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Revista dos
Juizados Especiais
D
ou
tr
in
a 
e 
Ju
ri
sp
ru
dê
nc
iaISSN 1414-2902
PODER JUDICIÁRIO DO
DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Revista dos
Juizados Especiais
Jul./Dez. 2007
23
ISSN 1414-2902
Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios
Ano XI – Número XXIII – Jul./Dez. 2007
Revista dos
Juizados Especiais
Doutrina e Jurisprudência
Comissão Organizadora
Presidente
Des. Eduardo Alberto de Moraes Oliveira
Coordenador
Juiz de Direito Fernando Antônio Tavernard Lima
Secretário-Geral
Guilherme Pavie Ribeiro
Secretário de Jurisprudência e Biblioteca
Bruno Elias de Queiroga
Subsecretária de Doutrina e Jurisprudência
Lídia Maria Borges de Moura
Supervisor
Rafael Arcanjo Reis
Pede-se permuta On demande de l’echange
We ask for exchange Man bitte um austraush
Piedese canje Si richiere to scambolo
Redação
Subsecretaria de Doutrina e Jurisprudência
Serviço de Revista e Ementário
Palácio da Justiça - Praça Municipal, Ed. Anexo I, sala 601
CEP: 70.094.900 - Brasília - DF
Telefones: (061) 3224-1796 e 3322-7025 (Fax)
E-mail: sereme@tjdf.gov.br
Home Page do TJDF: http://www.tjdf.gov.br
Revista dos Juizados Especiais: doutrina e jurisprudência /
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – vol.1,
nº 1 (1997) – Brasília: O Tribunal, 1997 – .
Publicada em ago./2003
Semestral
ISSN 1414-2902
1. Juizados Especiais – Jurisprudência. 2. Juizados Especiais –
Doutrina. I. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
Des. Lécio Resende da Silva - Presidente
Des. Eduardo Alberto de Moraes Oliveira - Vice-Presidente
Des. João de Assis Mariosi - Corregedor
Juizados Especiais
Coordenação Cível
Juiz de Direito Flávio Fernando Almeida da Fonseca
Coordenação Criminal
Juíza de Direito Giselle Rocha Raposo
1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
Juíza Leila Cristina Garbin Arlanch - Presidente
Juiz Sandoval Gomes de Oliveira - Vogal
Juíza Sandra Reves Vasques Tonussi - Vogal
Juiz Esdras Neves Almeida - Suplente
Juiz Hector Valverde Santanna - Suplente
Juiz James Eduardo da Cruz de Moraes Oliveira - Suplente
2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
Juiz Alfeu Gonzaga Machado - Presidente
Juiz Jesuíno Aparecido Rissato - Vogal
Juiz João Batista Teixeira - Vogal
Juiz César Laboissiere Loyola - Suplente
Juiz José Guilherme de Souza - Suplente
Juíza Iracema Miranda e Silva - Suplente
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT88888
SUMÁRIO 99999
Sumário
Doutrina
17Juizados de pequenas causas em países latino-americanos .........
Oriana Piske de Azevedo Magalhães Pinto
Jurisprudência Cível
27Acórdãos......................................................................
Acidente de trânsito ...................................................... 27
Assinatura básica ......................................................... 37
Dano moral - cia. aérea ................................................ 64
Dano moral - diversos ................................................... 74
Obrigação de fazer ...................................................... 90
Pagamento antecipado de parcelas .................................. 94
Vício do produto ....................................................... 102
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1010101010
Jurisprudência Cível
Acidente de trânsito ....................................................................... 107
Cerceamento de defesa .................................................................... 110
Cobrança ..................................................................................... 111
Competência .................................................................................. 113
Compra e venda ............................................................................ 116
Consórcio ................................................................................... 118
Dano material ............................................................................... 121
Dano moral - banco ....................................................................... 123
Dano moral - cia. aérea .................................................................. 127
Dano moral - cia. telefônica .............................................................. 131
Dano moral - diversos .................................................................... 135
Dano moral - SPC ......................................................................... 146
Dano moral e material ..................................................................... 148
Despejo imotivado ......................................................................... 150
Empreitada .................................................................................. 151
Execução .................................................................................... 152
Furto em condomínio ...................................................................... 152
Furto em estacionamento ................................................................. 153
Obrigação de fazer ........................................................................ 154
Plano de saúde .............................................................................. 157
Recurso ..................................................................................... 161
Responsabilidade civil ..................................................................... 162
Revelia ........................................................................................ 172
Seguro ....................................................................................... 175
Serviço de telefonia ....................................................................... 177
Taxa de juros ................................................................................ 177
Transtorno cotidiano ...................................................................... 178
Vício do produto .......................................................................... 180
Vício do serviço ............................................................................ 185
107Ementas ........................................................................
SUMÁRIO 1111111111
Jurisprudência criminal
Abuso de autoridade ...................................................................... 189
Ameaça ....................................................................................... 198
Falsa identidade ........................................................................... 201
Perturbação do sossego ................................................................. 206
Porte de entorpecente .................................................................... 213
Representação .............................................................................. 218
Ameaça. ...................................................................................... 227
Calúnia. ..................................................................................... 229
Contravenção penal. ..................................................................... 230
Crime de trânsito. ........................................................................ 230
Dano. ......................................................................................... 232
Degravação de fita. ........................................................................ 233
Difamação. .................................................................................. 234
Falsa identidade. .......................................................................... 234
Habeas corpus. ............................................................................ 235
Perturbação do sossego ..................................................................235
Porte de entorpecente .................................................................... 236
Representação. ............................................................................. 237
Violência doméstica. ...................................................................... 239
189Acórdãos......................................................................
227Ementas ........................................................................
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1212121212
Enunciados do FONAJE
Índice Jurisprudencial .....................................................
Enunciados Cíveis ......................................................................... 291
Enunciados Criminais ................................................................... 305
315
Súmulas
Supremo Tribunal Federal (recentes) ................................................ 245
Superior Tribunal de Justiça ........................................................... 255
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios ....................... 285
SUMÁRIO 1313131313
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1414141414
DOUTRINA 1515151515
Doutrina
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1616161616
DOUTRINA 1717171717
Juizados de Pequenas Causas
em Países Latino-americanos
Neste estudo analisaremos os sis-
temas de Justiça de alguns países latino-
americanos. Vale destacar aqueles
vivenciados no México, na Colômbia, na
Costa Rica, na Guatemala, na Venezuela,
no Uruguai e no Chile.
No México, não há previsão de
juizados na Ley Orgánica del Poder Ju-
dicial de la Federación (1935) ou no
Código Federal de Procedimientos
Civiles (1942). Ressalte-se que a Jus-
tiça de Paz, denominada a justicia de
mínima cuantía, tem como característica
primordial a promoção da “conciliação
pré-processual”, na expressão de Ada
Pellegrini Grinover,1 tendo o valor da
contenda como critério para determinar
uma “pequena causa”. Desta forma, não
há restrição decorrente da natureza da
demanda.2
Tal Justiça teve suas características
melhor definidas através do Proyecto de
Ley de Justicia de Paz para la Ciudad
de Mexico, elaborado em 1913. Figura
também importante do Direito mexicano,
ORIANA PISKE DE AZEVEDO MA-
GALHÃES PINTO
Juíza de Direito do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e Territórios. Mes-
tre em Direito pela Universidade Fede-
ral de Pernambuco (UFPE).
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT1818181818
no que tange às pequenas causas, foi a
dos jueces menores.
Para Caetano Lagrasta Neto, a im-
portância do Projeto de Justiça de Paz,
de 1913, foi sintetizada na sua exposi-
ção de motivos, assinada pelo jurista
Miguel S. Macedo, merecendo sua
transcrição na íntegra:
“1. Ausencia de toda ritualidad y
formalismo, para que cada uno
pueda defender lo que crea su
derecho sin necesidad del
patrocinio de letrados ni
prácticos”;
“2. Rapidez en la sustentación y
decisión de las controversias, para
evitar la pérdida de tiempo y los
consiguientes gastos y los perjuicios
que resultan de desatender el liti-
gante su trabajo o negocio
ordinarios” (esta rapidez era mani-
festada pela citação - através de
telefone ou telégrafo - para que
comparecesse no mesmo dia ou,
mais tardar, no dia seguinte, quan-
do, após o pedido e defesa, pro-
duziam-se as provas e ditava-se
sentença, irrrecorrível);
“3. Amplia libertad en materia de
pruebas, con facultad del juez para
recurrir a todas las que crea útiles
para averiguar la verdad, y
publicidad de las audiencias” (a
publicidade a critério do juiz);
“4) Apreciación de la prueba por
el juez según el dictado de sua
conciencia y no conforme a reglas
legales, es decir, decisión en
conciencia respecto al hecho,
aunque no respecto al fondo de la
decisión en cuanto al derecho, pues
el precepto del artículo 14 consti-
tucional (até hoje vigente) relativo
a la exactitud en la aplicación de la
ley obliga a todo juez a normar sus
decisiones precisamente a las
disposiciones legales”;
“5. Rapidez y seguridad en la
ejecución de las sentencias,
procurandose que éstas deban
considerarse ineludibles, cualidad
que si se llega a alcanzar constituirá
por sí sola una ventaja inapreciable,
ya que ahora es frecuente, por
desgracia, que las sentencias
queden como letra muerta, si no es
que como escarnio de la justicia”.3
No período que antecedeu à Re-
volução Mexicana, atingiu-se a redação
mais adequada à Justiça de Paz, consi-
deradas as modificações ulteriores como
pequenos adendos ao Projeto de 1913.
A Lei Orgânica dos Tribunais do
Distrito Federal, no México, pela refor-
ma de 29 de dezembro de 1975, fixou
a competência cível para o limite de cin-
co mil pesos e a criminal para a pena de
prisão de, no máximo, um ano; dividiu o
país em dezesseis “delegaciones politico-
administrativas” - e em cada uma delas
criou, pelo menos, um juízo misto de paz.4
Qualquer cidadão mexicano, desde que
DOUTRINA 1919191919
com formação em Direito, pode ser juiz
de paz, bastando que seja designado por
uma comissão integrada por representan-
tes do Tribunal e do Sindicato de Traba-
lhadores do mesmo Tribunal. Cabe aos
secretários promover os acordos. Os
procedimentos se caracterizam pela
informalidade, oralidade e por uma am-
pla liberdade do juiz para conduzir a fase
probatória. A presença de advogados é
facultativa, sendo obrigatória apenas nos
processos penais e em algumas questões
de família.
