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1 Permeabilidade e Percolação Objectivos da aula � Ilustrar o uso de redes de percolação de malha equidimensional para obter o caudal e a carga hidráulica num escoamento bidimensional; � Mostrar como usar redes de percolação para o estudo de escoamentos 2-D em maciços com anisotropia de permeabilidade; � Identificar os principais mecanismos de instabilidade hidráulica. 2 Introdução � Redes de percolação de malha equidimensional são boa solução para estudo de percolação 2-D. � Os maciços tendem a exibir anisotropia de permeabilidade=> o estudo do escoamento não deve ignorar tal evidência. � Os escoamentos bidimensionais podem também estar associados a fenómenos de instabilidade hidráulica, cujos efeitos são potencial/ desastrosos. Redes de percolação equidimensionais � Para caracterizar um escoamento bidimensional, as redes de percolação constituídas por elementos equidimensionais são muito eficientes; � Elementos equidimensionais são aqueles cujas dimensões na direcção do escoamento e na direcção perpendicular ao mesmo são idênticas (os elementos não têm de ser quadrados!). 3 � Exemplo de uma rede de percolação constituída por elementos ≈ equidimensionais: Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 a32 b32 a37 b37 a7, 10 b7, 10 1 2 3 4 5 6 7 8 I II III IV V VI VII VIIIIX X XI XII XIII � O caudal total é dado pela soma do caudal que passa em cada tubo de fluxo (1, 2, 3…Nf) � Ver também as quedas de potencial (I, II, III, IV, …Ne)- nº igual em cada tubo de fluxo 4 � Aplicando a lei de Darcy ao escoamento nos 2 elementos identificados (2 e 7) no tubo de fluxo 3, cujo caudal tem de ser igual (∆Q3=∆Q3el.2=∆Q3el.7): e se os elementos forem equidimensionais: i.e., é igual a perda de carga hidráulica entre quaisquer equipotenciais consecutivas (1≤i≤Ne)! 11 37 37 7 32 32 2 3 × ∆ =× ∆ =∆ b a hkb a hkQ ihhh ∆=∆=∆ 72 � Se aplicarmos também a lei de Darcy ao escoamento no elemento 10 do tubo de fluxo 7: e tendo em conta que ∆hi (perda de carga hidráulica entre equipotenciais consecutivas ou relativa a uma queda de potencial) é constante: i.e., o caudal é igual em cada tubo de fluxo (1≤j≤Nf) .).(1 1010,7 10,7 10 7 equidelhkb a hkQ ∆≈×∆=∆ j fluxotfluxotfluxot QQhkhkhkQ ∆=∆=∆=∆=∆=∆ 77.103.73.23 5 � Em resumo, a perda de carga (∆h) relativa a cada queda de potencial é constante e igual a: onde: - ∆htotal é a perda de carga hidráulica total no escoamento, medida entre a entrada e a saída; - Ne é o número de quedas de potencial da rede de percolação. e total N hh ∆=∆ � O caudal total que atravessa o maciço por metro linear (p.m.l.) de desenvolvimento: onde: - Nf- nº. de tubos de fluxo da rede de percolação. Nota- � Com estes elementos é possível caracterizar na totalidade qualquer escoamento 2D! e f total e total fif pml total N N hk N hkNQNQ ∆=∆=∆= .).( escoamdesenvolvLLQQ pmltotaltotal ⊥−×= 6 � Ex. 1 das Folhas T-P de Perm. e Percolação 2-D Considere o escoamento da figura determinado por uma cortina impermeável com 100 m de comprimento. Exercício de Aplicação � Ex. 1 das Folhas T-P de Permeabilidade e Percolação 2-D: a) Calcule o caudal escoado por dia; b) Calcule a tensão efectiva vertical no ponto A; c) No ponto B, determine o gradiente hidráulico, a velocidade de percolação e as forças de percolação por unidade de volume (que aconteceria se o ponto B se situasse na zona de saída de água do maciço junto à cortina?) 