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Problemas da Metafísica do ser e da existência

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Problemas Metafísicos 
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Valter Luiz Lara
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Problemas da Metafísica do ser e da existência
• Intrudução
• Termos Importantes Na Metafísica Do Ser
• O Problema Do Ser Como Questionamento Da Realidade
• A Compreensão Do Ser Na Metafísica De Aristóteles
• Conclusão
O objetivo desta unidade é aproximar e adequar em linguagem mais 
acessível e familiar ao aluno a terminologia da ontologia clássica, da 
metafísica desde as preocupações originais de Parmênides, Heráclito, 
Platão e Aristóteles. 
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Preste muita atenção aos novos conceitos que serão apresentados nessa 
unidade. Eles serão a condição para a continuidade dos seus estudos de 
Problemas Metafísicos. 
As atividades e leituras complementares devem ajudar a fixar e tornar mais 
sólida sua aprendizagem. Os termos da Metafísica de Aristóteles podem ser 
encontrados em outros manuais e livros didáticos de filosofia ou da história 
da filosofia. Alguns deles estão sugeridos nas referências bibliográficas.
Você verá que a boa literatura faz uso de grandes dilemas da existência, 
usando a linguagem do ser em contextos que ilustram através de situações 
concretas o que a metafísica comunica necessariamente sob a forma mais 
conceitual, teórica e abstrata. 
ORIENTAÇÕES
Problemas da Metafísica do ser
 e da existência
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
Contextualização
Faça um exercício de contextualização do que você aprendeu nessa Unidade. 
Aplique o conceito das categorias de Aristóteles para qualquer situação, de 
preferência um objeto a sua frente. Sugiro que você aplique a uma determinada 
pessoa que você conhece e que esteja bem a sua frente, se ela não estiver, imagine-a 
agora e descreva seguindo a ordem das categorias, alguns atributos que cada 
categoria sugere. Veja que a pessoa em sua singularidade pode ser considerada 
como identidade, ente, um Ser tomado como substância, uma das categorias de 
Aristóteles. Crie uma frase com sujeito e predicado para cada categoria. 
Exemplo para a categoria “qualidade”: Maria (sujeito) é (predicado) bonita;
Para a categoria “quantidade”: Maria é possui 49Kg. E assim por diante. 
Faça esse exercício e verifique que as múltiplas manifestações do ser em cada 
ente estão profundamente integradas a uma unidade substancial e essencial do 
Ser de Maria. 
Faça isso também com um objeto que não seja um ser humano. Por exemplo, 
uma caneta que esteja a sua frente. 
Outro exercício interessante de aplicação bem prática da Metafísica de 
Aristóteles é a verificação das quatro causas para análise dos objetos, inclusive 
para iniciar proposição de um projeto de pesquisa. Veja que elas são básicas e 
fundamentais na constituição das coisas em sua estrutura de ser e existir. Comece 
sempre perguntando:
1. O que é isso? (causa formal – sua essência – o que a coisa é em sua essência)
2. De que é feito (causa material)?
3. Quem fez ou de onde surgiu, isto é, qual é a sua origem? (causa eficiente – o 
que ou quem reúne as condições materiais a sua forma singular)
4. Para que se fez? (causa final) 
6
7
Introdução
A questão do ser a partir de dilemas 
existenciais 
Comecemos por um exemplo bem conhecido da literatura: “Ser ou não ser, eis 
a questão”. 
O que você entende dessa que é uma das mais famosas frases da literatura 
mundial? Pense um pouco... Não se apresse. Quais significados ela pode conter ou 
sugerir a você? 
Na peça “Hamlet” de William Shakespeare, esse 
pensamento encontra-se na primeira cena do terceiro 
ato. Na maioria das montagens da peça para o teatro e 
o cinema, a frase aparece quando Hamlet acaba de 
encontrar o crânio de um de seus criados - Yorick, o 
bobo da corte que havia sido uma figura marcante em 
sua infância - e com ele à mão começa a se questionar. 
Onde havia vida agora só restam os ossos. Diante da 
descoberta da morte do pai que havia sido assassinado 
por causa da traição da mãe com o tio, a pergunta 
aponta para o valor de todas as coisas: riqueza, poder, 
status, saúde parecem de uma hora para outra se 
transformar em nada, apenas ossos, morte e um cadáver 
inerte, imobilizado como o de Yorick. 
Importante!
O nome completo da peça é “A Trágica História de Hamlet, Príncipe da Dinamarca” escrita 
em Londres entre 1599 e 1607.
 William Shakespeare (1564-1616) foi dramaturgo e poeta, reconhecido por muitos 
como o maior dramaturgo de todos os tempos, autor de muitas obras, entre poemas, 
comédias, dramas e tragédias mais conhecidas estão “O Mercador de Veneza”, “Sonho 
de uma noite de verão”, “Romeu e Julieta”, “Julio César”, “Macbeth”, “O Rei Lear”, “Otelo”, 
“Ricardo III” e “Hamlet”. 
Você Sabia?
Neste contexto com o crânio à mão, surge a questão: ser ou não ser? O 
significado se expande para inúmeras outros. Existir ou desistir de existir parece 
fazer sentido. Sua sutileza e, ao mesmo tempo, gravidade filosófica a transformou 
em questão metafísica, genérica, profunda e universal. É dessas frases que cabem 
em qualquer lugar, a qualquer hora, para ilustrar qualquer polêmica cujo caráter é 
a dúvida existencial, mas também a dúvida sobre tudo o que possa ser ou existir. 