Mas a utilização de juízes leigos não
é exclusivamente mexicana. Encontra-se
difundida também em outros países da
América Ibérica, como na Colômbia,
onde as pequenas causas são julgadas por
juízes municipais, e na Costa Rica, onde
essas questões são da competência dos
“alcaldes”, incluindo uma fase inicial con-
ciliatória.
Na Colômbia, as causas são sepa-
radas conforme o valor da pretensão, em
maior, em menor ou em mínima quantia.
O critério valorativo é determinante da
competência da Justiça de mínima quan-
tia. As pretensões patrimoniais de valor
superior a 100.000 pesos são consi-
deradas de maior quantia, as de valor
compreendidos entre 5.000 e 10.000
pesos são de menor quantia e as de míni-
ma quantia compreendem o valor inferior
a 5.000 pesos.5 Vale destacar que os
processos de mínima cuantía são julga-
dos por jueces municipales, mediante
procedimento rápido e concentrado, vis-
to que os pedidos se apresentam verbal-
mente ou por escrito ao secretário do
Juízo na primeira audiência de concilia-
ção, para, a seguir, passar-se à contesta-
ção e colheita de provas, sendo suas sen-
tenças irrecorríveis.
A Costa Rica possui juízos de mí-
nima cuantía sob a competência dos
alcaldes e com alçada para importâncias
que não excedam 3.000 colones (equi-
valia a US$ 350, em 1998). Da mes-
ma forma que no procedimento existente
na Colômbia, este pressupõe a citação
para comparecimento em três dias, salvo
casos urgentes, em que a citação pode
ser para o mesmo dia. Aqui também a
fase inicial é conciliatória. A sentença será
apelável se ultrapassar a importância men-
cionada no artigo 1.082 do CPC
costarriquenho.6
A Guatemala possui juizados de
mínima cuantía mais próximos da tradi-
ção espanhola. Aqui os julgadores são
os jueces de paz e, à sua falta, os
alcaldes municipales ou os concejales,
todos conhecidos como jueces menores
e que têm competência para assuntos
cujo valor não exceda 500 quetzales.7
Ressalte-se que o procedimento é con-
centrado e oral; a sentença é apelável.
Entretanto, em se tratando de quantia
inferior a 100 quetzales, os atos deve-
rão ser todos orais, com breve registro
em livro: “são os juízos de infima cuantía,
com sentenças irrecorríveis, ausente con-
denação nas custas e despesas proces-
suais.”
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2020202020
Na Venezuela, a exemplo do que
ocorre na maior parte dos paísesibero-
americanos, o serviço de assistência jurí-
dica mostra-se fracamente implantado,
prevalecendo, em geral, mecanismos in-
formais, fortemente baseados na tradição,
nos quais se destaca o papel do media-
dor de conflitos, desempenhado por pre-
feitos ou lideranças civis. Rogério Perez
Perdomo é bastante enfático ao caracte-
rizar o baixo comprometimento dos de-
fensores públicos venezuelanos com a sua
clientela.8 O autor assinala, todavia, que
nos anos 90, a crise política e institucional
experimentada pela Venezuela forçou a
realização de reformas com vistas a am-
pliar o acesso à Justiça e, muito particu-
larmente, ao Judiciário. Segundo ele, “o
mais radical desses esforços é a criação
da Justiça de Paz, em 1995, como uma
Justiça municipal, com juízes leigos elei-
tos popularmente e mandato revogável.
O juiz de paz tem uma função mediado-
ra, com possibilidade de apreciação por
eqüidade.9
No Uruguai existem os Juzgados
de minima cuantía, sob a competência dos
Jueces de Paz, com alçada até US$
100, cuja audiência se desenvolve em,
no máximo, duas sessões, a primeira de-
las para a conciliação. A sentença so-
mente será apelável se ultrapassado o
valor do artigo 86 do Código de
Organización de los Tribunales. Aqueles
juízes são também competentes para o
julgamento envolvendo questões trabalhis-
tas e de arrendamento, sem qualquer li-
mite de valor. Ressalte-se que lá a alçada
pode ser facilmente modificada pelo Su-
premo Tribunal de Justiça e naquelas
questões inferiores a US$ 10 dispen-
sam-se advogados, sendo suas sentenças
irrecorríveis. As de alçada até US$
100, ou mais, têm procedimento simpli-
ficado, porém escrito, com, no mínimo,
duas instâncias antes do julgamento fi-
nal.10
No Chile, dentro da Justiça Co-
mum, existem procedimentos especiais
para causas de valor inferior a 1.470
escudos (US$ 1,50), de minima
cuantia. Iguais facilidades procedimentais
gozam as causas de valor inferior a
152.000 escudos (US$ 30.00), cha-
madas de menor cuantía, com as seguin-
tes características: a) a reclamação pode
ser oral ou escrita; b) há uma única audi-
ência em que o réu pode contestar e
reconvir; c) se o juiz entender, poderá
designar outra audiência para instrução,
desde que próxima àquela inicial; e, d)
a decisão deverá ser proferida dentro de
60 dias, após apresentada a contesta-
ção; as decisões são recorríveis. Em
1971, o Presidente Allende introduziu
os Tribunales Vicinales, criando um ou
mais destes tribunais em cada região ad-
ministrativa do Chile, que tinham como
competência Pequenos Juizados Cíveis
e causas de importância social para a
comunidade local; o procedimento seria
oral, público e informal. Ressalte-se que
esta “lei foi revogada posteriormente pelo
novo regime.11
DOUTRINA 2121212121
No Chile, a redemocratização do
país deverá impor a reorganização do
acesso à Justiça, apontando para a difu-
são de serviços de assistência jurídica
gratuita, bem como para a utilização de
mecanismos alternativos para a solução
de conflitos. Por ora, segundo a avalia-
ção de Ivan Enrique Vargas Viancos, o
único mecanismo que vigora “é o mais li-
mitado dos sistemas alternativos: a arbi-
tragem”. Quanto ao instituto da concili-
ação, “apesar de ter sido incluída no
âmbito do Judiciário há bastante tempo,
sua importância ainda é modesta”.12
CONCLUSÃO
Verificamos nas experiências ibero-
americanas um fortalecimento de institui-
ções tradicionais, como é o caso da Jus-
tiça de Paz, não havendo respostas ino-
vadoras. O Brasil foi a exceção ao traçar
uma inovação institucional mais próxima
das experiências desenvolvidas pelos
países da Common Law, inclusive a cria-
ção dos microssistemas especiais. No
lugar de um reforço da tradição, uma res-
posta moderna, importando mudanças na
própria configuração do Judiciário bra-
sileiro.
O estudo de experiências semelhan-
tes ao nosso Juizado Especial em países
latino-americanos, através dos institutos
como justicia de mínima cuantia, jueces
menores e conciliadores, demonstra o
surgimento de um fenômeno global de
estruturas judiciárias voltadas para um
maior acesso e celeridade da Justiça, in-
dependentemente do sistema jurídico
adotado.
A sociedade vem reclamando uma
postura cada vez mais ativa do Judiciá-
rio, em todo o mundo, não podendo este
ficar distanciado dos debates sociais,
devendo assumir seu papel de partícipe
no processo evolutivo das nações, eis que
é também responsável pelo bem comum,
notadamente em temas como a dignida-
de da pessoa humana, a redução das
desigualdades sociais e a defesa dos di-
reitos de cidadania. Assim, voltados os
legisladores para a garantia do valor Jus-
tiça aos cidadãos, criaram os Juizado
Especiais de Pequenas Causas, nos paí-
ses da Common Law e da Civil Law, vi-
sando possibilitar a resolução de confli-
tos.
O Judiciário, nos tempos atuais,
não pode se propor a exercer função
apenas jurídica, técnica, secundária, mas
deve exercer papel ativo, inovador da
ordem jurídica e social, visto que é cha-
mado a contribuir para a efetivação dos
direitos sociais, procurando dar-lhes sua
real densidade e concretude. É preciso
perceber que o contato do juiz com o
jurisdicionado e com a própria socie-
dade não enfraquece o Poder Judiciá-
rio. Ao inverso, tende a enobrecê-lo,
conferindo a este maior grau de legitimi-
dade. Nesse diapasão é que os
Juizados Especiais, no Brasil, e os
Juizados de Pequenas Causas, nos de-
mais países latino-americanos, passam a
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2222222222
ser um agente de transformação, lançam-
se como instrumentos rumo à promoção
efetiva da cidadania, possibilitando a
base para uma cultura de direitos huma-
nos e de conscientização desses direi-
tos como corolário para o exercício pleno
da cidadania. Os Juizados Especiais
resultaram em importante instrumento
jurisdicional a propiciar Justiça ágil,
desburocratizada, desformalizada e
acessível a todos os cidadãos, em todo
o globo.
Bibliografia Justiça. Revista de Doutrina de Jurisprudên-
cia, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios, Brasília, v. 45, mai./ago. 1994,
p. 86-87.
PERDOMO, Rogelio Perez. Juiz e Justiça: ima-
gens venezuelanas. In: ASSOCIAÇÃO
DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS -
AMB (org.). Justiça: promessa e realida-
de: o acesso à Justiça em países ibero-ame-
ricanos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1996.
VIANCOS, Ivan Enrique Vargas. O sistema
judiciário chileno. In: ASSOCIAÇÃO
DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS
- AMB. (org.). Justiça: promessa e reali-
dade, o acesso à Justiça em países ibero-
americanos. Rio de Janeiro: Nova Frontei-
ra, 1996.
Notas 2 LENZA, Suzani de Melo. Juizados Cíveis, Criminais: a era do resgate nacredibilidade da Justiça. Revista de Doutrina de Jurisprudência, Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios, Brasília, v. 45, mai./ago. 1994, p. 86.
