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AN02FREV001 54 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FONOAUDIOLOGIA NA PARALISIA FACIAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001 55 CURSO DE FONOAUDIOLOGIA NA PARALISIA FACIAL MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001 56 Já vimos no Módulo I e II que as paralisias faciais podem ser divididas em dois grandes grupos: paralisia facial central (PFC) ou supranucelares e paralisia facial periférica (PFP) que apresentam lesões nucleares e infranucleares. Neste módulo discutiremos sobre os sinais, sintomas e etiologia das PFC. Falaremos também sobre as paralisias faciais congênitas. 6 PARALISIA FACIAL CENTRAL 6.1 CONCEITO A PFC consiste em lesões dos neurônios motores piramidais do córtex frontal que são responsáveis pelos movimentos voluntários que chegam aos núcleos motores do facial na parte superior da face, ipsilateralmente e na parte superior e inferior contralateralmente (Lazarini et al., 2002, Calais, Gomez, Bento e Comerlatti, 2005, Veiga, 2006, Busch, Sampaio, Lebre e Antunes, 2006). Com isso, podemos observar na PFC que os movimentos involuntários ou emocionais podem estar preservados. Na PFC ocorre lesão supranuclear (trato corticonuclear) ou do neurônio motor superior, antes de sua entrada no meato acústico interno, sendo que a causa AN02FREV001 57 da paralisia encontra-se no sistema nervoso central com alteração de mobilidade apenas dos músculos do ⅓ inferior da hemiface contralateral à lesão nervosa, ou seja, os movimentos da parte superior da face bilateralmente, a musculatura frontal e do orbicular dos olhos estão conservados, principalmente devido a ação das vias supranucleares ipsilaterais, geralmente os movimentos involuntários também se encontram conservados, observa-se ausência do sinal de Bell (Busch, Sampaio, Lebre e Antunes, 2006; Rondon, 2009, Santos, Ganda e Campo, 2009). As lesões estão situadas na via exclusivamente motora do nervo facial, encontrada na área motora cortical cerebral, que está situada na face lateral do giro frontal pré-central, até o núcleo do nervo facial no tronco encefálico, na ponte (Veiga, 2006). Para entender um pouco mais a PFC vamos relembrar o trajeto do nervo facial. Segundo Veiga (2006, p.109) o núcleo motor do VII nervo está situado na ponte, próximo ao bulbo, os axônios do núcleo motor, dirigem-se para o assoalho do quarto ventrículo e circundam o núcleo do nervo abducente, segue em direção da face ventral do tronco encefálico, saindo como nervo facial na fosseta supraolivar do sulco bulboprotuberancial, próximo a origem do nervo intermédio de Wrisberg, conforme podemos localizar na figura abaixo1. Quando ocorre lesão até este trajeto, considera-se uma paralisia facial central. 1 FONTE: Veiga, JCE. Paralisia facial central. In LAZARINI, PR, FOUQUET, ML. Paralisia facial – avaliação, tratamento, reabilitação. São Paulo: Lovise, 2006, p. 110. AN02FREV001 58 O núcleo facial divide-se em duas partes: a porção dorsal e a porção ventral. A porção dorsal inerva a metade superior de um lado da face e recebe influxos supranucleares constituídos por fibras corticais dos hemisférios ipsi e contralateral, já a porção ventral que é responsável pela inervação da musculatura da mímica da metade inferior da hemiface, recebe impulsos nervosos apenas do hemisfério contralateral. Podemos observar isto na figura abaixo2, que mostra uma representação esquemática ilustrando a terminação dos tratos corticonucleares no núcleo motor do facial. A linha contínua representa a parte dorsal do núcleo facial, inervando os músculos frontal, orbicular das pálpebras e superciliar, já a linha descontínua representa a parte ventral que inerva os demais músculos da face inferior. Com este desenho, podemos entender porque na PFC os músculos da parte superior da face ficam mantidos, mantendo simétricas as linhas de expressão da testa (Gomes, Vasconcelos e Bernardes, 2004, Veiga, 2006). Como a representação cortical dos músculos da parte superior da face é bilateral, esta parte é poupada na PFC. Porém, Veiga (2006, p. 112) salienta que “do ponto de vista semiológico podemos constatar que, na paralisia facial central, às vezes, encontramos pequena alteração parética3 também no território superior da face.” 2 FONTE: Veiga, JCE. Paralisia facial central. In LAZARINI, PR, FOUQUET, ML. Paralisia facial – avaliação, tratamento, reabilitação. São Paulo: Lovise, 2006, p. 111. 