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Direito Civil IV

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RESUMO: USUCAPIÃO – ESPÉCIES E REQUISITOS
A usucapião se dá pela:
a) posse mansa;
b) pacífica;
c) contínua.
A exceção dos bens públicos, todos os outros são passíveis de usucapião.
Usucapião não se confunde com a prescrição aquisitiva, já que esta somente opera a perda do direito de ação, e nunca a aquisição.
Como efeito da posse e modo de aquisição da propriedade, a usucapião pode ser invocada como argumento de defesa, no curso do processo. Contudo, não pode ser alegada nas seguintes situações:
a) durante a vigência da condição suspensiva pois ela, como modalidade do ato ou do negócio jurídico, impede a aquisição de direitos enquanto não se verificar o evento futuro e incerto;
b) durante ação de evicção;
c) com a citação pessoal do devedor;
d) com o ato judicial que constitui o devedor em mora;
e) com o protesto;
f) com a apresentação do título de crédito no juízo do inventário ou em concurso de credores.
ESPÉCIES
I – CÓDIGO CIVIL
1) USUCAPIÃO ORDINÁRIA/COMUM
Bem imóvel: CC 1242 e 1379 parágrafo único (servidão)
Bem móvel: CC 1260
Requisitos:
Além de posse mansa, pacífica e contínua
a) Boa-fé;
b) Justo Título;
***obs: O justo título em todos os casos de usucapião ocorre com a apresentação de qualquer documento demonstrativo da legitimidade da posse, desde que, quando particular, tenha a assinatura de duas testemunhas. Ex: contrato de compra e venda.
Prazo de posse contínua:
a) 10 anos para bens imóveis;
b) 3 anos para bens móveis.
1.2) USUCAPIÃO ORDINÁRIA HABITACIONAL
CC art. 1242 parágrafo único
Requisitos:
Além de posse mansa, pacífica e contínua
a) Finalidade habitacional (em solo urbano);
b) Boa-fé;
c) Justo Título;
Prazo de posse contínua:
a) 5 anos.
Obs: não existe qualquer tipo de especificação sobre limite de área.
1.3) USUCAPIÃO ORDINÁRIA PRO LABORE
CC art. 1242 parágrafo único
Requisitos:
Além de posse mansa, pacífica e contínua
a) Finalidade de exploração econômica no imóvel, atividade laboral -extrativista, pecuária ou agrícola – (terras rurais);
b) Boa-fé;
c) Justo Título;
Prazo de posse contínua:
a) 5 anos.
Obs: não existe qualquer tipo de especificação sobre limite de área.
2) USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA
Bem imóvel: CC art. 1238
Bem móvel: CC art. 1260
Requisitos:
É necessária a posse mansa e continua, contudo, não se exige boa-fé ou justo título.
Prazo de posse contínua:
a) 15 anos para bem imóvel;
b) 5 anos para bem móvel;
2.1 USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA HABITACIONAL
CC art. 1238 parágrafo único.
Requisitos:
É necessária a posse mansa e continua de imóvel urbano para fins de moradia, contudo, não se exige boa-fé ou justo título.
Prazo de posse contínua:
a) 10 anos.
Obs: não existe qualquer tipo de especificação sobre limite de área.
2.2 USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA PRO LABORE
CC art. 1238 parágrafo único.
Requisitos:
É necessária a posse mansa e continua de imóvel rural para fins de exploração econômica (extrativista, pecuária ou agrícola), contudo, não se exige boa-fé ou justo título.
Prazo de posse contínua:
a) 10 anos.
Obs: não existe qualquer tipo de especificação sobre limite de área.
II – CONSTITUIÇÃO FEDERAL (CF/1988)
1) USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL HABITACIONAL (pro morare ou pro misero)
CF art. 183 e CC art. 1240
Requisitos:
a) Não se exige boa-fé ou justo título;
b) O imóvel URBANO não pode ultrapassar 250 m²;
c) O possuidor não pode ser titular de outro imóvel seja ele rural ou urbano.
Prazo de posse contínua:
a) 5 anos.
1) USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL PRO LABORE
CF art. 191 e CC art. 1239
Requisitos:
a) Não se exige boa-fé ou justo título;
b) O imóvel RURAL não pode ultrapassar 50 Hm²;
c) O possuidor não pode ser titular de outro imóvel seja ele rural ou urbano.
Prazo de posse contínua:
a) 5 anos.
** Muito embora o Enunciado 313 da IV Jornada do CJF tenha entendido que tanto na usucapião constitucional urbano quanto no rural não é possível o desmembramento de área a fim de atingir o limite máximo, a melhor orientação está no sentido de que compete ao juiz aferir a possibilidade de desmembramento de área, junto ao Registro de Imóveis, para fins de concessão do direito de usucarpir, dando real cumprimento à função social da propriedade.
III – LEI 6.969/1981
1) USUCAPIÃO POR INTERESSE SOCIAL
Requisitos:
a) Não se exige boa-fé ou justo título;
b) O imóvel RURAL não pode ultrapassar 25 Hm²;
c) O possuidor e os membros de sua família não podem ser titular de outro imóvel seja ele rural ou urbano.
Prazo de posse contínua:
a) 5 anos.
Obs:
a) Trata-se inegavelmente de uma modalidade de usucapião pro labore, contudo, mesmo com a instituição da usucapião constitucional pro labore ela não foi revogada, visto que admite a usucapião de terras devolutas;
b) Nesta modalidade a concessão não ocorre somente via judiciário, ela também pode ocorrer administrativamente;
c) Proíbe-se, entretanto, a usucapião de área de segurança nacional, de área indígena e de área de proteção ambiental.
IV – LEI 10.257/2001
1) USUCAPIÃO URBANA (ESTATUTO DA CIDADE)
Também chamada de usucapião para pessoas de baixa renda
Requisitos:
a) Não se exige boa-fé ou justo título;
b) Deve ocorrer de forma coletiva (composse), onde não seja possível mensurar com precisão a área de posse de cada um;
c) A área deve ter MAIS que 250m²;
d) O possuidor não pode ser titular de outro imóvel seja ele rural ou urbano.
Prazo de posse contínua:
a) 5 anos.
________________________________________________________
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE:
URBANA: CF art. 182, § 2º;
RURAL: CF art. 186.
AQUISIÇÃO DA POSSE
1DEZ
Como é que o direito vê:
Aquisição originária = não tem dono anterior
Aquisição derivada = é possível saber quem foi o dono anterior
Estudar:
ü “res n ullius” = coisa de n inguém
ü “res derelicta” = coisa abandonada
Pergunta: Exemplo do navio que estava afundando e que, para salvarem vidas, as pessoas deixaram as coisas. Trata-se de “res nullius”, res derelicta, ou NDA?
Resposta: Não posso dizer que foi coisa abandonada “res derelicta”, pois que as pessoas não tiveram a intenção de abandonar as coisas, também não posso dizer que as coisas não pertenciam a ninguém. Portanto, NDA.
2.1 – “tradens” (entrega a coisa) “accipiens” (recebe a coisa)
TRADIÇÃO são 3 espécies:
ü Real ou efetiva = você recebe a coisa;
ü Ficta ou simbólica = exemplo a entrega das chaves do carro, não é uma tradição real, onde eu entrego o objeto que simboliza a coisa;
ü Tradição consensual que comporta duas expressões:
a) “traditio longa manu” = tradição longe da mão, ex.: da fazenda com problema de febre amarela, alguém resolve comprar, então, a tradição será simbólica, feita à distância. Ninguém detém a posse no momento da tradição (não podemos confundir, pois eu posso ser proprietária sem estar na posse);
b) “tradutio brevi manu” = mão perto. Exemplo da locadora que vendeu a locatária (que já estava na posse). A pessoa exerce a posse em nome de outra, mas num determinado momento acaba exercendo a posse em nome próprio.
2.2 – Constituto Possessório (a doutrina faz referencia a cláusula constituti, no contrato, muito comum em contratos entre construtoras)
Eu possuo a coisa e em nome próprio e em determinado momento, passo a exercer a posse em nome de outro. Exemplo: estou com um familiar doente e preciso vender meu imóvel para pagar as despesas, procuro uma imobiliária que me oferece vários institutos, faço opção por vender e ficar no imóvel como inquilino. É a situação oposta ao “tradutio brevi manu”.
2.3 – Acessão = acrescer, somar a anterior com a atual (lembrando que estamos em aquisição derivada)
Comporta em:
ü Acessão por sucessão (por causa mortis). Exemplo: estava na posse por 7 anos e queria usucapir, faltavam apenas 3 anos e a pessoa morre, os três anos que estão faltando passarão aos herdeiros. Ou seja, serão somados os 7 anos antes da morte do pai com os 3 anos que os herdeiros terão que esperar, podendo então, os herdeiros usucapir. “Aquisição por acessão por sucessão”.