3 LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especial de Pequenas Causas no
Direito Comparado. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p. 52-53.
4 Idem, p. 53.
5 LENZA, Suzani de Melo. Juizados Cíveis, Criminais: a era do resgate na
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Aces-
so à Justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris Editor, 1988.
GRINOVER, Ada Pellegrini. Conciliação e
Juizados de Pequenas Causas. In:
WATANABE, Kazuo (org.). Juizado Es-
pecial de Pequenas Causas (Lei no 7.244,
de 7 de novembro de 1984). São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, [s. d.]. 1985.
LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especi-
al de Pequenas Causas no Direito Compara-
do. São Paulo: Editora Oliveira Mendes,
1998.
LENZA, Suzani de Melo. Juizados Cíveis, Cri-
minais: a era do resgate na credibilidade da
1 GRINOVER, Ada Pellegrini. Conciliação e Juizados de Pequenas Causas. In:
WATANABE, Kazuo (org.). Juizado Especial de Pequenas Causas (Lei no
7.244, de 7 de novembro de 1984), São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais,[s. d.], 1985. p. 149.
DOUTRINA 2323232323
credibilidade da Justiça. Revista de Doutrina de Jurisprudência, Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios, Brasília, v. 45, mai./ago. 1994, p. 87.
6 LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especial de Pequenas Causas no
Direito Comparado. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p. 56.
7 Idem, p. 57.
8 PERDOMO, Rogelio Perez. Juiz e Justiça: imagens venezuelanas. In: ASSO-
CIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - AMB (org.).
Justiça: promessa e realidade: o acesso à Justiça em países ibero-americanos. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 151.
9 Idem, p. 132.
10 LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especial de Pequenas Causas
no Direito Comparado. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p.
57.
11 Idem, p. 58.
12 VIANCOS, Ivan Enrique Vargas. O sistema judiciário chileno. In: ASSO-
CIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - AMB. (org.).
Justiça: promessa e realidade, o acesso à Justiça em países ibero-americanos.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 199.
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2424242424
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 2525252525
Jurisprudência Cível
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2626262626
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 2727272727
Acórdãos
ACIDENTE DE TRÂNSITO
ACIDENTE COM VEÍCULO DIRI-
GIDO POR PREPOSTO - FATO
OCORRIDO FORA DO HORÁ-
RIO DE SERVIÇO, IRRELEVÂNCIA
- CULPA EXCLUSIVA DO MOTO-
RISTA - EMPRESA EMPREGA-
DORA, RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA
ACÓRDÃO Nº 271.559. Relator
Designado: Juiz Jesuíno Aparecido
Rissato. Apelante: Santos e Soster Ltda..
Apelado: Francisco Purificação de Mo-
rais.
EMENTA
CIVIL. RESPONSABILIDADE
CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO
PROPRIETÁRIO. VEÍCULO DIRIGI-
DO POR EMPREGADO FORA DO
HORÁRIO DE SERVIÇO, MAS EM
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT2828282828
RAZÃO DO EMPREGO. RESPON-
SABILIDADE DA EMPRESA EM-
PREGADORA. CONDENAÇÃO
MANTIDA. 1. Incabível o autor, em
sede de contra-razões, argüir irregulari-
dade na peça de defesa, em face da
preclusão. 2. O dono de veículo
automotor responde solidariamente pe-
los danos causados por terceiro na con-
dução do mesmo, podendo a parte pre-
judicada demandar contra o proprietário
ou o motorista, ou contra ambos. 3. Com-
provado que o acidente de trânsito se
deu por culpa exclusiva do preposto da
empresa ré, o qual, embora fora do ho-
rário de serviço, detinha o veículo em ra-
zão do emprego e da função que exer-
cia, emerge cristalina a sua responsabili-
dade em reparar o dano causado. Deci-
são: Recurso conhecido. Preliminares re-
jeitadas. Negado provimento, por maio-
ria. Vencida a Relatora. Relatará o
acórdão o primeiro vogal.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da 1ª
Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal, NILSONI DE
FREITAS CUSTODIO - Relatora,
JESUÍNO APARECIDO RISSATO
- Vogal, TEÓFILO RODRIGUES
CAETANO NETO - Vogal, sob a pre-
sidência do Juiz TEÓFILO RODRI-
GUES CAETANO NETO, em CO-
NHECER. REJEITAR AS PRELIMI-
NARES. UNÂNIME. IMPROVER O
RECURSO. MAIORIA. VENCIDA
A RELATORA, RELATARÁ O
ACÓRDÃO O 1º VOGAL, de
acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.
Brasília (DF), 05 de abril de
2005.
RELATÓRIO
Trata-se de ação de reparação de
danos proposta por FRANCISCO
PURIFICAÇÃO DE MORAIS em
desfavor de LORENO
INFORMÁTICA e SANTOS E
SOSTER LTDA.
Alega o autor que em
19.10.2003, ao trafegar com seu veí-
culo pela faixa de trânsito sentido Santo
Antonio do Descoberto - Ceilândia/DF
foi abalroado pelo veículo Mercedes
Benz/310D Sprinter que trafegava em
sentido contrário. Assevera que o impac-
to fez seu veículo colidir com outro que
trafegava no sentido Ceilândia/DF - Santo
Antônio do Descoberto, causando ava-
rias a ambos. Noticia que quando da
lavratura do boletim de ocorrência o Sr.
Ernane Martins Sousa, que dirigia o veí-
culo Mercedes Benz/310D Sprinter,
declarou que era funcionário da primeira
requerida, podendo, ainda, verificar junto
ao Detran que, a despeito de constar no
veículo o logotipo da Loreno Informática,
este pertencia à segunda requerida. As-
severa que foi feito perícia pela Polícia
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 2929292929
Civil cujo laudo concluiu que o acidente
fora causado pelo desvio de direção à
esquerda do Mercedes que invadiu a
faixa de trânsito em sentido contrário.
Requer a condenação das rés para repa-
rar os danos sofridos pelo requerente no
valor do menor orçamento apurado que
remonta R$6.933,87 (seis mil novecen-
tos e trinta e três reais e oitenta e sete
centavos).
Designada audiência de instrução
e julgamento, o autor esclareceu que
Loreno Informática é nome fantasia de
Santos e Soster Ltda.
Após a audiência a MM. Juíza
proferiu sentença (fls. 49/52), julgan-
do procedente o pedido para condenar
a parte ré a indenizar ao autor a quantia
de R$6.938,87 (seis mil novecentos e
trinta e oito reais e oitenta e sete centa-
vos) corrigida monetariamente desde o
ajuizamento da ação e acrescida dos ju-
ros de mora de 1% ao mês a contar da
data do fato.
Irresignada, a ré recorreu as fls. 59/
63 alegando que não é parte legítima,
visto não ter a obrigação de indenizar ato
praticado por terceiro, além de ter a seu
favor o depoimento do condutor do ve-
ículo que assumiu o uso do veículo, sem
ciência e autorização da recorrente. Aduz
que não deve prevalecer a responsabili-
dade objetiva da recorrente reconhecida
pelo juiz sentenciante, que ao mesmo tem-
po afirmou que o condutor do veículo
agia sem autorização. Assevera que não
é possível condenar a recorrente por ato
de terceiro com base nas atividades des-
critas no contrato social, inobstante, ter-
se comprovado em audiência que o mo-
torista trafegava sem autorização e visi-
velmente embriagado, fatos não levados
em consideração pelo juiz sentenciante.
Enfatiza que o motorista culpado é que
deveria figurar no pólo passivo, razão pela
qual o processo deveria ter sido extinto,
sem exame do mérito. Requer, pois, o
conhecimento e provimento do recurso a
fim de que a sentença monocrática seja
reformada e extinto o processo, nos ter-
mos requerido na peça contestatória.
Devidamente intimado, o recorri-
do apresentou suas contra-razões reque-
rendo o não recebimento do recurso em
face da ausência de representação pro-
cessual da recorrente na peça
contestatória ensejando o decreto de re-
velia, e no mérito pugna pelo não conhe-
cimento do recurso.
É o relatório.
VOTOS
A Senhora Juíza NILSONI DE
FREITAS CUSTODIO - Relatora
Conheço do recurso, eis que pre-
sentes os seus pressupostos de
admissibilidade.
Cuida-se de ação de reparação de
danos proposta por FRANCISCO
PURIFICAÇÃO DE MORAIS em
desfavor de SANTOS & SOSTER
LTDA. visando ser indenizada no mon-
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3030303030
tante de R$6.933,87 (seis mil, nove-
centos e trinta e três reais e oitenta e sete
centavos) a título de danos materiais so-
fridos decorrente de acidente de veícu-
lo, envolvendo o veículo IMP/M.BENZ
310D Sprinter de propriedade da ré e
conduzido por seu empregado, Ernane
Martins Sousa, que invadindo a mão de
direção por onde trafegava o carro do
autor deu causa ao acidente.
Acolhendo, parcialmente, o pedi-
do o juiz a quo condenou a ré no paga-
mento de R$6.938,87 (seis mil, nove-
centos e trinta e oito reais e oitenta e sete
centavos), corrigido monetariamente des-
de o ajuizamento da ação e acrescida de
juros de mora de 1% desde a data do
evento.
Inconformada, a ré recorreu alegan-
do que não é parte legítima, visto não ter
a obrigação de indenizar ato praticado
por terceiro, além de ter a seu favor o
depoimento do condutor do veículo que
assumiu o uso do veículo, sem ciência e
autorização da recorrente. Aduz que não
deve prevalecer a responsabilidade ob-
jetivada recorrente reconhecida pelo juiz
sentenciante, que ao mesmo tempo afir-
mou que o condutor do veículo agia sem
autorização. Assevera que não é possí-
vel condenar a recorrente por ato de ter-
ceiro com base nas atividades descritas
no contrato social, inobstante, ter-se com-
provado em audiência que o motorista
trafegava sem autorização e visivelmente
embriagado, fatos não levados em consi-
deração pelo juiz sentenciante. Enfatiza
que o motorista culpado é que deveria
figurar no pólo passivo, razão pela qual
o processo deveria ter sido extinto, sem
exame do mérito. Requer, pois, o conhe-
cimento e provimento do recurso a fim
de que a sentença monocrática seja re-
formada e extinto o processo, nos ter-
mos requerido na peça contestatória.
