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A organização genital infantil

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A ORGANIZAÇÃO
GENITAL
INFANTIL
(1923)
(UM ACRÉSCIMO À TEORIA
DA SEXUALIDADE)
TÍTULO ORIGINAL: “DIE INFANTILE
GENITALORGANISATION (EINE EINSCHALTUNG
IN DIE SEXUALTHEORIE)”. PUBLICADO
PRIMEIRAMENTE EM INTERNATIONALE
ZEITSCHRIFT FÜR PSYCHOANALYSE
[REVISTA INTERNACIONAL DE PSICANÁLISE],
V. 9, N. 2, PP. 168-71. TRADUZIDO DE
GESAMMELTE WERKE XIII, PP. 291-8;
TAMBÉM SE ACHA EM STUDIENAUSGABE V,
PP. 235-41. ESTA TRADUÇÃO FOI PUBLICADA
ORIGINALMENTE EM JORNAL DE PSICANÁLISE,
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE
DE SÃO PAULO, V. 33, N. 60/61, PP. 477-81,
DEZEMBRO DE 2000. ALGUMAS NOTAS DO
TRADUTOR FORAM OMITIDAS E OUTRAS FORAM
MODIFICADAS NA PRESENTE EDIÇÃO.
É algo revelador da dificuldade da pesquisa em psicanálise o fato
de ser possível, mesmo em décadas de observação contínua, não
enxergar traços gerais e relações características, até que final-
mente eles nos vêm ao encontro de maneira inconfundível. Com
as observações seguintes eu pretendo reparar uma negligência
desse tipo, no âmbito do desenvolvimento sexual infantil.
Os leitores de meus Três ensaios de uma teoria da sexualid-
ade (1905) sabem que eu jamais reorganizei esse trabalho nas
edições posteriores, que mantive a ordenação original e levei em
conta os progressos de nosso conhecimento através de interpol-
ações e mudanças no texto. Nisso pode ter ocorrido que as partes
antigas e as mais novas não se tenham fundido adequadamente
numa unidade sem contradições. Inicialmente foi dada ênfase à
descrição da fundamental diferença entre a vida sexual das cri-
anças e a dos adultos, depois passaram a primeiro plano as or-
ganizações pré-genitais da libido e o fato da instauração em
dois tempos do desenvolvimento sexual, fato digno de nota e
pleno de consequências. Por fim reivindicou nosso interesse a
pesquisa sexual da criança, e a partir dela se pôde reconhecer
que o desfecho da sexualidade infantil (por volta dos cinco anos)
se aproxima amplamente da forma definitiva no adulto. Foi aí
que parei, na última edição da Teoria da sexualidade (1922).
Em sua página 65, afirmo que “com frequência ou regular-
mente, já na infância é realizada uma escolha de objeto semel-
hante à que vimos como característica da fase de desenvolvi-
mento da puberdade, ou seja, todas as tendências sexuais* se di-
rigem para uma única pessoa, na qual esperam alcançar seus
objetivos. Isso constitui, então, a maior aproximação à forma fi-
nal da vida sexual depois da puberdade que é possível na infân-
cia. A única diferença está em que a reunião dos instintos parci-
ais e sua subordinação à primazia dos genitais não chega a ocor-
rer na infância, ou ocorre de maneira bastante incompleta. O es-
tabelecimento desse primado, a serviço da reprodução, é a úl-
tima fase por que passa a organização sexual”.**
Agora eu já não me daria por satisfeito com a afirmação de
que o primado dos genitais não se realiza, ou o faz muito imper-
feitamente, no período da primeira infância. A aproximação da
vida sexual infantil àquela dos adultos vai muito adiante, e não
se limita ao surgimento da escolha de objeto. Mesmo não
chegando a uma autêntica reunião dos instintos parciais sob o
primado dos genitais, no auge do desenvolvimento da sexualid-
ade infantil o interesse nos genitais e sua atividade adquirem
uma significação preponderante, que pouco fica a dever àquela
da maturidade. A principal característica dessa “organização
genital infantil” constitui, ao mesmo tempo, o que a diferencia da
definitiva organização genital dos adultos. Consiste no fato de
que, para ambos os sexos, apenas um genital, o masculino, entra
em consideração. Não há, portanto, uma primazia genital, mas
uma primazia do falo.
