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Revista dos Juizados Especiais D ou tr in a e Ju ri sp ru dê nc iaISSN 1414-2902 PODER JUDICIÁRIO DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Revista dos Juizados Especiais Jul./Dez. 2007 23 ISSN 1414-2902 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Ano XI – Número XXIII – Jul./Dez. 2007 Revista dos Juizados Especiais Doutrina e Jurisprudência Comissão Organizadora Presidente Des. Eduardo Alberto de Moraes Oliveira Coordenador Juiz de Direito Fernando Antônio Tavernard Lima Secretário-Geral Guilherme Pavie Ribeiro Secretário de Jurisprudência e Biblioteca Bruno Elias de Queiroga Subsecretária de Doutrina e Jurisprudência Lídia Maria Borges de Moura Supervisor Rafael Arcanjo Reis Pede-se permuta On demande de l’echange We ask for exchange Man bitte um austraush Piedese canje Si richiere to scambolo Redação Subsecretaria de Doutrina e Jurisprudência Serviço de Revista e Ementário Palácio da Justiça - Praça Municipal, Ed. Anexo I, sala 601 CEP: 70.094.900 - Brasília - DF Telefones: (061) 3224-1796 e 3322-7025 (Fax) E-mail: sereme@tjdf.gov.br Home Page do TJDF: http://www.tjdf.gov.br Revista dos Juizados Especiais: doutrina e jurisprudência / Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – vol.1, nº 1 (1997) – Brasília: O Tribunal, 1997 – . Publicada em ago./2003 Semestral ISSN 1414-2902 1. Juizados Especiais – Jurisprudência. 2. Juizados Especiais – Doutrina. I. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Des. Lécio Resende da Silva - Presidente Des. Eduardo Alberto de Moraes Oliveira - Vice-Presidente Des. João de Assis Mariosi - Corregedor Juizados Especiais Coordenação Cível Juiz de Direito Flávio Fernando Almeida da Fonseca Coordenação Criminal Juíza de Direito Giselle Rocha Raposo 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais Juíza Leila Cristina Garbin Arlanch - Presidente Juiz Sandoval Gomes de Oliveira - Vogal Juíza Sandra Reves Vasques Tonussi - Vogal Juiz Esdras Neves Almeida - Suplente Juiz Hector Valverde Santanna - Suplente Juiz James Eduardo da Cruz de Moraes Oliveira - Suplente 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais Juiz Alfeu Gonzaga Machado - Presidente Juiz Jesuíno Aparecido Rissato - Vogal Juiz João Batista Teixeira - Vogal Juiz César Laboissiere Loyola - Suplente Juiz José Guilherme de Souza - Suplente Juíza Iracema Miranda e Silva - Suplente REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT88888 SUMÁRIO 99999 Sumário Doutrina 17Juizados de pequenas causas em países latino-americanos ......... Oriana Piske de Azevedo Magalhães Pinto Jurisprudência Cível 27Acórdãos...................................................................... Acidente de trânsito ...................................................... 27 Assinatura básica ......................................................... 37 Dano moral - cia. aérea ................................................ 64 Dano moral - diversos ................................................... 74 Obrigação de fazer ...................................................... 90 Pagamento antecipado de parcelas .................................. 94 Vício do produto ....................................................... 102 REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1010101010 Jurisprudência Cível Acidente de trânsito ....................................................................... 107 Cerceamento de defesa .................................................................... 110 Cobrança ..................................................................................... 111 Competência .................................................................................. 113 Compra e venda ............................................................................ 116 Consórcio ................................................................................... 118 Dano material ............................................................................... 121 Dano moral - banco ....................................................................... 123 Dano moral - cia. aérea .................................................................. 127 Dano moral - cia. telefônica .............................................................. 131 Dano moral - diversos .................................................................... 135 Dano moral - SPC ......................................................................... 146 Dano moral e material ..................................................................... 148 Despejo imotivado ......................................................................... 150 Empreitada .................................................................................. 151 Execução .................................................................................... 152 Furto em condomínio ...................................................................... 152 Furto em estacionamento ................................................................. 153 Obrigação de fazer ........................................................................ 154 Plano de saúde .............................................................................. 157 Recurso ..................................................................................... 161 Responsabilidade civil ..................................................................... 162 Revelia ........................................................................................ 172 Seguro ....................................................................................... 175 Serviço de telefonia ....................................................................... 177 Taxa de juros ................................................................................ 177 Transtorno cotidiano ...................................................................... 178 Vício do produto .......................................................................... 180 Vício do serviço ............................................................................ 185 107Ementas ........................................................................ SUMÁRIO 1111111111 Jurisprudência criminal Abuso de autoridade ...................................................................... 189 Ameaça ....................................................................................... 198 Falsa identidade ........................................................................... 201 Perturbação do sossego ................................................................. 206 Porte de entorpecente .................................................................... 213 Representação .............................................................................. 218 Ameaça. ...................................................................................... 227 Calúnia. ..................................................................................... 229 Contravenção penal. ..................................................................... 230 Crime de trânsito. ........................................................................ 230 Dano. ......................................................................................... 232 Degravação de fita. ........................................................................ 233 Difamação. .................................................................................. 234 Falsa identidade. .......................................................................... 234 Habeas corpus. ............................................................................ 235 Perturbação do sossego ..................................................................235 Porte de entorpecente .................................................................... 236 Representação. ............................................................................. 237 Violência doméstica. ...................................................................... 239 189Acórdãos...................................................................... 227Ementas ........................................................................ REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1212121212 Enunciados do FONAJE Índice Jurisprudencial ..................................................... Enunciados Cíveis ......................................................................... 291 Enunciados Criminais ................................................................... 305 315 Súmulas Supremo Tribunal Federal (recentes) ................................................ 245 Superior Tribunal de Justiça ........................................................... 255 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios ....................... 