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46 - Revista Tecnologística - Julho/2006 No dia sete de dezembro de1998, a instrução normativa(IN) número 229 baixada pelo então Ministério da Agricultura e Abastecimento (hoje Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA) estabelecia a necessidade de os fabricantes de vacinas contra febre aftosa aplicarem um selo de auten- ticidade em todos os frascos. O ob- jetivo era facilitar o controle do pró- prio ministério em relação à distri- buição das vacinas no Brasil e evitar a falsificação e a adulteração ao longo dos canais de distribuição, com a ela- boração de relatórios estatísticos que fornecessem aos responsáveis pelo CONSOLIDAÇÃO Laboratórios que fornecem vacinas contra a febre aftosa concentram sua logística para armazenagem e distribuição dos produtos para pecuaristas em todo o Brasil em um único operador logístico – a AGV. Sob supervisão do Sindan e do Ministério da Agricultura, a unificação trouxe inúmeras vantagens em comparação com as operações antes realizadas separadamente pelos laboratórios, como redução de custos, padronização de embalagens, consolidação no transporte e maior controle e rastreabilidade dos produtos VVaaccaass ccoomm eennccoommeennddaass ddeelliivveerryy Fo to s: P at ric k Pe rs on consolidacao.qxd 9/12/2006 10:00 AM Page 46 Julho/2006 - Revista Tecnologística - 47 Plano Nacional de Erradicação da Fe- bre Aftosa (PNEFA) a localização exata da aplicação da vacina no Brasil, por Estado e município. Os seis laboratórios veterinários fabricantes de vacinas procuraram, por meio do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), um operador logís- tico que atendesse às suas necessi- dades em todo o Brasil para cumpri- mento da IN, concentrando em um único local todos os controles de armazenagem, transporte e distribui- ção. Esses laboratórios eram a Bayer, a Schering-Plough (os dois com fábricas em Porto Alegre), a Merial, a Pfizer (ambos em Paulínia – SP), a Intervet/ Akzo Nobel, em Fortaleza, e a Vallée, em Montes Claros (MG). A intenção das empresas era a prestação do serviço em uma única central, já que, em função do volume, um operador logístico poderia realizar estas tarefas a um custo mais acessível do que se cada laboratório executasse este serviço separadamente. “Naquele momento, tínhamos o espaço ade- quado para atender à demanda dos laboratórios”, afirma Jalaertem de Souza Campos Júnior, diretor Co- mercial da AGV Logística. Foi então constituída a Central de Selagem de Vacinas (CSV), na matriz da ope- radora logística, em Vinhedo (SP), em parceria com o Sindan. Antes deste projeto, a operadora não trabalhava com saúde animal e, segundo Campos Jr., não havia dentro do segmento um projeto semelhante no mundo com tamanho grau de rastreabilidade. “Começamos então a fazer a armazenagem e a sela- gem em máquinas importadas do Canadá.” Para iniciar essa operação, a própria AGV adquiriu as máqui- nas, como ocorre normalmente com todas as novas operações. “Fa- zemos os investimentos nos equi- pamentos que a operação necessi- ta, e muitas vezes recorremos ao arrendamento. Para a autenticação das vacinas, não optamos pelo alu- guel, porque as exigências da tarefa recomendavam uma máquina im- portada”, completa ele. Os selos holográficos colocados nos frascos das vacinas são produzidos na Alemanha pela Kurz, fabricante de produtos para hot stamping e sistemas de segurança, que também fornece os selos de identificação das cédulas de euros. Esses selos aplicados nos frascos são autodestrutíveis, para impedir falsificações caso ocorra a sua retirada para reaproveitamento. Eles são importados pelo Sindan e con- trolados pelo Ministério da Agricul- tura, que compila informações, como a quantidade aplicada em deter- minado lote de frascos e a quantidade de selos restantes. Antes da portaria, cada um dos seis laboratórios realizava separadamente as vendas, a comercialização e a distribuição de suas vacinas. Cada um deles executava as operações de acor- do com os seus procedimentos e utilizava as suas embalagens isotér- micas para a distribuição. “Os fabri- cantes produziam e mantinham as vacinas sob sua guarda em seus de- pósitos ou de terceiros”, explica Márcio Correa, diretor de Supri- mentos da América Latina da Merial Saúde Animal. “Tínhamos um centro de distribuição na nossa fábrica em Guarulhos exclusivamente para esse produto”, completa Élcio Inhe, ge- rente de Unidade de Negócios Bovi- nos da Divisão de Saúde Animal da