Figura 1:To be or no to be, 
this is the question
Fonte: iStock/Getty 
Images
7
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
Se o contexto da frase se dá não mais na cena em que Hamlet se vê diante 
do crânio de Yorick, mas no momento que antecede sua visita a Ofélia quando 
vai confessar-lhe que não a ama quando na realidade a ama verdadeiramente, a 
frase pode sugerir outros significados. Veja como ela aparece no contexto mais 
amplo daquele ato:
Ser ou não ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins 
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação. (Vê Ofélia rezando.)
Mas, devagar, agora!
A bela Ofélia! (Para Ofélia.) Ninfa, em tuas orações
Sejam lembrados todos os meus pecados.
8
9
Importante!
Muitas pessoas pensam que o famoso dilema “Ser ou não ser” surge na cena que Hamlet 
segura a caveira do falecido bobo da corte, contudo o “dilema do ser” surge bem antes, 
quando Hamlet percebe que precisa tomar uma atitude em relação ao que o fantasma 
do pai havia lhe dito. A famosa frase “Ser ou não ser” surge no terceiro ato quando Hamlet 
vai ao encontro de Ofélia dizer que não a amava. A questão é que ele pretendia colocar 
em prática seu plano para vingar a morte do pai,e para tanto ele precisa se afastar de 
Ofélia mesmo a amando, porque ela era fi lha do primeiro ministro, e ele iria atentar 
contra a vida do próprio rei. Ele entra na casa de Polônio, pai de Ofélia, e enquanto a 
aguarda chegar ele sofre porque vai dizer para a mulher que ama, exatamente o oposto, 
que não a ama; então Hamlet começa a pensar no preço muito alto que estava tendo 
que pagar para vingar a morte do pai. É neste momento que surge o monólogo do “Ser 
ou não ser”” Cf. comentário de Marcus Azen, postado em 25/03/2013, Disponível em 
http://eradaincerteza.blogspot.com.br/2013/03/ser-ou-nao-ser-eis-questao-um-
ensaio.html Acesso em 23/07/2015
Você Sabia?
 
Alguns testemunhos apontam que a versão mais 
antiga e original composta por Shakespeare, na 
primeira edição da peça Hamlet publicada em 
1603, lia-se em inglês “To be, or not to be, I, 
there’s the point” (Ser ou não ser, eu, aí está o 
ponto) . Embora seja semelhante, a mesma frase 
agora em novo contexto, naquele que antecede 
sua confissão de desamor a Ofélia, remete-nos a 
uma nova possibilidade de interpretação: amar ou 
não amar, confessar ou não confessar, assumir ou 
não assumir a vingança proposta pelo fantasma do 
pai? Defender seu amor, desistir dele em função 
de outras tarefas mais importantes ou amar Ofélia 
seria o mais importante? 
Veja que a questão “ser ou não ser” fora do contexto pode não dizer muita coisa 
ou dizer outras coisas, exatamente porque parece pretender dizer tudo. Só quando 
a colocamos num contexto mais preciso é que aparece o seu caráter concreto, 
singular, pulsante e especificamente existencial. Tudo já não interessa, pois o que 
importa é o que é preciso decidir naquele momento decisivo da existência. No caso 
de Hamlet, trata-se da escolha entre o amor a Ofélia ou a fidelidade ao desejo de 
vingança do fantasma do pai. 
Figura 2: To love or no to love, 
is the point
Fon te: Wikimedia/Commons
9
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
SHAKESPEARE, William. Hamlet. Ato III cena I, p. 51-52. Tradução de Millôr Fernandes, 
disponível em: http://goo.gl/c0EKsEx
pl
or
Não é uma escolha qualquer, pois uma vez feita, “tudo” (e agora sim a palavra é 
universal e autêntica na singular vida de Hamlet) e definitivamente “tudo” mesmo 
em sua vida pode mudar. 
Com esse exemplo particular da literatura universal iniciamos o tema da 
metafísica encarando as questões do ser e do existir. O intuito é apresentar os 
problemas e a linguagem conceitual que permitiu principalmente a partir de 
Aristóteles, compreender a manifestação diversa do ser. 
Desse modo pretendemos capacitar você a superar a aparência de vazio que os 
conceitos metafísicos podem sugerir à primeira vista. Os termos mais abstratos da 
filosofia ao desejarem abarcar a totalidade das coisas como acabamos de ver em 
Shakespeare, nascem quando assumimos um lugar bem definido no mundo dos 
seres e mais ainda no mundo das relações com os outros e mais particularmente 
das decisões que podem alterar nossas vidas. 
Termos importantes na Metafísica do Ser 
Para atualizar e facilitar a linguagem sobre o ser, as palavras “ser”, “realidade” 
ou “real” serão empregadas na maioria das vezes com significados semelhantes e 
por vezes como sinônimos. O mesmo se dará com as palavras “ente(s)” e “coisa(s)”. 
Por isso, segue abaixo um pequeno glossário com a indicação dos significados de 
alguns dos termos técnicos mais frequentes que serão usados nesta unidade. Se 
você quiser pode pular esse tópico, vá direto ao segundo e volte apenas quando 
achar que precisa entender melhor uma ou outra palavra de maior complexidade.
Importante!
