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Noções de imunologia Livro didático

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NOÇÕES DE IMUNOLOGIA EM 
MEDICINA VETERINÁRIA – APOSTILA DE 
ENSINO BÁSICO PARA ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM 
MEDICINA VETERINÁRIA 
 
 
 
Silvia de Oliveira Hübner 
Professora de Imunologia da Faculdade de Veterinária da 
UFPel 
 
Colaboradores: 
Telmo Vidor 
Geferson Fischer 
 
CAPÍTULO 1 
 
CONCEITOS FUNDAMENTAIS 
 
RESPOSTA IMUNE INATA 
 
Os animais vivem em um ambiente repleto de agentes que 
procuram invadir e destruir suas células e tecidos. Ainda assim, o 
organismo animal se organiza de tal modo que, aparentemente 
sem esforço, permanece saudável. A maioria das infecções, 
quando ocorrem nos organismos saudáveis, é de curta duração, e 
quase nunca causam dano permanente. Isso se deve ao sistema 
imunológico dos indivíduos. A eliminação do agente agressor é 
essencial para a sobrevivência, e para isso, é utilizada uma grande 
variedade de estratégias. O objetivo da imunologia é estudar os 
diversos mecanismos de resposta do organismo na defesa contra 
os agentes invasores. 
 O termo imunidade refere-se a todos os mecanismos 
utilizados pelo organismo com ação protetora contra os agentes 
estranhos, sejam eles agentes infecciosos (bactérias, vírus, 
protozoários, fungos) ou não (químicos, pólen, drogas, alimentos, 
pêlos, por exemplo). As células e moléculas responsáveis pela 
imunidade constituem o sistema imunológico e a resposta após a 
introdução de substâncias estranhas chama-se resposta imune. 
Qualquer resposta imune envolve primariamente o 
reconhecimento do material estranho e, em segundo lugar, a 
elaboração de uma reação contra este, com a finalidade de 
eliminá-lo. O sistema imune reconhece alguns constituintes 
específicos, que diferem das moléculas presentes no próprio 
organismo. Esses componentes que são reconhecidos pelo sistema 
imune são chamados de antígenos (Ags). A presença do antígeno 
(Ag) estimula o desenvolvimento de uma resposta imune, mas essa 
resposta cessa uma vez que o ag seja eliminado. 
 
Imunidade ativa 
 Imunidade ativa é a imunidade que foi adquirida devido ao 
contato com o Ag estranho. A imunidade induzida por um 
processo de imunização é chamada de imunidade ativa porque os 
indivíduos possuem um papel ativo na resposta ao Ag. É o que 
acontece após uma infecção ou procedimentos de vacinação. 
 
Imunidade passiva 
 A imunidade também pode ser transferida de um animal 
para outro, transferindo-se células ou anticorpos de um animal 
imunizado ativamente, para outro (o animal que se deseja conferir 
proteção). Esta forma de imunidade é chamada de imunidade 
passiva. O receptor de tal imunidade torna-se imune a um 
determinado ag em particular, mesmo sem ter sido exposto a ele. 
A imunidade passiva é útil para conferir resistência rapidamente, 
mas a sua duração é por um período curto de tempo. Como 
exemplo, temos a imunidade transferida através do colostro. 
 
Resposta imune inata e adaptativa 
 A resposta imunológica pode ser didaticamente separada 
em dois tipos: inata (ou também denominada inespecífica) e 
adaptativa (ou específica ou ainda, adquirida). A resposta imune 
inata é aquela que está presente desde o nascimento e está 
rapidamente disponível para defender o organismo dos “invasores 
estranhos”. A resposta inata é a primeira linha de defesa a entrar 
em ação, não distingue um agente de outro, e funciona 
basicamente da mesma forma independente do tipo de Ag. Uma 
vez que utiliza sistemas de reconhecimento primitivos e 
inespecíficos, pode reconhecer uma grande variedade de 
produtos microbianos. A resposta imune adaptativa surgiu mais 
tarde em termos evolucionários, é mais especializada do que a 
inata, e está presente somente nos vertebrados. É um sistema de 
defesa que pode reconhecer com especificidade o invasor e que 
atua mais rapidamente e com mais eficiência a cada nova 
exposição ao mesmo Ag. As células responsáveis pela 
especificidade e memória imunológica são os leucócitos 
denominados de linfócitos T e B. A partir da ativação dos 
linfócitos são gerados linfócitos com mesma especificidade (e por 
isso capazes de reconhecerem o mesmo antígeno), mas com vida 
longa. Essas células são chamadas de linfócitos de memória e são 
elas as responsáveis pelo reconhecimento do antígeno quando ele 
penetrar novamente. 
 Considere que, embora o sistema imune inato e adaptativo 
seja estudado muitas vezes de modo separado, trabalham em 
conjunto, sobrepostos e interligados, ou seja, células e moléculas 
do sistema inato interagem na resposta imune com as células do 
sistema adaptativo (linfócitos) e seus produtos (citocinas ou 
anticorpos). 
 
 Considerações sobre a Resposta Imune Inata 
 
Constituintes 
 Fazem parte do sistema imune inato as barreiras físicas 
(superfícies corporais, tais como a pele, membranas mucosas), 
barreiras químicas (na pele e mucosas pH, ácidos secretados), 
substâncias solúveis (enzimas presente em superfícies e 
secreções, citocinas, proteínas do sistema complemento, 
proteínas de fase aguda) e ainda, algumas células (granulócitos, 
plaquetas, mastócitos, células dendríticas, células NK) que 
participam no reconhecimento, destruição e eliminação de 
material estranho que tenha ultrapassado as barreiras físicas e 
químicas. 
 A primeira e mais óbvia defesa contra as invasões, é a 
barreira física. A pele é muito eficiente, quando lesada pode 
permitir a entrada de diversos agentes patogênicos. A pele possui 
descamação contínua, pouca umidade e pH relativamente baixo, 
devido a presença de ácidos graxos. Além disso, possui uma flora 
bacteriana comensal residente que age excluindo outras bactérias 
e fungos. Se essa flora for perturbada, reduzem-se as suas 
propriedades protetoras e pode ocorrer invasão microbiana. 
Conseqüentemente, tendem a ocorrer infecções cutâneas em 
áreas, tais como a axila ou virilha, onde tanto o pH como a 
umidade são relativamente altos. De modo semelhante, os animais 
que são forçados a ficar em pé na água ou lama mostram um 
aumento na freqüência de infecções podais à medida que a pele se 
encharca, sua estrutura se desintegra e sua flora residente muda 
em resposta a alterações no ambiente local. Em outras 
superfícies corporais também existem defesas físicas e 
bioquímicas, que incluem, nas superfícies mucosas, o fluxo de 
muco no trato respiratório; as secreções, que continuamente 
limpam as mucosas, o pH estomacal, enzimas e sais biliares, o 
processo de auto-limpeza, como a tosse e o espirro (cílios que 
revestem a traquéia ajudam na remoção de substâncias 
estranhas), atos como vômito e diarréia referentes ao trato 
gastrintestinal; a enzima espermina no sêmen e a flora comensal 
existente na boca, intestino, e vagina, que compete 
eficientemente com muitos patógenos potenciais. No globo ocular, 
as lágrimas, além de fazerem uma “lavagem” contínua, são ricas 
em enzima lisozima, que veremos adiante. 
 Além disso, faz parte da resposta imune inata diversos 
fatores solúveis contidos no sangue, linfa e secreções que podem 
inativar ou matar microorganismos. É o caso das enzimas Dnase 
(degrada DNA), Rnase (degrada RNA) e lisozima (destrói parede 
celular bacteriana). Além disso, sob a influência de algumas 
proteínas (denominadas citocinas) secretadas principalmente 
pelos macrófagos (especialmente interleucina 6: IL-6), o fígado 
passa a sintetizar e secretar “Proteínas de fase aguda”. Essa 
resposta inicia rapidamente após invasão microbiana. Essas 
proteínas são assim chamadas porque o aparecimento está 
associado com infecções agudas e inflamação. São diversas 
proteínas, sendo a mais conhecida denominada de proteína Creativa (CRP). A CRP liga-se em alguns tipos de bactérias ativando 
o sistema complemento e favorecendo a fagocitose. 
 O organismo mantém sua temperatura regulada através 
de um centro termorregulador, localizado no hipotálamo anterior. 
Este centro que funciona como um termostato, ou seja, busca o 
equilíbrio entre produção e perda de calor, prioritariamente pela 
perda de calor, visa à manutenção estável da temperatura interna 
em torno de 37 ºC. Na febre, o termostato é reajustado sendo a 
termorregulação (“set point”) reajustado para um nível superior. 
Uma das respostas mais comuns à infecção é o desenvolvimento 
de febre. Interleucina 1 (IL-1), IL-6 e fator de necrose tumoral 
alfa (TNF) são citocinas que chegam ao centro regulador da 
temperatura no cérebro, e induzem ao aparecimento de febre e 
também de sono, letargia e perda do apetite. Essas citocinas 
aumentam a produção de prostaglandinas, as quais fazem com que 
o “termostato” aumente a temperatura. Em crianças 
geneticamente predispostas, com idade de seis meses a três 
anos, a febre pode desencadear convulsão. As convulsões febris 
não acarretam risco de lesão cerebral. A febre alta só pode 
causar lesão cerebral quando a temperatura ultrapassa 41,7 ºC, o 
que não ocorre na prática. A febre pode se associar a outros 
sintomas que causam desconforto: dor muscular, irritabilidade, 
mal-estar, astenia e anorexia, entre outros. A letargia observada 
reduz a demanda de energia, permitindo que a energia seja 
utilizada para defesa e reparo. A temperatura elevada parece 
contribuir na maturação de alguns tipos celulares (como, por 
exemplo, as células dendríticas). A infecção não é a única causa 
de febre. Ela pode ser resultante de uma inflamação, de um 
câncer ou de uma reação alérgica. 
 Também faz parte da resposta imune inata um conjunto 
de proteínas presentes no sangue, chamadas coletivamente de 
“proteínas do Sistema Complemento”. Tais proteínas podem ser 
ativadas na presença de certos constituintes de microorganismos 
(ativação pela via alternativa) e a ativação resulta numa cascata 
de reações que podem levar a destruição da membrana celular de 
bactérias, atração de células inflamatórias para o local, e podem 
revestir o microorganismo, facilitando sua captura por células 
especializadas, dentre outras funções que serão descritas em 
detalhes em outro capítulo. 
 As células que participam da resposta imune inata 
possuem pouca capacidade de diferenciação entre os antígenos, 
possuem vida curta e não podem se diferenciar em células de 
memória. Incluem as plaquetas, granulócitos (neutrófilos, 
eosinófilos, basófilos), monócitos/macrófagos, mastócitos, células 
“natural killer” (NK) e células dendríticas. 
 
