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ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL

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ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL
TEMA 1 – O QUE É ÉTICA? CONCEITO Palavra de origem grega derivada do ethos (em português, “etos”). Do ponto de vista etimológico, diz respeito a costumes, modo de ser, hábitos da população. Derivada do grego, significa “o que pertence ao caráter”. Ética é a nomenclatura dada aos assuntos morais. Sob a ótica de Barroco (2010, p. 20), a ética é compreendida como um “modo de ser socialmente determinado – tem sua gênese no processo de autoconstrução do ser social”. A autora afirma: “a ética é definida como uma capacidade do ser humano posta pela atividade vital do ser social” (Barroco, 2008, p. 19). É a referência de princípios e valores que estabelecem parâmetros das relações do ser humano na vida social, portanto, Ética é a maneira como os seres humanos vivem, se relacionam e buscam justificar costumes e preceitos perante a sociedade. É a capacidade de agir conscientemente com base em escolhas de valor. Para Cortella (2010 p. 60), a ética existe porque nós, seres humanos, existimos em sociedade. Portanto, em uma perspectiva marxista, a ética é compreendida como uma práxis, ou seja, como algo que se efetiva por meio da ação criadora do ser humano na sociedade. Com base em duas referências prioritárias, essa vertente se orienta articulada com as exigências do mundo, sendo elas “o rompimento com os condicionamentos naturais e com a alienação social, com o projeto e o processo dos indivíduos em direção à liberdade e à autonomia; e a construção de uma sociedade, fundamentada efetivamente em valores de igualdade e liberdade, assegurando a plena expansão dos indivíduos” (Paiva, 2012, p. 132). Em uma perspectiva filosófica, a ética é dedicada aos assuntos morais. Com distinção da moral, tendo em vista que ela se fundamenta na obediência a costumes e hábitos culturais recebidos, a ética visa a fundamentação em ações morais exclusivas pela razão. Portanto, a ética pode ser definida como uma ciência que examina a conduta do ser humano; a moral, a qualidade dessa conduta ética. Barroco destaca que a ética precisa ser compreendida além da teoria, uma vez que, além da reflexão e sistematização filosófica, ela é concebida como práxis, por isso possibilita a ampliação da consciência moral e individual. Nesse 3 sentido, agir eticamente vai além de refletir criticamente sobre a vida na reprodução de valores e de comportamentos embasados na moral. É também a capacidade do profissional, por exemplo, em propor transformações sociais, com reconhecimento de práticas democráticas que visam a defesa intransigente pela garantia dos direitos humanos da população (Iamamoto, 2003, p. 141). Para tanto, a respeito da ética na categoria profissional, podemos afirmar: é o modo particular de objetivação da vida ética (Barroco, 2008). Ela possibilita orientação para a atuação profissional em consonância com diversos valores, e demonstra um direcionamento social e político em prol de princípios éticos profissionais que visam principalmente à liberdade da pessoa humana e à equidade social. Sendo assim, caberá ao profissional apresentar posicionamentos diante das demandas sociais e assumir valores ético-morais que irão embasar a atuação profissional. Assim, além de ser aplicada no dia a dia, no âmbito familiar, entre outros locais, a ética é também aplicada em uma vertente profissional. No serviço social, será norteada com a existência de um código de ética, o qual apresenta princípios e diretrizes aos profissionais que irão atuar na sociedade, intervindo nas mais variadas expressões da questão social. Vale ressaltar que a ética não pode ser confundida com uma lei, mesmo que as legislações tenham como base princípios éticos. Diferentemente do que ocorre com a lei, caso uma pessoa não cumpra com as normas éticas, não caberá ao Estado ou a outras pessoas buscar compelir uma ação antiética, ou até mesmo aplicar alguma sanção; porém, a lei poderá ser omissa quanto a questões voltadas à intenção ética. TEMA 2 – FUNDAMENTOS DA ÉTICA Nascida na Grécia, especificamente no século V a.C., com base em uma visão filosófica, o conceito da ética está atrelado ao estudo dos valores morais que norteiam as ações sociais. Historicamente, a ética e a moral foram construídas por um processo de mudança entre as sociedades e os períodos. Assim, “[...] as doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como respostas aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens, [sic] e, em particular pelo seu comportamento moral efetivo” (Vazquez, 2008, p. 267). No período grego, a ética estava direcionada a um foco distinto da sociedade medieval moderna e pós-moderna, pois havia variações éticas 4 apresentadas por pensadores da época. Compreendida como modo de ser socialmente determinado, a ética tem sua gênese no processo de autoconstrução do ser social. Assim, compreende-se que o ser social nasce da natureza e suas capacidades essenciais são construídas por ele no seu processo de humanização. No processo histórico são tecidas as possibilidades de o ser humano comportar-se como ser ético, o animal que se relaciona com a natureza por meio do instinto. Já o ser social constrói mediações articuladas. Este é impensável sem a natureza, por isso, sob a ótica de Marx, o ser se desenvolve como um ser consciente, universal e livre (Barroco, 2010). Na cultura ocidental, é na Antiguidade Clássica que surgem os primeiros filósofos, como Aristóteles, Platão e Sócrates, que apresentam pensamentos críticos e reflexivos relacionados aos valores e costumes vigentes. Eles propuseram questionamentos a respeito do que poderia ser compreendido como valores universais na sociedade, consequentemente perspectivando um ser adequado, honesto. Tais filósofos estavam inseridos em um momento da Grécia direcionada à preocupação com a política e com a polis. O entendimento da ética está pautado em uma perspectiva histórica e atrelado aos fundamentos do comportamento moral da sociedade, o que provoca certa reflexão radical e crítica, bem como ação política. Sendo assim, a ética não surge de princípios estáveis, fixos, mas de uma consciência histórica percebida nas condições e relações estabelecidas com pessoas, com a sociedade e também com a natureza. (Sarmento, 2011). Portanto, a ética é uma construção humana histórica, arquitetada por meio de uma crítica do trabalho, como autocriação humana que não se realiza por completo na sociedade capitalista que vivemos, sendo o ser humano, neste modelo de sociedade, obrigado a vender a força de trabalho a outros seres humanos. A autocriação humana não é idealizada, haja vista que a humanidade não é reconhecida no produto de seu trabalho, resultando em um trabalho totalmente alienado. Nesse caso, na perspectiva de Marx, não há necessidade de se estabelecer uma moral, mas a exigência de uma ética que liberta a humanidade possibilitando a ela se reconhecer como ser social (Sarmento, 2011). Na prática, por meio da ética é possível compreender a necessidade de uma crítica permanente a todas as formas de exploração, exclusão, 5 discriminação da sociedade diante da liberdade, pois é com base na liberdade que se constrói a possibilidade de construção de valores. TEMA 3 – A PRÁXIS Normalmente utilizada como sinônimo do termo prático, a práxis, de acordo com a definição marxista, tem um significado distinto da palavra prática. Ela remete à transformação da sociedade. Segundo o Dicionário Marxista (Bottomore, 2012), a práxis diz respeito ao desenvolvimento de “atividades livres, universais, criativas e autocriativas, por meio da qual o homem cria (faz, produz) e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico a si mesmo”. Já o conceito de prática está voltado a uma dimensão de práxis: é uma atividade de caráter utilitário-pragmático, atrelado às necessidades imediatistas (Vazquez, 1977). A práxis proporciona a possibilidade de projetar e realizar nas objetivações materiais e ideais da ciência, da filosofia, da arte, construindo um mundo de obras e valores, um mundo socialhumano. Sob a ótica de Vazquez (1977, p. 185) “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. Sendo assim, ela não é restrita a ser uma atividade social transformadora que se limita à transformação da natureza e da criação de objetos e instrumentos. Ela pode transformar o