Glossário é um conjunto de palavras com o uso e significado mais comuns indicados 
brevemente como um dicionário minúsculo para facilitar a compreensão dos termos 
mais frequentes dentro de um texto. Este brevíssimo glossário é uma seleção de termos 
retirado e adaptado livremente conforme os objetivos de nosso estudo, do Glossário 
organizado pelo Professor Gilberto de Andrade Martins do Observatório USP de Educação 
e Pesquisa Contábil da EAC E FEA e do Dicionário de Filosofia que se encontra no final do 
livro de Theobaldo M. dos Santos (1972). 
Outro glossário de termos metafísicos você pode acessar: https://goo.gl/aBq70q
Você Sabia?
10
11
1. Abstração: peração mental que processa distinção e separação de certos 
atributos ou características de objetos singulares para um nível em que eles 
subsistem em si mesmos sem a necessidade de estarem ligados aos mesmos 
objetos dos quais eles foram originalmente separados. Exemplo: a brancura 
é uma abstração, pois é uma realidade que subsiste, ao menos mentalmente, 
separadamente dos objetos que podem ser classificados como branco. Da 
mesma forma, a beleza, negritude, bondade, justiça e outras realidades 
podem ser abstraídas de objetos concretos, isto é, separada deles. Esse 
processo de distinguir o objeto concreto de suas qualidades, transformando 
as segundas em realidades autônomas é o que se chama de abstração. 
2. Acidente: O que pode ser identificado ou suprimido sem que a coisa em 
que existe mude de natureza ou desapareça. Acidente ou acidental é um 
atributo ou característica secundária, não prioritária e não essencial de uma 
determinada coisa. O contrário é a substância ou a essência de uma coisa. 
3. Alegoria: Exposição de um pensamento sob forma figurada. 2.Ficção que 
representa uma coisa para dar ideia de outra. 3. Sequência de metáforas 
que significam uma coisa nas palavras e outra no sentido. 4. Obra de pintura 
ou de escultura que representa uma ideia abstrata por meio de forma que 
a toma compreensível. 5. Simbolismo concreto que abrange o conjunto de 
toda uma narrativa ou quadro, de maneira que cada elemento do símbolo 
corresponda um elemento significado ou simbolizado.
4. Categoria: Em grego significa atribuir uma qualidade ou atributo a um 
ser ou realidade, As “categorias” são em Aristóteles as diversas maneiras 
de atribuir qualidade, isto é características a um sujeito, ser ou realidade. 
Aristóteles estabeleceu uma lista das diversas categorias que formam os 
juízos sobre os seres ou coisas (dez, ao todo): 
 · a essência, 
 · a qualidade, 
 · a quantidade, 
 · a relação.
 · a ação, 
 · a paixão, 
 · o lugar, 
 · o tempo, 
 · a situação, 
 · a maneira do ser.
5. Causalidade: Causa é a condição necessária para que se produza um 
fenômeno qualquer. É ação pela qual se produz algum efeito. O princípio de 
causalidade é a relação que une causa ao seu efeito: a toda causa corresponde 
um efeito e reciprocamente. 
11
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
6. Conceito: Representação de um objeto pelo pensamento através de suas 
características mais gerais. 2. Ação de formular uma ideia por meio de 
palavras; definição, caracterização. 3. Pensamento, ideia, opinião, noção, 
concepção. Um conceito é uma abstração, isto é, resultado do processo a 
partir do qual se retira características comuns de seres particulares, de forma a 
apontar, quando isto é possível, o que há de essencial e de idêntico entre eles. 
7. Dedução: Método que consiste em procurar a confirmação de uma hipótese 
através da verificação das consequências previsíveis de uma certeza já dada. Na 
dedução parte-se de um conhecimento já admitido como certo e geralmente 
mais amplo e universal e conclui-se outro conhecimento mais particular 
derivado do primeiro. Por exemplo: se eu sei que hoje choveu (e não havia 
evidentemente cobertura no quintal), consequentemente eu sei que o chão 
ficou molhado (dedução). O método dedutivo é usado em todas as ciências, 
mas é particularmente apropriado pelas ciências mais teóricas e formais como 
a lógica, a matemática, a física teórica e a metafísica. E possível levar a efeito 
provas formais nas quais se estabeleceque as conclusões a que se chega são 
formalmente válidas. O método dedutivo é o mais usado em Metafísica. 
8. Definição: É a operação mental pela qual se determina e se enuncia a 
compreensão de um conceito, isto é, o conjunto de suas características 
essenciais. A ação de definir pressupõe a delimitação intelectual da essência 
de uma coisa através de seu conceito. Toda restrição ou limitação do uso de 
um termo em um determinado contexto. Uma boa definição deve revelar 
a essência intima de uma coisa e expressar pelo conceito ou a definição da 
coisa deverá ser tal que todas as suas propriedades, atributos, qualidades ou 
características possam dele ser deduzidas.
