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O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO: OS PRIMEIROS DIAS DA CRIANÇA NO AMBIENTE ESCOLAR GONÇALVES∗, Josiane Peres – PUCRS josianeperes@unipan.br DAMKE∗∗, Anderléia Sotoriva – FACIAP/UNIPAN sotodamke@yahoo.com.br Resumo Todo ser humano passa por períodos de mudança que requer uma nova fase de adaptação e muitas vezes este processo pode ser conflituoso. É o caso da criança que chega pela primeira vez no ambiente escolar e tem que se separar da sua família. Normalmente é um período difícil, já que muitas delas apresentam dificuldades em se adaptar ao novo contexto, sendo importante aprofundar os estudos em relação a esta temática. O objetivo deste estudo é analisar as formas mais apropriadas que podem ser adotadas para auxiliar a criança que não consegue se adaptar à rotina escolar, e para atender a este propósito foi realizada uma pesquisa com os responsáveis pelas crianças que freqüentavam um Centro de Educação Infantil de Cascavel no Paraná. A amostra foi composta por 56 participantes, com faixa etária que variava entre 20 e 40 anos, cuja escolaridade predominante era a formação em nível de Ensino Médio. O instrumento utilizado foi um questionário com questões abertas e fechadas que foi entregue para que os participantes respondessem em casa e devolvessem no dia seguinte. Através das respostas obtidas, foi possível constatar que na fase de adaptação da criança na Educação Infantil, alguns adultos contribuem para que este processo seja o mais tranqüilo possível, porém outros se sentem angustiados como as crianças. Sugere-se que as Instituições de Ensino orientem melhor os responsáveis para que eles auxiliem a criança durante este período de adaptação e minimizem os fatores que atrapalham o processo de inserção da criança no ambiente escolar. Palavras-chave: Adaptação; Choro; Criança; Pais. A Educação Infantil representa uma ampliação do ambiente social da criança, antes restrita à família. É neste ambiente que a criança irá começar a conviver com outras crianças de sua mesma idade, repartir os objetos e o espaço físico, compartilhar brincadeiras e atividades, ser orientada por outros adultos que não são apenas as pessoas da família, ∗Coordenadora do Curso de Pedagogia da FACIAP/UNIPAN de Cascavel-Pr. Doutoranda em Educação pela PUC/RS. ∗∗Professora do curso de Pedagogia das Instituições FACIAP/UNIPAN de Cascavel-Pr e FASUL de Toledo-Pr. Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná. 3374 obedecer a regras pré-estabelecidas, diferentes das que já conhece. É neste momento da vida que as crianças encontram uma porta para a vida social mais ampla. Sendo assim, faz-se uma análise de como facilitar esta “quebra” de vínculos que acontece entre a criança e a família e de como estruturar novos vínculos afetivos com a equipe escolar para facilitar a adaptação neste novo “mundo” no qual está sendo inserida e que já está pré-organizado. Anteriormente, as crianças começavam a ingressar na escola, geralmente na 1ª série do Ensino Fundamental. Nas últimas gerações, a Educação Infantil tem ganhado uma atenção especial, sendo considerada como a primeira etapa da Educação Básica. Entretanto, durante séculos esta etapa da vida era “desconsiderada”. A história da educação infantil em nosso país tem, de certa forma, acompanhado a história dessa área no mundo, havendo, é claro, características que lhe são próprias. Até meados do século XIX, o atendimento de crianças pequenas longe da mãe em instituições como creches ou parques infantis praticamente não existia no Brasil. No meio rural, onde residia a maior parte da população do país na época, famílias de fazendeiros assumiam o cuidado das inúmeras crianças órfãs ou abandonadas, geralmente frutos da exploração sexual da mulher negra e índia pelo senhor branco. Já na zona urbana, bebês abandonados pelas mães, por vezes filhos ilegítimos de moças pertencentes a famílias com prestígio social, eram recolhidos nas “rodas de expostos” existentes em algumas cidades desde o início do século XVIII (OLIVEIRA, 2002, p. 91). A instituição