Pfizer. Hoje, este CD é utilizado somente para armazenagem de outros produtos fabricados pelo laboratório. “Os laboratórios tinham obrigato- riamente grandes câmaras frias para armazenar os produtos em quaren- tena e os aprovados, além de todos os insumos utilizados na expedição das vacinas, como gelo, caixas de isopor, sacos plásticos e fitas. Havia também um contingente de empregados treinados para essa finalidade, o que não fazia muito sentido, consideran- do os períodos das campanhas de vacinação”, completa Correa. Há duas campanhas anuais para erradicação da febre aftosa, a primeira realizada nos meses de abril/maio e a segunda em outubro/novembro. “Quando absorvemos o serviço, verificamos que cada laboratório fazia a operação em uma determinada em- balagem, que neste caso eram caixas de isopor em diversos tamanhos. Buscamos uma otimização, padroni- zando as embalagens”, explica Cam- pos Jr. Foi encomendada ao Labora- tório de Refrigeração, Instrumentação e Controle da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) uma pes- quisa para indicar tecnicamente quais as dimensões, a espessura, a densida- de, a quantidade de gelo e o lacre mais adequados para armazenar as vacinas. “O objetivo era tornar a pilha térmica (denominação atribuída à embalagem de transporte das vacinas) mais otimi- zada para realizar a padronização da embalagem”, completa ele. Essa pesquisa foi divulgada para todos os laboratórios e foi encami- nhada uma cópia para o Ministério da Antes, as empresas realizavam por si toda a operação; a consolidação trouxe ganhos no custo, padronização e rastreabilidade consolidacao.qxd 9/12/2006 10:00 AM Page 47 Agricultura. Todos validaram o tra- balho feito pela Unicamp e aprova- ram o uso do modelo proposto para a nova embalagem, que permite uma vida útil de 40 horas na temperatura de dois a 8ºC, ou seja, fica garantida a conservação da vacina dentro da em- balagem neste período em quaisquer condições de temperatura e pressão. Nessa embalagem de isopor são colocadas em média de duas mil a 2.500 doses de vacinas, comercializa- das em frascos de dez ou de 50 doses (para atender à demanda de pequenos ou grandes pecuaristas), juntamente com cerca de 13 kg de gelo em escamas. A caixa é fechada, lacrada e segue então para a distribuição. “Com o tempo, observamos em quais pontos teríamos a oportunidade de oferecer ao cliente redução de cus- to e ganho de qualidade”, explica Campos Jr. Adicionar ao serviço o fornecimento da pilha térmica seria um bom negócio estrategicamente, porque a caixa sairia com um preço reduzido ao cliente. “Conseguimos chegar a uma economia de 40% para alguns clientes, porque eles não compravam de forma conjunta as embalagens anteriormente. A AGV faz agora uma compra unificada em dois fornecedores e negocia um volume anual”, completa ele. Centralizar para pulverizar Operando primeiramente apenas com a armazenagem e a selagem das vacinas, a AGV começou a prestar os serviços de transporte cliente-a- cliente em todo o território nacional já em sua segunda campanha de vacinação, em 1999. “Antes de assu- mirmos a distribuição, a operação era realizada pelos próprios laboratórios, que contratavam as suas transpor- tadoras. Isto prejudicava o fluxo de Frascos de dez ou de50 doses são separados na matriz em Vinhedo (SP) consolidacao.qxd 9/12/2006 10:00 AM Page 48 expedição. Propusemos então a AGV como a responsável pela centralização da distribuição das vacinas”, explica Campos Jr. Anteriormente, os laboratórios não tinham como fazer o compartilha- mento sem o operador logístico. “Afinal de contas, eles são concor- rentes”, lembra Campos Jr. “A Pfizer distribuía a vacina por meio de várias transportadoras, que levavam o pro- duto para revendas de todo o País. Era preciso ter um controle maior de co- mo essas empresas distribuíam a va- cina, principalmente no que diz res- peito aos cuidados com a armazena- gem e o transporte do produto”, explica Inhe. A AGV trabalha somente com frota terceirizada, com sistema de gerencia- mento de informações e com sistema de solução de ocorrências, obedecen- do à curva ABC ditada pelos clientes para entregas realizadas hoje em 20 mil pontos no Brasil. “Desde o primeiro momento, observamos que não haveria frota suficientemente grande a ser adquirida para dar conta desta campanha, que cobre do Oia- poque ao Chuí”, afirma o diretor da AGV. Apesar de todos os veículos serem contratados, o transporte é fei- to com cobertura de seguro e o co- nhecimento de transporte