Principio, afastando a alegação do
recorrido da ocorrência da revelia frente
à ausência de assinatura da patrona da
recorrente na contestação acostada às fls.
33/36, embora instada a sanar a irregu-
laridade por duas vezes. (fls.53 e 64,v.)
Com efeito, verifico que a recorren-
te quando da audiência de instrução e jul-
gamento ofertou a peça de fls. 33/36,
mas, não contém a assinatura das
advogadas constituídas pelo mandato
acostado à fl. 37. Constato, também, que
após a prolação da sentença, foi exarada
certidão (fl. 53) pela Sra. Diretora de
Secretaria acerca da intimação, por tele-
fone, da advogada da recorrente com vis-
ta firmar a peça contestatória. Após, a
interposição do recurso, consta, à fl. 64v,
nova certidão dando conta da intimação
da Dra. Tânia Soster, pelo telefone, para
comparecer no Juízo de origem para fins
de assinar a contestação.
Na inteligência do art. 473 do
CPC é defeso à parte discutir, no curso
do processo, as questões já decididas,
a cujo respeito se operou a preclusão.
O fenômeno da preclusão decorre da
impossibilidade das questões já discu-
tidas e apreciadas no curso do proces-
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3131313131
so serem reexaminadas em fases poste-
riores.
A essência da preclusão, no escólio
de Chiovenda, vem ser a perda, extinção
ou consumação de uma faculdade pro-
cessual pelo fato de se haverem alcança-
do os limites assinalados por lei ao seu
exercício. (cf. art igo de Elmano
Cavalcanti Freitas, in RF, 20/22).
Na particularidade da hipótese
examinada, ofertada a contestação e
documentos pela recorrente, ao recor-
rido foi facultado manifestar-se sobre
as peças, o fazendo oralmente e grava-
da em fita magnética, consoante se al-
cança da ata de audiência de instrução
e julgamento. (fl. 13). Contudo, não
prov idenc iando o recor r ido a
degravação da referida fita, resta im-
possibilitada a esta Turma Recursal o
conhecimento do teor da manifestação
do recorrido, quanto à argüição da ir-
regularidade da contestação ofertada
sem a assinatura de sua subscritora. A
meu aviso, ao recorrido não é dado em
sede de contra-razões suscitar irregu-
laridade na peça de defesa, quando já
operada a preclusão consumativa, re-
velando a tentativa da intimação da
advogada da recorrente em excesso de
zelo pela Sra. Diretora de Secretaria.
Firmada essa premissa passo à aná-
lise da preliminar de ilegitimidade ad cau-
sam suscitada pela recorrente.
A questão da legitimidade de parte
repousa no vínculo entre o autor, à pre-
tensão deduzida na petição inicial e o réu.
Enfatiza Luiz Rodrigues Wambier in Cur-
so Avançado de Processo Civil, p.132
“é parte legítima para exercer o direito
de ação (autor) aquele que se afirma ti-
tular de determinado direito que precisa
da tutela jurisdicional, ao passo que será
parte legítima, para figurar no pólo pas-
sivo (réu), aquele a quem caiba o cum-
primento de obrigação decorrente dessa
pretensão”.
Sob o enfoque da lição do
renomado mestre será parte legítima para
figurar no pólo passivo da ação
indenizatória aquele a quem caiba a obri-
gação decorrente do dano causado. No
caso sub-examine, o veículo causador do
acidente é de propriedade da recorren-
te, além do condutor ser empregado da
empresa, fatos incontroversos.
A lei civil pátria prevê expressa-
mente, no art. 932, III a responsabilida-
de pela reparação civil do empregador
ou comitentes, por seus empregados, ser-
viçais e prepostos, no exercício do tra-
balho que lhes competir, ou em razão
deles. A par da previsão legal da res-
ponsabilização do patrão por fato de
outrem com quem detém uma relação de
subordinação, é sedimentado o entendi-
mento jurisprudencial acerca da respon-
sabilidade solidária do proprietário do
veículo pelos danos culposamente cau-
sados por seu motorista.
Nesse sentido, colaciono os seguin-
tes precedentes das Turmas Recursais dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do
DF, in verbis:
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3232323232
“ACIDENTE DE TRÂNSITO.
COMPETÊNCIA. LEGITIMI-
DADE PASSIVA. SOLIDARI-
EDADE DO PROPRIETÁRIO.
PROVA ORAL. 1. O juizado
especial é competente para julgar
demanda de ressarcimento de dano
originado de acidente de veículos,
podendo a causa ser proposta,
dentre outros, no foro do domicí-
lio do autor. 2. O dono do veícu-
lo é solidariamente responsável
pelos prejuízos causados por cul-
pa do seu condutor. 3. Prepon-
deram as versões encontradas na
sentença acerca da prova oral, se
o apelante não providencia a trans-
crição dos depoimentos gravados
na fita magnética.”1 (grifei)
“ACIDENTE DE TRÂNSITO.
LEGITIMIDADE PASSIVA.
CERCEAMENTO DE DEFESA.
ORÇAMENTOS. VEÍCULO
EM MARCHA-A-RÉ. VIGI-
LÂNCIA REDOBRADA.
PROPRIETÁRIO. RESPONSA-
BILIDADE SOLIDÁRIA. 1) É
da alçada exclusiva da vítima de
dano envolvendo veículos optar em
demandar o causador do evento
(ou proprietário do carro) ou se
ressarcir perante a seguradora sua
contratada. 2) se quando da
lavratura do termo processual da
audiência de instrução e julgamen-
to, em sede de juizado especial, a
parte não vem deixar registrado seu
inconformismo sobre dispensa de
testemunhas, tal matéria não pode
ser alegada em segundo grau como
cerceamento de defesa, ainda mais
quando os autos já se encontravam
suficientemente instruídos. 3) or-
çamentos de oficinas
especializadas, não infirmados por
outra prova, são suficientes para
comprovar a extensão do dano. 4)
o proprietário do veículo é soli-
dariamente responsável com o
condutor pelo ressarcimento dos
danos ocorridos.”2 (grifei)
Nesse sentir, frente à disposição le-
gal que consagra a responsabilidade civil
indireta do empregador por fato de ou-
trem e o vigoroso entendimento
jurisprudencial acerca da responsabilida-
de solidária entre o condutor do veículo
causador do evento e seu proprietário,
afasto a preliminar de ilegitimidade de
parte suscitada pela recorrente para reco-
nhecer a sua legitimidade para figurar no
pólo passivo de ação de cunho reparatório
decorrente de acidente automobilístico
envolvendo veículo de sua propriedade e
conduzido por seu empregado.
Afastada a preliminar passo a aná-
lise do mérito recursal.
A eminente juíza monocrática ao
afastar a preliminar de ilegitimidade de
parte fez incursões no mérito proclaman-
do a responsabilidade objetiva do em-
pregador em reparar os prejuízos que seu
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3333333333
preposto causar no exercício do trabalho
e em razão dele, além de tomar por fun-
damento o enunciado da cláusula tercei-
ra do contrato social da empresa, onde
discrimina, dentre outras atividades, a
prestação de serviços de promoção de
eventos festivos, sociais, culturais, artís-
ticos, comerciais, fotografias, filmagens e
serviços de bufett, concluindo, pela pos-
sibilidade de haver atividades nos finais
de semana.
Propriamente ao mérito do pedi-
do, a sentença monocrática condenou a
recorrente à composição dos danos
advindos no veículo do recorrido, reco-
nhecendo a responsabilidade civil do
empregador, com base nos fundamentos
a seguir transcritos:
“(...) Para a caracterização da res-ponsabilidade civil é imprescindí-
vel a ocorrência de dano, material
ou moral, e a prática de ato ilícito
(artigos 927 c/c 186 do Código
Civil). No caso dos autos torna-
se prescindível a discussão sobre a
dinâmica do evento, posto que a
ré expressamente, a reconheceu e
o laudo do Instituto Criminalística
(fls. 22/24) é conclusivo nesse
sentido. Nesse contexto está evi-
dencia a responsabilidade civil da
ré de reparar o prejuízo material do
autor. (...)”
O novel Código Civil adotou no
art. 933 os postulados da teoria objeti-
va com relação a todas as hipóteses ar-
roladas no art. 932, restando ao em-
pregador provar que o causador do dano
não é seu empregado ou que o dano não
foi causado no exercício do trabalho ou
em razão dele.
Fixadas estas premissas e sendo
incontroverso que o motorista que con-
duzia o veículo é empregado da recor-
rente, resta perquirir se o acidente ocor-
reu no exercício do trabalho ou em razão
dele.
Nesse passo, anoto, desde logo,
progressão lógica da Juíza sentenciante
alicerçada nas atividades discriminadas
na cláusula terceira do contrato social da
recorrente (prestação de serviços de pro-
moção de eventos festivos, sociais, cul-
turais, artísticos, comerciais, fotografias,
filmagens e serviços de bufett) para con-
cluir acerca da possibilidade de haver
atividades nos finais de semana, mostra-
se justificada, em tese, visto que o even-
to aconteceu em um domingo. Porém, a
ilação da sentença monocrática, à míngua
de outros elementos que indicassem que
o motorista estava a serviço ou que o
evento aconteceu em razão dele, não se
mostra razoável, até porque reconhecido
no próprio decisum que o empregado
agia sem autorização da ré.
Confira-se, os seguintes excertos do
decisum:
“(...) O condutor do veículo da
ré, Ernane Martins Sousa, foi ouvi-
do em audiência (fl. 14) e confir-
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3434343434
mou que não tinha autorização da
ré para usar o carro no dia do fato
narrado na petição inicial e esse
aconteceu num domingo (19/10/
2003). (...) No caso dos autos
verifica-se que o motorista agia sem
autorização da ré e fora do horário
de trabalho. (...)”.