próprio ser humano, na mesma medida em que atua na natureza; quando transformada, produz e transforma o próprio ser. Assim, não se limita apenas a transformações palpáveis de materialidade, mas também a questões subjetivas. Ela não tem como objetivo somente a matéria, ela supõe também formas de interação cultural social. Com isso, a vida social pode ser constituída por meio das diversas formas de práxis. Portanto, a relação teórico-prática é indissociável, pois a leitura que se faz da realidade, vinculada à reflexão teórica, para a práxis, é condição para a prática transformadora (Vazquez,1977). A práxis da categoria profissional a partir do pensamento marxiano “dá conta da totalidade da prática social ou objetivações humanas na produção material e imaterial, na produção e reprodução da sociedade e da vida social” (Cardoso; Abreu, p. 315, 2014). Portanto, a prática profissional não está dissociada da realidade. Ela acaba por se materializar nas relações sociais e se particulariza no processo histórico e pela consciência coletiva que constrói a práxis. Essa práxis ética é necessária, principalmente pelo processo de 6 desumanização causado pelo sistema capitalista, que transforma as motivações éticas em formas de alienação. Na realidade profissional do serviço social, a ética profissional que é base para toda a atuação da categoria, encontra-se dissociado na sua práxis e recomenda uma intervenção consciente, reflexiva e propositiva, visando a garantia dos direitos da população. Então, a práxis profissional tem de ser transformadora. TEMA 4 – PARTICULARIDADES ÉTICO-MORAIS As capacidades desenvolvidas pela práxis do ser humano possibilitam à humanidade ter como objetivo tornar-se um ser ético. Um sujeito considerado como ético-moral é compreendido como pessoa capaz de responder por seus atos em termos morais, sendo, portanto, capaz de discernir valores, compreender o certo e o errado, o bem e o mal. Desse modo, compreende-se que esse ser tem senso ou consciência moral e é capaz de se responsabilizar com os resultados de suas ações. Vale lembrar que o ato moral está acima das necessidades individuais do ser humano, uma vez que ele exige pensar no outro. A consciência do ser e sua liberdade são compreendidas como fundamentais para as formas de realização ético-moral. A moral é definida como um sistema de princípios, valores e normas socialmente determinados, reproduzidos de forma livre e consciente. Nem todas as ações morais têm certa implicação moral, pois nem todas as escolhas que realizamos terão consequência para outras pessoas, uma vez que são pessoais. Um exemplo que podemos utilizar é a opção religiosa. Com isso, a liberdade de escolha ocupa um lugar central na prática de cada indivíduo. A consciência e a liberdade são fundamentais para todas as formas de realização ético-morais, pois exige-se do indivíduo consciência à medida que ele tem um mínimo de participação consciente nas deliberações e escolhas de valores que realiza enquanto sujeito moral ou ético (Barroco, 2010). Portanto, para que o sujeito execute uma prática ética ele terá de apresentar um comportamento com uma série de práticas morais. TEMA 5 – EXIGÊNCIAS SOCIAIS E MOTIVAÇÕES MORAIS SINGULARES Socialmente, compreendemos a necessidade da existência de seres éticos-morais, baseados em valores sociais coletivos. A indispensabilidade da 7 moral na sociedade se dá pela necessidade de regulação do comportamento coletivo, que prevê a transgressão de normas. Quando nascemos, já contamos com um sistema normativo e costumes instituídos pela família e escola, por exemplo. Assim, aprendemos a assimilar uma série de valores e comportamentos que passam a fazer parte da nossa moral. Por intermédio do conhecimento crítico, o indivíduo é capaz de dizer não a determinados valores e normas, possibilitando a mudança da relação que é estabelecida com a estrutural moral da sociedade. Estamos subordinados a determinadas exigências morais. Entretanto, nem toda subordinação é compreendida de forma negativa. Por exemplo, o respeito à cultura de um determinado grupo, seus costumes, valores e tradições. Toda sociedade necessita de normas para a convivência dos indivíduos, pois os grupos trabalham e executam tarefas compartilhadas com regras básicas. Nesse sentido, tal subordinação pode ser compreendida como positiva, pois pode se dar em virtude de uma repressão de motivações singulares alienadas, por exemplo. Por vezes, o indivíduo dentro de sua singularidade está voltado para si, não se encontra dirigido para o coletivo. Entretanto, é preciso ficar atento à reprodução de normas que favorecem o individualismo. No âmbito da categoria profissional, por exemplo, estamos subordinados aos princípios e valores que orientam o código de ética da profissão de maneira democrática. Na concepção de Barroco (2010, p. 66), dentro de uma sociedade, “manter um posicionamento ético coerente durante a maior parte da vida já é uma das maiores exigências éticas; talvez seja a melhor definição do que seria preciso para se comportar eticamente”, mesmo que na vida cotidiana os valores objetivos se desenvolvem de modo desigual.
TEMA 1 – O ETOS De procedência grega, o etos tem como definição os hábitos adquiridos por uma comunidade. Estes recebem a denominação de identidade social (Barroco, 2010). Em uma vertente sociológica e antropológica, essa identidade social distingue um grupo social e cultural de outros. Também fundamenta uma sociedade com vistas a ordenar a realidade social para a manutenção de uma ordem e objetiva um convívio harmonioso. Por isso, é importante que exista vivência de valores sociais. Precisamos analisar o etos como “modo de ser do ser humano [sic] no mundo a partir das práxis, e não como uma teoria a ser assimilada e, posteriormente, praticada na realidade em que vivemos” (Abbagnano, 2003). A reflexão acerca do etos profissional iniciou-se no momento em que foi dado abertura para a construção de uma nova ética profissional, por meio de debates, projetos coletivos. TEMA 2 – ETOS E PROJETO PROFISSIONAL A construção do etos profissional do serviço social tomou maior proporção por meio de lutas sociais e do reconhecimento histórico e social da população, objetivando o constante rompimento das condições sociais estabelecidas. Para Barroco (2006, p. 68), o etos profissional “é um modo de ser constituído na relação complexa entre as necessidades socioeconômicas e ideoculturais, e as possibilidades de escolhas inseridas nas ações ético-morais, o que aponta para sua diversidade, mutabilidade e contraditoriedade”. A relação entre o etos e o projeto profissional está pautada na construção coletiva de profissionais com uma mesma ideia de sociedade, que exercem atividades em prol dela. Assim, profissionais seguem na luta por uma constante transformação societária, visando a alteração da atual realidade. Ações compreendidas como de caráter coletivo podem ser incorporadas em projetos de classe profissional e embasadas em manifestações éticas e políticas. Nesse sentindo, Netto (1999, p. 4) salienta: “os projetos profissionais apresentam a autoimagem da profissão, elegem valores que a legitimam 3 socialmente e priorizam o seus objetivos e funções, formulam os requisitos para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais [...]”. Portanto, um projeto profissional deve ir ao encontro das necessidades estabelecidas pela população, por isso, sua estrutura deve ser dinâmica e visar, por exemplo, transformações culturais e econômicas. Para construção deste projeto profissional que se encontra em constante transformação, a categoria necessita de organização e mobilização, para apresentar valores e finalidades comuns que irão nortear qualquer tipo de intervenção desses profissionais.Desse modo, é possível compreender a necessidade de a profissão ter aproximação, diálogo e mediações com movimentos externos, e não apenas com os internos. Especialmente, moral e cultura são determinantes para mediações externas, porque elas determinam a moral dos profissionais e influenciam na prática ética. A prática do assistente social e o seu modo de ser são definidos por um etos profissional. Ele não é definido apenas por meio de técnicas operativas, mas por intermédio de aspectos teórico-metodológicos e ético-políticos de cada profissional. O etos profissional é capaz de transformar ideologias conservadoras em ideologias progressistas e do assistencialismo transformar a conquista em reconhecimento dos direitos. O profissional de serviço social está voltado para um projeto profissional que vai ao encontro do etos que visa a defesa intransigente da população, visando a uma nova ordem societária mais justa e igualitária. Assim, cabe ao profissional uma prática contra qualquer forma de preconceito e discriminação, para alcançar os princípios fundamentais do código de ética do serviço social. O etos sempre estará presente na profissão em todos os momentos nos quais houver a presença da hegemonia da categoria atuando, respeitando e vivenciando as normas profissionais. TEMA 3 – ETOS DA PERFECTIBILIDADE Reportando a um aspecto sócio histórico da profissão, o serviço social, no período de seu surgimento, encontrava-se vinculado ao etos da perfectibilidade. Tal etos é idealista, distante da realidade social concreta, na qual realizamos nossa intervenção profissional. 