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Educação Jogos e Brincadeiras Breve História dos Jogos e Brincadeiras Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof Ms Pascoal Fernando Ferrari Revisão Textual: Profa Esp Vera Lídia de Sá Cicaroni 5 • Os seres humanos são seres brincantes • A criança e a cultura lúdica • Na escola também se brinca Nesta unidade, estudaremos a história dos jogos e das brincadeiras. Faremos alguns apontamentos, mostrando que essas atividades lúdicas foram vistas de diferentes maneiras no decorrer da história. Em seguida, veremos a vida e a obra de Frederico Froebel, um autor que, na história da educação mundial, fez com que a criança fosse enxergada de uma maneira mais humana. Froebel acreditava no jogo e na brincadeira como eixos de sua pedagogia. Ao final do texto, faremos uma reflexão a respeito dos jogos e das brincadeiras na escola, defendendo a ideia da importância dessas atividades lúdicas no currículo da Educação Infantil. Quanto às atividades propostas na unidade, é importante que você realize todas com afinco e determinação. Teste seus conhecimentos respondendo às questões sugeridas, observe o que você já sabe e o que precisa ainda saber e amplie seus conhecimentos lendo o material complementar. Tenha um bom estudo e lembre-se de que, em caso de dúvidas, estaremos à sua disposição através do ambiente virtual. · Seja bem-vindo à unidade I: Breve História dos Jogos e Brincadeiras. A ideia central da unidade é fazermos alguns apontamentos históricos sobre os Jogos e Brincadeiras. Para tanto, investigaremos as ideias de Frederico Froebel (1782 – 1852), filósofo alemão do período romântico. Ainda, na unidade, veremos como os Jogos e Brincadeiras se relacionaram com a escola no decorrer dos tempos. Breve História dos Jogos e Brincadeiras 6 Unidade: Breve História dos Jogos e Brincadeiras Contextualização Nossa sugestão, para o momento de contextualização, é que você assista a dois vídeos: 1) A Importância do Brincar O vídeo é uma entrevista com a professora Tizuko Kishimoto, que fala sobre o direito de brincar da criança e sobre a importância do protagonismo infantil. O vídeo encontra-se no seguinte endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=HpiqpDvJ7-8 2) A importância do Brincar e Jogar O vídeo é uma iniciativa da TV Educador e traz uma importante reflexão sobre o desenvolvimento infantil relacionado aos jogos e brincadeiras. O vídeo encontra-se no seguinte endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=6vHT5IX9fVM 7 Breve História dos Jogos e Brincadeiras Olá! Sejam bem-vindos à unidade I da disciplina Educação: Jogos e Brincadeiras. Esperamos que gostem e que construam conhecimentos pertinentes à sua área de estudo. Nesta unidade pretendemos investigar a história dos jogos e das brincadeiras. Faremos alguns apontamentos históricos sobre a Antiguidade Greco-romana, passando pela Idade Média até chegarmos à Modernidade histórica. Faremos uma análise mais profunda sobre a inclusão dos jogos e brincadeiras na educação. Vamos iniciar nossos estudos com uma simples pergunta: Você já brincou hoje? Os seres humanos são seres brincantes Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem. Carlos Drummond de Andrade Se pensarmos na história social do homem, vamos, em muitos casos, encontrá-lo jogando e brincando. Parece-nos natural a brincadeira para a criança; elas brincam e ponto. E, como diz Drummond, brincar é ganhar tempo. O homem é um ser complexo e alcança diversas dimensões. Podemos pensar no homo culturalis (que produz e é produzido pela cultura), ou no homo faber (o que faz, produz) ou na dimensão do homo sapiens (o que conhece e aprende), ou ainda, no homo ludens (o que brinca, o que cria). Esta é a dimensão humana que iremos abordar em nossa investigação. O jogo e a brincadeira são fenômenos culturais que estão presentes na vida humana desde a Pré-história. Parece-nos que esses fenômenos são inatos nos seres humanos e também nos animais; como exemplo, o leão aprende a caçar e a lutar brincando e jogando com seus pais ou irmãos. É através de jogos e brincadeiras que construímos nossos conhecimentos. Os antigos gregos já sabiam da importância do brincar e do jogar para o desenvolvimento físico e mental do homem. Hoje sabemos que, além do aspecto físico e mental, o brincar favorece o desenvolvimento afetivo e social, o que facilita a nossa convivência em sociedade. 