Fagocitose 
 
 
 
 A maioria dos patógenos pode ser destruída por 
fagócitos, células conhecidas pela capacidade de fagocitose. 
Fagocitose é o fenômeno da ingestão e destruição de partículas 
estranhas, tais como bactérias, por células especializadas. Muitos 
microorganismos liberam substâncias que atraem células 
fagocíticas (substâncias quimiotáticas). Isso ocorre porque as 
células fagocíticas possuem receptores espalhados 
uniformemente pela superfície e movem-se em direção ao local 
onde estão presentes, em grandes concentrações, os fatores que 
se ligam aos seus receptores. Os fatores quimiotáticos mais 
importantes são peptídeos que começam com formil-metionina 
(presentes em bactéria, mas não em animais), quimocinas, C5a, e 
C3a (1% da atividade de C5a). C5 e C3 são umas das proteínas do 
sistema complemento. 
 A fagocitose pode ser aumentada por uma variedade de 
fatores que tornam a partícula estranha um alvo mais fácil. Esses 
fatores são conhecidos como opsoninas (do grego “condimentar”), 
e nada mais são que os anticorpos e algumas proteínas do sistema 
complemento. Após a ingestão, a partícula estranha é mantida no 
vacúolo fagocítico que se funde com lisossomos. Os lisossomos 
liberam suas poderosas enzimas que degradam a partícula 
englobada. As duas células mais importantes na habilidade em 
fagocitar são os polimorfonucleares (PMNs ou neutrófilos) e os 
da linhagem dos monócitos-macrófagos. Os macrófagos são 
chamados de células de Küpffer no fígado e de células microgliais 
no sistema nervoso central. 
 
 
 
 
Mecanimos citotóxicos após fagocitose 
 As células fagocitárias utilizam diversos mecanismos que 
levam à destruição da partícula “ingerida”. A destruição pode 
ocorrer devido à ação das enzimas presentes nos lisossomos. Os 
lisossomos contêm em torno de 40 a 50 enzimas hidrolíticas, 
incluindo a enzima lisozima, nucleases, proteinases, lipases, 
fosfatases, fosfolipases, glicosidases, e sulfatases. Juntas, elas 
podem degradar todas as principais classes de macromoléculas 
até pequenas moléculas, para que então sejam transportadas 
através das membranas. A ação da enzima lisozima, também 
presente em secreções corporais e no sangue, é muito importante 
na destruição dos peptidoglicanos presentes em parede celular 
bacteriana. 
 Provavelmente o mecanismo de destruição mais 
importante está relacionado a formação de metabólitos do 
oxigênio. Para se ter uma idéia, segundos após a ingestão de uma 
partícula estranha os neutrófilos aumentam o consumo de 
oxigênio em cerca de 100 vezes. Os produtos gerados são tóxicos. 
O O2 pode ser convertido em peróxido de hidrogênio (H2O2), 
capaz de matar muitas bactérias. O O2 também é convertido em 
um composto mais tóxico, quando a mieloperoxidase cataliza a 
reação entre peróxido de hidrogênio e Cl- (em PMNs, mas não em 
macrófagos), resultando na formação de ácido hipocloroso 
(HClO). O ácido hipocloroso é instável e por isso é usado 
comercialmente na forma de hipoclorito de sódio (NaClO) que 
pode ser obtido borbulhando gás cloro em uma solução aquosa de 
NaOH. Lembre que o hipoclorito é muito utilizado para prevenir 
crescimento bacteriano em piscinas. Além disso, o radical 
hidroxila (OH-), um oxidante muito potente, pode ser gerado a 
partir de H2O2 e O2-. Esses compostos rompem a integridade da 
membrana por oxidar lipídios e proteínas. 
 Outro composto muito eficiente na destruição de 
microorganismos é o óxido nítrico (NO), produzido por 
macrófagos ativados por citocinas. A síntese de NO se realiza 
por ação de uma enzima, a óxido nítrico sintetase (NOS) a partir 
do aminoácido L-arginina que produz NO e L-citrulina, 
necessitando da presença de dois cofatores, o oxigénio e o 
fosfato dinucleótido adenina nicotinamida (NADPH). NO é um 
capturador de Fe e outros metais. Quando liberado por 
macrófagos ativados, captura todo o metal disponível, resultando 
na paralização de enzimas envolvidas na síntese de DNA e em 
metabolismos vitais. O NO pode também atuar de várias outras 
formas como, por exemplo, desativando a ribonucleotídio 
redutase pela destruição do radical tirosila, essencial na sub-
unidade R2 da enzima. Existe também a possibilidade do NO 
ligar-se ao Fe dos grupos heme da hemoglobina e no citocromo a3 
da citocromo oxidase, resultando no bloqueio das funções destas 
proteínas. Em suma, o óxido nítrico liga-se a certas enzimas que 
estão envolvidas na respiração celular, impedindo-as de trabalhar 
adequadamente. O NO permite ao macrófago matar bactérias, 
fungos, protozoários e alguns helmintos 
 
A Resposta Inflamatória 
 
 Os sinais da inflamação foram descritos a cerca de 2000 
anos (tumor, rubor, calor, dor). O principal efeito da inflamação é 
de atrair elementos solúveis e células (particularmente 
neutrófilos) para fazerem a defesa da área lesada. Embora a 
inflamação seja dolorosa e possa causar destruiçãode tecido 
(especialmente se é intensa), é uma resposta necessária e 
geralmente eficaz. Inicialmente ocorre a migração dos 
neutrófilos pelo processo de diapedese através das células 
endoteliais, em resposta a fatores quimiotáticos produzidos no 
local do processo inflamatório (dentro de 30-60 minutos). Se a 
resposta persistir após esse ponto, dentro de 5-6 horas a área 
será infiltrada por monócitos e linfócitos. Os macrófagos 
suplementam a atividade fagocítica dos neutrófilos e, caso seja 
necessário, fazem a apresentação de antígenos para linfócitos. 
 Tudo começa com uma lesão tissular que ativa a cascata 
da coagulação e, com isso, o sistema de cininas (geram bradicidina 
e outras). As cininas causam contração das células endoteliais 
vasculares, aumentando a permeabilidade vascular, causam 
contração de músculo liso e fazem com que as células endoteliais 
comecem a expressarem moléculas de adesão de leucócitos. As 
cininas são potentes estimuladores das terminações nervosas e as 
principais responsáveis pela dor associada com a inflamação. No 
local também algumas proteínas originadas da fixação do sistema 
complemento (C3a and C5a) ligam-se em receptores sobre 
mastócitos, sinalizando a degranulação destes. Os grânulos 
contêm histamina, leucotrienos e heparina que contribuem 
aumentando a resposta inflamatória. Escape de fluido entre as 
células do endotélio vascular facilita a aproximação de leucócitos 
(principalmente neutrófilos) e eles ligam-se em receptores 
presentes nas células endoteliais (receptores são induzidos 
durante a resposta inflamatória). Normalmente leucócitos ficam 
longe de células endoteliais, porém proteínas produzidas durante 
a inflamação conhecidas como citocinas (nesse caso o fator de 
necrose tumoral/TNF, a interleucina 1/IL-1) e/ou endotoxinas 
(lipopolisacarideo/LPS) da parede de bactérias gram negativas 
induzem as células endoteliais a expressar selectinas que então 
se ligam a L-selectina presente sobre os leucócitos. Isso permite 
a movimentação dos leucócitos ao longo dos vasos (num espécie de 
rolamento). Há outras interações adicionais que reagem com 
integrinas sobre PMNs e ancoram as células na parede vascular. 
 
 
 Considerações sobre a resposta imune específica 
(adaptativa) 
 A resposta imune específica ocorre em colaboração com 
as células da resposta inata, tais como os macrófagos, os 
granulócitos, as células NK e as células dendríticas. Porém as 
células responsáveis pela especificidade dessa resposta são 
somente os linfócitos T e B, os quais uma vez sendo ativados, 
podem resultar na elaboração de uma resposta imune específica 
celular e/ou humoral. A resposta imune humoral é aquela mediada 
por anticorpos, os quais são produzidos por plasmócitos gerados a 
partir de linfócitos B ativados. A resposta imune celular é aquela 
em que o combate aos antígenos é realizado principalmente por 
células e não anticorpos. Diz-se que a resposta imune celular é 
mediada por linfócitos T. 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
 
CÉLULAS E ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNE 
 
 
Célula tronco 
totipotente
Célula tronco 
hematopoiética
Linhagem 
linfóide
Linfócito T 
citotóxico
Linfócito 
T auxiliar
Linfócito 
B
Linhagem 
Mielóide
Plasmócito
Granulócito-
Neutrófilo
Monócito
Megacariócito
plaquetas
Célula 
dendrítica
hemácias
Mastócito
NKMacrófago
 
