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Prévia do material em texto

LIÇÕES DE DIREITO 
CONSTITUCIONAL II-DIREITOS 
FUNDAMENTAIS 
 
Material de apoio à disciplina de 
Direito Constitucional II- Faculdade 
de Direito da Universidade São Judas 
Tadeu 
 
 
Prof. Dr. Fernando Guilherme Bruno Fº 
fgbruno@uol.com.br 
APRESENTAÇÃO 
 
Car@s coleg@s 
 
Os resumos que se seguem refletem o conteúdo das aulas de Direito 
Constitucional II, inclusive buscando respeitar, tanto quanto possível, a 
sequência dos elementos mais importantes dentre aqueles abordados em 
sala de aula, a linguagem adotada e até os exemplos. Portanto, e como 
exposto na ementa, constituem material de apoio, que não prescinde da 
bibliografia indicada, das anotações e dos exercícios realizados. 
O objetivo é dar um panorama geral do que chamamos de “diretos 
fundamentais”, tanto na ciência jurídica quanto igualmente em nossa vida 
política, econômica e cultural, considerando que a teoria da Constituição, o 
controle de constitucionalidade e a estrutura do Estado já foram tratados em 
Direito Constitucional I, tudo respeitando as diretrizes curriculares 
determinadas pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução CNE/CES 
09 de 2004), a grade curricular da Faculdade de Direito e os planos de 
ensino. 
 
O conteúdo desses resumos é aquele considerado estratégico; qual seja, 
busca-se descrever o que de mais estruturante há para compreensão dos 
direitos fundamentais no contexto constitucional e legal, de sua 
interpretação e aplicação, pelo conjunto dos alunos. Certas especificidades 
são deixadas de lado propositalmente, mas podem ser esclarecidas e 
expostas individualmente, a quem o desejar. Portanto, as dimensões de 
cada módulo irão variar, em decorrência da natureza mais ou menos 
relacionada à compreensão global, conforme definido, e por conseguinte 
não adotamos a sequência literal de qualquer das obras da bibliografia 
indicada. Estas são plataformas a serem adaptadas pelo professor, tendo em 
vista o contexto político, histórico e institucional do país, mas 
principalmente a dialética com o ambiente de sala de aula, de onde surgem 
as questões e perspectivas reais, a partir da interação entre os alunos. 
Em certas passagens foi reservado um espaço para anotações dos alunos, de 
forma a inserir observações para melhor fixação, dúvidas, relações com 
outros tópicos da matéria, etc. 
 
 
SUMÁRIO (observado o plano de aulas) 
1) Teoria dos direitos fundamentais 
1.1) Evolução e consolidação histórica 
 1.1.1) “Gerações” ou “dimensões” dos direitos 
1.2) sistematização e características 
1.3) garantias de direitos 
2) Direito individuais 
2.1) Vida 
2.2) Liberdade 
2.3) Igualdade (ou isonomia) 
2.4) Propriedade 
3) Direito sociais, econômicos e culturais 
3.1) emprego e trabalho 
3.2) seguridade social 
3.3) Educação, cultura, ciência e tecnologia 
3.4) pessoa com deficiência, criança e adolescente e indígenas 
4) Meio ambiente 
4.1) desenvolvimento sustentável 
5) Direitos políticos e da nacionalidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 1- Teoria dos direitos fundamentais 
 