7 Maciços c/ anisotropia de permeabilidade � Até aqui têm sido considerados escoamentos bidimensionais através de maciços com isotropia de permeabilidade; � Os maciços naturais, porém, exibem frequente/ anisotropia de permeabilidade significativa. � A anisotropia dos maciços resulta da anisotropia de permeabilidade do solo e da estratificação. Considere-se um maciço homogéneo c/ anisotropia de permeabilidade do solo… � Nestes casos, a lei de Darcy permite escrever: representando kx e kz os coef. de permeabilidade nas direcções horizontal e vertical, respectiva/ (kh e kv ). Recorde-se que, em geral kh > kv ... −= −= z h v x h v z x δ δ δ δ z x k k 8 � Substituindo as novas expressões na equação que resulta da incompressibilidade das partículas sólidas e da água: ou ainda desde que 0 z h x hk 0 z v x v 2 2 2 2 x zx =+=>=+ δ δ δ δ δ δ δ δ zk 0 z h x h 0 z h xk h 2 2 2 T 2 2 2 2 x 2 =+=>=+ δ δ δ δ δ δ δ δ zk x z k k xx = T � Logo, o problema de percolação bidimensional em maciços com anisotropia de permeabilidade resolve-se transformando a escala horizontal do problema, multiplicando as dimensões reais por: Por ex., num maciço em que a permeabilidade horizontal exceda em 4 vezes a vertical, a escala horizontal deve ser alterada de forma a que: x z k k 2 1 .4 1 ... vv h v vh EscEsck kEscEsc === 9 � Prova-se facilmente que: - o caudal é calculado pela expressão usual, substituindo k por: - a carga hidráulica e as tensões no solo calculam- se sem qualquer alteração; - no cálculo do gradiente hidráulico devem ser usadas as dimensões reais (=> ter em conta a modificação da escala segundo x!) hveq kkk = � Alternativa: utilizar programas de cálculo numérico capazes de resolver qualquer problema de percolação 2-D, incluindo: - definição da linha de saturação; - maciços constituídos por um só solo, mas com anisotropia de permeabilidade; - escoamentos 2-D em solos c/ permeabilidades variáveis (barragens de terra zonadas, maciços estratificados, etc…) 10 Fenómenos de Instabilidade Hidráulica � Como se sugeriu antes, a existência de forças de percolação aproximada/ verticais e ascendentes pode reduzir perigosamente ou mesmo anular as tensões efectivas no maciço; � A fim de evitar os chamados fenómenos de instabilidade hidráulica, 2 verificações têm de ser conduzidas na zona onde as forças de percolação são ≈ verticais e ascendentes. � Exercício: onde se situa a zona problemática relativa à instabilidade hidráulica nestes casos? - zonas passíveis de instabilidade hidráulica 11 � Recorde-se que, no caso 1-D da percolação vertical e ascendente, o gradiente hidráulico, dito crítico, para o qual as tensões efectivas se anulam, num maciço homogéneo totalmente submerso, é dado por: � No caso 2-D, uma das verificações centra-se na análise dos efeitos das forças de percolação sobre as partículas individuais de solo; a outra sobre uma massa de solo potencialmente instável; w criti γ γ ' = Erosão interna (“piping”) � A erosão interna é um fenómeno progressivo que: - se inicia com o arrasto de partículas do solo junto à fronteira de saída de água do maciço; - propaga-se para zonas mais profundas do maciço, criando canais que degradam a resistência e rigidez global do maciço (sse ocorrer primeiro na saída). � O controle e verificação da erosão interna são feitos na zona da saída de água do maciço! 12 � Factor de segurança relativo ao “piping”: Notas: 1- Lmin na saída é a menor distância entre as 2 equipotenciais mais próximas da saída (em geral, junto à superfície impermeável de jusante!); 2- O factor de segurança exigido é geral/ alto (2~4) saída e total w saída w saída crit piping LN h L hi iFS minmin max '' ∆ =∆== γ γ γ γ Levantamento hidráulico (“heave”) � O levantamento hidráulico caracteriza-se por: - afectar a massa de solo na zona de jusante onde o escoamento é mais próximo da vertical; - causar uma rotura frágilde um bloco de solo devido aos efeitos das forças de percolação. � A verificação da segurança é feita para um bloco tipo com base ao nível da profundidade enterrada, d, da “cortina” de jusante e metade da largura (d/2). 