ü Acessão por união (inter vivos) acréscimo de bem,união = justo título, posso somar o tempo do proprietário anterior com o tempo de atual.
Obs. A doutrina usa como “accessio temporis”
Podem adquirir a posse: a própria pessoa (pensar em si próprio), representante ou procurador e terceiro sem procuração.
Enunciado 77 do Conselho de Justiça Federal “a posse das coisas móveis e imóveis também podem ser transmitida pelo constituto possessório”.
Obs. O CJF, composto por juizes e por desembargadores, preparam os enunciados que são uma forma de orientação de interpretação e são formados por jornadas de Direito Civil, que já contam com 4 jornadas.
Efeitos da posse
A) Legítima defesa da posse - Também chamada de desforço físico, é a auto-tutela, em que o titular, usando meios moderados, repele turbação ou esbulho na posse (art. 1.210, § 1º).
Os requisitos são: uso dos meios necessários; moderação; ocorrência de injusta agressão; atual ou iminente; posse.
            Na hipótese de excesso na legítima defesa da posse, sendo doloso ou culposo, aplica-se o art. 186 do Código Civil, gerando indenização, ou seja, o excesso não gera a perda da posse, mas sim uma indenização.
B) Acessórios da coisa - São os frutos e as benfeitorias. Os frutos são melhoramentos internos da coisa, ou seja, aumento da qualidade ou quantidade interna da coisa. As benfeitorias são acréscimos externos da coisa, ou seja, aumento da qualidade ou quantidade externa da coisa.
Os frutos podem ser: materiais: decorrem da natureza; industriais: decorrem da mão humana; legais: decorrem da lei.
As benfeitorias podem ser: necessárias: aquelas indispensáveis à manutenção da coisa, ou seja, o acréscimo mantém o valor econômico da coisa; úteis: aquelas que aumentam a qualidade econômica da coisa por gerar maior utilidade; voluptuárias: aquelas que aumentam substancialmente o valor econômico da coisa para lhe garantir maior deleite.
Existem três princípios que regem a matéria: acessório segue o principal: quem possui o principal possui também o acessório; res perit domino: a coisa perece para o dono; princípio da boa-fé: existe a presunção de boa-fé; ou seja, no silêncio, presume-se a posse de boa-fé.
B.1) Efeitos da posse de boa-fé:
- Em relação aos frutos - O possuidor de boa-fé terá direito aos frutos percebidos e colhidos, e direito à indenização pela produção e custeio (todos os aparatos da coisa). (Art. 1.214 CC).
- Em relação às benfeitorias - O possuidor tem direito a indenização plena pelas benfeitorias necessárias e úteis, bem como direito de retenção por estas (poderá reter a coisa até que seja indenizado) e direito a levantar as benfeitorias voluptuárias se não houver indenização por elas. (Art. 1.219 CC).
- Em relação à deterioração - Em tese, o possuidor é irresponsável pela deterioração natural. Tem responsabilidade subjetiva. (Art. 1.217 CC).
B.2) Efeitos da posse de má-fé:
- Em relação aos frutos - O possuidor de má-fé tem obrigação de devolução dos frutos percebidos e colhidos, perderá os frutos pendentes e tem o direito de ser indenizado pela produção e custeio (visa ao não enriquecimento indevido de terceiros). (Art. 1.216 CC).
- Em relação às benfeitorias - O possuidor perderá as benfeitorias úteis e voluptuárias, terá direito à indenização pelas benfeitorias necessárias e não poderá reter a coisa, nem levantar, se não houver indenização por elas. (Art. 1.220 CC).
- Em relação à deterioração - O possuidor de má-fé tem responsabilidade objetiva. Será responsável por qualquer perecimento, só podendo se eximir se demonstrar que a deterioração ocorreria em qualquer hipótese. Há a inversão do ônus da prova. (Art. 1.218 CC).
C) Usucapião - É um efeito possessório. A passagem do tempo com uma relação de posse gera a propriedade. É a única em que o proprietário não tem publicidade, tendo em vista que a sentença do juiz, na usucapião, é meramente declaratória, não havendo registro. Nesse caso, a propriedade é adquirida com o decurso do tempo, independente de haver ou não registro.
            D) Presunção de propriedade – Devido ao fato de ser a visibilidade do domínio. Presunção esta juris tantum.
            E) Ações possessórias (interditos possessórios) – Existem dois grupos de ações possessórias:
- Típicas: são aquelas que tratam da relação material da pessoa com a coisa. Podem ser: reintegração de posse, em caso de esbulho; manutenção de posse, em caso de turbação, ou interdito proibitório, em caso de ameaça.
- Atípicas: são aquelas que tratam, além da relação material, da relação jurídica e suas conseqüências no sistema jurídico. Podem ser: embargos de terceiros possuidores, nunciação de obra nova etc.
Obs.: Exceptio domini ou exceptio proprietatis: é o fenômeno segundo o qual o réu alega, na defesa, ser titular do domínio nas ações possessórias. Quanto à alegação de domínio (exceptio domini) nas ações possessórias, está previsto no art. 923 do CPC: “Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação do esbulho cometido pelo autor”. O art. 923 proíbe a alegação de domínio sobre a coisa, em caso de ação possessória.
            Regra geral, portanto, em matéria possessória, o juiz não irá decidir domínio; entretanto, existem duas exceções a essa regra citadas por Silvio Rodrigues (2002, 58):
            - Súmula n. 487 do Supremo Tribunal Federal: se as duas partes fundamentarem a posse em propriedade (se os dois alegarem ser proprietários), o juiz deverá julgar pela propriedade.
- Julga-se pelo domínio quando não se prova posse, ou seja, se nenhuma das partes provar a posse, o juiz julgará pelo domínio.
Traz Flávio Tartuce um entendimento mais moderno segundo o qual “No atual Código Civil, por força do disposto no §2º do seu art. 1.210, não há mais lugar para a "exceptio proprietatis", como defesa oponível às ações possessórias típicas, havendo, assim, a partir da vigência do Código Civil de 2002, absoluta separação entre os juízos possessório e petitório. Leia a lúcida e hodierna decisão monocrática prolatada pelo eminente e culto Desembargador Silveira Lenzi, fundamentada no Enunciado n. 79 do CEJ (Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal) e nas lições de Arruda Alvim”.
Classificação da Posse - Direito Civil
DA POSSE – Art. 1196 a 1224 do CC
Classificação da Posse
O modo como ela se manifesta no mundo jurídico e os seus efeitos poderão ser diferenciados conforme o tipo de posse.
a)     Quanto aos vícios objetivos – estão relacionados ao modo de aquisição da posse, o exercício da posse em si; sobre a coisa em si.
Justa – quando não é violenta, precária ou clandestina. Não tem vício objetivo, mas pode ter vício subjetivo. A posse é justa quando não for violenta, clandestina ou precária.
Injusta – quando for violenta, clandestina ou precária (equipara-se no penal ao furto, apropriação indébita ou roubo coação).  Não há posse em relação ao titular do direito, há mera detenção.
Violenta – constrangimento, energia desmedida, violência física ou moral; posse mansa e pacífica: Convalescimento da posse injusta é relativa à pessoa que sofre o vício, o possuidor que usa destes recursos, será mero detentor da posse, e, enquanto não houver convalescimento da posse ou enquanto não cessar o ato não será possuidor e sim mero detentor. Art. 1208 CC.
Clandestina – é posse covarde, tomada às ocultas, sem oferecer ao titular do direito a oportunidade de defesa; posse pública e ostensiva. Há um vício que não convalesce;
Precária – é uma posse que decorre de abuso de confiança, aquela pessoa que deve devolver a coisa, mas não o faz. (Ex.: inquilino, comodatário, mandatário, depositário). Há o convalescimento quando houver boa fé ademais não convalesce.
Exceção: Doutrina da Interversão da Posse
Sustenta a possibilidade do convalescimento da posse precária, onde o detentor passa a ser possuidor por meio de 2 elementos:
1° com uma postura que altera o caráter da posse, aquele que é detentor age de forma diferente; e
2° há uma postura do proprietário em não fazer nada, não empregaros mecanismos jurídicos para a sua posse.
Ocorre o efeito do Convalescimento - tornar aquele que seria mero detentor em possuidor em relação a vitima.
b)    Quanto aos vícios subjetivos – estão relacionados ao estado psicológico do possuidor; em saber ou desconhecer que a sua posse é indevida; está relacionada a pessoa, a conduta da pessoa. Forma como o indivíduo percebe sua posse.