A idéia de que todos os homens (e depois também as mulheres) sejam titulares 
de direitos fundamentais, pairando acima inclusive do exercício do político, está 
imbricada com a própria história das constituições. Ou seja, são eles também e 
essencialmente formas de limitar o poder, num primeiro momento determinando o que o 
detentor de autoridade não pode fazer, e posteriormente (ainda em termos históricos) o 
que ele deve fazer. Ao tratarmos de sua evolução talvez esse primeiro enunciado fique 
mais claro. 
 Neste sentido, podemos afirmar que quanto mais as constituições- e os 
mecanismos de controle de constitucionalidade- se fizerem presentes na vida cotidiana 
das sociedades, tanto mais os direitos se farão respeitados, ou, no mínimo, parte 
integrante do debate acerca dos valores políticos a serem perseguidos. De outra parte, 
direitos fundamentais são objeto de discussão nas mais diversas ciências (dentre elas a 
filosofia política, a ciência política, a história, a economia, a sociologia, etc.), e não só 
do direito. Uma interpretação “ótima” de seu sentido e alcance deve levar em conta a 
multidisciplinariedade como atitude permanente, na fronteira entre o político e o 
jurídico. Isso tudo já denota o quão relacionados estão os direitos fundamentais com a 
construção da cultura ocidental
1
, especialmente partir do renascimento e do iluminismo. 
A nomenclatura “direitos fundamentais” decorre da análise sistemática do texto 
da Constituição brasileira; porém, e tradicionalmente “liberdades públicas”, “direitos 
civis” e outras expressões são utilizadas paras sintetizar nosso objeto de estudo. Por 
outro lado “direitos humanos” é, sim, sinônimo e equivalente, inclusive porque adotado 
em alguns dispositivos específicos da Constituição, e largamente empregado nos 
tratados e convenções e também na doutrina respectiva. Mas “direitos fundamentais” 
será doravante a expressão mais utilizada. 
 
1
 Neste passo, importa considerar que o Oriente, e quiçá a África, recebem influxos diferentes daqueles 
que plasmaram a Europa e as Américas, estes em certa medida “vitoriosos” a partir do século XIX, mas 
não eliminaram aqueles outros. Não nos é possível alongar esse debate, mas considerar a posição atual 
dos direitos fundamentais, conforme desenvolvido nos últimos séculos, deve levar em conta a inserção 
do islamismo (oriente médio e sudeste asiático) e também do confucionismo (leste asiático, em especial 
na China e Coréia). Sobre este ultimo, recomendamos Michel SCHUMAN (Confúcio e o mundo que ele 
criou, p. 269 e ss.), o qual busca demonstrar justamente que não haveria incompatibilidade de trais 
tradições com os direitos fundamentais. 
Há argumentos de toda ordem para justificar a origem e a relevância dos direitos 
fundamentais. São eles essencialmente de ordem ética, econômica, política e histórica, 
altamente relacionados entre si. 
Do ponto de vista ético, está a influência do cristianismo, essencial à formação 
da sociedade europeia; aquele por sua vez, eleva à condição de dogma central a idéia de 
que “todos são filhos do mesmo pai” (igualdade), ponto inicial para outros tantos como 
a piedade com o sofrimento alheio, a caridade, o respeito à vida como um dom divino, e 
outros tantos que serviriam à construção de um legado de empatia entre seres 
humanos(ou “de mim com o outro, mesmo que distante”), ganhando reforço a partir do 
iluminismo
2
 (em que pese se tratar este ser fortemente anticlerical) e mais ainda após a 
segunda grande guerra, a partir da divulgação dos horrores praticados pelo nazismo e 
pelo stalinismo. 
Não se pode ainda desprezar as razões de ordem econômica. Com efeito, o 
combate ao escravismo no século XIX decorria também de razões éticas, mas 
principalmente da necessidade do capitalismo industrial ascendente gerar novos 
mercados consumidores, e também trabalhadores cada vez mais especializados. Em 
tempos mais recentes, a questão dos “refugiados” passou a interferir diretamente no 
desempenho das economias dos países centrais (EUA, União Européia e Japão), e esses 
novos imigrantes justamente saem de seus países motivados essencialmente pelas 
perseguições políticas, discriminações religiosas e étnicas ou pela falta de oferta de 
direitos sociais, como emprego, moradia, saúde, e etc.
3
 
No aspecto politico, conforme já anotado, os direitos fundamentais se inserem na 
perspectiva de limitação ao poder político, como um núcleo mais ou menos intangível 
de possibilidades à autonomia dos indivíduos ou grupos dentro da sociedade, e,portanto, relacionados aos interesses, ideologias, motivações e meios materiais que 
conduzam à busca de realização pessoal. Isso era evidente no combate às monarquias 
absolutistas nos séculos XVIII e XIX, tanto quanto nos tempos mais atuais, e relevam 
ainda mais quando da emergência de regimes autoritários. 
Não se nega porém que todos esses fatores convergem e se cristalizam na 
evolução e consolidação histórica da noção de direitos. 
 