285 SUMÁRIO 1313131313 REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1414141414 DOUTRINA 1515151515 Doutrina REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1616161616 DOUTRINA 1717171717 Juizados de Pequenas Causas em Países Latino-americanos Neste estudo analisaremos os sis- temas de Justiça de alguns países latino- americanos. Vale destacar aqueles vivenciados no México, na Colômbia, na Costa Rica, na Guatemala, na Venezuela, no Uruguai e no Chile. No México, não há previsão de juizados na Ley Orgánica del Poder Ju- dicial de la Federación (1935) ou no Código Federal de Procedimientos Civiles (1942). Ressalte-se que a Jus- tiça de Paz, denominada a justicia de mínima cuantía, tem como característica primordial a promoção da “conciliação pré-processual”, na expressão de Ada Pellegrini Grinover,1 tendo o valor da contenda como critério para determinar uma “pequena causa”. Desta forma, não há restrição decorrente da natureza da demanda.2 Tal Justiça teve suas características melhor definidas através do Proyecto de Ley de Justicia de Paz para la Ciudad de Mexico, elaborado em 1913. Figura também importante do Direito mexicano, ORIANA PISKE DE AZEVEDO MA- GALHÃES PINTO Juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Mes- tre em Direito pela Universidade Fede- ral de Pernambuco (UFPE). REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1818181818 no que tange às pequenas causas, foi a dos jueces menores. Para Caetano Lagrasta Neto, a im- portância do Projeto de Justiça de Paz, de 1913, foi sintetizada na sua exposi- ção de motivos, assinada pelo jurista Miguel S. Macedo, merecendo sua transcrição na íntegra: “1. Ausencia de toda ritualidad y formalismo, para que cada uno pueda defender lo que crea su derecho sin necesidad del patrocinio de letrados ni prácticos”; “2. Rapidez en la sustentación y decisión de las controversias, para evitar la pérdida de tiempo y los consiguientes gastos y los perjuicios que resultan de desatender el liti- gante su trabajo o negocio ordinarios” (esta rapidez era mani- festada pela citação - através de telefone ou telégrafo - para que comparecesse no mesmo dia ou, mais tardar, no dia seguinte, quan- do, após o pedido e defesa, pro- duziam-se as provas e ditava-se sentença, irrrecorrível); “3. Amplia libertad en materia de pruebas, con facultad del juez para recurrir a todas las que crea útiles para averiguar la verdad, y publicidad de las audiencias” (a publicidade a critério do juiz); “4) Apreciación de la prueba por el juez según el dictado de sua conciencia y no conforme a reglas legales, es decir, decisión en conciencia respecto al hecho, aunque no respecto al fondo de la decisión en cuanto al derecho, pues el precepto del artículo 14 consti- tucional (até hoje vigente) relativo a la exactitud en la aplicación de la ley obliga a todo juez a normar sus decisiones precisamente a las disposiciones legales”; “5. Rapidez y seguridad en la ejecución de las sentencias, procurandose que éstas deban considerarse ineludibles, cualidad que si se llega a alcanzar constituirá por sí sola una ventaja inapreciable, ya que ahora es frecuente, por desgracia, que las sentencias queden como letra muerta, si no es que como escarnio de la justicia”.3 No período que antecedeu à Re- volução Mexicana, atingiu-se a redação mais adequada à Justiça de Paz, consi- deradas as modificações ulteriores como pequenos adendos ao Projeto de 1913. A Lei Orgânica dos Tribunais do Distrito Federal, no México, pela refor- ma de 29 de dezembro de 1975, fixou a competência cível para o limite de cin- co mil pesos e a criminal para a pena de prisão de, no máximo, um ano; dividiu o país em dezesseis “delegaciones politico- administrativas” - e em cada uma delas criou, pelo menos, um juízo misto de paz.4 Qualquer cidadão mexicano, desde que DOUTRINA 1919191919 com formação em Direito, pode ser juiz de paz, bastando que seja designado por uma comissão integrada por representan- tes do Tribunal e do Sindicato de Traba- lhadores do mesmo Tribunal. Cabe aos secretários promover os acordos. Os procedimentos se caracterizam pela informalidade, oralidade e por uma am- pla liberdade do juiz para conduzir a fase probatória. A presença de advogados é facultativa, sendo obrigatória apenas nos processos penais e em algumas questões de família. Mas a utilização de juízes leigos não é exclusivamente mexicana. Encontra-se difundida também em outros países da América Ibérica, como na Colômbia, onde as pequenas causas são julgadas por juízes municipais, e na Costa Rica, onde essas questões são da competência dos “alcaldes”, incluindo uma fase inicial con- ciliatória. Na Colômbia, as causas são sepa- radas conforme o valor da pretensão, em maior, em menor ou em mínima quantia. O critério valorativo é determinante da competência da Justiça de mínima quan- tia. As pretensões patrimoniais de valor superior a 100.000 pesos são consi- deradas de maior quantia, as de valor compreendidos entre 5.000 e 10.000 pesos são de menor quantia e as de míni- ma quantia compreendem o valor inferior a 5.000 pesos.5 Vale destacar que os processos de mínima cuantía são julga- dos por jueces municipales, mediante procedimento rápido e concentrado, vis- to que os pedidos se apresentam verbal- mente ou por escrito ao secretário do Juízo na primeira audiência de concilia- ção, para, a seguir, passar-se à contesta- ção e colheita de provas, sendo suas sen- tenças irrecorríveis. A Costa Rica possui juízos de mí- nima cuantía sob a competência dos alcaldes e com alçada para importâncias que não excedam 3.000 colones (equi- valia a US$ 350, em 1998). Da mes- ma forma que no procedimento existente na Colômbia, este pressupõe a citação para comparecimento em três dias, salvo casos urgentes, em que a citação pode ser para o mesmo dia. Aqui também a fase inicial é conciliatória. A sentença será apelável se ultrapassar a importância men- cionada no artigo 1.082 do CPC costarriquenho.6 A Guatemala possui juizados de mínima cuantía mais próximos da tradi- ção espanhola. Aqui os julgadores são os jueces de paz e, à sua falta, os alcaldes municipales ou os concejales, todos conhecidos como jueces menores e que têm competência para assuntos cujo valor não exceda 500 quetzales.7 Ressalte-se que o procedimento é con- centrado e oral; a sentença é apelável. Entretanto, em se tratando de quantia inferior a 100 quetzales, os atos deve- rão ser todos orais, com breve registro em livro: “são os juízos de infima cuantía, com sentenças irrecorríveis, ausente con- denação nas custas e despesas proces- suais.” REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2020202020 Na Venezuela, a exemplo do que ocorre na maior parte dos paísesibero- americanos, o serviço de assistência jurí- dica mostra-se fracamente implantado, prevalecendo, em geral, mecanismos in- formais, fortemente baseados na tradição, nos quais se destaca o papel do media- dor de conflitos, desempenhado por pre- feitos ou lideranças civis. Rogério Perez Perdomo é bastante enfático ao caracte- rizar o baixo comprometimento dos de- fensores públicos venezuelanos com a sua clientela.8 O autor assinala, todavia, que nos anos 90, a crise política e institucional experimentada pela Venezuela forçou a realização de reformas com vistas a am- pliar o acesso à Justiça e, muito particu- larmente, ao Judiciário. Segundo ele, “o mais radical desses esforços é a criação da Justiça de Paz, em 1995, como uma Justiça municipal, com juízes leigos elei- tos popularmente e mandato revogável. O juiz de paz tem uma função mediado- ra, com possibilidade de apreciação por eqüidade.9 No Uruguai existem os Juzgados de minima cuantía, sob a competência dos Jueces de Paz, com alçada até US$ 100, cuja audiência se desenvolve em, no máximo, duas sessões, a primeira de- las para a conciliação. A sentença so- mente será apelável se ultrapassado o valor do artigo 86 do Código de Organización de los Tribunales. Aqueles juízes são também competentes para o julgamento envolvendo questões trabalhis- tas e de arrendamento, sem qualquer li- mite de valor. Ressalte-se que lá a alçada pode ser facilmente modificada pelo Su- premo Tribunal de Justiça e naquelas questões inferiores a US$ 10 dispen- sam-se advogados, sendo suas sentenças irrecorríveis. As de alçada até US$ 100, ou mais, têm procedimento simpli- ficado, porém escrito, com, no mínimo, duas instâncias antes do julgamento fi- nal.10 No Chile, dentro da Justiça Co- mum, existem procedimentos especiais para causas de valor inferior a 1.470 escudos (US$ 1,50), de minima cuantia. Iguais facilidades procedimentais gozam as causas de valor inferior a 152.000 escudos (US$ 30.00), cha- madas de menor cuantía, com as seguin- tes características: a) a reclamação pode ser oral ou escrita; b) há uma única audi- ência em que o réu pode contestar e reconvir; c) se o juiz entender, poderá designar outra audiência para instrução, desde que próxima àquela inicial; e, d) a decisão deverá ser proferida dentro de 60 dias, após apresentada a contesta- ção; as decisões são recorríveis. Em 1971, o Presidente Allende introduziu os Tribunales Vicinales, criando um ou mais destes tribunais em cada região ad- ministrativa do Chile, que tinham como competência Pequenos Juizados Cíveis e causas de importância social para a comunidade local; o procedimento seria oral, público e informal. Ressalte-se que esta “lei foi revogada posteriormente pelo novo regime.11 DOUTRINA 2121212121 No Chile, a redemocratização do país deverá impor a reorganização do acesso à Justiça, apontando para a difu- são de serviços de assistência jurídica gratuita, bem como para a utilização de mecanismos alternativos para a solução de conflitos. Por ora, segundo a avalia- ção de Ivan Enrique Vargas Viancos, o único mecanismo que vigora “é o mais li- mitado dos sistemas alternativos: a arbi- tragem”. Quanto ao instituto da concili- ação, “apesar de ter sido incluída no âmbito do Judiciário há bastante tempo, sua importância ainda é modesta”.12 CONCLUSÃO Verificamos nas experiências ibero- americanas um fortalecimento de institui- ções tradicionais, como é o caso da Jus- tiça de Paz, não havendo respostas ino- vadoras. O Brasil foi a exceção ao traçar uma inovação institucional mais próxima das experiências desenvolvidas pelos países da Common Law, inclusive a cria- ção dos microssistemas especiais. No lugar de um reforço da tradição, uma res- posta moderna, importando mudanças na própria configuração do Judiciário bra- sileiro. O estudo de experiências semelhan- tes ao nosso Juizado Especial em países latino-americanos, através dos institutos como justicia de mínima cuantia, jueces menores e conciliadores, demonstra o surgimento