pois o interesse 
público, que é a elucidação dos fatos, sobrepõe o interesse do particular. 
Ainda, segundo Aguiar (2008), o direito à privacidade é de critério subjetivo e 
inerente a pessoa humana, pois trata da integridade moral e pessoal do indivíduo. Porém, esta 
prerrogativa não é absoluta, como todas as garantias previstas na CRFB/88, visto que, o 
princípio da primazia do interesse público sobre o privado, torna relativo, tudo que 
sobreponha o bem-estar da coletividade. Deste modo, desde que obedeça os requisitos e 
critérios legais, as CPI’s agirão de maneira legítima. 
Como relator no Mandado de Segurança MS-23.452 de 2000, o Ministro Celso de 
Mello, salienta que: 
 
O sigilo bancário, o sigilo fiscal e o sigilo telefônico (sigilo este que incide 
sobre os dados/registros telefônicos e que não se identifica com a 
23 
inviolabilidade das comunicações telefônicas) - ainda que representem 
projeções específicas do direito à intimidade, fundado no art. 5º, X, da Carta 
Política - não se revelam oponíveis, em nosso sistema jurídico, às Comissões 
Parlamentares de Inquérito, eis que o ato que lhes decreta a quebra traduz 
natural derivação dos poderes de investigação que foram conferidos, pela 
própria Constituição da República, aos órgãos de investigação parlamentar. 
As Comissões Parlamentares de Inquérito, no entanto, para decretarem, 
legitimamente, por autoridade própria, a quebra do sigilo bancário, do sigilo 
fiscal e/ou do sigilo telefônico, relativamente a pessoas por elas investigadas, 
devem demonstrar, a partir de meros indícios, a existência concreta de causa 
provável que legitime a medida excepcional (ruptura da esfera de intimidade 
de quem se acha sob investigação), justificando a necessidade de sua 
efetivação no procedimento de ampla investigação dos fatos determinados 
que deram causa à instauração do inquérito parlamentar, sem prejuízo de 
ulterior controle jurisdicional dos atos em referência (CF, art. 5º, XXXV). - 
As deliberações de qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito, à 
semelhança do que também ocorre com as decisões judiciais (RTJ 140/514), 
quando destituídas de motivação, mostram-se írritas e despojadas de eficácia 
jurídica, pois nenhuma medida restritiva de direitos pode ser adotada pelo 
Poder Público, sem que o ato que a decreta seja adequadamente 
fundamentado pela autoridade estatal. (BRASIL, 2000). 
 
Carvalho (2008) trata da intervenção sobre dados bancários da seguinte forma: 
 
A prerrogativa conferida às Comissões Parlamentares de Inquérito para a 
obtenção, junto às instituições financeiras, de informações, envolve o 
denominado sigilo bancário. Dispõem os §§1° e 2° do artigo 4° da Lei 
Complementar n. 105/2001, que as Comissões Parlamentares de Inquérito, 
no exercício de sua competência constitucional e legal de ampla 
investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de que 
necessitarem, diretamente das instituições financeiras ou por intermédio do 
Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários. As 
solicitações deverão ser previamente aprovadas pelo Plenário da Comissão 
Parlamentar de Inquérito, no exercício de sua competência constitucional e 
legal de ampla investigação, a obtenção das informações que necessitarem, 
cujos pedidos deverão ser aprovados pela maioria absoluta dos membros das 
Comissões. (CARVALHO, 2008. p.982). 
 
