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resenha livro O caso dos exploradores de cavernas

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O caso dos exploradores de cavernas é uma obra formulada no intuito de discutir acerca dos princípios do direito. A obra mostra, através de um caso concreto, apesar de fictício, essencialmente, a contraposição de valores de dois princípios do Direito: o juspositivismo X o jusnaturalista.
Esse texto, publicado pela primeira vez em 1949, foi lido e comentado por estudantes e professores de Direito em todo o mundo, tendo sido traduzido para vários idiomas, inclusive o português. 
INTRODUÇÃO
A justiça é a causa final do Direito e das diversas relações para um bom convívio social. O justo fornece ao direito a razão de existir, garante a sua identidade. Assegurar a justiça é característica que fornece sentido e obediência ao direito.
Entretanto, o positivismo dá às leis um caráter dogmático, remetendo à justiça a um papel secundário. Por isso, vemos Juízes que, na retaguarda do Kelsen, deixam de examinar o direito como uma ciência interligada aos fatos e aos valores. Profissionais que, a despeito de preceitos individuais de ética, moral e justiça, limitam-se à aplicação simplista da norma.
CASO
Essa estória inicia-se em maio do imaginário ano de 4299, onde cinco membros da Sociedade Espeluncologia (organização amadorística de exploração de cavernas) adentraram no interior de uma caverna de rocha calcária.
Quando estavam bem distantes da entrada dessa caverna, ocorreu um desmoronamento, que obstruiu, completamente, a única saída da caverna. Não voltando dentro do tempo normal, os familiares dos exploradores advertiram a Sociedade Espeleológica que encaminhou uma equipe de socorro ao local. O trabalho de resgate foi extremamente penoso e difícil. 
Novos deslizamentos de terra ocorreram, em uma dessas oportunidades, e 10 operários morreram soterrados. Os fundos da Sociedade Espeleológica foram exauridos, foi necessária uma subvenção do poder legislativo, e uma campanha de arrecadação financeira para a complementação dos fundos. A libertação da caverna só foi possível no trigésimo dia, contado a partir do início dos trabalhos de resgate.
Sem comida, enclausurados e guiados, de modo completo, pelo instinto de sobrevivência, em um dado momento, princípios éticos e morais seriam cerceados. Surgi duas hipóteses em forma de perguntas:
1º)Se poderiam sobreviver por mais dez dias sem alimentação e; 
2º) Caso se alimentassem de carne humana, se teriam mais chances de sobreviver.
Whetmore, então, propõe que se alimentem da carne de um deles, solicitando a opinião de médicos, juristas e sacerdotes (envolvendo questões fisiológicas, éticas, normativas e teológicas), mas não obteve resposta, ilustrando como as pessoas se esquivam do caso, o que comprova que todos têm dúvidas e receios quanto à sua aplicação. No entanto, se esses profissionais tivessem manifestado-se, positivamente ou negativamente, a decisão tomada pelos exploradores, dificilmente, diferiria daquela. Segundo a teoria darwiana, da sobrevivência dos mais aptos ou seleção natural, desde as cavernas, a busca por alimentos favorece a continuidade das espécies. 
Roger Whetmore propôs tirar a sorte, através do jogo de dados, para a escolha de qual dos cinco que seria sacrificado, para que a sobrevivência dos outros quatro fosse garantida.
Antes do início do jogo, Whetmore desistiu de participar e sugeriu que esperassem mais uma semana. Seus companheiros o acusaram de traição e procederam ao lançamento dos dados. Whetemore acabou sendo o escolhido. Roger Whetmore foi morto, pelos companheiros, e sua carne serviu de alimento para que, os quatro restantes, sobrevivessem e fossem salvos, o que ocorreu no 30º dia depois do início do resgate. Após o tempo de convalescênça dos resgatados, os quatro sobreviventes foram a julgamento.
O JULGAMENTO
No julgamento do caso, o júri, em acordo com o Ministério Público e o advogado de defesa, profere um veredicto especial, cabendo ao juiz decidir se houve dolo ou não. Ficou, portanto, reservado ao júri somente prever a condenação, caso eles fossem considerados culpados. Foram condenados à pena de morte por enforcamento, porém, após liberação dos jurados, foi enviado ao chefe do executivo uma solicitação de comutação da pena para prisão de seis meses, a qual foi respondida afirmando, que devido a situação em que se encontravam, não poderiam ser condenados por tal crime, pois se encontravam fora do “estado da sociedade civil” e dentro do “estado natural”.
Apesar de todos os esforços dos que acreditavam no jusnaturalismo, o juspositivismo se sobrepôs e, as 06h00min da manhã de sexta, 02 de abril de 4300, foi ordenada a execução da sentença, com a intimação carrasco para proceder com o enforcamento dos réus pelo pescoço até a morte.
CONCLUSÃO
Entende-se que a justiça seria feita se os acusados fossem inocentados, apesar de os atos praticados serem considerados monstruosos se fossem praticados em uma situação normal, pois teria se levado em consideração a situação em que o fato ocorreu. O risco de morte era iminente, tendo o próprio médico da equipe de salvamento confessado que seria praticamente inexistente as chances de os exploradores sobreviverem pelo período mínimo estimado de dez dias para o sucesso da operação de salvamento, nenhum dos exploradores tinha dado causa já que a caverna subterrânea em que se encontravam presos teve sua saída bloqueada por um desmoronamento natural. Além do exposto, os bens jurídicos em conflito são a vida de cada um dos exploradores não sendo razoável exigir que um deles sacrificasse a vida para resguardar a dos outros.
O autor:
Lon Luvois Fuller (1902 -1978), estudou Economia e Direito em Stanford, foi professor de Teoria do Direito nas Faculdades de Direito do Oregon, Illinois e Duke e, a partir de 1940, na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, onde trabalhou até 1972, foi um destacado intelectual do campo da jusfilosofia. Fuller ficou mundialmente conhecido, principalmente em função do texto amplamente traduzido e debatido intitulado “O caso dos exploradores de cavernas”.

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