Buscar

Aula 6 As Escolas Pioneiras e suas Características

Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO À ENFERMAGEM 
A PROFISSIONALIZAÇÃO DO AGENTE DO CUIDADO 
A IMPLANTAÇÃO DO ENSINO DE ENFERMAGEM NO BRASIL: AS ESCOLAS PIONEIRAS E SUAS 
CARACTERÍSTICAS 
A ENFERMAGEM NO BRASIL 
No Brasil o processo de cuidar iniciou antes da descoberta do país, pois os índios (pajés) já cuidavam de seus 
doentes. Após a colonização, outros assumiram a responsabilidade de cuidar dos doentes. 
Na época, os responsáveis pela saúde eram o Físico-Mor (encarregado do controle da medicina) e o Cirurgião-Mor 
(mesmo poder em relação à cirurgia), além de voluntários leigos. Essas funções, no entanto, permaneceram por 
longos períodos sem ocupantes no Brasil, pois eram raros os médicos que aceitavam transferir-se para o país. 
A população, por sua vez, tinha medo de se submeter aos tratamentos, preferindo os Boticários (espécie de 
farmacêuticos), curandeiros ou indígenas, graças à eficiência dos Remédios Populares. 
A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em seguida, ainda no século XVI, 
surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em 
1880, com a presença de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina. 
Com a fundação das primeiras Santas Casas de Misericórdia (entre 1543 e 1880) modificou-se o perfil de quem iria 
tratar dos enfermos. Religiosos e jesuítas foram especialmente preparados e encarregados de pequenas unidades de 
atendimento, denominadas de enfermarias e boticários. A eles também cabia o treinamento de voluntários de 
maneira informal. 
Entre os religiosos, merece destaque o Padre José de Anchieta, que, além de ser o responsável pelo ensino de 
ciências e catequeses, também atendia aos necessitados, exercendo atividades de médico e enfermeiro. Em seus 
escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus primitivos habitantes, o clima e as doenças mais comuns. 
A terapêutica empregada era à base de ervas medicinais minuciosamente descritas. 
Supõe-se que os Jesuítas faziam a supervisão do serviço que era prestado por pessoas treinadas por eles, já que não 
há registro a respeito. 
Outra figura de destaque é Frei Fabiano de Cristo, que durante 40 anos exerceu atividades de enfermeiro no 
Convento de Santo Antonio do Rio de Janeiro, no Séc. XVIII. 
Nesta época, os escravos também tiveram relevante função ao auxiliar as famílias e os religiosos nos cuidados aos 
doentes. 
Havia ainda as “comadres ou parteiras curiosas”. Estas pessoas, exclusivamente mulheres, conheceram a arte do 
partejar, baseada unicamente em noções elementares, transmitidas pelas mulheres mais velhas. 
Em 1738, Romão de Matos Duarte consegue fundar no Rio de Janeiro a Casa dos Expostos, cuja primeira sala de 
partos passou a funcionar ali, em 1822, ano em que o Brasil tomou as primeiras medidas de proteção à maternidade 
que se conhecem na legislação mundial, graças à atuação de José Bonifácio Andrada e Silva. 
Em 1815, quando o Brasil passou a ser Reino Unido de Portugal tornando-se parte das rotas comerciais inglesas, 
houve um aumento da circulação de navios, mercadorias e pessoas na cidade do Rio de Janeiro. 
A falta de uma estrutura sanitária eficiente e a chegada de imigrantes trouxe um grande número de doenças como 
varíola, cólera, malária, febre amarela, além das doenças mentais, gerando grande preocupação por parte das 
autoridades. 
Neste período foram fundadas as Primeiras Escolas de Medicina – RJ (1813) e na Bahia (1815). 
Em 1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A escola de 
parteiras da Faculdade de Medicina diplomou no ano seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira 
formada no Brasil. 
Em 1850, foi criada a Junta de Higiene Pública, que se tornou responsável pelo início do controle do exercício 
profissional dos médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras, que teriam de registrar seus diplomas no Rio 
de Janeiro, na corte. Iniciava-se assim a regulamentação das profissões ligadas à saúde, cujo objetivo era eliminar o 
charlatanismo. 
Em 1852 chega ao Rio de Janeiro a congregação das Irmãs de Caridade para atuar não só em missão religiosa, mas 
também como cuidadoras de enfermos nas Santas Casas de Misericórdia e em outras instituições nas quais 
 