De acordo com Magalhães (2013), a quebra do sigilo fiscal, visa identificar 
através de qualquer movimentação financeira que não tenha sido declarada a Receita Federal, 
ilícitos que tenham relação direta com os fatos motivadores do Inquérito Parlamentar. A 
quebra do sigilo telefônico, se refere a qualquer registro pretérito referente a ligações 
telefônicas já realizadas pelos inquiridos, não trata de interceptações de ligações telefônicas. 
A quebra do sigilo telefônico visa somente a arrecadação de dados e históricos de ligações 
realizadas, portanto não se refere a monitoramento de ligações realizadas ou de comunicações 
feitas através de computadores, rádios ou qualquer outro dispositivo de comunicação 
eletrônico relacionado a informática pelos investigados. 
24 
Segundo Marcondes e Costa (2012), as CPI’s poderão determinar a quebra de 
sigilo bancário, fiscal e telefônico, daqueles envolvidos no inquérito parlamentar. De acordo 
com o art. 5º, X da CRFB/88, não se encontra descrita a necessidade de ordem judicial para 
que aconteça ruptura de sigilo, deste modo, as comissões podem determinar, por autoridade 
própria os dados necessários. Porém, deverão seguir um breve procedimento para a 
concretização desse ato. Devendo fundamentar o seu ato, individualizando-o ao inquirido 
daquele momento, ainda, terão que submeter-se a uma decisão colegiada do plenário presente, 
não podendo o presidente do inquérito, o relator ou qualquer outro parlamentar, determinar o 
ato, sem que todos os membros da comissão, estejam de acordo com a medida. Por fim, 
deverá ser observado pelo parlamento, o princípio da proporcionalidade e o princípio da 
razoabilidade, visto que a quebra do sigilo, deve ser uma ação em resposta aos indícios e 
evidências de fato irregular que se tornará provável, mediante a quebra do sigilo, seja ele 
fiscal, bancário ou telefônico. 
Assim como a quebra de sigilo de dados e de comunicações, segundo Soares 
(1999), a busca e apreensão, domiciliar, poderá ser solicitada pela CPI, porém, está deverá ser 
direcionada ao poder judiciário, que definirá se há ou não a possibilidade da medida, 
analisando pelos critérios da razoabilidade e do interesse público. O ato que é praticado pela 
CPI, de ofício, sem submeter o pedido a análise do STF, vai de contramão ao princípio da 
reserva de jurisdição, visto que a CRFB/88 - no seu art. 5º, XI – determina que somente possa 
ser violado o domicílio, mediante decisão judicial prévia. Deste modo, o ato praticado sem a 
observância do devido processo legal, abre precedente a Mandado de Segurança, quando 
referido a busca e apreensão de bens e coisas, e Habeas Corpus, quando o mandado versar 
sobre a busca de pessoas. 
Semelhante aos critérios abordados anteriormente, Barroso (2008) afirma que, os 
atos da CPI, referente à possibilidade de cerrar garantias individuais, previstas na CRFB/88, 
deverão ser submetidos a análise do poder judiciário. Este utilizará dos remédios 
constitucionais do Habeas Corpus e Mandado de Segurança, para garantir os direitos 
inerentes ao cidadão. 
Mediante o exposto, se conclui que às CPI’s tem claramente a prerrogativa de 
poder solicitar a quebra de sigilo, fiscal, bancário e telemático-telefônico, desde que através 
de decisão motivada e votada pelo crivo dos parlamentares integrantes do inquérito 
parlamentar. Deste modo, se identifica que, quando se trata de ordem dada pelas CPI’s, deve-
se observar o princípioda razoabilidade e primazia do interesse público sobre o particular, 
pois sempre que for indispensável às comissões que sejam colhidos dados pessoais do 
25 
indivíduo para poder elucidar fatos investigados, estes serão legítimos, segundo o 
entendimento pacífico e indiscutível do STF. 
 
2.3 Garantia de não autoincriminação e a presunção de inocência (princípio do nemo 
tenetur se detegere) 
 
Segundo Gois, Scola e Amaral (2008) é assegurado ao indiciado e as testemunhas 
envolvidas no inquérito parlamentar, a possibilidade de permanecer em silêncio quando 
inquirido nas CPI’s. Esse fato assegura o princípio da não autoincriminação, garantindo que o 
inquirido não tenha o seu silêncio usado em seu desfavor, não seja preso em flagrante pelo 
argumento do crime de desobediência ou por crime de falso testemunho. Qualquer violação 
arbitrária a estas garantias anteriormente referidas torna plausível a possibilidade de que seja 
impetrado mandado de segurança ou habeas corpus, com o objetivo de endossar os direitos 
vilipendiados. 
Nesta linha,: 
 
O direito ao silêncio é consequência do consagrado princípio doutrinário do 
nemo tenetur se detegere, isto é, ninguém pode ser obrigado a se auto 
incriminar. O princípio do nemo tenetur se detegere, conhecido no direito 
anglo-saxão como privilege against self-incrimination, tem sido considerado 
direito fundamental do cidadão. O direito à não autoincriminação é proteção 
do indivíduo contra excessos por parte do Estado que possam obrigá-lo a 
ajudar nas investigações de delito praticado pelo próprio indivíduo. Deste 
modo, é parte do princípio da dignidade humana. [...] O princípio da 
presunção de inocência, que configura garantia fundamental do cidadão, 
determina que a prova da culpabilidade incumbe exclusivamente à acusação. 
Justifica-se esta garantia porque o Estado que, normalmente, atua nos 
processos criminais como acusador é dotado de instrumental abrangente – 
pessoal, estrutura, equipamentos, etc. – que acaba reunindo os elementos 
necessários a fundamentar as acusações que pretende ver acolhidas pelas 
autoridades julgadoras. (BALERA. 2006, p.03-04) 
 