8 Unidade: Breve História dos Jogos e Brincadeiras Ligados ao esporte, os Jogos Olímpicos são um grande exemplo da importância dada ao jogo na antiguidade grega. Esses jogos consideravam a disputa entre pessoas. Pressupõe-se que foram iniciados em 776 a.C. e eram realizados em honra a Zeus. Observe as imagens a seguir: As imagens da escultura e da cerâmica grega mostram como os jogos estavam presentes na vida grega. http://no.wikipedia.org/wiki/Fil:SFEC_BritMus_Roman_021-2.jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%82nfora Na educação grega, de caráter militar, não era diferente. Os gregos valorizavam o desenvolvimento mental e físico de seus aprendizes; os jogos e exercícios físicos eram usados como instrumentos de ensino. Na Idade Média, essa configuração da educação mudou; os jogos e brincadeiras foram afastados da escola. O conceito de ser criança era confuso na Idade Média e não era muito considerado pelos adultos da época. Vamos observar a imagem a seguir: Pieter Bruegel, 1560. Museu de Viena. Óleo sobre painel. Dimensões 118 × 161 cm. http://en.wikipedia.org/wiki/Children’s_Games_(Bruegel) A obra é do artista Pieter Bruegel, feita no ano de 1560. Bruegel chamou-a de Jogos Infantis. Mostra mais de 80 brincadeiras e jogos infantis, mas, ao olharmos mais atentamente, veremos que muitos personagens da pintura são jovens e adultos. A falta de clareza sobre o que era a condição humana de ser criança é notória na imagem. 9 No período medieval, a infância tinha pequena duração. Ao alcançar seis ou sete anos de idade, o indivíduo deixava de ser criança, pois, a partir dessa idade, considerava-se que a criança já compreendia o que os adultos falavam e, sendo assim, passava a acompanhar o adulto do mesmo gênero, executando, de forma parecida, as mesmas atividades da vida adulta. O período da adolescência dos indivíduos não era considerado, consequentemente, as crianças eram entendidas como adultos em miniatura e assim eram tratadas pelos adultos. Observe a seguir mais uma imagem medieval: Maximiliano I e família Bernhard Strigel , Áustria, século 15 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Bernhard_Strigel_003.jpg Observe que as roupas vestidas pelas crianças possuem padrões de adultos e suas feições não lembram, nem um pouco, o universo infantil. Na chegada do século XV, uma nova concepção sobre ser criança estava em curso e trazia mudanças que apontavam para o entendimento da criança como ser social, ocupando um papel importante nas relações familiares e na comunidade onde crescia e se desenvolvia: um indivíduo com características e necessidades próprias, passível de ser educado através de uma ação pedagógica que reconhecesse suas diferenças individuais e a sua condição de ser criança. Podemos afirmar que a concepção de infância que conhecemos hoje vem evoluindo e mudando com o decorrer do tempo. É no final do século XV que, de fato, podemos observar alguma diferença no trato e no entendimento da infância. Como exemplo, podemos citar a instituição escolar. A princípio, o que existiam eram salas de aula, frequentadas, ao mesmo tempo, por alunos de todas as idades - crianças, jovens e adultos -, geralmente do gênero masculino. As salas continhammuitos alunos e não havia uma distinção acentuada entre as classes sociais. A partir do século XVI, as crianças adquiriram o direto de estarem mais próximas de seus pais graças à pressão exercida pela sociedade em função da necessidade de cuidado com as crianças pequenas e de se desenvolver uma atitude social de afetividade fraterna pelos filhos. 