 
 As células do sistema imune estão normalmente presentes 
na circulação sangüínea e linfática, nos órgãos linfóides, e em 
praticamente todos os tecidos. As células responsáveis pela 
especificidade da resposta imune são os linfócitos, porém, tanto a 
fase cognitiva quanto a fase efetora dependem de outras células, 
que funcionam como células acessórias, que auxiliam na indução de 
respostas imunes e na eliminação do agente agressor, mas não são 
específicas para os diferentes tipos de Ags. A maioria destas 
células está presentes no sangue, de onde podem migrar para 
locais onde há exposição ao Ag. Dependendo do tipo de ag um 
determinado tipo de células poderá ser mais importante que 
outra. 
Todas as células do sangue são derivadas de uma única 
célula, chamada célula tronco totipotente. Tais células se 
diferenciam em células tronco pluripotentes, e, sob estímulo 
adequado, originam as células tronco hematopoiéticas. Recebem o 
nome de hematopoiética por darem origem a todas as células 
sanguíneas, por meio de um processo conhecido como 
hematopoiese. As células tronco hematopoiéticas têm a 
capacidade de auto-renovar-se e de produzir eritrócitos, 
plaquetas e leucócitos. Os eritrócitos, as plaquetas e os 
leucócitos desenvolvem-se através de vias diferentes de divisão e 
diferenciação celular, denominadas linhagens. Há duas principais 
linhagens hematológicas: uma de células linfóides e uma de células 
mielóides. A linhagem linfóide origina linfócitos, a partir de uma 
célula precursora denominada progenitor linfóide. A 
diferenciação em linfócito T ou B depende do microambiente em 
que está localizada. Em mamíferos, linfócitos T (LT) se 
desenvolvem no timo e os linfócitos B (LB) desenvolvem-se no 
fígado fetal e medula óssea. Uma célula plasmática (ou também 
chamada de plasmócito) é uma célula derivada do LB, formadora 
de anticorpos. Células “naturalmente assassinas” ou “natural 
killer” (NK) também derivam de uma célula progenitora linfóide. 
As células da linhagem mielóide diferenciam-se em células 
coletivamente chamadas de “granulócitos” as quais são os 
eosinófilos, os neutrófilos e os basófilos, ou então diferenciam-se 
em monócitos, mastócitos, células dendríticas ou plaquetas. 
 
 
Granulócitos 
 Os neutrófilos, eosinófilos e basófilos são designados 
coletivamente de granulócitos, uma vez que são dotados de 
grânulos citoplasmáticos, numerosos e particularmente 
proeminentes, circundados por membrana. Os eosinófilos são 
assim denominados porque os seus grânulos contêm proteínas 
alcalinas que se ligam ao corante ácido, eosina. Os basófilos 
receberam esse nome porque seus grânulos contêm 
proteoglicanos sulfatados que se ligam a corantes básicos. As 
proteínas existentes nos grânulos dos neutrófilos podem ligar-se 
tanto a corantes ácidos quanto básicos, explicando o termo 
“neutrófilo”. Os eosinófilos e os basófilos possuem núcleo bi-
lobulado, enquanto os neutrófilos caracterizam-se por um núcleo 
multilobulado. Por esse motivo, os neutrófilos são também 
denominados leucócitos polimorfonucleares (PMN). Os neutrófilos 
e os eosinófilos são altamente móveis e migram para os tecidos, 
onde se deslocam eficientemente através dos espaços 
extracelulares. Tanto os neutrófilos quanto os eosinófilos, bem 
como os monócitos e macrófagos, locomovem-se utilizando 
extensões da membrana, denominadas pseudópodes. 
 
Principais características dos Neutrófilos 
 Os neutrófilos respondem rapidamente a estímulos 
quimiotáticos, por isso é a principal população celular presente na 
resposta inflamatória aguda. Possuem função de realizar 
fagocitose de partículas antigênicas, opsonizadas ou não (possuem 
receptor para anticorpo do tipo IgG e para a proteína C3b do 
sistema complemento). São células que podem ser ativadas por 
ação de citocinas, produzidas primariamente pelos macrófagos. 
Quando ativadas, são mais eficientes na fagocitose e destruição 
do Ag. São muito importantes na defesa contra bactérias. Migram 
para locais onde há ativação do complemento e fagocitam as 
partículas opsonizadas. 
 
Principais características dos Eosinófilos 
 Os eosinófilos são capazes de destruir alvos tanto através 
de mecanismos inatos, quanto através da citotoxicidade celularanticorpo-dependente (ADCC). A ADCC ocorre devido aos 
eosinófilos possuírem receptores para a porção Fc dos anticorpos 
IgE, bem como IgG e, possivelmente, IgA. A ligação do alvo com 
qualquer desses anticorpos favorece a ligação do eosinófilo, que 
então realiza a exocitose de seus grânulos. Os eosinófilos são 
particularmente importantes na resposta imunológica contra 
parasitas, como os helmintos. Essas infecções tendem a induzir a 
produção de níveis elevados de anticorpos IgE, embora sejam 
também produzidos anticorpos de outras classes. Esses 
anticorpos recobrem o helminto através de sua ligação a ags 
presentes na sua superfície. Os eosinófilos chegam ao local de 
ação atraídos por fatores quimiotáticos liberados pelos 
mastócitos ou basófilos ativados. Os receptores para Fc de IgE 
sobre os eosinófilos ligam-se as IgEs e com isso são transmitidos 
sinais aos eosinófilos, desencadeando a exocitose de seus 
grânulos. A principal proteína liberada pelos eosinófilos é a PBM 
(proteína básica principal) que intoxica os parasitas e causa a sua 
morte. Os antígenos liberados pelos parasitas também causam 
resposta imune celular específica (mediada por linfócitos T) e 
humoral (que resulta na produção principalmente de anticorpos 
IgE, embora também sejam produzidos IgG ou IgM contra os 
antígenos dos parasitas). Os macrófagos ativados secretam TNF-
alfa (fator de necrose tumoral alfa) que é uma citocina que 
aumenta a ativação dos próprios macrófagos e também dos 
eosinófilos. 
 Outra resposta imune celular importante dos eosinófilos é 
quando o organismo está sofrendo um processo alérgico 
(hipersensibilidade do tipo I ou anafilática). Este processo será 
descrito no capítulo referente a hipersensibilidades (HS). Na HS 
tipo I ocorre uma intensa degranulação dos mastócitos, liberando 
substâncias que são responsáveis pelos fenômenos clínicos 
observados. Os eosinófilos entram nessa história para tentar 
solucionar o problema e re-estabelecer o estado de normalidade. 
No local vão liberar histaminase, aril sulfatase B e outras enzimas 
que vão hidrolisar os mediadores, e com isso tentar diminuir os 
efeitos da degranulação dos mastócitos sobre o organismo. 
Contudo, a longo prazo os eosinófilos tendem a causar lesões 
locais. 
 
Principais características dos Basófilos e Mastócitos 
 Os basófilos são células semelhantes aos 
mastócitos, ou seja, são ricos em grânulos contendo aminas 
vasoativas (histamina, leucotrienos e prostaglandinas). Também 
são capazes de sintetizar muitos mediadores idênticos aos dos 
mastócitos. Porém, os basófilos originam-se e maturam na própria 
medula óssea, e circulam na sua forma diferenciada. Eles podem 
estar envolvidos na anafilaxia, mas só penetram nos tecidos 
quando são recrutados, em locais onde há reação inflamatória. 
Tanto os basófilos como os mastócitos possuem receptor para Fc 
de IgE, (FcRI), o qual também é encontrado nos eosinófilos. 
Como é de alta afinidade, sua ligação com a IgE é quase sempre 
irreversível e a ligação é tão ávida que pode ocorrer mesmo 
estando livres os anticorpos. A interação de alérgenos com 
moléculas de IgE ligadas aos mastócitos ou basófilos leva a 
liberação do conteúdo de seus grânulos, que são os responsáveis 
pelos sinais clínicos apresentados na hipersensibilidade tipo I. 
Basófilos normalmente existem na circulação sanguínea em 
pequeno número. 
 Os mastócitos são encontrados na maioria dos tecidos, 
mas principalmente próximos aos vasos sangüíneos, nervos e 
abaixo do epitélio. Originam-se de células precursoras da medula 
óssea, migram para os tecidos periféricos como células imaturas e 
então sofrem diferenciação no local. Possuem muitos grânulos 
ricos em aminas vasoativas. A morfologia e o conteúdo dos 
grânulos variam com a localização anatômica. Os mastócitos ficam 
fixos nos tecidos, onde podem durar alguns meses. 
Principais características dos Monócitos/macrófagos 
 Os monócitos originam-se das células tronco 
da medula óssea de onde saem não totalmente diferenciados. 
Possuem uma meia vida reduzida, passando aproximadamente 24 
horas no sangue e, ao chegarem aos tecidos, sofrem maturação, 
tornam-se fixos e chamam-se macrófagos. Podem viver meses nos 
tecidos. As suas principais funções são fagocitose e destruição 
de partículas estranhas, sejam elas microorganismos, 
macromoléculas e mesmo tecidos do próprio organismo que 
estejam lesados, velhos ou mortos; secreção de citocinas que 
recrutam e ativam outras células inflamatórias, especialmente os 
neutrófilos, e são responsáveis por muitos dos efeitos da 
inflamação, como a febre, por exemplo; produção de fatores de 
crescimento para fibroblastos (produz colagenase) e endotélio 
vascular (para reparo de tecidos lesados). Podem atuar como 
células apresentadoras de ag para linfócitos T (quando colocam ag 
na sua superfície celular, para que possa ser reconhecido). 
Contudo, o processamento antigênico pelos macrófagos é pouco 
eficiente, já que boa parte do antígeno endocitado é 
destruída por proteases lisossomais. De fato, macrófagos e 
células B podem ser considerados células com outras 
prioridades. Os macrófagos podem ser células efetoras de 
imunidade celular, quando se tornam ativados por citocinas 
secretadas pelos linfócitos T (se tornam mais eficientes na 
fagocitose e destruição de partículas); na resposta humoral 
atuam na fagocitose de partículas opsonizadas por anticorpos 
e/ou proteínas do sistema complemento (possuem receptor para 
Ig e proteínas do sistema complemento). Para que ocorra a 
fagocitose é necessário primeiro que haja adesão entre o 
macrófago e o microorganismo, o que acontece por meio de 
receptores presentes nos macrófagos. Eles podem se ligar a 
componentes do microorganismo ou a IgG ou frações do 
complemento que estejam ligados. Macrófagos são encontrados 
em todos os órgãos e tecidos. Possuem muitos lisossomos, podem 
assumir diferentes formas, e podem ser ativados por uma 
variedade de estímulos. O citoplasma na periferia está em 
constante movimento, formando prolongamentos. No sangue e 
medula óssea são denominados monócitos, nos pulmões são 
chamados de macrófagos alveolares, no sistema nervoso de 
microglias. Recebem o nome de célula de Kupffer no fígado, célula 
mesangial do glomérulo no rim, e osteoclasto no osso. 
 Em macrófagos a habilidade em fagocitar e destruir 
agentes estranhos e em expressar alguns tipos de receptores 
pode ser aumentada por ação de citocinas, principalmente o 
interferon gama (IFN ). 
 