2 
mantinham atividades. As irmãs realizavam um cuidado de cunho religioso e caritativo. Não havia um respaldo 
científico. 
Assim, antes de 1890, o exercício da enfermagem no Brasil era praticado com base na solidariedade humana, no 
misticismo, no senso comum e também nas crendices. Neste período, não havia propriamente escolas de 
Enfermagem, mas instituições religiosas cujo ensino e orientação da prática não seguiam um programa formal. O 
aprendizado era feito de forma empírica (baseado na experiência, sem caráter científico), pela imitação dos 
superiores e dos já iniciados na arte de cuidar. 
O status e prestígio da enfermagem se originaram na maneira como os enfermeiros foram capazes de dar a uma 
atividade doméstica rudimentar a forma de uma atividade técnica, científica, moderna e sistematizada, dentro ou 
fora da instituição hospitalar. 
O PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO DA ENFERMAGEM 
PROFISSÃO: CONCEITO 
Profissão, segundo Ferreira (1975), é definida como atividade ou ocupação especializada, da qual se podem tirar os 
meios de subsistência. 
Tem como sinônimos: ocupação, ofício, meio de vida, emprego ou atividade que requer conhecimentos especiais e, 
geralmente, preparação longa e intensiva. 
O termo ofício, segundo esses dicionaristas, pode significar trabalho, ocupação, arte, emprego, função, 
incumbência, encargo, dever, papel, obrigação, cargo público ou oficial, serviço ou modo de vida. O significado da 
palavra ofício abrange, entre outras definições, qualquer arte manual ou mecânica. Na prática atual, os termos ofício 
e profissão têm sido usados indistintamente. 
De acordo com o Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, profissão é uma atividade econômica 
especializada, permanente e institucionalizada legalmente, cujo status e cujos papéis sociais de seus agentes podem 
ser modificados no tempo e no espaço, mas conferem nítida superioridade ao profissional em relação à sua clientela. 
Neste dicionário, Norbert Elias, da década de 1970, afirmava que: 
“No sentido mais antigo, o termo profissão se refere às profissões de sacerdócio, advocacia e medicina, as primeiras 
ocupações que trouxeram oportunidade de ganhar a vida, sem envolver comércio nem trabalho manual às pessoas 
que viviam de renda oriunda do trabalho. No sentido mais recente, o termo se refere a todas as pessoas que 
possuem instrução acadêmica, diploma ou equivalente, como cientistas, professores, sociólogos, funcionários 
públicos, arquitetos”. 
De um modo geral pode-se afirmar que, independente do caráter manual ou intelectual, todas as profissões da área 
de saúde prestam serviços destinados a promover, manter ou recuperar a saúde e prevenir doenças. 
A PROFISSIONALIZAÇÃO DA ENFERMAGEM NO BRASIL 
O processo de profissionalização, normalmente, se inicia pela identificação de uma necessidade social não atendida, 
ou mal atendida, pelas profissões existentes. Portanto, os motivos que deram origem à profissionalização da 
enfermagem no Brasil são idênticos aos da Europa. 
Isso ocorreu porque os médicos brasileiros, ao retornar de seus estudos na Europa, trouxeram para o Brasil não só os 
conceitos da pasteurização (esterilização por aquecimento e posterior resfriamento) e da assepsia como também as 
idéias laicas dos serviços de enfermagem. 
Além disso, estes médicos sentiam a necessidade de contar com dóceis auxiliares (pessoas mais submissas para 
realizar os trabalhos de atendimento aos doentes), para que seus princípios e regras fossem aceitos sem contestação. 
Dessa forma, o Brasil acompanhava as práticas e os modelos assistenciais instituídos na Europa, uma vez que o 
ensino formal de enfermagemera ministrado por excelentes médicos que haviam estudado e estagiado nos melhores 
hospitais franceses. Dentre eles podem ser citados Juliano Moreira, Fernandes Figueira, Miguel Pereira, Afrânio 
Peixoto e Oscar Ramos. 
O movimento de profissionalização da enfermagem no Brasil surgiu diante da necessidade de aprimoramento de 
pessoal para cuidar dos doentes, fato este que resultou na criação da primeira escola de enfermagem do país. 
O atendimento à pacientes psiquiátricos sempre despertou a atenção das autoridades, tanto dos médicos como dos 
religiosos e leigos. Assim, a necessidade de uma instituição para o abrigo específico de doentes mentais se fazia 
presente, pois todos aqueles que apresentassem problemas de loucura eram confinados em prisões, como 
criminosos, ou confinados a celas em instituições de saúde, tratados inadequadamente e por vezes sob torturas 
 