está sob responsabilidade da AGV. Hoje, a operadora conta com 107 transportadoras diretamente contrata- das para esta operação, 20% delas responsáveis por cerca de 70% das cargas distribuídas. “Como a AGV faz a distribuição de vacinas de outras empresas também, passamos a pagar o chamado frete com- partilhado, que é dividido entre os la- boratórios, reduzindo os gastos com a entrega de produtos por todo o País”, explica Inhe. Além disso, houve dimi- nuição nos prazos para a distribuição, de um ou dois dias, de acordo com a região. Hoje, após a venda pelo labo- ratório, o pedido de compra é enviado para a central, as vacinas são separa- das, é montado o pedido e então elas são encaminhadas para os clientes. A cadeia de transporte começa com a retirada das vacinas nos laboratórios dos fabricantes, que hoje estão estabe- lecidos em quatro Estados do País (Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Ceará e São Paulo). As vacinas já chegam à Julho/2006 - Revista Tecnologística - 49 consolidacao.qxd 9/12/2006 10:00 AM Page 49 50 - Revista Tecnologística - Julho/2006 central da AGV como produto acaba- do, para então serem testadas nova- mente pelo Ministério da Agricultura (o primeiro teste é feito nos próprios laboratórios). Anteriormente, as coletas de amostras das vacinas eram efetua- das pelo ministério em cada laboratório. A câmara fria utilizada para esta campanha tem 2.160 m2 de área, com dez metros de pé direito, com back-up de energia de 480 kVA, a fim de garantir o controle da temperatura na ocorrência de quebras no fornecimen- to de energia. Nessa câmara, as vaci- nas são então colocadas em um com- partimento segregado e aguardam a coleta para o teste de eficácia/ potência, inclusive em bovinos vivos. Uma vez aprovado o lote da vacina testada, ele é liberado para selagem e distribuição; caso seja rejeitado, o lote é conduzido à incineração em sua totalidade. Este serviço é também prestado pela AGV para os labora- tórios em fornos especiais. “Após o ministério informar que um deter- minado lote de vacinas foi rejeitado e será incinerado, a primeira provi- dência é a sua retirada do ambiente frigorificado, já que não há mais ne- cessidade de mantê-lo sob refrige- ração”, explica Campos Jr. É contratado então o transporte, que pode ser feito em qualquer veí- culo, mas é necessário o controle go- vernamental para comprovar a pre- sença de todos os frascos rejeitados. Os fiscais do ministério acompanham esse trabalho e as vacinas são levadas para o forno crematório localizado na cidade de Cosmópolis (SP), também contratado pela AGV, onde é emitido um laudo da extinção das vacinas. A presença dos laboratórios em diversas regiões do Brasil não torna a operação de distribuição mais com- plexa, segundo Campos Jr: “As va- cinas vindas de Porto Alegre e Fortaleza podem ter prazos diferentes para chegar até aqui, mas partem nas mesmas condições.” Dos laboratórios até Vinhedo, é comprado o serviço de transferência pela AGV, assim como também de Vinhedo até o cliente final. “Quando você fala da transferência do produto acabado, o maior desafio não é o controle da temperatura, porque, ao transportar as vacinas, elas chegam em uma carga grande, em uma carreta com termo-registradores e back-up de frio; ou seja, tudo é monitorado. O grande desafio é a distribuição fra- cionada para longas distâncias”, explica o diretor da AGV. Transporte a longa distância Existem regiões do Brasil que não podem ser alcançadas em 40 horas por meio de transporte terrestre. Este foi um dos motivos que levaram a AGV a instalar filiais em locais es- tratégicos no Brasil, que atendem à necessidade de distribuição de vacinas e também funcionam como pontos que reproduzem o conceito de tra- balho da sede em Vinhedo. Essas filiais permitem que a pilha térmica chegue até elas dentro das 40 horas (na verdade, a empresa trabalha com quatro horas a menos, ou seja, 36 horas, para aumentar a segurança na operação). Caso o tempo necessário para a entrega seja superior a 36 ho- ras, é necessária uma recomposição da pilha, colocando-se uma nova remes- sa de 13 kg de gelo para uma revita- lização de 40 horas. Com uma troca de gelo, fica então possível chegar a praticamente todos os pontos do Brasil. Em locais mais distantes sem filiais, a AGV conta com pontos credenciados para realizar a operação. Existem regiões na Amazônia em que a vacina cruza trechos de balsa, e há também localidades nas quais o transporte só pode ser feito por via aérea, por causa