 
2
 Ver a obra visceral de Lyn Hurt (A invenção dos direitos humanos). 
3
 O Brasil também é ponto de chegada de vários imigrantes, sejam haitianos, bolivianos, senegaleses, 
etc., e pelos mesmos motivos elencados. 
1.1.Evolução e consolidação histórica. 
 Também conforme já comentamos, a evolução dos direitos fundamentais 
está relacionada ao das constituições escritas. Assim, releva considerar a importância da 
Carta Magna (Inglaterra, 1215
4
), importante por adotar pela primeira vez a forma 
escrita, mas ainda com limitações à autoridade do rei e que beneficiavam apenas a 
nobreza e a Igreja. Nos séculos seguintes, ainda na Inglaterra, outros documentos foram 
adotados e impostos ao monarca, como a “Bill of Rights” (1689), afirmando as 
prerrogativas do Parlamento. Esse movimento é que dará impulso ao 
“constitucionalismo moderno”, com a prevalência das constituições escritas e que 
agregam os valores liberais da burguesia ascendente, ancorados nas ideias dos 
contratualistas. Não por acaso, ao buscarem justificar a origem da sociedade, Hobbes
5
 o 
fazia como necessária à preservação da vida, e Locke à garantia da propriedade. Por seu 
turno, Rousseau considerava o poder político como instrumento à recuperação da 
liberdade e igualdade originalmente presentes no “estado de natureza”, e assim teremos 
os primeiros grupos de direitos (vida, igualdade, liberdade e propriedade). 
Os marcos desse constitucionalismo são as Constituições americana de 1787
6
 e a 
francesa de 1791
7
 (reformulada em 1793, com mudanças radicais como a extinção da 
monarquia). A primeira só foi legitimada e aceita pelos representantes das 13 colônias 
mediante a introdução de 10 emendas, as quais justamente garantiam direitos como 
aqueles que acima reportamos, o que, aliás, já integrava textos adotados pela grande 
maioria das colônias
8
 presente. Já no caso da França, a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, em 1789, precedeu a Constituição, e foi por esta incorporada, 
com alguns adendos. De qualquer forma, estava definitivamente instaurada a estrutura 
de todas as constituições escritas que se seguiram: um enunciado de direitos 
fundamentais e a organização do Estado com separação de poderes. E assim o 
constitucionalismo avançou no século XIX e início do século XX; porém nesse período 
também o Estado ocidental passava pela conversão de um modelo liberal para outro 
intervencionista, em boa medida dado o surgimento de uma nova classe social (o 
 