10 Unidade: Breve História dos Jogos e Brincadeiras Alguns importantes pensadores de século XVII e XVIII foram, particularmente, fundamentais para a mudança do conceito de infância, destacando o respeito à condição de ser criança e a valorização da brincadeira e dos jogos na educação das crianças pequenas. Pensadores que romperam com a educação tradicionalista proposta pelos jesuítas. A educação adquiria um caráter humanista, valorizando o que se pressupunha natural e sensorial na criança, mediante a utilização de jogos e materiais didáticos e uma pedagogia voltada para a criança. São eles: No entanto, quando falamos em jogos e brincadeiras na educação escolar, um nome, em especial, deve ser lembrado: Froebel. Frederico Froebel é considerado um filósofo do período romântico; nasceu na Alemanha em 1782 e morreu 1852. Além de Filosofia, estudou Biologia, Matemática e Psicologia. Sua família pertencia à Igreja Luterana, o que influenciou fortemente sua obra e pensamento e também o individualismo burguês predominante no período. Em sua teoria, o autor discute a relação entre o Homem, a Natureza e Deus. Acreditava que a educação, desde o nascimento, traria uma unidade entre essas três forças. Explore Para saber mais a respeito desses pensadores, indicamos os artigos a seguir que podem ampliar seu referencial teórico. Entre nos sites e leia os artigos da revista Nova Escola: Comênio, o pai da didática moderna. http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/pai-didatica-moderna-423273.shtml Jean-Jacques Rousseau, o filósofo da liberdade como valor supremo. http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/filosofo-liberdade-como-valor- supremo-423134.shtml Pestalozzi, o teórico que incorporou o afeto à sala de aula. http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/teorico-incorporou-afeto-sala- -aula-423096.shtml 11 Veja o que Kishimoto (2002) diz sobre a união dessa tríade proposta por Froebel: Froebel mostra a unidade entre o homem, seu criador e a natureza, sua conexão interna, aponta como a educação pode garantir essa unidade, desde a infância por meio da natureza. Valoriza a individualidade do ser humano, que se completa na coletividade. Ao perceber a unidade ou continuidade entre a infância, juventude e maturidade, verifica a necessidade de educar a criança desde que nasce para garantir o pleno desenvolvimento do ser humano. (Kishimoto, 2002, p. 60). Segundo Kishimoto, Froebel indica, como caminho do desenvolvimento humano, essa unidade, formada entre o ser humano, o seu criador e a natureza. Diferente das ideias medievais, esclarece o fato de que o desenvolvimento passa por diferentes estágios, como a infância, a adolescência e a vida adulta. Froebel valorizava a livre expressão através do jogo e da brincadeira na educação, apontando a relevância dessas duas atividades na vida pré-escolar da criança. Com esse pensar, ele criou a ideia de “Jardim de Infância”. (Kindergarten, em alemão), desenvolvendo uma metodologia baseada nos dons e ocupações. Froebel conheceu e trabalhou com Pestalozzi, pedagogo suíço que revolucionou e humanizou nosso entendimento sobre o que seja infância. A partir das ideias de Pestalozzi, ele criou o Jardim de infância, um lugar onde a criança poderia conviver com outras e desenvolver-se de forma espontânea, tendo respeitada a sua condição de ser criança. Podemos considerar que o jardim de infância tenha sido a primeira proposta curricular escolar para a infância com um enfoque teórico-prático, trabalhando com tecelagem, desenho, pintura, recorte, colagem, entre outras atividades práticas. Dessa forma, foi concebida uma educação que promove a criatividade, a espontaneidade e a autorrealização da criança. Froebel, para desenvolver sua proposta pedagógica, criou os Dons, que são materiais, como bola, cubo, varetas, anéis etc., que permitem atividades denominadas Ocupações. Essa proposta tem os jogos e as brincadeiras como eixo da pedagogia. Veja a relação dos dons: 1) seis bolas de borracha, cobertas de tecidos de várias cores; 2) esfera, cubo e cilindro de madeira; 3) cubo dividido em oito cubinhos; 4) cubo dividido em oito partes oblongas; 5) cubo dividido