Buscar

A Ética Aristotélica: virtude e felicidade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

A Ética de Aristóteles: virtude, felicidade, moral 
 
A Ética Aristotélica 
Paula Ignacio 
 Todos os homens que procuram investigar algo o fazem com um fim, e esse fim é 
sempre um bem. Como estamos sempre investigando e aprendendo coisas, podemos 
dizer que o bem é a finalidade de todas as coisas, aquilo a que todas as coisas tendem. 
Esse bem que é um fim pode tanto ser o produto final de ações, como as próprias 
ações. Às vezes o produto final é completamente distinto das ações, mas tanto um 
quanto outro podem ser considerados bens, ou somente um deles, mas geralmente 
quando os resultados das ações são completamente diferentes dessas, esses 
resultados são por natureza melhores, mais excelentes do que as próprias ações que o 
originaram. 
Os homens se ocupam de diversas ações, e cada ação tem um fim diferente, ou bens 
diferentes. Por exemplo, cada arte tem uma finalidade diferente, a medicina tem como 
finalidade a saúde, etc. Há muitos casos em que uma arte fica subordinada a outra, por 
exemplo, quando a equitação é importante para as ações militares. 
Quando há subordinação, ou quando uma arte inclui outros bens que não o fim dela 
mesma, devemos valorizar o fim primeiro, das artes fundamentais, pois as finalidades 
terceiras devem sempre visar o bem das finalidades primeiras. Portanto, não importa 
se o fim é a própria ação (equitação) ou algo diferente (ações militares), o que importa 
é que ambos visam bens. 
Como sempre há fins terceiros, para todas as coisas que fazemos, deve haver um fim 
último para todas as coisas, algo onde tudo o que fazemos seja para atender ao 
interesse desse fim. Mesmo que pratiquemos nossas ações sem nos apercebermos 
desse fim último, gerador de todas as ações, ainda o faríamos por ele. Esse fim deve 
ser o bem supremo, e conhecer o que vem a ser o bem supremo certamente tornaria 
mais fácil a tarefa de o alcançarmos. 
Precisamos primeiramente determinar como e por quais vias podemos chegar a 
compreender o que é o bem supremo, ainda que não o compreendamos em sua 
plenitude, pois assim fazemos com todas as ciências, determinamos os instrumentos 
pelos quais serão possíveis determinadas investigações. 
Para Aristóteles, a ciência capaz de determinar qual é o bem supremo ao qual 
dedicamos inconscientemente nossas ações certamente será a maior dentre todas as 
artes, e essa arte mestra é a Política, pois todas as ações dos cidadãos e do Estado 
estão subordinadas às decisões políticas, assim como todas as outras artes também 
ficam subordinadas a ela. 
A política também se utiliza das demais artes, e pode-se afirmar que a política visa o 
bem de todas elas, e como as artes e ações são praticadas por seres humanos, a 
política visa o bem humano, que é o bem supremo. Esse bem supremo é importante 
tanto para o indivíduo quanto para o Estado, mas devemos ter uma preocupação 
maior no que se refere às questões do Estado, pois abrange a coletividade. 
Devemos tratar da política com clareza, mas não podemos raciocinar sobre ela da 
mesma maneira que raciocinamos nas demais ciências, como a matemática, por 
exemplo. A ciência política trata de opiniões, e não há estabilidade nas opiniões. 
Ao falarmos de ações que são belas e justas, “no mais das vezes” indicamos como 
verdadeiras aquelas que geralmente têm mais resultados. Mas não podemos afirmar a 
veracidade da bondade de certas ações, então podemos nos basear no que acontece a 
maioria das vezes ou “no mais das vezes”. 
Os homens cultos tendem a buscar as certezas absolutas, mas a ética não deve ser 
vista dessa maneira, pois cada indivíduo é capaz de fazer um juízo próprio sobre as 
coisas, e não se deve impor um único juízo de valor a todos. 