de um fenômeno global de estruturas judiciárias voltadas para um maior acesso e celeridade da Justiça, in- dependentemente do sistema jurídico adotado. A sociedade vem reclamando uma postura cada vez mais ativa do Judiciá- rio, em todo o mundo, não podendo este ficar distanciado dos debates sociais, devendo assumir seu papel de partícipe no processo evolutivo das nações, eis que é também responsável pelo bem comum, notadamente em temas como a dignida- de da pessoa humana, a redução das desigualdades sociais e a defesa dos di- reitos de cidadania. Assim, voltados os legisladores para a garantia do valor Jus- tiça aos cidadãos, criaram os Juizado Especiais de Pequenas Causas, nos paí- ses da Common Law e da Civil Law, vi- sando possibilitar a resolução de confli- tos. O Judiciário, nos tempos atuais, não pode se propor a exercer função apenas jurídica, técnica, secundária, mas deve exercer papel ativo, inovador da ordem jurídica e social, visto que é cha- mado a contribuir para a efetivação dos direitos sociais, procurando dar-lhes sua real densidade e concretude. É preciso perceber que o contato do juiz com o jurisdicionado e com a própria socie- dade não enfraquece o Poder Judiciá- rio. Ao inverso, tende a enobrecê-lo, conferindo a este maior grau de legitimi- dade. Nesse diapasão é que os Juizados Especiais, no Brasil, e os Juizados de Pequenas Causas, nos de- mais países latino-americanos, passam a REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2222222222 ser um agente de transformação, lançam- se como instrumentos rumo à promoção efetiva da cidadania, possibilitando a base para uma cultura de direitos huma- nos e de conscientização desses direi- tos como corolário para o exercício pleno da cidadania. Os Juizados Especiais resultaram em importante instrumento jurisdicional a propiciar Justiça ágil, desburocratizada, desformalizada e acessível a todos os cidadãos, em todo o globo. Bibliografia Justiça. Revista de Doutrina de Jurisprudên- cia, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Brasília, v. 45, mai./ago. 1994, p. 86-87. PERDOMO, Rogelio Perez. Juiz e Justiça: ima- gens venezuelanas. In: ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - AMB (org.). Justiça: promessa e realida- de: o acesso à Justiça em países ibero-ame- ricanos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. VIANCOS, Ivan Enrique Vargas. O sistema judiciário chileno. In: ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - AMB. (org.). Justiça: promessa e reali- dade, o acesso à Justiça em países ibero- americanos. Rio de Janeiro: Nova Frontei- ra, 1996. Notas 2 LENZA, Suzani de Melo. Juizados Cíveis, Criminais: a era do resgate nacredibilidade da Justiça. Revista de Doutrina de Jurisprudência, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Brasília, v. 45, mai./ago. 1994, p. 86. 3 LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especial de Pequenas Causas no Direito Comparado. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p. 52-53. 4 Idem, p. 53. 5 LENZA, Suzani de Melo. Juizados Cíveis, Criminais: a era do resgate na CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Aces- so à Justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. GRINOVER, Ada Pellegrini. Conciliação e Juizados de Pequenas Causas. In: WATANABE, Kazuo (org.). Juizado Es- pecial de Pequenas Causas (Lei no 7.244, de 7 de novembro de 1984). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, [s. d.]. 1985. LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especi- al de Pequenas Causas no Direito Compara- do. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. LENZA, Suzani de Melo. Juizados Cíveis, Cri- minais: a era do resgate na credibilidade da 1 GRINOVER, Ada Pellegrini. Conciliação e Juizados de Pequenas Causas. In: WATANABE, Kazuo (org.). Juizado Especial de Pequenas Causas (Lei no 7.244, de 7 de novembro de 1984), São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,[s. d.], 1985. p. 149. DOUTRINA 2323232323 credibilidade da Justiça. Revista de Doutrina de Jurisprudência, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Brasília, v. 45, mai./ago. 1994, p. 87. 6 LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especial de Pequenas Causas no Direito Comparado. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p. 56. 7 Idem, p. 57. 8 PERDOMO, Rogelio Perez. Juiz e Justiça: imagens venezuelanas. In: ASSO- CIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - AMB (org.). Justiça: promessa e realidade: o acesso à Justiça em países ibero-americanos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 151. 9 Idem, p. 132. 10 LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especial de Pequenas Causas no Direito Comparado. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p. 57. 11 Idem, p. 58. 12 VIANCOS, Ivan Enrique Vargas. O sistema judiciário chileno. In: ASSO- CIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - AMB. (org.). Justiça: promessa e realidade, o acesso à Justiça em países ibero-americanos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 199. REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2424242424 JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 2525252525 Jurisprudência Cível REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2626262626 JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 2727272727 Acórdãos ACIDENTE DE TRÂNSITO ACIDENTE COM VEÍCULO DIRI- GIDO POR PREPOSTO - FATO OCORRIDO FORA DO HORÁ- RIO DE SERVIÇO, IRRELEVÂNCIA - CULPA EXCLUSIVA DO MOTO- RISTA - EMPRESA EMPREGA- DORA, RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ACÓRDÃO Nº 271.559. Relator Designado: Juiz Jesuíno Aparecido Rissato. Apelante: Santos e Soster Ltda.. Apelado: Francisco Purificação de Mo- rais. EMENTA CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. LEGITIMIDADE PASSIVA DO PROPRIETÁRIO. VEÍCULO DIRIGI- DO POR EMPREGADO FORA DO HORÁRIO DE SERVIÇO, MAS EM REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2828282828 RAZÃO DO EMPREGO. RESPON- SABILIDADE DA EMPRESA EM- PREGADORA. CONDENAÇÃO MANTIDA. 1. Incabível o autor, em sede de contra-razões, argüir irregulari- dade na peça de defesa, em face da preclusão. 2. O dono de veículo automotor responde solidariamente pe- los danos causados por terceiro na con- dução do mesmo, podendo a parte pre- judicada demandar contra o proprietário ou o motorista, ou contra ambos. 3. Com- provado que o acidente de trânsito se deu por culpa exclusiva do preposto da empresa ré, o qual, embora fora do ho- rário de serviço, detinha o veículo em ra- zão do emprego e da função que exer- cia, emerge cristalina a sua responsabili- dade em reparar o dano causado. Deci- são: Recurso conhecido. Preliminares re- jeitadas. Negado provimento, por maio- ria. Vencida a Relatora. Relatará o acórdão o primeiro vogal. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, NILSONI DE FREITAS CUSTODIO - Relatora, JESUÍNO APARECIDO RISSATO - Vogal, TEÓFILO RODRIGUES CAETANO NETO - Vogal, sob a pre- sidência do Juiz TEÓFILO RODRI- GUES CAETANO NETO, em CO- NHECER. REJEITAR AS PRELIMI- NARES. UNÂNIME. IMPROVER O RECURSO. MAIORIA. VENCIDA A RELATORA, RELATARÁ O ACÓRDÃO O 1º VOGAL, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 05 de abril de 2005. RELATÓRIO Trata-se de ação de reparação de danos proposta por FRANCISCO PURIFICAÇÃO DE MORAIS em desfavor de LORENO INFORMÁTICA e SANTOS E SOSTER LTDA. Alega o autor que em 19.10.2003, ao trafegar com seu veí- culo pela faixa de trânsito sentido Santo Antonio do Descoberto - Ceilândia/DF foi abalroado pelo veículo Mercedes Benz/310D Sprinter que trafegava em sentido contrário. Assevera que o impac- to fez seu veículo colidir com outro que trafegava no sentido Ceilândia/DF - Santo Antônio do Descoberto, causando ava- rias a ambos. Noticia que quando da lavratura do boletim de ocorrência o Sr. Ernane Martins Sousa, que dirigia o veí- culo Mercedes Benz/310D Sprinter, declarou que era funcionário da primeira requerida, podendo, ainda, verificar junto ao Detran que, a despeito de constar no veículo o logotipo da Loreno Informática, este pertencia à segunda requerida. As- severa que foi feito perícia pela Polícia JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 2929292929 Civil cujo laudo concluiu que o acidente fora causado pelo desvio de direção à esquerda do Mercedes que invadiu a faixa de trânsito em sentido contrário. Requer a condenação das rés para repa- rar os danos sofridos pelo requerente no valor do menor orçamento apurado que remonta R$6.933,87 (seis mil novecen- tos e trinta e três reais e oitenta e sete centavos). Designada audiência de instrução e julgamento, o autor esclareceu que Loreno Informática é nome fantasia de Santos e Soster Ltda. Após a audiência a MM. Juíza proferiu sentença (fls. 49/52), julgan- do procedente o pedido para condenar a parte ré a indenizar ao autor a quantia de R$6.938,87 (seis mil novecentos e trinta e oito reais e oitenta e sete centa- vos) corrigida monetariamente desde o ajuizamento da ação e acrescida dos ju- ros de mora de 1% ao mês a contar da data do fato. Irresignada, a ré recorreu as fls. 59/ 63 alegando que não é parte legítima, visto não ter a obrigação de indenizar ato praticado por terceiro, além de ter a seu favor o depoimento do condutor do ve- ículo que assumiu o uso do veículo, sem ciência e autorização da recorrente. Aduz que não deve prevalecer a responsabili- dade objetiva da recorrente reconhecida pelo juiz sentenciante, que ao mesmo tem- po afirmou que o condutor do veículo agia sem autorização. Assevera que não é possível condenar a recorrente por ato de terceiro com base nas atividades des- critas no contrato social, inobstante, ter- se comprovado em audiência que o mo- torista trafegava sem autorização e visi- velmente