3 Que apresenta paresia, ou seja, perda discreta da força muscular. Disponível em: <www.pdamed.com.br/diciomed>. Acesso em: 15 mar. 2010. AN02FREV001 59 Uma característica da PFC é o deficit da musculatura facial quando o sujeito quer realizar movimentos voluntários da parte inferior da face – como, por exemplo, sorrir, fazer bico, falar, entretanto, pode haver contração involuntária desta musculatura como manifestação emocional. Assim, o sujeito pode contrair a musculatura da expressão do lado paralisado quando ri ou chora, embora não possa fazê-lo voluntariamente (Machado, 2000). Veja na figura ao lado4, a representação esquemática do controle voluntário da expressão facial. Vamos entender como acontece: as vias eferentes somáticas dividem-se em dois grupos: o sistema piramidal e o extrapiramidal. O sistema piramidal que é responsável pelos movimentos voluntários, compreende o trato corticoespinal e o trato corticonuclear. O trajeto que ele percorre entre o córtex e o neurônio motor se dá por meio das fibras corticoespinais ou corticonucleares. Quando este sistema sofre alguma lesão, o controle voluntário da musculatura facial fica afetado. Já o sistema extrapiramidal, é responsável pelos movimentos automáticos, compreende 4 FONTE: Disponível em: <www.sistemanervoso.com>. Acesso em: 3 mar. 2010. AN02FREV001 60 as áreas corticais extrapiramidais como o cerebelo, vários núcleos do telencéfalo e diencéfalo, além de vários núcleos e áreas do tronco cerebral. O trajeto entre o córtex e o neurônio motor envolve um ou mais reles intermediários, diferente do sistema piramidal. Como o sistema extrapiramidal necessariamente não está lesado na paralisia facial central, o paciente consegue fazer movimentos como rir, bocejar automaticamente, mas quando solicitado, não consegue (Gomez, Vasconcelos e Bernardes, 2004). Os autores consideram que existem dois tipos de paralisia facial central: À paralisa volicional ou voluntária – que tem envolvimento do sistema piramidal, em que se observam implicações na contração voluntária com preservação da função espontânea (sorriso, choro); A paralisia emocional ou mimética, ou amimia – esta paralisia é resultado de uma lesão profunda com envolvimento extrapiramidal de gânglios da base, tálamo ou hipotálamo. Aqui se observam dificuldades nos movimentos automáticos, como sorrir ou chorar, enquanto os movimentos voluntários de contrair os lábios estão preservados. 6.2 ETILOGIA A causa principal da PFC são doenças vasculares, como aneurismas e acidentes vasculares cerebrais, porém podem ocorrer lesões em razão de tumores; processos degenerativos; desmielinizantes,como a esclerose múltipla; infecções e traumatismos cranioencefálicos. A PFC costuma vir acompanhada de outras manifestações neurológicas como hemiplegia, disartria, hemiparesia do mesmo lado que ocorreu a paralisia facial, também pode estar associada à deficit de linguagem quando houver lesão da área de Wernicke (Bento et al., 1998; Testa e Antunes, 2000; Veiga, 2006). AN02FREV001 61 6.3 SINAIS E SINTOMAS Geralmente, nas lesões supranucleares, observa-se que não ocorre somente paralisia facial, mas também o comprometimento motor de outras estruturas – língua, membros superiores e inferiores, isso ocorre devido à proximidade das regiões corticais de representação motora e das fibras do trato corticonuclear (Busch, Sampaio, Lebre e Antunes, 2006). Para Veiga (2006), pode-se geralmente observar como características da paralisia facial central (veja na figura abaixo5): Desvio da rima bucal para o lado não paralisado, adquirindo uma forma oval; Apagamento do sulco nasolabial; Ausência da contração do platisma do lado paralisado; Queixas de dificuldade de ingestão de líquidos; Líquido escorre pela comissura labial do lado oposto, devido à impossibilidade de fechamento completo da boca; Mastigação também pode estar prejudicada, devido à paralisia do músculo bucinador; Impossibilidade/dificuldade em assoprar e assobiar – devido à incapacidade