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Investigação de infrações penais

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
Intervenção do Ministério Público no Inquérito Policial
Assis – 2015
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
Intervenção do Ministério Público no Inquérito Policial
Trabalho apresentado como Atividade
Pratica Supervisionada do 6º semestre de Direito
Sob a Coordenação de Maria Apª Domingos
Alunos:
Mariane Machado Barbosa
Josiane Angélica
Sumário
Introdução 4
Inquérito Policial 5
Contrários a Investigação pelo Ministério Público 6
Favoráveis pela Investigação pelo Ministério Público 7
Conclusão 8
Bibliografia 10
INTRODUÇÃO
De acordo com a Constituição de 1988 o poder de investigação criminalnão foi reservado ao Ministério Público mas sim as polícias judiciárias.
     As funções institucionais do Ministério Publicosão fixadas nos incisos do artigo129, inserido no titulo IV –Da organização dos Poderes, Capitulo IV Das funções essenciais à justiça, dentre as quais cumpre ressaltar,em matéria criminal: A promoção privativa da ação penal pública. O controleexterno da atividade policial, e a requisição de diligênciasinvestigatórias e de instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos, além de outras funções não afetas área criminal, mas que, acabam por ser ultilizadas como argumentos favoráveis à investigação direta pelo Parquet.
A constituição da República estabelece as atribuições de investigação criminal no Titulo V- Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, capitulo III –Da Segurança Publica, disciplinando, nos §§ 1º e 4º, do artigo 144, que a apuração das infrações penais e de sua autoria é atribuição das polícias judiciárias, a saber, policia federal e policiais civis dos estados e distrito federal.
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário 593727 – Jairo de Souza Coelho x MPMG, que teria “reconhecido” a competência do Ministério Público para “promover investigações penais por conta própria, desde que respeitados os direitos garantidos pela Constituição, o devido processo legal e a razoável duração do processo”, merecem continuidade, com debates e análises técnico-jurídicas, sobretudo necessidade de uma investigação imparcial, destinada não somente à formação da “opinio delicti” do órgão acusador, mas também a buscar os indícios e elementos de prova a serem utilizados pelas partes antagônicas do processo penal, auxiliando o magistrado na busca da verdade real.
INQUÉRITO POLICIAL
O Inquérito Policial é conceituado como “procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo e voltado à colheita preliminar de provas para apurar a prática de uma infração penal e sua autoria”[1]. 
O inquérito Policial, com esta denominação e com suas características próprias, teve origem no direito pátrio “a partir do desdobramento e evolução do sumário de culpa elaborado pelos Juízes de Paz à época da promulgação do Decreto n° 4.824, de 22 de novembro de 1871, que regulamentou a Lei n° 2.033, de 20 de setembro do mesmo ano”, sendo há 144 anos o instrumento oficial de persecução penal preliminar ao processo judicial, “mantido como instrumento de garantia do cidadão contra a acusação apressada e, às vezes infundada.
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Segundo Fernando Capez, além do conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de infrações penais e sua autoria, consoante disciplina o artigo 4°, do Código de Processo Penal, consiste o inquérito policial em procedimento persecutório de caráter administrativo, instaurado pela autoridade policial, tendo por destinatários imediatos o Ministério Público ou o ofendido, na ação penal privada, e como destinatário mediato o juiz, que utilizará os “elementos informativos” apurados no inquérito policial para o recebimento da denúncia ou queixa-crime, e para a formação de seu convencimento quanto à decretação das medidas cautelares[2].
Nesse contexto e com a visão de que o inquérito policial não deve ser diminuído à mera peça informativa de convicção de uma das partes que integrarão eventual relação processual, é imprescindível que a investigação criminal esteja a cargo de órgãos oficiais do Estado, imparciais e desvinculados do processo penal posterior.
                     
CONTRÁRIOS À INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
Os argumentos contrários à investigação pelo Ministério Público se dividem em três grupos: 1°- interpretação sistemática da Constituição Federal e das normas infraconstitucionais; 2°- elementos históricos de interpretação; e 3°- argumentos de natureza meta-jurídica.
Relativamente ao primeiro grupo, relacionado à interpretação sistemática da Constituição Federal e das normas infraconstitucionais, se impõe repisar as atribuições das polícias Federal e Civis para a apuração das infrações penais, conforme previsto no artigo 144, § 1°, incisos I e IV, e § 4°, da Constituição da República, deixando claro ser as referidas polícias judiciárias a autoridade competente para a realização das investigações criminais, em respeito à garantia do Devido Processo Legal, previsto no artigo 5°, LIII, da Lei Maior.