13 � Factor de segurança relativo ao “heave”: Notas: 1- existem várias formas práticas de calcular imed no bloco (entre pontos médios da base e topo,…); 2- O factor de segurança exigido é geral/ alto (2~4) = + = percolação AcimaNF bloco AbaixoNF bloco heave F PPFS )(' Vi VV VJ VV wmed AcimaNF bloco AbaixoNF bloco med AcimaNF bloco AbaixoNF bloco γ γγγγ )(')(' + = + = � Ex. 1 das Folhas T-P de Perm. e Percolação 2-D (cont.) Considere o escoamento da figura determinado por uma cortina impermeável com 100 m de comprimento. Exercício de Aplicação 14 � Ex. 1 das Folhas T-P de Permeabilidade e Percolação 2-D: d) Avalie as condições de estabilidade em relação à erosão interna e ao levantamento hidráulico (Nota- repare-se na geometria do bloco representado na figura para a verificação da segurança relativa/ ao levantamento hidráulico Objectivos da aula � Mostrar como verificar a segurança relativa/ aos diferentes mecanismos de instabilidade hidráulica; � Enumerar formas de aumentar a segurança relativa/ à instabilidade hidráulica; � Ilustrar o uso de filtros e o seu dimensionamento; � Fornecer breves noções sobre fenómenos capilares. 15 Introdução � Face ao carácter catastrófico dos fenómenos de instabilidade hidráulica, a sua análise é essencial! � Se a segurança não estiver devida/ garantida, devem ser previstos meios adicionais para aumentar a segurança relativa/ a tais fenómenos. � Os filtros podem ter grande importância em controlar os escoamentos em meios porosos. � A capilaridade explica alguns fenóm. geotécnicos Fenómenos de Instabilidade Hidráulica � Onde as forças de percolação são aproximada/ verticais e ascendentes podem ocorrer fenómenos de instabilidade hidráulica, os quais podem assumir duas formas distintas (aula anterior): - erosão interna (“piping”); - levantamento hidráulico (“heave”). � O factor de segurança avalia a segurança… 16 � Factor de segurança relativo ao “piping”: Notas: 1- Lmin na saída é a menor distância entre as 2 equipotenciais mais próximas da saída (em geral, junto à superfície impermeável de jusante!); 2- O factor de segurança exigido é geral/ alto (2~4) saída e total w saída w saída crit piping LN h L hi iFS minmin max '' ∆ =∆== γ γ γ γ � Factor de segurança relativo ao “heave”: Notas: 1- existem várias formas práticas de calcular imed no bloco (entre pontos médios da base e topo,…); 2- O factor de segurança exigido é geral/ alto (2~4) = + = percolação AcimaNF bloco AbaixoNF bloco heave F PPFS )(' Vi VV VJ VV wmed AcimaNF bloco AbaixoNF bloco med AcimaNF bloco AbaixoNF bloco γ γγγγ )(')(' + = + = 17 � Ex. 1 das Folhas T-P de Perm. e Percolação 2-D (cont.) Considere o escoamento da figura determinado por uma cortina impermeável com 100 m de comprimento. Exercício de Aplicação � Ex. 1 das Folhas T-P de Permeabilidade e Percolação 2-D: d) Avalie as condições de estabilidade em relação à erosão interna e ao levantamento hidráulico (Nota- repare-se na geometria do bloco representado na figura para a verificação da segurança relativa/ ao levantamento hidráulico) 18 Métodos p/ aumentar FSpiping e FSheave � Existem essencial/ duas formas fundamentais de aumentar o factor de segurança relativa/ aos fenómenos de instabilidade hidráulica: - alterar a forma do escoamento no maciço, reduzindo as forças de percolação na saída; - inibir a ocorrência do fenómeno em causa actuando localmente na zona de saída de água. � Alteração da forma do escoamento (rede de percolação tem de ser alterada!)