de protrusão dos lábios e perfeito fechamento; Disartria – geralmente discreta, em consequência da paralisia do músculo orbicular da boca, apresenta dificuldade em pronunciar as consoantes bilabiais e labiodentais (p, b, m, f, v); Como a PFC geralmente vem associada com AVC, observa-se junto perda de força do braço e perna opostos ao lado do desvio da boca, sendo essa uma doença grave, considerada emergência médica. Calais, Gomez, Bento e Comerlatti, 5 FONTE: Disponível em: <www.2bp.blogspot.com>. Acesso em: 3 mar. 2010. AN02FREV001 62 (2005:219) salientam que “Classicamente o que se espera diante de uma PFC é a preservação da movimentação da fronte e paralisia dos movimentos da musculatura facial inferior contralateral à lesão, na solicitação da movimentação voluntária, e preservação da movimentação da parte inferior na ação involuntária ou emocional.” Os autores afirmam também a diferença da condição clínica da musculatura facial entra a PFC e PFP, em que é observado que “normalmente, no momento posterior à instalação da paralisia, os pacientes com PFP apresentam prejuízo parcial ou total de todos os segmentos da face do lado paralisado, ipsilateralmente à lesão do nervo, quer seja no repouso, na movimentação voluntária ou sob condição involuntária. A semelhança ocorre apenas com relação ao desvio do filtro nasal, que também dirige-se ao lado não afetado.” Após pesquisa realizada com pacientes acometidos de AVC com PFC do Serviço de Neurologia, Calais, Gomez, Bento e Comerlatti, (2005) concluíram que na avaliação funcional da musculatura facial destes pacientes, geralmente podia-se observar: Preservação da movimentação voluntária da testa; Preservação da movimentação reflexa e voluntária dos olhos; Comprometimento funcional da movimentação e tônus da região nasal; Comprometimento da movimentação involuntária para o sorriso; Comprometimento funcional da movimentação voluntária da região dos lábios em todos os casos. 6.4 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Também na pesquisa realizada, os autores acima observaram que alguns aspectos podem ser utilizados como diagnóstico diferencial entre a paralisia facial central e periférica. Presença de outros sintomas neurológicos; Lado afetado da face contralateral à lesão central; Na condição de repouso, simetria das linhas da testa e da pálpebra inferior e assimetria do filtro nasal com desvio para o lado não afetado; AN02FREV001 63 Na ação voluntária, preservação dos movimentos de testa (elevação e contração) e de olhos com assimetria da retração labial do lado afetado. Obs.: Os músculos, frontal, parte superior do orbicular dos olhos e superciliar recebem inervação cortical bilateral que estão situados no núcleo superior do nervo facial, no caso de paralisia facial central, estes músculos estão preservados. O quadro abaixo sintetiza as diferenças entre a paralisia facial central e a periférica: Paralisia facial central Paralisia facial periférica Lesão supranucleares - consistem em lesões dos neurônios motores piramidais do córtex frontal. Lesão nucleares apresenta etiologias similares às supranucleares, mas o local da lesão difere, sendo o núcleo motor do facial (terço inferior da protuberância). Lesão infranucleares - o local da lesão se dá abaixo do núcleo motor do facial e se manifestam com quadros de paralisia facial completa. Parte superior da face poupada (músculo orbicular dos olhos) e terço inferior afetado. Toda hemiface está afetada. A paralisia é contralateral. É homolateral, sendo do mesmo lado da lesão. Pode haver contração involuntária da musculatura da mímica como manifestação emocional, o paciente, pode contrair a musculatura do lado afetado quando ri ou chora, mas não apresenta este movimento voluntariamente. A paralisia é total. Desvio do filtro nasal dirige-se ao lado não afetado Desvio do filtro nasal dirige-se ao lado não afetado Presença de outros sintomas neurológicos. Não apresenta outros sintomas neurológicos. FONTE: Machado (1993), Calais, Gomez, Bento e Comerlatti, (2005). AN02FREV001 64 6.5 TRATAMENTO Saber o local da lesão é extremamente importante para o fonoaudiólogo, isso permitirá a elaboração de estratégias terapêuticas direcionadas para cada