embriagado, fatos não levados em consideração pelo juiz sentenciante. Enfatiza que o motorista culpado é que deveria figurar no pólo passivo, razão pela qual o processo deveria ter sido extinto, sem exame do mérito. Requer, pois, o conhecimento e provimento do recurso a fim de que a sentença monocrática seja reformada e extinto o processo, nos ter- mos requerido na peça contestatória. Devidamente intimado, o recorri- do apresentou suas contra-razões reque- rendo o não recebimento do recurso em face da ausência de representação pro- cessual da recorrente na peça contestatória ensejando o decreto de re- velia, e no mérito pugna pelo não conhe- cimento do recurso. É o relatório. VOTOS A Senhora Juíza NILSONI DE FREITAS CUSTODIO - Relatora Conheço do recurso, eis que pre- sentes os seus pressupostos de admissibilidade. Cuida-se de ação de reparação de danos proposta por FRANCISCO PURIFICAÇÃO DE MORAIS em desfavor de SANTOS & SOSTER LTDA. visando ser indenizada no mon- REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3030303030 tante de R$6.933,87 (seis mil, nove- centos e trinta e três reais e oitenta e sete centavos) a título de danos materiais so- fridos decorrente de acidente de veícu- lo, envolvendo o veículo IMP/M.BENZ 310D Sprinter de propriedade da ré e conduzido por seu empregado, Ernane Martins Sousa, que invadindo a mão de direção por onde trafegava o carro do autor deu causa ao acidente. Acolhendo, parcialmente, o pedi- do o juiz a quo condenou a ré no paga- mento de R$6.938,87 (seis mil, nove- centos e trinta e oito reais e oitenta e sete centavos), corrigido monetariamente des- de o ajuizamento da ação e acrescida de juros de mora de 1% desde a data do evento. Inconformada, a ré recorreu alegan- do que não é parte legítima, visto não ter a obrigação de indenizar ato praticado por terceiro, além de ter a seu favor o depoimento do condutor do veículo que assumiu o uso do veículo, sem ciência e autorização da recorrente. Aduz que não deve prevalecer a responsabilidade ob- jetivada recorrente reconhecida pelo juiz sentenciante, que ao mesmo tempo afir- mou que o condutor do veículo agia sem autorização. Assevera que não é possí- vel condenar a recorrente por ato de ter- ceiro com base nas atividades descritas no contrato social, inobstante, ter-se com- provado em audiência que o motorista trafegava sem autorização e visivelmente embriagado, fatos não levados em consi- deração pelo juiz sentenciante. Enfatiza que o motorista culpado é que deveria figurar no pólo passivo, razão pela qual o processo deveria ter sido extinto, sem exame do mérito. Requer, pois, o conhe- cimento e provimento do recurso a fim de que a sentença monocrática seja re- formada e extinto o processo, nos ter- mos requerido na peça contestatória. Principio, afastando a alegação do recorrido da ocorrência da revelia frente à ausência de assinatura da patrona da recorrente na contestação acostada às fls. 33/36, embora instada a sanar a irregu- laridade por duas vezes. (fls.53 e 64,v.) Com efeito, verifico que a recorren- te quando da audiência de instrução e jul- gamento ofertou a peça de fls. 33/36, mas, não contém a assinatura das advogadas constituídas pelo mandato acostado à fl. 37. Constato, também, que após a prolação da sentença, foi exarada certidão (fl. 53) pela Sra. Diretora de Secretaria acerca da intimação, por tele- fone, da advogada da recorrente com vis- ta firmar a peça contestatória. Após, a interposição do recurso, consta, à fl. 64v, nova certidão dando conta da intimação da Dra. Tânia Soster, pelo telefone, para comparecer no Juízo de origem para fins de assinar a contestação. Na inteligência do art. 473 do CPC é defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas, a cujo respeito se operou a preclusão. O fenômeno da preclusão decorre da impossibilidade das questões já discu- tidas e apreciadas no curso do proces- JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3131313131 so serem reexaminadas em fases poste- riores. A essência da preclusão, no escólio de Chiovenda, vem ser a perda, extinção ou consumação de uma faculdade pro- cessual pelo fato de se haverem alcança- do os limites assinalados por lei ao seu exercício. (cf. art igo de Elmano Cavalcanti Freitas, in RF, 20/22). Na particularidade da hipótese examinada, ofertada a contestação e documentos pela recorrente, ao recor- rido foi facultado manifestar-se sobre as peças, o fazendo oralmente e grava- da em fita magnética, consoante se al- cança da ata de audiência de instrução e julgamento. (fl. 13). Contudo, não prov idenc iando o recor r ido a degravação da referida fita, resta im- possibilitada a esta Turma Recursal o conhecimento do teor da manifestação do recorrido, quanto à argüição da ir- regularidade da contestação ofertada sem a assinatura de sua subscritora. A meu aviso, ao recorrido não é dado em sede de contra-razões suscitar irregu- laridade na peça de defesa, quando já operada a preclusão consumativa, re- velando a tentativa da intimação da advogada da recorrente em excesso de zelo pela Sra. Diretora de Secretaria. Firmada essa premissa passo à aná- lise da preliminar de ilegitimidade ad cau- sam suscitada pela recorrente. A questão da legitimidade de parte repousa no vínculo entre o autor, à pre- tensão deduzida na petição inicial e o réu. Enfatiza Luiz Rodrigues Wambier in Cur- so Avançado de Processo Civil, p.132 “é parte legítima para exercer o direito de ação (autor) aquele que se afirma ti- tular de determinado direito que precisa da tutela jurisdicional, ao passo que será parte legítima, para figurar no pólo pas- sivo (réu), aquele a quem caiba o cum- primento de obrigação decorrente dessa pretensão”. Sob o enfoque da lição do renomado mestre será parte legítima para figurar no pólo passivo da ação indenizatória aquele a quem caiba a obri- gação decorrente do dano causado. No caso sub-examine, o veículo causador do acidente é de propriedade da recorren- te, além do condutor ser empregado da empresa, fatos incontroversos. A lei civil pátria prevê expressa- mente, no art. 932, III a responsabilida- de pela reparação civil do empregador ou comitentes, por seus empregados, ser- viçais e prepostos, no exercício do tra- balho que lhes competir, ou em razão deles. A par da previsão legal da res- ponsabilização do patrão por fato de outrem com quem detém uma relação de subordinação, é sedimentado o entendi- mento jurisprudencial acerca da respon- sabilidade solidária do proprietário do veículo pelos danos culposamente cau- sados por seu motorista. Nesse sentido, colaciono os seguin- tes precedentes das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, in verbis: REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3232323232 “ACIDENTE DE TRÂNSITO. COMPETÊNCIA. LEGITIMI- DADE PASSIVA. SOLIDARI- EDADE DO PROPRIETÁRIO. PROVA ORAL. 1. O juizado especial é competente para julgar demanda de ressarcimento de dano originado de acidente de veículos, podendo a causa ser proposta, dentre outros, no foro do domicí- lio do autor. 2. O dono do veícu- lo é solidariamente responsável pelos prejuízos causados por cul- pa do seu condutor. 3. Prepon- deram as versões encontradas na sentença acerca da prova oral, se o apelante não providencia a trans- crição dos depoimentos gravados na fita magnética.”1 (grifei) “ACIDENTE DE TRÂNSITO. LEGITIMIDADE PASSIVA. CERCEAMENTO DE DEFESA. ORÇAMENTOS. VEÍCULO EM MARCHA-A-RÉ. VIGI- LÂNCIA REDOBRADA. PROPRIETÁRIO. RESPONSA- BILIDADE SOLIDÁRIA. 1) É da alçada exclusiva da vítima de dano envolvendo veículos optar em demandar o causador do evento (ou proprietário do carro) ou se ressarcir perante a seguradora sua contratada. 2) se quando da lavratura do termo processual da audiência de instrução e julgamen- to, em sede de juizado especial, a parte não vem deixar registrado seu inconformismo sobre dispensa de testemunhas, tal matéria não pode ser alegada em segundo grau como cerceamento de defesa, ainda mais quando os autos já se encontravam suficientemente instruídos. 3) or- çamentos de oficinas especializadas, não infirmados por outra prova, são suficientes para comprovar a extensão do dano. 4) o proprietário do veículo é soli- dariamente responsável com o condutor pelo ressarcimento dos danos ocorridos.”2 (grifei) Nesse sentir, frente à disposição le- gal que consagra a responsabilidade civil indireta do empregador por fato de ou- trem e o vigoroso entendimento jurisprudencial acerca da responsabilida- de solidária entre o condutor do veículo causador do evento e seu proprietário, afasto a preliminar de ilegitimidade de parte suscitada pela recorrente para reco- nhecer a sua legitimidade para figurar no pólo passivo de ação de cunho reparatório decorrente de acidente automobilístico envolvendo veículo de sua propriedade e conduzido por seu empregado. Afastada a preliminar passo a aná- lise do mérito recursal. A eminente juíza monocrática ao afastar a preliminar de ilegitimidade de parte fez incursões no mérito proclaman- do a responsabilidade objetiva do em- pregador em reparar os prejuízos que seu JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3333333333 preposto causar no exercício do trabalho e em razão dele, além de tomar por fun- damento o enunciado da cláusula tercei- ra do contrato social da empresa, onde discrimina, dentre outras atividades, a prestação de serviços de promoção de eventos festivos, sociais, culturais, artís- ticos, comerciais, fotografias, filmagens e serviços de bufett, concluindo, pela pos- sibilidade de haver atividades nos finais de semana. Propriamente ao mérito do pedi- do, a sentença monocrática condenou a recorrente à composição dos danos advindos no veículo do recorrido, reco- nhecendo a responsabilidade civil do empregador, com base nos fundamentos a seguir transcritos: “(...) Para