4
 Veja em http://www.bl.uk/treasures/magnacarta/index.html#. 
5
 Trata-se de uma sistematização a partir de resultados, posto que Hobbes buscava o contrário dos 
liberais, ou seja, justificar o poder absolutista. 
6
 Veja o texto traduzido em http://www.braziliantranslated.com/euacon01.html. A ultima emenda 
(XXVII) é de Maio de 1992. 
7
 Veja o texto traduzido em http://www.fafich.ufmg.br/~luarnaut/const91.pdf. 
8
 Com destaque, por sua modernidade, para a “Declaração dos direitos do bom povo da Virgínia”. 
proletariado) que vivia em condições de grandes carências materiais, e demandava 
transformações em sua vida cotidiana e no ambiente do trabalho
9
. 
 Os reflexos desse período se farão sentir nos textos constitucionais a partir do 
período entreguerras (1919-1939), com a disseminação do “Estado social”, e a elevação 
a um outro patamar dos diversos direitos sociais (trabalho e emprego, educação, 
assistência social, previdência, etc.) nas constituições, tendo como ponto de partida a 
Constituição mexicana de 1917, mas maior referência na Constituição de Weimar 
(Alemanha-1919). 
Após a Segunda Guerra, e o trauma dos experimentos nazifascitas (mas também 
o stalinismo e vários genocídios) os direitos fundamentais assumem um caráter 
internacional; sem perder a noção de que são historicamente construídos (e assim 
apartados da idéia de “direitos naturais”) se considera a impossibilidade de que se 
concretizem exclusivamente por fatores locais, e também as repercussões globais de seu 
não-atendimento por cada um dos Estados. 
O ponto de partida dessa nova fase é a Declaração dos Direitos do Homem 
(ONU- 1948)
10
 seguida, de um lado, por declarações acerca de grupos específicos de 
direitos ( Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional dos 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966), regionais (europeia, em 
1950, americana em 1969, esta conhecida como “Pacto de São José da Costa Rica”) e 
convenções internacionais acerca também de grupos específicos, como moradia, 
mulheres, etnias, prevenção á tortura, crianças e adolescentes, etc
11
. A tudo isso 
corresponde a estruturação de órgãos no âmbito das organizações de Estados (ONU, 
OEA, OIT, União Européia, etc.) vocacionados à fiscalização e exigibilidade do 
cumprimento dos direitos fundamentais conforme pactuados, e também à incorporação, 
nas constituições nacionais, dessas convenções e tratados como parte integrante dos 
respectivos ordenamentos jurídicos
12
. Por fim, mas não menos importante, à assunção 
de novas categorias de direitos fundamentais, como a paz, o desenvolvimento e o meio-
ambiente, por conta das repercussões além-fronteiras dos estados nacionais de cada um 
 
9
 Ainda em 1880 cerca de 40% da população londrina era considerada pobre e morava precariamente 
em cortiços, sem saneamento ou qualquer outra infraestrutura, onde campeavam o alcoolismo, a 
violência e as epidemias (ver, por exemplo, Peter Hall, Cidades do amanhã, cap. 1). 
10
 De indescritível beleza; veja em http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf 
11
 Ver a sistematizaçõa de Fábio Comparato (A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 225 e ss.) 
12
 Confiram o art. 5º, §§ 2º e 3º, da CF brasileira. Da mesma forma, como forma reflexa de assegurar os 
tratados e convenções sobre direitos humanos no Brasil, o art. 109, § 5º (deslocamento de 
competência). 
deles. Consolida-se assim a noção de “dignidade da pessoa humana”, ou seja, a 
possibilidade de condições essenciais à vida e à interação em comunidade, sem 
discriminações ou obstáculos intransponíveis, como ponto de irradiação e convergência 
dos direitos fundamentais, e finalidade ultima de sua aplicabilidade. 
 