3 
físicas. Segundo Moreira (2002), para a sociedade era conveniente a restrição destes doentes do convívio social, 
devendo ser construídos para eles asilos e abrigos afastados dos centros urbanos. 
Assim, em 1841, D. Pedro II criou no Rio de Janeiro o Hospício Pedro II, localizado na Chácara do Vigário Geral, 
de propriedade da Santa Casa de Misericórdia. As obras tiveram início em 1842, vindo a funcionar dez anos depois, 
com 144 pacientes hospitalizados. No hospício havia grades, celas de isolamento e quartos fortes, mas existia um 
esboço de tratamento ocupacional, com instrumentos de música, oficinas para trabalhos manuais e, sobretudo, 
claridade e pátios arborizados. 
Após a construção do novo prédio, o Ministro do Governo Provisório, Aristides Lobo, pelo Decreto no 142, de 11 de 
janeiro de 1890, determinava a desanexação do hospício e suas colônias da Santa Casa de Misericórdia. O Hospício 
Pedro II passou então a denominar-se Hospício Nacional de Alienados. 
De acordo com o novo regulamento do Hospício, aprovado pelo decreto nº. 508, de 21/06/1890, foi suspenso o 
trabalho das Irmãs de Caridade da Congregação de São Vicente de Paulo que prestavam assistência aos 
hospitalizados. Essa medida fez com que todas se retirassem da instituição em agosto de 1890. 
A saída da congregação Irmãs de Caridade foi decorrente de uma questão política de confronto entre o poder do 
Estado com o poder da igreja, situação essa que já havia ocorrido na Europa, no período da laicização dos hospitais 
(retirada da influência religiosa), visto que a nova ordem social e política do Estado diferia da política adotada pelas 
Santas Casas de Misericórdia no cuidado junto aos doentes. 
Na época, o que motivava as ações das Irmandades de Misericórdia girava em torno de sete obras ou compromissos 
de caráter espiritual e sete obras de natureza corporal. 
Os compromissos espirituais eram: 
“Ensinar os simples, dar bom conselho a quem o pede, castigar os que erram, consolar os desconsolados, perdoar 
aos que nos injuriaram, sofrer injúrias com paciência e rezar pelos vivos e pelos mortos”. 
Os compromissos corporais eram: 
“Dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; visitar 
enfermos e encarcerados; reunir os cativos; enterrar os mortos”. 
É óbvio que esses objetivos não eram compatíveis com a formação de cientistas, médicos e políticos da época, que, 
recém-chegados da Europa, traziam novos conhecimentos quanto à assistência aos enfermos, ao poder do Estado 
sobre o clero e à necessidade de afirmar a autoridade do médico no hospital. 
Além disso, houve um grave desentendimento entre o diretor do Hospício Nacional dos Alienados e as Irmãs de 
Caridade da Congregação de São Vicente de Paulo, que cuidavam de todas as atividades relativas aos doentes ali 
internados. Isso porque as Irmãs acobertavam os maus-tratos sofridos pelos internos por parte dos “guardas” e 
“enfermeiros”. 
Assim, em conseqüência dos desentendimentos e da incompatibilidade de interesses, as religiosas foram então 
dispensadas, ficando os pacientes sem cuidados de enfermagem. 
A saída das Irmãs de Caridade provocou uma séria crise no Hospício Nacional de Alienados, uma vez que a falta de 
enfermeiras era geral e agravou-se com a saída das religiosas. Este fato apressou a concretização da idéia de 
habilitar pessoal para dar atendimento de enfermagem aos doentes mentais. Na época, os psiquiatras trouxeram para 
o Brasil um modelo de escola preparatória implantado na Europa, especificamente em Paris, onde a psiquiatria se 
desenvolvia rapidamente com os especialistas Pinel e Esquirol. 
Para dar continuidade aos trabalhos deixados pelas Irmãs foram contratadas enfermeiras francesas, não religiosas, 
pelo Senhor Ministro do Brasil (Visconde de Itaboraí). Nesse meio tempo, seriam preparados os primeiros 
profissionais da enfermagem brasileira. 
As enfermeiras contratadas haviam sido formadas em Salpêtrière, uma das escolas municipais criadas pelo doutor 
Bourneville, desde 1878, para preparar ou dar instrução técnica a enfermeiras. Essas escolas, que funcionavam nos 
hospitais franceses, não haviam adotado o Modelo Nightingaleano de Ensino, mas seguiam seus próprios manuais, 
escritos pelos médicos que eram professores dos cursos na época. 
A CRIAÇÃO DA PRIMEIRA ESCOLA DE ENFERMAGEM NO BRASIL: A ESCOLA DE 
ENFERMAGEM ALFREDO PINTO 
Apesar das medidas tomadas para a vinda das enfermeiras francesas, ainda era precária a infra-estrutura para o 
funcionamento hospitalar e para a assistência, exercida por pessoal ainda não qualificado. Assim, surgiu a idéia de 
criação de uma escola para preparar o pessoal de enfermagem não só para suprir os serviços de enfermagem aos 
 