Boa Fé–aquele que ignora os obstáculos ou impedimentos à aquisição da posse Art. 1.201 CC.
Real – de fato não existe vício.
Presumida – tiver justo título na medida em que causa no possuidor que ele tem o direito, mas pode haver algum defeito admitindo prova em contrário (ex. contrato de compra e venda feito com um incapaz, mas não tem conhecimento deste fato):
a.     Com justo título – cabe ônus da prova para a parte contrária.
b.     Sem justo título - tem o ônus da prova.
  Má Fé – tem consciência do erro.
Ocorre o fenômeno da transmutação da posse – a posse de boa fé se torna de má fé quando acontece um fato em que se prova que sua posse é indevida, ou vice-versa.
Boa fé para má fé – art. 1202 é reconhecimento do vício.
Má fé para boa fé -
	04/10/10
	04/10/11
	19/10/11
	19/12/11
	Compra
	Notificado
	Prazo p/ contestar
	Sentença
	Boa fé
	Boa fé
	Passa a ter Má fé
	
O possuidor de boa fé ignora que sua posse é indevida (percebe os frutos do bem); deve haver documento hábil da posse (um contrato de cessão de direitos, por exemplo).
     Com justo título – efeito de presunção relativa, iuris tantum § único do art. 1.201, CC.
   Sem justo título – sabe que a posse é indevida não, ignora que possui indevidamente. O animus probande - ônus cabe a quem alega a boa fé.
Na posse de má fé se sabe que não há o direito, animus domini (posseiro) (não tem direito a receber os frutos, deve devolver tudo que houve de frutos do bem ao proprietário).
c)      Quanto à duração: nova e velha
Doutrina: efeito processual, porque se aplica a regra do prestígio quanto ao tempo que se está na posse.
Posse nova é a posse que data de 1 ano até 1 dia, pode ser retirado liminarmente, através até de decisão interlocutória liminar. Vantagem sobre posse nova.
Posse velha mais de 1 ano e 1 dia, não pode ser retirado liminarmente da posse, fica até decisão final. O prazo é decadencial, cabe benfeitorias necessárias e úteis se de boa fé.
Art. 924 e 928, CPC
Principio da concretude e operabilidade no direito processual civil existe a ação de força nova e a ação de força velha. Do momento da turbação ou esbulho, você tem direito de reintegração ou manutenção da posse:
Até 1 ano e 1 dia = ação de força nova. Pedido liminar de reintegração de posse 928, CPC.
Após 1 ano e 1 dia ação de força velha, rito ordinário sem pedido de liminar. 924, CPC.
Composse é a pluralidade de posses sobre uma mesma coisa ou mesmo bem. Na composse os que detêm a posse estão no mesmo patamar. É um estado onde coexistem várias posses sobre o mesmo bem. Ex.: Condomínio.
Posse é o exercício do direito de propriedade.
Efeitos
Um possuidor pode utilizar a coisa, contanto que não obstrua a utilização dos demais possuidores.
Um dos composseiros pode manejar Ação Possessória na defesa de todos, não havendo a necessidade de litisconsórcio, busca o interesse da coletividade, estando ele afetado por este interesse.
Efeito Instrumental Judicial
Requer na justiça um Mandado proibitório a fim de que incida sanção ou multa.
Modos de Extinção
Quando deixa de haver pluralidade de posses?
1.       Perda do objeto ou perecimento da coisa;
2.       A divisão jurídica da coisa indivisível (não subsistência do estado de não divisão);
3.       Quando há a consolidação das várias posses em um só possuidor.
Ações possessórias
São efeitos da posse: direito aos frutos, às benfeitorias e às ações possessórias.
* Posse ad interdicta: é aquela que enseja proteção por meio dos interditos possessórios. Quem tem a posse, portanto, pode ajuizar ação possessória caso ela seja ameaçada, turbada, esbulhada ou perdida. O detentor não pode fazer isso.
*Posse ad usucapionem: o possuidor poderá adquirir a propriedade da coisa por meio de usucapião, ou seja, pelo decurso de tempo e mediante alguns requisitos, a depender do caso.
1 . Jus Possessionis (possessório)
– é o direito de possuir com fundamento exclusivo no fato da posse;
– causa de pedir e o pedido se fundamentam na posse;
– na pendência de juízo possessório é vedado o ingresso no juízo petitório (évedada a exceção de propriedade – art. 1.212, § 2º, CC);
– o possessório não faz coisa julgada no petitório.
2 . Jus Possidendi (petitório)
– é o direito à posse com fundamento no direito de propriedade ou relação jurídica dela decorrente;
– causa de pedir fundamenta-se na propriedade e o pedido na posse;
– há uma separação absoluta entre juízo possessório e petitório (Enunciado 79 do CJF: Art. 1.210 – A exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações possessórias típicas, foi abolida pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a absoluta separação entre os juízos possessório e petitório);
– da citação ao trânsito em julgado da possessória, há uma causa suspensiva do petitório.
OBS.: Enunciado 78, CJF – Art. 1.210: Tendo em vista a não-recepção pelo novo Código Civil da exceptio proprietatis (art. 1.210, § 2º) em caso de ausência de prova suficiente para embasar decisão liminar ou sentença final ancorada exclusivamente no ius possessionis, deverá o pedido ser indeferido e julgado improcedente, não obstante eventual alegação e demonstração de direito real sobre o bem litigioso.
Quem impetrar, pois, ação possessória alegando ser proprietário será carecedor da ação. Se nem autor nem réu demonstrarem a situação de possuídores, o pedido será julgado improcedente. O proprietário que não exercia a posse, não terá direito à ação possessória, mas apenas à petitória (ação reivindicatória). Dessa forma, a súmula 487 do STF (“Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada”) perdeu a eficácia com a vigência do CC de 2002.
Tipos de ações possessórias:
a) Reintegração de posse – em caso de esbulho (privação física da coisa por violência ou clandestinidade ou precariedade. Posse injusta. Art. 1.200, CC). Pode ocorrer esbulho parcial;
b) Manutenção da posse – em caso de turbação (não há a subtração da posse, há agressão atual. A sentença será mandamental);
c) Interdito proibitório – em caso de ameaça (ação de natureza preventiva. Art. 1.210, CC)
As ações possessórias são marcadas pela fungibilidade (art. 920, CPC). É exceção ao princípio da adstringência ou congruência dos arts. 128 e 460 do CPC. Há, pois, a conversibilidade dos interditos possessórios à medida em que intensifica-se a agressão sofrida pelo possuidor. No entanto, não é possível a conversão da ação possessória em petitória e vice-versa.
OBS.: Só há posse sobre coisas tangíveis, corpóreas. A posse é ato de poder físico sobre a coisa. No caso do direito autoral, este é imaterial e intangível, não havendo posse sobre o mesmo, mas propriedade. Súmula 228, STJ: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
As ações possessórias podem ser de força nova¹ ou de força velha², a depender do prazo decadencial de ano e dia. Isso não se aplica ao interdito proibitório.
¹ Força nova é intentada dentro de ano e dia após a prática do ato turbativo ou espoliativo, cabendo a concessão de liminar. Obedece, pois o rito sumário. A liminar é de natureza satisfativa. O autor almeja uma antecipação de tutela, bastando o fumus boni iuris (posse, agressão e prazo de ano e dia – art. 927, CPC) para sua concessão. O periculum in mora é requisito para concessão de liminar cautelar, não da satisfativa. A liminar é inauldita altera pars, salvo o previsto no art. 928 do CPC.
² Força velha tramita pelo rito ordinário, não admitindo o deferimento de liminar. Art. 924, CPC. O autor pode pleitear a tutela antecipada do art. 273 do CPC (tutela antecipada genérica) – Nesta exige-seo periculum in mora. O que se perde, portanto, é o direito de pleitear a tutela do art. 927 do CPC (tutela específica da possessória).
Enunciado 238, CJF: Art. 1.210 – Ainda que a ação possessória seja intentada além de “ano e dia” da turbação ou esbulho, e, em razão disso, tenha seu trâmite regido pelo procedimento ordinário (CPC, art. 924), nada impede que o juiz conceda a tutela possessória liminarmente, mediante antecipação de tutela, desde que presentes os requisitos autorizadores do art. 273, I ou II, bem como aqueles previstos no art. 461-A e §§, todos do CPC.
As ações possessórias são ações de natureza dúplice (art. 922, CPC) – Pedido contraposto. A ação é formalmente una, mas materialmente dúplice.