que atendia crianças nos séculos anteriores era meramente assistencialista para as classes mais pobres e as crianças rejeitadas. Não se tinha a menor preocupação com a educação destas crianças. Muitas contradições foram ultrapassadas para chegarmos até a concepção de que a Educação Infantil não é um mero espaço para cuidados, e sim um ambiente de interação social. Ao mesmo tempo, a concepção de criança é uma noção historicamente construída e conseqüentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam diferentes maneiras de se considerar as crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico, do qual fazem parte (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL, 1998, p. 21) Todo ser humano tem passagens na vida, que nem sempre pode dominar. Ao deparar- se com tais mudanças, deve haver uma adaptação ao tempo e ao espaço. Em todos os momentos percebemos o quanto é importante sermos tratados como únicos, o que realmente 3375 somos. E é partindo deste princípio que se enfrenta a grande problemática do primeiro dia em um CEI (Centro de Educação Infantil) ou Pré Escola. O choro da criança, durante o processo de inserção, parece ser o fator que mais provoca ansiedade tanto nos pais quanto nos professores. Mas parece haver, também, uma crença de que o choro é inevitável e que a criança acabará se acostumando, vencida pelo esgotamento físico ou emocional, parando de chorar. [...] Deve ser dada uma atenção especial às crianças, nesses momentos de choro, pegando no colo ou sugerindo-lhes atividades interessantes (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL, 1998, p. 79). A adaptação escolar deve ser compreendida como um processo natural e singular de construção de vínculos entre a escola, a criança e a família. Algumas crianças encontram maiores dificuldades em separar-se emocionalmente e fisicamente de seus pais; sendo assim, é preciso estar ciente de que a família e a criança compartilham das mesmas ansiedades diante deste novo desafio, que se deve dar segurança e atenção para ambos os lados, família e criança, que acabam tornando-se apenas um. O processo de adaptação merece um cuidado especial para que a criança sinta-se confiante no novo ambiente. Deve conhecer os limites impostos para uma vivência coletiva, assim como conhecer seus próprios limites e tentar superá-los. Os primeiros dias, geralmente, são os mais complicados, e os mais importantes. O “desgarrar-se” da família que sempre os protegeu e permanecer “abandonado”, “sozinho”, em um ambiente completamente diferente, às vezes, representa um grande abismo na cabeça dos pequenos. Ao mesmo tempo, estes primeiros momentos, permitem a criança criar vínculos afetivos com uma outra pessoa, que lhe seja próxima, proporcionando-lhe segurança e tranqüilidade para a incorporação no novo ambiente. Em “Estimulando a mente do seu bebê”, Dr. Jacob (2004) ressalta a importância de dar toda atenção à criança neste novo processo de criar vínculos com a escola. Ele aconselha que se observe bem a reação da criança e se busque meios que funcione para todos – pais, criança e escola – durante este processo de adaptação, que pode ser breve para algumas crianças e mais longo e dolorido para outras. [...] a ansiedade da separação pode ser um problema, mesmo que pais e filhos tenham desenvolvido fortes vínculos. As crianças nesta idade [13 a 24 meses] têm inteligência suficiente para entender que papai e mamãe estão indo embora, mas não o suficiente para entender que depois de algum tempo estarãode volta. O tempo é um mistério para as crianças dessa idade. Algumas se adaptam melhor que outras a uma separação (JACOB, 2004, p. 153). 