 
 
 Monócitos, macrófagos, e em menor extensão, os 
neutrófilos, possuem muitos diferentes receptores na superfície. 
Dentre eles, Fc RI (CD64 ou FcR), um receptor de alta afinidade 
para porção Fc de moléculas de IgG. Macrófagos também 
possuem receptores para proteínas do complemento, tais como 
CD35 (CR1) receptor para o fragmento C3b. Estes receptores 
permitem que partículas antigênicas ligadas a Igs e/ou 
fragmentos do complemento sejam rapidamente capturadas e 
fagocitadas (processo de opsonização). 
 
Principais características das células “Natural killer” (NK) 
 
 NK são células de maior tamanho comparadas aos 
linfócitos, e com muitos grânulos no citoplasma. É considerada um 
subtipo de linfócitos, encontradas no sangue e tecido linfóide, 
especialmente no baço. São células derivadas da medula óssea 
embora se acredite que a maior parte da maturação ocorra no 
timo. Seus grânulos citoplasmáticos contêm perfurinas, 
granenzimas, e proteoglicans. São capazes de reconhecer as 
alterações de superfície que ocorrem em células tumorais ou 
infectadas por víruse destruir estas células. Após exocitose dos 
grânulos, fazem a indução de lise osmótica e promovem apoptose, 
do mesmo modo que os LTc. Não possuem receptor específico 
para antígeno. Também atuam secretando citocinas 
(principalmente IFN ) no início de infecção, as quais ativam e 
atraem outras células. NK são normalmente funcionais, mas a 
ativação de células NK para matar células-alvo pode ser induzida 
por citocinas secretadas por outras células (IFN , IFNs tipo I, 
IL-2, e IL-12) que aumentam a atividade citotóxica e a aderência 
aos alvos. Quando assim ativadas são chamadas de células LAK. 
 
Principais características das células dendríticas 
 
 
 As células dendríticas (DC) possuem três 
importantes funções. São células sentinelas e ao reconhecerem 
um ag ativam mecanismos de defesa inatos. Processam ags 
exógenos com muita eficiência e os apresentam para linfócitos T, 
iniciando a resposta imune específica e, por fim, regulam ambas 
as formas de resposta imune. São 100 vezes mais eficientes que 
macrófagos e linfócitos B, na apresentação de ag. São essenciais 
para iniciar as respostas imunes primárias, pois são as únicas 
capazes de ativar os linfócitos T que nunca encontraram 
previamente com um ag (linfócitos virgens). As DC e os 
macrófagos expressam moléculas de superfície chamadas de 
coestimuladores, as quais ligam em receptores sobre os linfócitos 
T virgens, e funcionam, junto com o reconhecimento do ag, para 
ativar essas células T. 
São células oriundas da medula óssea e migram imaturas 
para virtualmente todos os tecidos, com exceção do cérebro, 
olhos e testículos. São abundantes nos gânglios linfáticos, pele, e 
mucosas. Caracterizam-se morfologicamente por apresentarem 
projeções do citoplasma conhecidas como dendritos. É uma 
mescla de populações celulares, mas se dividem em duas 
populações principais denominadas DC mielóides e DC 
plasmacitóides, que diferem em morfologia, antígenos de 
superfície e função. As DC mielóides localizam-se nos tecidos e 
são derivadas dos monócitos sanguíneos. As plasmacitóides se 
encontram no sangue e nos órgãos linfóides e derivam de 
precursores linfóides. Dentre as DC incluem as células de 
Langerhans na epiderme, células dendríticas interdigitantes 
presentes no interstício da maioria dos órgãos, e as células 
dendríticas foliculares, presentes nos centros germinativos dos 
folículos linfóides do baço, linfonodos e tecido linfóide associado 
a mucosas. As células de Langerhans são capazes de capturar ag 
que penetre via pele e conduzi-lo até os linfonodos que drenam a 
região, onde é iniciada a resposta imune. Possuem uma meia vida 
média de 18 meses. As foliculares não apresentam ag aos 
linfócitos T, capturam ag ligado a ac e ou produtos do 
complemento e os apresentam para os LB de memória, nos 
linfonodos. 
Embora tenham sido caracterizadas diferentes 
populações de DC a classificação mais importante baseia-se em 
seu estado de maturação. DC imaturas são especializadas na 
captura de ag e durante a maturação elas são convertidas em 
células eficientes em apresentação de ag. 
 As DC imaturas saem da medula óssea, vão do sangue a 
linfa e daí aos tecidos e nódulos linfáticos. Atuam como 
sentinelas, cujo papel é capturas ags invasores. Possuem vida 
curta, se não encontram ag morrem em poucos dias. São chamadas 
assim porque são incapazes de estimular linfócitos T. Ao 
capturarem ag se ativam e maturam rapidamente. As DC possuem 
muitos receptores de superfície diferentes, incluindo receptores 
para quimocinas, citocinas, Fc, receptores de manose, de 
proteínas do choque tpermico e receptores di tipo Toll (TLR). 
As DC imaturas capturam antígenos e fragmentos 
celulares mediante fagocitose, pinocitose (inclusão de gotas de 
líquido) e por interação com receptores celulares de superfpicie. 
Também capturam células apoptóticas. Quando capturam 
bactérias geralmente as destroem. Distinguem tecidos estranhos 
dos próprios principalmente devido a ligação em TLR. A ativação 
dos TLR assegura que o material capturado seja processado de 
forma que se inicie a resposta imune específica. Quando não é 
utilizado um TLR o ag não é processado e não estimula resposta 
imune. Os fagossomas das células fagocíticas convencionais como 
neutrófilos e macrófagos são bastante ácidos e por isso ótimos 
para destruição do material capturado. O pH dos fagossomas das 
DC e linfócitos B é relativamente alcalino, o que favorece a 
inibição de proteases e a preservação do ag por longos períodos. 
O ag pode ser então apresentado associado às moléculas do MHC. 
Depois de capturar e processar ag as DC imaturas o 
transportam para tecidos linfóides onde podem ser reconhecidos 
por linfócitos T. Ao penetrarem no tecido linfóide elas sofrem 
maturação. Durante a maturação aumenta a expressão de 
moléculas coestimuladoras e secretam quimocina CCL22 que atrai 
linfócitos T. 
DC são não somente as células que iniciam respostas 
mediadas por linfócitos T, mas também influenciam a natureza 
dessa resposta. Para isso, há diferentes subtipos de DC que 
podem direcionar a diferenciação dos linfócitos T CD4+ virgens 
em distintas células, importantes para a defesa contra diferentes 
tipos de microorganismos. 
 
Linfócitos T e Linfócitos B 
 Ambos estão envolvidos na resposta imune específica e 
morfologicamente não podem ser distinguidos. Para diferenciar 
linfócitos T (LT) e linfócitos B (LB) é necessário fazer a detecção 
de marcadores celulares específicos. Os linfócitos possuem de 8 
a 10 m, um núcleo grande com densa cromatina, poucas organelas 
no citoplasma e nenhuma característica morfológica que indique a 
grande capacidade funcional. São as únicas células capazes de 
reconhecerem especificamente os diferentes antígenos, através 
de seus receptores específicos para antígenos. 
Os LB nos mamíferos sofrem maturação inicial na medula 
óssea e nas aves a maturação ocorre na Bursa de Fabricius (por 
isso são chamados B). Os LB ativados se diferenciam em células 
chamadas plasmócitos, as quais secretam as imunoglobulinas 
(anticorpos), sendo os responsáveis pela imunidade humoral. Os 
seus receptores são imunoglobulinas ligadas à membrana, as quais 
podem reconhecer antígenos livres na circulação. Já os LT 
maturam no timo. São divididos funcionalmente em dois tipos: 
linfócitos T auxiliares ou helper (LTh), que auxiliam na resposta 
das células B e T aos antígenos, e linfócitos T citotóxicos (LTc), 
capazes de destruírem células que possuam antígenos estranhos. 
O auxílio fornecidos pelos LTh se dá mediante a secreção de 
citocinas, moléculas que agem em diferentes tipos de células. Os 
LTh e LTc reconhecem ags através de seus receptores (receptor 
de célula T: TCR) que possuem diferentes especificidades, 
geradas ao acaso durante a maturação no timo. Os LT 
reconhecem ags que estejam ligados com moléculas denominadas 
de MHC I ou MHC II. Os ags estranhos que são reconhecidos 
pelos LT estão presentes na superfície de outras células. Por isso 
dizemos que os ags são apresentados aos LT por outras células. 
Além de TCR os linfócitos T possuem importantes moléculas, 
embora acessórias, no reconhecimento e ativação celular: a 
molécula CD3, presente em linfócitos Th e Tc; a molécula CD4, 
presente nos LTh; e a molécula CD8, presente somente nos LTc. 
Mais adiante será visto com detalhes sobre a apresentação de 
ags para LT e seu reconhecimento. 
LB e LT são células capazes de proliferação e 
diferenciação após terem sido ativadas devido ao reconhecimento 
de antígeno estranho. 
 
Plasmócitos 
 A interação de ag com receptores de superfície no 
linfócitoB inicia a ativação dessa célula e, posteriormente, 
resulta na diferenciação do LB em células denominadas de 
plasmócitos. Os plasmócitos são células que, diferentemente dos 
linfócitos B, não possuem capacidade de proliferação e 
diferenciação, e, além disso, possuem uma meia vida curta. Os 
plasmócitos são as células que sintetizam e secretam anticorpos 
(Acs). 
 