Mendes e Branco (2011) aduzem que através de entendimento consolidado do 
STF, o silêncio em relação a fatos que possam constituir autoincriminação é plenamente 
aplicado à depoimentos prestados nas CPI’s, portanto a invocação do instituto mencionado, 
não pode dar ensejo a ameaça ou a decretação de prisão por parte da autoridade do Estado. 
Também é necessário salientar que a referida interpretação é possivelmente aplicada quanto à 
escolha de uma posição por parte do depoente. Portanto, se o mesmo optar por uma 
26 
intervenção ativa inicialmente, não poderá invocar o direito ao silêncio para se eximir de 
responder questionamentos similares ou conexos aos que anteriormente já tenha respondido. 
Desta forma, 
 
O princípio nemo tenetur se detegere tem sido considerado direito 
fundamental do cidadão.[...] Cuida-se do direito à não autoincriminação, que 
assegura esfera de liberdade ao indivíduo, oponível ao Estado, que não se 
resume ao direito ao silêncio. Parece acertado referido entendimento, de 
acordo com as notas características dos direitos fundamentais. Nelas se dá 
ênfase à proteção do indivíduo contra excessos e abusos por parte do Estado. 
Em suma: é resguardada, nos direitos fundamentais, a dignidade humana, 
sendo que ganha relevo a esfera atinente às ingerências do Estado. Nessa 
ótica, o princípio nemo tenetur se detegere, como direito fundamental, 
objetiva proteger o indivíduo contra excessos cometidos pelo Estado, na 
persecução penal, incluindo-se nele o resguardo contra violências físicas e 
morais, empregadas para compelir o indivíduo a cooperar na investigação e 
apuração de delitos, bem como contra métodos proibidos no interrogatório, 
sugestões e dissimulações. (QUEIJO. 2003, p.54) 
 
Soares (2014) aduz que qualquer pessoa pode ser intimada como testemunha para 
dar esclarecimentos nas CPI's, sempre prestando compromisso legal em dizer a verdade do 
que lhe for perguntado. O procedimento para a oitiva, segue o disposto pelo CPP, no artigo 
203. A testemunha não pode se negar a comparecer injustificadamente ao plenário quando a 
mesma for intimada a prestar esclarecimentos, ficará sujeita a ordem de condução coercitiva 
mediante solicitação de força policial pela comissão e poderá responder penalmente pelo 
crime do art. 330 do CP (desobediência), caso deixe de estar presente à sessão. O depoente é 
obrigado a prestar esclarecimentos sobre fatos que podem futuramente serem usados contra si, 
podendo dessa forma, deixar de responder qualquer pergunta que lhe for direcionada, sem que 
isto lhe acarrete nenhum prejuízo legal. Não se deve confundir a possibilidade de não falar 
com o direito de mentir, visto que a testemunha se encontra compromissada e por este motivo, 
quando resolve se pronunciar e prestar os esclarecimentos acerca dos fatos, não poderá 
fabular sobre os acontecimentos que a ele são indagados. 
Para Alves (2015), a garantia da não autoincriminação nada mais é que um 
princípio constitucional implícito, este decorre dos princípios expressos da presunção de 
inocência (art. 5º, LVII/CRFB), ampla defesa (art. 5º, LV/CRFB) e direito ao silêncio (art. 5º, 
LXIII/CRFB), além disso, é princípio descrito no art. 8º do Pacto de São José da Costa Rica 
que é acolhido pelo sistema normativo brasileiro. 
Nesta linha, 
 
27 
A imunidade à autoacusação significa que ninguém está obrigado a produzir 
prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere). Trata-se de decorrência 
natural da conjugação dos princípios constitucionais da presunção de 
inocência (art. 5°, LVII) e da ampla defesa (art. 5.°, LV) com o direito 
humano fundamental que permite ao réu manter-se calado (art. 5.°, LXIII). 
Se o indivíduo é inocente, até que seja provada sua culpa, possuindo o 
direito de produzir amplamente prova em seu favor, bem como se pode 
permanecer em silêncio sem qualquer tipo de prejuízo à sua situação 
processual, é mais do que óbvio não estar obrigado, em hipótese alguma, a 
produzir prova contra si mesmo. (NUCCI, 2014. p.81) 
 