9. Dialética: Em termos gerais, refere-se à arte do diálogo e da discussão, ou 
seja, o raciocínio por meio de diálogos. A acepção da palavra tem variantes em 
épocas distintas. 1) Para os gregos, desde Heráclito consistia no movimento 
de forças contrárias que em última análise explicam o ser e o não ser e tudo 
o que existe: fogo e água, sim e não, frio e quente, bem e mal, guerra e paz, 
Consistia no método empregado por Sócrates, pelo qual ele demonstrava as 
verdades que se propunha. Platão empregou-a largamente em seus diálogos, 
nos quais, pela exposição e contra argumentação dos interlocutores, se extrai 
do dado a essência. Aristóteles fez distinção entre analítica e dialética. A 
primeira tem por objetivo as demonstrações rigorosas partindo de premissas 
verdadeiras, enquanto a segunda refere-se a raciocínios sobre opiniões apenas 
prováveis. 2) A Escolástica medieval distinguiu dialética retórica e gramática, 
entendendo a primeira como os princípios da lógica formal. 3) Kant voltou 
em parte ao critério aristotélico e chamou a dialética de raciocínio ilusório, ou 
seja, ‘lógica de aparências’. 4) Hegel empregou a dialética em seu sentido mais 
transcendental em filosofia, denotando o processo que emprega o espírito 
12
13
para o conhecimento do mundo, conhecida como dialética hegeliana, que 
consiste em reconhecer a inseparabilidade dos contraditórios e em descobrir 
o princípio de sua união em uma categoria superior. Em outras palavras, a 
toda tese corresponde uma antítese, completando-se ambas em uma etapa 
superior, chamada síntese. A dialética hegeliana parte da ideia vai à matéria 
e retorna à ideia. Marx empregou a dialética hegeliana, porém, como ele 
mesmo disse, ao contrário, partindo da matéria, indo à ideia e retornando 
à matéria. Em outras palavras, não é mais a parte (o indivíduo) que explica 
tudo, mas é o todo que deve explicar a parte. 
10. Ente: Da palavra latina ens, significa “aquele que está sendo”, do verbo 
esse, “ser”. É o particípio presente que corresponde ao verbo grego “on” que 
tem o mesmo significado e que é traduzido por “ente”, na língua portuguesa. 
A tradução literal seria “sendo”. Alguns filósofos fazem questão de distinguir 
ente do ser como veremos mais a frente, pois se trata de diferenciar as coisas 
singulares do ser que está presente como fundamento de todo ente que 
(sendo) é o que é por que tem ser. 
11. Essência: Aquilo que faz uma coisa ser o que ela realmente é em sua 
identidade; é o caráter ou qualidade que determina o ser de uma coisa, sem 
o qual ela deixaria de ser o é. 
12. Existência: A palavra “existir” é composta do Latim “ex + sistere” = 
“exsistere” que significa “aparecer, emergir, mostrar-se”. O “ex” dá o sentido 
de sair e se mostrar, aparecder enquanto o “sistere” aponta para o manter em 
pé. Existência é o estado do que existe, está, tem ser e se mostra subsistente, 
aí, presente. Sinônimo também para expressar o que tem vida. Para alguns 
filósofos é qualidade por excelência do ser humano. O existencialismo é a 
filosofia que pensa o mundo a partir da “existência” como ponto de partida 
e horizonte último de sentido para todas as coisas. 
13. Ideia: Ideia é todo objeto do pensamento e, como tal, consiste em uma 
representação. Em sua origem grega ideia é “eidolon” e denota imagem, forma 
ou aspecto de uma coisa. É, pois, a maneira de se representar mentalmente 
uma coisa real. Um dos problemas mais importantes em filosofia metafísica 
se dá em torno da relação e correspondência que existe entre ideia e coisa. O 
problema ganha dimensões as mais diversas conforme o foco de abordagem. 
Se a preocupação é o conhecimento e sua verdade, trata-se de um problema 
da teoria do conhecimento; se o foco é a realidade e a nossa capacidade de 
corresponder ao que de fato ela é, o problema então é da ontologia como 
parte da metafísica voltada para o estudo do ser enquanto ser. 
14. Indução: Método que consiste em procurar a confirmação de uma hipótese 
através da verificação e observação dos objetos ou coisas particulares e 
através delas inferir consequências gerais. Trata-se de um modo de observar e 
13
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
conhecer a realidade partindo-se de cada coisa ou fato individual e só depois 
de reunir as informações extraídas de cada um deles poder concluir alguma 
lei mais geral adequada a todos eles. É o método oposto ao da dedução. 
Pela indução parte-se do particular para o universal. As ciências particulares 
devotadas aos fenômenos que fazem parte da natureza física e que estão 
ao alcance de nossa percepção sensível partem da indução como momento 
fundamental da construção de seu conhecimento: ciências da natureza como 
a física, biologia, medicina e as demais que fazem do fenômeno observável 
seu objeto e fundamento. 
15. Ser: Realidade última presente em tudo o que existe. Em metafísica não 
é apenas o verbo em sua forma infinitiva, mas é, sobretudo, a substância, 
o sujeito e o fundamento presente na totalidade de tudo o que pode ser 
denominado no presente como “aquilo que é”. É a realidade mais universal 
que se possa nomear e por isso é de uma definição extremamente abstrata 
e genérica. Por isso, diz-se do “Ser” que é o conceito de maior extensão e 
de menor compreensão possíveis. Maior extensão significa que dentro do 
conceito “Ser” cabem todos os objetos que se possa igualmente pensar; por 
outro lado é o de menor compreensão porque não se pode defini-lo de forma 
abrangente a não ser como “tudo aquilo que é”. 
16. Substância: O que existe por si e em si. O que é permanente nas coisas 
que mudam. O contrário de acidente. É palavra que pode ser usada como 
sinônimo da essência de uma coisa.