4 Quando uma ação está voltada para o cumprimento de normas estabelecidas em um código de ética, ela diz respeito ao etos da perfectibilidade. Portanto, a ação humana fica atrelada ao cumprimento do que está previsto no código. Esse etos valoriza o aspecto disciplinar explicitado no próprio código de ética. Assim, fica compreendido que apenas as normas apresentadas em tal código darão conta de responder à ação profissional (Machado, 2012). Sendo assim, essa compreensão de cumprimento de normas traz um modo de ser permanente e reduz a capacidade de a pessoa apresentar-se como crítica da própria realidade em que se encontra inserida. Tem-se um entendimento por meio desse etos de que as diretrizes e normas contidas no código de ética são suficientes para embasar e responder à ação profissional. Nesse sentido, compreende-se: a atuação profissional está relacionada estritamente às normas contidas no código. O etos da perfectibilidade compreende a teoria e a prática com dicotomia, assim, o profissional vislumbra as normativas do código de ética como a base teórica para a prática de agir, sem ter uma visão de totalidade; entretanto, esse é o posicionamento de um profissional conservador. O assistente social necessita ter uma prática profissional que vá ao encontro dos princípios da categoria; sendo assim, torna-se necessário conhecer uma diversidade bibliográfica para complementar os valores contidos no código de ética. Por isso, esse etos revela certo conservadorismo profissional, o qual também é socialmente reproduzido. Visa também a um fim específico como foco principal de suas ações e potencializa aspectos normativos. Quando a atuação profissional estiver pautada na perfectibilidade, haverá um modo de ser profissional inflexível diante das mais variadas expressões da questão social. Sendo assim, observamos a inviabilidade de ter uma prática pautada nesse etos, uma vez que os assistentes sociais não podem intervir com distanciamento das diversas expressões da questão social, o que é o objeto de trabalho. Com esse distanciamento, não se pode formular e implementar propostas para o enfrentamento das contradições sociais. 5 TEMA 4 – ETOS DA MOBILIDADE O etos da mobilidade proporciona ao ser humano a possibilidade de construção dos seus próprios valores por intermédio de ações, assim, ele não é estático, pois movimenta-se. É um etos comprometido com a inversão, com o rompimento de valores tracionais (Machado, 2012). O assistente social, ao intervir na realidade utilizando o etos da mobilidade, não agirá de forma neutra, sem valor algum. Ele apresentará valores que não estejam predeterminados, sem possibilidade de reconstrução, pois o pensamento pode ser transformado. Portanto, no momento da intervenção profissional, o assistente social, não deve deixar que valores predeterminados influenciem nas ações. O etos da mobilidade, atrelado à prática profissional, possibilita uma ação alicerçada na reflexão crítica perante a realidade profissional que estamos inseridos, voltada à construção de valores no espaço de intervenção. Toda ação humana, independentemente do etos que fundamentar, é uma ação embasada em valores. Ela visa harmonia social e contribui para a libertação do sujeito. Para tanto, a ação do assistente social vislumbra uma prática voltada à transformação social. O etos da mobilidade tem subsídios para responder às necessidades cotidianas do profissional por meio de ações que estão ligadas a atos e a pensamentos críticos. Essas ações profissionais encontram-se próximas às questões sociais e dos cidadãos – pessoas de direitos. Sendo assim, este etos tem certa subjetividade, enriquecida pela presença de assistentes sociais que realizam intervenções que visam a efetivação de direitos dos cidadãos. Portanto, o etos da mobilidade encontra-se no cotidiano dessa categoria profissional, juntamente com a mutação da realidade, reproduzindo certa criticidade por meio de ações que possibilitam posicionamentos efetivos para a sociedade, desconsiderando qualquer prática conservadora. TEMA 5 – O ETOS DA MOBILIDADE E O SERVIÇO SOCIAL O assistente social não adotou o etos da perfectibilidade na sua atuação profissional em virtude do seu tradicionalismo e conservadorismo, e sim o etos da mobilidade. Entretanto, não é possível afirmar que haverá uma hegemonia do 6 da mobilidade na categoria, em virtude das contradições históricas vivenciadas pela profissão. Nesse sentido, vislumbrar a hegemonia desse etos é um desafio, apresenta-se como uma luta em prol do fortalecimento do ser social e tem como perspectiva um processo de ruptura do conservadorismo. Cabe lembrar: essa ruptura não é uma tarefa fácil, uma vez que o conservadorismo ainda está presente na profissão. As ideias do etos da mobilidade são coletivas, sem imposição de pensamentos e posicionamentos, e não vislumbram hegemonia ideológica. O posicionamento profissional irá prezar sempre pelo cidadão, manifestando-se perante as injustiças e autoritarismo; preza pelas demandas da sociedade e visa a construções sociais coletivas. É preciso proporcionar aos profissionais o aprofundamento em relação ao etos da mobilidade, para que a prática esteja embasada em princípios que proporcionam o exercício da democracia. O etos é o modo de ser do ser humano. Desta maneira, ele perpassa a trajetória do assistente social também enquanto ser humano. Compreende-se que o etos profissional é o modo de ser do profissional e vai além da formação, uma vez que os recém-formados são pessoas com trajetória histórica constituída por questões que os orientaram ao longo de suas vivências. As relações sociais são vivenciadas no cotidiano de cada profissional, ou seja, as vivências e trajetórias pessoais não devem ser desvinculadas daquelas ligadas ao lado profissional. Isso se dá pelo fato de o ser humano não ser fragmentado sobre as diversas dimensões que o caracterizam, por exemplo, tratando-se de uma dimensão laborativa, nas trajetórias de formação enquanto ser humano inserido na sociedade, aplicar o seu próprio modo de ser enquanto profissional. Se o etos profissional for o da mobilidade, ele proporciona mutabilidade e vai ao encontro do projeto ético-político-profissional. O projeto ético-político do serviço social é abrangente e inacabado. Concomitantemente, ele encontra-se em construção, uma vez que a realidade do país sofre mudanças e, por consequência, a profissão necessita adequar-se às exigências apresentadas. Nesse sentido,diante dessa característica, o projeto vai ao encontro do etos. Com isso, o etos profissional do serviço social encontra-se intrínseco à relação ético-política diante das transformações e determinações históricas presentes na sociedade e relacionadas aos aspectos culturais, políticos, sociais. 7 O código de ética do serviço social é norteador para atuação profissional, sendo o aporte ético-político da profissão. Sempre que respeitados os princípios fundamentais contidos no código de ética profissional, e sempre que vivenciados e considerados em cada atuação profissional, esse etos sempre estará presente. Portanto, as práticas de intervenção profissional e o modo de ser do assistente social estão voltados, por meio do projeto ético-político do serviço social, para o etos da mobilidade. Este objetiva a defesa intransigente da liberdade como valor central, a defesa dos direitos humanos, equidade, justiça social, emancipação, acesso universal aos bens e serviços das políticas sociais e da nova ordem societária. Sendo assim, o profissional posiciona-se contra qualquer forma de preconceito e discriminação vivenciada pelos cidadãos.