Segundo Carazai (2014) o silêncio é uma garantia constitucional inerente a 
qualquer pessoa, que assegura o poder de não se manifestar sobre fatos ou evidências que 
podem futuramente, mediante uma investigação criminal ou administrativa, acarretar em 
provas que possam gerar prejuízos futuros aos seus interesses pessoais. O silêncio do 
investigado deve ser interpretado como autodefesa processual, por este motivo, não pode 
sofrer nenhuma sanção pelo fato de não se manifestar acerca de fatos que a ele são imputados, 
pois estará exercendo uma das vertentes da ampla defesa. 
Para Carollo (2013), o princípio do nemo tenetur se detegere é considerado direito 
de defesa, fundamental do cidadão, pois assegura a não autoincriminação do indivíduo no que 
se refere a qualquer investigação imposta pelo estado contra sua pessoa. O princípio em 
análise, tem como principal objetivo, proteger o cidadão do poder arbitrário do Estado, em 
monopólio da persecução penal. Mesmo estando implicitamente presente no direito brasileiro 
desde a CRFB/88, intrínseco aos princípios da ampla defesa, presunção de inocência e devido 
processo legal, o princípio do nemo tenetur se detegere foi acolhido pelo ordenamento 
jurídico brasileiro através da retificação dos pactos de São José da Costa Rica, reconhecidos 
pelos decretos 592 e 678 de 1992. 
Partindo do pressuposto de que uma norma jurídica não pode impedir o 
comportamento natural do ser humano de se defender e não se auto incriminar, o ordenamento 
jurídico permite que, como formade autodefesa, o acusado ou indiciado não colabore com a 
investigação judicial, através da não produção de provas. Esse argumento, leva toda a carga 
probatória dos fatos, para a mão do Estado, sendo ela neste caso através do poder legislativo. 
Entretanto, o indiciado pode se omitir a produção de provas, silenciando-se, mas não pode 
realizar atos que tenham como objetivo dificultar ou atrapalhar a apuração dos fatos referentes 
às investigações. 
28 
CAPÍTULO III 
 
 
EFEITOS JURÍDICO-PENAIS DAS CPI’S 
 
 
3.1 Relatório Final e conclusão das CPI’s 
 
Como descreve o Regimento Interno do Senado Federal compete ao Relator da 
CPI, após o término dos trabalhos de investigações, encaminhar um relatório completo dos 
fatos expostos durante a instrução do inquérito ao Presidente da investigação parlamentar. 
Após isto, o mesmo deverá submeter o relatório a apreciação de todos os parlamentares que 
foram inscritos por seus partidos como integrantes do comitê investigador, para que estes 
possam se manifestar posteriormente, se entenderem que houve divergência do que foi 
narrado com o que foi realmente apurado nas investigações. Logo em seguida, o relatório é 
submetido a votação pelos membros da comissão, sendo necessária a aprovação da maioria 
absoluta dos membros. Os votos negativos, serão feitos por escrito e de maneira 
fundamentada, pois é neste momento que os parlamentares poderão se manifestar sobre os 
fatos aludidos. Posteriormente a manifestação por votos negativos o relator analisará os fatos 
alegados, podendo ou não reformular o seu parecer. Concluído o trabalho, será remetido ao 
Congresso, para ser votado pelas respectivas Casas Legislativas a possibilidade dos autos do 
inquérito serem remetidos ao Ministério Público, que utilizará dos fatos ali presentes para 
denunciar ou não os envolvidos na investigação. (BRASIL, 2004). 
Gois, Scola e Amaral (2008) ensinam que, apesar da forma de investigar do Poder 
Legislativo ser semelhante ao do Poder Judiciário, as CPI’s não podem julgar ou condenar. 
Quando encerrados os trabalhos referente a persecução legislativa, o relator da comissão deve 
elaborar um relatório onde descreverá minuciosamente, todos os fatos debatidos através das 
diversas reuniões procedidas no curso da investigação, poderá indicar formas de oprimir as 
condutas delituosas identificadas através das CPI’s, bem como expor projetos de lei dos quais 
versem sobre o tema e possam ajudar os entes da federação desmantelar esquemas que 
facilitem as infrações. Após a elaboração do documento, este será submetido ao crivo dos 
parlamentares integrantes da CPI, sendo aprovado, seguirá para o Congresso Nacional, onde 
as casas irão votar pela apresentação ou não perante o Ministério Público, dos fatos 
levantados através da investigação. 
29 
Bulos (2001) salienta que após concluir as suas investigações, deverão as CPI’s 
encaminhar ao Ministério Público os elementos para a responsabilização dos indiciados, 
sendo ou criminalmente. Vale ressaltar, conforme dispõe a lei 10.001/00, que somente após a 
finalização dos trabalhos, estando com a conclusão em mãos, caberá pedido de providências 
ao Ministério Público. Assim, percebe-se que a iniciativa passa a ser do MP, somente após o 
relatório final das investigações, assim, não cabendo apuração de responsabilidade por parte 
do referido órgão ministerial de forma pretérita a disponibilização das informações pelo 
legislativo. 
Bulos (2004. p.561) conclui que: 
 