Nesse desiderato, se o motorista
conduzia o veículo sem autorização de seu
empregador em um domingo não se al-
cança outra conclusão senão que ele não
estava a serviço ou que o acidente acon-
teceu em razão dele, mostrando-se rele-
vante o registro no laudo pericial (fl. 42)
do uso de bebida alcoólica pelo condu-
tor.
Frente a estas circunstâncias res-
ta afirmar que a hipótese submetida a
exame não se enquadra no comando
normativo descrito no inciso III do ar-
tigo 932 do Código Civil, impondo
a exoneração da recorrente na com-
posição dos danos a que fora conde-
nada.
Do exposto, dou provimento ao
recurso para reformar a sentença
guerreada para absolver a recorrente da
condenação imposta. Sem custas e sem
honorários.
É o voto.
O Senhor Juiz JESUÍNO APA-
RECIDO RISSATO - Vogal
Peço vista.
O Senhor Juiz TEÓFILO RODRI-
GUES CAETANO NETO - Vogal
Aguardo.
DECISÃO
A Relatora conheceu do recurso,
rejeitando as preliminares e provendo-o.
O 1º vogal pediu vista. O 2º vogal
aguarda.
PEDIDO DE VISTA
O Senhor Juiz JESUÍNO APA-
RECIDO RISSATO - Vogal
Pedi vista dos autos, para melhor
examinar o caso, e passo agora a proferir
meu voto.
No que tange à existência de irre-
gularidade na peça contestatória, a qual
efetivamente não está assinada pela
advogada da contestante, acompanho o
voto de Vossa Excelência, eis que, quan-
do da audiência de instrução, onde foi
apresentada a contestação, o autor teve
oportunidade de tomar conhecimento da
peça contestatória e quedou-se inerte, não
lhe sendo lícito argüir a irregularidade
apenas em sede de recurso, quando já
operada a preclusão.
Também acompanho Vossa Exce-
lência no que diz respeito à alegada ile-
gitimidade passiva da ré, uma vez com-
provado que o veículo causador do dano
é de propriedade da ré e o motorista era
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3535353535
seu empregado. É remansosa a jurispru-
dência, no sentido de que o proprietário
do veículo responde, solidariamente,
pelos danos causados por terceiro na
condução do mesmo, podendo a vítima,
no caso, escolher contra quem deman-
dar, se contra o motorista ou contra o
proprietário.
No mérito, porém, peço vênia para
divergir do respeitável entendimento es-
posado.
A meu entender, é evidente que o
motorista da apelante, senhor Ernandes
Martins Sousa, somente estava de posse
do veículo causador do dano, no dia do
evento, em razão do trabalho que exercia
na empresa, da qual era motorista. Pois
não existia, na verdade, qualquer possi-
bilidade outra que lhe permitisse estar na
posse do veículo, não fosse o seu vínculo
empregatício com a ré e a função por ele
exercida.
Era justamente o seu trabalho na
empresa na condição de motorista e a
confiança de que gozava no desempe-
nho do trabalho, que lhe propiciava ter
livre acesso às chaves do veículo, a pos-
sibilidade de com ele se deslocar livre-
mente, inclusive nos finais de semana,
sem sentir-se na obrigação de avisar pre-
viamente aos patrões. Por isso, não vejo
como afastar a responsabilidade da
empresa em indenizar os prejuízos cau-
sados por seu empregado, na condu-
ção do veículo, sob alegação de que este
não estava autorizado a pegar o veículo
aos domingos.
No mais, se é verdade que o mo-
torista da ré estava de posse do veículo,
num final de semana, sem que os respon-
sáveis pela empresa tivessem conhecimen-
to do fato, como foi alegado, ressalta
evidente que a ré obrou com culpa in
vigilando.
E embora a juíza monocrática, no
caso, tenha definido a responsabilidade
da ré apenas sob o enfoque da respon-
sabilidade objetiva, nada obsta que a
Turma analise também o aspecto da res-
ponsabilidade subjetiva.
É sabido que todo proprietário
de coisa potencialmente perigosa, como
um veículo automotor, cuja condução
por qualquer pessoa, sem os cuidados
necessários, pode vir a causar dano a
outrem, tem o dever de guarda e vigi-
lância sobre a mesma. É dever do pro-
prietário de veículo manter sob sua
posse as chaves do mesmo, evitando
que venha a ser indevidamente utiliza-
do por outrem.
Assim, se o proprietário vier a en-
tregar as chaves do veículo a alguém, seja
motorista habilitado ou não, e este alguém,
culposamente, vier causar dano a outrem,
terá que indenizá-lo, pois patente a sua
culpa in eligendo. Por outro lado, se mes-
mo não as entregando, também não cui-
da da posse das chaves, de modo a fa-
cilitar que estas venham a cair nas mãos
de outrem, propiciando que este tercei-
ro venha a transitar com o veículo, paten-
te está sua culpa in vigilando, não haven-
do como se esquivar de indenizar even-
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3636363636
tuais danos causados pelo veículo, por
culpa de quem o conduzia.
No caso dos autos, a ré reconhece
que o acidente ocorreu por culpa exclu-
siva do seu motorista.
No entanto, procura afastar sua
responsabilidade, enfatizando este esta-
va utilizando o veículo, naquele dia, sem
a sua autorização e sem o seu conheci-
mento. Porém não explica, em momento
algum, como é que as chaves do veículo
foram parar nas mãos do motorista.
Ora, é certo que não houve roubo,
furto ou qualquer motivo de força maior,
nem a ocorrência de caso fortuito, que
justificasse estar o veículo na posse do
referido empregado. Se as chaves esta-
vam em seu poder, é porque os proprie-
tários lhe entregaram, ou então ele teve
livre acesso a elas, o que também carac-
teriza infração ao dever de vigilância, por
parte dos proprietários.
Aliás, a própria afirmação da ré,
na contestação, de que não tinha conhe-
cimento de que o veículo estava transi-
tando, no dia do fato, mostra sua negli-
gência, o seu descaso, em relação ao bem
integrante de seu patrimônio.Assim, tanto em face de sua res-
ponsabilidade objetiva, quanto pela cul-
pa com que agiu no episódio, não vejo
como eximir a apelante do pagamento dos
danos causados por seu motorista.
Por tais motivos, e pedindo vênia
mais uma vez à eminente relatora, nego
provimento ao recurso, para manter a con-
denação imposta no juízo monocrático.
Condeno a apelante ao pagamen-
to das custas processuais e honorários
advocatícios, os quais fixo em 20% (vin-
te por cento) sobre o valor da causa.
É como voto.
O Senhor Juiz TEÓFILO RODRI-
GUES CAETANO NETO - Vogal
Quanto às preliminares suscitadas,
acompanho integralmente a eminente
Relatora.
No mérito, acompanho integral-
mente o voto do eminente 1.o Vogal,
negando provimento ao recurso inter-
posto na forma da exposição promo-
vida por S. Ex.a, rogando vênia à douta
Relatora.
DECISÃO
Conhecido. Preliminares rejeitadas.
Unânime. Improvido. Maioria. Vencida
a Relatora, relatará o acórdão o 1º Vo-
gal.
(ACJ 2004031005947-5, 1ª TRJE, PUBL.
EM 28/05/07; DJ 3, P. 82)
Notas
1 APELAÇÃO CÍVEL NO JUIZADO ESPECIAL
20010110551514ACJ DF.
Órgão Julgador : Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais do D.F.
Relator : FERNANDO HABIBE.
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3737373737
2 APELAÇÃO CÍVEL NO JUIZADO ESPECIAL
19990710057104ACJ DF. Primeira Turma Recursal dos Juizados Especi-
ais Cíveis e Criminais do D.F.
Relator : SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS.
—— • ——
ASSINATURA BÁSICA
ASSINATURA BÁSICA RESIDEN-
CIAL, COBRANÇA - INTERVEN-
ÇÃO DA UNIÃO E ANATEL,
IMPOSSIBILIDADE - COMPLEXI-
DADE DA CAUSA, INEXISTÊN-
CIA - JUIZADO ESPECIAL CÍVEL,
COMPETÊNCIA
ACÓRDÃO Nº 275.430. Relator
Designado: Juiz Alfeu Machado. Ape-
lante: Elza Veiga Avalone. Apelada: Bra-
sil Telecom S/A.
EMENTA
CIVIL. CDC. ASSINATURA
RESIDENCIAL BÁSICA. COMPE-
TÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL
CÍVEL. INTERVENÇÃO DA
UNIÃO E ANATEL. REJEIÇÃO.
COMPLEXIDADE. INEXISTÊNCIA
PREÇO PÚBLICO. PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO INEXISTENTE. CO-
BRANÇA INDEVIDA. VALORES
PRETÉRITOS, A TÍTULO DE ASSI-
NATURA PAGA. DEVOLUÇÃO
EM DOBRO INCABÍVEL. AUSÊN-
CIA DE MÁ-FÉ. RECURSO CO-
NHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. O Juizado Especial so-
mente se revelará incompetente quando
a complexidade da causa estiver ligada à
dificuldade de demonstração do direito
e não quanto à sua qualidade. 1.1. Da
análise da lide posta a julgamento, não
se vislumbra qualquer interesse, seja jurí-
dico ou econômico, a proporcionar a in-
tervenção da União e da agência regula-
dora do setor (ANATEL) no presente
feito. 2. Não se revelando complexa a
questão controvertida nos autos, por ser
desnecessária a realização de perícia para
decidir matéria de direito, sendo a ques-
tão de fato solucionável mediante a pro-
dução de prova documental possível de
ser produzida, tanto por parte do con-
sumidor, como pela fornecedora e, não
sendo o caso de se convocar a ANATEL
para compor o pólo passivo da lide, não
merece ser acolhida a incompetência do
Juizado Especial Cível para conhecer e
decidir a matéria relativa a assinatura
residencial básica. 3. Os serviços de te-
lefonia caracterizam preço público e exi-
gem a efetiva prestação para autorizar a
sua cobrança. 4. Inexistindo a prestação
de serviços específicos a justificar a co-
brança da assinatura básica, indevido é o
valor exigido a este título, sob pena de
ensejar enriquecimento sem causa, veda-
do pelo art. 884, do novo Código Ci-
vil. Presente, ainda, a violação do Códi-
go de Defesa do Consumidor. 5. A de-
volução em dobro, da quantia
indevidamente paga, somente é cabível
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT3838383838
em caso de má fé. 6. Recurso conhecido
e parcialmente provido. Sentença refor-
mada.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da 2ª
Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios,
DIVA LUCY IBIAPINA - Relatora,
ALFEU MACHADO - Vogal, FÁBIO
EDUARDO MARQUES - Vogal, sob
a presidência do Juiz ALFEU MA-
CHADO, em CONHECER DO RE-
CURSO, REJEITAR A PRELIMI-
NAR, MAIORIA, DAR PROVI-
MENTO, SENTENÇA REFORMA-
DA, POR MAIORIA, de acordo com
a ata do julgamento.