Os homens instruídos em muitas coisas têm melhor capacidade de julgar, e por essa 
razão os jovens não são bons para a política, pois dificilmente são instruídos em muitas 
coisas, e não têm capacidade de bem julgar, além de deixarem-se guiar facilmente 
pelas paixões, e o estudo da política deve ficar restrito somente àqueles que buscam o 
conhecimento. E assim como os jovens, os homens que se deixarem guiar pelas 
paixões não serão bons, nem tirarão bom proveito do estudo da política. 
Podemos agora tentar determinar qual é a finalidade última de todas as ações, o bem 
supremo, que segundo Aristóteles, é a felicidade. Todas as ações estão voltadas para 
esse bem, para esse fim, e todos os homens concordarão com isso, mas infelizmente 
não há concordância quando falamos sobre o quê é a felicidade. 
Os mais sábios concebem a felicidade de maneira diferente do vulgo, por exemplo. O 
vulgo acredita que a felicidade seja algo relacionado ao prazer, às riquezas e honras. 
Mas há aqueles que acreditam que acima desses bens está um bem maior, responsável 
por todos os outros bens, e que esse bem maior é auto-suficiente. Existe uma enorme 
diferença entre partir de um princípio para alcançar um fim, e a busca para alcançar 
esse princípio. 
É importante compreender que existem princípios que fazem parte de nós, e outros 
que são objetos de conhecimento. Devemos, portanto, partir dos princípios que estão 
enraizados em nós, e por essa razão é tão importante ter sido bem educado, pois ao 
raciocinar sobre o que é nobre e justo e sobre os temas da ciência política, aquele que 
tiver uma boa educação compreenderá e julgará melhor e com menor dificuldade. 
Podemos identificar três tipos de vida: a vida de prazeres, a vida política e a vida 
contemplativa. E independentemente da posição social ou educação, a maioria dos 
homens prefere a vida de prazeres, e terminam por tornarem-se escravos desses 
prazeres os quais acreditam serem o bem maior. 
Já os homens que se voltam para a vida política, em geral, identificam a felicidade com 
a honra, o que é superficial, pois carece de opinião alheia, enquanto um bem 
verdadeiro é próprio de um homem e não lhe pode ser tirado por meio de opiniões, 
pois é auto-suficiente. 
Os homens não devem, portanto, buscar a honra para provarem ser bons, os homens 
sábios procuram praticar sempre suas virtudes. Portanto, não basta que um homem 
seja educado e tenha virtudes as quais não pratique. O homem verdadeiramente 
virtuoso é aquele que sempre pratica suas virtudes, e quanto maior for o número de 
virtudes que o homem pratica, mais virtuoso ele será, e a virtude está diretamente 
ligada com a felicidade, pois aquele que pratica muitas virtudes tanto mais feliz será. 
A felicidade é então o maior dos bens, e o maior dos bens, sendo auto-suficiente, é um 
bem em si. Mas o quê é o bem em si? Ele não é o mesmo nas distintas ações e artes. 
Para cada arte há um bem. Por exemplo, para a medicina o bem é a saúde. Para todas 
as artes e ações a finalidade é um bem. 
Existem diversos fins, e dentre eles escolhemos alguns como riqueza, etc. Porém nem 
todos são bens subsistentes e absolutos, e o bem em si é absoluto. E se existe mais de 
um bem absoluto, devemos investigar para avaliar aquele que é o mais absoluto de 
todos. Se considerarmos absoluto aquilo que é buscado por si mesmo, então esse bem 
não é buscado com interesse em outro fim. 
Essa definição de absoluto se aplica ao conceito de felicidade, pois geralmente busca-
se a felicidade por ela mesma, enquanto a honra, o prazer e até mesmo a razão 
também os buscamos pensando serem eles fins em si mesmos, mas eles visam a 
felicidade, e se visam um outro bem que não eles mesmos, não são bens em si. E se 
não são bens em si mesmos, não poderão nos trazer felicidade, nem tornar os homens 
felizes. 