O Problema do Ser como Questionamento 
da Realidade
O Ser como objeto de reflexão da Metafísica ou da Ontologia mais especificamente 
pode ser substituído pela palavra realidade. Assim as coisas parecem ficar mais 
fáceis para a comunicação e compreensão em campos de atuação que não se 
restringem apenas ao uso dos termos filosóficos. Reflita um pouco o que é a 
realidade em seu sentido mais abrangente possível. Já propusemos isso no início 
da primeira Unidade. Volte agora a pensar a respeito. 
 De que realidade se trata? Social, política e econômica? É realidade sob a ótica 
da conjuntura atual ou de algum outro momento da história? Essa realidade abrange 
que região, cidade, território, Estado ou país? Trata-se da realidade global, de todo 
o planeta? A dimensão cultural está incluída? O caráter ético está envolvido? O 
olhar que retrata a realidade é prioritariamente científico? Qual ciência? Economia, 
sociologia ou antropologia? Pode ser a psicologia? Pode-se falar da realidade sob 
a ótica religiosa? A partir das ciências da religião ou da teologia? A poesia, o mito, 
a música e outras artes plásticas e cênicas também podem produzir discurso e 
interpretação da realidade? Ou ainda, elas podem criar realidade?
14
15
Pois bem, o que é realidade se a todo momento somos desafiados à possibilidade 
de ilusão, falsidade, erro, engano, mentira, ideologia e outras formas de ocultamento, 
omissão e falseamento do real? É possível distinguir o que “é real”do que “é irreal”? 
Mas o que significa isso: afirmar o que não é? Dizer que algo “é irreal” não 
é o mesmo que afirmar o irreal e dar-lhe alguma consistência no nível do ser? 
É um defeito de linguagem dizer que tal coisa “não é” ou essa é a sua suprema 
qualidade? Como então se poderia nomear o vazio, o nada, o que está fora do 
real ou aquilo que não existe? Nomear o nada não é cair em contradição e afirmar 
a sua existência?
De algum modo é preciso admitir que sob certas circunstâncias o “não ser” 
pertence ao “ser” como já havia admitido Heráclito, mas não quis aceitar Parmênides. 
Se isso é uma questão de linguagem, o fato é que esse problema existe. O que é um 
buraco senão um espaço cuja ausência da terra é sentida quando nele se cai? Ele 
existe não é mesmo? Ou o que existe é apenas o que o circunda? 
Imagine agora o problema do ser e do não ser, do real e do irreal como fonte 
e fundamento para se pensar todos os problemas que evocam igualmente os 
contrários: luz e sombra, presença e ausência, dor e prazer, amor e ódio, guerra e 
paz, bem e mal, existir e não existir, viver e morrer.
Chegamos a um momento em que é necessário se tomar uma decisão: pensar 
na prioridade da existência ou não de um ou outro desses pólos contrários. Eles 
existem em plenitude de igualdade ontológica, isto é, de realidade, de ser? Ou, em 
outras palavras, uma realidade só existe em relação à outra ou o que de fato tem 
consistência de ser é apenas uma delas e assim, a outra é somente uma espécie 
de ausência, degradação ou negação da primeira. Há quem pense o problema do 
mal, do ódio, da morte e da doença como consequência da realidade suprema e 
primeira do bem, do amor, da vida e da saúde. 
 E você o que pensa sobre tudo isso? Estamos no ponto alto da Metafísica do 
Ser. Aqui se decide o fundamento de nossa visão sobre o mundo, a vida, a ética e 
outros tantos problemas em que a ciência sozinha não dá conta de responder. 
Essa linguagem sobre o ser e a realidade tomadas em sua totalidade não é nova 
para os filósofos. Agora vamos ver como o filósofo Aristóteles tentou organizar 
o problema do ser apontado pelos pré-socráticos nessa dualidade flagrante de 
contrastes que confunde o pensar em sua ânsia de captar a realidade do ser na 
multiplicidade de seu aparecer. 
15
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
A Compreensão do Ser na Metafísica
de Aristóteles
Metafísica no pensamento anterior a Aristóteles
Os pensadores gregos que foram chamados de Pré-socráticos queriam 
compreender, numa comparação com os físicos atuais uma espécie de equação, 
no caso deles, um elemento originário que pudesse explicar a causa de todas as 
coisas. Essa causa não devia explicar somente a origem cronológica das coisas 
como princípio no tempo, mas o fundamento de tudo o que existe e provê a 
manutenção do ser que constitui e está presente em todos os seres. Esse elemento 
era chamado de “arché”, palavra grega que traduzimos por princípio, mas pode 
ser também fundamento. 
A novidade dessa forma de pensar filosoficamente estava na forma de dispensar, 
romper ou ignorar a linguagem simbólica, alegórica ou ainda metafórica do mito 
e da fé religiosa. O pressuposto básico estava na admissão da capacidade da 
razão lógica encontrar as respostas pelos princípios e causas originais. Água, ar, 
indeterminação, terra, fogo, ser e não ser foram apresentados como elementos 
originários. A dimensão metafísica dessa busca estava na ousadia de sua abrangência, 
ou seja, sua pretensão de esgotar numa explicação, através da apresentação de um 
elemento, de estrutura ou constituição de toda a realidade. 
A ideia de metafísica como algo que investiga coisas que estão para além da 
física não faz justiça a esse modo de pensar. Metafísica, nesse sentido, é antes, a 
busca por uma explicação de tudo o que está na esfera da física, entendida aqui 
como “physis” grega, isto é, “natureza” e tudo o que ela contém. 