RESUMO EXTRA
AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE (MÓVEL E IMÓVEL)
AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE
 
Aquisição da propriedade:
Móvel
Imóvel
 
1. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
Pode se dar por:
Ato inter vivos
Registro do título
Usucapião
Acessão
Ato causa mortis
1.1.  Registro do título
No Cartório de Registro de Imóveis
Art. 1245 CC
Art. 1.245, caput – Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.
Antes do registro, o alienante continua sendo considerado proprietário
Art. 1.245,§ 1º – Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel.
Registro ” Tem presunção relativa de veracidade ” Então, cabe ação de retificação ou anulação do registro
Se nessa ação, o registro vier a ser cancelado, o proprietário (que cancelou o registro) pode reivindicar o imóvel para si.
Art. 1247 CC
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.
1.2.  Usucapião
REQUISITOS GERAIS
Posse com animus domini (posse com ânimo de dono, possui como se for dono)
Posse contínua e sem oposição
Pelo tempo legal
REQUISITOS ESPECÍFICOS
Variam conforme o tipo da usucapião
Usucapião extraordinária
Art. 1238 CC
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
Requisitos:
Posse por 15 anos
Não precisa de justo título ou boa-fé
Prazo pode ser reduzido para 10 anos, se o possuidor (que vai usucapir) fez do imóvel sua morada ou fez obra de caráter produtivo
Usucapião ordinária
Art. 1242 CC
Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
Requisitos:
Posse por 10 anos
Precisa de justo título ou boa-fé
Prazo pode ser reduzido para 5 anos, se o usucapiente fez do imóvel sua morada ou fez obras de caráter relevante
Usucapião especial (constitucional) urbana
Art. 183, CF
Art. 1240 CC
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
1oO título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
2oO direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
Requisitos:
Posse de 5 anos
Área urbana
Posse direta – morada habitual(nas outras espécies de usucapião o usucapiente pode, por exemplo, arrendar ou alugar o imóvel, nesta espécie de usucapião não pode!)
Limitação de área: Tamanho de área de até 250m²
Não pode ser dono de outro imóvel (nem rural, nem urbano)
Só pode fazer uso dessa usucapião uma única vez
Usucapião especial (constitucional) rural
Art. 1239 CC
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Requisitos:
Posse de 5 anos
Área rural
Posse direta – morada habitual ou tornou a área produtiva com seu trabalho ou de sua família
Limitação de área: Até 50 hectares
Não pode ser dono de outro imóvel (nem rural, nem urbano)
Pode usar mis de uma vez (pois a CF/88 não repete a exigência de que só pode fazer uso dessa usucapião uma única vez)
Usucapião conjugal
Art. 1240-A, CC
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
1o O direito previsto nocaput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
2o(VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
Requisitos:
Posse de 2 anos
Área urbana
Limitação de área: Até 250m²
Propriedade que dividia com o ex-conjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar
Moradia
Não pode ser dono de outro imóvel (nem rural, nem urbano)
Usucapião coletiva
Art. 10 da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) – Não está no CC!
Requisitos:
Posse por 5 anos
Posse por população de baixa renda
Posse para finalidade de morada
O juiz atribuirá uma fração ideal a cada possuidor. A área usucapida passa a ser um condomínio entre os moradores.
A sentença que reconhece a usucapião é declaratória (não é constitutiva, não cria a usucapião, apenas declara sua existência como ocorrida, tanto que o usucapiente já pode arguir sua usucapião como matéria de defesa – Súmula 237 STF)
Súmula 237, STF – O usucapião pode ser arguido em defesa.
Aplicam-se as regras do CC quanto à impedimento, suspensão e interrupção da prescrição.
Ex: Estou na posse com animus domini. Se eu mandar um bilhete para o proprietário falando que devolverei, mas não devolvo, o bilhete vale para interromper a prescrição aquisitiva.
QUADRO ESQUEMÁTICO USUCAPIÃO
SENTENÇA QUE DECLARA A USUCAPIÃO É DECLARATÓRIA
 
Art. 1.241. Poderá o possuidor requerer ao juiz seja declarada adquirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel.
Parágrafo único. A declaração obtida na forma deste artigo constituirá título hábil para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
ACESSIO TEMPORIS
Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
CAUSAS QUE OBSTAM, SUSPENDEM OU INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO AQUISITIVA
Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.
1.3. Acessão
Segundo modo de aquisição da propriedade por ato inter vivos.
 
Art. 1.248. A acessão pode dar-se:
I – por formação de ilhas;
II – por aluvião;
III – por avulsão;
IV – por abandono de álveo;
V – por plantaçõesou construções.
(1)  Aluvião
Pode ser:
Próprio: Há sedimentação lenta ao longo do tempo que forma acréscimos ao longo das margens.
Impróprio: Ocorre com o recuo das águas, deixando um pedaço do terreno a descoberto e formando um acréscimo ao longo das margens.
Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.
(2)  Avulsão
A força da correnteza arranca um pedaço de terra e deposita em outra terra. Aumenta a propriedade daquele que teve o acréscimo de terra trazido pelo rio.
Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado.
Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.
(3)  Álveo abandonado
Álveo = leito
O rio abandona o álveo (o leito). Ele pertencerá aos proprietários ribeirinhos.
Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
(4)  Formação de ilhas
No meio do curso da água pode surgir uma ilha.
Mede-se a partir do meio do rio. A parte direita é do ribeirinho da direita, e a parte esquerda é do ribeirinho da esquerda.
Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes:
I – as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais;
II – as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
III – as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.
(5)  Plantações e construções
Regra:
Tudo que se construiu ou se plantou num terreno é do dono do terreno. Então, quem plantou ou construiu, perde em favor do proprietário do terreno.
Se construiu ou plantou de boa-fé, tem direito a ser indenizado.
Se foi de má-fé (sabia que o terreno era alheio), não tem direito a coisa alguma, perde tudo que plantou ou construiu, e ainda pode ser obrigado a deixar o terreno como encontrou antes.
Exceção:
Se aquilo que plantou ou construiu, de boa-fé, excede consideravelmente o valor do terreno, então o proprietário do terreno perderá o terreno em favor de quem plantou ou construiu, mas tem direito a ser indenizado.
Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.
2.  AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE DE MÓVEL
2.1. Usucapião (de móvel)
Accessio temporis:
Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244.
Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.
– É licito ao último possuidor somar à sua a posse de seus antecessores para obter o lapso de tempo necessário à prescrição aquisitiva do domínio. (Ap. 10.903, 27.11.84, 2ª CC TJMT, Rel. Des. ERNANI VIEIRA DE SOUZA, in RT 601-224).
Espécies de usucapião de coisa móvel:
 
Pode ser:
Ordinária
Extraordinária
(1)  Usucapião ordinária
Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.
Posse com:
animus domini
de modo contínuo e incontestado
por 3 anos
com justo título e boa-fé
Ex: Pode ocorrer com automóveis. Mévio compra o imóvel há mais de 3 anos e aí chega o Tício e fala que o carro é dele e que havia sido roubado há muito tempo atrás.
(2)  Usucapião extraordinária
Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé.
Posse com:
animus domini
de modo contínuo e incontestado
por 5 anos
2.2.  Tradição
A propriedade de coisa móvel nos negócios jurídicos só se transfere com a tradição. Não basta o contrato. Os contratos não tem efeitos reais, só obrigacionais. O contrato obriga a transferir a propriedade, mas essa transferência só se dará, para as coisas moveis, com a tradição.
Art. 1.267, caput – A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.
2.2.1.  Constituto possessório
Aquela pessoa que tinha a coisa como sua continua com a coisa mas deixa de ser proprietário, passa a ser a coisa em nome alheio. É a posse animus domini que se transforma em posse em nome alheio (como comodato oulocação).
Ex: Vendi o carro ao Luiz, mas fico com o carro por mais 1 ano.
Art. 1.267, parágrafo único – Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.
2.2.2.  Tradição brevi manu
Eu tinha a posse em nome alheio, mas essa posse se transforma em posse com animus domini. É o inverso do constituto possessório.
Ex: Eu tinha um carro alugado, aí compro ele.
2.2.3. Tradição feita por quem não é proprietário
Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono.
1º Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.
2º Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo.
2.3.  Especificação
Alguém trabalha matéria priva alheia e obtém coisa nova que não pode mais voltar a forma anterior. Ex: Escultor faz estátua a partir do mármore.
Arts. 1269 e 1270, § 1º, CC – Se estiver de boa-fé vira proprietário da matéria prima. Se ele for incapaz, mesmo assim, o especificador vira dono.
Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior.
Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será do especificador de boa-fé a espécie nova.