Anotações: 
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________ 
 
1.1.1 “Gerações” ou “dimensões” dos direitos 
 Como se depreende da trajetória que descrevemos acima, após sua fusão 
com o fenômeno do constitucionalismo os direitos fundamentais foram submetidos a 
vetores que alteraram sua própria natureza. 
 Num primeiro momento, a ênfase era toda nos interesses dosgrupos 
(genericamente denominados por nós de “burguesia”, mas que possuía diferenças entre 
si, obviamente) que motivaram as revoluções liberais, como a proteção à vida (questões 
como a pena de morte, a proibição dos castigos físicos e da tortura, da intimidade 
individual), à liberdade (de circulação, de culto, de escolha profissional, de associação e 
reunião, de expressão, etc.), à igualdade (proibição de privilégios) e à propriedade 
individual (usar, gozar e dispor, exigência de desapropriação, etc.). Usualmente são 
denominados tais grupos como “direitos individuais”, tendo como principal 
característica o fato de imporem um “não-fazer” por parte do Estado- e via de 
consequência dos governos e da administração pública- que então estariam impedidos 
de invadir essa esfera de autonomia. A par deles, estão os chamados “direitos políticos” 
(votar e ser votado para composição dos governos) e da nacionalidade (reconhecimento 
do indivíduo como parte do Estado), todos como métrica da legitimidade do exercício 
do poder, compondo então o que chamamos de “direitos de primeira geração”, ou 
“primeira dimensão” dos direitos fundamentais. 
 O problema essencial dessa “primeira geração” era justamente não atacar as 
diferenças materiais pré-existentes entre os indivíduos, o que se agravou, conforme 
acima exposto, com o surgimento do proletariado e os fenômenos de exploração e 
pobreza. Assim, como fruto de reivindicações de toda natureza, as constituições 
passaram a assimilar outros tantos direitos (proteção ao trabalho e ao emprego, ao 
consumidor, à saúde, à educação, à previdência e assistência social, ao saneamento, à 
moradia, aos idosos, crianças e adolescentes, etc.) os quais impunham ao Estado a 
obrigação de um “fazer”, na forma de proteger e assegurar sua implementação através 
de programas e políticas públicas. Assim, tais direitos foram agrupados no que 
chamamos de “direitos de segunda geração”, “direitos de segunda dimensão”, ou ainda, 
o que é mais expressivo, “direitos sociais, econômicos e culturais”. 
 Por fim, e como decorrência dos fenômenos decorrentes do pós-guerra, estão 
os direitos que apanham a coletividade como um todo, nacional e internacional, 
vocacionados a garantir a estabilidade da humanidade, e não apenas de um específico 
Estado ou grupo. Justamente por isso, são rarefeitos, porém de reconhecida relevância, 
como os já citados direito ao desenvolvimento, à paz e ao meio ambiente equilibrado e 
sadio, denominados como de “terceira geração” ou de “terceira dimensão”.13 
 
1.2 Sistematização e características 
Fica fácil perceber a relação intrínseca entre a evolução dos direitos 
fundamentais como reflexo daquelas outras que reconfiguram permanentemente a 
sociedade e o Estado. Quanto à sua concretização, então, o percurso é ainda mais 
errático, com idas e vindas no âmbito da mesma comunidade. Pensemos na “crise” 
vivenciada, no presente, em relação ao direito à privacidade e o ambiente cibernético, em 
especial as redes sociais, e esse fenômeno talvez fique mais claro. Então, suas características 
são enunciadas justamente para acomodar essas disparidades, na forma como abaixo 
sistematizamos: 
a) Não são “direitos absolutos”, cronificados no tempo e mesmo no espaço. 
Quando assim considerados, as consequências podem ser desastrosas, como 
se observa, por exemplo, com o direito ao porte de armas, justificável no 
 
13
 Não faltam referências a uma “quarta geração” de direitos, em especial por conta da evolução 
tecnológica (bioética, “direito à internet”, etc., conferir a sistematização de George MARMELSTEIN, 
Curso de direitos fundamentais, p. 53 e ss.). Nos limitaremos aqui às gerações já consolidadas, sem 
prejuízo de abordamos tais avanços sociais, econômicos e tecnológicos nos módulos dessa apostila. 
contexto original em que concebida a Constituição americana, mas com 
repercussões desastrosas àquela sociedade, no presente. Isso significa tanto 
que os enunciados nos textos constitucionais variam, quanto que a 
interpretação dos dispositivos positivados também
14
. 
b) São direitos irrenunciáveis e imprescritíveis; qual seja, nenhuma 
circunstância específica pode caracterizar sua alienabilidade ou degradação. 
Isso não se contrapõe ao fato de que certos direitos só são concebidos a 
aplicáveis a algumas peculiaridades de cada indivíduo ou grupo (por 
exemplo, índios, idosos, adolescentes, mulheres, trabalhadores, etc.), mas, ao 
contrário, realçam justamente a possibilidade de serem invocados também 
em situações as mais diversas; 
c) Não são direitos estanquizados ( fechados em grupos), mas integrados entre 
si, inclusive nas diversas “gerações”, e têm sempre uma natureza 
“principiológica”, por vezes mais próxima, outras mais remota, o que torna 
natural o conflito entre eles (direito de informação X privacidade, ou direito 
de reunião X liberdade de circulação, direito de propriedade X função social, 
etc.), e até mesmo desejável. 
Anotações: 
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
________________________________________________________ . 
1.3 Garantias de direitos 
Não é fácil apartar os “direitos” das respectivas “garantias”, pois a evolução de 
uns e de outras é concomitante, estas buscando agregar aplicabilidade política e jurídica 
àquelas. É o que se observa com a evolução, igualmente parelha, entre direitos e 
 