4 
doentes mentais no Hospício Nacional de Alienados, mas também para cuidar dos enfermos dos hospitais civis e 
militares. Portanto, a criação da escola tinha como principal justificativa a solução de dois graves problemas que a 
república vinha enfrentando: 
– A necessidade de suprir a falta de mão-de–obra agravada com a saída das religiosas do Hospício Nacional de 
Alienados; 
– Resolver o problema das pessoas do sexo feminino com dificuldades de profissionalização (surgindo como uma 
solução para a inserção das mulheres que eram mantidas em orfanatos públicos e filantrópicos, no mercado de 
trabalho). 
Essa idéia foi concretizada pelo Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, Marechal 
Deodoro da Fonseca, com a criação da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, conforme o Decreto 
Federal n° 791, de 27 de setembro de 1890, ficando oficialmente instituído o ensino de enfermagem no Brasil. 
Posteriormente, esta escola passou a ser denominada Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade do Rio 
de Janeiro – UNIRIO. 
Assim, a enfermagem profissional já nasceu vinculada ao hospital, o que talvez justifique sua ênfase 
predominantemente curativa, que persiste até os dias de hoje. 
De acordo com o definido no Decreto de criação da Escola de Enfermeiros e Enfermeiras (no 791/1890), o processo 
de profissionalização incluía vários aspectos, tais como o preparo para o profissional exercer um cargo público e a 
aquisição de um saber especializado, o que lhe garantia a abertura de novo mercado de trabalho e a aposentadoria 
depois de determinado tempo de serviço. 
O curso da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras era teórico e prático, seguindo o modelo francês de 
ensino, baseado na École de Salpêtrière, em Paris. Tinha duração de dois anos, constando de noções práticas de 
propedêutica (instrução preparatória) clínica; noções gerais de anatomia, fisiologia, higiene hospitalar, curativos, 
pequena cirurgia, cuidados especiais a certas categorias de enfermos e aplicações balneoterápicas (forma de 
tratamento de doenças por meio de banhos). 
Noções de administração interna e escrituração do serviço sanitário e econômico das enfermarias também faziam 
parte do currículo. Ao final do curso, era conferido ao alunoo diploma assinado pelo diretor-geral da Assistência 
Médico-Legal de Alienados. O diploma dava preferência para os empregos nos hospitais mantidos pelo Estado e 
direito à aposentadoria depois de 25 anos de exercício profissional. 
Em seus primeiros anos a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras funcionou precariamente, sendo 
reinaugurada em 16 de fevereiro de 1905, pelo então diretor do Hospício Nacional dos Alienados, Júlio Afrânio 
Peixoto. 
Os fatores que determinaram a criação da escola em 1890 fizeram perdurar a idéia de que o preparo de seus alunos 
destinava-se apenas ao atendimento do paciente psiquiátrico. No entanto, com a reinauguração em 1905 e dispondo 
de um quadro de professores reorganizado em termos de recursos humanos e administrativos, elaborou-se um 
currículo mais adequado ao ensino de enfermagem no Brasil, constituído pelas seguintes disciplinas: 
– Anatomia e fisiologia elementares; 
– Pequena farmácia e administração de medicamentos; 
– Curativos e pequenas cirurgias; 
– Higiene oral e tratamento aos alienados; 
– Cuidados e tratamento aos alienados; 
– Prática administrativa e disciplinar. 
A portaria de 1º de setembro de 1921, expedida pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Alfredo Pinto Vieira 
Melo, dividiu a Escola em três seções: masculina, feminina e mista. A seção masculina não foi adiante; a feminina 
funcionou na Colônia do Engenho de Dentro, sendo patrocinada pelo ministro e recebendo por isso, informalmente, 
o nome de Escola de Enfermagem Alfredo Pinto; e a mista funcionou no então Hospital Nacional dos Alienados. 
Conforme o Artigo 1o do decreto-lei nº 4.725, de 22 de setembro de 1942, assinado pelo Presidente Getúlio Vargas, 
as seções mista e feminina fundiram-se, passando a funcionar em uma única sede, situada na Avenida Pasteur, nº 
292, na Praia Vermelha. 
Através da Reforma Universitária, aprovada pelo decreto-lei nº 773 de 20/08/1969, a Escola de Enfermagem 
Alfredo Pinto passou a ser uma das unidades integradas da Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado da 
Guanabara (FEFIEG), mais tarde Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEFIERJ) 
 
5 
— cuja finalidade era reunir e integrar estabelecimentos isolados do Sistema Federal de Ensino Superior, sob forma 
jurídica de Fundação. 
Em 1979, pela lei nº. 6.655 de 5 de junho, a FEFIERJ transformou-se em Universidade do Rio de Janeiro – 
UNIRIO, uma instituição federal de ensino superior, constituída como Fundação, vinculada ao Ministério da 
Educação. 
Assim, a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto passou a denominar-se Curso de Enfermagem Alfredo Pinto da 
Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO. Mais tarde, em 1988, o nome da escola foi alterado para Escola de 
Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO. 
Frente a este contexto, podemos concluir que, o período anterior a 1890, quando o ensino da enfermagem ainda não 
havia sido institucionalizado, pode ser considerado como período pré-profissional, passando a profissional a partir 
de 1890, com a criação oficial da primeira escola para preparar enfermeiros em nosso país. 
Entende-se, portanto, por enfermagem profissional aquela atividade exercida por pessoas que passaram por um 
processo formal de aprendizado, com base em um ensino sistematizado, com currículo definido e estabelecido por 
um ato normativo, e que, ao término do curso, receberam um diploma e a titulação específica. 
Assim, a profissionalização da enfermagem surgiu por meio da sistematização do ensino da prática do cuidar, 
atividade antes exercida por pessoas que não tinham o devido preparo técnico. A formação adquirida na escola e/ou 
instituição que pudesse comportar essa atividade era a referência para o início do processo de profissionalização. 
A responsabilidade de formar mão-de-obra qualificada para prestar assistência aos enfermos em diferentes serviços 
e instituições finalmente contrariava a prática usual, que até então consistia no recrutamento de pessoas abnegadas, 
de boa-vontade e imbuídas de espírito caritativo, a exemplo das ordens e instituições religiosas, que eram 
responsáveis pelo treinamento de pessoal e pela supervisão da prestação dos cuidados aos enfermos. 
A transformação dos programas de treinamento em programas curriculares, nas escolas de enfermagem, representou 
o passo seguinte rumo à profissionalização da ocupação, com o estabelecimento dos núcleos de intelectuais que 
iriam alimentar e promover os conhecimentos requeridos pela nova profissão. 
Cabe ressaltar que, na literatura de Enfermagem vários documentos apresentam a Escola Anna Nery, fundada em 
1923, como a primeira escola de Enfermagem do Brasil. Isso é justificado por ter sido esta a primeira escola a 
funcionar genuinamente sob a orientação e organização de enfermeiras, diferentemente da Escola de Enfermeiros e 
Enfermeiras, cujo quadro docente era composto por médicos e supervisores do Hospital a ela filiado. 
ESCOLA DA CRUZ VERMELHA 
A sociedade da Cruz Vermelha surgiu no século XIX por iniciativa do suíço Jean Henri Dunant, inspirado pelo 
trabalho de Florence Nightingale. 
Originariamente era uma associação de cidadãos, não necessariamente médicos ou enfermeiras, que assumiram a 
prestação efetiva de ajuda em tempo de guerra ou calamidade. 
Em 1859, enquanto viajava pelo norte da Itália, Henri Dunant viu os campos de Solferino um dia após uma batalha 
travada pela Itália e pela França contra a Áustria, na qual cerca de 40 mil encontravam-se feridas ou mortas. 
Impressionado com o abandono e o sofrimento dos soldados, ele procurou ajudar no tratamento de feridos e 
começou a falar e a escrever sobre o que presenciara, incitando outras pessoas a prestar ajuda. 
Em 1863, Dunant formulou um plano em que propunha organizar em cada país uma associação permanente de 
voluntários, que em tempo de guerra pudesse socorrer e dar alívio aos feridos, sem distinção de nacionalidade. Cada 
associação deveria ser independente, mas ao mesmo tempo teria um forte vínculo internacional de filiação e 
neutralidade assegurado para receber ou enviar suprimentos e pessoal. 
Assim, em outubro de 1863, na cidade de Genebra, foi realizada uma conferência com representantes de 16 nações 
que concordavam com o programa proposto, o que levou à formação da Sociedade Internacional da Cruz Vermelha. 
Em 1864 foi assinada a famosa Convenção de Genebra, que estipulou que cada nação que havia ratificado a 
convenção deveria ter sua própria sociedade da Cruz Vermelha. 
Essa convenção estipulava, entre outros pontos, que tanto os hospitais militares como seu pessoal, médicos e 
enfermeiras, seriam considerados neutros e a área do hospital seria zona de segurança. Assim, o pessoal teria de ser 
respeitado, permitindo-se atender os feridos de qualquer nacionalidade. A convenção foi ratificada por 12 nações na 
época, e em 1925 já tinha 52 participantes. 
 