 
- Desenho que demonstra as características ultra-estruturais dos 
plasmócitos. Observe a imensa quantidade de retículo endoplasmático 
rugoso e o complexo de Golgi desenvolvido no citoplasma. O núcleo possui 
cromatina condensada na periferia dando um aspecto de roda de carroça. 
As mitocôndrias estão aumentadas e desenvolvidas (muitas cristas 
alongadas). 
 
Órgãos e tecidos Linfóides 
Os tecidos linfóides estão presentes em órgãos linfóides 
funcionalmente divididos em primários (ou centrais) e secundários 
(ou periféricos). Os órgãos linfóides primários são aqueles 
capazes de realizar maturação de linfócitos. Nestes órgãos, os 
linfócitos, a partir das “células-tronco”, proliferam e tornam-se 
funcionais. Nos órgãos primários os linfócitos T adquirem o seu 
repertório de receptores específicos para cada ag, e sofrem o 
processo de seleção, quando aqueles que reconhecerem antígenos 
do próprio organismo são eliminados e aqueles que possuírem 
receptores incapazes de reconhecerem ags próprios sobrevivem. 
O timo é o local onde ocorre a maturação dos linfócitos T. A 
maturação dos linfócitos B nas aves ocorre na Bursa de Fabricius, 
o órgão equivalente à medula óssea nos mamíferos. Os LB podem 
maturar nas placas de Peyer em ruminantes, eqüinos, caninos, 
suínos e humanos. Nos órgãos linfóides primários há intensa 
atividade proliferativa de linfócitos, independente de estímulo 
antigênico. 
 Os linfócitos que maturaram nos órgãos linfóides 
primários migram para os secundários. A estrutura anatômica dos 
órgãos linfóides secundários (baço, linfonodos, tecido linfóide 
associado à mucosas do trato digestivo, respiratório, genito-
urinário, sistema imune cutâneo e agregados pouco definidos de 
linfócitos encontrados no tecido conjuntivo e em praticamente 
todos os órgãos com exceção do sistema nervoso central) é 
constituída de modo a facilitar a captação de antígeno e de modo 
que os linfócitos possam interagir uns com os outros, com os 
antígenos e com as células acessórias. São nestes locais que 
ocorre a elaboração da resposta imune contra os diferentes 
antígenos. Também pode ocorrer resposta imune nas placas de 
Peyer e medula óssea. 
 
  Órgãos Primários ou Centrais 
 
Timo 
Localizado no tórax, próximo ao coração, é um órgão 
bilobulado sendo cada lóbulo dividido em uma série de lóbulos de 
células epiteliais. Os lóbulos são separados por uma cápsula de 
tecido conjuntivo. Continua a crescer após o nascimento, atinge 
seu tamanho máximo na puberdade e após começa lentamente a 
involuir. Porém, resquícios funcionais persistem até uma idade 
bem avançada. O timo tem um grande suprimento vascular, que 
permite a chegada de células precursoras de LT e macrófagos, 
vindas da medula óssea. Uma vez no timo as células 
comprometidas a tornarem-se LT iniciam o processo de 
maturação e diferenciação. A porção mais externa de cada lóbulo 
é chamada de córtex, onde há uma densa infiltração de células T 
imaturas (timócitos) que vem da medula óssea via sangue. Uma vez 
no córtex do timo, essas células iniciam o processo de maturação 
e seleção. A camada mais interna é chamada de medular, onde 
existem células epiteliais “nurse”, corpúsculos de Hassal 
(secretam fatores de que atuam na proliferação dos timócitos), e 
linfócitos. A junção corticomedular é repleta de células 
interdigitantes. As células dendríticas interdigitantes, células 
epiteliais e macrófagos estão espalhadas pelo timo, são ricas em 
moléculas MHC classe I e II e por isso importantes para a 
apresentação de ags do organismo (próprios) aos linfócitos em 
maturação. 
 Na região da medula os timócitos começam a expressar 
receptores para ag e marcadores de superfície (moléculas CD3, 
CD4, CD8). Somente LT maturos CD4+ ou CD8+ saem do timo e 
entram no sangue, linfa e tecidos linfóides periféricos. A maioria 
dos precursores de LT que chegam ao timo não sobrevive, pois ao 
reagirem com ags próprios sofrem apoptose. 
 
 
 
- Representação esquemática do timo. 
 
 
Bursa de Fabricius 
 É uma estrutura em forma de saco localizada próximo a 
cloaca das aves. É composta de muitas dobras de epitélio que 
dirigem-se para dentro de um lúmen central e, espalhadas por 
essas dobras existem folículos de células linfóides. O lúmen da 
bursa abre-se na cloaca. Cada folículo linfóide é dividido em 
córtex e medula. No córtex há linfócitos, plasmócitos e 
macrófagos. Na parte medular há apenas linfócitos. É o órgão 
responsável pela maturação e seleção dos LB nas aves. Da mesma 
forma que o timo, atinge tamanho máximo em pintos de 1-2 
semanas, sofrendo em seguida involução gradual. 
Aves recém nascidas que sejam infectadas pelo vírus da doença 
infecciosa da bursa ou também conhecido como vírus de Gumboro, 
possuem baixos níveis de anticorpos e os plasmócitos 
desaparecem de alguns órgãos linfóides. A resposta imune celular 
permanece inalterada. 
 
Medula Óssea 
 A medula óssea vermelha nos mamíferos serve como órgão 
linfóide primário para as células B. Ocorre seleção negativa na 
medula óssea, de forma que grande parte das células pré-B 
geradas é destruída. Em ruminantes, suínos e cães as placas de 
Peyer do íleo são os órgãos linfóides primários para os LB. 
 
Placas de Peyer 
 São grandes massas linfóides encontradas nas paredes 
intestinais. A estrutura e função variam entre as espécies. Em 
ruminantes suínos, eqüinos, cães e humanos encontram-se 
principalmente no íleo. Nessas espécies as placas de Peyer (PP) 
desenvolvem-se antes do nascimento, e involuem com a vida 
adulta. Em roedores as PP se encontram distribuídas entre o 
jejuno e íleo e o desenvolvimento ocorre 2 a 4 semanas após o 
nascimento e persistem por toda a vida. As PP ileais possuem 
função semelhante a bursa e medula, ou seja, é local de 
maturação de linfócitos B, onde a maioria dessas células sofre 
apoptose. 
 
 Órgãos Secundários ou Periféricos: 
 
Linfonodos 
 Linfonodos (LNs) são pequenos agregados de tecido 
linfóide de formato arredondado, espalhados em locais 
estratégicos do organismo. Drenam a linfa de diferentes áreas do 
corpo. Situam-se ao longo dos vasos linfáticos. Cada nódulo é 
coberto por uma cápsula de tecido conjuntivo, por aonde chegam 
vários linfáticos aferentes. O interior de cada nódulo é dividido 
em córtex, medula, e uma área mal definida entre as duas, 
chamada de zona paracortical. No córtex há agregados de células 
que constituem os folículos (ricos em LB em descanso), 
semelhante a nódulos. Nos LNs que tenham sido estimulados por 
antígeno, dentro destes nódulos os LB proliferam e formam 
estruturas nas áreas centrais chamadas de centros germinativos. 
Folículo sem centro germinativo é chamado folículo primário e 
aquele com centro germinativo, folículo secundário. São nos 
centros germinativos que os LB proliferam e se diferenciam em 
plasmócitos, quando são estimulados antigenicamente. Nos 
centros germinativos também estão presentes LTh, importantes 
para proliferação e diferenciação dos LB. Também é neste local 
que ocorre a formação do LB de memória e a ativação desses LB 
de memória (devido a apresentação de ags presentes na 
superfície de células dendríticas foliculares, presentes somente 
nestes locais) e onde ocorremutação somática e mudança de 
classes de anticorpos. A porção medular contém macrófagos, 
células interdigitantes, plasmócitos e menor proporção de LT e 
LB. Estas células estão arranjadas em cordões chamados cordões 
medulares. A zona paracortical é rica em células interdigitantes e 
LT. Os vasos linfáticos penetram em vários pontos, através da 
cápsula no lado convexo, e vasos eferentes saem por uma 
depressão única chamada hilo. Os vasos sangüíneos entram e saem 
via hilo. Os vasos se ramificam em vasos menores que se 
estendem por todo o LN. Os vasos linfáticos após penetrar 
drenam num espaço estreito abaixo da cápsula, denominado seio 
marginal. A linfa do seio marginal drena através do córtex e 
paracórtex através de uma série de canais, os seios corticais, 
para os seios medulares e destes para os vasos linfáticos 
eferentes. Os seios linfáticos são repletos de macrófagos e 
células dendríticas. 
 