14
 São inúmeros os exemplos, apenas se considerarmos a realidade brasileira desde a promulgação da 
CF de 1988. Fiquemos, por ora, com a possibilidade de cumprimento da pena restrititiva de liberdade 
antes mesmo do trânsito em julgado da sentença, conforme deliberado pelo STF, para compreender a 
extensão disso. 
democracia
15
. Da mesma forma, o controle de constitucionalidade, quanto mais 
desenvolvido, mais agregará concretude aos direitos fundamentais. 
De qualquer maneira, são fenômenos que podem comportar estudos em 
separado, e adotaremos a reflexão de José Afonso da Silva
16
 para sintetizar as garantias 
da seguinte maneira: 
 
a) Garantias gerais, como a própria separação de poderes, o Estado 
Democrático de Direito e o princípio republicano, bases de toda limitação 
aos abusos do poder políticos; e 
b) Garantias especiais, voltadas mais especificamente aos direitos 
fundamentais, dentre as quais pode-se destacar 
b.1) o princípio da legalidade, o qual pode ainda ser observado sob o aspecto 
da “legalidade absoluta”, onde a Constituição determina que todos os 
aspectos daquele determinado direito serão disciplinados e detalhados 
exclusivamente pela lei em sentido formal (“a lei estabelecerá”, “a lei 
regulará”, etc.) ou, enquanto “legalidade relativa”, com certa margem para 
que a lei estabeleça as diretrizes de aplicação, mas restando aos 
regulamentos- decretos, resoluções, etc.- certa discricionariedade (“nos 
termos da lei”, “nos limites da lei”, etc.); 
b.2) a estabilidade dos direitos, que se traduzem nas fórmulas do “direito 
adquirido”, do “ato jurídico perfeito” e da “coisa julgada”17; 
b.3) Os chamados “remédios”, também constitucionalmente estabelecidos, e 
que buscam reparar de maneira pontual, administrativa ou judicialmente, 
eventuais violações a direitosfundamentais (ou a prevenir que ocorram), 
dentre os quais se destacam o direito de petição, o “habeas corpus”, o 
“habeas data”, o mandado de injunção e o mandado de segurança18. Estes 
 
15
 O tema é polêmico, principalmente em face de exceções onde os direitos sociais- e apenas eles, como 
educação e saúde- evoluiram em regimes não democráticos pelos critérios clássicos ( vide o regime 
cubano entre as décadas de 1960 e 1980). 
16
 Curso de direito constitucional positivo, p. 186 a 189 e 412 e ss, 
17
 Art. 5º, inciso XXXVI da CF. 
18
 Art. 5º, incisos XXXIV, LXVIII, LXXII, LXXI e LXIX da CF 
todos são desenvolvidos por leis específicas
19
, e presentes em vários outros 
dispositivos esparsos, tanto no plano constitucional quanto no plano legal. 
Anotações: 
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
____________________________________________________________. 
 
 
 
19
 Lei 12.016/09 (mandado de segurança), Lei 13.300/16 (mandado de injunção), Lei 9507/97 (habeas-
data), habeas-corpus (dispositivos esparsos no CPP e na própria CF)

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