Essa exigência do art. 58, §3º, inexistia nas nossas constituições anteriores. 
Trata-se de uma novidade importante. Por meio dela, evita-se que o 
Ministério Público faça as vezes do Parlamento, algo que não teria sentido 
num Estado de Direito Democrático, em que o Parquet constitui uma 
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, da democracia e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis. 
 
Afirma Schier (2002) que os pareceres finais das CPI’s poderão ser encaminhados 
ao Ministério Público, pois em vista da autonomia funcional do referido órgão, não haverá por 
parte desse de aproveitar-se das provas produzidas pela persecução parlamentar nem mesmo 
se encontrará vinculado o parquet às conclusões expostas pelos parlamentares. Pelo fato de 
em determinadas vezes, as provas colhidas apresentadas nas CPI’s não serem submetidas 
estritamente aos princípios da legalidade e devido processo legal, podem e devem ser 
colocadas à crivo e serem repetidas no decorrer do processo penal ou civil, sob pena de serem 
imprestáveis ou ilícitas. 
Tendo demonstrado o procedimento referente à conclusão das CPI’s, deve-se 
analisar os relatórios finais das investigações, com o objetivo de ilustrar como é concluído o 
trabalho de persecução do inquérito parlamentar. 
Em análise ao relatório final da CPI da Pirataria, aprovado pelo Congresso em 
2004, foi possível identificar a complexidade dos temas tratados pelas investigações 
parlamentares. No referido relatório demonstrou-se que, logo com o início das investigações 
pormenorizadamente a amplitude do problema que seria tratado pelo parlamento. Ficou 
demonstrado que a pirataria havia se tornado um fenômeno cultural que vinha sendo 
disseminada no Brasil, desde o início dos anos 90. A pirataria estaria sendo responsável por 
um grande rombo na economia nacional, pois as mercadorias que vinham de outros países, 
30 
sendo por navios como pelas fronteiras internas do continente, tinham um preço que não 
competia igualmente com a mercadoria legal, fruto da indústria e comercio nacional. 
(BRASIL, 2004). 
Seguindo à dissecção da CPI da Pirataria (BRASIL, 2004), pode-se observar que 
além do objetivo de desmantelar as organizações criminosas que estavam por trás da estrutura 
montada para propiciar terra fértil para a pirataria no país, a referida investigação tinha como 
um dos seus principais objetivos, identificar maneiras nos quais os entes membros da 
federação pudessem cooperar entre si, visando criar uma cadeia de ações que tornassem 
possível a opressão da cultura da pirataria fundamentalmente incluída na realidade do povo 
brasileiro. Assim, a CPI expediu uma série de indicações para diversos órgãos tanto do poder 
executivo, legislativo e judiciário, no qual utilizou do conhecimento adquirido com a 
persecução parlamentar para montar esquemas visando erradicar essa cultura inóspita da 
ordem social brasileira. Conclui o relator Medeiros que: 
 
Não há dúvida de que, além de ilegal, a pirataria se tornou um fenômeno 
cultura que demandará ações além ou aquém da necessária formulação das 
leis, ou de sua reformulação com vistas ao alcance dos objetivos a que se 
propõe o Parlamento Nacional através de seus membros. (BRASIL, 2004, 
p.275) 
 