2 TEMA 1 – O SERVIÇO SOCIAL E A ÉTICA A ética profissional é incorporada no debate dos assistentes sociais no momento em que se inicia a elaboração de discussões coletivas a respeito de um novo código de ética profissional. Essas reflexões são primordiais, pois a consciência ética profissional é considerada como inseparável das ações e práticas do assistente social. O profissional deve proceder em conformidade com a ética – que é qualidade essencial para os serviços prestados aos cidadãos. Por isso, o profissional de serviço social necessita compreender como pilar central, no exercício da profissão, a atuação embasada na ética profissional. A ética está relacionada à moralidade profissional, sendo composta por um conjunto de normas e princípios que tendem a orientar a relação entre a profissão e a sociedade. A ética profissional proporciona reflexões teóricas e serve como resposta consciente para a categoria, rompendo com a visão ética abstrata e idealista. Os autores Paiva et al. (2012, p. 200) salientam: “referida [sic] as profissões, a ética diz respeito à moralidade profissional: conjunto de normas e princípios que expressam escolhas axiológicas e funcionam como parâmetros orientadores das relações entre a profissão e a sociedade”. Para eles, “o campo de atuação do serviço social encontra-se em torno da viabilização de direitos sociais, expressos principalmente nas políticas sociais, programas institucionais e benefícios” (Paiva et al., 2012, p.168). Cotidianamente, o profissional de serviço social lida com a mediação da tensão das contradições e divergências entre os interesses das classes trabalhadoras, do Estado e das classes dominantes. Por isso, é interessante aplicar a prática de acordo com o caráter eminentemente ético-político, com vistas à eficácia da aplicação dos objetivos garantidos no código de ética da profissão, na perspectiva de uma sociedade livre e igualitária. Sendo assim, pensemos a ética como possibilidade de enfrentamento das contradições. O código de ética vigente (Brasil, 1993a) traz como perspectiva o embasamento para uma atuação profissional ética, e encontra-se atrelado às transformações da sociedade brasileira, direcionado aos compromissos assumidos pelo serviço social. Com isso, valores e diretrizes orientam o exercício profissional e se posicionam contra os interesses e valores que prevalecem na 3 ordem do sistema capitalista (Brasil, 1993a). Diante dos desafios postos à profissão do serviço social, ligados ao enfrentamento da questão social, o código de ética tem elementos que irão orientar o fazer profissional, para atender às necessidades dos cidadãos. Na atual conjuntura, convém destacar a importância de o exercício profissional estar baseado nas perspectivas preconizadas no código de ética, atento às transformações contemporâneas. Caso o fazer profissional não esteja embasado eticamente, todo o saber, o conhecimento teórico-metodológico e as técnicas estarão negando os princípios do serviço social. É de suma importância que no momento da atuação, cada profissional tenha zelo pelos princípios éticos e morais, atuando na defesa intransigente pela sociedade, no objeto de trabalho: a questão social. Assim, sob a ótica dos autores Paiva et al. (2012, p. 200) falar da ética profissional é dar uma “resposta consciente de uma categoria profissional às implicações ético-políticas de sua intervenção, indicando um dever ser no âmbito de determinada projeção social”. TEMA 2 – O COTIDIANO PROFISSIONAL Desafios cotidianos para o serviço social estão nas relações sociais. Por meio da compreensão ética, há o conhecimento dos limites e possibilidades do fazer profissional na atualidade. Passando por um momento histórico de modernidade, considerando suas dimensões sociais, político-econômicas e culturais, precisamos nos remeter ao entendimento da concepção de sociedade. Vivemos em uma sociedade capitalista de produção e de relações sociais que se fundamentam na divisão social do trabalho e na constituição de classes sociais. Portanto, por meio das relações sociais, o assistente social tem a prática profissional voltada à compreensão das necessidades sociais. Esse compromisso encontra-se assumido no código de ética da profissão, o qual prevê que “o/a profissional tenha visão crítica, de tal forma que lhe possibilite certa compreensão da totalidade”. (Brites et al., 2012, p. 125). Na contemporaneidade, compreende-se que o perfil dos profissionais é transformado com base nas necessidades sociais. Atualmente, o profissional 4 precisa de qualificação para a execução e gestão de políticas sociais, públicas e empresariais. Um profissional propositivo, com formação ética sólida, contribui para a sociedade esclarecendo aos cidadãos sobre direitos sociais entre outras informações, diante da globalização presente no mundo. Nesse sentido, é importante que o saber teórico-metodológico seja complementado com a reflexão ética (Iamamoto, 2000). Portanto, no cotidiano profissional, o assistente social tem o desafio de conhecer e interpretar algumas lógicas do capitalismo contemporâneo, principalmente tratando-se das alterações constantes no mundo do trabalho e em virtude da desproteção social e da falta de estrutura das políticas sociais de modo geral (Piana, 2009). Com a perspectiva de uma prática transformadora, a contribuição profissional deverá acontecer por meio de práxis educativas e orientadoras, permitindo a construção do respeito e dos valores dos cidadãos como pessoas livres, capazes de pensar, decidir e agir, ou seja, transformar a realidade na qual encontram-se inseridos. Assim sendo, a prática profissional envolve a ação de profissionais propositivos, com competência para articular sobre seus projetos, defender seu campo de atuação, sem pactuar com ações rotineiras, atuando para atender às necessidades apresentadas pela população. A atuação do assistente social vai do profissional de base – que realiza atendimento direto à população – até o planejamento. Na trajetória profissional do serviço social, observamos como crescente campo de atuação a prestação de serviços na área do “planejamento, gestão e execução de políticas, programas, projetos e serviços socioassistenciais”, na área acadêmica, da pesquisa, na produção do conhecimento, porém, há alguns campos a serem ampliados, como por exemplo [sic] a área da educação, previdência social, habitação” (Piana, 2009). Com ampla visibilidade no cenário atual brasileiro, o serviço social apresenta-se socialmente como uma profissão consolidada, sustentada por um projeto ético-político que tende a responder qualificadamente às expressões da questão social. Portanto, por meio desse projeto, o profissional encontra-se comprometido com a “autonomia, defesa da liberdade, equidade, com a socialização da política e da riqueza socialmente produzida e pelo desenvolvimento dos cidadãos atendidos pelo serviço social” (Piana,2009, p. 5 101). Vislumbra-se que, por meio da efetivação do projeto ético-político, profissionais ultrapassem limites superando o assistencialismo e lutem pela consolidação e acesso aos direitos dos usuários. TEMA 3 – DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO COTIDIANO O grande desafio cotidiano do serviço social é a superação do conservadorismo, que transmite práticas assistencialistas à profissão. Mesmo após anos do movimento de reconceituação, resultado do rompimento de práticas tradicionais conservadoras. Esse fato precisa ser superado. Por isso, a necessidade de constante aprimoramento intelectual dos assistentes sociais como possibilidade de uma prática comprometida com os direitos. Essa prática encontra-se em processo constante de renovação, por isso, cabe ao profissional redefinir estratégias de ação atualizadas perante às novas expressões da questão social, como consequência desse sistema. No exercício profissional, é preciso averiguar possibilidades de ação, utilizando a autonomia profissional para proporcionar aos usuários, por meio da proposta de ação, a transformação. Sob a ótica de Iamamoto (2000, p. 113), um dos maiores desafios contemporâneos é “desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano”. Consideramos ainda como desafio profissional a ideologia neoliberalista, que visa o enfraquecimento das lutas de classes sociais e a subordinação da população perante o capital. Fica ainda o desafio de preparar profissionais para intervir nas contradições presentes na sociedade em virtude da ordem neoliberal e em virtude do conservadorismo, com o compromisso com a qualidade da formação, rompendo com práticas meramente tecnicistas e burocráticas. Portanto, cabe aos profissionais a possibilidade de um posicionamento ético-político que permita o rompimento com processo de alienação à lógica do capital, incentivando o rompimento da subordinação, despolitização, trabalhando em prol das forças sociais para motivar e almejar uma sociedade igualitária com acesso a bens e serviços na luta efetiva e rotineira pelos direitos. Portanto, profissionais propositivos, estimulando e incentivando os movimentos sociais e 6 a luta da categoria é algo que necessitamos