Ainda em relação a esse primeiro grupo e em contrapartida ao supra-exposto, conforme já mencionado, a Constituição atribuiu ao Ministério Público a função de exercer o controle externo da atividade policial e o poder de requisição de diligências investigatórias e de instauração de inquérito policial[3] 
Em relação ao segundo grupo de argumentos, com ênfase nos elementos históricos, não sendo o foco do presente trabalho, cumpre consignar apenas o fato de que no Brasil a competência para a realização das investigações preliminares a ação penal sempre foi da polícia, havendo propostas de conferir tais atribuições ao Ministério Público ao longo dos tempos, desde a tentativa de instituição dos juizados de instrução em 1935, pelo então Ministro da Justiça Vicente Ráo, todas rejeitadas, inclusive na elaboração da Constituição de 1988 pelo constituinte originário e também nos debates relativos às propostas de emendas constitucionais discutidas em 1995 e 1999[4]. 
Cabe ressaltar que o titular da acusação já possui instrumentos de controle da atividade policial e o poder de requisição, tanto relativa a instauração da investigação por meio do inquérito policial, quanto de diligências que entender necessárias, que torna desnecessária e desaconselhável sua realização direta da investigação criminal.
FAVORÁVEIS À INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
Com base na interpretação sistemática da Constituição Federal e das normas infraconstitucionais, os favoráveis à investigação direta pelo parquet entendem que, na condição de titular da ação penal pública, prevista no artigo 129, I, da Constituição Federal, não é um mero espectador da investigação policial e poderia não apenas requisitar diligências como realizá-las diretamente, mesmo porque, a doutrina e a jurisprudência entendem ser facultativo e dispensável o inquérito policial.
O poder de investigação é fundamentado, ainda, em outras diversas atribuições ministeriais, como na “defesa da ordem jurídica e dos interesses individuais indisponíveis”[5], no dever de zelo pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos, promovendo as medidas necessárias a sua garantia[6], no inciso IX, que admite o exercício de outras funções compatíveis com sua finalidade e até mesmo na previsão do artigo 144, caput, que indica ser a segurança pública dever do Estado e direito e responsabilidade de todos.
Cumpre mencionar a “teoria dos poderes implícitos”, intimamente ligada à relação demeio e fim, entre investigação e denúncia, e  sustentada como argumento favorável, no sentido de que, sendo o destinatário da investigação criminal, poderia realizá-la diretamente, pois, segundo a mencionada teoria, ao conceder uma função a determinado órgão, a Constituição estaria conferindo, implicitamente, os meios necessários para a consecução desta atividade.
No grupo dos outros argumentos favoráveis, de caráter prático, se diz que a investigação pelo Ministério Público teria caráter subsidiário e seria empregada apenas quando necessário. Afirma-se que o modelo de exclusividade de investigação criminal pelas polícias é anacrônico, contraproducente podendo a atuação do Ministério Público conferir maior celeridade à atividade investigatória, facilitando, inclusive, seu convencimento.
Finalizando os argumentos comuns a este grupo, se entende que diversas situações recomendam a intervenção do parquet na investigação em razão de sua independência em relação aos poderes estatais, bem como em face da possibilidade de envolvimento de policiais com a corrupção e até mesmo com o crime organizado.
CONCLUSÃO
Como se verifica, a Constituição Federal de 1988 não prevê a possibilidade da realização direta de investigação criminal pelo Ministério Público, mas apenas sua participação por meio de fundamentadas requisições de diligências investigatórias, a serem realizadas pelas policiais judiciárias, bem como a requisição da própria instauração de inquérito policial, além do controle externo da atividade de polícia judiciária.
A teoria dos poderes implícitos não pode ser aplicada em matérias que poderes explícitos são atribuídos a outro órgão ou instituição, como é o caso da investigação criminal, atribuída às polícias judiciárias pelo art. 144, 1°, inciso IV, e § 4°, da CF, que reservou um campo de atividade exclusiva, que não pode ser violado por normas infraconstitucionais (como Resoluções, por exemplo);
Embora a investigação criminal oriente o convencimento do titular da acusação criminal, seu objetivo é a de servir à própria justiça[7], tendo por finalidade a perfeita elucidação do crime e suas circunstâncias, concluindo pela necessidade ou não do processo criminal. Dessa forma, a investigação não deve estar vinculada à acusação ou à defesa, mas à justiça, buscando a elucidação isenta dos fatos, por órgão oficial e imparcial, servindo como garantia do investigado de que não será submetido ao constrangimento de um processo criminal desnecessariamente.