Visando concluir a ilustração de como se processa os relatórios finais das CPI’s, 
basta-nos analisar o relatório final da CPI dos Correios. 
Através de pesquisa realizada nos relatórios conclusivos da CPI dos Correios 
(BRASIL, 2006), aprovados pelo Congresso Nacional no ano de 2006, tornou-se a observar a 
diversidade de atos que podem ser praticados pelas CPI’s quando no intuito de elucidar os 
fatos inerentes às suas investigações. Como também pode ser identificado no relatório da CPI 
da Pirataria, a CPI dos Correios, em seu texto conclusivo, demonstrou como foi possível 
identificar e desmistificar um aparato voltado para a prática de atos que lesavam o povo e a 
administração pública. O início da persecução se deu com o intuito de explanar os atos ilegais 
praticados pela administração pública realizados mediante o aparato da ECT (Empresa de 
Correios e Telégrafos). Contudo,a utilização da ECT era apenas o início de um grande 
esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, nos quais envolviam deputados, senadores, 
empresas, entidades, instituições e membros do alto escalão do governo federal, envolvidos 
em uma estrutura viciada e montada para propiciar a prática da corrupção. 
Seguindo a análise dos relatórios da CPI dos Correios (BRASIL, 2006), é possível 
identificar que além do intuito de desmontar uma organização criminosa enraizada no 
31 
governo na administração de 2002 em diante, a CPI teve como uma das suas finalidades, 
assim como a CPI da Pirataria, identificar fraquezas e criar meios nos quais fosse possível o 
combate à corrupção intrinsecamente ligada ao governo. Deste modo, o relator trouxe na sua 
conclusão uma série de sugestões que foram debatidas pelos parlamentares durante todo o 
período das investigações, guardando lugar de destaque os projetos de criação de um Sistema 
Nacional de Combate à Corrupção (SNCC) e a criação de uma Comissão Permanente Mista 
de Combate à Corrupção, dentre outros demais projetos de lei que versavam sobre a reforma 
política necessária para que houvesse um efetivo obstáculo à corrupção no Brasil. Assim, o 
relator dos trabalhos, o Deputado Osmar Serraglio menciona que: 
 
O governo deve reavaliar os mecanismos existentes e estabelecer novos 
padrões de controle e transparência. Deve ser promovido o acesso do público 
às informações de forma mais ampla, fácil e rápida. O Poder Judiciário e o 
Ministério Público precisam ser fortalecidos, priorizando-se sua 
independência e integridade. O Executivo deve ser transparente e voltado 
para resultados. O Poder Legislativo, na qualidade de representante do povo, 
deve incrementar uma de suas atribuições institucionais e mais importantes, 
dentre aquelas constitucionalmente estabelecidas: fiscalizar e controlar os 
atos do Poder Executivo. (BRASIL, 2006. p.1708). 
 
É possível identificar que, como descreve o Regimento Interno do Senado 
Federal, após a conclusão dos trabalhos das CPI’s, será elaborado pelo relator dos trabalhos, 
um relatório final que descreverá todas as minúcias da investigação realizada pela Comissão 
em análise. Assim, logo que concluído o relatório, esse será remetido ao Congresso Nacional, 
para que seja discutido e votado pelos Deputados e Senadores, onde, se aprovado será enviado 
para o órgão competente, o Ministério Público, para que seja proposta acusação dos 
investigados, visando a futura apuração de responsabilidade destes por meio de processo 
submetido aos princípios processuais inerentes ao ordenamento jurídico brasileiro. 
Além de servir como pontapé investigativo para o Ministério Público, as CPI’s 
têm um papel de significativa importância, pois, por fruto de debate incessante, característica 
marcante das investigações parlamentares, são identificadas também maneiras de prevenir e 
dificultar a prática dos atos observados nas investigações. Deste modo, às Comissões tem 
prerrogativa, gozando da sua natureza fiscalizatória, de emitir pareceres e indicações aos 
demais entes da federação, visando orientar os mesmos a adequarem seus atos com o intuito 
de oprimir as condutas identificadas através da persecução legislativa. 
 