3376 O papel da equipe escolar é fundamental nesta fase. É neste momento que uma boa estrutura faz a diferença. Os pais precisam sentir-se bem amparados para poderem sentir-se seguros e transmitir esta segurança a seu filho. Assim como o professor precisa ter consciência de sua importância para a criança nestes primeiros dias. Analisando a questão, o adaptar-se à separação, é um momento muito difícil que a criança enfrenta. A insegurança criada, por não ter seus pais ao seu lado, terá que ser transformada em segurança em estar com um professor, que em muitos momentos divide atenção com outras crianças também. Os profissionais que estarão em contato com a família devem favorecer possibilidades para que este momento de adaptação, seja o mais tranqüilo possível, atendendo cada caso de maneira especial, respeitando a individualidade familiar e proporcionando um amparo para que a escola possa fazer parte da vida da família. A equipe que trabalha em um ambiente escolar, com experiências de anos anteriores, consegue prever que a adaptação neste novo ambiente pode ser complicada e demorada, mas a família que não tem esta “experiência”, pode sentir-se constrangida frente a esta situação. Oliveira (2002, p. 38) afirma que “quem trabalha com crianças pequenas sabe o quanto elas mudam e progridem de mês a mês e como muitas vezes é difícil adaptar-se a essas mudanças tão rápidas e repentinas”. Sendo assim é visível a importância de também se dar atenção aos pais, que participam ativamente neste processo de adaptação. Algumas dicas são importantes para que estes pais não se sintam culpados. Em muitos casos, cabe à escola fazer esta intervenção, através de conversas e recados explicativos, pois as atitudes dos pais refletem e influenciam de forma negativa ou positiva no período de adaptação, dependendo da postura adotada por cada família. Neste novo caminho que se enfrentará é importante que a criança identifique o ambiente. De fato, para que o primeiro dia se torne motivo de sorrisos em vez de lágrimas, a maioria dos especialistas aconselha estadas mais curtas no início. “A entrada no Jardim de Infância deve ser feita aos poucos. No princípio, apenas algumas horas e só depois o dia todo”, defende a psicóloga Helena Marujo (apud Aranha).�� � Uma orientação segura nestes primeiros dias, por parte da escola, transparece uma postura séria e compreensiva, transmitindo que a equipe está confiante e que tem certeza de suas atitudes frente aos primeiros momentos. E partindo desta compreensão, de que o processo de adaptação é curto, se bem estruturado, e que dele faz parte à estrutura familiar e escolar, é que se propôs a fazer uma pesquisa de campo, buscando, através de uma coleta de dados, realizada por um questionário, a confirmação de dados referentes a estas questões. 3377 A pesquisa realizada em um Centro de Educação Infantil, situado no bairro Guarujá, na cidade de Cascavel – Paraná, fortalece os dados bibliográficos já analisados. Através de um questionário, semi-estruturado, busca-se perceber as atitudes e pensamentos dos pais em relação aos primeiros dias da criança na vida escolar. Questionou-se a participação dos pais em relação às incertezas e angústias frente a seus filhos no momento de adaptação em 12 questões, sendo que destas, uma questão aberta. No CEI, onde foi realizada esta pesquisa de campo, são atendidas 130 crianças, com idades que variam entre 2 anos e 6 anos, distribuídas em seis salas assim compostas: Maternal I (2 anos), Maternal II (3 anos), Jardim I (4 anos), Jardim II (5 anos) e duas turmas de Pré- escola (6 anos). Para a coleta de dados, foi entregue um questionário a 76 responsáveis por crianças freqüentadoras desta instituição, obtendo um retorno de 52 questionários. Levando-se em consideração que houve apenas um dia para a devolução do questionário, houve um retorno altamente positivo. Em análises aos questionários que retornaram, surpreende-se com a participação masculina frente aos interesses sobre a criança. Uma participação significativa percebe-se neste aspecto, como podemos analisar na figura seguinte. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Mãe Pai Outro Figura 1. Pergunta: O que, a pessoa que respondeu o questionário, é da criança. Fonte: Dados Primários, 2005. Uma ótima presença do responsável, do sexo masculino, demonstra que a qualidade de vida pode ser acompanhada pelo homem, dividindo funções também neste âmbito de educação dos filhos. A figura feminina, que sempre predominou na educação dos filhos, e ainda continua, em análises gerais, pode ser vista e compreendida além de seu papel gerador. 