a caracterização da res-ponsabilidade civil é imprescindí- vel a ocorrência de dano, material ou moral, e a prática de ato ilícito (artigos 927 c/c 186 do Código Civil). No caso dos autos torna- se prescindível a discussão sobre a dinâmica do evento, posto que a ré expressamente, a reconheceu e o laudo do Instituto Criminalística (fls. 22/24) é conclusivo nesse sentido. Nesse contexto está evi- dencia a responsabilidade civil da ré de reparar o prejuízo material do autor. (...)” O novel Código Civil adotou no art. 933 os postulados da teoria objeti- va com relação a todas as hipóteses ar- roladas no art. 932, restando ao em- pregador provar que o causador do dano não é seu empregado ou que o dano não foi causado no exercício do trabalho ou em razão dele. Fixadas estas premissas e sendo incontroverso que o motorista que con- duzia o veículo é empregado da recor- rente, resta perquirir se o acidente ocor- reu no exercício do trabalho ou em razão dele. Nesse passo, anoto, desde logo, progressão lógica da Juíza sentenciante alicerçada nas atividades discriminadas na cláusula terceira do contrato social da recorrente (prestação de serviços de pro- moção de eventos festivos, sociais, cul- turais, artísticos, comerciais, fotografias, filmagens e serviços de bufett) para con- cluir acerca da possibilidade de haver atividades nos finais de semana, mostra- se justificada, em tese, visto que o even- to aconteceu em um domingo. Porém, a ilação da sentença monocrática, à míngua de outros elementos que indicassem que o motorista estava a serviço ou que o evento aconteceu em razão dele, não se mostra razoável, até porque reconhecido no próprio decisum que o empregado agia sem autorização da ré. Confira-se, os seguintes excertos do decisum: “(...) O condutor do veículo da ré, Ernane Martins Sousa, foi ouvi- do em audiência (fl. 14) e confir- REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3434343434 mou que não tinha autorização da ré para usar o carro no dia do fato narrado na petição inicial e esse aconteceu num domingo (19/10/ 2003). (...) No caso dos autos verifica-se que o motorista agia sem autorização da ré e fora do horário de trabalho. (...)”. Nesse desiderato, se o motorista conduzia o veículo sem autorização de seu empregador em um domingo não se al- cança outra conclusão senão que ele não estava a serviço ou que o acidente acon- teceu em razão dele, mostrando-se rele- vante o registro no laudo pericial (fl. 42) do uso de bebida alcoólica pelo condu- tor. Frente a estas circunstâncias res- ta afirmar que a hipótese submetida a exame não se enquadra no comando normativo descrito no inciso III do ar- tigo 932 do Código Civil, impondo a exoneração da recorrente na com- posição dos danos a que fora conde- nada. Do exposto, dou provimento ao recurso para reformar a sentença guerreada para absolver a recorrente da condenação imposta. Sem custas e sem honorários. É o voto. O Senhor Juiz JESUÍNO APA- RECIDO RISSATO - Vogal Peço vista. O Senhor Juiz TEÓFILO RODRI- GUES CAETANO NETO - Vogal Aguardo. DECISÃO A Relatora conheceu do recurso, rejeitando as preliminares e provendo-o. O 1º vogal pediu vista. O 2º vogal aguarda. PEDIDO DE VISTA O Senhor Juiz JESUÍNO APA- RECIDO RISSATO - Vogal Pedi vista dos autos, para melhor examinar o caso, e passo agora a proferir meu voto. No que tange à existência de irre- gularidade na peça contestatória, a qual efetivamente não está assinada pela advogada da contestante, acompanho o voto de Vossa Excelência, eis que, quan- do da audiência de instrução, onde foi apresentada a contestação, o autor teve oportunidade de tomar conhecimento da peça contestatória e quedou-se inerte, não lhe sendo lícito argüir a irregularidade apenas em sede de recurso, quando já operada a preclusão. Também acompanho Vossa Exce- lência no que diz respeito à alegada ile- gitimidade passiva da ré, uma vez com- provado que o veículo causador do dano é de propriedade da ré e o motorista era JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3535353535 seu empregado. É remansosa a jurispru- dência, no sentido de que o proprietário do veículo responde, solidariamente, pelos danos causados por terceiro na condução do mesmo, podendo a vítima, no caso, escolher contra quem deman- dar, se contra o motorista ou contra o proprietário. No mérito, porém, peço vênia para divergir do respeitável entendimento es- posado. A meu entender, é evidente que o motorista da apelante, senhor Ernandes Martins Sousa, somente estava de posse do veículo causador do dano, no dia do evento, em razão do trabalho que exercia na empresa, da qual era motorista. Pois não existia, na verdade, qualquer possi- bilidade outra que lhe permitisse estar na posse do veículo, não fosse o seu vínculo empregatício com a ré e a função por ele exercida. Era justamente o seu trabalho na empresa na condição de motorista e a confiança de que gozava no desempe- nho do trabalho, que lhe propiciava ter livre acesso às chaves do veículo, a pos- sibilidade de com ele se deslocar livre- mente, inclusive nos finais de semana, sem sentir-se na obrigação de avisar pre- viamente aos patrões. Por isso, não vejo como afastar a responsabilidade da empresa em indenizar os prejuízos cau- sados por seu empregado, na condu- ção do veículo, sob alegação de que este não estava autorizado a pegar o veículo aos domingos. No mais, se é verdade que o mo- torista da ré estava de posse do veículo, num final de semana, sem que os respon- sáveis pela empresa tivessem conhecimen- to do fato, como foi alegado, ressalta evidente que a ré obrou com culpa in vigilando. E embora a juíza monocrática, no caso, tenha definido a responsabilidade da ré apenas sob o enfoque da respon- sabilidade objetiva, nada obsta que a Turma analise também o aspecto da res- ponsabilidade subjetiva. É sabido que todo proprietário de coisa potencialmente perigosa, como um veículo automotor, cuja condução por qualquer pessoa, sem os cuidados necessários, pode vir a causar dano a outrem, tem o dever de guarda e vigi- lância sobre a mesma. É dever do pro- prietário de veículo manter sob sua posse as chaves do mesmo, evitando que venha a ser indevidamente utiliza- do por outrem. Assim, se o proprietário vier a en- tregar as chaves do veículo a alguém, seja motorista habilitado ou não, e este alguém, culposamente, vier causar dano a outrem, terá que indenizá-lo, pois patente a sua culpa in eligendo. Por outro lado, se mes- mo não as entregando, também não cui- da da posse das chaves, de modo a fa- cilitar que estas venham a cair nas mãos de outrem, propiciando que este tercei- ro venha a transitar com o veículo, paten- te está sua culpa in vigilando, não haven- do como se esquivar de indenizar even- REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3636363636 tuais danos causados pelo veículo, por culpa de quem o conduzia. No caso dos autos, a ré reconhece que o acidente ocorreu por culpa exclu- siva do seu motorista. No entanto, procura afastar sua responsabilidade, enfatizando este esta- va utilizando o veículo, naquele dia, sem a sua autorização e sem o seu conheci- mento. Porém não explica, em momento algum, como é que as chaves do veículo foram parar nas mãos do motorista. Ora, é certo que não houve roubo, furto ou qualquer motivo de força maior, nem a ocorrência de caso fortuito, que justificasse estar o veículo na posse do referido empregado. Se as chaves esta- vam em seu poder, é porque os proprie- tários lhe entregaram, ou então ele teve livre acesso a elas, o que também carac- teriza infração ao dever de vigilância, por parte dos proprietários. Aliás, a própria afirmação da ré, na contestação, de que não tinha conhe- cimento de que o veículo estava transi- tando, no dia do fato, mostra sua negli- gência, o seu descaso, em relação ao bem integrante de seu patrimônio.Assim, tanto em face de sua res- ponsabilidade objetiva, quanto pela cul- pa com que agiu no episódio, não vejo como eximir a apelante do pagamento dos danos causados por seu motorista. Por tais motivos, e pedindo vênia mais uma vez à eminente relatora, nego provimento ao recurso, para manter a con- denação imposta no juízo monocrático. Condeno a apelante ao pagamen- to das custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 20% (vin- te por cento) sobre o valor da causa. É como voto. O Senhor Juiz TEÓFILO RODRI- GUES CAETANO NETO - Vogal Quanto às preliminares suscitadas, acompanho integralmente a eminente Relatora. No mérito, acompanho integral- mente o voto do eminente 1.o Vogal, negando provimento ao recurso inter- posto na forma da exposição promo- vida por S. Ex.a, rogando vênia à douta Relatora. DECISÃO Conhecido. Preliminares rejeitadas. Unânime. Improvido. Maioria. Vencida a Relatora, relatará o acórdão o 1º Vo- gal. (ACJ 2004031005947-5, 1ª TRJE, PUBL. EM 28/05/07; DJ 3, P. 82) Notas 1 APELAÇÃO CÍVEL NO JUIZADO ESPECIAL 20010110551514ACJ DF. Órgão Julgador : Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F. Relator : FERNANDO HABIBE. JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3737373737 2 APELAÇÃO CÍVEL NO JUIZADO ESPECIAL 19990710057104ACJ DF. Primeira Turma Recursal dos Juizados Especi- ais Cíveis e Criminais do D.F. Relator : SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS. —— • —— ASSINATURA BÁSICA ASSINATURA BÁSICA RESIDEN- CIAL, COBRANÇA - INTERVEN- ÇÃO DA UNIÃO E ANATEL, IMPOSSIBILIDADE - COMPLEXI- DADE DA CAUSA, INEXISTÊN- CIA - JUIZADO ESPECIAL CÍVEL, COMPETÊNCIA ACÓRDÃO Nº 275.430. Relator Designado: Juiz Alfeu Machado. Ape- lante: Elza Veiga Avalone. Apelada: Bra- sil Telecom S/A. EMENTA CIVIL. CDC. ASSINATURA RESIDENCIAL BÁSICA. COMPE- TÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. INTERVENÇÃO DA UNIÃO E ANATEL. REJEIÇÃO. COMPLEXIDADE. INEXISTÊNCIA PREÇO PÚBLICO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO INEXISTENTE. CO- BRANÇA INDEVIDA. VALORES PRETÉRITOS, A TÍTULO DE ASSI- NATURA PAGA. DEVOLUÇÃO EM DOBRO INCABÍVEL. AUSÊN- CIA DE MÁ-FÉ. RECURSO CO- NHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O Juizado Especial so- mente se revelará incompetente quando a complexidade da causa estiver ligada à dificuldade de demonstração do direito e não quanto à sua qualidade. 