3.2 A aplicabilidade de habeas corpus e mandado de segurança às CPI’s 
32 
 
A CRFB/88 no seu art. 5º, LXVIII, determina que será concebido habeas corpus 
sempre que alguém sofrer ameaça ou se achar ameaçado de sofrer qualquer tipo de violência 
ou coação, em desfavor da sua liberdade de locomoção, por fato de ilegalidade ou abuso de 
poder. (BRASIL, 1988). 
Para Lenza (2012) o instituto do habeas corpus teve origem na Inglaterra 
Medieval, diretamente, na Carta Magna de 1215, reincidindo depois no Bill of Rights de 1689, 
e também no Habeas Corpus Amendment Act de 1679, durante o período do reinado de Carlos 
II, como meio eficaz para a liberação de pessoas presas ilegalmente. Impetrado por meio do 
writ of habeas corpus, o indivíduo que estivesse sob restrição a sua liberdade, teria a 
possibilidade de pedir ao juiz a expedição de uma ordem que fosse constatado a ilegitimidade 
da prisão equivocada. Nota-se que neste período o remédio constitucional tratava somente de 
fatos decorrentes de crime. Em 1816 foi proclamado um Habeas Corpus Act, que ampliou o 
anterior abrangendo qualquer ofensa à liberdade da pessoa mesmo que está não tenha sido 
acusada de crime. O habeas corpus foi aderido pela Constituição dos Estados Unidos da 
América através da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1789. 
Segundo Carvalho (2008), no Brasil o habeas corpus não era previsto na 
Constituição do Império de 1824, somente foi instituído ao ordenamento jurídico brasileiro no 
ano de 1891 através da Constituição Republicana, entretanto o instituto era expressamente 
tipificado no Código de Processo Criminal de 1832. A Constituição Republicana de 1891 não 
trazia outra garantia que tratasse os demais direitos e liberdades contra ilegalidade ou abuso 
de poder, deste modo decorreu o entendimento de que o remédio constitucional poderia ser 
utilizado para restabelecer qualquer lesão a liberdade ou direito. Por este fato, o Supremo 
Tribunal Federal (STF), a partir de 1910, entendeu que a garantia imposta pela Constituição 
de 1891 tinha aptidão para tutelar não apenas à liberdade de locomoção, mas também os 
exercícios de funções eletivas, direitos políticos, as imunidades parlamentares, a liberdade de 
exercício da profissão, a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa, dentre outras várias 
garantias fundamentais. A reforma da Constituição Republicana em 1926 restringiu o instituto 
a tutelar somente fatos que incorriam sobre os direitos de locomoção do indivíduo, deste 
modo, abandonando a abrangência genérica imposta pela Constituição Republicana em 1891. 
Assim, o instituto do habeas corpus ficou limitado a ter como objeto a tutela da liberdade de 
locomoção, ir, vir e permanecer, portanto sendo excluídos de sua proteção os direitos públicos 
subjetivos que tornaram-se amparados por outros remédios constitucionais. 
33 
Mendes e Branco (2014) o habeas corpus no ordenamento jurídico brasileiro é 
destinado a proteger o indivíduo contra qualquer medida do poder público que restrinja ou 
possa restringir, de maneira direta, sua liberdade de ir, vir e permanecer. Esse conceito de 
liberdade, deve ser analisado de forma ampla, devendo-se aplicar a medida a qualquer ato que 
possa afetar, ainda que de maneira indireta, as garantias ligadas a liberdade do indivíduo. Nos 
termos do art. 654, caput do CPP/41 terão titularidade para impetrar o referido remédio 
constitucional, qualquer pessoa sendo ou não advogado, em seu favor ou em favor de outrem, 
tal como pelo Ministério Público. Entende-se que: 
 
[...] Por sua natureza, cuida-se de ação sumaríssima, que, por isso, exige 
prova pré-constituída, o que impede a sua utilização para superar situação de 
fato controvertida ou que demande dilação probatória. A jurisprudência está 
pacificada no sentido de não ser possível, por meio da via processual estreita 
do habeas corpus, o revolvimento do conjunto fático-probatório do feito. 
(MENDES; BRANCO, 2014. p.426) 
 
Mossin (2009, p.57) informa que: 
 
[...] Desde que a restrição ou o perigo de restrição ao direito subjetivo de ir, 
vir e ficar resulte de ilegalidade ou abuso de poder, o writ of habeas corpus é 
o instrumento constitucional apto a remover a coação ou a sua ameaça. 
Logo, a Magna Carta, tendo em consideração sempre o insopitável desejo de 
liberdade individual, principalmente quando ilegalmente coarctado ou 
ameaçado de sê-lo por ilegalidade ou abuso de poder, a ela deu proteção 
maior e o fez, há de se deixar

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