tornar hegemônico para todos os profissionais. TEMA 4 – A FUNÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM TEMPOS ATUAIS Diante da ordem do capital, de todas as mudanças sociais, é preciso ter um “entendimento necessário para se pensar estratégias de resistência frente aos [sic] tempos atuais. O conservadorismo contemporâneo ameaça valores normativos da profissão”, perante ao agravamento de questões sociais. (Bento, 2013, p. 4). Nesse sentido, o assistente social necessita realizar uma leitura crítica das peculiaridades profissionais, possibilitando momentos de reflexão, superando interesses individuais e conservadores em consonância com o significado atual da profissão. Cabe ao serviço social, na sua dimensão ético-política, em uma visão crítica e reflexiva, desenvolver o exercício profissional em busca do fortalecimento dos movimentos sociais e da população em geral, visando o protagonismo e emancipação social, para o enfrentamento das barbáries impostas na sociedade. Para tanto, é preciso uma intervenção qualificada, vislumbrando a defesa do processo de enfrentamento da desigualdade. TEMA 5 – PENSAR A ÉTICA PARA A FORMAÇÃO A partir da conquista da elaboração de um novo código de ética para o serviço social, após debates coletivos, que resultaram no código de 1993 (Brasil, 1993a), marcado por uma legitimidade teórico-prática, destaca-se na profissão a importância de reconhecer a ética como fundamental instrumento para o hegemônico projeto-profissional da carreira. Ao longo dos anos, profissionais apostam a cada dia no aprofundamento do conhecimento, comprometidos com a qualidade do seu fazer. Com a publicação do novo código de ética, esse fazer profissional tornou-se mais público, obtendo com isso maior credibilidade perante a população usuária desses serviços. Nos anos de 1990, a categoria proporcionou debates acerca das políticas sociais públicas, em especial, a assistência social como direito social perante as relações entre Estado e sociedade civil. Esses debates contribuíram para o início 7 de reflexões acerca da identidade profissional para fortalecer o reconhecimento da profissão e os rumos a serem traçadas por parte da categoria (Piana, 2009). No ano de 1998, ocorreu a reforma do projeto de formação profissional, a qual foi motivada pela mobilização e participação vivenciada no momento da revisão curricular de 1982. Portanto, no meio acadêmico, objetivou-se a formação de profissionais generalistas, rompendo assim com as ideias de especializações do fazer profissional. Nesse sentido, sob a ótica de Faleiros (2005, p. 32) “a prática é formulada como um processo de trabalho, como uma atividade com fins, meios e resultados em torno da questão social, definida formalmente como objeto do Serviço Social”. Os acadêmicos de serviço social precisam iniciar reflexões acerca da ética profissional para que tenhamos futuramente profissionais críticos e preparados para lidar com as contradições presentes na sociedade. Com vistas ao aprimoramento intelectual, no compromisso com a qualidade da formação, é preciso pensar a ética com base no rompimento da atuação com cunho burocrático, tecnicista. É de suma importância demonstrar aos acadêmicos de serviço social a necessidade de um posicionamento ético, pois quando tal conduta não é adotada há consequências em virtude da falta de ética, por exemplo. É preciso formar sujeitos éticos, de tal forma que impossibilite a reprodução de uma atuação embasada no senso comum, alienado à lógica capitalista. Por isso, diante da atual conjuntura brasileira, necessitamos formar profissionais que contribuam para a construção de uma nova ordem societária. Nessa perspectiva, Koike (2000, p. 107) assevera que “as alterações na configuração sociotécnica da profissão evidenciam ser a formação profissional um processo dinâmico, continuado, inconcluso, em permanente exigência de apropriação e desenvolvimento dos referenciais críticos de análise e dos modos de atuação na realidade social”. Sob a ótica de Iamamoto (2001, p. 52), tratandose da formação profissional e do trabalho do serviço social quanto aos avanços qualitativos: “fortes embates e discussões no que diz respeito à relação dialética entre teoria e exercício profissional (prática), ou seja, a busca de estratégias do profissional vão [sic] mediar as bases teóricas acumuladas com a operatividade do trabalho profissional”.
2 TEMA 1 – A LEI DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO: LEI N. 8.662/93 A Lei 3.252, do ano de 1957 (Brasil, 1957), em conjunto com o Decreto 994, de 15 de maio de 1962 (Brasil, 1962), dispuseram a respeito da regulamentação da profissão de serviço social no Brasil, sendo ela inscrita na divisão sociotécnica do trabalho. Entretanto, a Lei sofreu alterações diante do processo de renovação da profissão por meio das dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas compromissadas pela categoria. Em consequência de mudanças sociais e, sobretudo, com relação à categoria, foi necessário confeccionar um novo aparato jurídico que expusesse avanços profissionais. Portanto, atualmente a profissão é regulamentada pela Lei. n. 8.662, de 07 de junho de 1993 (Brasil, 1993). A lei de regulamentação da profissão legitima o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESSs) e traz, nos artigos 4 e 5, as competências e atribuições privativas dos profissionais da categoria. Os profissionais de serviço social, além de embasar suas ações no código de ética, têm maior respaldo e segurança por meio do amparo legal para suas intervenções. Com a regulamentação da profissão, os assistentes sociais passam a comprometer-se ainda mais com suas ações e têm de promover a manutenção e o cumprimento das leis na defesa intransigentepelos direitos sociais. O desenvolvimento de uma profissão se dá por meio das respostas às demandas sociais apresentadas por diferentes segmentos da sociedade. Nesse sentido, desde o momento de ruptura com o conservadorismo, nosso projeto profissional compreende a questão social como matéria que justifica o fazer profissional, por isso, para o enfrentamento das expressões da questão social necessitamos de uma atuação coletiva. Portanto, o compromisso do nosso código de ética é a liberdade como valor ético central e a defesa da democracia e dos direitos humanos; nossos princípios apresentam a importância de um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária no qual todos tenham acesso a bens e serviços. Nessa perspectiva, valores presentes na sociedade, classificados como individualistas e de competitividade são negados pelo conjunto de legislação que embasam a atuação profissional (CFESS, 2012). 3 No momento em que colocamos em discussão atribuições privativas é preciso trazer à tona também as competências profissionais, pois, dessa forma, as reflexões não ficam pautadas apenas no que é função exclusiva do profissional, mas no que podemos e/ou devemos desenvolver potencialmente no trabalho profissional. Na lei de regulamentação da profissão, no art. 4, são tratadas as competências; no art. 5, as atribuições privativas dos assistentes sociais. Conforme Iamamoto (2012, p. 37), “no sentido etimológico, a competência diz respeito à capacidade de apreciar, decidir ou fazer alguma coisa, enquanto a atribuição é um prerrogativa, privilégio, direito e poder de realizar algo”. Nesse sentido, as atribuições privativas são aquelas de responsabilidade apenas de profissionais formados em serviço social, tais como: assumir, no magistério de Serviço Social, tanto na graduação quanto na pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social. Já as competências são aquelas ações cujo assistente social desenvolve, porém, outras profissões podem exercer também (Matos, 2015). Sob a ótica de Terra (2000), quando existirem atribuições privativas no artigo que se trata das competências, elas são compreendidas como atribuições privativas. Assim sendo, “os incisos II, III e VIII e XI do Art. 4º, que tratam das competências (genéricas), são, de fato, atribuições privativas do assistente social, porque apresentam competências que também estão previstas no art. 5° na referida Lei concernente às atribuições privativas” (CFESS, 2012). Então, o profissional de serviço social precisa ter habilidade e conhecimento que garanta a execução das atividades estabelecidas como privativas. Diante de toda as competências e atribuições estabelecidas, a lei como forma de orientação, direitos e deveres é de suma importância que seja de conhecimento dos assistentes sociais, pois no contrário, poderá comprometer o exercício profissional. As atribuições privativas, previstas no art.5 da lei em seus incisos I, II, III e IV externam atividades que podem ser executadas em órgãos ou empresas, por exemplo, que necessitam da composição de um profissional no quadro técnico, para a execução das atribuições. 