Se avaliarmos, ninguém busca a felicidade tendo em vista alguma outra coisa. O bem 
absoluto é considerado um bem em si mesmo, e a felicidade aparece como bem em si 
mesma, auto-suficiente. Auto-suficiente não é somente aquilo que é bom e 
permanente para um só homem, mas bom e permanente universalmente e para todos 
os homens, onde o homemnasceu para viver socialmente e coletivamente, deve-se 
pensar na coletividade também. 
Percebe-se que auto-suficiente para Aristóteles é aquilo que “torna a vida desejável e 
carente de nada”. Podemos entender que a felicidade é a mais desejável de todas as 
coisas, e que aquele que é feliz não carece de nada, pois se àquele que é feliz é 
acrescentado mais alguma coisa, isso seria um excesso de bens, e a felicidade é dentre 
todos os bens o mais desejável. 
Mas para determinar com mais exatidão o que é a felicidade, devemos examinar com 
atenção qual é a função do homem. Assim como para um pintor ou um músico o “bem 
feito” é a finalidade, se o homem tivesse uma função determinada, o bem seria essa 
função “bem feita”. 
Não é digno afirmar que o homem não tem uma função. Basta observar a biologia, 
onde tudo tem sua função. No próprio corpo humano, os pés, as mãos, os rins, cada 
parte tem a sua função. Não é possível que o homem, que é o conjunto dessas partes, 
também não tenha uma função. 
Se excluirmos as formas de vida vegetativas e puramente sensitivas, teremos a vida 
racional, que diz respeito unicamente ao homem, que possui a faculdade de pensar e é 
capaz de exercê-la. Se a função do homem é a atividade racional e se distinguimos 
aqueles que são capazes de executá-la e aqueles que são capazes de bem executá-la, 
podemos dizer que os homens são capazes de viver racionalmente, mas há ainda 
aqueles que são capazes de bem viver racionalmente. 
A função de um bom homem é, portanto, realizar muito bem todas as atividades que 
implicam sua função, ou seja, realizar muito bem todas as suas capacidades. 
Mas não basta realizar bem e praticar as virtudes de que é capaz um homem. É preciso 
manter as ações que levam a isso, pois de nada adianta ser “virtuoso” por um breve 
espaço de tempo, já que a inconstância não é própria de um homem feliz. Além disso, 
a constância nas ações implica na melhora dessas ações, e o homem virtuoso sempre 
se aprimora nelas. Portanto, cada função deve ser estudada e aplicada de modo a 
tornar melhor a sua finalidade, deve ser estudada e executada de acordo com suas 
particularidades. 
Os homens têm primeiros princípios que também os induzem a certas 
particularidades, e cada um deve mergulhar dentro de si para descobrir aquilo que é 
melhor capaz de fazer, de acordo com a educação recebida. 
Os bens são divididos em bens da alma e bens do corpo, sendo os principais deles 
aqueles que se relacionam com a alma. E dentre os bens da alma estão as atividades 
psíquicas e as ações. Os fins da alma geram ações, e por isso são importantes. 
Definimos a felicidade como boa vida e boa ação. Há inúmeras definições de felicidade, 
e é incerto se são verdadeiras. Mais próxima da definição aristotélica de felicidade é 
aquela que a identifica com as virtudes, com o exercício das virtudes. Àquele que é 
virtuoso não só é necessário agir, mas agir bem, pois as “coisas boas e nobres da vida 
só são alcançadas por aqueles que agem retamente”. 
A vida do homem virtuoso é prazerosa por si mesma, pois o virtuoso é amante dos 
atos virtuosos que comete. Enquanto a maioria dos prazeres apresenta conflitos, o 
prazer de agir virtuosamente não, pois é bom em si mesmo. 