3378 Ainda predomina o papel da mãe, mas o sexo oposto também demonstra estar presente, interagindo e participando ativamente da vida da criança, que anteriormente era mais distante. O grau de escolaridade foi um aspecto presente abordados no questionário, sendo que se obteve uma predominância no Ensino Médio, com 59,6%. Sendo que 19,2% Ensino Fundamental, outros 19,2% Ensino Superior e 1,9% não assinalaram nenhuma das opções. A faixa etária dos entrevistados variou de 20 a 40 anos, sendo que um percentual de 44,2% assinalou a opção de 20 a 30 anos, e 48%, a opção de 30 a 40 anos. Ainda, outros 1,9% dos entrevistados assinalou uma opção que não constava no questionário: 19 anos e 5,7% assinalaram a opção acima de 40 anos, percebendo-se assim, que os casais estão tendo filhos com maior idade, em relação a outras épocas. Constatou-se que os pais estão procurando por auxílio de uma instituição escolar antes da idade de escolarização propriamente dita, que seria a partir dos 6 anos, ficando evidente, que a idade predominante é dos 2 anos, com um percentual de 55,7%. Para as outras opções, 15,3% 1 ano, 13,4% 3 anos, 9,6% 4 anos e 1,9% 5 anos. Um outro fator que se objetivou através deste questionário, é o de identificar o motivo que levou a família buscar uma escola para a criança na faixa etária referente à educação infantil, observando apenas o assistencialismo ou levando em consideração algum outro critério. O fator predominante, com 76,9% das respostas, foi de que as famílias buscam a complementação de uma instituição por terem a necessidade de trabalharem fora e não terem com que deixar seus filhos. Sabendo que um dos requisitos solicitados para o ingresso nesta instituição seja que os responsáveis tenham “uma ocupação” no período em que a criança esteja na escola, fica claro que a maioria dos responsáveis busca a co-participação da escola neste processo educacional de seus filhos por motivo de trabalho. Sendo que apenas 13,4% por motivo de estudo e outros 9,6% responderam ser por um outro motivo. No artigo 18 do Projeto Político Pedagógico (2004/05, p. 53) desta instituição reafirma que “serão admitidas crianças, cujas mães trabalham fora do lar, por necessidade reconhecida de manter o equilíbrio do orçamento doméstico e não tenham no lar quem cuide das mesmas”. Em parágrafo único, ainda é acrescido: “Será exigido um documento comprobatório de que a mãe ou pessoa responsável pela criança se encontra trabalhando, sendo o controle de freqüência ao trabalho feito pela administração do centro”. Frente a estes dados obtidos, percebe-se que um dos motivos facilitadores da adaptação da criança é à força da necessidade e o apoio que se busca em contribuir e complementar a educação da criança. Como podemos melhor analisar com a figura seguinte, 3379 onde as crianças, neste ambiente, tiveram uma adaptação mais tranqüila e não tão complicada e demorada. 0 5 10 15 20 25 30 Um longo período Poucosdias Não demorou para se adaptar Figura 2. Pergunta: Como foi o período de adaptação de seu (ua) filho (a). Fonte: Dados Primários, 2005. O CEI foi fundado por um frei, sacerdote da Ordem dos Freis Franciscanos Convetuais, em abril de 1984, prevalecendo uma filosofia cristã nesta instituição. Hoje, esta é administrada e coordenada por freiras da Congregação das Pequenas Irmãs da Sagrada Família. Frente a esta filosofia cristã, adotada pela instituição, um dos índices que surpreende é o fato de que apenas 13,4% das respostas confirmam ter escolhido esta entidade levando em consideração a filosofia da escola, como se pode verificar na figura seguinte. 