1.1. Da análise da lide posta a julgamento, não se vislumbra qualquer interesse, seja jurí- dico ou econômico, a proporcionar a in- tervenção da União e da agência regula- dora do setor (ANATEL) no presente feito. 2. Não se revelando complexa a questão controvertida nos autos, por ser desnecessária a realização de perícia para decidir matéria de direito, sendo a ques- tão de fato solucionável mediante a pro- dução de prova documental possível de ser produzida, tanto por parte do con- sumidor, como pela fornecedora e, não sendo o caso de se convocar a ANATEL para compor o pólo passivo da lide, não merece ser acolhida a incompetência do Juizado Especial Cível para conhecer e decidir a matéria relativa a assinatura residencial básica. 3. Os serviços de te- lefonia caracterizam preço público e exi- gem a efetiva prestação para autorizar a sua cobrança. 4. Inexistindo a prestação de serviços específicos a justificar a co- brança da assinatura básica, indevido é o valor exigido a este título, sob pena de ensejar enriquecimento sem causa, veda- do pelo art. 884, do novo Código Ci- vil. Presente, ainda, a violação do Códi- go de Defesa do Consumidor. 5. A de- volução em dobro, da quantia indevidamente paga, somente é cabível REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3838383838 em caso de má fé. 6. Recurso conhecido e parcialmente provido. Sentença refor- mada. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Juízes da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, DIVA LUCY IBIAPINA - Relatora, ALFEU MACHADO - Vogal, FÁBIO EDUARDO MARQUES - Vogal, sob a presidência do Juiz ALFEU MA- CHADO, em CONHECER DO RE- CURSO, REJEITAR A PRELIMI- NAR, MAIORIA, DAR PROVI- MENTO, SENTENÇA REFORMA- DA, POR MAIORIA, de acordo com a ata do julgamento. Brasília (DF), 12 de abril de 2007. RELATÓRIO Cuida-se de Recurso Inominado interposto por ELZA VEIGA AVALONE contra decisão proferida pela Excelentíssima Juíza de Direito do 5º Juizado Especial Cível de Brasília, DF, que julgou improcedente pedido formu- lado de decretação judicial de inexigibilidade de cobrança de ‘assinatu- ra básica residencial’ pela BRASIL TELECOM S/A e de devolução em dobro de valores que, a título de assina- tura mensal, teriam sido indevidamente cobrados, os quais correspondem à quan- tia total paga de R$ 1.193,63 (hum mil cento e noventa e três reais e centa- vos). Postulou, ainda, pelo acréscimo de juros, correção monetária e honorários advocatícios de 20% sobre o valor da condenação e custas processuais. Juntou documentos diversos (fls.19-78). A Companhia em desfavor de quem foi proposta a demanda apresen- tou defesa às fls. 80-95. Argúi, em preliminar, não ser de menor complexidade a causa sob exa- me, pelo que afastada estaria a compe- tência dos juizados especiais cíveis. In- voca precedente do Superior Tribunal de Justiça. Requer seja declarada a in- competência dos Juizados. Diz da ne- cessidade de chamamento ao feito da ANATEL - Agência Nacional de Te- lecomunicações, o que implicaria no deslocamento da competência para a Justiça Federal do Distrito Federal. No mérito, afirma a Brasil Telecom S.A. não estar a tarifa mensal de assinatura básica voltada exclusivamente à cessão de linha ou terminal telefônico, sendo também destinada ao custeio de infra- estrutura indispensável à realização dos serviços de telecomunicações. Afirma a legalidade da cobrança. Diz que even- tual modif icação da sentença monocrática constituirá indevida viola- ção a direito adquirido e a ato jurídico perfeito. Invoca disposições expressas no artigo 5º, inciso XXXVI, da Consti- tuição Federal, na chamada Lei Geral JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3939393939 de Telecomunicações (Lei n.º 9.472/ 97), em Resolução nº 85, de 30.12.1998 e em Contrato de Con- cessão firmado com a ANATEL. Fala da necessidade de manutenção do equi- líbrio econômico-financeiro contratual- mente assegurado à luz do artigo 37, inciso XXI, da Carta Maior ...” (fl. 93). Pede o acolhimento das prelimi- nares levantadas e, caso não o sejam, requer a total improcedência dos pedi- dos iniciais. A sentença recorrida afastou todas as questões preliminares argüidas pela Defesa, afirmando a competência dos juizados especiais cíveis para conhecer da demanda proposta. No mérito, indicou como razões de decidir os seguintes fun- damentos (fls. 96-102): - a cobrança da assinatura básica encontra respaldo no ordenamento jurídico e nas normas reguladoras do setor de telecomunicações; - faz menção ao Artigo 103 da Lei n.º 9.472/97 que conferiu poderes à ANATEL para fixar a “estrutura tarifária” nos contratos de concessão dos serviços de telefo- nia; - tem a Ré/Apelada custos operacionais para manter, expan- dir e modernizar a rede de teleco- municações; - jurisprudência de diversos Tribu- nais de nosso país. O pedido de reforma (fl. 105 e fls.106-113) está basicamente apoia- do em precedentes jurisprudenciais des- te Colendo Tribunal. Quer a Apelante ver modificada a decisão de primeiro grau para que de- clarada seja a inexigibilidade da cobran- ça da chamada “assinatura básica residencial”, eis que nula a cláusula que a estabelece. Almeja, ainda, ver compelida a Prestadora de serviços de telefonia a se abster de cobrar qualquer valor relati- vo àquela rubrica. Espera, também, al- cançar provimento judicial que para a Apelada estabeleça o dever de restitui- ção em dobro dos valores cobrados e efetivamentepagos a título de assinatura mensal. Não se manifestou a Brasil Telecom S.A. em contra-razões, conforme atesta certidão de fl. 116v. Preparo efetuado, conforme guias juntadas à fl. 114. É o que, de relevante, havia a rela- tar. VOTOS O Senhor Juiz CARLOS PIRES SOARES NETO - Relator Em Juízo de admissibilidade, co- nheço do recurso porque presentes to- dos os pressupostos objetivos (cabimen- to, tempestividade, regularidade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer) e subje- REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4040404040 tivos (legitimidade recursal e interesse processual). Antes de passar ao exame do mé- rito recursal, faço consignar ressalva quan- to a ponto de vista a que firmemente me filio e que diz respeito à repartição de competências entre os órgãos investidos de jurisdição para decidir sobre conflito de interesses relativo à legalidade da cha- mada “assinatura básica residencial”. É sabido que a distribuição de par- celas de jurisdição - competências - de- riva de garantia constitucional expressa no LIII do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, qual seja, “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. De tal modo, ainda que quaisquer dos órgãos investidos de jurisdição, juiz ou tribunal, ao proferir decisões ou despachos, con- figurem, por meio dos atos que praticam, manifestação do poder estatal jurisdicional, hão de ser observadas as regras de racionalização da atividade jurisdicional, mesmo porque estão elas voltadas à necessária otimização daquela função pública. Assim, quanto à preliminar susci- tada pela Defesa de complexidade da ação declaratória em seu desfavor pro- posta, peço as mais respeitosas vênias aos Eminentes Pares para discordar do entendimento que vem sendo sustentado por essa Egrégia Turma Recursal. O motivo da divergência está na convicção de que a matéria em exame reclama a análise de duas questões de extrema relevância, porque dela absolu- tamente indissociáveis: uma, relativa ao fato de para solução da demanda haverá de ser conhecida matéria de ordem pú- blica; outra, atinente à circunstância de que, pela sistemática processual hoje em vigor, mostra-se inviável o reexame da questão pelo Superior Tribunal de Justi- ça. Permito-me, neste ponto, com o que reafirmo entendimento que venho sustentado, embora não se trate de posi- ção vitoriosa, invocar recente decisão proferida, à unanimidade, pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça em Conflito de Competência n.º 2004 / 0183495 - 5, que teve como relator o eminente Ministro Luiz Fux. Dito pre- cedente teve Ementa redigida nos seguin- tes termos: “PROCESSO CIVIL. CONFLI- TO DE COMPETÊNCIA. AS- SINATURA BÁSICA RESI- DENCIAL. AÇÃO DECLA- RATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. BRASIL TELECOM S/A. EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE SER- VIÇO PÚBLICO FEDERAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO OU QUAIS- QUER DOS ENTES ELENCADOS NO ART. 109 DA CF / 88. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. (...) JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4141414141 3. Destarte, não só pela comple- xidade, mas também pelo seu es- pectro, não se justifica que a de- manda tramite nos Juizados Espe- ciais, máxime porque, na essência a repercussão transindividual do resultado da decisão atinge a higidez da concessionária e, ad eventum, da própria Fazenda Pú- blica, poder concedente, sendo certo que, não é outra a ratio essendi que impede as ações transindividuais nos Juizados. 4. Ressalva do ponto de vista do relator, porquanto versando a de- manda objeto transindividual, reve- la-se complexa a solução da cau- sa, incompatibilizando-se com os Juizados Especiais, mercê de o art. 3º, da Lei 9.099 / 95 vedar a esse segmento de justiça a cognição de feitos de interesse de concessi- onárias em razão do potencial fazendário encartado na demanda. 