Os homens que não sentem prazer em agir virtuosamente não podem ser 
considerados virtuosos, pois as ações virtuosas são boas e nobres por si mesmas, e 
como constatamos, a felicidade é em grau mais elevado a melhor e mais nobre de 
todas as coisas. Existem coisas boas e nobres, mas a felicidade é a melhor dentre elas. 
Mas a felicidade também necessita de bens exteriores, pois as ações virtuosas também 
dependem de bens exteriores. Por exemplo, em muitas ações utilizamos os amigos, ou 
então ao nascer feia, uma pessoa encontrará dificuldade em se tornar feliz, pois o 
homem feio ou mal nascido, aquele que é solitário e sem filhos dificilmente será feliz. 
O homem feliz necessita de prosperidade, por isso muitos confundem a felicidade com 
a boa fortuna, e não com a virtude. 
Assim sendo, podemos questionar se a felicidade deve ser adquirida ou se nos é dada 
aleatoriamente, ou por providência divina. 
Se os deuses são capazes de proporcionar dádivas aos homens, a felicidade 
certamente seria uma delas. 
Mas supondo que a felicidade não venha da dádiva divina, mas da conseqüência de 
ações virtuosas, se essa conseqüência for mesmo a felicidade, então as ações também 
podem ser consideradas divinas, pois produzem o que é nobre e bom. Seria mais 
sensato decidir por esta forma de encontrar a felicidade, do que esperar dos deuses 
suas dádivas. 
A felicidade é a atividade virtuosa da alma, porém requer “alguns bens como 
condições prévias, naturalmente cooperantes e úteis” para esse fim. 
Observando a felicidade como atividade virtuosa da alma, as ações provenientes dela, 
podemos dizer que a ciência política é a que melhor se encaixa aqui, pois o esforço da 
ciência política consiste em fazer com que os cidadãos sejam bons e capazes de ações 
nobres. 
O homem verdadeiramente virtuoso continua agindo virtuosamente mesmo diante 
das vicissitudes da vida, e a esse homem podemos verdadeiramente chamar de feliz. 
O homem não pode contar com a vida para que seja feliz, pois somente com a morte 
teremos certeza de não precisar mais enfrentar males e infortúnios, o homem nunca 
está certo sobre o que o espera, então é preciso bem agir sempre, 
independentemente do futuro que o espera. O homem feliz será sempre apreciado, 
pois agirá sempre virtuosamente, mesmo diante de infortúnios, ele aceita a dor com 
resignação, não por insensibilidade, mas por grandeza de alma. 
Esse homem jamais será considerado desgraçado, pois o desgraçado é aquele que 
pratica ações odiosas e vis. Sendo as ações o caráter da vida, o homem virtuoso que 
age sempre bem será considerado feliz. 
Se o homem virtuoso é aquele que consegue sempre manter ações virtuosas mesmo 
diante de infortúnios, esse mesmo homem encontrará dificuldade de manter essas 
ações quando se encontrar diante de riquezas. O homem rico deixará desviar seu 
estado de virtude para ações frívolas, já para um homem sem grandes fortunas será 
mais fácil recuperar seu estado virtuoso diante de infortúnios. 
É difícil então não chamar de feliz ao homem que age virtuosamente e é provido de 
bens exteriores durante e a vida inteira. Pois não sabemos qual é o futuro, mas sendo 
a felicidade um fim, poderemos agir de acordo para alcançá-la. 
E se os amigos ou parentes de um homem feliz sofrerem algum tipo de infortúnio, este 
deverá manter-se na sua condição de feliz, avaliando a importância desses infortúnios, 
e independentemente da influência que isso possa ter sobre este homem, esta 
influência será muito fraca e quase insignificante. 
Os homens precisam ter clara a idéia de felicidade, e para isso também é necessário 
avaliar se ela é louvada ou estimada. “Tudo o que é louvado parece merecer louvores 
por ser de certa espécie e relacionado de um modo qualquer com alguma outra coisa”, 
um homem justo é louvado por causa de suas ações, e não pelo justo em si mesmo. 