O problema maior para os pré-socráticos é explicar o movimento, a mudança 
dos seres. O aparecer e o desaparecer das coisas, dos entes em sua multiplicidade. 
Que ser, ou seja, qual realidade pode dar conta de explicar o movimento? Ou 
será que o movimento é apenas uma ilusão dos sentidos. O histórico da resolução 
desse problema produziu vários sistemas explicativos. Filósofos como Pitágoras, 
Heráclito, Parmênides, Sócrates e Platão entre outros, deram, cada um a seu 
modo, uma explicação metafísica para o problema da mudança. Admitir ou não o 
movimento como realidade primeira, causa e fundamento de todos os fenômenos 
até hoje continua produzindo sistemas de pensamento que reconhecem a natureza 
contrária de seus pressupostos metafísicos. Ser ou estar ao lado de gente aberta, 
favorável e acolhedora de mudanças é bem diferente de estar ao lado de pessoas 
que as ignoram, resistem e são contra qualquer tipo de alteração do estado das 
coisas não é mesmo? 
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Diante da tendência já encontrada em Parmênides e radicalizada em Platão de 
priorizar o caráter imutável do ser como ideia eterna alheia e superior ao mundo 
dos sentidos, Aristóteles formulará nova forma de resolver o problema metafísico 
da unidade do ser frente à realidade da mudança e da multiplicidade dos entes:
(...) diferentemente de seus dois predecessores, Aristóteles não julga o 
mundo das coisas sensíveis, ou a Natureza, um mundo aparente e ilusório. 
Pelo contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência é, justamente, 
a multiplicidade de seres e a mudança incessante. 
Em lugar de afastar a multiplicidade e o devir como ilusões ou sombras 
do verdadeiro Ser, Aristóteles afirma que o ser da Natureza existe, é real, 
que seu modo próprio de existir é a mudança e que esta não é uma 
contradição impensável. É possível uma ciência teorética verdadeira sobre 
a Natureza e a mudança: a física. Mas é preciso, primeiro, demonstrar 
que o objeto da física é um ser real e verdadeiro e isso é tarefa da Filosofia 
Primeira ou da meta-física (CHAUÍ, 1994, p. 217).
A tarefa e os objetos da Metafísica segundo Aristóteles
Como assinalou Marilena Chauí, Aristóteles confere à física o estudo dos seres 
em sua multiplicidade, isto é, dos entes e das coisas perecíveis. A física é Filosofia 
Segunda, pois tem por objeto os entes sujeitos à corrupção, visíveis aos nossos 
sentidos no tempo e no espaço, enquanto à Metafísica, chamada por ele de Primeira 
Filosofia, cabe o estudo do Ser enquanto ser, isto é, daquilo que explica a unidade 
dos entes, suas essências, causas e fundamentos. 
Sendo assim, a Metafísica ou Filosofia Primeira para Aristóteles tem por objeto 
de estudo três grandes realidades ou dimensões do Ser: 
1. o ser de Deus, o primeiro motor imóvel que dá origem e movimento a tudo 
o que nele encontra sua causa primária; 
2. primeiras causas de todos os entes existentes; 
3. essência ou substância e todas as categorias, isto é, suas propriedades e 
4. atributos presentes em todos os entes existentes. 
O estudo do Ser como causa primeira identifica-se com a Teologia; é o estudo 
do Ser sem causa, perene e imutável. Esse estudo, discurso ou racionalidade (do 
grego “logos”) sobre Deus (Theos) não tem nada a ver com o que o cristianismo 
mais tarde definiu como Teologia. Teologia para o cristianismo é o saber sobre 
Deus que parte da revelação, ou seja, da fé e do que a tradição afirma ser Sagrada 
Escritura. De modo diferente, para Aristóteles, Teologia é a parte da Primeira 
Filosofia que se ocupa da divindade em seus atributos e características de primeiro 
Ser, causa primeira e motor imóvel que desencadeia toda a multiplicidade dos entes 
existentes no mundo, bem como a própria ordem cósmica enquanto tal.
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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
As primeiras causas 
O problema do movimento em Aristóteles encontra uma solução a partir de sua 
concepçãode causalidade. Causa é tudo aquilo que influi e produz a existência de 
um ser. O movimento é real e sua explicação se encontra no fato inconteste da 
mudança que vemos ocorrer nos entes e entre eles. São mudanças que acontecem 
sempre a partir de um ponto rumo a outro. O primeiro destes pontos, o que dá 
origem ao movimento é o que se chama de causa. 
As mudanças podem ser acidentais ou substanciais. As primeiras transformam 
nas coisas apenas o que é acidental, mas não alteram sua substância. As outras, 
chamadas substanciais, alteram a própria essência das coisas, transformando a 
substância, isto é, a coisa naquilo que ela é em si mesma. A água, por exemplo, 
pode mudar de estado, de fria pode tornar-se quente e evaporar-se, mas a sua 
substância que hoje sabemos se traduz pela fórmula química, H2O, se mantém 
inalterada. Trata-se então de mudança acidental. Entretanto, quando se está diante 
de movimento que supõe geração ou corrupção, ocorre uma alteração substancial. 
A morte ou a geração de uma nova vida são exemplos de mudança substancial, 
pois elas são demonstrações de transformação da substância: o que antes era agora 
não é mais; ou simplesmente deixa de ser, ou então, se transforma em novo ente. 