Brasília (DF), 12 de abril de
2007.
RELATÓRIO
Cuida-se de Recurso Inominado
interposto por ELZA VEIGA
AVALONE contra decisão proferida
pela Excelentíssima Juíza de Direito do
5º Juizado Especial Cível de Brasília, DF,
que julgou improcedente pedido formu-
lado de decretação judicial de
inexigibilidade de cobrança de ‘assinatu-
ra básica residencial’ pela BRASIL
TELECOM S/A e de devolução em
dobro de valores que, a título de assina-
tura mensal, teriam sido indevidamente
cobrados, os quais correspondem à quan-
tia total paga de R$ 1.193,63 (hum
mil cento e noventa e três reais e centa-
vos). Postulou, ainda, pelo acréscimo de
juros, correção monetária e honorários
advocatícios de 20% sobre o valor da
condenação e custas processuais. Juntou
documentos diversos (fls.19-78).
A Companhia em desfavor de
quem foi proposta a demanda apresen-
tou defesa às fls. 80-95.
Argúi, em preliminar, não ser de
menor complexidade a causa sob exa-
me, pelo que afastada estaria a compe-
tência dos juizados especiais cíveis. In-
voca precedente do Superior Tribunal
de Justiça. Requer seja declarada a in-
competência dos Juizados. Diz da ne-
cessidade de chamamento ao feito da
ANATEL - Agência Nacional de Te-
lecomunicações, o que implicaria no
deslocamento da competência para a
Justiça Federal do Distrito Federal. No
mérito, afirma a Brasil Telecom S.A.
não estar a tarifa mensal de assinatura
básica voltada exclusivamente à cessão
de linha ou terminal telefônico, sendo
também destinada ao custeio de infra-
estrutura indispensável à realização dos
serviços de telecomunicações. Afirma a
legalidade da cobrança. Diz que even-
tual modif icação da sentença
monocrática constituirá indevida viola-
ção a direito adquirido e a ato jurídico
perfeito. Invoca disposições expressas
no artigo 5º, inciso XXXVI, da Consti-
tuição Federal, na chamada Lei Geral
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 3939393939
de Telecomunicações (Lei n.º 9.472/
97), em Resolução nº 85, de
30.12.1998 e em Contrato de Con-
cessão firmado com a ANATEL. Fala
da necessidade de manutenção do equi-
líbrio econômico-financeiro contratual-
mente assegurado à luz do artigo 37,
inciso XXI, da Carta Maior ...” (fl.
93). Pede o acolhimento das prelimi-
nares levantadas e, caso não o sejam,
requer a total improcedência dos pedi-
dos iniciais.
A sentença recorrida afastou todas
as questões preliminares argüidas pela
Defesa, afirmando a competência dos
juizados especiais cíveis para conhecer da
demanda proposta. No mérito, indicou
como razões de decidir os seguintes fun-
damentos (fls. 96-102):
- a cobrança da assinatura básica
encontra respaldo no ordenamento
jurídico e nas normas reguladoras
do setor de telecomunicações;
- faz menção ao Artigo 103 da
Lei n.º 9.472/97 que conferiu
poderes à ANATEL para fixar a
“estrutura tarifária” nos contratos de
concessão dos serviços de telefo-
nia;
- tem a Ré/Apelada custos
operacionais para manter, expan-
dir e modernizar a rede de teleco-
municações;
- jurisprudência de diversos Tribu-
nais de nosso país.
O pedido de reforma (fl. 105 e
fls.106-113) está basicamente apoia-
do em precedentes jurisprudenciais des-
te Colendo Tribunal.
Quer a Apelante ver modificada a
decisão de primeiro grau para que de-
clarada seja a inexigibilidade da cobran-
ça da chamada “assinatura básica
residencial”, eis que nula a cláusula que a
estabelece. Almeja, ainda, ver compelida
a Prestadora de serviços de telefonia a
se abster de cobrar qualquer valor relati-
vo àquela rubrica. Espera, também, al-
cançar provimento judicial que para a
Apelada estabeleça o dever de restitui-
ção em dobro dos valores cobrados e
efetivamentepagos a título de assinatura
mensal.
Não se manifestou a Brasil Telecom
S.A. em contra-razões, conforme atesta
certidão de fl. 116v.
Preparo efetuado, conforme guias
juntadas à fl. 114.
É o que, de relevante, havia a rela-
tar.
VOTOS
O Senhor Juiz CARLOS PIRES
SOARES NETO - Relator
Em Juízo de admissibilidade, co-
nheço do recurso porque presentes to-
dos os pressupostos objetivos (cabimen-
to, tempestividade, regularidade formal,
inexistência de fato impeditivo ou
extintivo do poder de recorrer) e subje-
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4040404040
tivos (legitimidade recursal e interesse
processual).
Antes de passar ao exame do mé-
rito recursal, faço consignar ressalva quan-
to a ponto de vista a que firmemente me
filio e que diz respeito à repartição de
competências entre os órgãos investidos
de jurisdição para decidir sobre conflito
de interesses relativo à legalidade da cha-
mada “assinatura básica residencial”.
É sabido que a distribuição de par-
celas de jurisdição - competências - de-
riva de garantia constitucional expressa
no LIII do Artigo 5º da Constituição
Federal de 1988, qual seja, “ninguém
será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente”. De tal
modo, ainda que quaisquer dos órgãos
investidos de jurisdição, juiz ou tribunal,
ao proferir decisões ou despachos, con-
figurem, por meio dos atos que praticam,
manifestação do poder estatal
jurisdicional, hão de ser observadas as
regras de racionalização da atividade
jurisdicional, mesmo porque estão elas
voltadas à necessária otimização daquela
função pública.
Assim, quanto à preliminar susci-
tada pela Defesa de complexidade da
ação declaratória em seu desfavor pro-
posta, peço as mais respeitosas vênias
aos Eminentes Pares para discordar do
entendimento que vem sendo sustentado
por essa Egrégia Turma Recursal.
O motivo da divergência está na
convicção de que a matéria em exame
reclama a análise de duas questões de
extrema relevância, porque dela absolu-
tamente indissociáveis: uma, relativa ao
fato de para solução da demanda haverá
de ser conhecida matéria de ordem pú-
blica; outra, atinente à circunstância de
que, pela sistemática processual hoje em
vigor, mostra-se inviável o reexame da
questão pelo Superior Tribunal de Justi-
ça.
Permito-me, neste ponto, com o
que reafirmo entendimento que venho
sustentado, embora não se trate de posi-
ção vitoriosa, invocar recente decisão
proferida, à unanimidade, pela Primeira
Seção do Superior Tribunal de Justiça
em Conflito de Competência n.º 2004
/ 0183495 - 5, que teve como relator
o eminente Ministro Luiz Fux. Dito pre-
cedente teve Ementa redigida nos seguin-
tes termos:
“PROCESSO CIVIL. CONFLI-
TO DE COMPETÊNCIA. AS-
SINATURA BÁSICA RESI-
DENCIAL. AÇÃO DECLA-
RATÓRIA DE INEXISTÊNCIA
DE DÉBITO. BRASIL
TELECOM S/A. EMPRESA
CONCESSIONÁRIA DE SER-
VIÇO PÚBLICO FEDERAL.
ILEGITIMIDADE PASSIVA
DA UNIÃO OU QUAIS-
QUER DOS ENTES
ELENCADOS NO ART. 109
DA CF / 88. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA ESTADUAL.
(...)
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4141414141
3. Destarte, não só pela comple-
xidade, mas também pelo seu es-
pectro, não se justifica que a de-
manda tramite nos Juizados Espe-
ciais, máxime porque, na essência
a repercussão transindividual do
resultado da decisão atinge a
higidez da concessionária e, ad
eventum, da própria Fazenda Pú-
blica, poder concedente, sendo
certo que, não é outra a ratio
essendi que impede as ações
transindividuais nos Juizados.
4. Ressalva do ponto de vista do
relator, porquanto versando a de-
manda objeto transindividual, reve-
la-se complexa a solução da cau-
sa, incompatibilizando-se com os
Juizados Especiais, mercê de o art.
3º, da Lei 9.099 / 95 vedar a
esse segmento de justiça a cognição
de feitos de interesse de concessi-
onárias em razão do potencial
fazendário encartado na demanda.
5. Forçoso, concluir, assim, que se
os Juizados Especiais não são com-
petentes para as referidas deman-
das, as mesmas devem ser
endereçadas à Justiça ordinária
para que, através de ampla
cognição plenária e exauriente, pos-
sa o Judiciário dispor de interes-
ses notadamente transindividuais,
que não são descaracterizados pela
repetição de ação uti singuli, mas
calcadas na mesma tese jurídica.
6. Destaque-se, por fim, que a
Justiça Estadual pode definir es-
ses litígios deveras complexos sob
o pálio da gratuidade de justiça,
tornando-se acessível à população
menos favorecida que acode aos
Juizados Especiais.
7. Conflito conhecido para decla-
rar competente o Juízo de Direito
da 11ª Vara Cível de João Pessoa
- PB, o suscitado, ressalvado o meu
posicionamento.”