em metade ou quartas partes; 6) cubo consistindo em partes oblongas, duplamente divididas; 7) tabuazinhas quadradas e triangulares para compor figuras; 8) varinhas para traçar figuras; 9) anéis e meio anéis para compor figuras; 10) material para desenho; 11) material para picar; 12) material para alinhavo; 12 Unidade: Breve História dos Jogos e Brincadeiras 13) material para recortes de papel e combinação; 14) papel para tecelagem; 15) varetas para entrelaçamentos; 16) réguas com dobradiças – (goniógrafo); 17) fitas para entrelaçamento; 18) material para dobradura; 19) material para construção com ervilhas; 20) material para modelagem. Veja os exemplos de Dons: A pessoa que iria cuidar das crianças e educá-las Froebel denominou de Jardineira, a qual seria responsável pelo desenvolvimento das atividades do Jardim da Infância. A teoria de Froebel indicava que as Jardineiras criariam momentos pedagógicos dirigidos, com base nos dons, e deixariam momentos livres em que a criança poderia escolher de qual jogo ou brincadeira gostaria de participar naquele momento. Assim a criança se desenvolveria de forma autônoma. Certamente, as ideias de Froebel deram início a um novo entendimento sobre os jogos e as brincadeiras aplicadas e desenvolvidas no ambiente escolar infantil. Para saber mais sobre a vida e a obra de Froebel, visite o site da revista Nova Escola, onde você encontrará quatro textos: 1- O formador das crianças pequenas; 2- Treino de habilidades; 3- Educação espontânea; 4 Biografia e contexto histórico. Site: http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/formador- criancas-pequenas-422947.shtml 13 Na contemporaneidade, os jogos e brincadeiras são vistos como fundamentais para o processo de ensino e aprendizagem das crianças. A resistência inicial dos educadores a incluírem esses tipos de atividades no currículo escolar foi se desfazendo com o tempo e a nova prática foi ganhando espaço no âmbito educacional. Veja como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) trata a questão: Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e significado (Brasil, 1998, p.20). Para a criança, os momentos de jogos e brincadeiras são ricos para a sua aprendizagem e desenvolvimento, além de serem momentos de expressividade das crianças; são momentos que, segundo o RCNEI, revelam uma cultura corporal por influência do grupo social em que a criança está inserida. O documento ainda ressalta a importância do jogo na escola, principalmente em relação ao estabelecimento de regras. As instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brincadeiras que contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o equilíbrio das crianças. Os jogos motores de regras trazem também a oportunidade de aprendizagens sociais, pois, ao jogar, as crianças aprendem a competir, a colaborar umas com as outras, a combinar e a respeitar regras (Brasil, 1998, p. 35). No documento, é claro o incentivo à apropriação dos jogos e das brincadeiras pela escola, inicialmente, tendoem vista o desenvolvimento físico da criança e, em seguida, pelo fato de esta descobrir a existência de regras estabelecidas e aprender a respeitá-las. Esse aprendizado, de estabelecer e respeitar as regras, se levado para além dos muros da escola, contribuirá para que a criança aprenda, também, a viver em uma sociedade democrática e cidadã. Finalizamos esta breve história dos jogos e brincadeiras e de sua inserção na escola, sugerindo que você observe o quadro síntese a seguir, que retrata a visão dos jogos e brincadeiras em diferentes épocas: 14 Unidade: Breve História dos Jogos e Brincadeiras A criança e a cultura lúdica A dimensão lúdica do homem, que prevê o jogo, deve ser considerada para que se tenha um melhor entendimento do ser humano. Huizinga (1996) entende que o jogo é uma categoria primária da vida, surgindo antes da cultura, que se desenvolve com o próprio jogo. Huizinga (1996) conceitua o jogo da seguinte forma: Parece-nos que essa noção poderá ser razoavelmente bem definida nos seguintes termos: o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”. Assim definida, a noção parece capaz de abranger tudo aquilo a que chamamos “jogo” entre os animais, as crianças e os adultos: jogos de força e de destreza, jogos de sorte, de adivinhação, exibições de todo o gênero. Pareceu- nos que a categoria de jogo fosse suscetível de ser considerada um dos elementos espirituais básicos da vida. (Huizinga, 1996, p. 24). O autor entende que a existência do jogo é inegável na vida humana, um elemento básico da vida; demostra que há vários gêneros de jogos e que somos capazes de diferenciar entre uma situação de jogo e a vida real. Reconhece, também, a cultura como possuidora de um caráter lúdico. O jogo adquire uma função significante na vida humana, inclusive o caráter de competição que os jogos apresentam. A partir dos jogos e brincadeiras, o homem cria uma cultura lúdica. Gilles Brougère, autor francês, propicia-nos interessantes ideias sobre essa manifestação cultural, contribuindo para entendermos melhor esse conceito: A cultura lúdica é, então, composta de um certo número de esquemas que permitem iniciar a brincadeira, já que se trata de produzir uma realidade diferente daquela da vida quotidiana: [...] A cultura lúdica compreende evidentemente estruturas de jogo que não se limitam às de jogos com regras. [...] Para aprofundar o conceito de Homo Ludens sugerimos o livro de Johan Huizinga: Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. O livro é uma importante referência para compreendermos a relação entre o homem e o jogo do ponto de vista histórico e cultural. 15 Mas a cultura lúdica compreende o que se poderia chamar de esquemas de brincadeiras, para distingui-los das regras stricto sensu. Trata-se de regras vagas, de estruturas gerais e imprecisas que permitem organizar jogos de imitação ou de ficção. [...] (Brougère, 1998, s/p.) Segundo Brougère (1998), a cultura lúdica também se estabelece com as brincadeiras ou jogos de faz-de-conta. Essas brincadeiras, como diz o autor, são portadoras de “regras vagas”. Nesse sentido, muitas brincadeiras e jogos não possuem regras claras, tornado, assim, uma regra maleável, que pode ser modificada ou retirada da ação de brincar por intencionalidade da criança. A cultura lúdica torna-se uma referência para o brincar. O brincar parte da realidade imediata da criança, que pressupõe os brinquedos que estão ao seu alcance ou qualquer objeto que possa ser ressignificado (uma caixa vazia pode se transformar em um carrinho, por exemplo) e as suas referências vindas da cultura lúdica (tipos diferentes de brincadeira, determinadas pelo tempo histórico e o espaço geográfico em que a criança se insere). A criança irá, então, misturar em suas brincadeiras a realidade e a fantasia. O autor lembra que é brincando que a criança constrói sua cultura lúdica; são as suas experiências lúdicas, iniciadas pelas primeiras brincadeiras do bebê, que irão constituir esse universo cultural lúdico. E mergulhada nesse universo, a criança constitui e é constituída por essa cultura através de suas brincadeiras e jogos. Na escola também se brinca Sendo uma agência socializadora e promotora de cultura, a escola pode ser também entendida como lugar privilegiado para a criança aprender a brincar e a jogar. Não nascemos sabendo brincar, as brincadeiras e jogos são aprendidos com os mediadores desses conhecimentos. Nesse sentido, a brincadeira pode ter um fim em si mesmo ou, ainda, ser um instrumento prazeroso de aprendizagem. Dos 4 aos 5 anos, a criança estará, teoricamente, na modalidade da Educação Infantil; essa é uma idade rica para o aprendizado. Nesse período, as crianças estão desenvolvendo o autocontrole das emoções. Diante de situações de medo, como, por exemplo, gritos, medo de ficar sozinha no escuro, entre outros, que são fruto de uma insegurança própria da idade, a escola pode e deve trabalhar essas questões. Todavia esse é, também, um período em que os pequenos gostam de mostrar o que sabem fazer, suas conquistas vindas das superações dos desafios que se apresentam em seu cotidiano; é uma fase de curiosidades e descobertas; é quando eles experimentam o prazer de brincar junto com outros indivíduos, crianças ou adultos. 