Até mesmo os louvores aos deuses são proferidos em função de outras coisas. 
Mas às coisas verdadeiramente boas aplicamos não apenas louvores, mas algo maior. 
Aos deuses e aos homens virtuosos chamamos de felizes e bem aventurados, e não 
louvados. Por exemplo, a felicidade não é louvada, é considerada bem-aventurança, 
enquanto a justiça é louvada pelos efeitos que pode produzir. Quanto ao prazer, é 
considerado um bem não louvá-lo. 
O louvor incita o homem a praticar ações nobres, mas o louvor é às ações nobres, e 
não aos homens que as praticam. 
Portanto, a felicidade pertence às coisas que são “estimadas e perfeitas”. Também por 
ser a felicidade um princípio único, pois a estimamos em função dela mesma. 
Já que a felicidade é o conjunto da boa práticadas ações virtuosas, é importante 
conhecer a natureza das virtudes. 
O homem político estuda a virtude, pois representa o desejo de agir para que os 
cidadãos sejam bons e felizes, enquanto obedientes às leis. 
A virtude humana diz respeito à virtude da alma, e consideramos a felicidade uma 
atividade da alma que faz com que se pratique ações virtuosas. 
O político deve conhecer a alma, assim como um médico deve conhecer o corpo 
humano, mas ao político daremos maior crédito, porque trabalha com algo mais 
grandioso, que é a alma humana. 
O político deve estudar a alma visando a felicidade (as virtudes humanas). 
Diz-se da alma que ela possui duas partes, que uma é racional e outra é irracional 
(privada de razão), e que essas partes são completamente diferentes, mas que é 
impossível repará-las. 
Quanto à parte irracional, podemos dizer que grande parte dela é vegetativa, e a 
característica vegetativa não pertence unicamente aos homens, mas a diversos meios 
de vida. 
Essa parte vegetativa nos homens se dá principalmente durante o sono, e durante o 
sono é difícil a manifestação de ações boas ou más. Por isso dizem que os infortunados 
só podem ser considerados assim durante metade da vida, pois metade da vida passa-
se durante o sono, que é “inatividade da alma em relação àquilo que nos leva a chamá-
la de boa ou má”. 
Há na alma dos homens um elemento irracional que participa da razão. Porém é a 
razão que deve fazer com que esse elemento irracional perca força. 
Nos incontinentes, esse elemento irracional que poderia ser enfraquecido pela razão 
prevalece. Os incontinentes têm almas “que se desviam da direção certa, mas que 
infelizmente não podemos ver”. 
Mas não somente nos incontinentes encontramos esse elemento irracional, mas em 
todas as almas. A diferença é que no homem continente esse elemento irracional 
obedece à racionalidade, perdendo força, enquanto as ações são guiadas pela razão. 
O elemento irracional possui essa parte que pode ser enfraquecida pela razão, a parte 
que contém elementos apetitivos e desiderativos. Mas também possui uma outra 
parte, que contém o elemento vegetativo, de nutrição e crescimento. 
Podemos dizer também que o elemento irracional que contém as partes apetitivas e 
desiderativas pode ser persuadido pela razão, e que, portanto, possui um princípio 
racional. 
Devido a essas distinções das partes da alma, podemos dividir a virtude em virtudes 
intelectuais (guiadas pela razão pura e simplesmente) e virtudes morais (quando os 
elementos apetitivos e desiderativos obedecem à razão). 
Por isso devemos raciocinar sobre qual tipo de vida o homem é capaz de se realizar 
mais enquanto homem. 
Aristóteles não despreza a riqueza, o divertimento, mas diz que o homem não se 
realiza plenamente assim, pois o homem que coloca a diversão como fim último age 
como uma criança. 
Segundo ele, há dois tipos de vida onde o homem pode se realizar plenamente: a vida 
ativa e a vida contemplativa. 
A vida artística não entra na vida contemplativa, pois o fim último da vida artística é a 
obra, e a obra de arte é externa ao ser. 