da sazonalidade climática, principalmente nas Regiões Norte e Nordeste. “Trabalhamos com dois agentes aéreos, a Faster e a Wind, que têm acesso imediato a todas as companhias aéreas e aumen- tam a velocidade para as soluções”, explica Campos Jr. Anteriormente, até mesmo grande parte do transporte para a Região Centro-Oeste, por exem- plo, era realizado por via aérea. Segundo a AGV, a economia média com os transportes ficou na faixa dos 15% aos 20%, só pela troca dos modais. Com a pilha térmica padronizada e com a abertura de filiais da AGV em pontos estratégicos do Brasil, como Cuiabá, Goiânia e Campo Grande, “conseguimos libertar os laboratórios da ‘escravidão’ do transporte aéreo, muito caro na época e ainda hoje”, explica Campos Jr. “Para qualquer localidade um pouco mais distante, era utilizado o avião, e conseguimos colocar o transporte terrestre de forma eficiente para atender a grande parte das regiões. Isso trouxe uma eco- nomia muito grande para os labora- tórios e foi um forte fator de fide- CONSOLIDAÇÃO Embalagem para transporte das vacinas recebe 13 kg de gelo consolidacao.qxd 9/12/2006 10:01 AM Page 50 de armazenagem e distribuição para todo o Brasil. “O índice de vacinação está crescendo a partir desta medida. Quanto maior o controle da rastrea- bilidade, mais o ministério pode exercer a função de fiscalização junto aos Estados e municípios, de forma a aumentar a conscientização dos pro- dutores”, afirma Campos Jr. “Com essa centralização, foi possível um melhor controle do índice da vaci- nação do gado no País e tornou-se mais fácil detectar as regiões onde há déficit de vacinação”, completa Inhe. Em 2005, foram seladas e distribuí- das 366 milhões de doses, em um total de 150 mil pilhas térmicas por cam- panha. Este ano, a indústria veteri- nária brasileira já comercializou cerca de 43,2 milhões de doses de vacinas entre janeiro e março e a previsão é de 378 milhões de doses vendidas até de- zembro. Na seção de selagem dos fras- cos das vacinas, há duas máquinas ho- je em funcionamentoe duas em back- up. O investimento total foi de cerca de US$ 500 mil e a AGV recebeu mais uma máquina no mês de maio. A AGV é um operador logístico com matriz em Vinhedo (SP) e filiais em Porto Alegre, Xanxerê (SC), Curi- tiba, Contagem, Uberlândia (MG), Belo Horizonte, Cuiabá, Campo Grande, Goiânia, Salvador, Recife, Ribeirão Preto (SP) e Imperatriz (MA). Atende a clientes nos segmentos de saúde animal, saúde humana, ali- mentos, químico e promocional, en- tre outros. Conta com 462 mil m2 de terreno e disponibiliza áreas secas, cli- matizadas, frigorificadas e congeladas num mesmo local, no sistema de con- domínio logístico. Flavio Freitas AGV: (19) 3876-9000 Sindan: (11) 3044-4749 Pfizer: 0800 0111919 Merial: (19) 3707-5000 lização para com a AGV”, completa. Esta confiança no trabalho da ope- radora levou a Merial, por exemplo, a transferir totalmente para a operadora logística as diversas operações in house de outras linhas de produtos a partir de agosto de 2004. Rastreabilidade A Alvo Informática, softwarehouse própria da AGV, desenvolve as inter- faces com os sistemas de gestão dos clientes para a comunicação com o WMS e o TMS da operadora logística. Foi ela a responsável pelo desenvolvi- mento da ferramenta para rastrear as vacinas, cumprindo os procedimen- tos determinados pelos laboratórios, sob acompanhamento do MAPA. “Quando a vacina sai da AGV, temos os registros detalhados, porque a emissão da nota fiscal é feita aqui dentro, com a qualificação do lote, destino e a quantidade de frascos, que ficam registrados neste sistema. Sa- bemos para qual cidade foi encami- nhado um lote, quantas doses, quais os fabricantes daqueles lotes e quando a vacina chegará ao destino final”, completa Campos Jr. O grupo de ana- listas de SGI (serviço de gerencia- mento de informação) da AGV é responsável pela checagem de todas as entregas via e-mail, telefone ou por outros meios de comunicação. Hoje, o ministério possui informa- ções detalhadas, como qual lote foi vendido para qual cliente em qual ci- dade do Brasil. São informações pro- duzidas pela AGV e validadas pelo Sindan, que dispõe de uma sala dentro da própria operadora com um responsável pelo acompanhamento dos dados e encaminhamento poste- rior dessas informações ao ministério. Dentro da AGV, o MAPA também mantém uma sala com funcionários que acompanham os procedimentos consolidacao.qxd 9/12/2006 10:01 AM Page 51
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