 
- Representação esquemática de um linfonodo 
 
 
Baço 
O baço é um órgão linfóide periférico situado do lado 
esquerdo superior do abdome. É revestido por uma cápsula de 
tecido conjuntivo de onde partem septos, cuja constituição fazem 
parte fibras musculares lisas, além de tecido conjuntivo, que com 
freqüência encerram vasos (geralmente veias). Nas camadas mais 
profundas septos estão representados por trabéculas ou simples 
nódulos conjuntivos. Todo o espaço compreendido entre a cápsula 
e os septos está ocupado por tecido linfóide, disposto em 
folículos (corpúsculos de Malpighi) ou em trabéculas (cordões de 
Billroth). Entre os cordões estão os seios venosos, ocupados pelos 
elementos sangüíneos. Os corpúsculos de Malpighi ou bainha 
linfóide periarteriolar (forma arredondada com uma arteríola no 
centro) constituem a polpa branca da anatomia macroscópica, e o 
restante (cordões de Billroth e seios venosos), a polpa vermelha. 
A polpa vermelha tem função de armazenamento de eritrócitos e 
plaquetas, e remoção de células vermelhas defeituosas ou gastas 
e células brancas que são fagocitadas pelos macrófagos 
residentes (os materiais reaproveitáveis, tais como o Ferro da 
hemoglobina, são reciclados) e de captura de ags. A polpa branca 
é onde há tecido linfóide e, conseqüentemente, onde se dá a 
resposta imune. Estas duas regiões não estão anatomicamente 
separadas. O baço é suprido por uma única artéria (esplênica), que 
penetra na sua cápsula na região do hilo e ramifica-se 
progressivamente em artérias menores que são circundadas por 
trabéculas fibrosas. Assim que deixam as trabéculas as arteríolas 
são rodeadas por uma camada de linfócitos chamada bainha 
linfóide periarteriolar (neste local o tecido linfóide é facilmente 
distinguido da polpa vermelha). Juntamente à bainha há folículos 
linfóides e neles, quando houver estímulo antigênico, pode se 
desenvolver centros germinativos. Este denso tecido linfóide 
constitui a polpa branca do baço. As arteríolas terminam em 
sinusóides vasculares. Os sinusóides formam vênulas que drenam 
para a veia esplênica, a qual conduz o sangue para fora do baço. A 
bainha periarteriolar contem principalmente LTh, mas também 
LTc. Nos folículos e centros germinativos predominam LB, sendo 
que possuem as mesmas funções que exercem nos linfonodos. Nos 
centros germinativos também há células dendríticas e 
macrófagos. Cada folículo é circundado por uma camada de LT 
formando um manto. Os linfócitos podem sair e chegar até as 
bainhas via arteríolas. A função do baço e a resposta aos ags é 
muito semelhante à dos linfonodos, sendo que a principal 
diferença é que é o principal local de resposta imune contra ags 
conduzidos via sangue, e os linfonodos estão envolvidos na 
resposta a ags trazidos via linfa. O baço não tem linfáticos. Além 
disso, é o responsável pela remoção de ags estranhos e hemácias 
velhas, através de fagocitose exercida pelos macrófagos da polpa 
vermelha, mesmo na ausência de imunidade específica 
 
Tecidos linfóides associados às mucosas (MALT) 
 
Estão presentes na forma de coleções difusas ou 
agregados. Inclui as amígdalas, placas de Peyer, apêndice. Estão 
organizados em folículos, os quais contêm LT e LB. As células são 
sustentadas por uma rede frouxa de tecido conjuntivo. Os MALT 
possuem circulação sanguínea e linfática. 
 
Circulação de linfócitos 
Os linfócitos constantemente recirculam entre os tecidos 
de modo que os linfócitos virgens examinem os órgãos linfóides 
periféricos, onde as respostas imunes são iniciadas, e os 
linfócitos efetores migrem para os locais de infecção, onde os 
microorganismos serão eliminados. Esse processo de recirculação 
é mais bem descrito para os linfócitos T, além de ser mais 
relevante. Os linfócitos B efetores permanecem nos tecidos 
linfóides, não precisam migrar para os sítios de infecção, uma vez 
que secretam anticorpos e os anticorpos entram no sangue e 
encontram com os invasores e suas toxinas na circulação ou em 
tecidos distantes. Então, será descrito a circulação dos LT. 
Os LT virgens que tenham maturado no timo, entram na 
circulação e migram para os tecidos linfóides secundários, onde 
permanecem a maior parte do tempo. Porém, recirculam entre os 
tecidos linfóides, através do sangue, “procurando” por ags 
estranhos. Migram através de um endotélio vascular 
especializado, encontrado nas vênulas em todos os órgãos 
linfóides secundários, exceto no baço, conhecidas como vênulas 
endoteliais altas (High endothelial venules – HEVs). LT virgens 
expressam um receptor de superfície chamado de L-selectina, 
que liga-se a carboidratos presentes somente sobre as células 
endoteliais das HEVs. A interação de L-selectina com seu ligante 
faz com que os LT liguem-se firmemente as HEVs e migrem. 
A circulação dos linfócitos, entretanto, não é aleatória. 
Os linfócitos provenientes dos linfonodos tendem a recircular 
para esses órgãos. Da mesma forma, os linfócitos dos tecidos 
linfóides do intestino tendem a retornar a ele. 
A linfa flui dos tecidos para os linfonodos através dos 
vasos linfáticos aferentes. Sai dos linfonodos através dos vasos 
linfáticos eferentes. A linfa aferente nos ovinos contém 85% de 
linfócitos T, 5% de linfócitos B e 10% de células dendríticas. A 
linfa eferente contém mais de 98% de linfócitos dos quais 75% 
são células T e 25% são células B. Os vasos linfáticos eferentes 
eventualmente se reúnem em grandes vasos linfáticos. O maior 
dos vasos linfáticos é o ducto torácico, que coleta a linfa 
proveniente da parte mais baixa do corpo e do intestino e a 
esvazia no interior da veia cava anterior. Se o ducto torácico for 
canulado e se a linfa for removida, ocorrerá uma queda severa nos 
linfócitos sangüíneos (essencialmente todas as células T) dentro 
de algumas horas. As células T também desaparecem do 
paracórtex dos linfonodos. Esse esgotamento rápido das células T 
implica que os linfócitos do ducto torácico normalmente circulam 
de volta para os linfonodos através do sangue. 
 
 
 
 
- Esquema representando a circulação dos linfócitos. 
 
Transporte de Antígenos para os Tecidos Linfóides Periféricos 
 A resposta imunológica poderá ser realizada em 
diferentes locais, dependendo do local onde houve a exposição ao 
antígeno estranho. Assim, por exemplo, um antígeno estranho que 
penetre no organismo através do sangue terá uma resposta 
elaborada principalmente no baço. Já um antígeno que chegou 
através da inalação, terá elaboração de resposta imune nos 
tecidos linfóides regionais, ou seja, adenóides, linfonodos 
mediastínicos e tecidos linfóides associados à mucosa 
respiratória. 
 
CAPÍTULO 3 
PROPRIEDADESDOS ANTÍGENOS 
 
Nesse capítulo serão abordados alguns conceitos básicos sobre 
antígenos, os quais serão utilizados nos demais capítulos. 
 
Antígenos 
São estruturas capazes de reagirem com as células do 
sistema imune (células fagocíticas, Linfócitos T, Linfócitos B, 
células apresentadoras de antígeno) ou com anticorpos 
previamente produzidos contra este antígeno. A composição 
química pode incluir ácido nucléico, proteínas, polissacarídeos, 
lipídios, e ou combinações entre estes. Possuem rigidez 
estrutural. 
 
Epítopo ou Determinante Antigênico (DA) 
 Num mesmo antígeno várias porções podem ser 
reconhecidas. A menor porção do antígeno capaz de gerar uma 
resposta imune e, após, reagir com ela especificamente é 
chamada de epítopo ou determinante antigênico. Existem alguns 
que são mais freqüentes no antígeno e por isso são chamados de 
imunodominantes. 
 
TIPOS DE EPÍTOPOS OU DETERMINANTES ANTIGÊNICOS 
 
Determinantes Antigênicos Conformacionais 
 Formados por aminoácidos de porções separadas, 
que são justapostos após dobramento da molécula. Estão 
presentes em antígenos não processados (livre). 
 
 
 
Determinantes Antigênicos Lineares 
 Formados durante o processamento do antígeno. 
Constituídos de uma seqüência linear de aminoácidos adjacentes. 
 
Antígeno Completo 
Os antígenos podem ser antigênicos e imunogênicos. 
Sempre que um antígeno for imunogênico, automaticamente 
também é antigênico, ou seja, sempre que for capaz de gerar 
resposta imune, esta resposta reage com o ag que lhe deu origem. 
Os antígenos imunogênicos são considerados antígenos completos. 
Imunogenicidade refere-se a capacidade de gerar uma resposta 
imune. Antigenicidade refere-se a capacidade de reagir 
especificamente com a resposta gerada. Um antígeno completo é 
imunogênico e antigênico. 
 
Antígeno Incompleto - Haptenos 
 Antígenos incompletos são antigênicos, mas não são 
imunogênicos. É o caso dos haptenos, substâncias reconhecidas 
por uma resposta pré- formada, mas, no entanto só geram 
resposta imune quando associados a moléculas maiores 
(proteínas). A falta de imunogenicidade destas substâncias está 
relacionada com o baixo peso molecular. Quando os haptenos se 
ligam a outras moléculas maiores, geralmente proteínas, adquirem 
capacidade imunogênica e geram uma resposta imune no 
organismo. Num segundo contato, os anticorpos gerados reagem 
com o hapteno, mesmo estando na forma purificada. 
 A penicilina é um exemplo típico. O fungo que a produz, o 
faz na forma impura que pode existir no ambiente (ambientes e 
alimentos mofados). Qualquer organismo que entrar em contato 
reagirá imunologicamente com este produto. Caso haja 
necessidade de tratamento com penicilina, mesmo purificada, 
esta provocará reação com a resposta formada. Como a resposta 
geralmente está associada com a produção de anticorpos da 
classe IgE, um processo alérgico poderá ser observado, desde 
reações leves até um choque anafilático. 
 
 
 
 
Alguns fatores relacionados à imunogenicidade 
Distância Filogenética: As estruturas dos antígenos se tornam 
mais variadas e diferenciadas na medida em que as espécies se 
distanciam geneticamente. Quanto mais distante estiver um 
indivíduo de outro, mais estranho será considerado seus antígenos 
e, portanto, mais imunogênico será ao seu receptor. 
Peso molecular: Antígenos de baixo peso molecular não possuem 
a capacidade de induzir uma resposta imune e para que isso 
aconteça deverão estar associados a moléculas de PM maior (caso 
dos haptenos). Como regra geral, os ag deverão ter pesos 
moleculares acima de 10 mil Daltons. 
Acessibilidade: geralmente os ag acessíveis são mais 
imunogênicos e são também imunodominantes. Alguns epítopos, 
quando inacessíveis, perdem sua imunogenicidade 
Complexidade: antígenos complexos tendem a ser mais 
imunogênicos. Também a diversidade de aminoácidos na molécula, 
especialmente aromáticos, aumenta a capacidade imunogênica. 
Dose/Via de administração do Ag: dependendo da dose 
administrada e da via de penetração podemos transformar um 
antígeno, tornando-o imunogênico ou não. Podemos induzir 
tolerância a ags que provocam alergias mediante um tratamento 
chamado de hiposensibilização, quando são administradas doses 
freqüentes e em outra via não usual de penetração. 
 