5. Forçoso, concluir, assim, que se os Juizados Especiais não são com- petentes para as referidas deman- das, as mesmas devem ser endereçadas à Justiça ordinária para que, através de ampla cognição plenária e exauriente, pos- sa o Judiciário dispor de interes- ses notadamente transindividuais, que não são descaracterizados pela repetição de ação uti singuli, mas calcadas na mesma tese jurídica. 6. Destaque-se, por fim, que a Justiça Estadual pode definir es- ses litígios deveras complexos sob o pálio da gratuidade de justiça, tornando-se acessível à população menos favorecida que acode aos Juizados Especiais. 7. Conflito conhecido para decla- rar competente o Juízo de Direito da 11ª Vara Cível de João Pessoa - PB, o suscitado, ressalvado o meu posicionamento.” Ora, a situação reconhecida por uma de nossas mais altas Cortes de Jus- tiça tem origem na inquestionável existência de fator impeditivo de acesso ao Supe- rior Tribunal de Justiça quando for ele acionado por meio de recurso ordinário constitucional ou especial para rever de- cisão proferida em grau de recurso pelas chamadas Turmas Recursais, órgãos colegiados de 1º grau, mas que julgam em 2º grau de jurisdição, e que compõem a estrutura dos Juizados Especiais. É que, segundo vem reiteradamente decidindo em interpretação ao Artigo 105, inciso II, alínea “b”, da Constituição Federal de 1988, sendo taxativa a enumeração constitucional dos recursos cabíveis tan- to para si, STJ, como para o Supremo Tribunal Federal, carece-lhe competência recursal (RSM 13295 / BA; RMS 16100 - SC; AGRG NO MS 10408 - MG) por não serem “Tribu- nais” ditos órgãos. “O STJ não tem com- petência para julgar recurso ordinário de decisão proferida por turma recursal do REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4242424242 Juizado Especial”, é o que está posto em Ementa publicada no Diário da Justi- ça em data de 12.9.2005, conforme RMS 20001 / GO - 2005 / 0072695 - 6. Eminentes Pares, tenho como ab- surdo imaginar possa o Superior Tribunal de Justiça, guardião do ordenamento jurídico federal, órgão de 2º grau de ju- risdição no exercício de sua competência recursal, ter subtraída à sua atuação de- manda em que se discute a validade de legislação editada pela União, entidade federativa a quem o legislador constitu- inte conferiu competência originária para praticar atos de gestão relativos a tele- comunicações (Art. 21, XI, CF / 88), além de haver-lhe conferido competên- cia legislativa exclusiva e aplicável a to- das as pessoas, órgãos e instituições no Brasil para legislar sobre tal matéria (Art. 22, IV, CF / 88). A mim resta evidente haver concedido nossa Magna Carta, neste ponto, em relação aos demais en- tes federados, clara supremacia à União Federal. Esta, de sua vez, ao editar a Lei Geral de Telecomunicações (n.º 9.472, de 16 de julho de 1997) e, por sua autarquia, baixar a Resolução n.º 85, de 30 de dezembro de 1998, que aprova Regulamento do Serviço Telefônico Fixo Comutado, segundo normas editadas em Anexo que o acompanha, agiu nos estri- tos limites de suas atribuições constituci- onais. Todavia, se possível for o processamento da presente ação declaratória pelo sistema processual dos Juizados Especiais Cíveis de Menor Complexidade, impedida estará a tutela de interesses ou direitos dos consumido- res pelo Superior Tribunal de Justiça, órgão do Poder Judiciário Brasileiro a quem compete, como atribuição consti- tucional, preservar a unidade e autorida- de do direito federal, sob a inspiração de que nele o interesse público, refletido na correta interpretação da lei, deve pre- valecer sobre os interesses das partes. Vale lembrar que os Juizados Es- peciais, criados com base no Artigo 98, inciso I, da Constituição Federal, con- quanto tenham sido constituídos como instrumentos de execução da Política Nacional das Relações de Consumo (Artigo 5º, inciso IV, e Artigo 81, caput, ambos do Código de Defesa do Consumidor) não podem se afastar da idéia original depropiciar um acesso mais facilitado à justiça para o cidadão co- mum, em especial a camada mais humilde da população, não sendo sua finalidade resolver a chamada crise da justiça, sua morosidade e ineficiência na solução dos conflitos individuais ou coletivos em que estejam envolvidos os jurisdicionados. Assim, pelas razões acima aduzidas, ressalvo meu ponto de vista, porquanto entendo que a expressão “me- nor complexidade” não pode estar res- trita ao contexto de exame probatório, eis que nas demandas em que estiver evi- denciado o interesse público e da Fazen- da Pública evidenciada estará também sua maior complexidade. JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4343434343 Feita a necessária ressalva, passo ao exame do mérito. Pois bem, quanto à questão devol- vida ao conhecimento desta Egrégia Tur- ma Recursal por meio de pedido formal- mente regular de modificação do provi- mento judicial concedido pelo juízo a quo, tenho que a decisão contra que se insurge a Apelante deve ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos. Todavia, ainda que suficientes as razões de decidir lançadas pela Eminen- te Magistrada a quo, peço licença a Vos- sas Excelências para tecer as considera- ções que se seguem: Decidir sobre telecomunicações é ato de gestão que o legislador constitu- inte, ao distribuir as competências mate- riais ou administrativas, atribuiu, expres- samente e com exclusividade, à União (Artigo 21, inciso XI, da Magna Car- ta). Legislar sobre dita matéria - teleco- municações - e sobre concessão de servi- ço público que tal, de idêntico modo, foi competência dada pela Lei Maior, em caráter originário e exclusivo a uma única entidade federativa, a União Federal (Artigo 22, inciso IV, CF / 88). As- sim, frente ao exame das normas postas na Lei Geral de Telecomunicações (n.º 9.472, de 16 de julho de 1997) e na Resolução n.º 85, de 30 de dezembro de 1998, que aprova Regulamento do Serviço Telefônico Fixo Comutado, se- gundo normas editadas em Anexo que complementa aquele ato normativo, não creio esteja a Apelada, Brasil Telecom S/A, agindo fora dos limites legais a ela impostos. É prevista a cobrança de tarifas (Artigos 19, VII, e 93, VII, da LGT e Artigos 3º, inciso XXI, e 89, ambos do Anexo à Resolução n.º 85/88), sendo por demais simplista a análise que tece o Autor-Apelante quando examina as obri- gações pecuniárias a que estão sujeitos os usuários dos serviços de telecomuni- cações. Além do mais, sem qualquer ra- zão plausível, trata o assunto de forma atomizada, para com isso conferir peso menor aos serviços prestados pela Re- corrida. A questão, salvo melhor juízo, há de ser molecularmente analisada, de maneira a que se possa, de modo apro- priado, dar solução a conflitos tais como o consubstanciado nesta demanda e que constitui, nitidamente, interesse individu- al homogêneo. É inegável, Eminentes Magistrados, que, se tivermos em conta a legislação federal atualmente em vigor, a Apelada, concessionária de serviço público fede- ral, ao cobrar do Apelante, cessionário de terminal telefônico, valores referentes a assinatura básica mensal, em nada atua fora dos limites da autorização legal que lhe foi conferida. Poder-se-ia questionar estarem, ou não, os valores cobrados atendendo às disposições das leis que disciplinam os serviços a serem presta- dos pelas sociedades comerciais conces- sionárias de serviço público de teleco- municações (Artigo 2º de Lei n.º 9.472 / 97). Se há proporcionalidade; se está, REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4444444444 ou não, devidamente balanceada a im- portância indicada como valor cobrado a título da chamada “tarifa de assinatura básica residencial”; se restou observado o princípio da razoabilidade na fixação do preço estipulado; estas, sim, são dú- vidas plausíveis. Cepticismo aceitável poder-se-ia experimentar relativamente ao quantum debeatur, não, porém, quanto à legalidade da dívida. Considero ser a questão relativa à existência, ou não, de razoabilidade nos preços estipulados para fins de pagamento matéria que ao crivo do Poder Judiciário poderá ser submetida. A tese assim le- vantada, entretanto, não haverá de ser discutida perante os Juizados Especiais Estaduais ou Federais, frente à necessi- dade de produção de prova complexa sobre a composição do preço, o que afas- ta a viabilidade de ali ser processada e julgada demanda que contenha dito ob- jeto e causa de pedir. Importa consignar, ainda, a opção feita pelo legislador constituinte de sub- meter a chamada ordem pública de pro- teção aos consumidores às regras de or- dem pública social e de ordem pública econômica. Daí porque, conquanto te- nha o ordenamento jurídico constitucio- nal estabelecido a defesa do consumidor como um dos princípios da ordem eco- nômica (Artigo 170, Inciso V, CF/88), plausibilidade há na diferenciada repar- tição de custos que pesa sobre os usuá- rios, embora se reconheça como legítimo o interesse do consumidor em ver barate- ados os preços dos serviços de telefonia que lhe são prestados. É que o diferen- cial representado pela cobrança de “as- sinatura básica” serve ao custeio de in- dispensáveis serviços de infra-estrutura da rede de telecomunicações, o que resulta em benefício a toda a coletividade. Ca- racterizado o interesse público de natu- reza social e econômico, ambos materia- lizados na possibilidade de conceder melhores serviços, pelo emprego de tecnologias continuamente aprimoradas, a um maior número de pessoas, deve pre- valecer o interesse da coletividade sobre o interesse individual. Na hipótese sub judice, em que a equação a ser resolvida não se limita à tradicional oposição entre segurança pú- blica e liberdade individual, constituin- do, antes, em provocação feita ao Poder Judiciário para que equacione a fórmula: direitos fundamentais (dimensão cole- tiva) versus direitos fundamentais (di- mensão individual), nada há de ilícito na conduta da Ré-Apelada, nada há de reprovável nos comandos normativos edi- tados pelo Estado e por meio dos quais autoriza as empresas concessionárias de serviços de telefonia a cobrar valores que sob a rubrica “assinatura básica” são iden- tificados. Enfim, Eminentes Julgadores, é meu voto no sentido de que seja CONHE- CIDO O RECURSO, MAS A ELE NEGADO PROVIMENTO, de modo a ser mantida, em todos os seus termos, a sentença impugnada. JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4545454545 Por fim, havendo a Recorrente su- cumbido na totalidade de seus pleitos, condeno-a ao pagamento de custas pro- cessuais e verba honorária que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor cor- rigido da causa, nos exatos termos do que determina o Artigo 55, segunda parte, da Lei n.