=> aumentar caminho de percolação. Numa barragem, p.ex.: - criar ou aumentar cortinas na base da fundação; - pôr tapete impermeável sobre maciço a montante 19 � Numa escavação por exemplo: - aumentar a profundidade enterrada da cortina (note as implicações sobre a rede de percolação!) � Esta técnica é eficaz relativa/ aos 2 fenómenos! � Actuar na zona de saída de água a jusante (aqui a rede de percolação não é alterada… se o fosse, agravaria as forças de percolação!): - colocar solo sobre zona de saída de água para limitar ocorrência de instabilidade hidráulica. Ex: 20 � Esta solução funciona sempre bem relativa/ ao levantamento hidráulico: para levantar o bloco, é preciso levantar o que está acima dele! � Mas para esta solução funcionar relativa/ ao “piping”, é necessário que o solo a colocar seja dimensionado segundo as exigências de um filtro. Só deste modo este material pode impedir o arrastamento das partículas da superfície do maciço! Uso e Dimensionamento de Filtros � Os filtros são dispositivos que pretendem evitar o arrastamento de partículas de solo pela água. � Os filtros naturais (p/ oposição aos geotêxteis) são materiais granulares com granulometria: - suficiente/ fina p/ evitar arrasto do solo a proteger - suficiente/ grossa p/ ter permeabilidade elevada e garantir que a rede de percolação não é alterada! (senão criamos gradientes hidráulicos na zona!) 21 � O dimensionamento do filtro é em geral feito com base nas granulometrias do filtro (D) e do solo (d): Relações aconselhadas (Bureau of Reclam., EUA): 15 15 15 50 50 50 d D ; d D == RR Graduação do filtro R50 R15 Uniforme (CU<4) 5 a 10 qualquer Não uniforme, part. arredondadas 12 a 58 12 a 40 Não uniforme, part. angulosas 9 a 30 6 a 18 Nota- Curvas granulométricas de solo e filtro ≈paralelas � Em barragens é frequente usar filtros (espessura mínima de 2,5~4 m- razões funcionais), nomeada/ em barragens zonadas: os quais devem obedecer a (ICOLD, 1994) Solo da barragem a proteger Critério Observ. Argilas e siltes finos (%<#200:>85%) D15≤ 9d85 D15≥ 0,2 mm Argilas e siltes (%<#200:40-85%*) D15= 0,7 mm *%<#4 Areias e cascalhos (%<#200: ≤15%) D15≤ 4d85 - Solos de transição (%<#200:15-40%) D15≤ … *%<#4 22 Noções sobre Fenómenos Capilares � A superfície de um líquido no interior de um tubo comporta-se como uma membrana elástica devido aos efeitos da tensão superficial. � A tensão superficial resulta do facto de as moléculas de água à superfície sofrerem atracções diferentes consoante a sua localização (devido ao diferente nº de moléculas à sua volta!) � A tensão superficial manifesta-se p.ex. pela capilaridade. Uma vez que não há mov. de 1 para 2, a altura de ascensão capilar (hc) é tal que: ou seja, a pressão da água no interior de um tubo capilar é inferior à pressão atmosférica (sucção!). 1 2 PHR h c wc cwwc ww hu hhhh hzhzhh γ×−= =>−==>+=+ =>+=+=>= 2 22 221121 00 23 � A altura de ascensão capilar (hc) é obtida pelo equilíbrio entre o peso da coluna de líquido e as forças T resultantes da tensão superficial (com direcção tangente ao menisco): i.e, a altura de ascensão capilar é maior em tubos finos e varia c/ caract. do fluido e material do tubo. )(cos2 cos2 2 Jurindelei r Th hrrT w c wc θ γ γpiθpi ==> =>= 1 2 PHR h c u p a TT θ θ 2r � Os fenómenos de capilaridade em solos são mais complexos pois a dimensão dos canais varia! Como a altura de ascensão capilar depende do diâmetro do tubo, esta varia no solo entre valores máximo e mínimo: Solo seco Solo parcialmente saturado Solo saturado Solo submerso N.F. hc min h c ma x V v Ar Água 24 � A altura de capilaridade depende da variação anterior do NF (subida ou descida) massobretudo do tipo de solo (dimensão das suas partículas e canalículos!). Exemplos indicativos: Tipo de solo hc (cm) Cascalhos ≈ 0 Areias 10 a 100 Siltes 100 a 1000 Argilas > 1000 � O facto de a água retida acima do NF implicar a existência de pressões neutras negativas (sucção)- q/ crescem c/ secagem- origina outros fenómenos: - o aumento da tensão efectiva acima do NF; - o desenvolvimento de ligações aparentes entre as partículas de solo, o que explica o acentuado crescimento da resistência dos solos acima do NF. Exemplo: a chamada coesão aparente das areias, que desaparece se a areia for submersa!
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