4 I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos [...] II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade [..].; III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, [...] IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social. (Brasil, 1993b) Já nos incisos V ao X é prevista a atuação do assistente social na área acadêmica nos níveis de graduação e pós-graduação. Caberá apenas a profissionais da área a formação de novos assistentes sociais, especificamente em disciplinas que necessitam de conhecimento próprio da profissão. V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pósgraduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social. (Brasil, 1993b) Por fim, nos incisos XI ao XIII, apresentam-se demandas voltadas à atuação dos Conselhos Regionais de Serviço Social. Eles têm como público alvo os próprios profissionais da categoria. XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional. (Brasil, 1993b) Portanto, diante do exposto, os profissionais de serviço social precisam ter clareza e entendimento aprofundado sobre a lei que regulamenta a profissão, principalmente por ela relacionar todas as competências e atribuições profissionais. É no momento da formação profissional que se “possibilita o acesso às informações sistematizadas de ordem teórica, metodológica e ideológica, julgadas necessárias para o exercício futuro da atividade” (Nicolau, 2004, p. 92). Assim, em seu momento dentro da academia, o envolvimento com as produções enriquece o acadêmico e o prepara para a atuação perante as expressões da questão social, visando solucionar respostas às necessidades e exigências presentes na sociedade, além de estimular a criticidade e objetivar a uma prática rotineira, pois a formação é constante diante das dinâmicas sociais. 5 TEMA 2 – PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DA PROFISSÃO Foi no processo de recusa do conservadorismo profissional que se encontraram as raízes de um novo projeto profissional, as quais são consideradas como base do atual projeto ético-político. Ele é considerado como um projeto coletivo e é relacionado com as profissões reguladas juridicamente, as quais supõem formação teórica e/ou técnico-interventiva, geralmente de nível superior (Netto, 1999). Portanto, o projeto ético-político é uma projeção da categoria que apresenta autoimagem da profissão, envolve sujeitos individuais ou coletivos que visam à valorização ética e tem vínculo com determinados projetos societários. A construção do projeto ético-político do serviço social brasileiro iniciou na transição da década de 1970 à de 1980. Nesse período, marcado pelo desenvolvimento da profissão, pelo amadurecimento político-organizativo da profissão, iniciou-se um processo de recusa e crítica do conservadorismo profissional. Esse movimento não surgiu repentinamente, pois foi no Movimento de Reconceituação que foram dados os primeiros passos, já que nesse momento o conservadorismo era objeto de problematização profissional. Dos anos de 1960 aos anos de 1980, essa situação foi problematizada em um nível diferente, pois coincidiu com a crise da ditadura brasileira, presente na sociedade desde o ano de 1964. Ocorreu uma resistência à ditadura brasileira, hegemonizada por seguimentos burgueses descontentes, porém, ela tornou-se mais intensa em virtude da reinserção da classe trabalhadora na cena política. Portanto, a partir desses posicionamentos, em virtude do conservadorismo no país contra os interesses da população, a ditadura foi derrotada e, consequentemente, culminou na eleição indireta de Tancredo Neves, no ano de 1985 (Netto,1999). Até a metade dos anosde 1980, destacamos que as demandas democráticas e populares foram reprimidas por longo tempo, estremecendo a vida social brasileira, porém, a partir da mobilização dos trabalhadores urbanos, por meio de organizações sindicais, movimentos sociais, entre outros, a necessidade de transformações na sociedade tornou-se ainda mais evidente. Nesse momento da história brasileira, o conservadorismo do serviço social confrontou-se com a conjuntura da época, diante do posicionamento de 6 profissionais que se mobilizavam e repercutiam exigências políticas e sociais postas pela ruptura da ditadura imposta no país (Netto, 1999). Portanto, a luta por um regime democrático na sociedade brasileira tornou-se parte da categoria, resultando no estímulo pela ruptura do conservadorismo profissional. Neste momento, na queda da ditadura, que se iniciou a condição política profissional para a constituição de um novo projeto profissional. A priori, nem todos os profissionais reagiram da mesma maneira, tendose em vista ser um grupo heterogêneo, porém, grande parte manifestou-se, por meio de ativas mobilizações na contestação da conjuntura política brasileira. Profissionais juntaram-se a movimentos de trabalhadores e, diante de certo movimento conservador ainda presente, instaurou-se o pluralismo político na profissão. Os aspectos políticos no Brasil, a luta massiva contra a ditatura e, consequentemente, a conquista da democracia política trouxeram para a categoria profissional a disputa entre diferentes projetos societários, os quais foram confrontados no movimento das classes sociais. Os estímulos democráticos da população, por intermédio dos interesses dos trabalhadores, foram incorporados e/ou intensificados profissionalmente. Por conseguinte, dentro da categoria profissional, os projetos societários eram inovadores, distintos daqueles de anteriormente, que respondiam interesses das classes dominantes (Netto, 1999). Portanto, atualmente, diante do compromisso com o usuário, com o acesso aos direitos, com a elaboração de políticas de caráter universal, o projeto ético-político baliza a relação com os usuários dos serviços, com demais profissões e com organizações. Tende a ser um projeto profissional hegemônico, que considera o pluralismo profissional. Vinculado a um projeto de transformação da sociedade, o projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central, possibilitando a escolha de alternativas concretas, comprometendo-se assim com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Por isso, propõe a construção de uma nova ordem societária, sem denominação e/ou exploração de classe, gênero e etnia. (Netto, 1999). 7 Todo projeto profissional tem sua dimensão política, seja nas relações com os projetos societários, seja por meio das perspectivas particulares da profissão. Entretanto, nem sempre essas dimensões são explicitadas, principalmente quando apontam para direcionamentos conservadores. Essa não divulgação das dimensões acontece em virtude das características do conservadorismo, pois nega dimensões ideológicas e políticas. Destaca-se como maior desafio do projeto ético-político a possibilidade de torná-lo hegemônico diante da presença do conservadorismo ou tendências conservadoras atreladas às práticas profissionais. Porém, alguns autores compreendem que essa hegemonia é existente na categoria e, por conseguinte, o conservadorismo já foi superado. É por meio desse projeto que se apresentam processos reflexivos da atuação profissional. Eles envolvem um conjunto de leis e resoluções, documentos e textos políticos, como: o código de ética da profissão, a lei que regulamenta a profissão e as novas diretrizes curriculares. Portanto, a prática profissional, necessita ser norteada por este projeto e dirigida ao favorecimento dos interesses sociais distintos e contrários.
TEMA 1: OS CÓDIGOS DE ÉTICA O primeiro código de ética do assistente social foi aprovado no ano de 1947, com alterações nos anos de 1965 e 1975, nas quais permaneceram parcialmente as bases filosóficas do humanismo tradicional (BARROCO, 2008). Sendo assim, tendo em vista certo avanço, no ano de 1986 ocorreu um momento histórico: foi criado um novo código, inserido no âmbito das discussões éticas contemporâneas, visando uma ética com respostas para os desafios presentes na sociedade. O código de 1986 trouxe ganhos 1986, visando a assegurar vínculos com as prioridades da sociedade e respostas para estas demandas, no fortalecimento de sua identidade profissional, embasada em um projeto de sociedade mais justa e igualitária. No ano de 1993, surge um novo código de ética, que expressa avanços significativos, vigentes até os dias atuais. Portanto, o código de ética de 1993 é considerado uma das referências dos encaminhamentos práticos e do posicionamento político da categoria. TEMA 2: CÓDIGOS DE ÉTICA DE 1947 E 1965 O código de 1947 foi a primeira formulação ética do Serviço Social, e foi uma resposta à exigência de um conjunto de valores com os quais os profissionais se comprometiam. Destacamos que este código de ética teve como característica seu conservadorismo, uma vez que as suas preocupações eram voltadas para os deveres e a formação moral dos profissionais (BARROCO, 2008). Em vistas da regulamentação da profissão, no ano de 1965 foi sancionado um novo código de ética, que prevaleceu com as noções e os valores tradicionais de cunho cristão e ainda conservador, relacionado à prática profissional (BARROCO, 2008). Em suma, o código de 1965 possuía um caráter meramente normativo e controlador. Ele não considerava criticamente as contradições sociais e tampouco ultrapassava uma perspectiva liberal, uma vez que o neotomismo fundamentava os deveres profissionais. Portanto, nos dois códigos de ética permaneceram vigentes as mesmas concepções filosóficas. 