º 9.099/95. É como voto. O Senhor Juiz ALFEU MACHA- DO - Presidente e Vogal Rogo as devidas vênias à ilustre Relatora para rejeitar a preliminar argüi- da de ofício porque, embora não levan- tada no recurso inominado, foi coloca- da. Então, rejeito a preliminar e entendo a competência na esteira do posicionamento das turmas recursais. No tocante ao mérito, em voto es- posado em recursos inominados anterio- res, tenho entendido pela ilegalidade da cobrança da assinatura básica, que viola o Código de Defesa do Consumidor. Por isso, o meu voto é no sentido de reformar a sentença e dar provimento ao recurso inominado. O Senhor Juiz FÁBIO EDUAR- DO MARQUES - Vogal Senhor Presidente, na esteira do que tenho decidido, afasto a preliminar argüida de ofício pela eminente Relatora e dou provimento ao recurso, ressalvan- do, entretanto, as parcelas que não esti- verem comprovadas devidamente pelas notas fiscais de cobrança da empresa te- lefônica. Assim o faço pelas seguintes ra- zões. COMPETÊNCIA: LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO A agência responsável pela expe- dição de normas reguladoras do setor de telefonia, assim como a União,não res- ponde pela conduta da concessionária e pelos eventuais danos por esta causada na relação jurídica mantida com seus as- sinantes. No Superior Tribunal de Justiça há precedentes que reconhecem não haver interesse na lide do poder concedente (CC 47.107/SC e CC 54.119/RN, Primeira Seção, Ministro LUIZ FUX). Destaca-se do precedente julgado que, “tratando-se de relação jurídica ins- taurada em ação entre a empresa conces- sionária de serviço público federal e o usuário, não há interesse na lide do po- der concedente, no caso, a União, fale- cendo, a fortiori, competência à Justiça Federal”, pois “o que se discute aqui é unicamente a relação contratual entre usu- ário e empresa fornecedora do serviço” e “não está em causa o poder de fiscali- zação da ANATEL”. Logo, “mesmo que a ANATEL viesse aos autos espontane- amente, pretendendo assistir a concessi- onária, essa assistência, mesmo que ad- mitida, não implicaria competência da REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4646464646 Justiça Federal, salvo se configurado seu efetivo interesse jurídico, que só ocorre quando alguma relação jurídica de que ela seja parte sofra conseqüências da decisão judicial, o que certamente não é o caso dos autos, já que, qualquer que seja a decisão, nenhuma conseqüência sofrerá a ANATEL” (CC 54.119/RN, Ministro LUIZ FUX, DJ 29.05.2006). Destarte, observada a natureza da ação sustentada na cobrança indevida de assinatura básica, resulta evidente a ilegi- timidade passiva de qualquer ente arro- lado no artigo 109 da Constituição Fe- deral e, portanto, descabida a remessa dos autos à Justiça Federal. COMPETÊNCIA DO JUIZADO: COMPLEXIDADE DA MATÉRIA O artigo 3º da Lei Federal 9.099/ 95 dispõe que “o Juizado Especial Cí- vel tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade”. Compreende- se, entretanto, que a complexidade da causa não se liga à qualidade do direito, e sim à dificuldade de sua demonstração (ACJ 2003.03.1.008905-3, Juiz LUCIANO VASCONCELLOS). Especificamente sobre a cobrança de assinatura básica, esta Segunda Tur- ma Recursal já se pronunciou em outra oportunidade: “JUIZADO ESPECIAL - COM- PETÊNCIA - SERVIÇOS DE TELEFONIA - COBRANÇA DE ASSINATURA BÁSICA - COMPLEXIDADE DA MATÉ- RIA. A complexidade da causa, suficiente para tornar o Juizado Especial incompetente, é aquela que diz respeito ao objeto da pro- va, e não ao direito material pro- priamente dito, colocado em dis- cussão. Por outro lado, o interesse público que emerge da ação não é critério adotado para a fixação da competência em nosso sistema jurí- dico. A matéria posta em discus- são (ilegalidade da cobrança de as- sinatura básica) não se mostra com- plexa de maneira a ensejar o reco- nhecimento da incompetência do juízo especial, a qual exige apenas interpretação de direito, prescin- dindo de qualquer prova técnica, podendo ser perfeitamente apre- ciada e decidida no âmbito do Juizado Especial” (ACJ 20050110058434, Juiz SIL- VA LEMOS, DJ 07.12.2006). Em realidade, ao estabelecer a cri- ação de Juizados Especiais competentes para o julgamento de causas cíveis de menor complexidade, inclusive por tur- mas recursais compostas de juízes de pri- meiro grau (artigo 98), o mesmo consti- tuinte originário não entendeu necessário qualificar o direito submetido ao exame dos juízes togados que prestam jurisdi- JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4747474747 ção nesta Justiça especial, que não são menos ou mais habilitados que os da Jus- tiça comum, porém, antes deixou ao en- cargo do legislador ordinário a opção das hipóteses, obviamente sem olvidar dos critérios da oralidade e celeridade que informam o “procedimento sumaríssimo”, este sim o requisito imposto na Consti- tuição Federal. Daí porque a incompe- tência se mostra presente quando há di- ficuldade na demonstração do direito pela imperiosidade de dilação probatória. Por prisma diverso, como o consti- tuinte originário não compreendeu impres- cindível o reexame, em recurso especial, das causas decididas pelas turmas recursais dos Juizados Especiais, em úni- ca ou última instância (artigo 105, III), como, aliás, é o entendimento pacifica- do pela Súmula 203 do Superior Tri- bunal de Justiça, não há falar-se em inte- resse público que por si só modifique a competência da Justiça especial, a fim de viabilizar o acesso da matéria na órbi- ta de competência especial do Superior Tribunal de Justiça. CLÁUSULA CONTRATUAL: ACEITAÇÃO DO CONSUMIDOR Como será exposto adiante, o caso reclama a aplicação do Código de De- fesa do Consumidor. Nesse passo, justi- fica-se a intervenção judicial quando ob- servada nulidade de pleno direito ou prá- tica abusiva pelo fornecedor de serviços, nos termos do artigo 6º, inciso V, artigo 39, inciso V, e artigo 51, ambos do Código de Defesa do Consumidor. De certo que o princípio “pacta sunt servanda” informa a validade e os efeitos do contrato livremente entabula- do entre pessoas capazes, não sendo empecilho, entretanto, para a apreciação judicial, como em qualquer ato jurídico, quando violados princípios de ordem pública, tal como acontece com as regras estatuídas no Código de Defesa do Con- sumidor. Logo, “a aceitação das cláusulas contratuais pelo consumidor, bem assim a garantia de inviolabilidade do ato jurí- dico perfeito, não obrigam o consumidor, quando se está diante de cláusulas iní- quas, abusivas e que ensejam enriqueci- mento sem causa. Como se sabe, a mo- derna teoria geral dos contratos autoriza a intervenção estatal nos ajustes entre particulares, de modo a adequá-los aos princípios da boa-fé, da probidade e da função social dos contratos” (ACJ 20060110331023, Juiz CÉSAR LOYOLA, Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., DJ 30.11.2006). ASSINATURA BÁSICA Em tema de prestação de serviços públicos, os direitos dos usuários são ordinariamente regidos por legislação es- pecial. Essas leis são da alçada privativa da União em razão dos serviços públicos REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4848484848 concedidos por este ente, daí por que a legislação local teve a eficácia afastada pelo Supremo Tribunal Federal em ações direta de inconstitucionalidade, a exem- plo: (1) ADI-MC 3.322 (Ministro CEZAR PELUSO, DJ 19.12.2006) referente à Lei Distrital 3.426/04, que dispõe sobre obrigações na confecção das faturas e sobre unidade de tarifação, ônus da prova, termo de adequação às suas normas e aplicação de multas às conces- sionárias de telefonia fixa; (2) ADI 3.533-9 (Ministro EROS GRAU, DJ 06.10.2006) referente à Lei Distrital 3.596/05, que dispõe sobre contado- res de pulso em cada ponto de consumo no endereço que estiverem instaladas, no âmbito do Distrito Federal. Ocorre que não há qualquer rele- vância no particular à inconstitucionalida- de de lei local, para o desate da matéria de fundo posta a exame deste Juízo, ten- do em conta as normas previstas em lei federal - o Código de Proteção e Defesa do Consumidor. É certo que a incidência do Códi- go de Defesa do Consumidor não se so- brepõe à legislação federal que trata das concessões e permissões de serviços pú- blicos, porém, sua aplicação é supletiva no que couber. Ora, a Constituição Federal (ar- tigo 175, parágrafo único, incisos II e III) remete os direitos dos usuários e a política tarifária à disciplina por lei do Poder Público que concede ou per- mite a prestação de serviços públicos. A norma constitucional é clara e diz que “a lei disporá sobre: (...) II - os direitos dos usuários; III - política tarifária”. A delegação do legislador consti- tuinte não pode ser subdelegada pelo legislador ordinário ao Poder Executivo, para disciplina da matéria por ato admi- nistrativo. Já decidiu o Supremo Tribunal Fe- deral que o Poder Executivo não pode valer de delegação
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