Infelizmente só podemos descrever esse estado de coisas no
que diz respeito ao menino, falta-nos o conhecimento*** dos pro-
cessos correspondentes na menina. Sem dúvida o garoto
pequeno se dá conta de que homens e mulheres são diferentes,
mas inicialmente ele não tem motivo para relacionar isso com
uma diferença entre os órgãos genitais de ambos. Para ele é nat-
ural supor que todos os outros seres vivos, tanto pessoas como
animais, possuem um órgão semelhante ao seu, e sabemos até
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que ele busca igualmente em coisas inanimadas uma formação
análoga.1 Essa parte do corpo que se excita facilmente, que se
modifica e é tão rica em sensações, ocupa em alto grau o in-
teresse do menino, e continuamente apresenta novas tarefas ao
seu impulso investigador.* Ele gostaria de ver também o das out-
ras pessoas, a fim de compará-lo ao seu, ele age como se suspei-
tasse que esse membro poderia e deveria ser maior; a força im-
pulsora que esse membro viril desenvolverá depois na puber-
dade se manifesta, nesse período da vida, essencialmente como
esforço de investigação, como curiosidade sexual. Muitas das ex-
ibições e agressões cometidas pelas crianças, que numa idade
posterior não hesitaríamos em julgar manifestações de
concupiscência, revelam-se, na análise, experimentos a serviço
da investigação sexual.
No curso dessas pesquisas o menino descobre que o pênis não
é um bem comum a todos os seres semelhantes a ele. A visão
casual dos genitais de uma irmãzinha ou companheira de brin-
quedos fornece a oportunidade para essa descoberta. Aqueles
mais perspicazes, observando as meninas a urinar, já desconfi-
aram de alguma coisa diferente, devido à outra postura que elas
têm e ao outro ruído que fazem, e então procuraram repetir essas
observações de modo esclarecedor. Sabe-se como reagem às
primeiras impressões da ausência de pênis. Eles recusam** essa
ausência, acreditam ver um membro, atenuam a contradição
entre o que viram e o que esperavam, mediante a evasiva de que
ele é ainda pequeno e crescerá, e aos poucos chegam à conclusão
emocionalmente significativa de que no mínimo ele estava
presente e depois foi retirado. A ausência de pênis é vista como
resultado de uma castração, e o menino se acha ante a tarefa de
lidar com a castração em relação a ele próprio. Os
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desenvolvimentos seguintes são muito conhecidos para que seja
necessário repeti-los aqui. Apenas me parece que a significação
do complexo da castração só pode ser apreciada corretamente
quando se considera também sua origem na fase da primazia
do falo.2
Sabe-se igualmente em que grau a depreciação da mulher, o
horror da mulher, a disposição à homossexualidade derivam da
convicção definitiva de que a mulher não possui pênis. Recente-
mente Ferenczi ligou, de modo inteiramente correto, o símbolo
mitológico do horror, a cabeça da Medusa, à impressão produz-
ida pelo genital feminino sem pênis.3
Mas não devemos crer que o menino prontamente generaliza
a sua observação de que várias pessoas do sexo feminino não
possuem pênis. Já é um obstáculo para isto a sua suposição de
que a ausência de pênis na mulher seria uma consequência do
castigo da castração. Pelo contrário, o menino acha que apenas
mulheres indignas, provavelmente culpadas de impulsos* proi-
bidos como os dele, teriam perdido o genital. Mulheres respeita-
das, como sua mãe, conservam o pênis por muito tempo. Ainda
não há nexo, para o garoto, entre ser mulher e a ausência de
pênis.4 Somente depois, quando ele aborda os problemas da ori-
gem e do nascimento das crianças e descobre que apenas mul-
heres podem ter filhos, a mãe também perde o pênis, e são con-
struídas às vezes complicadas teorias para explicar a troca do
pênis por uma criança. Em tudo isso o genital feminino não
parece jamais ser descoberto. Como sabemos, a criança vive no
ventre (intestino) da mãe e nasce pela saída do intestino.* Essas
últimas teorias nos levam além do período da sexualidade
infantil.
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É importante ter em vista as mudanças que experimenta, no
desenvolvimento sexual infantil, a polaridade sexual que nos é
familiar. Uma primeira oposição é introduzida com a escolha do
objeto, que naturalmente pressupõe sujeitoe objeto. No estágio
da organização pré-genital sadicoanal não se pode ainda falar de
masculino e feminino, prevalece a oposição de ativo e passivo.5
No estágio da organização genital infantil que então se segue há
masculino, mas não feminino; a oposição é: genital masculino
ou castrado. Apenas ao se completar o desenvolvimento, na épo-
ca da puberdade, a polaridade sexual coincide com masculino e
feminino. O masculino reúne o sujeito, a atividade e a posse do
pênis, o feminino assume o objeto e a passividade. A vagina é en-
tão estimada como abrigo do pênis, torna-se herdeira do ventre
materno.