caso, como também, saber o prognóstico (Calais, Gomez, Bento e Comerlatti, 2005). Os autores afirmam também que o tratamento das PFC está direcionado ao quadro de sintomas que o paciente apresenta. O tratamento deve ser acompanhado por uma equipe multiprofissional, sempre tendo em vista uma melhora da qualidade de vida do paciente. Busch, Sampaio, Lebre e Antunes (2006, p. 174) afirmam que a reabilitação de pacientes com paralisia facial central, difere das propostas tradicionais, pois muitas vezes o paciente não consegue compreender as ordens dadas, as sequelas indicam lesões supranucleares o paciente tem dificuldade na movimentação voluntária, portanto, aproveitar para trabalhar com o paciente durante a ação motora automática pode trazer benefícios para a terapia. Por exemplo, o terapeuta pode incitar uma situação espontânea, como o riso e realizar a massagem indutora no lado paralisado. Outro aspecto observado em pacientes com PFC é que a primeira vista, a musculatura dá a impressão de hipotônica, podendo apresentar bochechas em saco e assimetria da rima bucal, porém, ao tocar a região, observa-se espasmo de contração, mostrando a existência de hipertonia. Este músculo hipertônico “é pouco funcional, não sustenta o movimento e não faz contrações sinérgicas e coordenador que possibilitem o funcionamento adequado da estrutura.” A fonoterapia, neste caso, tem como objetivo reduzir estas ações reflexas hipertônicas, com massagens específicas e do relaxamento da contração muscular (Busch, Sampaio, Lebre e Antunes, 2006, p.176). Os autores acima salientam que a atuação fonoaudiológica nas PFC tem como objetivo minimizar as sequelas e manter a aferência dos estímulos. É necessário adequar às funções estomatognáticas alteradas e adequar à musculatura, por meio de exercícios miofuncionais, de força e sensibilidade. AN02FREV001 65 De acordo com Matos e Oliveira (s/d6,p.04) a fonoterapia consiste na realização de exercícios isotônicos, isométricos e isocinéticos dos órgãos fonoarticulatórios, além de massagem peri e intraoral.Os autores salientam que: “Os exercícios isométricos, isotônicos e isocinéticos podem ser utilizados especificamente para contorno, extensão, oclusão e abertura dos lábios, protrusão, retração e elevação da língua, além da protrusão, elevação e depressão mandibular. A quantidade e a duração da resistência utilizada nestes exercícios são sistematicamente aumentadas de acordo com a habilidade do paciente. Na fase inicial da paralisia com pouco ou nenhum esboço de movimento, o trabalho consiste na realização dos movimentos da avaliação e outros feitos de forma isométrica e acompanhados por massagens indutoras do movimento desejado na hemiface paralisada (Altmann, 998) no sentido do movimento. Essas massagens podem ser exclusivamente manuais, lentas, com pressão profunda ou com utilização de massageador facial suave.” As massagens proporcionam um efeito circulatório que eleva o metabolismo circular e estimula o trofismo muscular. São importantes também para estimular os receptores proprioceptivos. As massagens podem ser realizadas em ambos os lados da face, pois a fonoterapia tem sempre a intenção de oferecer estímulos sensoriais simétricos (Gomez, Vasconcelos e Bernardes, 2004). O prognóstico sempre vai depender do grau da lesão, do local da lesão, das áreas afetadas, das intervenções realizadas e muito, da cooperação do paciente. Muitas vezes, um exercício realizado num paciente com PFP não tem resultados tão positivos num paciente com PFC, isto se deve a condição clínica da musculatura facial que é diferente de uma paralisia para a outra. 