3380 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Filosofia da escola Preparo da equipe de funcionários Indicação de outras pessoas Localização (próximo de sua casa ou de algum familiar ou de trabalho) Valor da mensalidade Condições de atendimento (alimentação, atividades pedagógicas) Mais que uma opção Em branco Figura 3. Pergunta: Motivo que levou os responsáveis a escolher este CEI Fonte: Dados Primários, 2005. Um outro dado pertinente, a ser analisando nesta figura, é que 9,6% das respostas assinalaram a opção de que se preocupam com o preparo da equipe, que estará com seu filho por um grande período do dia e da vida da criança. Surpreendentemente, em uma outra questão, quando questionados sobre como se sentem, perante a reação de choro de seus filhos, 82, 6% dos questionários assinalaram a alternativa, que ficam seguros, pois acreditam que a equipe da escola cuidará bem de seu filho. Os resultados dão a entender, que a maior preocupação está no assistencialismo que muitas escolas oferecem, no bem estar físico e não na educação. De certa forma, as respostas ficaram contraditórias, já que em uma das questões a preocupação não se pautou na escolha da escola visando à qualificação profissional e em outra questão, o fator que gera segurança, é a confiança na equipe que trabalha próximo ao seu filho. 3381 Percebe-se que a preocupação maior da família, ainda se concentra no cuidar, no bem- estar físico da criança, focando o papel do professor, como em alguns relatos, na única questão aberta da pesquisa. Na questão aberta, perguntou-se qual a maior preocupação em deixar seu filho chorando nos primeiros dias. Algumas das respostas confirmam a insegurança frente ao papel dos profissionais em contato com a criança, como se percebe nestas respostas: “Se ela iria ser bem cuidada pelas educadoras”; “Fico preocupada com as professoras, pois terão trabalho em acalmá-lo”; “De não ser bem cuidado pelo professor” e ainda, “A maior preocupação é com relação ao tratamento com a criança, como será que as professoras vão lidar com uma criança que está aos prantos? Será que terão paciência com ela?”. Outras respostas se assemelham a esta preocupação física: “Na realidade, não me preocupei com choro, mais sim com as crises respiratórias, porém sabia que estava sendo bem observada” e também “A maior preocupação é a do filho ficar desesperado por estar em um ambiente ainda estranho e dar convulsão e não saber qual seria a reação das professoras”. Um outro aspecto também relevante, nesta mesma questão, sobre as próprias preocupações dos pais em relação ao sentido de culpa de quem abandonou uma criança. Algumas respostas: “Medo de se tornar uma criança insegura, e sentindo-se abandonada”; “Fico preocupada se está acontecendo algo no qual ele não se adaptou, ou talvez por natureza não gosta de cumprir responsabilidades”; “Se ele ficaria com raiva, ou achar que estaria abandonando-o”; “Criar algum trauma psicológico para o futuro”. Insegurança, até os mais experientes pais sentem ao deixar seus filhos pela primeira vez em uma escola, mas é importante que se tenha objetivos claros e certeza de que é a melhor opção e de que será importante para a criança e para a família. Este fator de segurança, transparece quando se questiona de como foi o período de adaptação da criança, quando uma pequena porcentagem aponta um longo tempo. A necessidade de se encontrar um local apropriado e que manifeste segurança, é um forte motivo para que a adaptação seja tranqüila e não prolongada, como se constata na figura seguinte. 3382 0 5 10 15 20 25 30 Um longo período Poucos dias Não demorou para se adaptar Figura 4. Pergunta: Como foi o período de adaptação da criança. Fonte: Dados Primários, 2005. Uma grande porcentagem ficou entre “não demorou a se adaptar” e “poucos dias para se adaptar”. O fato de muitas mães precisarem trabalhar para reforçar o orçamento familiar, vem justificar estes dados, pois a adaptação da criança neste novo ambiente, e incorporação em uma nova realidade, passa a ser uma necessidade de toda a estrutura familiar. Como já foi mencionado, o contato da criança no ambiente escolar proporciona uma socialização com outras culturas e valores. A criança que tem contato com outras crianças de sua mesma idade, socializa-se com grande enriquecimento na interação de aprendizagem. Ao questionar sobre se a criança já convivia com outros grupos de crianças, anteriormente ao seu ingresso na escola, 34,6% das respostas fora sim e 61,5% das respostas foram não e apenas 3,8% das respostas foram em branco. Perante