6 
A Cruz Vermelha, criada por uma contingência de guerra, sempre teve a preocupação de treinar pessoal para prestar 
ajuda humanitária, o que envolvia obrigatoriamente a formação de enfermeiros, pessoal considerado mais adequado 
para efetuar esse trabalho. 
Em razão disso, a Federação das Sociedades da Cruz Vermelha, uma organização com sede de Genebra, sempre 
incentivou a Cruz Vermelha nos diversos países para que fundasse escolas de enfermagem. 
A Cruz Vermelha Brasileira foi fundada em 1908, no Rio de Janeiro, sendo autorizada a funcionar pelo Decreto no 
2380, de 31 de dezembro de 1910, e reconhecida pela Cruz Vermelha Internacional em 1912. Teve como primeiro 
presidente Oswaldo Cruz e seus objetivos eram prestar socorro a feridos e enfermos e oferecer proteção aos 
necessitados em caso de calamidade pública, quando os recursos de defesa sanitária fossem insuficientes. 
A primeira Escola Prática de Enfermeiras da Cruz Vermelha Brasileira foi criada na filial de São Paulo, em 5 de 
outubrode 1912, por Maria Rennote, médica de origem belga e ex-Diretora da Maternidade de São Paulo, que foi 
personagem importante na organização da Cruz Vermelha Brasileira do referido estado. 
Em 1914, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, um grupo de senhoras da sociedade carioca desejaram ser 
preparadas para cuidar dos feridos e doentes. Estas senhoras, que posteriormente foram chamadas de Damas da 
Cruz Vermelha Brasileira, formaram um comitê e elaboraram uma solicitação, que foi apresentada à Diretoria da 
Cruz Vermelha Brasileira, resultando na criação do Curso de Enfermeiras Voluntárias no Rio de Janeiro. 
O Curso de Voluntárias foi muito oportuno, pois a I Guerra Mundial (1914-1918) mal havia começado, e o preparo 
de voluntárias para prestar socorro nos campos de guerra passou a ser uma necessidade urgente. Este curso era 
destinado somente a candidatas do sexo feminino, tinha a duração de um ano e era procurado por pessoas da alta 
sociedade. 
Dois anos mais tarde, em virtude da necessidade de profissionais para a capital federal, as Damas da Cruz Vermelha 
propuseram a criação de um curso de enfermeiras profissionais. 
Assim, em 1916, foi instituída a Escola Prática de Enfermeiras da Cruz Vermelha no Rio de Janeiro, com a criação 
de um curso para habilitar enfermeiras profissionais para trabalhar nos hospitais e em domicílio. O curso para 
enfermeiras profissionais era de dois anos, com aulas teóricas e práticas, ministradas por médicos. 
As aulas teóricas da Escola de Enfermagem eram ministradas em dependências de outras entidades, como por 
exemplo, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. As aulas práticas aproveitavam-se de instalações hospitalares 
da cidade. 
Ainda em 1911, uma das primeiras medidas tomadas pelos fundadores da Cruz Vermelha foi a elaboração de um 
requerimento ao Congresso Nacional, solicitando a doação de um terreno para sua sede. 
Em junho de 1916 a doação solicitada foi concretizada com a lavratura da respectiva escritura e, de imediato, foi 
construído um pavilhão que seria inaugurado em maio de 1917, onde funcionaria, em caráter provisório, a Escola de 
Enfermagem e o Órgão Central da Entidade. Em 1919, deu-se início à construção do prédio definitivo, até hoje em 
funcionamento, e no qual em junho de 1924, começaram a funcionar algumas atividades. 
A Cruz Vermelha prestou grandes e inestimáveis serviços no período da Guerra, assim como também durante o ano 
de 1918, quando demonstrou o alcance de sua atuação durante a calamitosa epidemia de gripe que assolou o mundo. 
A Escola Prática de Enfermeiras no Rio foi transformada em isolamento e as enfermeiras da Entidade se 
desdobraram nos diversos hospitais no Rio, nas residências e nos Postos de Socorro estabelecidos e em algumas das 
filiais, para cuidar dos doentes. Nesta batalha, a aluna-enfermeira Cherubina Angélica Guimarães se tornaria a 
primeira vítima, quando, após participar dos trabalhos iniciais, contraiu a doença, vindo a falecer em seguida. 
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY 
No século XIX, apesar do Brasil ser um imenso território com um contingente populacional pouco elevado e 
disperso, um processo de urbanização lento e progressivo já se fazia sentir nas cidades que possuíam áreas de 
mercado mais intensas, como Rio de Janeiro e São Paulo. 
As doenças infecto-contagiosas, trazidas pelos europeus e pelos escravos africanos, começaram a propagar-se rápida 
e progressivamente. 
Nesta época a situação de saúde no país era muito precária. As péssimas condições de saneamento básico eram 
causas de epidemias como varíola, malária, febre amarela, tuberculose e hanseníase, além do surgimento de um 
grande número de doenças mentais. 
 