1º Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima.
2º Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e outro qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie nova será do especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima.
Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano que sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § 1o do artigo antecedente, quando irredutível a especificação.
2.4.  Confusão, comissão (ou comistão) e adjunção
Confusão = Mistura de líquidos, que se torna inseparável
Comissão (ou comistão) = Mistura de coisas secas ou sólidas, que se torna inseparável
Adjunção = Superposição de materiais, não sendo mais possível separar
Art. 1.272. As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível separá-las sem deterioração.
1º Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado.
2º Se uma das coisas puder considerar-se principal, o dono sê-lo-á do todo, indenizando os outros.
Art. 1.273. Se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-fé, à outra parte caberá escolher entre adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado.
Art. 1.274. Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à confusão, comissão ou adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1.272 e 1.273.
2.5.  Ocupação
Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.
2.6.  Achado de tesouro
Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente.
Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado.
Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o descobridor.
3. PERDA DA PROPRIEDADE
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
I – por alienação;
II – pela renúncia;
III – por abandono;
IV – por perecimento da coisa;
V – por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.
1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.
2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.
RESUMO
1 CONCEITUAÇÃO DE POSSE
Conceituar posse é uma tarefa distante de ser trivial. Boa parte dos doutrinadores definem e conceituam os institutos a partir de uma análise de sua natureza jurídica e de uma análise hermenêutica, levando em conta diversos aspectos, sejam dos mais simplórios (como o gramatical e o lógico) até os mais complexos - que requerem um maior grau de subjetivismo – como o aspecto histórico ou o teleológico.
O primeiro inconveniente a ser enfrentado quando se deseja conceituar posse se dá com relação à definição da natureza dela, se seria um fato ou um direito. Mais ainda, se é um direito, é direito real ou pessoal? Para Maria Helena Diniz é direito real “como natural desdobramento do direito de propriedade”. Segundo ensina Clóvis Beviláqua (apud MONTEIRO; MALUF, 2012, p. 33) posse é um direito de natureza especial, decorrente de um estado de fato. Flávio Tartuce simplifica: trata-se de direito de natureza especial, sui generis. (TARTUCE, 2011, p. 715)
O fato é que a discussão sobre a natureza jurídica da posse remonta aos Romanos. Os textos produzidos à época são imprecisos e “ora proclamam-na um fato, res facti; ora dizem-na um direito, de iure dominii sive possessionis; ora atribuem-lhe bivalência”. (PEREIRA, 2010, p.19-20).
1.1 Conceito
Apesar de também reconhecer que a conceituação da posse continua sendo tema altamente discutida e controvertida, Gonçalves (2010, p. 15) aponta um conceito derivado da teoria de Ihering.
“Para lhering, cuja teoria o nosso direito positivo acolheu, posse é conduta de dono. Sempre que haja o exercício dos poderes de fato, inerentes à propriedade, existe posse, a não ser que alguma norma (como os arts. 1.198 e 1.208, p. Ex.) diga que esse exercício configura a detenção e não a posse” (GONÇALVES, 2010, p. 15)
O que justifica o posicionamento do doutrinador é o fato de que, para muitos, o Código Civil brasileiro de 1916 adotou a teoria de Ihering (vide texto do art. 485) e o Código Civil de 2002 manteve o entendimento, com a reprodução do teor do referido artigo no art. 1.196.
Art. 485. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.(BRASIL, 1916)
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.(BRASIL, 2002)
Na visão de Tartuce (2011, p. 717), a adoção da teoria de Ihering é parcial, pois há traços também da teoria de Savigny, quando se menciona o animus, como nos arts. 1.239 e 1240 do Código Civil.
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cincoanos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.(BRASIL, 2002) (grifo nosso)
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.(BRASIL, 2002) (grifo nosso)
Para além disso, a teoria verdadeiramente adotada teria sido a de Raymond Saleilles, em decorrência da função social da posse e da propriedade, presentes, por exemplo, no art. 1.228, § 1º, do Código Civil, combinado com o art. 5º, inciso XXIII da Constituição Federal
Art. 1.228 [...]
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. (BRASIL, 2002).(grifo nosso)
Art. 5º [...]
XXIII a propriedade atenderá a sua função social. (BRASIL, 1988).(grifo nosso)
Mais adiante, o sentido da função social da posse consta explicitamente no enunciado aprovado na V Jornada de Direito Civil, de 2011, da seguinte forma:
“A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela” (Enunciado n. 492) (V JORNADA DE DIREITO CIVIL, 2012).
Assim sendo, para conhecer melhor o instituto da posse é necessário conhecer as suas possíveis origens e as teorias que sobre ela versam.
1.2 Origem da posse
Desde o Direito Romano que se discute o instituto da posse. Fato é que a defesa da posse é uma defesa da paz social em si. A quebra da tranquilidade da sociedade em decorrência da tomada violenta da posse de alguma coisa que outrem tinha em seu poder deveria ser coibida. O Estado teria esse papel de combater coercitivamente (manu militari) a injustiça e restituir as coisas à situação anterior (GONÇALVES, 2012, p. 37).
Não há consenso doutrinário a respeito de qual seria a origem da posse, nas palavras de Monteiro e Maluf (2012, p. 34), “Segundo tudo parece indicar, a ciência jurídica bem longe está de alcançar solução satisfatória e definitiva.”
Todavia, as duas teorias da posse que de início ganharam maior relevância e repercussão (quais sejam: subjetiva de Savigny e objetiva de Ihering) teorizam também acerca da origem da posse, em dois sentidos distintos.
1.2.1 Concepção subjetiva
Savigny tomou para sua teoria subjetiva a concepção de Niebuhr, que dizia resumidamente que os interditos (ações possessórias) surgiram em decorrência da posse.
Roma conquistava o mundo e quanto mais avançava em seu intento, naturalmente mais terras tinha, dos terrenos conquistados como fruto das guerras uma parte era reservada para a construção das cidades e outra parte era distribuída para os cidadãos.
As vitórias eram tantas que as terras destinadas para construir novas cidades acabavam não sendo bem aproveitadas e, por conseguinte, tornavam-se improdutivas. Para solucionar o problema, os romanos resolveram lotear as áreas em pequenas propriedades (chamadas possessiones) e cedê-las a título precário aos cidadãos. Note-se que não havia direito de propriedade para os concessionários, portanto não cabia nenhuma ação reivindicatória sobre a terra por parte dos mesmos.(MONTEIRO; MALUF, 2012, p. 34)
Dessa situação fática de posse sem propriedade, teria nascido um problema: como poderia se defender o cidadão que tivesse a terra invadida, turbada, esbulhada? Para solucionar esse problema nasceu um processo próprio para tratar dessa proteção, seria o interdito possessório. (MONTEIRO; MALUF, 2012, p. 35)
1.2.2Concepção objetiva
Contrariamente ao que era defendido pela teoria subjetiva, Ihering propôs, em sua teoria objetiva, que a posse surgiu como entidade autônoma em virtude de incidentes em processos reivindicatórios, tendo surgido primeiro o interdito possessório (como ação decorrente da reivindicatória) e posteriormente a posse em si.
Ihering observou que inicialmente, em uma ação de reivindicação (própria de proprietários), o pretor romano poderia arbitrária e liminarmente conferir a posse da coisa a qualquer um dos litigantes, sem contudo garantir qualquer benefício ou privilégio ao detentor no tocante à solução da lide.
Este deveria, tanto quanto seu adversário de contenda, provar a propriedade da terra. A única vantagem da qual gozava aquele que possuía a terra eram os benefícios arrecadados em decorrência da fruição da coisa. O rigoroso equilíbrio nessa relação, em que ambos os adversários deveriam produzir provas de seus direitos fazia com que o juízo reivindicatório fosse tido como dúplice.
Com o passar do tempo, o processo liminar passou a ser mais comum e, em seu decorrer, já se produziam indícios de posse. O juízo que era dúplice passou a ser simples e o ônus da prova passou a recair exclusivamente na parte autora (aquela que não estava efetivamente na posse da coisa). Para o réu, bastava defender-se contrariando ou impugnando as pretensões do autor quando necessário. Já para o autor, havia de se suportar toda a carga probatória. (MONTEIRO; MALUF, 2012, p. 36)
A decisão liminar do pretor ficou cada vez menos importante, pois foram ficando mais adstritos ao processo liminar em si, uma vez que ao réu (detentor corrente da terra) foi concedida a posição mais vantajosa. Naturalmente, então, o processo evoluiu. As partes passaram a, vencido o processo liminar, não mais questionar a posse. O réu porque apenas precisaria agir para se defender e o autor porque não conhecia novas formas de provar sua posse (diversas das já apresentadas no processo liminar).