Ora, a situação reconhecida por
uma de nossas mais altas Cortes de Jus-
tiça tem origem na inquestionável existência
de fator impeditivo de acesso ao Supe-
rior Tribunal de Justiça quando for ele
acionado por meio de recurso ordinário
constitucional ou especial para rever de-
cisão proferida em grau de recurso pelas
chamadas Turmas Recursais, órgãos
colegiados de 1º grau, mas que julgam
em 2º grau de jurisdição, e que compõem
a estrutura dos Juizados Especiais. É que,
segundo vem reiteradamente decidindo
em interpretação ao Artigo 105, inciso
II, alínea “b”, da Constituição Federal de
1988, sendo taxativa a enumeração
constitucional dos recursos cabíveis tan-
to para si, STJ, como para o Supremo
Tribunal Federal, carece-lhe competência
recursal (RSM 13295 / BA; RMS
16100 - SC; AGRG NO MS
10408 - MG) por não serem “Tribu-
nais” ditos órgãos. “O STJ não tem com-
petência para julgar recurso ordinário de
decisão proferida por turma recursal do
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4242424242
Juizado Especial”, é o que está posto
em Ementa publicada no Diário da Justi-
ça em data de 12.9.2005, conforme
RMS 20001 / GO - 2005 /
0072695 - 6.
Eminentes Pares, tenho como ab-
surdo imaginar possa o Superior Tribunal
de Justiça, guardião do ordenamento
jurídico federal, órgão de 2º grau de ju-
risdição no exercício de sua competência
recursal, ter subtraída à sua atuação de-
manda em que se discute a validade de
legislação editada pela União, entidade
federativa a quem o legislador constitu-
inte conferiu competência originária para
praticar atos de gestão relativos a tele-
comunicações (Art. 21, XI, CF / 88),
além de haver-lhe conferido competên-
cia legislativa exclusiva e aplicável a to-
das as pessoas, órgãos e instituições no
Brasil para legislar sobre tal matéria (Art.
22, IV, CF / 88). A mim resta evidente
haver concedido nossa Magna Carta,
neste ponto, em relação aos demais en-
tes federados, clara supremacia à União
Federal. Esta, de sua vez, ao editar a Lei
Geral de Telecomunicações (n.º 9.472,
de 16 de julho de 1997) e, por sua
autarquia, baixar a Resolução n.º 85, de
30 de dezembro de 1998, que aprova
Regulamento do Serviço Telefônico Fixo
Comutado, segundo normas editadas em
Anexo que o acompanha, agiu nos estri-
tos limites de suas atribuições constituci-
onais. Todavia, se possível for o
processamento da presente ação
declaratória pelo sistema processual dos
Juizados Especiais Cíveis de Menor
Complexidade, impedida estará a tutela
de interesses ou direitos dos consumido-
res pelo Superior Tribunal de Justiça,
órgão do Poder Judiciário Brasileiro a
quem compete, como atribuição consti-
tucional, preservar a unidade e autorida-
de do direito federal, sob a inspiração
de que nele o interesse público, refletido
na correta interpretação da lei, deve pre-
valecer sobre os interesses das partes.
Vale lembrar que os Juizados Es-
peciais, criados com base no Artigo 98,
inciso I, da Constituição Federal, con-
quanto tenham sido constituídos como
instrumentos de execução da Política
Nacional das Relações de Consumo
(Artigo 5º, inciso IV, e Artigo 81,
caput, ambos do Código de Defesa do
Consumidor) não podem se afastar da
idéia original depropiciar um acesso mais
facilitado à justiça para o cidadão co-
mum, em especial a camada mais humilde
da população, não sendo sua finalidade
resolver a chamada crise da justiça, sua
morosidade e ineficiência na solução dos
conflitos individuais ou coletivos em que
estejam envolvidos os jurisdicionados.
Assim, pelas razões acima
aduzidas, ressalvo meu ponto de vista,
porquanto entendo que a expressão “me-
nor complexidade” não pode estar res-
trita ao contexto de exame probatório,
eis que nas demandas em que estiver evi-
denciado o interesse público e da Fazen-
da Pública evidenciada estará também sua
maior complexidade.
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4343434343
Feita a necessária ressalva, passo
ao exame do mérito.
Pois bem, quanto à questão devol-
vida ao conhecimento desta Egrégia Tur-
ma Recursal por meio de pedido formal-
mente regular de modificação do provi-
mento judicial concedido pelo juízo a
quo, tenho que a decisão contra que se
insurge a Apelante deve ser mantida por
seus próprios e jurídicos fundamentos.
Todavia, ainda que suficientes as
razões de decidir lançadas pela Eminen-
te Magistrada a quo, peço licença a Vos-
sas Excelências para tecer as considera-
ções que se seguem:
Decidir sobre telecomunicações é
ato de gestão que o legislador constitu-
inte, ao distribuir as competências mate-
riais ou administrativas, atribuiu, expres-
samente e com exclusividade, à União
(Artigo 21, inciso XI, da Magna Car-
ta). Legislar sobre dita matéria - teleco-
municações - e sobre concessão de servi-
ço público que tal, de idêntico modo,
foi competência dada pela Lei Maior, em
caráter originário e exclusivo a uma única
entidade federativa, a União Federal
(Artigo 22, inciso IV, CF / 88). As-
sim, frente ao exame das normas postas
na Lei Geral de Telecomunicações (n.º
9.472, de 16 de julho de 1997) e na
Resolução n.º 85, de 30 de dezembro
de 1998, que aprova Regulamento do
Serviço Telefônico Fixo Comutado, se-
gundo normas editadas em Anexo que
complementa aquele ato normativo, não
creio esteja a Apelada, Brasil Telecom
S/A, agindo fora dos limites legais a ela
impostos.
É prevista a cobrança de tarifas
(Artigos 19, VII, e 93, VII, da LGT e
Artigos 3º, inciso XXI, e 89, ambos do
Anexo à Resolução n.º 85/88), sendo
por demais simplista a análise que tece o
Autor-Apelante quando examina as obri-
gações pecuniárias a que estão sujeitos
os usuários dos serviços de telecomuni-
cações. Além do mais, sem qualquer ra-
zão plausível, trata o assunto de forma
atomizada, para com isso conferir peso
menor aos serviços prestados pela Re-
corrida. A questão, salvo melhor juízo,
há de ser molecularmente analisada, de
maneira a que se possa, de modo apro-
priado, dar solução a conflitos tais como
o consubstanciado nesta demanda e que
constitui, nitidamente, interesse individu-
al homogêneo.
É inegável, Eminentes Magistrados,
que, se tivermos em conta a legislação
federal atualmente em vigor, a Apelada,
concessionária de serviço público fede-
ral, ao cobrar do Apelante, cessionário
de terminal telefônico, valores referentes
a assinatura básica mensal, em nada atua
fora dos limites da autorização legal que
lhe foi conferida. Poder-se-ia questionar
estarem, ou não, os valores cobrados
atendendo às disposições das leis que
disciplinam os serviços a serem presta-
dos pelas sociedades comerciais conces-
sionárias de serviço público de teleco-
municações (Artigo 2º de Lei n.º 9.472
/ 97). Se há proporcionalidade; se está,
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4444444444
ou não, devidamente balanceada a im-
portância indicada como valor cobrado
a título da chamada “tarifa de assinatura
básica residencial”; se restou observado
o princípio da razoabilidade na fixação
do preço estipulado; estas, sim, são dú-
vidas plausíveis. Cepticismo aceitável
poder-se-ia experimentar relativamente ao
quantum debeatur, não, porém, quanto à
legalidade da dívida.
Considero ser a questão relativa à
existência, ou não, de razoabilidade nos
preços estipulados para fins de pagamento
matéria que ao crivo do Poder Judiciário
poderá ser submetida. A tese assim le-
vantada, entretanto, não haverá de ser
discutida perante os Juizados Especiais
Estaduais ou Federais, frente à necessi-
dade de produção de prova complexa
sobre a composição do preço, o que afas-
ta a viabilidade de ali ser processada e
julgada demanda que contenha dito ob-
jeto e causa de pedir.
Importa consignar, ainda, a opção
feita pelo legislador constituinte de sub-
meter a chamada ordem pública de pro-
teção aos consumidores às regras de or-
dem pública social e de ordem pública
econômica. Daí porque, conquanto te-
nha o ordenamento jurídico constitucio-
nal estabelecido a defesa do consumidor
como um dos princípios da ordem eco-
nômica (Artigo 170, Inciso V, CF/88),
plausibilidade há na diferenciada repar-
tição de custos que pesa sobre os usuá-
rios, embora se reconheça como legítimo
o interesse do consumidor em ver barate-
ados os preços dos serviços de telefonia
que lhe são prestados. É que o diferen-
cial representado pela cobrança de “as-
sinatura básica” serve ao custeio de in-
dispensáveis serviços de infra-estrutura da
rede de telecomunicações, o que resulta
em benefício a toda a coletividade. Ca-
racterizado o interesse público de natu-
reza social e econômico, ambos materia-
lizados na possibilidade de conceder
melhores serviços, pelo emprego de
tecnologias continuamente aprimoradas,
a um maior número de pessoas, deve pre-
valecer o interesse da coletividade sobre
o interesse individual.
Na hipótese sub judice, em que a
equação a ser resolvida não se limita à
tradicional oposição entre segurança pú-
blica e liberdade individual, constituin-
do, antes, em provocação feita ao Poder
Judiciário para que equacione a fórmula:
direitos fundamentais (dimensão cole-
tiva) versus direitos fundamentais (di-
mensão individual), nada há de ilícito
na conduta da Ré-Apelada, nada há de
reprovável nos comandos normativos edi-
tados pelo Estado e por meio dos quais
autoriza as empresas concessionárias de
serviços de telefonia a cobrar valores que
sob a rubrica “assinatura básica” são iden-
tificados.
Enfim, Eminentes Julgadores, é meu
voto no sentido de que seja CONHE-
CIDO O RECURSO, MAS A ELE
NEGADO PROVIMENTO, de
modo a ser mantida, em todos os seus
termos, a sentença impugnada.