Quanto à esses dois tipos de vida: 
 Vida ativa: constitui as atividades das virtudes morais. 
 Vida contemplativa: a maior dentre todas as virtudes, atividade das virtudes 
intelectuais, busca a apreensão da verdade, é a vida do filósofo, teorias. 
 Aristóteles diz que a vida contemplativa traz uma realização maior para o ser humano 
do que a vida das atividades das virtudes morais. A melhor virtude vem da melhor 
parte do ser humano, e a melhor parte do ser humano é a razão. A parte racional do 
ser humano tem várias atividades, onde uma das partes é a prudência, que leva à boa 
ação. 
Os objetos da razão são os melhores cognoscíveis. Deve existir uma causa primeira 
através da atividade da razão, onde essa causa primeira é melhor e mais perfeita do 
que as coisas apreendidas pelos sentidos. Se o objeto para conhecimento da causa 
primeira é a razão, então a razão é melhor. 
A contemplação da razão é a melhor das virtudes, a contemplação pela razão da causa 
primeira. 
Para atingir a causa primeira a razão é o melhor objeto. A atividade da razão é mais 
contínua, menos sujeita a interrupções, ela é a mais prazerosa de todas as atividades 
virtuosas, e o filósofo sente prazer buscando a verdade. 
A atividade da razão é auto-suficiente, precisa-se menos das coisas exteriores quanto 
mais sábio um homem é, apesar de precisar das outras pessoas para aprender e se 
tornar mais sábio, quanto mais aprende, menos precisa das outras pessoas. 
A atividade intelectual é um fim em si mesma, não é útil para nada, e as atividades 
morais são úteis sempre para alguma outra coisa. E se a felicidade é um fim em si 
mesma, ela está ligada à atividade intelectual, pois são da mesma natureza. 
Pelas atividades políticas (virtudes morais) não se consegue a felicidade plena, pois 
elas não têm o mesmo caráter da felicidade, que é um fim em si mesma. O que nos 
resta é a atividade intelectual. Se politicamente uma cidade já é satisfatória, as pessoas 
se dedicarão à atividade intelectual. Por isso a atividade intelectual é um fim em si 
mesma. 
O homem se realiza mais como ser humano através das atividades intelectuais, 
gradualmente, como em uma escala. 
Não é possível viver uma vida inteiramente dedicada à atividade intelectual, pois isso é 
próprio dos deuses, e querer se comparar aos deuses é sempre passível de punições, 
nesse caso como a loucura ou a depressão. Por isso é necessária a justa medida das 
coisas. 
Devemos nos dedicar às atividades intelectuais, apesar de elas serem divinas, porque 
as capacidades intelectuais fazem parte do ser humano, apesar das limitações. Mesmo 
que o ser humano se dedique a outras coisas, por menor que seja a dedicação à 
atividade intelectual, ela ainda será a maior de todas. A razão é algo próprio do 
homem, não dos deuses. 
O fim de qualquer coisa é o próprio ser daquela coisa. O fim do homem é o ser do 
homem. E faz parte do nosso ser a atividade racional. Não fazer uso dessa parte é 
limitar o próprio ser. Portanto: 
 Exercício correto das potencialidades humanas < Vida racional < Vida feliz < 
Realização. 
 A realização gera um tipo de prazer que somente a pessoa que teve a atividade 
racional plenamente realizada poderá descobrir como é esse tipo de prazer, ligado 
diretamente à plena prática de ações virtuosas e de todas as potencialidades, assim 
como a plena vida intelectual. 
 Bibliografia 
 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo, Abril Cultural, 1979. 
ZINGANO, M. Comentário à Ética Aristotélica. 
VAZ, Lima. Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1. São Paulo, Edições 
Loyola, 1999. 
ROSS, David. Aristóteles. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1987. 
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga, Vol. II. São Paulo,Editora Paulus, 2003

Outros materiais