Desta feita, o processo liminar passou a ter vida própria, surgindo assim os interditos possessórios como ação autônoma e independente. (MONTEIRO; MALUF, 2012, p. 37)
1.3Posse x propriedade
Cabe explanar brevemente sobre algumas diferenças entre posse e propriedade. A ideia central é não exaurir o tema, uma vez que outros aspectos serão abordados a seguir. No momento, vale chamar a atenção para apenas algumas nuances.
A posse é uma exteriorização da propriedade, na teoria de Savigny a posse seria um fato e a propriedade um direito (GONÇALVES, 2010, p.14-15). A posse tem um ânimo transitório, enquanto a propriedade tem um ânimo permanente (GONÇALVES, 2010, p.76).
Destaque-se que a propriedade plena consolida mais de um tipo de posse (direta e indireta, por exemplo), podendo haver desmembramento das posses e a concentração da indireta na figura do proprietário e da direta na figura do possuidor, utilizando-se o proprietário de seu direito de dispor do bem. (TARTUCE, 2011, p. 745)
A propriedade goza de efeito erga omnes (oponibilidade contra todos), respeita o princípio da publicidade e o direito de sequela. Já a posse não tem esses predicados. Por conta disso, na posse não há domínio pleno da coisa e na propriedade há como comprová-lo cabalmente (TARTUCE, 2011, p. 709).
O possuidor tem a prerrogativa de propor ações possessórias, até mesmo contra o proprietário. Já o proprietário pode propor ação reivindicatória. Diz-se comumente na doutrina que a ação reivindicatória é a ação do proprietário não possuidor contra o possuidor que não proprietário. (GONÇALVES, 2010, 75)
1.4Jus possessionis x jus possidendi
Como dito anteriormente, a posse tomou vida própria como instituto autônomo e com suas ações possessórias correspondentes, da mesma forma que a propriedade tem ação própria correspondente (reivindicatória) para garantir sua proteção.
A posse, na qualidade de situação de fato, não é difícil de ser provada. Assim sendo, um proprietário que seja desapossado violentamente de seu imóvel pode propor ação reivindicatória,mas se torna mais interessante propor um interdito possessório, pois com este tipo de ação se possibilita a reintegração na posse da coisa logo no início do processo.
A verdade é que a posse é uma situação de fato que aparenta (e pode) ser uma situação de direito. Por conta disso, a fim de garantir a paz social, o legislador preferiu proteger a situação fática por presunção de que é provável que seja também jurídica.
Ensina Oliveira Ascensão (apud GONÇALVES, 2012, p. 35) “a posse é uma das grandes manifestações no mundo do direito do princípio fundamental da inércia... Quando alguém exerce poderes sobre uma coisa, exteriorizando a titularidade de um direito, a ordem jurídica permite-lhe, por esse simples fato, que os continue a exercer, sem exigir maior justificação. Se ele é realmente o titular, como normalmente acontece, resulta daí a coincidência da titularidade e do exercício, sem que tenha sido necessário proceder à verificação dos seus títulos”.
A posse formal (jus possessionis) é derivada dessa posse autônoma, sem um título que a valide. Trata-se de uma situação fática, se alguém de maneira mansa e pacífica se instala em um imóvel por um prazo razoável, sem que lhe seja oferecida qualquer resistência, já está configurada a circunstância de posse. Tal direito decorrente de situação fática é protegido contra terceiros e até mesmo contra o proprietário.
Por seu turno, a posse causal (jus possidendi) é o direito à posse garantido ao portador de um título devidamente transcrito ou ao titular de outros direitos reais. Aqui não há que se entender a posse como autônoma e sim como dependente de direito de propriedade. Também nesse caso é assegurado o direito à proteção dessa situação contra atos de violência, para garantia da paz social.(GONÇALVES, 2012, p. 36)
Pereira (2010, p. 19) nos ensina que “Ius possidendi (literalmente, direito de possuir) é a faculdade que tem uma pessoa, por já ser titular de uma situação jurídica, de exercer posse sobre determinada coisa” e exemplifica “o proprietário, o usufrutuário, o locatário etc. Têm ius possidendi”. Adita ainda que “Ius possessionis é o direito originado da situação jurídica da posse, e independente da preexistência de uma relação”.
Com relação às ações cabíveis, Coelho (2012, p. 50) simplifica a questão em poucas palavras “Não se confundem, portanto, as ações possessória e petitória. Enquanto na ação possessória o autor é possuidor e pretende exercer o direito de posse (jus possessionis), na petitória é proprietário e intenta ver respeitado o seu direito de possuir (jus possidendi)”.
2 TEORIAS FUNDAMENTAIS SOBRE A POSSE
Pereira (2010, p.20) nos ensina que existem três grandes correntes de pensamento sobre as teorias da posse. Diz ainda que não se pode decidir qual seria a correta com base na “autoridade dos combatentes”, pois estariam todos em igualdade de condições de respeitabilidade.
Os grandes expoentes por trás das duas teorias mais tradicionais carregam seu nome junto ao de sua teoria de maneira umbilicalmente associada. Assim, fala-se sempre da Teoria Subjetiva de Savigny e da Teoria Objetiva de Ihering.
Há contudo uma terceira teoria, modernamente bem aceita, e fortemente defendida por alguns doutrinadores - como é o caso de Tartuce. Trata-se da Teoria Sociológica, que tem alguns expoentes, porém, cremos que os de maior destaque sejam Saleilles, Perozzi e Hernandez Gil. (TARTUCE, 2011, p.718)
2.1 Teoria Subjetiva
Friedrich von Savigny foi um alemão que, aos 24 anos, publicou sua clássica obra “Tratado da posse”. Teve como maior virtude o fato de entender a posse como instituto autônomo, com direitos exclusivamente resultantes dela – ius possessionis. (GONÇALVES, 2012, p. 36)
Para Savigny a posse é composta por dois elementos: objetivo (corpus), que seria o poder físico ou de disponibilidade sobre a coisa; e o subjetivo (animus), que seria a intenção de ter a coisa para si. Nesse sentido, o locatário, o depositário e outros sujeitos em situação semelhante – sem animus domini - não seriam possuidores e sim meros detentores, pois não teriam qualquer intenção de tornarem-se proprietários da coisa. A posse para Savigny é um fato. (TARTUCE, 2011, p. 708).
Coelho (2012, p. 52) ressalta que “não exige, para a caracterização da posse, que o possuidor tenha a convicção íntima de ser o proprietário do bem possuído”. O que é exigido é o ânimo de ser proprietário, adiciona o doutrinador “São conceitos inconfundíveis o animus domini e o opinio domini — só o primeiro é elemento constitutivo da posse. Se alguém é ou não o proprietário da coisa possuída — ou ainda se pensa ser ou não — é fato irrelevante para a configuração da posse. Basta que possua a coisa com vontade de ser o proprietário para que tenha acesso aos interditos e possa beneficiar-se da usucapião”.
Uma das falhas da teoria original de Savigny está no fato de afirmar que uma relação como a de locatário não seria possessória e, portanto, não caberiam interditos. Ihering criticou fortemente Savigny ilustrando que um ladrão poderia roubar a coisa tranquilamente, pois o locatário nada poderia fazer, uma vez que não tem a posse dela (GONÇALVES, 2012, p.37)
A partir dessa crítica, Savigny evoluiu sua teoria e criou uma terceira categoria além da posse e da detenção, seria a posse derivada – um reconhecimento de transferência de direitos possessórios, sem contudo, transferir-se a propriedade. Ora, posse sem ânimo de dono claramente contraria sua tese original, mas foi a única solução encontrada por Savigny para solucionar a questão, que adotou o animus repraesentandi para caracterizar essa nova forma de posse.
Note-se que o elemento corpus também sofreu mutação na teoria subjetiva. Inicialmente corpus era necessariamente o contato físico com a coisa. Todavia, tornava-se insustentável imaginar que o dono de um veículo desconfiguraria sua posse apenas por se afastar do mesmo. (GONÇALVES, 2012, p.38-39)
2.2Teoria Objetiva
Ihering foi um filósofo alemão, advindo a Escola Histórica de hermenêutica, por meio da Jurisprudência dos Conceitos. Fazia contraponto ao pensamento de Savigny, que classificava o Direito como ciência cultural, enquanto Ihering, em sua fase pragmático-utilitária, acreditava que as normas jurídicas protegiam “interesses que conseguiram se impor socialmente... Não apenas pelo interesse econômico... Mas também devido à consciência do dever moral” (MAGALHÃES FILHO, 2011, p. 21).