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4545454545
Por fim, havendo a Recorrente su-
cumbido na totalidade de seus pleitos,
condeno-a ao pagamento de custas pro-
cessuais e verba honorária que arbitro em
10% (dez por cento) sobre o valor cor-
rigido da causa, nos exatos termos do
que determina o Artigo 55, segunda
parte, da Lei n.º 9.099/95.
É como voto.
O Senhor Juiz ALFEU MACHA-
DO - Presidente e Vogal
Rogo as devidas vênias à ilustre
Relatora para rejeitar a preliminar argüi-
da de ofício porque, embora não levan-
tada no recurso inominado, foi coloca-
da. Então, rejeito a preliminar e entendo
a competência na esteira do
posicionamento das turmas recursais.
No tocante ao mérito, em voto es-
posado em recursos inominados anterio-
res, tenho entendido pela ilegalidade da
cobrança da assinatura básica, que viola
o Código de Defesa do Consumidor.
Por isso, o meu voto é no sentido
de reformar a sentença e dar provimento
ao recurso inominado.
O Senhor Juiz FÁBIO EDUAR-
DO MARQUES - Vogal
Senhor Presidente, na esteira do
que tenho decidido, afasto a preliminar
argüida de ofício pela eminente Relatora
e dou provimento ao recurso, ressalvan-
do, entretanto, as parcelas que não esti-
verem comprovadas devidamente pelas
notas fiscais de cobrança da empresa te-
lefônica.
Assim o faço pelas seguintes ra-
zões.
COMPETÊNCIA:
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO
A agência responsável pela expe-
dição de normas reguladoras do setor de
telefonia, assim como a União,não res-
ponde pela conduta da concessionária e
pelos eventuais danos por esta causada
na relação jurídica mantida com seus as-
sinantes.
No Superior Tribunal de Justiça há
precedentes que reconhecem não haver
interesse na lide do poder concedente
(CC 47.107/SC e CC 54.119/RN,
Primeira Seção, Ministro LUIZ FUX).
Destaca-se do precedente julgado
que, “tratando-se de relação jurídica ins-
taurada em ação entre a empresa conces-
sionária de serviço público federal e o
usuário, não há interesse na lide do po-
der concedente, no caso, a União, fale-
cendo, a fortiori, competência à Justiça
Federal”, pois “o que se discute aqui é
unicamente a relação contratual entre usu-
ário e empresa fornecedora do serviço”
e “não está em causa o poder de fiscali-
zação da ANATEL”. Logo, “mesmo que
a ANATEL viesse aos autos espontane-
amente, pretendendo assistir a concessi-
onária, essa assistência, mesmo que ad-
mitida, não implicaria competência da
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4646464646
Justiça Federal, salvo se configurado seu
efetivo interesse jurídico, que só ocorre
quando alguma relação jurídica de que
ela seja parte sofra conseqüências da
decisão judicial, o que certamente não é
o caso dos autos, já que, qualquer que
seja a decisão, nenhuma conseqüência
sofrerá a ANATEL” (CC 54.119/RN,
Ministro LUIZ FUX, DJ 29.05.2006).
Destarte, observada a natureza da
ação sustentada na cobrança indevida de
assinatura básica, resulta evidente a ilegi-
timidade passiva de qualquer ente arro-
lado no artigo 109 da Constituição Fe-
deral e, portanto, descabida a remessa
dos autos à Justiça Federal.
COMPETÊNCIA DO JUIZADO:
COMPLEXIDADE DA MATÉRIA
O artigo 3º da Lei Federal 9.099/
95 dispõe que “o Juizado Especial Cí-
vel tem competência para conciliação,
processo e julgamento das causas cíveis
de menor complexidade”. Compreende-
se, entretanto, que a complexidade da
causa não se liga à qualidade do direito,
e sim à dificuldade de sua demonstração
(ACJ 2003.03.1.008905-3, Juiz
LUCIANO VASCONCELLOS).
Especificamente sobre a cobrança
de assinatura básica, esta Segunda Tur-
ma Recursal já se pronunciou em outra
oportunidade:
“JUIZADO ESPECIAL - COM-
PETÊNCIA - SERVIÇOS DE
TELEFONIA - COBRANÇA
DE ASSINATURA BÁSICA -
COMPLEXIDADE DA MATÉ-
RIA. A complexidade da causa,
suficiente para tornar o Juizado
Especial incompetente, é aquela
que diz respeito ao objeto da pro-
va, e não ao direito material pro-
priamente dito, colocado em dis-
cussão. Por outro lado, o interesse
público que emerge da ação não é
critério adotado para a fixação da
competência em nosso sistema jurí-
dico. A matéria posta em discus-
são (ilegalidade da cobrança de as-
sinatura básica) não se mostra com-
plexa de maneira a ensejar o reco-
nhecimento da incompetência do
juízo especial, a qual exige apenas
interpretação de direito, prescin-
dindo de qualquer prova técnica,
podendo ser perfeitamente apre-
ciada e decidida no âmbito do
Juizado Especial” (ACJ
20050110058434, Juiz SIL-
VA LEMOS, DJ
07.12.2006).
Em realidade, ao estabelecer a cri-
ação de Juizados Especiais competentes
para o julgamento de causas cíveis de
menor complexidade, inclusive por tur-
mas recursais compostas de juízes de pri-
meiro grau (artigo 98), o mesmo consti-
tuinte originário não entendeu necessário
qualificar o direito submetido ao exame
dos juízes togados que prestam jurisdi-
JURISPRUDÊNCIA CÍVEL – ACÓRDÃOS 4747474747
ção nesta Justiça especial, que não são
menos ou mais habilitados que os da Jus-
tiça comum, porém, antes deixou ao en-
cargo do legislador ordinário a opção das
hipóteses, obviamente sem olvidar dos
critérios da oralidade e celeridade que
informam o “procedimento sumaríssimo”,
este sim o requisito imposto na Consti-
tuição Federal. Daí porque a incompe-
tência se mostra presente quando há di-
ficuldade na demonstração do direito
pela imperiosidade de dilação probatória.
Por prisma diverso, como o consti-
tuinte originário não compreendeu impres-
cindível o reexame, em recurso especial,
das causas decididas pelas turmas
recursais dos Juizados Especiais, em úni-
ca ou última instância (artigo 105, III),
como, aliás, é o entendimento pacifica-
do pela Súmula 203 do Superior Tri-
bunal de Justiça, não há falar-se em inte-
resse público que por si só modifique a
competência da Justiça especial, a fim
de viabilizar o acesso da matéria na órbi-
ta de competência especial do Superior
Tribunal de Justiça.
CLÁUSULA CONTRATUAL:
ACEITAÇÃO DO
CONSUMIDOR
Como será exposto adiante, o caso
reclama a aplicação do Código de De-
fesa do Consumidor. Nesse passo, justi-
fica-se a intervenção judicial quando ob-
servada nulidade de pleno direito ou prá-
tica abusiva pelo fornecedor de serviços,
nos termos do artigo 6º, inciso V, artigo
39, inciso V, e artigo 51, ambos do
Código de Defesa do Consumidor.
De certo que o princípio “pacta
sunt servanda” informa a validade e os
efeitos do contrato livremente entabula-
do entre pessoas capazes, não sendo
empecilho, entretanto, para a apreciação
judicial, como em qualquer ato jurídico,
quando violados princípios de ordem
pública, tal como acontece com as regras
estatuídas no Código de Defesa do Con-
sumidor.
Logo, “a aceitação das cláusulas
contratuais pelo consumidor, bem assim
a garantia de inviolabilidade do ato jurí-
dico perfeito, não obrigam o consumidor,
quando se está diante de cláusulas iní-
quas, abusivas e que ensejam enriqueci-
mento sem causa. Como se sabe, a mo-
derna teoria geral dos contratos autoriza
a intervenção estatal nos ajustes entre
particulares, de modo a adequá-los aos
princípios da boa-fé, da probidade e da
função social dos contratos” (ACJ
20060110331023, Juiz CÉSAR
LOYOLA, Segunda Turma Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do
D.F., DJ 30.11.2006).
ASSINATURA BÁSICA
Em tema de prestação de serviços
públicos, os direitos dos usuários são
ordinariamente regidos por legislação es-
pecial. Essas leis são da alçada privativa
da União em razão dos serviços públicos
REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT4848484848
concedidos por este ente, daí por que a
legislação local teve a eficácia afastada
pelo Supremo Tribunal Federal em ações
direta de inconstitucionalidade, a exem-
plo: (1) ADI-MC 3.322 (Ministro
CEZAR PELUSO, DJ 19.12.2006)
referente à Lei Distrital 3.426/04, que
dispõe sobre obrigações na confecção das
faturas e sobre unidade de tarifação, ônus
da prova, termo de adequação às suas
normas e aplicação de multas às conces-
sionárias de telefonia fixa; (2) ADI
3.533-9 (Ministro EROS GRAU, DJ
06.10.2006) referente à Lei Distrital
3.596/05, que dispõe sobre contado-
res de pulso em cada ponto de consumo
no endereço que estiverem instaladas, no
âmbito do Distrito Federal.
Ocorre que não há qualquer rele-
vância no particular à inconstitucionalida-
de de lei local, para o desate da matéria
de fundo posta a exame deste Juízo, ten-
do em conta as normas previstas em lei
federal - o Código de Proteção e Defesa
do Consumidor.
É certo que a incidência do Códi-
go de Defesa do Consumidor não se so-
brepõe à legislação federal que trata das
concessões e permissões de serviços pú-
blicos, porém, sua aplicação é supletiva
no que couber.
Ora, a Constituição Federal (ar-
tigo 175, parágrafo único, incisos II e
III) remete os direitos dos usuários e
a política tarifária à disciplina por lei
do Poder Público que concede ou per-
mite a prestação de serviços públicos.
A norma constitucional é clara e diz
que “a lei disporá sobre: (...) II - os
direitos dos usuários; III - política
tarifária”.
A delegação do legislador consti-
tuinte não pode ser subdelegada pelo
legislador ordinário ao Poder Executivo,
para disciplina da matéria por ato admi-
nistrativo.
Já decidiu o Supremo Tribunal Fe-
deral que o Poder Executivo não pode
valer de delegação

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