Especificidade Antigênica 
 A resposta imune adaptativa é altamente específica para 
cada ag, ou seja, a resposta gerada contra um antígeno somente 
reage contra esse e não outro de estrutura, constituição ou 
conformação diferente. 
 
 
 
Reações cruzadas 
Epítopos idênticos ou semelhantes podem às vezes ser 
encontrados em moléculas aparentemente não relacionadas. Como 
resultado, anticorpos dirigidos contra um antígeno podem reagir 
com outro antígeno não relacionado, fenômeno conhecido como 
reação cruzada. Reações cruzadas ocorrem, por exemplo, entre 
Brucella abortus e Iersinia enterocolitica, um microorganismo 
relativamente sem importância. Desde que se detectem animais 
infectados por B. abortus através da presença de anticorpos no 
soro, animais infectados por I. enterocolitica podem ser 
falsamente considerados positivos para B. abortus. Também se 
observa entre carboidratos de grupos sangüíneos. Neste caso, o 
Pneumococus 14, compartilha dos mesmos antígenos que as 
hemácias. Os ags A, B e O destas bactérias sensibilizam os 
recém-nascidos, não havendo resposta para o ag do qual o recém-
nascido é portador. Porém monta uma resposta contra os outros 
ags e aos seis meses de idade já é capaz de aglutinar hemácias 
dos outros grupos. Outros microorganismos não patogênicos 
promovem igualmente respostas semelhantes. Este fato pode 
ocasionar problemas de diagnóstico sorológico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
- Anticorpos podem reagir com agentes diferentes quando estes 
possuem epítopos iguais ou semelhantes ao antígeno que induziu sua 
formação. 
 
Outros conceitos 
Geralmente os antígenos são multivalentes, ou seja, 
possuem muitos e diversos epítopos, os quais podem ser 
reconhecidos e gerarem respostas imunológicas. Antígenos 
monovalentes possuem somente um epítopo. 
Antígenos exógenos são aqueles externos às células, 
enquanto que os endógenos são aqueles sintetizados em células do 
hospedeiro (ex.: antígenos virais após infecção de célula 
suscetível). 
Antígenos T-dependentes dependem dos linfócitos T para 
induzirem a produção de anticorpos. É o caso das proteínas, por 
exemplo. Antígenos T-independentes não dependem dos linfócitos 
T para induzirem a produção de anticorpos. Como exemplo, os 
lipopolisacarídeos (LPS). 
LB 
C 
B+C 
A+B+C 
LB 
C 
B+C 
A+B+C 
CAPITULO 4 
 
RECONHECIMENTO DE ANTÍGENOS PELAS CÉLULAS DO 
SISTEMA IMUNE INATO 
 
 A presença de invasores e o dano de tecido resultante são 
inicialmente detectados por “células sentinelas”. As principais 
células sentinelas são macrófagos, dendríticas e mastócitos. 
Essas células possuem receptores de superfície que podem 
reconhecer moléculas que estão normalmente presentes em 
microorganismos e nunca em organismos superiores. Por exemplo, 
a maioria das bactérias é coberta por uma parede celular 
constituída de carboidratos complexos (peptidoglicanos nas gram 
positivas e peptidoglicanos e lipopolisacarídeos nas gram 
negativas). Também alguns tipos de DNA e algumas proteínas são 
moléculas únicas dos microorganismos. 
 Os receptores das células sentinelas são capazes de 
reconhecer todas as possíveis moléculas dos microorganismos. 
Como os microorganismospodem sofrer mutações e alterar suas 
estruturas moleculares de modo muito rápido, é importante o 
reconhecimento de moléculas bem conservadas ou padrões de 
moléculas presentes em muitos diferentes microorganismos 
(como por exemplo LPS, manoses de leveduras, glicolipídios de 
micobactérias, bem como DNA bacteriano). São padrões 
moleculares associados a patógenos (PAMPS). Todas essas 
moléculas não são encontradas em tecidos de animais. 
 
- Células com receptor de superfície reconhecendo padrões moleculares 
(PAMPs) presente em diferentes patógenos. 
Os mais importantes receptores das células sentinelas são 
conhecidos como receptores do tipo Toll (toll-like receptors -
TLRs). Os TLRs estão presentes em macrófagos, mastócitos, 
células dendríticas, eosinófilos e células epiteliais do trato 
respiratório e intestinal. Uma vez que ocorra a ligação de 
moléculas microbianas em TLRs, um sinal passa para a célula e é 
ativada, nessa célula, a produção de citocinas. Diferentes TLRs 
ativam a produção de diferentes citocinas, e diferentes 
microorganismos ativam diferentes respostas, mesmo em um 
mesmo tipo de célula. O resultado é a indução de inflamação e 
ativação de diversas células do sistema imune. 
 
 
- Alguns produtos reconhecidos pelos receptores Toll-like (TLR) 
 
Algumas células do sistema imune inato também podem 
reconhecer antígenos de maneira indireta, quando se ligam a eles 
por estarem recobertos por proteínas do sistema complemento ou 
por anticorpos. Algumas células possuem moléculas que 
reconhecem certas proteínas do sistema complemento e 
anticorpos (reconhecem a porção Fc de IgM, IgG, IgA ou IgE). 
 A “comunicação” entre as células do sistema imune poderá 
se dar através da utilização de citocinas e receptores para 
citocinas Quando uma célula secreta uma citocina, essa pode 
atuar sobre a própria célula e sobre células que possuam o 
receptor para tal citocina. Sempre que as células são expostas a 
agentes infecciosos secretam muitas moléculas diferentes, 
incluindo as citocinas. De modo geral, células como os macrófagos 
e mastócitos secretam fator de necrose tumoral alfa (TNF – 
tumor necrosis factor ), e interleucina 1 (IL-1). Também pode 
ser secretado IL-6, IL-12, e IL-18, oxidantes, tais como O2-, 
H2O2, óxido nítrico, além de leucotrienos e prostaglandinas. 
 TNF, produzido no início da inflamação, ativa mastócitos, 
macrófagos, linfócitos e neutrófilos. Atua sobre as células 
endoteliais dos vasos, causando contração. Pode ativar moléculas 
de adesão. É um potente atraente e ativador de neutrófilos 
(aumentam a capacidade dos neutrófilos de matar 
microorganismos). 
 IL-1 em associação com TNF é responsável pela letargia, 
dor de cabeça, falta de apetite e febre, freqüentemente 
observados após uma infecção. Assim como TNF, IL-1 atua sobre 
os vasos tornando-os mais adesivos para neutrófilos. Pode ativar 
linfócitos. 
Não esqueça, há muitas citocinas, com diferentes ações. 
 
RECONHECIMENTO DE ANTÍGENO PELAS CÉLULAS 
“NATURAL KILLER” 
 Cerca de 15 % dos linfócitos no sangue dos mamíferos não 
são B ou T, pertencem a uma terceira população chamada de 
células “natural killer” (NK). As células NK geralmente participam 
da resposta imune antes que sejam gerados LB e LT específicos. 
Entram rapidamente nos tecidos e atacam células anormais. Ao 
contrário dos LB e LT, que requerem vários dias para serem 
ativados, as células NK são rapidamente ativadas por interferons 
e interleucina 12 (IL-12). Não possuem receptores específicos 
para as diversidades de ags, ao contrário dos LB e LT. Para 
reconhecerem as células consideradas alvos, usam uma 
combinação de receptores que podem se ligar em células 
anormais. Desta forma podem distinguir uma célula normal de 
outra que possua Ag estranho. 
 A ativação da capacidade das células NK em matar a 
célula-alvo, ocorre quando recebe mais sinais de ativação do que 
sinais inibitórios, ao encontrar com uma célula. Quando células NK 
encontram células normais, prevalecem sinais inibitórios. Quando 
células NK encontram células anormais, prevalecem sinais de 
ativação. 
 Moléculas MHC classe I sob a superfície de célula normal 
fornecem os sinais que inibem a célula NK de matar. Se, porém, a 
célula não expressar MHC I ou expressar em muita pequena 
quantidade, a célula NK não recebe o sinal inibidor e então mata a 
célula-alvo. Os vírus podem suprimir a expressão de MHC I. 
Também células tumorais freqüentemente falham em expressar 
MHC I. Essas células são alvos para o ataque da NK. Células NK 
possuem uma molécula que funciona como receptora para MHC I 
(ou seja, reconhece e liga-se a MHC I), chamada de Ly49 (ou de 
KIR em humanos). Ou seja, qualquer célula que NÃO expressar 
MHCI será alvo da NK! 
 
 
 
 Um segundo mecanismo que ativa a NK envolve o 
reconhecimento de proteínas chamadas de MIC-A e MIC-B 
(major histocompatibility complex class I chain- related A or B), 
sob a célula-alvo. Essas duas proteínas somente são expressas 
durante stress celular ou infecção viral ou ainda em algumas 
células tumorais. Não há MICA ou MICB em células saudáveis. O 
reconhecimento dessas moléculas ocorre pelo receptor NKG2D, 
presente somente em células NK. Se a célula possuir MHC I na 
superfície, mas também MICA ou MICB, o sinal de ativação 
supera o de inibição, e a NK destrói a célula-alvo. 
 