* “Tendências sexuais”: Sexualstrebungen, no original. Strebung deriva do
verbo streben, “empenhar-se, aspirar, ambicionar”. Nas versões estrangeiras
consultadas se encontram (omitindo o adjetivo “sexuais”, comum a todas): in-
stintos, aspiraciones, aspirazioni, tendances, currents, strevingen. Além das
traduções normalmente utilizadas — a espanhola da Biblioteca Nueva, a ar-
gentina da Amorrortu, a italiana da Boringhieri e a Standard inglesa — recor-
remos a duas outras neste caso: a francesa dirigida por Jean Laplanche (em
Œuvres complètes, v. xvi, Paris: puf, 1991) e a holandesa da Boom (Klinische
Beschouwingen v. 3, Amsterdã, 1985).
** Freud cita a página da 5a edição em volume autônomo dos Três ensaios; o
trecho citado se encontra no segundo ensaio (“A sexualidade infantil”), sexta
seção, oitavo parágrafo.
*** "Falta-nos o conhecimento": fehlt uns die Einsicht. O substantivo alemão,
etimologicamente aparentado ao inglês insight, admite várias versões, se-
gundo o contexto. Os dicionários bilíngues alemão-português dão as seguintes
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opções: "inspeção, conhecimento, penetração, exame, inteligência". As versões
estrangeiras consultadas apresentam: nos faltan datos, carecemos de una in-
telección, ci manca una piena conoscenza, l'intelligence [...] nous manque,
are not known to us, hebben wij geen inzicht ["não temos inzicht"; esta sendo
a palavra holandesa equivalente a Einsicht].
1 É notável, diga-se de passagem, a pouca atenção que a criança dá à outra
parte dos genitais masculinos, o pequeno saco e seu conteúdo. Pelo que se
ouve nas análises, não se poderia imaginar que os genitais masculinos incluem
alguma coisa além do pênis.
* “Impulso investigador”: Forschertrieb — nas versões consultadas encon-
tramos: instinto de investigación, pulsión de investigación, pulsione di
ricerca, pulsion de chercheur, instinct for research, speurdrift [speuren signi-
fica “procurar, investigar”; drift é claramente aparentada a Trieb, em alemão,
e drive, em inglês]; neste contexto preferiu-se “impulso” para verter Trieb (cf.
As palavras de Freud, op. cit., p. 262). Na frase seguinte, “força impulsora”
traduz treibende Kraft, que nas outras versões aparece como fuerza im-
pulsora, fuerza pulsionante, force pulsante, driving force, drijvende kracht.
** "Recusam": leugnen — nas versões consultadas: niegan, desconocen, dis-
conoscono, dénient, disavow, loochenen. Cf. nota de Strachey (na Standard
edition, v. xix) sobre o conceito de Verleugnung, cujo aparecimento é por ele
registrado neste ponto da obra de Freud. Ver também o verbete do Vocab-
ulário da psicanálise (São Paulo: Martins Fontes, 11a ed., revista e adaptada
para o Brasil, 1991) e As palavras de Freud, op. cit., pp. 224-30.
2 Já foi corretamente assinalado que a criança adquire a ideia de um dano nar-
císico por perda corporal ao perder o seio materno após mamar, ao depositar
cotidianamente as fezes e mesmo ao separar-se do ventre da mãe no nasci-
mento. Mas só devemos falar de um complexo da castração quando tal ideia
de perda ficou ligada ao genital.
3 Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, ix, 1923, Caderno 1. Gostaria de
acrescentar que no mito se trata do genital da mãe. Atenas, que leva a cabeça
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da Medusa no escudo, torna-se por isso mesmo a mulher inabordável, cuja
visão afasta qualquer pensamento de aproximação sexual.
* "Impulsos": Regungen — nas versões consultadas: impulsos, mociones, im-
pulsi, motions, impulses, impulsen. Ver nota sobre a tradução de Regung em
"O uso da interpretação dos sonhos na psicanálise" (volume 10 destas Obras
completas, p. 127) e em "Recordar, repetir e elaborar" (idem, p. 197).
4 Analisando uma jovem senhora, que não tinha pai e tinha várias tias, soube
que ainda no período de latência ela acreditava que a mãe e algumas tias pos-
suíam pênis. Mas uma tia que era débil mental ela pensava ser castrada, tal
como percebia a si mesma.
* Para o menino, naturalmente. Mas isso não é explicitado na frase original,
que diz: Wie wir wissen, lebt das Kind im Leib (Darm) der Mutter und wird
durch den Darmausgang geboren. Talvez Freud considerasse claro o sentido
que pretendia, em virtude do contexto, ou talvez isso seja simplesmente neg-
ligência de expressão. López-Ballesteros intercalou um "imagina que" na
frase, e Strachey, "is supposed". Etcheverry e Laplanche nada acrescentaram.
5 Cf. Três ensaios de uma teoria da sexualidade, 5a ed., p. 62.
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