7 
A questão da saúde passou a se constituir um problema econômico-social, que ameaçava a expansão comercial 
brasileira, uma vez que a prevalência das doenças infecto-contagiosas e a falta de higiene nos portos acarretavam 
resistência à chegada de navios, contrapondo-se aos interesses da economia exportadora. 
Diante disso, o governo assumiu a assistência à saúde através da criação de serviços públicos, da vigilância e do 
controle mais eficaz sobre os portos, inclusive estabelecendo quarentenas mediante o grande número de doenças. 
Assim, em 1903, preocupado com a situação do Rio de Janeiro, o presidente Rodrigues Alves colocou em prática 
um projeto de saneamento básico e reurbanização do centro da cidade, e nomeia Oswaldo Cruz, biólogo e 
sanitarista, Diretor Geral de Saúde Pública, com o objetivo de melhorar as condições sanitárias da cidade. 
Na década de 20, o fim da guerra na Europa gerara novos problemas de higiene, imigração e de controle sanitário 
das importações e exportações para o Brasil. 
A gripe espanhola fazia vítimas independentes de vida social, demonstrando que todos eram iguais perante algumas 
epidemias, pois a mesma levou à morte o então presidente do Brasil, Rodrigues Alves. Com isso, os responsáveis 
foram despertados para as questões de saúde no Brasil, já que a população reclamava das condições de vida, 
exigindo providências para a melhoria das condições de saúde. 
Neste período, em 1920, o Presidente Epitácio Pessoa criou o Departamento Nacional de Saúde Publica – DNSP e 
nomeou Carlos Chagas como seu diretor, traçando objetivos concernentes às questões sanitárias do país e 
promovendo a participação dos sanitaristas nas decisões de caráter político. Sucessor de Oswaldo Cruz, Carlos 
Chagas que atuou entre 1920 a 1924, reestruturou a Saúde Pública introduzindo a propaganda e a educação 
sanitária. 
Nesta época, foram criados órgãos especializados na luta contra a tuberculose, a hanseníase e as doenças venéreas, e 
as atividades de saneamento foram expandidas para outros estados, além do Rio de Janeiro. 
Convidado pelo diretor Lewis Wendel Hacket do Conselho Internacional de Saúde da Fundação Rockefeller, nos 
Estados Unidos, fundação esta que preconizava o combate à doença como fator determinante para o 
desenvolvimento econômico, Carlos Chagas pôde ver o trabalho das enfermeiras visitadoras daquele país. 
Assim, em virtude da necessidade de formar profissionais de saúde pública para o combate às doenças endêmicas, 
Carlos Chagas recorreu à Fundação Rockefeller para a criação de um serviço de enfermeiras de saúde pública na 
capital federal. 
Foi então enviada ao Brasil a Missão Técnica de Cooperação para o Desenvolvimento da Enfermagem (Missão 
Parsons), que permaneceu no país por cerca de uma década (1921-1931). A missão das enfermeiras americanas a 
princípio era fazer um curso de visitadoras para auxiliar os médicos, transmitindo também o conceito de educação 
sanitária para a população. 
Chefiada por Miss Ethel Parsons, a Missão Técnica chegou ao Rio de Janeiro em 02 de setembro de 1921, e 
desenvolveu três frentes de trabalho: 
– A organização de um serviço unificado de enfermeiras de saúde pública; 
– A criação da Escola de Enfermeiras do DNSP, conforme os altos padrões da enfermagem norte-americana; 
– A reorganização do Hospital Geral de Assistência do referido Departamento, cujo propósito maior era o de 
servir como campo de prática para os alunos de enfermagem que, ao mesmo tempo forneciam mão-de-obra para o 
hospital. 
A proposta de Ethel Parsons era a de realizar um curso de enfermeiras com duração de dois anos e meio, porém os 
sanitaristas julgaram inviável esperar tanto tempo, então, juntos com a superintendente, decidiram implantar um 
curso intensivo de seis meses, depois seguido de dez meses para visitadoras de higiene, que acabou sendo extinto 
em 1926. 
Miss Parsons deixou evidente que esses “cursos de emergência” eram para atender as necessidades emergentes, e 
que não poderia preparar as alunas pelo padrão elevado de serviço desejado. 
A formação de enfermeiras da Escola do DNSP adotou o Modelo Nightingaleano de Ensino, adaptado às 
condições existentes nos EUA e, posteriormente, denominado anglo americano. Este modelo secaracterizava pela 
predominância dos aspectos morais e de conduta, os quais buscavam assegurar a reabilitação da imagem da mulher 
pública que executava este trabalho, além de um novo papel para mulher, desmistificando a mulher feita para o lar e 
o homem para o trabalho. 
Pesquisas posteriores na área de História da Enfermagem demonstram que esta não foi a primeira escola de 
Enfermagem que se baseou na adaptação americana do modelo nightingaleano, conforme se supunha anteriormente. 
No ano de 1896 foi criado um curso para enfermeiras no Hospital Samaritano Paulista, cuja implantação contou 
 