A partir da ideia de causalidade e da variedade das causas que explicam o 
movimento dos seres, Aristóteles chega à concepção das principais, primeiras e 
mais originais causas de tudo o que existe. São as quatro causas, os pilares da 
Metafísica aristotélica:
1. Matéria. É o elemento de que tudo é feito na natureza e possui a 
capacidade de alteração conforme a variedade das formas possíveis em que 
se encontra. 2ª) Forma. É o que dá existência singular à matéria e constitui 
a essência de cada ente. Através da forma a matéria se individualiza e dá 
identidade aos seres. 
2. Assim, matéria e forma são causas primárias, quando associadas dão 
origem a tudo o que existe na variedade dos seres e na composição da 
singularidade das substâncias, isto é, das coisas em si mesmas. 
3. Potência. É o que a matéria contém em si mesma como possibilidade 
escondida ainda não manifesta do que ela pode vir a ser, mas ainda não é. 
O exemplo clássico é o da semente. A semente de uma árvore é a potência 
da árvore, a possibilidade escondida ainda não manifesta que ela tem 
para ser árvore. 
4. Ato. É a potência manifesta, atualizada e transformada da matéria. Para 
usar o mesmo exemplo, ato é a árvore, possibilidade concretizada da matéria 
contida potencialmente na semente, agora transformada plenamente naquilo 
que antes estava escondido; é a matéria em sua forma atual manifestando o 
que virtualmente continha sua potência. 
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Potência e ato são duas causas que completam o quádruplo dos princípios 
fundamentais da metafísica de Aristóteles. Eles são princípios causais constituintes 
da mesma realidade suprema, o Ser. Funcionam como conceitos que operam a 
dinâmica do movimento no interior de todo ente, como dimensões do Ser que é 
uno, perene e total, mas é também múltiplo, singular e submetido à realidade do 
movimento exatamente porque explicam a própria possibilidade da mudança. 
Outra maneira de entender as quatro causas se explica através da pergunta pelo 
“o porquê” das coisas apontando para quatro diferentes sentidos: 1) A causa 
material é identifica na coisa aquilo de que ela é feita. 2) A causa formal a sua 
essência e o que ela realmente é. 3) A causa eficiente explica como uma matéria 
recebeu tal forma como sua essência. O escultor é a causa eficiente que fez do 
mármore uma obra de arte. 4) E finalmente, a causa final é o motivo e o para quê 
das coisas, que explicam sua finalidade. 
1. De que é feito? (Causa material)
2. O que é? (Causa formal)
3. Como ou quem fez? (Causa eficiente)
4. Para quê? (Causa final)
A Substância e demais categorias
 O conceito de substância em Aristóteles assume dois sentidos 
complementares. O primeiro se aplica aos indivíduos singulares e o outro aos 
gêneros e espécies de indivíduos.
No primeiro sentido, a substância é um ser individual existente; no 
segundo é o conjunto das características gerais que os sujeitos de um 
gênero e de uma espécie possuem. Aristóteles fala em substância primeira 
para referir-se aos seres ou sujeitos individuais realmente existentes, com 
sua essência e seus acidentes; por exemplo, Sócrates; e em substância 
segunda para referir-se aos sujeitos universais, isto é, gêneros e espécies 
que não existem em si e por si mesmos, mas só existem encarnados 
nos indivíduos, podendo, porém ser conhecidos pelo pensamento. Assim, 
por exemplo, o gênero “animal” e as espécies “vertebrado”, “mamífero” 
e “humano” não existem em si mesmos, mas existem em Sócrates ou 
através de Sócrates (CHAUÍ, 1994, p. 220-221).
No conceito de substância está implicado o das categorias. São as categorias 
que definem os modos como as substâncias podem ser qualificadas e por isso, 
conhecidas. Elas expressam a variedade dos modos de ser e as características de 
uma dada substância, sendo que a própria substância é uma modalidade do Ser. 
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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
Categorias são os atributos ou predicados do Ser, formas a partir das quais se 
pode descrever, qualificar, definir e compreender o Ser nas mais diferentes situações 
possíveis. Aristóteles distinguiu dez categorias do Ser: 
1. Qualidade
2. Quantidade
3. Relação
4. Ação
5. Paixão
6. Localização
7. Posição
8. Temporalidade
9. Hábito
10. Substância
1. Qualidade diz respeito a qualquer juízo que se faz sobre uma coisa especificando 
algum atributo que o qualifique como feio, bonito, bom, mau etc. 
2. Quantidade refere-se aos atributos capazes de definir as dimensões de 
extensão, grande, pequeno, pouco, muito etc. 
3. Relação insere o Ser na sua interação com os outros: diferente, igual, 
superior, inferior etc.
4. Ação implica nos atos do Ser como sujeito: comer, jogar, chover, morrer, 
nascer, viver, etc. 
5. Paixão é a categoria que informa o modo como o Ser é afetado e sofre a 
ação de outro: ser ferido, atormentado, aprisionado etc.
6. Localização diz respeito ao lugar que o Ser ocupa na geografia do espaço. 
Trata-se do onde, cidade, região, país etc. 
7. Posição é a categoria que informa o modo de se estar no lugar: em pé, 
deitado, perto, longe etc. 