 
 
A terceira forma de reconhecimento pode também ser 
efetuada por outras células e deve-se ao fato de células NK 
possuírem receptor de baixa afinidade para IgG e IgA. Células a 
serem destruídas são marcadas pela ligação de moléculas de IgG 
ou IgA, e a célula NK é recrutada através da ligação do seu 
receptor de Fc para IgG ou IgA, mecanismo chamado de 
citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC). 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 5 
 
RECONHECIMENTO DE ANTÍGENOS PELAS CÉLULAS DO 
SISTEMA IMUNE INATO E POR LINFÓCITOS B 
 
RECEPTOR DE ANTÍGENO DO LINFÓCITO B 
 Os receptores que reconhecem antígeno no linfócito B são 
imunoglobulinas (Ig) ligadas à membrana citoplasmática, também 
chamadas de BCR (B cell receptor: receptor da célula B). São IgM 
monomérica e IgD na resposta primária e podem ser qualquer 
outra classe na secundária (IgG, IgA, IgE). Embora a classe de Ig 
mude na resposta secundária, a especificidade permanece a 
mesma, isto é, permanecem capazes de reconhecer o mesmo 
epítopo. Há entre 200.000 a 500.000 imunoglobulinas idênticas 
(BCRs) na superfície de cada célula B. São os receptores 
presentes na superfície dos linfócitos (B ou T) e as 
imunoglobulinas secretadas os responsáveis pela especificidade 
do reconhecimento antigênico. 
 
ESTRUTURA DO BCR 
 O BCR é uma IgM monomérica ou IgD (na resposta 
primária) ligada à membrana do linfócito B. Pode ter estrutura de 
outras classes na resposta secundária. A estrutura é semelhante 
a das imunoglobulinas correspondentes, porém possuem uma 
porção que fica inserida na membrana plasmática do linfócito B. 
O BCR possui um formato semelhante a letra Y. 
Constituído de 4 cadeias peptídicas, sendo duas pesadas (cerca 
de 450 aminoácidos) e duas leves (cerca de 212 aminoácidos) 
ligadas entre si por pontes dissulfídicas. Tanto as cadeias 
pesadas como as cadeias leves, formam pequenas alças ligadas por 
pontes dissulfídicas, conhecidas por domínios. Os domínios 
variáveis constituem o local de reconhecimento e de reação com o 
antígeno. Cada linfócito produz um único tipo de Ig (ou BCR), 
específica para um único epítopo de um antígeno. As porções 
constantes, como o nome diz, possuem a mesma estrutura para 
cada classede Ig em cada espécie animal. 
 
 
O desenho mostra uma representação gráfica da estrutura molecular de 
uma Imunoglobulina (ou BCR). 
 
Um fragmento possui quatro domínios, dois nas porções 
variáveis e dois nas constantes, tanto das cadeias pesadas como 
das cadeias leves, localizadas após as ligações dissulfidicas. Este 
fragmento é conhecido por Fab (Fragment antigen-binding: 
Fragmento de ligação com o Antígeno). O Fab é constituído por 
duas porções das cadeias pesadas e de toda cadeia leve, ligadas 
por pontes dissulfídicas. Tanto a cadeia leve como a pesada 
contribuem com um domínio constante e um domínio variável. 
 Outro fragmento, abaixo das ligações dissulfídicas, é 
conhecido por Fc (Fragment crystalline: Fragmento cristalizável). 
O segundo domínio tem por função a ligação na primeira molécula 
do complemento, enquanto o terceiro domínio é responsável pela 
ligação com receptores presentes em algumas células. 
RECONHECIMENTO MOLECULAR DOS ANTÍGENOS PELOS 
LINFÓCITOS B E ANTICORPOS 
 A reação entre um epítopo de um antígeno e o BCR do 
linfócito B ocorre da mesma maneira que entre o mesmo epítopo e 
um anticorpo específico. Essa interação é um tipo especial de 
reação química e, como tal, sujeita a vários tipos de forças. A 
ligação se dará pela formação de múltiplas ligações não-
covalentes entre o epítopo do ag e os aminoácidos do local da 
união, que permitem a formação de complexos de maneira rápida 
e reversível. Isso permite que o anticorpo possa ser reutilizado. 
Há várias forças de atração: pontes de H, forças eletrostáticas, 
Van der Waals e hidrofóbicas. São individualmente fracas em 
comparação com as ligações covalentes, mas várias delas 
resultará numa ligação suficientemente forte. 
 Para que estas ligações não covalentes ocorram e sejam 
significativas, o ag e o ac (ou melhor dizendo, o epítopo e o sítio 
combinatório do anticorpo ou do BCR), devem estar bem 
próximos, além de terem uma conformação complementar. Desta 
forma, a ligação é mais forte na medida em que suas 
configurações melhor se ajustarem (comparar a uma chave e sua 
fechadura). Isto é, deve haver grupamentos atômicos adequados 
em partes do ag e do ac, e uma forma adequada, para que ocorra 
a ligação. 
 Uma importante força não covalente que contribui nessa 
interação é a ligação hidrofóbica. Muitas cadeias laterais de 
aminoácidos do ag e do ac são hidrofóbicos, ou seja, tendem a se 
agrupar de tal modo que acabam excluindo água dos arredores, e 
por isso se formam ligações estáveis. Outro tipo de ligação não 
covalente que auxilia na interação Ag-Ac é fornecido pelas pontes 
de hidrogênio. As pontes de H são formadas quando um íon H 
eletronegativo interage com outro átomo de H eletronegativo de 
outra cadeia peptídica. Ligações iônicas ou eletrostáticas 
formadas entre aminoácidos de cargas opostas (que se atraem) 
também podem contribuir na ligação do ag ao seu receptor. Mas, a 
carga da maioria das proteínas geralmente é neutralizada por 
eletrólitos solúveis. Quando dois átomos se aproximam muito uma 
força inespecífica chamada força de van der Waals pode ocorrer. 
É o resultado de uma mínima assimetria na carga de um átomo 
devido a posição de seus elétrons. Ou seja, a uma curta distância 
quaisquer dois átomos apresentam uma fraca ligação devido a 
flutuação de suas cargas elétricas. Esta força é conhecida como 
atração de van der Waals. 
 
AFINIDADE DOS ANTICORPOS 
É a força de ligação ag-Ac ou ag-BCR, produzida pela 
somatória das forças de atração físicas e químicas e de repulsão. 
É dependente do “encaixe” entre ambos. 
 
REATIVIDADE CRUZADA 
 
Reação cruzada de um anticorpo significa que esse pode 
reagir (ligar-se) com epítopos estruturalmente relacionados, 
embora distintos. Um anticorpo pode exibir reatividade cruzada 
com vários epítopos, porém a afinidade para cada um epítopo 
tende a ser diferente. 
 
AVIDEZ 
Refere-se a múltiplas ligações entre um anticorpo e um 
antígeno multivalente (aquele que contém múltiplos epítopos 
idênticos). Devido à interação sinérgica dos dois sítios de 
combinação do anticorpo na ligação multivalente, a avidez de um 
anticorpo divalente é 50 a 1000 vezes maior que a sua afinidade, 
dependendo dos limites estruturais (diferenças na dobradiça, 
distâncias entre epítopos, orientações do epítopo...). 
 
 
LIGAÇÃO CRUZADA 
Um anticorpo pode se ligar simultaneamente a dois 
epítopos presentes em duas moléculas de ag diferentes, se estas 
exibirem o mesmo epítopo. A esse fato dizemos que os anticorpos 
realizam ligações cruzadas. 
 
 
CAPÍTULO 6 
MOLÉCULAS DO COMPLEXO DE HISTOCOMPATIBILIDADE 
PRINCIPAL E RECONHECIMENTO DE ANTÍGENOS PELOS 
LINFÓCITOS T 
 
 Para entendermos o reconhecimento de antígenos pelos 
linfócitos T precisamos inicialmente conhecer sobre algumas 
moléculas que são capazes de apresentarem antígenos para os 
linfócitos T. O complexo de histocompatibilidade principal (MHC) 
é um complexo de genes que codificam as moléculas chamadas 
MHC classe I e classe II, além de outras proteínas. Moléculas 
MHC I e II foram primeiramente reconhecidas como tendo papel 
na rejeição de tecidos transplantados, devido a uma ativação de 
resposta imune. Atualmente se sabe que moléculas MHC I e II 
são moléculas apresentadoras de ag para LT. Existem também as 
moléculas MHC III, que incluem proteínas do sistema 
complemento, bem como receptores de membrana que também 
estão envolvidos na resposta imune. 
 
 
 
 É absolutamente necessário que os antígenos estejam 
associados às moléculas do MHC para que seja ativada uma 
resposta imune específica. A este fato se chama restrição ao 
MHC. Para ativar uma resposta imune específica é necessário que 
o ag estranho seja fragmentado, isto é, processado dentro de 
células, e estes fragmentos sejam apresentados para outras 
células, ligados às moléculas MHC. Antígenos associados a 
moléculas MHC classe I são reconhecidos por LTc (CD8+) e ags 
associados com moléculas MHC classe II são reconhecidos por 
LTh (CD4+). Isto significa que diferentes formas de ags são 
reconhecidas por diferentes LT. Ags estranhos exógenos 
(extracelulares) associam-se a MHC II, já os ags estranhos 
endógenos (sintetizados dentro de células) associam-se a MHC I. 
 
MHC I 
 
 
 
Molécula presente nas células nucleadas do organismo. É 
responsável pela captura e apresentação de antígenos (peptídeos) 
sintetizados pelas células (endógenos), tanto próprios como 
estranhos. Quando os antígenos próprios forem apresentados, 
não haverá linfócitos que os reconheçam, entretanto, os antígenos 
estranhos que estiverem sendo produzidos pela célula serão 
igualmente apresentados e esse serão reconhecidos pelo receptor 
de ag (TCR) do linfócito T citotóxico, que então destruirá esta 
célula. Os antígenos estranhos endógenos são originados em 
células cancerígenas ou células infectadas por vírus, por exemplo. 
A molécula MHC I será reconhecida pela molécula de superfície 
CD8, presente no LTc. As moléculas MHC I são glicoproteínas 
constituídas por duas cadeias de peptídeos chamados de alfa e 
beta. A cadeia alfa é ligada não covalentemente a uma cadeia 
menor, chamada de beta 2 microglobulina, a qual não está ligada 
diretamente à célula. Baseados nas seqüências primárias de 
aminoácidos a cadeia alfa pode ser dividida em quatro domínios: 
um domínio extracelular para ligação com peptídeos (alfa 1 e alfa 
2), um extracelular semelhante a Ig (alfa 3), além de um domínio 
na região citoplasmática e um dentro da membrana celular (região 
de transmembrana). A cadeia beta2 microglobulina só possui

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