3 TEMA 3: CÓDIGOS DE ÉTICA 1975 E 1986 No código de ética do ano de 1975 mantêm-se os pressupostos filosóficos neotomistas e os vínculos teórico-metodológicos do Serviço Social com o estrutural-funcionalismo. Este código de ética tem como valor central a pessoa humana, objeto e fim da vida social. Já o código de ética de 1986 representa um marco de ruptura ética e ídeo-política da profissão com a perspectiva neotomista e também com o funcionalismo, que estabelece as influências tradicionais do serviço social. O código de 1986 postula novos deveres para a categoria profissional, como democratizar as informações e tentar alterar a correlação de forças no âmbito institucional. Portanto, fica evidente o rompimento com os códigos anteriores. Considerado como elemento fundamental de inovação, a inserção das questões de denúncias por falhas éticas institucionais e profissionais, é destaque. Entretanto, mesmo diante destas conquistas, o código de 1986 demonstrou insuficiência. Segundo Iamamoto (2012, p.121), este código teve seus limitadores, pois apresentava “uma visão das relações sociais tomadas como dualidade e não como contradição. Ora, são as contradições essenciais que atravessam e constituem as relações sociais na era capitalista. ” É importante ressaltar outro ponto destacado pela autora “ele surge no Brasil em um momento em que o Movimento de Reconceituação latino-americano já havia feito crítica, que não é por ele incorporado. O Código de Ética de 1986 emerge como uma expressão tardia do debate da reconceituação. ” Tendo em vista estas insuficiências, após discussões realizadas pela categoria diante do amadurecimento do debate, propõe-se a necessidade da criação de um novo código, a partir da revisão do código de ética do ano de 1986, e em 1993 foi criado o novo código de ética, o qual se encontra em vigência hoje (PAIVA at al, 2012). TEMA 4: PERSPECTIVANDO A ÉTICA PROFISSIONAL É importante deixar claro que a partir da atuação ética do assistente social, possibilitamos a tão esperada transformação social. Certamente que não depende apenas de que sejamos profissionais éticos, pois vai além da nossa 4 necessidade de atuação ética. Porém, é preciso iniciarmosa trajetória, visando este fim. Neste sentido, Netto (2012, p.37) ressalta que: “o processo de transformação social não tem somente implicações éticas; ele tem, igualmente, motivações morais que remetem à ética: a recusa de determinada moralidade pode abrir o caminho para que indivíduos e grupos sociais se vinculem a projetos de transformação social.” (NETTO, 2012, p. 37) Deste modo, é importante que possamos mobilizar a sociedade civil organizada e demais profissões para que, assim possamos estar ainda mais próximos dos nossos princípios e valores estipulados pela categoria, indo ao encontro do nosso projeto ético-político da profissão e dos projetos sociais. Cabe ainda destacar que a categoria compreende que o código ético para ser eficiente e eficaz, necessita ir ao encontro das necessidades identificadas socialmente, tendo em vista de que fazemos parte de uma profissão que visa atuar, perspectivando respostas às necessidades sociais e o acesso aos direitos da classe trabalhadora. Atuar eticamente é reconhecer que nossa profissão possui uma série de documentos que servem de embasamento para o nosso fazer profissional, que nos dá orientação de como devemos ser, agir e atuar nas mais diversas expressões da questão social e que se encontram presentes em nossa sociedade. O serviço social é uma profissão que necessita estar ainda mais próxima da população, em decorrência da desigualdade social severa que o sistema capitalista vem estabelecendo. Para tanto, esta aproximação nos permite estar ainda mais próximos da realidade, permitindo, assim, uma leitura crítica, que irá embasar articulações políticas e estratégias de atuação. Neste sentido, a ética profissional irá nos nortear diante desta perspectiva traçada pela categoria profissional, em momentos de reflexão e construção da ética do serviço social. Consideramos imprescindível que o conhecimento sobre a necessidade de sermos seres éticos, principalmente quando estivermos no nosso campo de atuação, seja compreendido por toda a categoria. Por isso a necessidade de proporcionar reflexões rotineiras acerca desta temática. Assim, enquanto categoria, avaliamos a efetividade das nossas orientações éticas, principalmente para que seja garantido o rompimento com o conservadorismo profissional que, por vezes, encontra-se estabelecido na atuação, em virtude de análises 5 embasadas no senso comum e pelo fator de haver um conservadorismo social resistente à transformação. Realizar estudos acerca do código de ético profissional é perceber que já realizamos uma trajetória de construção, desde o primeiro código até o atual. Portanto, é preciso respeitar a necessidade de formulação, os avanços, conquistas, para que não tenhamos uma atuação conservadora. A construção e evolução destes documentos se deram pelas mãos de profissionais. Sendo assim, é preciso respeitar estes momentos ricos, que consideramos como amadurecimento da profissão, que faz com seja reconhecida socialmente, interrompendo concepções equivocadas sobre o serviço social. Vale lembrar, conforme destacado por Cortela (2012, p. 68), “o assistente social deve negar, com sua prática, o errôneo conceito, presente em situações jocosas, de se considerar a profissional como ‘a moça boazinha que fala baixinho e que o governo paga para ter dó da gente’”. Com base nesta exposição do autor, considero fundamental que a nossa atuação venha romper com esta visão errônea, a qual fora construída no momento em que a profissão permitia a presença do conservadorismo. Quando sugerimos que a ética seja discutida, vale lembrar da necessidade de esta se dar em diferentes âmbitos da categoria, pois, além de chamar profissionais que se encontram atuando na base, é preciso mobilizar a categoria como um todo. Nesta perspectiva, Raizer (2012, p. 182) entende que necessitamos focar na ética a partir dos “determinantes históricos, do problema ético, a postulação do ético como ideologia, as polêmicas éticas nos confrontos dos diversos projetos profissionais, a ética entre a teoria e a ação profissional na sociedade brasileira, como o serviço social se apropria da ética, etc.” Diante deste entendimento da autora, podemos compreender a necessidade desta pauta ficar próxima das discussões da categoria, tendo em vista as diversas vertentes para uma única temática: a ética. Partindo desta ótica e visando a esta aproximação com os estudos da ética, Raizer (2012, p. 182) ressalta ainda que a partir de reflexões e de estudos “...poderá possibilitar a/aos assistentes sociais o conhecimento em profundidade dos fenômenos sobre os quais ele intervém, a instrumentalização teórica para uma ação comprometida, o questionamento, não só do produto teórico nessa área, tentando superá-lo, mas igualmente do processo de produção do conhecimento e da ação efetiva sobre a realidade. ” (RAIZER, 2012, p. 182) 6 Este enfoque direcionado ao estudo da ética, que fundamenta o nosso fazer profissional, se dá em virtude da ausência da ética observada rotineiramente na sociedade. Por isso, a necessidade de valoração desta disciplina, tendo em vista que a ética nos permeia, pois contribui para a formação, fazendo-se presente em toda grade curricular e, posteriormente, nos momentos de atuação, enquanto profissionais. Portanto, “temos que estar formando os profissionais com a reflexão dos fundamentos filosóficos que nos levam a determinado agir profissional. ” (MOURÃO, 2012, p.184). O código de ética embasa a nossa atuação profissional. Entretanto, proporcionar esta reflexão na academia é primordial, pois é neste momento que se constroem discussões voltadas à intervenção profissional na sociedade em que vivemos. Assim, possibilitamos uma interlocução entre a ética e a atuação. Não podemos questionar a necessidade de atuação ética diante da crise contemporânea que estamos vivendo, e não somente por este fato, mas também pela necessidade de respeitar nossas diretrizes profissionais e ideologias, enquanto categoria. Nesta perspectiva, sugerimos que nos detenhamos sobre a importância da ética, pois ela é absolutamente fundamental para a nossa profissão, que tem como um de seus projetos a transformação social, absolutamente necessária na atual conjuntura. Neste cenário, devemos considerar a exposição de Machado (2012, p. 39), o qual afirma que “estamos numa situação grave do ponto de vista da crise de perspectiva dos projetos de transformação social, e, em particular, uma crise de perspectiva do socialismo. ” Por fim, vale citar Iamamoto (2012, p. 125) que afirma que “o desafio de concretizar, na vida prática, uma nova ética na profissão e na sociedade, articula à luta pela construção de uma nova hegemonia na cena social. ” Sejamos, então, profissionais éticos, propositivos e com criticidade suficiente para realizar a leitura da realidade em que iremos atuar.