8. Temporalidade é o indicador da situação no tempo: ontem, hoje, amanhã, 
ao amanhecer, anoitecer etc.
9. Hábito indica o costume do Ser, seu modo regular ou costumeiro de 
aparecer, sua forma mais frequente de ser e acontecer etc. 
10. Substância: é o que existe no Ser como essência das coisas e constitui a 
identidade dos entes por existirem por si mesmos sem depender da noção de 
seus atributos acidentais. 
Assim, concluímos esse tópico sobre os principais conceitos da Metafísica de 
Aristóteles. Por meio desses conceitos de causalidade, substância e categorias, ele 
conseguiu conciliar e resolver o problema do dualismo presente nas filosofias de 
Parmênides e Platão, sem ter que sobrepor o mundo das ideias e das formas ao 
mundo da matéria, privilegiando aquele em detrimento deste. De outro lado, não 
precisou negar os sentidos como primeira fonte do conhecimento e muito menos o 
movimento como realidade presente no mundo dos entes. 
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Conclusão
Em forma de síntese apresentamos a seguir as principais ideias que você deve 
retomar e fixar como aprendizado adquirido nessa segunda unidade.
 · Primeiro. O problema do ser é metafísico por excelência e não deve 
conduzir o sujeito a uma linguagem evasiva sobre as coisas só porque 
exige o uso de um vocabulário extremamente abstrato. A abstração é 
consequência da necessidade de abarcar com o pensamento e a reflexão 
crítica os grandes dilemas da existência como foi demonstrado na célebre 
inquietação de Hamlet. Ser ou nãoser naquele contexto invade as mais 
profundas angústias da alma humana, inclusive aquelas que nascem de 
sentimentos como amor e ódio. Ser e não ser pode concretizar todas as 
possibilidades existenciais, inclusive amar ou não amar...
 · Segundo. Para pensar, refletir e analisar a diversidade do Ser sem correr 
o risco de se perder na multiplicidade dos entes e do movimento constante 
que provoca alterações em tudo o que vemos, sentimos e concebemos é 
preciso adquirir e lançar mão de uma linguagem bem mais capacitada e 
técnica, de modo a não permitir que o pensamento se disperse na busca 
da realidade tal como ela é em suas diferentes manifestações. Essa é 
a tarefa mais importante da Metafísica: distinguir a realidade suprema 
do Ser no mundo da pluralidade dos entes sem deixar-se enganar pela 
capacidade que o pensamento e a palavra têm de falsear, ocultar ou 
produzir ilusão da realidade. 
 · Terceiro. Aristóteles com sua Filosofia Primeira realizou o esforço de precisar 
a linguagem e descrever a realidade do Ser através de noções fundamentais 
que integraram noções aparentemente inconciliáveis como de Ser e não ser, 
movimento e imutabilidade, unidade e multiplicidade, Ser e ente. 
As noções de princípio e causalidade, substância e acidente, matéria e forma, 
ato e potência e as demais categorias do Ser representam o resultado dos primeiros 
passos de nossa introdução à Metafísica de Aristóteles. Esse estudo vai ajudar você 
a entender com maior clareza outros problemas metafísicos, alguns deles bem 
próximos de nós e que serão objetos das próximas unidades. 
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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Hamlet
Shakespeare, William
 Filmes
Hamlet
Veja a obra de Shakespeare, Hamlet, em alguma adaptação 
para o teatro ou para o cinema
 Leitura
Hamlet
Shakespeare, William
http://goo.gl/c0EKs
Metafísica de Aristóteles Livro XII
A tradução do Prof. Lucas Angioni da UNICAMP
http://www.cle.unicamp.br/cadernos/pdf/LucasAngioni-Traducao.pdf
Aristóteles (384-322 A.C)
Tópicos; Dos argumentos sofísticos.
Pickard
São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção (Os pensadores)
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Referências
AZEN, Marcus Azen. Postado em 25/03/2013, Disponível em http://eradaincerteza.
blogspot.com.br/2013/03/ser-ou-nao-ser-eis-questao-um-ensaio.html 
CASARIN, Rodrigo. http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/23
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994. 441p.
DUARTE JR., João Francisco. O que é realidade. 2.ed. São Paulo: Brasiliense. 103p. 
GILES, Thomas Ransom. Introdução à Filosofia. 2.ed. São Paulo: E.P.U. -Editora 
Pedagógica e Universitária Ltda/ EDUSP- Editora da Universidade de São Paulo. 
1979. 324p.
GUEDES, Wagner (Org.). Ensaios Filosóficos. Sociedade, Ciência e Metafísica. 
São Paulo: Dialógica Editora. 2013. 224p.
MARTINS, Gilberto de Andrade. Glossário do Observatório da USP. EAC e FEA/
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glossario.asp
MOLINARO, Aniceto. Léxico da Metafísica. São Paulo: Paulus, 2000. 144p.
RICKEN, Friedo (Org.). Dicionário de Teoria do Conhecimento e Metafísica. São 
Leopoldo/RS: Unisinos, 2003. 308p.
SANTOS, Theobaldo Miranda. Manual de Filosofia. Introdução. Filosofia Geral. 
História da Filosofia. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Companhia Editora 
Nacional 17.ed. 1972. 272p.
SHAKESPEARE, William. Hamlet. Texto disponibilizado no site de Millôr Fernandes: 
www2.uol.com.br/millor/. Disponível em: http://goo.gl/c0EKs
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Outros materiais