16 Unidade: Breve História dos Jogos e Brincadeiras Como construtora de conhecimentos, a escola pode trabalhar muitos conteúdos a partir de jogos e brincadeiras infantis. Recursos como contar e ouvir histórias, participar de jogos de regras, dançar, dramatizar, desenhar, entre outras proposições pedagógicas, constituem recursos prazerosos de aprendizagem e desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo dos aprendizes. Há muitos benefícios nas atividades lúdicas, tanto pela dimensão da diversão e prazer, como um fim em si mesmo, quanto pela dimensão da aprendizagem, como recurso pedagógico. Através dos jogos e brincadeiras, desenvolvemos inúmeras habilidades; também vivenciamos o ambiente e a cultura em que estamos inseridos. É jogando e brincando que as crianças incorporam e/ou questionam as regras e os papéis sociais que são a ela apresentados. A brincadeira e o jogo devem ocupar um lugar de destaque na prática pedagógica; a sala de aula deve torna-se um lugar privilegiado para desenvolver as atividades lúdicas e a escola, espaço de prazer e de boas lembranças quando a criança se tornar adulta. Porém há um mito no interior da escola que precisa ser desfeito. A brincadeira e a aprendizagem, em muitos casos, são consideradas processos com finalidades bastante diferentes e que não podem coexistir em um mesmo espaço e tempo. Muitas vezes, a criança, na escola, é impossibilitada de conhecer e desenvolver sua corporeidade, passando horas imobilizadas em uma carteira escolar, e o brincar, quando acontece, restringe-se aos intervalos entre as aulas, e não sendo aceito durante as aulas. A formação dos educadores dos anos iniciais deve discutir mais cuidadosamente o brincar e os jogos. É importante que o professor tenha um repertório maior de brincadeiras para serem trabalhadas em aula. As crianças gostam de brincar com adultos; são ótimas referências, por exemplo, para o esclarecimento e aprendizagem de regras, para apresentar novas brincadeiras e jogos. O professor, como mediador de brincadeiras, é fundamental; mediar oportuniza o brincar juntos. Brincar juntos acentua os laços afetivos; a participação do educador na brincadeira faz crescer o nível de interesse da criança pela brincadeira. Compreender e interpretar o fazer lúdico da criança é importante.Nesse sentido, a formação do educador deve prestigiar essa área do conhecimento, para que esses profissionais possam se apropriar dos jogos e das brincadeiras, a fim de utilizá-los na construção do aprendizado da criança. E assim, finalizamos a unidade I. Esperamos que tenha gostado e tenha construído novos conhecimentos a partir da que foi proposto. Agora refazemos e ressignificamos a pergunta inicial, caso a resposta a ela tenha sido negativa: E amanhã, você irá brincar? 17 Material Complementar Para realizar o momento de completar ou ampliar os conhecimentos, sugerimos que leia o seguinte livro: Você pode ler o livro de forma virtual, pois o material encontra-se na biblioteca Pearsons da Universidade. Explore A ludicidade na educação: Uma atitude pedagógica Autora: Maria Cristina Trois Dorneles Rau Editora: Ibpex Série: Dimensões da Educação Ano: 2011 O livro traz importantes informações, conceitos e práticas para a utilização do lúdico nas aulas da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. 18 Unidade: Breve História dos Jogos e Brincadeiras Referências BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il. BROUGÈRE G. A criança e a cultura lúdica. Rev. Fac. Educ. [online]. 1998, vol.24, n.2, pp. 103-116. ISSN 0102-2555. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102- 25551998000200007. Acesso: 20/03/2013 HUIZINGA, Johan, Homo Ludens: O Jogo Como Elemento da Cultura. São Paulo: Perspectiva, 1996. KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002. 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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