TEMA 1: O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL – 1993 Em fóruns nacionais da categoria tais como o Seminário Nacional de Ética, o Encontro Nacional do conjunto Conselho Federal de Serviço Social e Conselho Regional de Serviço Social (CFESS e CRESS, respectivamente) e o Congresso Brasileiro de Serviço Social, foram apresentadas a indispensabilidade de revisão do Código de Ética de 1986. Neste sentido, foi pontuada a necessidade de formulação de um novo código, a qual teve início no ano de 1991, culminando com a aprovação do atual Código de Ética profissional, publicado no ano de 1993 (PAIVA, et al 2012). Sendo assim, este código é o resultado de uma construção coletiva, na qual foram elaborados princípios éticos e suas diretrizes. A revisão e o aprimoramento deste instrumento normativo se deram pela necessidade de legitimar as ações da categoria, tendo em vista de que somos profissionais liberais, era necessária certa orientação para uniformizar as condutas éticas dos assistentes sociais. Vale lembrar que os conflitos de interesses impostos socialmente pelo sistema, a diversidade de regimes de contratação, as diferentes concepções teóricas e as concepções voltadas a certas ideologias, exigem a uniformização do fazer. Porém,é preciso destacar que o código de ética não objetiva que as nossas ações sejam realizadas da mesma maneira. Entretanto, é imprescindível que estas ações perspectivem o mesmo fim perante as mais diversas expressões da questão social. (SIMÕES, 1990). Após toda a evolução relacionada à ética da profissão e após reflexões acerca da ética profissional, o ano de 1993 é marcado pela formulação do código de ética da profissão, caracterizando, assim, mais um período de conquista profissional. Este é um código de ética que não se caracteriza por corporativismo, mas sim apresenta princípios fundamentais voltados para a classe trabalhadora e que vão de encontro a projetos em prol da sociedade. Com caráter normativo e jurídico, o código de ética tende a embasar, juntamente com as demais normativas, leis e produções teóricas, o fazer e as ações profissionais do assistente social, prezando pela ação voltada a uma intervenção ética, sem desrespeitar as suas diretrizes. Sob a ótica de PAIVA et 3 al (2012, p.171), o código de ética indica “o dever ser profissional, estabelece normas, deveres, direitos e proibições, representando para a sociedade, de um lado, um mecanismo de defesa da qualidade dos serviços prestados à população”, e apresenta, ainda, segundo a autora, “uma forma de legitimação social da categoria profissional. ” Neste sentido, perante a sociedade civil, cabe ao profissional de serviço social ter uma postura que vá ao encontro das características da sua identidade profissional, prezadas no decorrer do código, perspectivando uma luta pela hegemonia do projeto do serviço social. Pensar a ética profissional é proporcionar certa reflexão sobre a relação entre o conhecimento teórico-metodológico e a prática. Eles não se dissociam em momento algum, pois é a partir de todo o aprimoramento intelectual e dos embasamentos teóricos, que estaremos assegurando uma prática profissional ética. Sendo assim, PAIVA, et al (2012, p.172) afirma que o Código de Ética apresenta o [...] amadurecimento teórico-prático e político-profissional nas últimas décadas, deste modo, propiciando um redimensionamento da ação profissional, no sentido da busca de uma coerência com as necessidades e interesses colocados aos profissionais como trabalhadores. (PAIVA, et al, 2012, p.172) Em momentos de crise financeira, nós, profissionais da área do serviço social, necessitamos mais do que nunca nos posicionarmos eticamente, de forma a garantir que a classe trabalhadora tenha acesso aos bens e serviços, perspectivando a defesa intransigente pela equidade, liberdade, autonomia, impossibilitando o desmonte dos direitos. Neste sentido, podemos observar que o código não se limita apenas a apresentar um caráter punitivo, “mas um instrumento privilegiado que permite à profissão expressar sua identidade éticopolítica à sociedade. ” (PAIVA, et al 2012, p.172). Nosso código de ética então, encontra-se estruturado em quatro títulos, sendo eles: Título I: Disposições Gerais: apresenta as competências do Conselho Federal de Serviço Social e Conselho Regional de Serviço Social; Título II: Dos Direitos e das Responsabilidades Gerais do Assistente Social que apresenta direitos, deveres e o que é vedado aos profissionais; Título III: Das Relações Profissionais: apresenta a relação com os usuários, Instituições empregadoras, com assistentes sociais e demais profissionais, com entidades da categoria e demais organizações da sociedade civil, do sigilo 4 profissional, da relação do/a assistente social com a Justiça voltados aos direitos, deveres e ao que é vedado; Título IV: Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento do Código, voltados aos deveres, infrações, penalidades. (Código de Ética do/a Assistente Social) Além destes títulos e dos seus capítulos, o código apresenta, ainda, onze Princípios Fundamentais, os quais são interligados e que não podem ser tratados separadamente. Neste sentido, PAIVA & SALES (2012, p.181) afirmam que, “não procede seccionar os princípios da democracia e da cidadania, nem os da liberdade, do respeito à diversidade, ou do pluralismo, enfim, todos eles. ” Ainda sob esta ótica, as autoras ressaltam que os princípios “têm coerência e encadeamento internos, complementando-os entre si, o que acrescenta dialeticamente a cada um novos sentidos e proposições.” Foi a partir destes princípios que a categoria organizou as diretrizes que compõe o código de ética e, por isso, é primordial que sejam citados. São Princípios Fundamentais do código de ética: 1º) Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais. “Esse princípio solicita que se tenha a compreensão, no exercício do Serviço Social, de que a necessidade da liberdade não pode suplantar o ideal da igualdade; a igualdade requer a liberdade e vice-versa. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 218). 2º) Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo. “Esse princípio alerta para o fato de que os/as assistentes sociais, vêm se posicionando contra todo o tipo de abuso de autoridade, torturas, violência doméstica, grupos de extermínio”, na luta intransigente a favor dos direitos humanos. (PAIVA & SALES, 2012, p. 221). 3º) Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras. “É um princípio de presença vital no projeto ético-político do Serviço Social, na medida em que temos a particularidade de atuar no espaço de viabilização de direitos. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 224). 4º) Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida. Este princípio encontra-se “intimamente ligado à defesa da cidadania, a concepção de democracia preconizada pela categoria aponta para a necessidade de socialização da riqueza e distribuição de renda. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 226). 5º) Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática. “A justiça social fala da necessidade 5 imperiosa de se atribuir a cada um o que é o seu, no sentido do respeito à igualdade de direitos e aos indivíduos. ” Neste sentido, a justiça social “tenta corrigir as insuficiências e problemas decorrentes do modo de os homens se organizarem e produzirem a sua própria vida. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 229). 6º) Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças. Nesta perspectiva, cabe aos assistentes sociais, “formular estratégias de ação visando contribuir para a desalienação dos diferentes atores com os quais contracenamos no espaço institucional”, contribuindo assim, para a eliminação dos atos preconceituosos. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 236). 7º) Garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, bem como o compromisso com o constante aprimoramento intelectual. O princípio diz que “todos/as têm direito a uma expressão teórica e política, onde se lhes deve garantir o máximo de condições de liberdade de percussão e influência diferenciadas na própria categoria. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 237). 8º) Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero. O princípio oitavo “amplia a visão sociopolítica e ontológica sobre o ser social, procurando o olhar do profissional para outras determinações, como as de gênero e de etnia, trazendo consigo, ao mesmo tempo, a concepção de classe. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 218). 9º) Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos/as trabalhadores/as. Para tanto, caberá acategoria profissional perspectivar a “construção de uma sociabilidade sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero, que assegure autonomia, emancipação e plena expansão aos indivíduos sociais. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 243). 10º) Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional. Objetivando, assim, que os/as profissionais possam refletir “politicamente, como forma de contribuir para a propulsão de mudanças, afigurando para os/as assistentes sociais como um requisito simultaneamente ético e técnico. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 245). 11º) Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física. “Assegura direitos para os/as assistentes sociais e, também, exige o respeito para com as diferenças dos/as usuários/as e outros profissionais. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 247). Portanto, vale destacar, que estes princípios fundamentais irão nortear o fazer profissional crítico, darão embasamento a criação de diretrizes e a 6 normativas voltadas ao serviço social. Por isso, a importância de dar destaque a cada um. Os princípios norteiam, ainda, produções de materiais bibliográficos pautados nos valores ético-profissionais expressos em cada um deles, discussões e reflexões propostas em espaços coletivos, e articulações junto aos movimentos sociais e demais organizações. Em suma, o código de ética profissional do/a assistente social, na sua totalidade, propõe para a categoria profissional uma conduta ética. Porém, esta conduta não será garantida apenas por ele; levamos em consideração demais aspectos como “qualidade da formação profissional, nível de consciência política e de organização da categoria, o compromisso dos/as profissionais enquanto cidadãos e também as condições objetivas que incidem sobre o desempenho profissional. ” (PAIVA & SALES, 2012, p. 251). Por isso, Paiva & Sales afirmam também que é importante que tenhamos uma “atuação consciente e, claro, libertária, democrática e igualitária no sentido unívoco da construção e incorporação”, bem como de um posicionamento “humanístico e inconformista” para que, assim, possamos ir ao encontro do projeto ético-político, legitimando socialmente a atuação de cada profissional. (2012, p. 251). É necessário que sejamos profissionais propositivos, que saibamos observar a realidade em que iremos atuar, para que assim, possamos, a partir da leitura da realidade, decifrar como se darão as nossas ações e intervenções. Neste sentido, considera-se o código de ética como um dos norteadores das ações, que motiva profissionais a lutarem, coletivamente, pela sociedade brasileira, com vistas à autonomia, à liberdade da pessoa humana com valores éticos centrais, perspectivando uma sociedade mais justa e igualitária

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