8 
com a participação de enfermeiras inglesas, formadas pela Escola de Florence Nightingale, contratadas anos antes 
para atuação no referido hospital1. 
Em 19 de fevereiro de 1923 a Escola de Enfermeiras do DNSP iniciou então seu funcionamento, provisoriamente 
num prédio alugado junto ao Hospital Geral da Assistência, inaugurado no dia 7 de novembro de 1922, localizado 
na antiga Rua Visconde de Itaúna, que foi incorporado em 1943 à Avenida Presidente Vargas. 
Este prédio também foi utilizado como residência para as enfermeiras, possuindo acomodações para 16 alunas. 
Cabe ressaltar que a instalação da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 
terreno anexo ao Hospital Geral de Assistência do DNSP foi prevista pelo artigo 7° do decreto n° 15.799, de 
10/11/1922, que aprovou o regulamento desse Hospital, destinado a prestar assistência médico-cirúrgica aos 
indigentes. 
Com o apoio financeiro da Fundação Rockefeller, na mesma data da inauguração do Hospital Geral de Assistência 
(07/11/1922), foi lançada a pedra fundamental do edifício da Escola na Rua Afonso Cavalcanti. 
Suas novas instalações, concluídas em 1926, ficaram localizadas atrás do Hospital, sendo constituídas por um 
pavilhão de aulas e diretoria, além de um pavilhão para internação de pacientes com doenças infecto-contagiosas. 
A criação da Escola foi oficializada pelo Decreto nº 16.300 de 31/12/1923, que determinou que o Serviço de 
Enfermeiras do referido órgão teria a seu cargo uma escola para instruir e diplomar enfermeiras, criando assim, 
oficialmente, a Escola de Enfermeiras. Além disso, foi estabelecido que as enfermarias, salas de operações e 
ambulatórios do Hospital Geral de Assistência do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) deveriam ser 
utilizados pela Escola. 
O objetivo da Escola era o de “educar enfermeiras profissionais destinadas aos serviços sanitários e aos trabalhos 
gerais ou especializados dos hospitais e clínicas privadas” (Cap. XIII, art. 393). 
Na fase inicial do curso as alunas passavam por uma transformação radical em seus hábitos. Era exigida dedicação 
ilimitada ao serviço, obediência, disciplina relativa ao uso do tempo e do espaço, visualizadas através do controle do 
corpo, aparência impecável, postura ergonômica, atitude alerta e economia de gestos. Ensinava-se o modo adequado 
de se comportar. Logo, as qualidades exigidas de uma enfermeira estavam imbuídas na visão estereotipada de 
“santa” e deveria ser carinhosa meiga, paciente, caridosa, piedosa e possuir o instinto materno. 
As enfermeiras visitadoras exerciam funções femininas que iam desde a sua presença nos lares pobres das famílias 
(substituindo o profissional médico) até a utilização de sua imagem de mulher para que as famílias pudessem sentir 
o significado de sua visita e a importância do papel da enfermeira. 
A tão sonhada extinção do quadro de visitadoras e sua substituição pelas enfermeiras ocorreu em 1926, mediante a 
adoção de medidas administrativas e pedagógicas. 
Tais medidas incluíam: 
– Concessão dos certificados de visitadoras de higiene sob a condição de que as mesmas fossem substituídas pelas 
enfermeiras de saúde pública, (a serem diplomadas pela escola de enfermeiras do DNSP); 
– Desvio de funções tais como: atendimento aos médicos nas consultas e aproveitamento de outras visitadoras 
consideradas de “boa família” ao curso de enfermeiras. 
Ainda em 1926, de acordo com o decreto no 17.268 de 31 de março, a Escola de Enfermeiras do DNSP passou a 
denominar-se Escola de Enfermeiras Dona Anna Nery, em homenagem à primeira enfermeira brasileira que serviu 
como voluntária na Guerra do Paraguai, Ana Justina Ferreira Néri. Obedecendo ao modelo americano, a escola 
 