A investigação é um procedimento inserido no sistema escalonado de formação da culpabilidade, não cabendo a expressão “quem pode o mais pode o menos”, pois não há distinção de mais e menos no campo da distribuição de competências constitucionais, que têm atribuições complementares, mas diversas, nenhum é mais ou menos. Entendendo de modo contrário, nas ações penais privadas teríamos que conceber a realização da investigação pelo próprio ofendido querelante, por meio de seu advogado ou defensoria pública, com notificações para oitivas de eventuais testemunhas em sua casa ou escritório, sob pena de desobediência e condução coercitiva. Outra contradição ocorreria em relação à lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, que consiste em forma compulsória de instauração do inquérito policial, que então deveria ser realizada também pelo promotor, ao arrepio da lei, que confere tal atribuição às Autoridades Policial e Judiciária.
Qualquer pessoa de bem busca o efetivo combate à criminalidade e à corrupção. Indubitavelmente a Constituição Federal confere a independência e as garantias ao Ministério Público que infelizmente não se verificam nas polícias judiciárias, sujeitando seus membros a eventuais pressões e influências, quando do enfrentamento da criminalidade entranhada no poder público e dos crimes de corrupção, que não sofreriam se tivessem as devidas garantias.
Nesse aspecto, é inconcebível em um Estado Democrático de Direito que o órgão incumbido da investigação criminal não tenha as garantias necessárias para tanto, ainda mais inconcebível é, por esse motivo, violar a Constituição Federal, permitindo que outra instituição com maiores garantias usurpe as funções conferidas às polícias judiciárias, ao invés de conferir às mesmas estrutura e garantias mínimas à realização de suas atribuições.
Vale lembrar o recente momento de manifestações populares ocorridos contemporaneamente às discussões do Projeto de Emenda Constitucional n° 37, que expressava a impossibilidade de investigação direta pelo Ministério Público, que a denominou de “PEC da Impunidade”, com o questionamento: “A quem interessa calar o MP?”, colocando a questão como a guerra entre a corrupção e a impunidade. Naquele momento não houve discussão acerca da “paridade de armas” no processo penal, tampouco sobre o devido processo legal e o respeito à Constituição Federal.
Com a rejeição da referida proposta, prosseguiram as reflexões jurídicas no sentido de que, para a constitucionalidade das investigações ministeriais, seria necessária uma proposta de emenda que previsse tal atribuição, da mesma forma que seria imprescindível uma legislação que regulamentasse essa função, estabelecendo alguma forma de controle e até mesmo os casos específicos e excepcionais desta atuação.
  Surpreendendo até os mais calorosos defensores da investigação ministerial, o Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário 593727 – Jairo de Souza Coelho x MPMG, encerrou um capítulo importante dessa história, reconhecendo a competência do Ministério Público para “promover investigações penais por conta própria, desde que respeitados os direitos garantidos pela Constituição, o devido processo legal e a razoável duração do processo”, sem estabelecer casos específicos e procedimentos, por 7 votos a 4, inovando o texto constitucional mediante escassa fundamentação.
Por mais que doravante o Ministério Público efetive sua investigação de forma análoga ao inquérito policial, as atuações não podem se equivaler, inclusive pela forma de controle da atividade, que nos parece aguardar regulamentação.
Por fim, após exposição e reflexão que nos levou a conclusão de que a Constituição de 1988 não reservou ao Ministério Público o protagonismo da investigação criminal, não se verificando tal competência em norma constitucional expressa, a qual foi conferida às polícias judiciárias, em face da recente decisão Supremo Tribunal Federal, nos resta torcer e atuar para que o Ministério Público não passe a desempenhar, de maneira ampla e difusa o papel da polícia e para que a concentração de poder não comprometa a imparcialidade mínima necessária às atividades desempenhadas.
                                                             
BIBLIOGRAFIA                                                             
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 11 Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014
CAPEZ, Fernando e CONALGO, Rodrigo Henrique. Código de Processo Penal Comentado, São Paulo : Saraiva, 2015
BARROSO, Luis Roberto. Investigação pelo Ministério Público. Argumentos contrários e a favor. A síntese possível e necessária. Parecer de 22 de janeiro de 2004
[1] NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 11 Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 96.
[2] CAPEZ, Fernando e CONALGO, Rodrigo Henrique. Código de Processo Penal Comentado, São Paulo : Saraiva, 2015, p. 19.
[3] Artigo 129, incisos VII e VIII, da Constituição Federal.
[4] BARROSO, idem.
[5] Artigo 127, caput, da Cosntituição Federal.
[6] Artigo 129, II, da Constituição Federal.
[7] Ibidem, p.64.

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