6 Artigo publicado na Revista Científica do Hospital Central do Exército, em que apresentam a terapia fonoaudiológica para um paciente com PFC, internado no HCE do Rio de Janeiro. AN02FREV001 66 7 PARALISIA FACIAL CONGÊNITA 7.1 CONCEITO A figura7 do bebê ao lado apresenta uma assimetria facial causada por uma paralisia facial congênita, que não é frequente em recém-nascidos e quando ocorre tem várias causas. Sua incidência é de 1,4% dos nascimentos vivos e pode ter causa adquirida ou de desenvolvimento (Granato e Lazarini, 2006). Inicialmente, o incômodo, a angústia, não é no bebê, mas sim em seus pais e familiares. As primeiras relações afetivas estão intimamente relacionadas com a mímica facial, pois é por meio da expressão que a criança demonstra alegria, dor, choro, desconforto (Gomez, Vasconcelos e Bernardes, 2004). Nestes bebês, estas expressões geralmente estão prejudicadas, principalmente quando ocorre paralisia facial bilateral. Existem dois tipos de paralisias faciais congênitas: Não desenvolvimento dos núcleos celulares pontinos, que dariam origem às fibras do nervo facial. Paralisia facial do tipo "Heller", que consiste na não formação do pavilhão da orelha e outras estruturas circunvizinhas. 7 FONTE: Disponível em: <3.bp.blogspot.com/.../s320/paralisia-facial.gif>. Acesso em: 1 mar. 2010. AN02FREV001 67 7.2 ETIOLOGIA As causas que geram a paralisia do VII par craniano no recém-nascido podem ser devido a erros de embriogênese ou adquiridos durante a gestação, ou aqueles ocasionados durante o parto (Gomez, Vasconcelos e Bernardes, 2004). Entre as causas adquiridas Granato e Lazarini (2006) citam pressão na face provocada pela proeminência sacral durante o trabalho de parto ou a utilização do fórceps. Nos casos de trauma de parto, geralmente a paralisia associa-se a outros sinais, como edema facial, equimoses e hemotímpano. Traumatismos de parto são responsáveis por 78% dos casos de paralisia facial. Entre as etiologias congênitas, a sequência de Moebius é a mais estudada. Na síndrome ou sequência de Moebius (figura ao lado8) observa- se uma fraqueza ou paralisia dos músculos faciais o que dificulta a expressão das emoções por meio da face. O sexto (nervo abducente) e o sétimo (nervo facial) pares cranianos estão envolvidos nesta doença. Ocorre paralisia facial uni ou bilateral, estrabismo convergente. Pode ocorrer também paralisia de outros nervos cranianos, malformações dos membros (pés tortos congênitos, artrogripose9 e sindactilia10) e malformações de estruturas faciais (Altmann e Vaz, 2004; Guedes, 2008). Altmann e Vaz (2004) salientam que outras síndromes podem apresentar paralisia facial como consequência: a síndrome de Poland, complexo de Charge, 8 FONTE: Disponível em: <www.fm.unt.edu.ar/.../oftalmologia/moebius1.JPG>. Acesso em: 16 mar. 2010. 9 Múltiplas deformidades rígidas nas articulações. FONTE: Disponível em: <www.wgate.com.br/conteudo/.../artrogripose.htm>. Acesso em: 16 mar. 2010. 10 É uma anormalidade embriológica que resulta na visível união entre dois ou mais dedos das mãos ou dos pés. FONTE: Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Sindactilia>. Acesso em: 16 mar. 2010. AN02FREV001 68 síndrome de distrofia miotônica de Steinert e espectro fascioauriculovertebral ou síndrome de Goldenhaar. De acordo com Lazarini e Almeida (2006) além da sequência de Moebius outras alterações podem levar a paralisia facial, entre elas Agenesia do nervo facial – ocorrendo ausência de inervação muscular da face, é uma condição rara, pode ser isolada ou associada a outras alterações. Paralisia do lábio inferior – doença que ocorre no desenvolvimento do nervo facial, ocorrendo o comprometimento da inervação da musculatura do lábio inferior, a mobilidade do restante da hemiface está preservada. Os músculos afetados são os inervados pelo ramo mandibular do facial – orbicular da boca, depressor do ângulo da boca, depressor do lábio inferior e o mentoniano. 7.3 QUADRO CLÍNICO Casos de paralisia facial congênita, seja central ou periférica, não apresenta um aspecto típico, as alterações faciais vão ocorrer de acordo com o que foi lesado, e, quando associado à síndrome, seu quadro clínico pode envolver outras alterações. 