Apesar de ter sido aluno de Savigny e de reconhecer que ele teria “restaurado na dogmática do direito civil o espírito da jurisprudência romana” e de que sua teoria “despertou admiração e aplausos”, Ihering foi seu grande opositor em ideias e, por muitas vezes, descredenciou completamente o pensamento do mestre.(GONÇALVES, 2012, p. 36)
Resumidamente Ihering dizia que a posse é composta de apenas um elemento. Preconizava que o animus estaria contido no corpus e que este seria a conduta de dono. Não havia de se analisar qualquer elemento subjetivo, a posse seria um direito, uma exteriorização do domínio ou da propriedade. Vale relembrar: os Código Civis Brasileiros (tanto do de 1916 como o atual) adotaram essa teoria. (GONÇALVES, 2010, p. 14).
A teoria de Ihering parecia complexa aos leigos, tanto que ele chegou a confeccionar folhetos que a melhor explicavam a fim de distribuir para a população. Ora, o natural era que a posse fosse do proprietário e, nesse caso, sua teoria não teria qualquer utilidade. A posse e a propriedade se exteriorizavam de maneira idêntica, portanto, aos olhos do homem comum, tratava-se do mesmo conceito. Somente se tornava interessante o seu pensamento nos casos em que o proprietário não fosse possuidor ou em que o possuidor não fosse proprietário. (COELHO, 2012, p. 53)
Para defender seu ponto de vista, Ihering abusava de exemplos práticos sobre o que seria a conduta do dono e a visibilidade ou exteriorização da propriedade, elementos essenciais de sua teoria. Vejamos:
“o lavrador que deixa sua colheita no campo não a tem fisicamente; entretanto, a conserva em suaposse, pois que age, em relação ao produto colhido, como o proprietário ordinariamente o faz. Mas, se deixa no mesmo local uma joia, evidentemente não mais conserva a posse sobre ela, pois não é assim que o proprietário age em relação a um bem dessa natureza” (apud GONÇALVES, 2012, p. 38)
“[para demonstrar a posse de minha casa]... Não tenho necessidade de provar que adquiri a posse; salta aos olhos que eu possuo. O mesmo pode-se dizer do campo que cultivei até hoje. Mas que dizer da posse de um terreno que eu comprei no último inverno, do qual recebi a tradição, e que não cultivei até agora? Como provar aqui o estado de minha posse? Ve-se nesse caso que não resta outro remédio senão remontar-se até o ato de aquisição da posse” (apud GONÇALVES, 2012, p. 39)
“... [é] um erro assentar a aquisição da posse exclusivamente sobre o ato de apreensão do possuidor; porque assim não se pode evitar a condição de presença do possuidor sobre a coisa, a menos que não se prefira, como Savigny, passar adiante sem se importar disso. Um fabricante de ladrilhos leva para meu edifício os ladrilhos que eu lhe encomendei; aquele que me vendeu adubo levou-o para meu campo; o jardineiro conduz as árvores ao meu jardim; é necessário que eu veja essas coisas para adquirir a posse? De modo algum... Será preciso que eu veja os ovos postos por minhas galinhas ou minhas pombas para adquiri-los?”(apud GONÇALVES, 2012, p. 39)
Seguindo sua corrente filosófica dos interesse coletivos, Ihering afirmava que a proteção da posse não era para dar satisfação ao possuidor e sim para tornar possível seu uso econômico ou a satisfação de suas necessidades. (MAGALHÃES FILHO, 2011, p. 22).
Tendo isso em mente, torna-se mais fácil entender a conduta do dono, elemento constituinte da posse. Esta é a relação normal de propriedade, aquela forma de agir que se espera de um possuidor diante de uma realidade e de costumes de uma sociedade. Mais um exemplo ilustra, no caso, a conduta do dono diante dos costumes.
“... Nos povos montanheses, a madeira para o fogo, que foi cortada nos bosques, lança-se ao rio, e mais abaixo, tiram-na da corrente que a conduzia. Não se pode falar neste caso de um poder físico do proprietário, e contudo a posse persiste. Por quê? A condição da madeira que flutua é a imposta por considerações econômicas, e neste caso qualquer pessoa sabe que não pode apanhá-la sem incorrer em culpa de furto. O rio, entretanto, com a enchente, apanha e arrasta outros objetos: mesas, cadeiras etc. E então, também aí, o homem comum sabe muito bem que pode tirar estas coisas da água, e salvá-las, sem que por isto seja acusado de ter furtado. O motivo da distinção é que a flutuação da madeira é um fato normal, e a das mesas e cadeiras, uma ocorrência anormal. No primeiro caso existe posse; no segundo, não”.(apud GONÇALVES, 2012, p. 40)
Desta feita, se a conduta da pessoa para com a coisa for similar à conduta normal do proprietário, tem-se posse, independentemente da verificação de se há ou não animus domini. Ressalte-se que, para Ihering, a detenção somente se daria em virtude de impedimento ou obstáculo legal.
Por fim, destaque-se que o filósofo, em se tratando de ações possessórias, reconhece que, por conta tão simplesmente da conduta do dono, pode-se eventualmente conceder a posse alguém indevidamente. Todavia, salienta que essa proteção é provisória e precária e que, dentro da própria ação, provada a propriedade pela outra parte, o equilíbrio e a justiça serão restabelecidos. (GONÇALVES, 2012, p. 41).
2.3Teoria Sociológica
Os três grandes expoentes da Teoria Sociológica da posse são Silvio Perozzi, da Itália, Raymond Saleilles, da França e Antonio Hernandez Gil, da Espanha. Segundo esses juristas sociólogos, a posse só se legitima se atingida sua função social. Sua teoria preconiza que a posse tem autonomia em face da propriedade. (TARTUCE, 2011, p. 715)
Nesse sentido, vale destacar o enunciado 492, da V Jornada do Direito Civil, de 2011
“A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela” (Enunciado n. 492) (V JORNADA DE DIREITO CIVIL, 2012)
Nossa Constituição Federal, no inciso XXIII, do artigo 5º, consagra a função social da propriedade (e, por interpretação extensiva e conforme, não só dela, da posse também).
Art. 5º [...]
XXIII a propriedade atenderá a sua função social. (BRASIL, 1988).(grifo nosso)
O pensamento de Perozzi é no sentido de que a posse independe de corpus e de animus, ela é tão somente o resultado do fator social. Para o autor, a abstenção de terceiros diante de uma situação é que legitima a posse.
Há o clássico exemplo do chapéu que, além de explicar o pensamento de Perozzi, rebate a ideologia de Savigny e de Ihering. Um homem caminhando pela rua com um chapéu em sua cabeça é possuidor, na teoria objetiva, pois tem a conduta esperada para o dono de um chapéu. Na teoria subjetiva, ele é possuidor por conta de ter o chapéu em sua cabeça, poder tirá-lo e recolocá-lo e ainda defender-se de quem quer que o deseje tomar. Na teoria sociológica de Perozzi, o homem possui o chapéu porque é quem dispõe dele, em detrimento das outras pessoas, e ninguém se rebela contra esse fato. Logo, a sociedade o aceita como legítimo possuidor. (GONÇALVES, 2012, p. 43)
A teoria da apropriação econômica de Saleilles leciona que a posse é autônoma diante do direito real, pois ela considera, sobretudo, a consciência social em seu viés econômico para caracterizar a posse.
Para Saleilles a relação de posse se difere da de detenção quando a consciência social entende que o possuidor tem independência econômica. Seria uma posse com características mais subjetivas, um caseiro de um sítio não manifestaria a posse, pois o possuidor é aquele que manifesta a independência econômica para, por exemplo, arcar com a manutenção e sustentabilidade da coisa. (GONÇALVES, 2012, p. 43)
Gil, talvez o mais subjetivo dos três juristas, combate a noção de que a propriedade ou a posse poderiam advir tão somente do fato de se ter chegado primeiro à terra. Acredita que a propriedade deve servir a propósitos coletivos.
Nesse sentido, afirma “A posse, enquadrada na estrutura e na função do Estado social com um programa de igualdade na distribuição dos recursos coletivos, encontra-se chamada a desempenhar um importante papel” (apud. GONÇALVES, 2012, p. 43)
Em face dos ensinamentos extraídos teoria sociológica e da existência de diversos dispositivos constitucionais garantidores da prevalência da função social da posse e da propriedade e, mais ainda, diante dos dispositivos existentes no próprio Código Civil, o jurista Joel Dias Figueira Jr. Teceu entusiasmada crítica à não adoção explícita da teoria de Saleilles no nosso Código Civil de 2002.