1
 A origem do Hospital Samaritano Paulista, datado de 1890 e cujo estatuto já previa a criação de uma escola de enfermagem, 
deu-se por motivos religiosos. Na verdade, as Santas Casas de Misericórdia da época não aceitavam de bom grado os doentes 
não católicos. Por isso, em virtude da necessidade de preparar enfermeiras para cuidar de pacientes de outras religiões, um 
imigrante protestante de origem chinesa destinou seus bens para a construção de um hospital que atendesse pessoas de todos os 
credos religiosos. Membro da Igreja Presbiteriana, empenhou-se para que o hospital fosse fundado em 1890, com o nome de 
Hospital Samaritano, que funciona até hoje na cidade de São Paulo. Para trabalhar no hospital, foram contratadas enfermeiras 
inglesas, formadas pela Escola de Florence Nightingale. 
Apesar do provável pioneirismo quanto à implantação do modelo nightingaleano, essa antiga instituição de ensino não 
conseguiu notoriedade no Brasil nem mereceu maiores destaques por parte dos órgãos públicos, mantendo-se ignorada por 
muitas décadas da historiografia oficial da enfermagem brasileira. Talvez esse descaso possa ser explicado pelo fato de tratar-se 
de uma escola criada em hospital privado, com orientação não católica (o que contrariava a regra do comportamento religioso 
da época) e também localizada fora da capital da República (Rio de Janeiro). 
 
9 
tinha como objetivo cumprir o programa do DNSP: combater as endemias, pelo atendimento ao homem doente e 
controlar os contatos em domicílio. 
Com a saída da missão norte-americana de enfermeiras do Brasil em 1931, antes mesmo que a direção da escola 
passasse às mãos de enfermeiras brasileiras, a Escola foi elevada à ESCOLA OFICIAL PADRÃO em todo país, 
através do decreto no 20.109/31 de 15/06/31, sendo designada Escola de Enfermeiras “Ana Néri”. 
A atualmente denominada Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) redimensionou o modelo da Enfermagem 
profissional no Brasil. Ao selecionar para os seus quadros moças de camadas sociais mais elevadas, com o apoio de 
uma política interessada em fomentar o desenvolvimento da profissão, atendeu diretamente ao projeto então 
estabelecido, passando a ser padrão de referência para outras escolas. 
Também, a divisão social do trabalho em Enfermagem é aí delineada, uma vez que as novas enfermeiras eram 
preparadas para executar tarefas com maior nível de complexidade intelectual, que estariam relacionadas com a 
classe social a qual pertenciam, ou seja, a Escola amplia as características próprias das candidatas, de acordo com a 
posição hierárquica ocupada por elas na sociedade. 
Considerada como formadora de grupos de elite, a Escola tornou-se tradicional no contexto educacional brasileiro; e 
suas enfermeiras, consideradas padrão, durante muito tempo, personificaram a imagem da verdadeira enfermeira 
brasileira. Para muitas pessoas, ser enfermeira subentendia ser formada pela Escola Anna Nery. 
O fato de exigir da candidata um nível de escolaridade mais apurado, enquanto as outras escolas da época exigiam 
apenas conhecimento básico da leitura e da escrita, também colaborou para a formação da imagem elitizada da 
Escola. 
A partir do momento em que as demais escolas deveriam funcionar dentro dos padrões da Escola Anna Nery, pode-
se inferir que o perfil exigido para a enfermeira brasileira passou a ser elaborado, segundo os critérios da Escola 
considerada modelo. 
Uma vez que aqueles critérios estavam fundamentados nos princípios trazidos pelas enfermeiras norte-americanas e 
que estesprovinham do Modelo Nightingaleano, passava-se, então, a reproduzir o citado modelo com todas as 
características que lhes foram sendo imprimidas pela história, quais sejam: a submissão, o espírito de serviço, a 
obediência e a disciplina, dentre outras. 
“Acumulando em si, desde sua fundação em 1923 até 1970 aproximadamente (a Escola de Enfermagem Anna 
Nery) vários estereótipos, a enfermeira era antes de tudo, aos olhos do povo, a mãe, feminina, aquela que protege e 
nutre. A imagem e o trabalho manual da enfermeira viabilizaram todas estas propostas.” 
Loyola 
Assim, a EEAN, também denominada “Escola Padrão”, teve o seu programa de ensino utilizado como modelo para 
as escolas criadas posteriormente. Seu propósito era garantir um alto nível de formação profissional de enfermagem 
no Brasil, reproduzindo de forma hegemônica o currículo norte-americano, direcionado para o trabalho de 
enfermagem em instituições hospitalares, atendendo à medicina curativa e hospitalar. 
Com a criação da EEAN, a Enfermagem Brasileira passou então a integrar o sistema que se expandiu em todas 
partes do mundo, e que ficou conhecido como A ENFERMAGEM MODERNA, implantado por Florence 
Nightingale em 1860,
 
 com a criação da primeira Escola de Enfermagem da Inglaterra. 
É importante destacar que, apesar da Enfermagem Moderna no Brasil ter sido instituída para formar enfermeiras 
para atuar em saúde pública, desde o início a formação foi centrada no espaço hospitalar e voltada para o estudo 
sistemático das doenças, sem priorizar as questões vinculadas à saúde pública. 
Cabe ressaltar que, a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto não foi equiparada à escola-padrão Anna Nery. Ela 
continuou a funcionar segundo seus padrões até 1959, quando foi enquadrada na legislação que regia o ensino de 
enfermagem no Brasil. 
Na década de 1940, a Escola Anna Nery foi incorporada à Universidade do Brasil. Atualmente, a Escola integra o 
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, de acordo com o Plano de 
Reestruturação aprovado pelo Decreto no 60.455-A de 13 de março de 1967, com o nome de Escola de Enfermagem 
Anna Nery. 
 
 
Disciplina: Introdução à Enfermagem 
Prof. Marilia J. Pereira

Outros materiais

Materiais recentes