7.4 TRATAMENTO Granato e Lazarini (2006) salientam que o tratamento geralmente é cirúrgico, podendo ser complementado com estímulos elétricos. O resultado da cirurgia depende da época da indicação, sabendo-se que quanto mais cedo for operado, melhor será o resultado. Guedes (2008) afirma que em virtude da ausência da mímica facial e do quanto tal característica tem sido considerada importante na comunicação oral, estes pacientes necessitam de um trabalho multidisciplinar para minimizar os graves transtornos psicossociais que acarretam dificuldades de comunicação para esses AN02FREV001 69 pacientes. A equipe multidisciplinar é composta por: neurologista, geneticista, fonoaudiólogo, psicólogo, oftalmologista, otorrinolaringologista, ortopedista, cirurgião plástico. O trabalho fonoaudiológico visa à melhora na comunicação, melhora no desempenho das funções estomatognáticas por meio de exercícios. Quando a etiologia da paralisia é um erro de embriogênese, Gomez, Vasconcelos e Bernardes (2004) afirmam que o tratamento deve ser diferenciado, devido a outras sequelas que ocorrem. O objetivo principal da terapia deve ser adequar às funções estomatognáticas – sucção, deglutição, mastigação, respiração e articulação. É necessária a realização de exercícios miofuncionais para adequação do tônus e mobilidade da musculatura facial. O trabalho de propriocepção, sensibilidade gustativa e a estimulação da linguagem, também devem ser realizados. Os pacientes com síndrome de Moebius, geralmente costumam apresentar dificuldades para mamar e consequentemente ganhar peso, pois apresentam pequena abertura de boca, mobilidade palatal pobre e sucção e deglutição ineficientes, restrição de movimentos mastigatórios laterais ou ausência de mastigação, levandomuitas vezes a um grau de desnutrição preocupante ou ganho de peso muito lento (Canonaco, 1998, Carneiro e Gomes, 2005). Estes pacientes necessitam de um acompanhamento fonoaudiológico para adequação das funções estomatognáticas e da musculatura facial. A orientação à família deve ser feita desde o nascimento, principalmente devido aos problemas relacionados com a alimentação. De acordo com Guedes (2006) o processo terapêutico nos casos de paralisia facial congênita, deve iniciar com relaxamento do rosto, pescoço e ombros, em seguida vem o trabalho individual da musculatura: Na testa, os movimentos são ascendentes; Nas pálpebras superiores e inferiores, são em direção lateral; Na porção lateral do nariz, movimentos descendentes; Na região das comissuras labiais, movimentos para fora e para cima, para os lados e para baixo; No pescoço, movimentos descendentes. AN02FREV001 70 A direção dos movimentos é apresentada na figura11 abaixo: Outros exercícios devem ser realizados por meio de movimentação complementar com mímica, em que a autora insiste na importância de relacionar a mímica com o sentimento emocional que deve ser expresso. Por exemplo, ao pedir que o paciente realize o exercício com “cara de nojo”, solicitar ao paciente que pense em algo que o enoje enquanto realiza a mímica. Devem ser trabalhados também exercícios de sucção, mastigação, deglutição e articulação, de acordo com a necessidade de cada paciente. Exercícios de abertura de boca, mordida e relaxamento para um bom resultado nas paralisias. A autora utiliza também exercício de mastigação seguida de sorriso e lateralização de mandíbula seguida de sorriso. As massagens devem se lentas e sem força. Como produzem o aquecimento das fibras musculares devem ser realizadas no início da terapia e seguidas de relaxamento. 11 FONTE: Guedes, 2006, p. 170. AN02FREV001 71 O trabalho com pacientes com paralisia facial congênita, principalmente com a etiologia de síndrome de Moebius, é um trabalho bastante árduo. Guedes (2006, p. 172) citando Cole (1999) afirma que o fonoaudiólogo deve fazer “de tudo para que essas crianças possam ter o prazer de expressar seus sentimentos por meio de alguma parte de seu corpo, mesmo que seja ‘sem face’”. 7.5 PROGNÓSTICO Em primeiro lugar, deve-se levar em consideração que a evolução da PF congênita é diferente da PFP. Os resultados vão depender da quantidade de fibras do nervo facial que estão saudáveis e, em alguns casos, dos resultados do tratamento cirúrgico. Deve-se também levar em consideração outras alterações que podem estar relacionadas à paralisia facial, que muitas vezes vão dificultar o tratamento. 7.6 QUESTÕES PARA ESTUDO 1- A PFC, é considerada uma lesão supranuclear, explique. 2- Explique porque na PFC os movimentos automáticos estão presentes. 3- Quais sinais e sintomas que diferenciam a PFP da PFC. 4- Como é a atuação fonoaudiológica na PFC? 5- Qual a importância da atuação fonoaudiológica ao recém-nascido com diagnóstico de paralisia facial congênita? FIM DO MÓDULO III
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