este dado, percebe-se que a presença de contato ou não com outros grupos de crianças não interfere no momento de adaptação escolar, já que a grande maioria das crianças teve fácil adaptação e não conviviam com outras crianças anteriormente. Pode ser, que a convivência ou a influência de adultos, também, auxilie no ingresso ao ambiente escolar. É importante ressaltar que a instituição escolar não vem substituir laços que se criam na família, como analisa Oliveira: A creche é um dos contextos de desenvolvimento da criança. Além de prestar cuidados físicos, ela cria condições para o seu desenvolvimento cognitivo, simbólico, social e emocional. O importante é que a creche seja pensada não como uma instituição substituta da família, mas como ambiente de socialização diferentes do familiar. Nela se dá cuidado e a educação de crianças, que aí vivem, convivem, exploram, conhecem, construindo uma visão de mundo de si mesmas, constituindo- se como Sujeitos (OLIVEIRA, 2002, p. 64). 3383 Percebe-se que ao se questionar os responsáveis, sobre o motivo que acredita, que levou a criança a chorar, nos primeiros dias e não querer permanecer na escola, a resposta que predominou, como verificamos na figura seguinte, foi o fato de que a criança não conhecia nenhuma pessoa naquele ambiente, constatando-se assim, que as famílias têm a percepção de que existe uma diferenciação entre os vínculos familiares e os com outras pessoas no ambiente escolar, sendo que os de família são os primeiros que a criança vivencia e cria. 0 10 20 30 Não queria sair do seu lado Estava com medo Não conseguia explicar Não conhecia ninguém Os professores não davam a devida atenção Inseguro Mais que uma opção Em branco Figura 5: Pergunta: Motivo acreditar que leva a criança a chorar e não querer permanecer no CEI Fonte: Dados Primários, 2005. A preparação dos pais ou responsáveis pela criança, é um pré-requisito nos primeiros dias neste novo ambiente institucional. Os responsáveis pela criança precisam estar conscientes e seguros desta opção, para transmitir a segurança que as crianças pequenas precisam. A importância de se estar certo desta opção será acreditada também pela criança, que não estará abandonada na escola, mas sim que esta recebendo a possibilidade de criar vínculos afetivos com outros adultos e principalmente com outras crianças. É visível, que as criançasque mais têm dificuldades de relacionar-se e integrar-se com o grupo, possuem famílias inseguras (pai ou mãe) e com dificuldades em perceber o 3384 progresso, no período de adaptação. Quando os pais, ou as pessoas mais próximas da criança estão mais seguros com o ambiente no qual as deixam, seja acreditando na equipe como todo, seja na relação com o professor que está em contato com a criança, ou até mesmo nas interações de horários de saída da escola com outros pais e responsáveis de outras crianças, que já freqüentam a escola há mais tempo e estão adaptadas, há possibilidade de adaptação em menor tempo. Sabe-se que esta pesquisa é apenas uma pequena amostra e que há muitos outros motivos para o desconforto dos primeiros momentos em uma nova instituição, seja ela qual for. Este é um instrumento de ordem muito simples e que traz apenas uma pequena uma noção de realidade, podendo servir como reflexão para análises sobre como o professor pode estar mediando nestes momentos de choro e de angústia de permanecer sozinho em um local que, dependendo de “visão” infantil, pode transparecer grandes incertezas e inseguranças. REFERÊNCIAS ARANHA, Adriana. Adaptação – Depoimentos de um pai. Disponível em: <http//: www.adaptação/depoimentosdeumpai.htm>. Acesso em: 21 set. 2005. BRASIL. RCN. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. v.1. Brasília: MEC/SEF, 1998. JACOB, S. H. Estimulando a mente do seu bebê. São Paulo: Mandras, 2004. OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Educação Infantil – Referencial final. v.1. Brasília: MEC/SEF, 1998. PPP. Projeto Político Pedagógico. Centro de Educação Infantil São Francisco de Assis. Cascavel, 2004/05.
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