“Por tudo isso, perdeu-se o momento histórico de corrigir um importantíssimo dispositivo que vem causando confusão entre os jurisdicionados e, como decorrência de sua aplicação incorreta, inúmeras demandas. Ademais, o dispositivo mereceria um ajuste em face das teorias sociológicas, tendo-se em conta que foram elas, em sede possessória, que deram origem à função social da propriedade. Nesse sentido, vale registrar que foram as teorias sociológicas da posse, a partir do século XX, na Itália, com Silvio Perozzi; na França com Raymond Saleilles e, na Espanha, com Antonio Hernandez Gil, que não só colocaram por terra as célebres teorias objetiva e subjetiva de Ihering e Savigny, como também se tornaram responsáveis pelo novo conceito desses importantes institutos no mundo contemporâneo, notadamente a posse, como exteriorização da propriedade (sua verdadeira ‘função social’)”.(apud TARTUCE, 2011, p. 715)
E, por fim, conclui “é mais correto afirmar que o CC/2002 não adota a tese de Ihering pura e simplesmente, mas sim a tese da posse-social, sustentada por Perozzi, Saleilles e Hernandez Gil.” (TARTUCE, 2011, p. 716).
3CLASSIFICAÇÃO DA POSSE
A doutrina, tal qual ocorre em diversosaspectos da posse, não é unânime quanto à sua classificação. Tartuce (2011, p. 719-721), por exemplo, subdivide a posse quanto à boa-fé em duas categorias: quanto à boa-fé subjetiva e quanto à existência de justo título. De fato, para o autor, seriam seis categorias possíveis: desdobramento da posse, presença de vícios objetivos, boa-fé subjetiva, presença de título, tempo e efeitos.
Adotamos apenas 3 classificações (quanto ao desdobramento da posse, quanto à boa-fé e quanto ao tempo), por serem as mais comuns entre os doutrinadores e também por serem as que julgamos mais relevantes.
3.1 Quanto ao desdobramento da posse
Gonçalves (2010, p. 20) leciona que “A relação possessória, no caso, desdobra-se. O proprietário exerce a posse indireta, como consequência de seu domínio. O locatário, por exemplo, exerce a posse direta por concessão do locador. Uma não anula a outra. Ambas coexistem no tempo e no espaço e são posses jurídicas (jus possidendi), não autónomas, pois implicam o exercício de efetivo direito sobre a coisa”.
Note-se que o proprietário naturalmente concentra as duas posses, mas pode desdobrá-la e ceder a direta, concentrando em si apenas a indireta.
Tartuce (2011, p. 721) salienta o aspecto corpóreo, identificando a posse direta como aquela em que há um poder físico imediato (como exemplo temos o locatário e o depositário) e a indireta como aquela em que há apenas o exercício de um direito (como exemplos temos o locador e o depositante).
Cabe uma derradeira observação: o possuidor direto pode defender sua posse contra o possuidor indireto por meio das ações possessórias por expressa previsão legal, do artigo 1.197 do Código Civil.
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
Assim sendo, o locatário pode acionar o judicialmente o locador, por meio de uma ação de reintegração de posse, caso este esbulhe o imóvel, por exemplo.
Feitas as devidas observações, resumimos a subdivisão da seguinte forma.
3.1.1Posse direta ou imediata
“Aquela que é exercida por quem tem a coisa materialmente, havendo um poder físico imediato. Como possuidores diretos podem ser citados o locatário, o depositário, o comodatário e o usufrutuário” (TARTUCE, 2011, p. 719)
3.1.2Posse indireta ou mediata
“É a daquele que cede o uso do bem (a do locador, p. Ex.). Dá-se o desdobramento da posse. Uma não anula a outra. Nessa classificação não se propõe o problema da qualificação da posse, porque ambas são posses jurídicas (jus possidendi) e têm o mesmo valor”. (GONÇALVES, 2010, p.25)
3.2 Quanto à boa-fé
Tartuce (2011, p. 721) ressalta duas hipóteses para a ocorrência de posse de boa-fé: quando o possuidor ignora os vícios e obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa ou quando tem um justo título que fundamenta a sua posse.
Pode-se destacar que, na posse de boa fé por justo título há uma presunção juris tantum, pois admite prova em contrário de que o possuidor tinha sim ciência de que seu antecessor na posse a obteve de forma injusta (GONÇALVES, 2010, p.22).
Gonçalves (2010, p. 21) ressalta, na primeira hipótese, a de existência de vício ou obstáculo, que se leva em conta o elemento objetivo (exame de se há vício ou impedimento) e o elemento subjetivo (se o sujeito ignora a existência do vício ou impedimento).
Na consideração de quando ocorre a má-fé, deve-se cuidar dos conceitos de vício: a ocorrência de posse violenta, clandestina ou precária; e de impedimentos.
3.2.1Posse violenta
Posse violenta é obtida por meio de esbulho, violência física ou moral (didaticamente pode-se associar ao crime de roubo), como exemplo podemos citar uma invasão violenta de uma fazenda, com depredação, por parte de um movimento popular. (TARTUCE, 2011, p. 721).
3.2.2Posse clandestina
Posse clandestina é obtida de forma oculta, sorrateiramente (didaticamente se assemelha ao crime de furto), como exemplo citamos a invasão de uma fazenda que cumpre sua função social na calada da noite, sem violência. (TARTUCE, 2011, p. 721).
3.2.3Posse precária
Já a posse precária é obtida com o abuso de confiança (didaticamente se assemelha ao crime de estelionato), como exemplo temos um locatário que não devolve o bem ao proprietário ao final do contrato (TARTUCE, 2011, p. 721).
3.2.4Impedimentos
Os impedimentos são subdivididos em: detenção, atos de mera tolerância e de permissão. Os artigos 1.198 e 1.208 do Código Civil regulam as questões, vejamos:
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.(BRASIL, 2002)
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.(BRASIL, 2002)
Pelo artigo 1.208, vê-se que os atos de mera permissão ou tolerância não induzem a posse. Permissão é ato explícito, em que o proprietário ou possuidor permite algum tipo de uso de sua propriedade/posse (por exemplo: registra em cartório que todos podem usar livremente uma lagoa de em sua propriedade) e a tolerância é uma permissão implícita (por exemplo: dono de uma fazenda permite que vizinhos lavem roupa em lagoa em sua propriedade sem, contudo, formalizar a permissão).
Já no caso da detenção, fica claro que há uma relação de subordinação e confiança entre possuidor e detentor, a tentativa de o detentor tomar a posse poderia configurar a precariedade por abuso de confiança. Um bom exemplo disso seria um caseiro querer tomar a propriedade do real dono do sítio, valendo-se do fato de ser ele quem toma conta da terra. Ora, ele está ocupando a terra sob as ordens do dono, em clara relação de subordinação.
3.3 Quanto ao tempo
Há uma subdivisão em posse nova e posse velha. Vejamos o que enuncia o artigo 1.211 do Código Civil, combinado com o texto do artigo 924 do Código de Processo Civil.
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. (BRASIL, 2002)
Art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório. (BRASIL, 1973).
Entendemos, pois, que a posse nova é aquela que é defendida em juízo dentro do prazo de um ano e dia. Se uma ação possessória for ajuizada fora desse prazo, a repressão à turbação ou ao esbulho está garantida não mais por uma posse nova e sim por uma posse velha.
Revisitando os conceitos necessários às ações possessórias, temos que enquanto um terceiro apenas tenta desapossar o possuidor ocorre a turbação. Se, no entanto, o terceiro lograr êxito e atingir seu objetivo, haverá esbulho. Pois bem, em qualquer dos casos, pode-se utilizar uma ação possessória. No primeiro, de turbação, cabe uma ação de manutenção na posse. Já no segundo, do esbulho, cabe uma ação de reintegração da posse.
Note-se que, todavia, os procedimentos do Código de Processo Civil indicam que, no caso de ação possessória em defesa de posse nova, admite-se expedição liminar de mandado de manutenção ou reintegração de posse. Já se houver sido ultrapassado o prazo de um ano e um dia, a ação segue um rito ordinário.
Cada vez mais essa classificação em posse nova ou velha perde sentido, pois ela só interessa para assegurar rito mais rápido a ação possessória em defesa de posse nova. Atualmente se pode requerer antecipação de tutela no rito ordinário, trazendo assim - a combinação do rito ordinário com a tutela antecipada - eficácia semelhante à do rito extraordinário, garantido pelo fato de a posse ser nova. (COELHO, 2012, p. 36).
De toda sorte, classifiquemos simploriamente

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